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SAÚDE DO TRABALHADOR Josiana Dias Silva Trajano Doenças ocupacionais: LER e DORT Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os sinais e sintomas das doenças ocupacionais LER e DORT. � Identificar fatores de risco no trabalho que predispõem a LER e DORT. � Desenvolver um plano de medidas preventivas de doenças ocupacionais. Introdução As doenças ocupacionais são adquiridas ou desencadeadas por fatores relacionados ao ambiente de trabalho, às exigências das tarefas ou à organização do trabalho. Quando pensamos em trabalhadores que so- frem por lesões musculoesqueléticas, é comum associarmos os sintomas com a dor e o sofrimento. No entanto, os sintomas de LER (lesões por esforços repetitivos) e DORT (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho) podem passar despercebidos ou serem confundidos com um cansaço normal decorrente das rotinas de trabalho. A legislação brasileira estabelece parâmetros para se criar condições de trabalho saudáveis, e isso representa uma das formas de medidas preventivas para aliviar os desconfortos e riscos ocupacionais. Neste capítulo, você reconhecerá os principais sintomas de LER e DORT e identificará os fatores de risco existentes no ambiente e na orga- nização do trabalho que predispõem o surgimento de LER e DORT. Além disso, você será capaz de desenvolver um plano de medidas preventivas para essas doenças ocupacionais. Sinais e sintomas de LER e DORT É comum associarmos LER a longos períodos de trabalho em determinada função. O termo LER começou a ser utilizado no Brasil a partir de 1987 e sugere que as lesões são decorrentes de esforços repetitivos. Hoje em dia, sabemos que inúmeros fatores contribuem para a ocorrência dessas doenças, e não apenas a repetitividade. Além disso, o termo lesão sugere que há uma anormalidade já definida, o que nem sempre é evidenciado, especialmente, na fase inicial de instalação da doença. O termo DORT é mais abrangente e não traz sugestões de causas das doenças ocupacionais. LER e DORT referem-se a um grupo de doenças que estão na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde (DIAS, 2001). As regiões do corpo mais acometidas são os membros superiores, punhos e mãos, braços e antebraços, cotovelos, ombros e coluna cervical. As doenças mais comuns relacionadas ao trabalho são as inflamações de tendão (tendinites), as inflamações das membranas que recobrem os tendões (tenossinovites), a compressão de nervos (síndrome do túnel do carpo e síndrome de compressão do nervo ulnar no cotovelo), entre outras. É comum que essas patologias resul- tem em incapacidade temporária ou incapacidade permanente para o trabalho. Você pode conhecer essas e outras doenças acessando a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde disponível no link a seguir. Nessa lista, são abordados aspectos básicos da doença, fatores de risco, quadro clínico, critérios de diagnóstico, tratamentos, formas de prevenção e bibliografia sugerida para aprofundamento do tema. https://qrgo.page.link/VnX3P Essas doenças acometem o sistema musculoesquelético, atingindo os mús- culos, tendões ou nervos. Os sinais e sintomas que acompanham essas doenças ocupacionais são diversos, no entanto, muitos trabalhadores relatam ser comum a dor crônica, a sensação de dormência (parestesia) e a fadiga. Essas queixas estão presentes em diferentes graus de gravidade, podendo até mesmo gerar incapacidade funcional. Esses sintomas podem surgir de forma insidiosa, ou Doenças ocupacionais: LER e DORT2 seja, de maneira lenta e gradativa, manifestando-se de modo intermitente, com apenas um sintoma isolado ou ocorrência de vários sintomas concomitantes. No início de instalação da doença, os trabalhadores costumam relacionar os sintomas como um desconforto decorrente da rotina de trabalho, não dando a devida importância ao caso. Com o passar do tempo, os sintomas tendem a se manter, surgindo crises de dor, enquadrando-se, assim, em uma condição crônica. Comumente, os sintomas potencializam-se ao final da jornada de trabalho ou em momentos de sobrecarga, como nos picos de produção, e me- lhoram com o repouso noturno ou em dias não trabalhados. Se não tratados, os sinais e sintomas persistirão mesmo aos esforços mínimos, comprometendo a capacidade funcional. De modo geral, a dor está associada a processos inflamatórios, podendo se manifestar de forma espontânea ou durante a movimentação da região acometida. A dor pode ser localizada, referida ou generalizada. A literatura aponta como dor crônica aquela com duração superior a três meses. Alguns pacientes apresentam dores generalizadas que podem difundir-se para os membros superiores ou até mesmo para todo o corpo. Nesse caso, as dores difusas são migratórias, ou seja, ocorrem em diferentes regiões do corpo. Azambuja e outros autores (2014) apresentam quatro formas principais para a manifestação da dor. 1. Os sintomas iniciais são dores difusas em membros superiores, cintura escapular e pescoço, sem limitação significativa. Esses trabalhadores costumam se automedicar e continuam suas atividades laborais. 