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Lipídios Lipídios não possuem um conceito, não existe uma estrutura química definida. O principal e o que mais mata é o colesterol. Sua principal característica é que são insolúveis em água – insolúveis em água fria (36o). Eles circulam 99% ligados a proteínas e a proteína que mais transporta lipídios é a albumina. Há também lipoproteínas que transportam lipídios, como LDL. São solúveis em água quente e em álcool. Dentre os lipídios os mais simples estão ácidos graxos. Ácidos graxos Os mais importantes são os ácidos graxos superiores. Eles possuem mais do que 10 carbonos, sempre com um número par de carbono, são monocarboxílicos (só uma carboxila) e têm cadeia normal. Obs.: sobre os ácidos graxos inferiores, alguns são voláteis, como por exemplo o ácido butírico. Os ácidos graxos podem ser saturados ou insaturados. Saturados Esses ácidos graxos são sólidos. Todos de cadeia normal, sem ramificações. Número de carbonos (um deles é a carboxila) Fórmula Nome de ácido graxo superior 12 H23C11 – COOH Acido láurico 14 H27C13 – COOH Acido mirístico 16 H31C15 – COOH Acido palmítico (principal ácido graxo insaturado) 18 H35C17 – COOH Acido esteárico Quase todo hidratante possui MEG: monoestearato de glicerina. Os dois ácidos mais importantes são o palmítico e o esteárico. Insaturados • Ácido oleico: 18 C, uma ligação dupla no carbono 9. • Ácido linoleico: 18 C, duas ligações duplas nos carbonos 9 e 12. • Ácido linolênico: 18 C, três duplas nos carbonos 9, 12 e 15. • Acido araquidônico: 20 C, quatro duplas nos carbonos 5, 8, 11, 14. Nome do ácido graxo Número de carbonos Número de duplas Local das duplas Ácido oleico 18 1 9 Ácido linoleico 18 2 9 e 12 Ácido linolênico 18 3 9, 12 e 15 Ácido araquidônico 20 4 5, 8, 11, 14 20 carbonos = EICOS Caderno de Bioquímica I – Ana Pich Ácido araquidônico Nome oficial: ácido eicosatetraenoico. Toda vez que houver uma ligação dupla, R1, R2, R3 e R4, com R1 diferente de R2 e R3 diferente de R4, haverá isomeria geométrica, também chamada isomeria cis – trans. Em nosso organismo predominam amplamente os isômeros cis. Ácidos graxos trans não são benéficos para o organismo. Ácidos graxos insaturados com configuração trans tem estrutura parecida com a dos ácidos graxos saturados, bem diferente da configuração cis. O aquecimento e resfriamento consecutivo de ácidos graxos cis vai favorecer a formação de ácidos graxos trans. Na nomenclatura, o carbono 1 é o da carboxila, o 2 é o alfa e o último é o carbono ômega. Ácidos ômega 3 Aquele que tem a última ligação dupla a três carbonos do carbono ômega. Ex.: linolênico. Benefícios do ômega 3: • Promove a saúde cardiovascular; • Fortalece o sistema imunológico; • Tem ação anti-inflamatória; • Ajuda a emagrecer com saúde; • Protege a retina; • Diminui os riscos de AVC; • Ajuda no combate do diabetes; • Reduz o desconforto na TPM. Ácidos ômega 6 Aquele que possui a última ligação dupla a seis carbonos do carbono ômega. Ex.: linoleico e araquidônico. Os ácidos ômega 3 e 6 são benéficos para o organismo. Alguns deles têm ação antioxidante, como é o caso do ácido araquidônico. O ômega 3 tem importante efeito no nosso organismo, são antioxidantes e possuem ação anti- inflamatória, diferentemente dos ômega 6, os quais favorecem o processo inflamatório. Predominam em peixes de água salgada e em algumas gorduras de mamíferos, mas principalmente em óleos e azeites. A dieta ideal seria consumir uma proporção de 3 para 1 de ômega 6 e ômega 3, o que não costuma ocorrer. Metabolismo do ácido araquidônico (eicosanoides) A elasticidade das membranas dependem de fosfolipídeos. Geralmente no carbono dois há um radical de ácido graxo insaturado. Quem degrada os fosfolipídeos são as fosfolipases. A mais importante é a fosfolipase A2 (onde agem os corticoides), ela rompe a ligação do carbono 2. Outra fosfolipase que não age aqui é a C, a qual age em proteína G. A fosfolipase 2 libera o ácido araquidônico, a partir de então temos duas grandes rotas metabólicas. A primeira se dá através de um