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Comércio entre nações

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Formação do Antigo Regime
Formação
A história das relações comerciais transnacionais remonta há tempos muito distantes, uma vez que a história do comércio se confunde com a própria história da humanidade.
Um exemplo é a Dinastia Han, que ocorreu três séculos antes do início da Era Comum.
Durante a dinastia, os chineses já utilizavam seu poderio militar para manter e garantir o funcionamento da rota da seda em função de seu potencial comercial.
Da mesma forma, na dinastia liderada pelo Triunvirato, o Império Romano invadiu e conquistou o Egito.
Boa parte disso se deu em função de interesses comerciais voltados para a disponibilidade de grãos que existia na região.
Com base na história, podemos observar que as relações de comércio internacional ocorrem há milhares de anos e podem ser consideradas fundamentais para o funcionamento e a compreensão das relações internacionais mesmo antes da existência dos Estados-Nação.
Em razão de interesses econômicos e comerciais, afinal, alianças são formadas ou até mesmo conflitos armados são iniciados. Já observamos dinâmicas em que as trocas e os governos estão diretamente relacionados.
Estudar a história do comércio internacional nos permite observar inclusive que o aspecto das relações internacionais está presente em muitas outras esferas – não apenas na diplomacia, mas também em questões comerciais, políticas e até mesmo identitárias.
O objetivo principal é o de revelar que as relações internacionais não se formam somente por intermédio da ação do Estado por vias políticas e diplomáticas, mas também pela potência e pela complexidade das relações.
Breve introdução ao comércio internacional
Quando falamos sobre comércio internacional, inicialmente pode parecer um assunto simples, mas, na verdade, se trata de um tema bastante complexo por conta de sua vasta historiografia e pela relevância que as dinâmicas comerciais desempenharam no mundo, fator que, aliás, ainda ocorre.
Consideremos comércio internacional todo aquele que extrapola fronteiras, sejam elas oficialmente delimitadas ou não, sendo possível considerá-lo como trocas de caráter comercial entre diferentes povos.
Diversos conflitos armados, alianças entre povos que se estranhavam e até mesmo negociações de compra de territórios são alguns dos resultados dessas relações comerciais entre povos distintos, o que chamamos de relações comerciais internacionais. É sob essa ótica que vamos discorrer brevemente sobre o surgimento do comércio internacional, levando em conta a importância de alguns elementos, como é o caso das fronteiras e das proteções.
As relações de comércio aparecem inicialmente entre os humanos durante o período paleolítico da História, na chamada Idade da Pedra Lascada. Esse tipo de troca surgiu quando um excedente de alimentos foi possibilitado pela divisão do trabalho.
Essas trocas iniciais (de produtos por outros produtos) foram se intensificando com o passar dos anos.
Durante o período neolítico, com a descoberta da agricultura, elas aumentaram graças à complexidade e ao amadurecimento das sociedades.
Chegou-se ao ponto em que referências passaram a ser necessárias, como seria o caso, por exemplo, de uma espécie de “moeda”, mas não necessariamente a de metal que conhecemos hoje. Por vezes, algum produto essencial, que permitia estimar o valor de cada um dos produtos trocados, era utilizado com esse propósito (TEJADO, 1962).
Com o passar do tempo, o ser humano evoluiu como espécie, o que se refletiu em sua forma basilar de se organizar. Isso gerou sociedades mais complexas, maiores e que demandavam cada vez mais alimentos e outros recursos.
Na sequência, avançamos consideravelmente a linha do tempo até chegarmos ao período da invenção da escrita, aproximadamente 6 mil anos depois do período paleolítico. Com a escrita, inicia-se o período da Idade Antiga, que começa com o invento da escrita até a queda do Império Romano.
Nessa época, as atividades comerciais foram muito intensificadas e ganharam novos elementos que permitiram o seu aprofundamento. Entre eles, podemos destacar:
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A domesticação de animais
Tornou possível o deslocamento de mercadorias e elementos de troca até longas distâncias.
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A fabricação de embarcações
Forneceu agilidade ao comércio internacional pelo modal marítimo, aproximando ainda mais povos geograficamente distantes.
É nesse contexto que surge, nessa época, a célebre t, uma rota de comércio internacional que tornou possível o comércio entre regiões muito distantes, como a Ásia, a África e a Europa. A possibilidade dessas novas conexões permitiu o surgimento de grandes e importantes civilizações, como foi o caso da Mesopotâmia, do Egito Antigo, da China, da Índia, da Pérsia e até do Império Romano.