2. Dor localizada e com limitação progressiva para o trabalho, o que sugere lesão ortopédica. 3. Dor crônica em uma determinada região, de nível moderado a severo, associada à lesão significativa, que influencia nas atividades diárias. 4. Lombalgia crônica, que representa uma das mais severas causas de incapacidade para o trabalho. As sensações de parestesia e fadiga podem estar acompanhadas de alte- rações sensitivas de fraqueza e perda da força muscular. Se o profissional da saúde estiver atendendo um trabalhador com LER e DORT, possivelmente, ouvirá queixas de cansaço ou formigamento da região afetada. Os trabalhadores com LER e DORT possuem muita dificuldade para utilizar os membros. Para continuar exercendo suas atividades no trabalho, o paciente tenta proteger o membro afetado pela dor utilizando o membro contralateral. Por exemplo, se o trabalhador sente muita dor na mão direita, passa a utilizar a mão esquerda. 3Doenças ocupacionais: LER e DORT Durante o exame físico, é possível observar que há uma perda ou um aumento da sensibilidade. É importante avaliar todos os sinais e os sintomas que foram relatados pelos trabalhadores, atentando-se a localização da queixa, duração e caracterização da evolução dos sintomas e intensidade, investigando fatores que podem contribuir para a melhora ou o agravamento do quadro. Durante a anamnese ocupacional, é possível relacionar essas queixas com as atividades que o paciente realiza no trabalho. Alguns sinais são indicativos de LER e DORT, como: evitar usar uma das mãos ou membros na execução de atividades, até mesmo as simples, substituir o uso da mão pelo braço, agitar as mãos para melhorar a sensação de dormência ou formigamento, entre outros. Com receio de enfrentar conflitos no ambiente de trabalho ou pelo medo do desemprego, muitos trabalhadores acabam suportando seus sintomas para continuar trabalhando. Com o passar do tempo, frente às incapacidades de realização das atividades diárias geradas pelos sintomas de LER e DORT, muitos pacientes passam a ter sentimentos negativos de culpa, inutilidade, impotência, além da diminuição da autoestima. Se não tratada, a diminuição da capacidade física passa a ser percebida até mesmo fora do trabalho, como dificuldades em realizar atividades cotidianas (vestir-se, abotoar roupas, pentear os cabelos ou escovar os dentes), sentimento de braços cansados ao tentar mantê-los de forma elevada ou ao deixar cair objetos que se está segu- rando. A saúde emocional torna-se abalada, com risco de desenvolvimento de sofrimento mental, podendo piorar o quadro clínico. Se a saúde mental não for levada em consideração, há uma grande chance de se desenvolver quadros de ansiedade, depressão ou angústia. A relação das ocupações e os sintomas de LER e DORTPessoas em determinadas ocupações estão mais propensas a desenvolver do- enças relacionadas ao trabalho devido às condições em que são exercidas suas atividades. A seguir, veremos algumas condições frequentemente encontradas em trabalhadores que possuem LER e DORT, de acordo com a ocupação. � As cervicalgias (dores no pescoço) são caracterizadas por dores e rigidez no pescoço, que são agravadas pelo movimento e aliviadas pelo descanso. Os digitadores, carregadores de peso com a cabeça, lavadeiras e profissionais que fazem uso de telefone e computador de modo simultâneo são exemplos de ocupações que podem sofrer com cervicalgias caso exerçam um trabalho antiergonômico. Doenças ocupacionais: LER e DORT4 � Dedo em gatilho é a denominação da dificuldade ou impossibilidade de estender o dedo acompanhada de dor. Ocorre com trabalhadores que realizam movimentos repetitivos de flexão de dedos com postura inadequada, onde há a compressão palmar associada à realização de força. São exemplos os profissionais que apertam alicates e tesouras e os marteleiros. � A dor no ombro ocorre quando há elevação dos membros superiores sobre a cabeça repetidas vezes, atividade comum para os auxiliares de serviços gerais, açougueiros, carregadores de peso sobre os ombros, carteiros, cortadores de cana, eletricistas, pintores, entre outros. � A epicondilite é a inflamação do epicôndilo (proeminência óssea na região do cotovelo) decorrente de movimentos com esforços estáticos