conjunto de enzimas chamadas lipoxigenases (LPO) que vão formar leucotrienos. Os leucotrienos fazem parte de um enorme número de moléculas que chamamos eicosanoides. Existem 3 leucotrienos importantes: • C4 • D4 • E4 Eles são broncoconstritores responsáveis por uma patologia, o quadro asmático. Além disso, um quadro cutâneo muito comum é a urticária, placas vermelhas presentes nos processos alérgicos com intenso prurido. Caderno de Bioquímica I – Ana Pich Inflamação Inflamação é diferente de infecção. A inflamação é a resposta do organismo a uma agressão, essa agressão pode ser mecânica ou provocada por agentes agressores. Na inflamação há dor, calor (localizado ou febre), rubor, tumor (edema) e perda de função. Ela deprime a função do tecido afetado. A infecção é a reação do organismo à presença de microrganismos que irão agredir o tecido, como vírus, bactérias, parasitas ou fungos. Há a presença de pus, essa secreção amarelada é composta por leucócitos e bactérias. Mediadores inflamatórios • Aminas: histamina, serotonina; • Citocinas: interleucinas e bradicininas (foram descobertas por dois brasileiros, chamadas assim porque provocam bradicardia) e interferons; • Oxidantes biológicos: H2O2, O2-, NO-, HOCl, OONO-. • Eicosanoides; • Moléculas de adesão e enzimas digestivas. Ácido araquidônico na inflamação Lembrando: são 20 carbonos, 4 duplas, nome oficial ácido eicosatetraenoico. As ligações duplas estão nos carbonos 5, 8, 11 e 14, é um ácido ômega 6. Geralmente o ácido araquidônico está na forma de éster no carbono 2 dos fosfolipídeos. No carbono 2 dos fosfolipídeos há ácidos insaturados. Para liberar o ácido araquidônico é necessária a enzima fosfolipase A2, ela vai romper a ligação éster liberando o ácido araquidônico. O ácido araquidônico então pode seguir dois caminhos, um deles é, por meio das lipoxigenases, chegar aos leucotrienos, sendo os mais importantes C4, D4 e E4. Os leucotrienos provocam urticária, irritação cutânea avermelhada e levemente inchada com intenso prurido (comum em infecções). A situação mais grave é o angioedema. Asma São os leucotrienos que levam a broncoconstrição. Depois da DPOC, é a doença mais comum. Sinais: • Chiado no peito; • Tosse seca; • Respiração rápida e curta. Fatores que levam ou agravam a asma: • Obesidade; • Genética; • Poeira; • Fungos. Asma mata se não houver tratamento. O medicamente mais usado são os corticoides. Há outra rota metabólica que o ácido araquidônico pode seguir, muito mais importante e muito mais famosa, a rota catalisada pelas COX (cicloxigenages). As COX-1 e 2 vão levar à formação de moléculas muito importantes, as prostaglandinas (PG), ao menos quatro derivados: PGE2, PGI2, PGE2α. COX-1 A COX 1 é uma enzima constitutiva, ou seja, está presente permanentemente nas células. Fisiologicamente: • A PGE2 provoca vasodilatação. • A PGI2 (prostaciclina) provoca vasodilatação, inibe agregação plaquetária Caderno de Bioquímica I – Ana Pich (inibe a formação de coágulos) e inibe a secreção gástrica. • A PGF2α provoca contração da musculatura uterina (a oxitocina participa dessa contração). Quando há um quadro inflamatório as interleucinas ativam a COX-2 (por ser ativada é uma enzima induzida). Isso leva a uma grande produção de PG, passando de um quadro fisiológico pra um quadro patológico. Um dos grandes sinais da inflamação é a febre, pois a PGE2 leva a uma situação pirogênica. Além disso, a PGE2 provoca a cólica menstrual, O aumento de PGI2 causa intensa vasodilatação levando a rubor, edema e dor. Existe um abortivo muito comum análogo a PGF2α, o citotec. Obs.: PGI2 e PGE2 também agem a nível renal. A partir das PG se formam os tromboxanos (TX). Os TX são produzidos pelas plaquetas (não são células, não possuem núcleo). A prostaciclina é produzida por células endoteliais, ela é vasodilatadorae inibe a agregação plaquetária, quem se opõe a isso são os tromboxanos, que favorece a formação de trombos e é vasoconstritor. Fisiologicamente as prostaciclinas atuam mais que os TX, exceto em lesões vasculares. TXA2 é o TX mais ativo. Todas