Visão geral da rota da seda, não incluindo a rota para o palácio de Caracórum, na Mongólia.
O Império Romano incorporou partes estratégicas da rota da seda ao seu domínio, o que permitiu que os romanos controlassem regiões relevantes e aprofundassem suas relações comerciais com outros povos. Seu império abrangeu boa parte da Europa; com isso, o domínio romano permitia que os plebeus se ocupassem das relações de comércio.
A queda do Império Romano, por volta do ano 500 da Era Comum, marcou o início da próxima era, a Idade Média, também conhecida como era medieval, quando a sociedade e as forças militares se organizaram em uma nova estrutura denominada feudalismo. Durante a Idade Média, o feudalismo representou uma mudança importante na forma de organização da sociedade europeia.
Nos últimos anos do Império Romano, os povos europeus já haviam iniciado a transição para o feudalismo.
Organizaram a sociedade em pequenos reinados. cujos nobres, detentores das propriedades, passavam a administrar seus territórios de maneira mais ativa.
Com a queda dos romanos, esse processo se intensificou e a economia se voltou à subsistência, uma vez que o objetivo principal passou a ser a garantia da vida, entendido como comida e proteção, numa época marcada por constantes ameaças externas.
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Exemplo
Ataques de outros reinados ou mesmo ataques “bárbaros”, como eram chamados os povos de cultura diferente.
A economia de subsistência passa a dar lugar ao renascimento do comércio quando, sob a influência da Igreja Católica herdada dos romanos, os europeus se engaram em uma série de “cruzadas”.
Durante as expedições, muitos europeus adquiriam produtos pelos caminhos que percorriam e que depois comercializavam no continente europeu, reacendendo o interesse do mercado por artigos diferenciados e luxuosos e fomentando um gradual retorno à economia de mercado.
Isso culminou na criação dos burgos, tipo de cidade comercial em que produtos e serviços eram comercializados.
O feudalismo é substituído posteriormente, com o enfraquecimento do poder da Igreja Católica, pelo início da Idade Moderna. A arte sacra dá lugar ao renascimento artístico-cultural, enquanto a fragmentação do território e da população abre espaço para a era das grandes navegações, as quais, por sua vez, buscavam explorar o mundo não europeu.
Essa época também é marcada pelo fortalecimento dos Estados nacionais modernos. Monarquias absolutistas se consolidaram e patrocinaram parte das empresas de navegação que traziam riqueza e prosperidade ao Estado, o que ficou conhecido como o Antigo Regime.
Comércio internacional no Antigo Regime
Como se deu o comércio internacional no Antigo Regime?
O período conhecido como Antigo Regime se refere à organização do Estado durante a Idade Moderna em um sistema político e social baseado em princípios aristocráticos que fixavam na figura do rei a principal fonte de poder. Era o monarca que detinha todo o poder político e o mais alto prestígio social.
É comum lembrar a frase atribuída ao rei da França Luís XIV (1638-1715), o Rei Sol, em que ele resume o Estado francês à sua figura ao anunciar: “O Estado sou eu”. A fala do rei revela muito sobre a organização política e social desse período, evidenciando a centralidade da figura do rei como chefe absoluto do Estado, cujasfuncionalidades eram profundamente dependentes e influenciadas pela vontade do soberano.
Luís XIV, o Rei Sol.
Nesse período, estudos técnicos, o conhecimento científico, os conselhos de ministros e embaixadores ou mesmo a vontade popular eram completamente secundários, pois as intuições, os achismos e os caprichos do rei dominavam a forma de se fazer política durante o Antigo Regime.
Apesar de ser um sistema normalmente atribuído às esferas política e social, o absolutismo monárquico, marca registrada do Antigo Regime, também imprimiu suas características a um modelo de organização econômica.
Afinal, como era possível, em uma sociedade aristocrática marcada pela distinção social, pelos excessivos luxos, pela ostentação e pelo ócio, a manutenção dessa estrutura?
De alguma forma, era preciso bancar a riqueza e o luxo de que a corte desfrutava. Os luxos oferecidos a ela não eram apenas pelo puro prazer de proporcioná-los: também demonstravam uma maneira estratégica de o rei manter o apoio da nobreza, que representava um dos importantes pilares de sustentação do sistema absolutista.