e preensão prolongada de objetos, principalmente, com o punho es- tabilizado. É caracterizada por dor na região do cotovelo decorrente de sobrecarga repetida nessa região. Estão sujeitos à epicondilite os cozinheiros que fatiam alimentos, dentistas, profissionais que executam a atividade de torque (parafusar, torcer), preparadores de argamassa, entre outros. � A lombalgia aguda é um sinal característico de esforço físico intenso com a coluna vertebral ou postura inadequada ou sentada prolongada. Ocorre com motoristas, profissionais de enfermagem, pedreiros, me- talúrgicos, açougueiros, entre outros. � A síndrome do túnel do carpo pode afetar ambas as mãos, e os sinais característicos desse DORT é a sensação de formigamento, diminuição da força e dificuldade em pegar objetos pequenos. É comum em pro- fissionais que realizam movimentos repetitivos de flexão e extensão com o punho, podendo estar acompanhada por realização de força. São exemplos os digitadores, cortadores de carne, empacotadores, operadores de caixa, dentistas, agricultores, entre outros. � A tenossinovite acontece quando há um movimento repetitivo do pole- gar, como no caso de costureiras, manicures, artesãos e cabeleireiros. A dor é a principal característica. 5Doenças ocupacionais: LER e DORT Um exame físico detalhado consegue evidenciar a presença desses sinais e sintomas presentes em LER e DORT. O exame físico completo inclui a realização de anamnese, inspeção, palpação dos tecidos moles e teste de mobilidade. Na anamnese, é preciso buscar informações que relacionem os sintomas referidos com as situações de sobrecarga no trabalho que represen- tam os riscos ocupacionais. Na inspeção, avaliamos a forma de caminhar e sentar, posturas anormais, assimetrias, sinais de inflamação e deformidades. A palpação permite identificar alterações de consistência, sensibilidade ou até mesmo a presença de nodulações. Os testes de mobilidade avaliam as limita- ções dos movimentos ativos e passivos. As manobras clínicas são definidas dependendo da região afetada. O atendimento ao portador de LER e DORT é bastante amplo, compre- endendo várias etapas que vão desde a anamnese até a realização de mano- bras clínicas. A avaliação pode necessitar de encaminhamentos para outros profissionais de saúde, incluindo especialistas que podem solicitar exames complementares, como avaliação laboratorial e exames de imagem. Acesse o link a seguir para consultar o Protocolo de complexidade diferenciada do Ministério da Saúde e conhecer as manobras clínicas dos testes de mobilidade com imagens ilustrativas. https://qrgo.page.link/v6QZs Exposição aos fatores de risco Não há uma única causa para o desenvolvimento de LER e DORT, mas uma multiplicidade de fatores que podem ser decorrentes de vários mecanismos biomecânicos, psicossociais ou organizacionais. O tempo de exposição do trabalhador a esses riscos, principalmente, se acompanhado de movimentos repetitivos e sobrecarga, sem um período de descanso para a recuperação musculoesquelética, aumenta as possibilidades de desenvolver alguma pa- tologia (Figura 1). Doenças ocupacionais: LER e DORT6 Figura 1. Síntese dos fatores desencadeantes de LER e DORT. + =Fatores de riscopara LER e DORT Superutilização das estruturas musculoesqueléticas e falta de tempo para recuperação LER e DORT Ao se deparar com um possível DORT, é importante avaliar os fatores de risco envolvidos direta ou indiretamente que estão relacionados ao trabalho. Algumas informações são necessárias para se estabelecer o nexo da patologia com o trabalho. É importante questionar sobre a atividade exercida e a relação com o segmento do corpo utilizado que está mais exposto ao risco: � Como o trabalhador executa o seu trabalho? � Quantas horas ele trabalha por dia? � Há tempo para pausas? � O trabalho causa algum desconforto? Essas questões são importantes, pois os fatores de risco para o desenvolvi- mento de DORT podem estar associados a adequações no posto de trabalho, temperatura do ambiente, vibrações e pressões sobre os tecidos musculares, posturas inadequadas, fatores psicossociais, entre outros. Alves Neto et al. (2009, p. 907) destacam alguns dos principais fatores de risco para o DORT: [...] a sobrecarga psíquica, a monotonia, a repetitividade no trabalho, o exa- gero de horas extras, a ausência de repouso adequado, a falta de autonomia no trabalho, a desorganização do sistema de trabalho, o relacionamento ina- dequado com as chefias e colegas, as condições de trabalho e as políticas de promoção inadequada. Os fatores biomecânicos têm relação com os movimentos repetitivos, com a velocidade com que as atividades são realizadas, com a força utilizada