essas moléculas são eicosanoides. Anti-inflamatórios Não trata a causa, encobre sintomas. Agem no metabolismo dos eicosanoides. Há dois grupos bastante característicos: AINES: anti-inflamatórios não esteroidais* Agem inibindo a COX. Inicialmente só havia um tipo de fármaco conhecido, que inibia a COX 1 e 2 simultaneamente, o ácido acetilsalicílico. Nesse grupo há também diclofenaco (Voltaren), meloxicam e ibuprofeno. Um paciente que não pode receber aspirina é o asmático, pois isso potencializa a formação de leucotrienos, bloqueando COX e fazendo sobrar ácido araquidônico. Outro, é o paciente com suspeita de dengue, pois a mais grave é a hemorrágica, inibir a formação de TX favorece a formação de hemorragias. Em paciente com doenças cardiovasculares se recomenda AAS em baixa concentração diariamente, a fim de evitar a formação de trombos/coágulos. A aspirina em baixa concentração inibe a formação de tromboxanos nas plaquetas. Essa inibição é permanente, o grupamento acetila se liga na cicloxigenase inativando a enzima. Como a plaqueta não possui núcleo, não há material genético para produzir novamente a COX, por isso o uso deve ser feito em baixa escala. A aspirina age também na célula endotelial, inibindo a COX (mesmo mecanismo) inibindo a formação de prostaciclina. Entretanto, a célula endotelial tem material genético para poder produzir novamente a enzima COX e produzir prostaciclinas, vasodilatadoras. Inibidores seletivos da COX-2: 1. Tem muito menos efeitos colaterais. 2. Tem custo muito alto (30X maior). 3. Muitos deles entraram e saíram do mercado. O grande efeito colateral desses fármacos (AAS) por muito tempo é a inibição da formação de PGE2 e PGI2, favorecendo a hiperacidez gástrica, com maior produção de suco gástrico ( lembrando que essas PG inibem a produção de suco gástrico). AIES: anti-inflamatórios esteroidais Corticoides, que inibem a fosfolipase A2. Acabam com a dor rapidamente. • Cortisona; • β-metazona; Caderno de Bioquímica I – Ana Pich • Prednisolona. Possuem dezenas de efeitos colaterais: alteram toda a homeostasia do sistema gástrico. Mesmo com todos efeitos colaterais, a causa não é tratada. O uso prolongado de corticoides leva a retenção de sódio, causa de edema generalizado. Isso significa alterações vasculares. Reações de ácidos graxos Saponificação Como são ácidos, suas reações mais características são com bases, formando um sal. Quando esse sal é de um metal muito eletropositivo (metal alcalino), principalmente sódio e potássio, forma-se um sabão. Sabões são sais de ácido graxo com sódio ou potássio. São moléculas iônicas, a cabeça polar formada pela carboxila ionizada e o cátion sódio é hidrofílica e a cadeia carbônica é hidrofóbica. Um exemplo típico é o palmitato de sódio. O ácido graxo é um ácido muito fraco, tanto que circula na corrente circulatória. A base que se utiliza é o NaOH, soda cáustica, uma base muito forte. Forma-se um sal proveniente de ácido fraco e uma base forte, que ao sofrer hidrólise forma um sal básico, de pH alcalino. Diferença entre sabão e detergente: detergentes são sais que não são de ácido graxo. Assim como os sabões, eles são agentes tensoativos, ou seja, possuem uma porção polar/hidrofílica e uma hidrofóbica. É possível produzir sabão de duas formas, reagindo ácido fraco com base forte ou hidrolisando um TGA, formando ácido graxo e fazer reagir com a base. O método mais comum é fazer reagir diretamente o TGA com a soda cáustica, formando sabões e glicerol (hidrólise alcalina). Água dura é a água que possui muitos sais de cálcio e de magnésio, isso faz precipitar o sabão. Os detergentes comerciais têm um sal que não é de ácido graxo, além disso tem corante, perfume e fosfato. A grande quantidade de fosfato PO4-3 se liga no cálcio e magnésio deixando o detergente livre para poder emulsificar a gordura. Os detergentes podem ser biodegradáveis ou não. Os primeiros têm radicais com cadeia normal semelhante aos ácidos graxos e serão degradados pelas bactérias da água. Os outros têm cadeia carbônica ramificada que não pode