Mas, afinal de contas, como dizem alguns liberais, “não existe almoço grátis”. Da mesma forma, o dinheiro utilizado para sustentar os caprichos, os palácios, os jantares e as extravagâncias das luxuosas cortes deveria vir de algum lugar. É justamente para fornecer uma resposta a essas necessidades do Antigo Regime que surge um novo modelo de organização econômica, o qual, aliás, pode ser considerado uma expressão econômica do Antigo Regime: o mercantilismo.
Mercantilismo e liberalismo
Você sabe o que são o mercantilismo e o liberalismo?
O mercantilismo pode ser definido como:
Um sistema econômico caracterizado pelo protecionismo do Estado na economia e baseado na premissa de que a riqueza dele é mensurada por meio do acúmulo de metais preciosos, como ouro e prata.
Ao acumular esses metais, o Estado tinha mais condições de manter um exército numeroso e poderoso, além de uma corte opulenta.
Como o próprio nome sugere, esses metais eram preciosos, o que quer dizer, segundo a lógica econômica, que eles eram escassos. Afinal, o valor de algo é medido com base na sua disponibilidade.
Apesar de indispensável para nossa sobrevivência, assim como a água, o ar é tão abundante que não parece ter valor nenhum. O mesmo, porém, não ocorre com o ouro, os diamantes ou um carro. Quanto menor a disponibilidade de um item, mais se deve pagar por ele.
Nesse sentido, como os metais preciosos eram escassos, nem sempre era tão fácil acumulá-los em quantidades grandes o suficiente para a manutenção do Estado.
A lógica mercantilista entendia a necessidade de ele se unificar fortalecendo o mercado interno, podendo, assim, comercializar parte de sua produção com outros Estados e recebendo metais preciosos em troca.
Dessa forma, a lógica nesse período era a de que o comércio internacional era necessário para a manutenção do Antigo Regime devido à maneira como era organizado. Apesar desse desejo por vender suas mercadorias em outros lugares, como em ações de exportação, os Estados mercantilistas não estavam interessados em comprar desses outros países, pois teriam de pagar pelos produtos estrangeiros com os metais preciosos que o Estado tanto buscava acumular.
Os Estados, portanto:
Querem vender
Buscavam avidamente oportunidades de vender suas mercadorias e acumular metais.
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Não querem comprar
Protegem, ao mesmo tempo, seus mercados contra produtos estrangeiros.
Esse cenário era bastante hostil ao comércio internacional, pois fomentava uma crescente concorrência e a disputa entre os Estados.
Nesse contexto, observamos que a revolução comercial foi promovida pela livre iniciativa dos povos europeus que, em contato com outros povos e produtos, identificaram oportunidades comerciais e reacenderam os motores de consumo do mercado europeu.
Não se tratou de um movimento iniciado pelo Estado.
Com o passar do tempo, os excessos do Antigo Regime começaram a ser questionados, o que levou a um enfraquecimento da legitimidade dinástica de inspirações divinas que mantinha nas mãos do monarca o controle do Estado, tendo o apoio da Igreja e da nobreza, que eram os detentores da terra.
Nas décadas finais dos anos de 1700, uma série de revoluções na Inglaterra transformou a forma de produzir naquele país, ao passo que revoluções de cunho político e social ocorreram na França.
Os eventos no Reino Unido acabaram por dar início ao processo conhecido como Revolução Industrial, promovendo uma intensa transformação nos meios de produção com a introdução de novas tecnologias que revolucionaram a produtividade de maneira crescente e permanente.
Por sua vez, do outro lado do Canal da Mancha, os eventos na França deram origem à Revolução Francesa, que derrubou a monarquia constituída, guilhotinando nobres importantes, defendendo ideias de liberdade política e propondo um novo pacto social baseado na democracia da Grécia Antiga.
Esses eventos foram responsáveis pelo fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea, que, aliás, perdura até o momento. É nesse contexto das revoluções que surgiram algumas das principais teorias econômicas que fundaram o pensamento liberal na esfera econômica.
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Exemplo
As ideias expressas na obra A riqueza das nações, de Adam Smith (1723-1790), filósofo considerado o pai da Economia moderna e o mais importante teórico do liberalismo econômico, e a teoria das vantagens comparativas, de David Ricardo (1772- 1823), considerado um dos mais influentes economistas clássicos.
David Ricardo, aliás, buscava explicar como havia se dado o tratado de panos e vinhos entre Portugal e Inglaterra na qual o país ibérico se comprometia a comprar produtos têxteis do país britânico, cujo acordo, por sua vez, era o de comprar vinhos portugueses. Ele explicou essa relação com base no princípio da especialização de cada país em um produto no qual possui um diferencial competitivo.