e com o tempo dispensado para a ação. O risco de desenvolvimento de DORT surge quando esses fatores são executados com uma intensidade além da capacidade do indivíduo, sem tempo para a recuperação funcional da fibra muscular e para a adequada reperfusão sanguínea do tecido muscular. Soma-se a isso a adoção de posturas inadequadas quando o posto de trabalho não é adaptado para as 7Doenças ocupacionais: LER e DORT características anatômicas individuais, podendo sobrecarregar as articulações e os tecidos moles, em atividades que exigem a postura em pé ou sentada. A postura adequada depende da disposição de máquinas e mobiliários em acordo com as características anatômicas do trabalhador, da forma como se utiliza as ferramentas e os maquinários, da forma como são executadas as tarefas, do ritmo de trabalho empregado e da existência de intervalos para descansos. O trabalho com cargas elevadas e superiores à capacidade do indivíduo provoca grande esforço muscular, podendo levar à fadiga e comprometer a circulação muscular. O período para a recuperação após a execução das tarefas, de modo geral, não é respeitado devido às rotinas de trabalho. Isso aumenta a possibilidade de lesão musculoesquelética. Alguns exemplos de ocupações que exigem força em suas atividades são os trabalhos executados por costureiros, frentistas de postos de combustíveis e profissionais da construção civil. Essas são profissões utilizam, principalmente, as mãos como ferramenta de trabalho, seja para manipular uma tesoura durante um corte, abastecer um veículo ou manejar alguma ferramenta. O trabalho muscular estático está presente em atividades em que um membro é mantido em uma mesma posição ou quando se trabalha somente sentado. Nessas situações, há uma contraçãomuscular que pode levar ao de- senvolvimento de DORT, com destaque para o trabalho em linha produção e os telefonistas de callcenter. Fatores como desconforto térmico, ruído excessivo, iluminação ou mobiliário inadequados contribuem para a ocorrência de DORT, pois fazem com que os trabalhadores adquiram determinadas posturas que podem contribuir para um aumento dos níveis de estresse no trabalho devido ao desconforto que causam. Assim, baixas temperaturas reduzem a habilidade e a força na execução de um trabalho manual. A vibração ocorrida ao se manipular maquinários, instrumentos elétricos ou pneumáticos provoca um aumento involuntário da força de preensão do indivíduo. A exposição frequente a esses fatores resulta em estresse mecânico, podendo ocasionar lesões em estruturas nervosas e vasculares. A pressão mecânica é outro fator de risco quando há o contato direto do tecido mole do corpo com algum objeto duro presente no ambiente de trabalho. Por exemplo, apoiar os braços em uma bancada fixa, apoiar os antebraços na mesa (digitadores), fazer cortes de tecidos com tesouras, entre outros. Já os choques e impactos ocorrem quando são utilizadas ferramentas para bater ou golpear alguma superfície dura. Podemos citar como exemplo os marreteiros e profissionais que utilizam o martelo com muita frequência. Doenças ocupacionais: LER e DORT8 A repetitividade sem intervalos para descanso provoca a contração muscular e, consequentemente, exige maior esforço. São exemplos de ocupações que exercem a repetitividade nas atividades laborais os cortadores, polidores, digi- tadores e empacotadores. A repetitividade está associada à invariabilidade da tarefa, que implica em monotonia com posturas imobilizadas pela exigência do trabalho. Já o ritmo de trabalho pode ser definido pela velocidade da máquina, por exemplo, em linhas de produção, ou pelo pagamento de produtividade, como os colhedores de hortas que recebem pela quantidade de legumes ensacados. Os fatores psicossociais referem-se à percepção subjetiva dos trabalha- dores sobre os agentes organizacionais e as exigências de carga e ritmo de trabalho. É importante falar sobre a monotonia, ou a percepção de condições estressantes, como a pressão para aumentar a produtividade que, se associada à falta de controle sobre suas atividades e à falta de suporte, pode aumentar o risco de desenvolver DORT. O estresse causado no trabalho pode alterar o comportamento do trabalhador, aumentando a tensão muscular, que responde reduzindo seu tempo de pausa ou utilizando uma força excessiva para produzir mais. Outros exemplos são as relações interpessoais que ocorrem no ambiente de trabalho, com pressões exercidas pelas chefias, conflitos ou até mesmo falta de comunicação com os colegas. Também soma-se aos fatores psicossociais a desorganização do método de trabalho, a falta de reconhecimento profissional, as insatisfações, a ansiedade e a depressão. Frente