ser degrada pelaS bactérias e se acumula no ambiente. A eutrofização pode ser causada por detergentes com fosfato em locais onde a água fica estancada, como nas lagoas. Contudo, o fosfato é adubo (adubos são formados por NPK), a flora aquática então cresce sem parar e a luz deixa de penetrar na água, que começa a apodrecer. Para limpeza de material cirúrgico se usam detergentes catiônicos, com sais de amônio quaternário, assim como a maior parte dos shampoos. Eles provem de uma base fraca, tendo hidrólise ácida. Esterificação Reação de ácido (nesse caso graxo) com álcool. O álcool que mais interessa é o glicerol, um triol com porção polar, não é um lipídeo. A reação de glicerol (ou glicerina) com ácido graxo forma glicerídeos (não confundir glicerídeo com glicídeo). São três tipos de glicerídeos: • Monoglicerídeos: provindos da reação de um ácido graxo com glicerol; • Diglicerídeos: duas moléculas de ácido graxo com glicerol; • Triglicerídeos ou triacilglicerídeos (TGA ou TAG): três moléculas de ácido graxo reagem. As moléculas de ácido graxo podem ser iguais ou diferentes. Lembrando: o glicerol não é um lipídio, é um poliol Caderno de Bioquímica I – Ana Pich Tripalmitato de glicerina: Se forem moléculas diferentes se numera carbono 1, 2 e 3. 1,2 palmitato-3-estearato de glicerina. Os níveis normais de TGA vão até 200 mg/dL. A dosagem de TGA exige jejum de 12 h, diferentemente da dosagem de colesterol, a qual não precisa de jejum. Diferenças entre óleos e gorduras Nas gorduras predominam glicerídeos de ácidos graxos saturados (ligações simples). Sendo, em geral, sólidas e semissólidas à temperatura ambiente. Normalmente encontramos gorduras nos animais, uma exceção é o óleo de coco. Óleos apresentam ácido graxo de cadeia insaturada (duplas ligações). São líquidos à temperatura ambiente. Óleo de arroz é bastante produzido na região de Pelotas; existem também óleos de girassol, soja, canola, milho, oliva, babaçu, amendoim, entre outros. O óleo de fígado de bacalhau é rico em vitaminas lipossolúveis. O colesterol é uma molécula muito importante no reino animal, mas óleos vegetais não têm colesterol. Eles podem ter outro esteroide, chamado de β-sitosterol. Os óleos podem sofrer hidrogenação, na qual são transformados em uma gordura hidrogenada, por exemplo a margarina. A diferença entre margarina e manteiga é que manteiga provêm de gordura animal, diferente da margarina. O grande problema da margarina é que ela tem muitas outras moléculas além de TGA. Óleo mineral é mistura de alcanos, com composição semelhante a vaselina, muito usado em idosos, que possuem menor motilidade gástrica e muitas vezes são levados a cirurgia de fecaloma (acumulo de fezes). Receitar uma pequena quantidade de óleo mineral combate essa realidade. As gorduras sofrem facilmente um processo de degradação química por microrganismos, chamada de rancificação. Esse processo é via radicais livres (peroxidação lipídica), que pode ser evitada por diminuição da temperatura/refrigeração ou adicionando-se antioxidantes. Relembrando que o aquecimento e o resfriamento repetido de óleos favorece a mudança de sua configuração de cis para trans, o que é bastante prejudicial para o organismo. Gorduras trans Prejudiciais a saúde. Alimentos ricos em gorduras trans: • Sorvetes; • Salgadinho de pacote; • Biscoitos; • Bolachas com creme; • Massas folhadas; • Maionese; • Pipoca de micro-ondas; • Chocolate diet. Caderno de Bioquímica I – Ana Pich Lipases Osglicerídeos sofrem hidrólise formando uma molécula de glicerol e uma de ácido graxo. Há enzimas especializadas em hidrolisar glicerídeos ou acilgliceróis. Essas enzimas são as lipases. Três exemplos são: • Lipase pancreática; • Lipoproteína lipase; • Lipase hormônio sensível. Lipase pancreática Produzida pelo pâncreas, age no intestino em conjunto com a bile. Hidrolisa parcialmente os TGA, o que ocorre nos carbonos 1 e 3, formando 2-monoacilglicerol, que será absorvido pelas células intestinais. Também formam-se ácidos graxos, que serão absorvidos. Existe um fármaco muito utilizado que