Segundo essa lógica, parecia mais interessante que Portugal:
Produzisse em território nacional os vinhos
Cuja qualidade era elevada e os custos eram baixos, sendo, portanto, uma indústria competitiva.
Comprasse do exterior alguns produtos
Cuja produção eram ineficiente ou pouco competitiva, evitando que todos os países buscassem produzir todos os produtos de que necessitassem.
Com isso, Ricardo argumentava que o comércio internacional se fortaleceria e que os países se especializariam naquilo que são bons, tornando a produção global mais eficiente.
Fronteiras e proteções no comércio internacional
Como são as fronteiras e proteções no comércio internacional?
Como destacamos, o comércio internacional é baseado nas trocas comerciais que ocorrem extrapolando fronteiras, sejam elas oficialmente delimitadas ou não, sendo possível considerá-lo como as trocas de caráter comercial entre diferentes povos.
Observamos que as fronteiras representam mais do que uma mera delimitação geográfica territorial, assumindo diferentes naturezas e formatos, e não apenas os mais tradicionais, como os elementos naturais que dividem territórios ou mesmo traços políticos desenhados em um mapa.
É nesse contexto de fronteiras que cabe a discussão sobre as colônias e os protetorados no cenário do comércio internacional. Ainda sobre as fronteiras, destacam-se as dinâmicas comerciais dos países europeus, principalmente das grandes nações industrializadas, muito beneficiadas pelo Tratado de Berlim, que dividiu os territórios da Ásia e África em colônias a serem exploradas por potências europeias.
Mapa do Tratado de Berlim.
Ingleses e franceses ocuparam boa parte do território do continente africano, reunindo povos de culturas e etnias diferentes em uma mesma divisão geográfica. Com isso, eles criaram inúmeras dificuldades para quem vivia sob a colonização ao mesmo tempo que consolidavam seus impérios coloniais.
Esses impérios tinham como objetivo principal:
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A extração de matérias-primas.
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A expansão do mercado consumidor.
3. adjust
O tráfico de pessoas para fins de trabalho forçado(o que também é chamado na literatura de escravidão).
As questões fronteiriças são muito relevantes para os aspectos comerciais, pois permitem não só uma maior proximidade com outros países, mas também o acesso a facilidades logísticas, como, por exemplo, a possibilidade de acesso ao mar, por onde grande parte das mercadorias era transportada, o que ainda é um fato nos dias atuais.
Além disso, cadeias montanhosas, como a Cordilheira dos Andes, regiões inóspitas, como a Sibéria e a água gelada do mar, e a existência de desertos ou de densas florestas podem atrapalhar o escoamento logístico das produções nacionais, dificultando o comércio internacional.
Outro ponto relevante no contexto fronteiriço são as zonas econômicas e os recursos naturais que existem em seus subsolos. O Estado que detém o direito de posse de determinado território também possui o direito sobre:
· O subsolo;
· O espaço aéreo;
· A zona econômica especial em caso de território costeiro.
Isso garante ao Estado o exclusivo direito aos recursos minerais, à vida marinha e à biodiversidade disponível em seu território. Por esse motivo, diversos países disputam territórios a fim de garantir uma maior disponibilidade de recursos para suas populações. Alguns exemplos de recurso são:
Ouro
Outros metais
Petróleo
Gás natural
Além dos territórios colonizados, também há a figura dos protetorados, nos quais um Estado fornece proteção militar e diplomática a outro território autônomo contra outros países, sendo o país protegido responsável por fornecer algo em troca. Isso normalmente é estabelecido em um tratado internacional entre as partes envolvidas.
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Exemplo
Territórios como Porto Rico são considerados protetorados dos Estados Unidos por algumas agências governamentais. Os EUA também mantiveram outros protetorados no passado, como foi o caso de Cuba até a independência da ilha, em 1934. O Alasca também foi um protetorado norte-americano até 1958, assim como o Havaí, que manteve esse status até o ano de 1959.
Além dos Estados Unidos, muitos países mantiveram protetorados, incluindo grandes potências coloniais europeias, como a França e o Reino Unido.
Dessa forma, observamos que as questões fronteiriças e as relações de protetorado também são relevantes na discussão do comércio internacional, já que não só afetam a competitividade dos produtos nacionais devido às questões logísticas, mas também a disponibilidade de matérias-primas e recursos naturais. O estabelecimento de um protetorado é sempre o resultado de uma complexa estratégia muitas vezes também influenciada pelas questões comerciais.
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