às condições que podem agravar as manifestações de LER e DORT, é preciso adotar posturas, mudanças organizacionais ou métodos de trabalho que promovam a saúde do trabalhador. Não podemos afirmar que o DORT é causado apenas por fatores biomecânicos. Por exemplo, um digitador não desenvolveu síndrome do túnel do carpo ou cervicalgia exclusivamente porque a mesa e a cadeira não estão ajustadas com o seu biotipo. Claro que a altura do monitor, a distância do mouse e teclado e o apoio de braço influenciarão na patologia. Contudo, ao realizar o nexo da doença com o trabalho, temos que pensar a dinâmica do trabalho e suas relações, o tempo que o trabalhador tem para descanso, o tempo de jornada de trabalho, entre outros fatores psicossociais e organizacionais. 9Doenças ocupacionais: LER e DORT Para saber mais sobre os DORT e sua relação com a enfermagem, leia o artigo “Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) e sua associação com condições de trabalho da enfermagem”, escrito por Nytale Lindsay Cardoso Portela e José de Ribamar Ross em 2015, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/R2i8G Medidas preventivas para a ocorrência de LER e DORT A saúde do trabalhador está relacionada às ações de prevenção e promoção, que buscam criar ou orientar para se ter um ambiente de trabalho seguro e saudável, o que inclui as atividades de educação em saúde. A prevenção é a melhor maneira para se evitar o desenvolvimento dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, e não depende apenas de medidas isoladas, mas de um conjunto de ações que incluem a participação do trabalhador, a adequação de mobiliários e equipamentos, os aspectos técnicos e de como está a organização do trabalho. Para iniciar qualquer plano de prevenção de LER e DORT, é preciso com- preender quais são os fatores de risco presentes no local. Essa avaliação deve ser feita de forma criteriosa a fim de identificar como as tarefas são realizadas, enfatizando não apenas os fatores biomecânicos, mas também os fatores organizacionais e psicossociais. A seguir, algumas perguntas que podem nortear o planejamento das ações preventivas de LER e DORT estão listadas. � Como são as máquinas e ferramentas utilizadas no trabalho? � O mobiliário está adequado? � O ambiente físico está adequado (temperatura, iluminação, ventilação, ruídos)? � A atividade exige movimentos repetitivos ou posturas estáticas? Doenças ocupacionais: LER e DORT10 � Alguma região do corpo está sobrecarregada? � Quantas horas de trabalho são exigidas? � Há tempo para pausas? � O ritmo de trabalho é livre ou é imposto? � Há pressão para se produzir? � Quais são as dificuldades na execução do trabalho? As condições ergonômicas de trabalho contribuem para a saúde do traba- lhador e para a prevenção dos DORT. A Norma Regulamentadora 17 (NR-17) (BRASIL, 2018a) estabelece os parâmetros que auxiliam a organização do trabalho, indicando adaptações das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, visando proporcionar conforto e segu- rança para todos os envolvidos. Essa norma aborda os aspectos voltados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, mobiliário, equipamentos e condições ambientais do posto de trabalho, incluindo a própria organização do trabalho. A NR-17 ainda estabelece que seja obrigação do empregador realizar a análise ergonômica que deve abordar as condições de trabalho (BRASIL, 2018a). A análise ergonômica do trabalho (AET) permite identificar e aferir as funções exe- cutadas, bem como as ferramentas e os objetos utilizados pelo profissional em seu local de trabalho. Também possibilita medir os impactos que a utilização, o esforço e o repouso causam direta ou indiretamente em sua rotina de trabalho. O objetivo é avaliar e propor melhores condições de trabalho e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. A análise ergonômica do trabalho é o ponto de partida para as melhorias do ambiente profissional. Sozinha, ela não resolve todos os problemas, mas aponta o caminho por onde começar. No Quadro 1, Corrêa e Boletti (2015) apresentam uma divisão de fases da AET. 11Doenças ocupacionais: LER e DORT Fonte: Adaptado de Corrêa e Boletti (2015). Fases da AET Objetivos Análise da demanda Definir os problemas a serem resolvidos. Análise da tarefa Estudar as condições de trabalho em que os trabalhadores exercem suas atividades. Análise da atividade Estudar o comportamento humano no ambiente de trabalho. Quadro 1. Divisão da análise ergonômica do trabalho A análise ergonômica do trabalho aponta os locais onde é necessário que sejam feitas adequações ou mudanças no processo de trabalho. Ela também inclui um diagnóstico dos principais