inibe a lipase pancreática, o xenical (nome químico: orlistate); esse é um dos poucos medicamentos que podem ser utilizados em obesos. Há dois aspectos importantes no uso desse medicamento. O primeiro, funciona muito bem em obesos que consomem muita gordura. Segundo, a gordura passa a ser eliminada nas fezes provocando esteatorreia, ou seja, fezes com gordura. Junto com a gordura serão eliminadas as vitaminas lipossolúveis, principalmente A e E. Existe um parasita que também provoca esteatorreia, o giárdia. O paciente relata fezes amarelas, gordurosas e com cheiro de ranço. Lipoproteína lipase Essa enzima age na corrente circulatória. Hidrolisa os TGA presentes: • No quilomícron; • No VLDL; • No IDL. Quilomícron É a maior lipoproteína e a que tem mais TGA. Formada nas células intestinais. Lipoproteína de menor densidade que existe. VLDL Lipoproteína de baixa densidade. Formada no fígado. Tem menos TGA que o quilomícron. Obs.:* a formação da VLDL nos hepatócitos depende de dois sistemas acoplados/sincrônicos, o REL (produz lipídio) e o REG (produz apoproteínas – são as proteínas presentes nas lipoproteínas). Caso esses dois sistemas não estejam ajustados teremos uma doença chamada esteatose hepática, popularmente conhecida como fígado gorduroso. * Causas de esteatose hepática: • Obesidade; • Alcoolismo; O álcool é utilizado como fonte de energia, levando ao acumulo de gordura. Essas são as duas primeiras suspeitas ao receber um paciente com esteatose hepática. Na ecografia abdominal as gotículas de gordura são observáveis. A esteatose pode piorar para uma esteato-hepatite. Na qual há aumento de TGO, TGP e bilirrubina direta. O quadro era reversível até chegar a esse ponto. A esteato hepatite pode ainda piorar para cirrose. Existem fármacos que ativam a lipoproteína lipase, diminuindo a hipertrigliceremia, ou seja, a concentração de TGA na corrente sanguínea. Esses fármacos são os fibratos, sendo o mais famoso o clofibrato (comercializado como genfibrozila). Concentração de TGA acima de 1000 mg/dL no sangue pode ativar a lipase pancreática ainda no pâncreas, causando pancreatite. Se o paciente não apresenta fatores de risco, como obesidade ou alcoolismo, uma concentração de TGA até 300 não é motivo de preocupação. Caderno de Bioquímica I – Ana Pich Lipase hormônio sensível Localiza-se nos adipócitos. Hidrolisa os TGA. É ativada por glucagon e adrenalina, através de proteína Gs. Como o tecido adiposo amarelo, principal reserva de TGA do organismo, é pouco vascularizado, há grande dificuldade de chegada dos hormônios a esse local. O tecido adiposo amarelo praticamente não tem mitocôndrias, enquanto o tecido adiposo marrom/pardo possui ampla vascularização, inúmeras mitocôndrias e nas suas mitocôndrias possuem um desacoplador, a termogenina, a qual em lugar de produzir ATP, libera calor. A termogenina faz parte de uma classe de proteínas chamadas de UCP (proteínas geradoras de calor). O tecido adiposo marrom é essencial para o recém- nascido, pois são vitais a respiração e a manutenção térmica para esses indivíduos. Existe uma lipase oral. Como já dito, é possível degradar TGA formando glicerol e ácido graxo. O ácido graxo sofre β- oxidação, produzindo ATP. *Ácido graxo jamais produzirá glicose. Podem ser transformados em corpos cetônicos. Colesterol jamais ira produzir ATP. A forma de realizar/intensificar a β-oxidação é através de exercícios aeróbicos. Glicerofosfolipídios São moléculas que por hidrólise produzem glicerol, ácido graxo, fosfato e um aminoálcool. Encontram-se em concentrações elevadas em diversas membranas celulares. Eles tem uma porção polar/hidrofílica, formada por resíduos de fosfato e resíduos de aminoálcool (cabeça polar). Essa molécula com duas polaridades são agentes tensoativos. Os agentes tensoativos são muito importantes na membrana celular e no processo de digestão de lipídios no intestino. Na digestão formam-se as micelas óleo em água (OA). Um exemplo são as loções e cremes, formados por micelas de OA. Ainda sobre suas propriedades detergentes, em particular