perigos e riscos, além de apresentar as alterações necessárias para a solução dos problemas encontrados, conside- rando as normas ergonômicas. A empresa possui papel muito importante na concretização de ações que visam prevenir a ocorrência de LER e DORT. As Normas Regulamentadorassão regras formalizadas por comissões específicas formadas por representantes do governo, dos trabalhadores e dos empregadores divulgadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego que devem, obrigatoriamente, ser seguidas. Elas objetivam proteger a saúde e segurança dos trabalhadores. Para conhecer a NR-17 que trata sobre a Ergonomia do Trabalho, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/WXSK3 Doenças ocupacionais: LER e DORT12 Em alguns setores, como em linhas de produção, é comum pensar que não há como oferecer mudanças, uma vez que o trabalho executado é sempre com repetitividade e monotonia. No entanto, uma das alternativas é realizar a alternância das tarefas nos postos de trabalhos. Aqueles locais onde se exige mais do trabalhador não podem ser modificados em curto prazo, então, a orientação é realizar o rodízio de pessoal, possibilitando a diminuição da duração da exposição aos fatores de risco ali existentes. Outra alternativa é programar pausas e diminuir a jornada de trabalho, reduzindo a exposição aos fatores de risco. A pausa é um importante fator de prevenção, uma vez que o descanso configura o tempo necessário para que haja recuperação da estrutura corpórea que foi superestimulada. Somente um estudo ergonômico pode precisar qual seria o tempo ideal de descanso, uma vez que as atividades são muito diversificadas e dinâmicas. É importante que as empresas façam uma revisão sobre a produtividade e sobre a forma de cobrança exercida nos trabalhadores, pois esses são fatores que pressionam o aumento do ritmo de trabalho. Os treinamentos também representam uma forma de prevenção dos DORT, mas, para alcançar seu objetivo, é preciso que considerem a realidade do local de trabalho. Deve-se pensar em quais condições o trabalho está sendo realizado e quais mudanças poderão ser feitas a curto, médio e longo prazo. A legislação brasileira (NR-7) (BRASIL, 2018b) estabelece que é obrigatório que todas as empresas com empregados elaborem o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) com o objetivo de promover e preser- var a saúde dos trabalhadores. Esse programa inclui a realização dos exames médicos admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissional. Para cada exame, é emitido o Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), que inclui os riscos aos quais o trabalhador está exposto entre outras informações (BRASIL, 2018b). O ASO pode ser usado como ferramenta para rastrear trabalhadores com risco de desenvolvimento de DORT. Além disso, o PCMSO inclui um planejamento com ações de saúde que podem abranger temas relacionados à prevenção das doenças ocupacionais. Uma vez já instalado o DORT, os pacientes precisam ser orientados sobre os fatores desencadeantes e sobre os que podem agravar a sua dor. Possivelmente, o paciente será afastado do trabalho enquanto estiver tratando os sintomas que estão agudizados. O profissional pode atentar aos riscos existentes no processo de trabalho, mas as orientações quanto ao ritmo, postura e ergonomia também devem incluir as atividades que o paciente realiza em sua casa, como sentar-se em frente à televisão, faxinar, carregar sacolas de supermercado, entre outras. 13Doenças ocupacionais: LER e DORT ALVES NETO, O. et al. Dor: princípios e práticas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. AZAMBUJA, M. I. R. et al. Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). In: DUCAN, B. B. et al. (org.). Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária ba- seadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria de Inspeção do Trabalho. NR 7 — Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Brasília, DF, 2018b. Disponível em: https:// enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf. Acesso em: : 23 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria de Inspeção do Trabalho. NR 17 — Ergo- nomia. Brasília, DF, 2018a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-17.pdf . Acesso em: 23 jul. 2019. CORRÊA, V. M.; BOLETTI, R. R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. DIAS, E. C. D. (org.). Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: MS; OPAS, 2001. Disponível em: http://bvsms.saude.gov. br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho_manual_procedimentos.pdf. Acesso em: 23 jul. 2019. Doenças ocupacionais: LER e DORT14
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