a fosfatidil colina, tem papel importante na bile onde sua função é solubilizar o colesterol. Nos glicerofosfolipídeos temos um radical derivado de aminoálcool ligado ao fosfato. Dois radicais muito importantes são: • Hidrogênio; • Álcool cíclico. Se esse radical for um H, teremos uma molécula de ácido fosfatídico (derivado de colina) ou fosfatidilcolina (nome genérico: lecitina); Algumas pessoas consideram uma molécula para emagrecer. Quando o radical é um álcool cíclico, forma-se inositol bifosfato. As proteínas Gq vão produzir derivados desse tipo de fosfolipídeo. Existem glicofosfolipídeos complexos que podem ter como radical um derivado de glicerofosfolipídeos. Isso forma um fosfolipídeo que se chama cardiolipina. Importância dos fosfolipídeos • Todas as membranas têm fosfolipídeos; • São essenciais na digestão de gorduras, na formação de micelas (é sobre essas micelas que atuará a lipase pancreática); • Constitui o fator surfactante. Os fosfolipídeos fazem parte do fator surfactante, que evita o colabamento das membranas alveolares (atelectasia). Quando existe uma gravidez de risco é fundamental avaliar a composição do fator surfactante do feto, através de punção de líquido amniótico. A síndrome da angustia respiratória (RDS) é causa de grande mortalidade de neonatos. Para acelerar a maturação pulmonar evita-se a degradação de fosfolipídeos com corticoides, o que inibe a fosfolipase A2. * Os fosfolipídeos são permanentemente renovados por meio de sua degradação por fosfolipases. Duas delas são a fosfolipase A2 e a fosfolipase C (ativada por proteína Gq). Existem outros fosfolipídeos que não apresentam glicerol, por exemplo os esfingolipídeos. Caderno de Bioquímica I – Ana Pich Ceras Responsáveis pela proteção das vísceras. As ceras são ésteres de ácidos graxos com álcoois superiores, ou seja, com grandes cadeias carbônicas. Os vegetais também produzem ceras para evitar perda de água. Um exemplo é a cera do ouvido protege o tímpano. A espermacete é uma cera muito usada na produção de cosméticos, é um éster formado a partir de ácido palmítico e do álcool cetílico. A fonte são as baleias. Esteroides São lipídeos que apresentam uma estrutura policíclica, o ciclopentanoperidrofenantreno, conhecido como núcleo esteroide ou CPPP. Não tem ressonância. O colesterol é o esteroide mais importante. Colesterol • Tem um núcleo esteroidal; • Tem 27 carbonos (que odeiam água, assim como odeio o William); • A única porção polar/hidrofílica é a hidroxila do carbono 3. Só existe um colesterol. O que é denominado bom colesterol corresponde ao HDL, ou seja, proteínas de alta densidade. O mau colesterol é o LDL. Jamais conseguimos queimar colesterol. Funções: • Formar membranas; • Formar vitaminas D; • Formar ácidos e sais biliares; • Formar loção epicutânea; • Formação de hormônio esteroidais. Formação de vitamina D A formação da vitamina D3 é fundamental na absorção de cálcio. A vitamina D começa sendo formada na pele, através da radiaçãoultravioleta o organismo forma o colecalciferol. Na segunda etapa, em nível hepático, o colecalciferol é transformado em 2-hidroxi D. Depois, em nível renal, ocorre a terceira etapa com a formação de 1,25 hidróxi-D, a forma ativa de vitamina D. A forma ativa da vitamina D age nas células intestinais levando a formação de uma proteína captadora de cálcio, que age a nível intestinal. Um paciente com insuficiência renal grave produz menor EPO (eritropoietina) e terá uma anemia por causa dessa deficiência (hematócrito de 15 mg/dL). Possui também uma hipocalcemia, pois não está sendo formada vitamina D3. Para poder manter a homeostasia do cálcio a fosfatase alcalina passa a degradar o tecido ósseo. Degradação de tecido ósseo aumenta fosfato, causando hiperfosfatemia. Obs.: a fosfatase alcalina é uma enzima que aumenta em três situações importantes: • De forma moderada nas hepatites; • De forma um pouco mais acentuada nas obstruções biliares; • Aumenta muito em câncer ósseo. Formar ácidos e sais biliares São agentes tensoativos. Os ácidos biliares são formados inicialmente no fígado, um exemplo é o ácido cólico. Eles são conjugados no próprio fígado com glicina e taurina, formando ácidos biliares primários, que são ácidos glicocólico e taurocólico. Esses ácidos fortes ficam na forma ionizada formando sais biliares. Os sais biliares serão os agentes tensoativos da bile e junto com as lecitinas formam os agentes tensoativos. Esses ácidos biliares são desconjugados no intestino por bactérias e formam-se ácidos biliares secundários. O mais importante é o ácido litocólico, a principal forma de eliminar colesterol do organismo/ 500 mg/dia. Existem outros ácidos biliares, mas esse é certamente o mais importante. Um indivíduo só gasta 900 mg/dia de colesterol, pois, com exceção do ácido litocólico que sai nas fezes, a maior parte dos ácidos biliares secundários são reabsorvidos no íleo. Existe uma forma de impedir essa reabsorção, aumentando o gasto de colesterol pelo organismo. Para isso é preciso aumentar a eliminação de ácidos biliares nas fezes utilizam-se sequestradores de ácidos biliares, a mais famosa é Caderno de Bioquímica I – Ana Pich a colestiramina. Contudo, além de provocar esteatorreia, esses medicamentos têm um gosto horrível. Formar loção epicutânea Uma mistura de suor, colesterol e gordura que protege a pele. A ictiose é a deficiência na produção de loção epicutânea. O tratamento é feito ministrando-se loção permanentemente. Formação de hormônio esteroidais São cinco grupos: • Hormônios mineralocorticoides; • Hormônios glicocorticoides; • Hormônios progestágicos; • Hormônios estrogênicos ou estrógenos; • Hormônios andrógenos. Lembrando que colesterol não é hormônio. Hormônios mineralocorticoides O mais importante é a aldosterona, produzida pela suprarrenal. Responsável por retenção de sódio. Um dos principais sistemas de regulação da pressão arterial é o sistema renina-angiotensina- aldosterona. Hormônios glicocorticoides O mais importante dos glicocorticoides é o cortisol, produzido pela suprarrenal. Esse hormônio: • Ativa a gliconeogênese, ou seja, é hiperglicemiante; • É anti-inflamatório, inibe a fosfolipase A2. São exemplos de fármacos a cortisona, a betametasona e a prednisolona. Antes de administrar corticoides deve-se atentar se o paciente é diabético. Seu grande efeito é a retenção de sódio. São importantes pois cortisol e adrenalina são os dois grandes hormônios do estresse, o qual envelhece e mata. Nos temos três fases do stress: • A primeira é a da luta ou fuga: depende de adrenalina para desencadear o processo; • Na segunda fase o estresse cronifica, aparecendo doenças psicossomáticas, sendo a mais comum a dor nas costas, como a fibromialgia (muito comum nas mulheres). Normalmente também há queda de cabelo e manifestação do vírus da herpes quando presente. Síndrome de Burnout é o grau máximo de estresse. Hormônios progestágicos A progesterona é produzida pelo corpo lúteo/ corpo amarelo. Ela é importante na fase secundária do ciclo menstrual (fase secretora). É essencial para que ocorra a nidação do ovo no endométrio. Hormônios estrogênicos ou estrógenos Estradiol e estrona são os mais famosos. Estimulam mitoses celulares (mitogênicos), fazem crescer o endométrio do primeiro ao décimo dia após a menstruação (fase proliferativa). O estrógeno favorece o crescimento de tumores, mas os tumores não são formados por esse hormônio. Conferem as características sexuais femininas secundárias: • Crescimento da papila mamária; • Ciclo menstrual; • Deposição de gordura localizada. Estão relacionados com a TPM, provoca dores e alterações psicológicas. Com a menopausa aumenta o risco de infarto e AVC, principalmente em mulheres que tem menopausa muito cedo. . Hormônios andrógenos Testosterona. Produzida pelas células de Leydig. Responsável pelas características sexuais masculinas secundarias: • Espermatogênese; • Crescimento de massa muscular (por causa disso os esteroides são doping, principalmente os derivados da testosterona); • Pelos; • Agressividade. Caderno de Bioquímica I – Ana Pich
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