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Processo de conhecimento Unidade 3

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PROCESSO DE CONHECIMENTO
DESENVOLVIMENTO E JULGAMENTO ANTECIPADO DO PROCESSO
Rafaela Lacerda Assis
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OLÁ!
Depois de estudarmos como o processo se constitui de modo válido e como se instaura o contraditório, nesta unidade trataremos do desenvolvimento válido do processo.
Esse tema é amplo e inclui o seguinte: todas as decisões que acontecem de modo intermediário no processo; o saneamento do processo; as hipóteses de suspensão e extinção do processo; bem como a constituição de provas em contraditório, com o objetivo de demonstrar os fatos apresentados pelas partes no processo.
Bons estudos!
1.0 IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO
Já abordamos, na Unidade I, o indeferimento da petição inicial, que também é uma forma de extinção liminar do processo. Não obstante, o indeferimento da petição inicial não se confunde com a improcedência liminar do pedido, diferenciação que será abordada a seguir.
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Fonte: Gunnar Pippel, shutterstock, 2020
#PraCegoVer: imagem de uma balança dourada, símbolo da justiça, vista de perto.
1.1 Conceito
A improcedência liminar do pedido ocorre quando, independentemente da citação do réu ou de produção de provas, o juiz julga o mérito da demanda como improcedente, tendo em vista que a demanda é manifestamente improcedente ou já foi resolvida em outro processo.
Conforme Lição de WAMBIER (2015, p. 403):
O dispositivo congrega dois diferentes grupos de hipóteses. Por um lado, prevê casos em que o cerne da disputa reside unicamente em uma questão jurídica que já foi resolvida, em julgamento precedente ao qual o ordenamento confere especial valor, contrariamente à pretensão do autor (art. 332, I a IV). Por outro lado, admite a rejeição da demanda em seu mérito quando for possível, de plano, constatar-se haver prescrição ou decadência (art. 332, § 1.º).
É importante ressaltar que em quaisquer dos dois casos, o juiz deve atestar que a decisão independe de provas ou de qualquer elucidação dos fatos. Isso ocorre porque é da característica do indeferimento liminar do pedido que a improcedência seja, de fato, manifesta.
Além disso, a sentença só poderá ser de indeferimento, pois caso apreciasse qualquer fato ou relação jurídica que atinja a esfera de direitos do réu, o contraditório deve ser obrigatoriamente instaurado, sob pena de nulidade da ação. Desse modo, a improcedência do pedido diz respeito apenas ao direito pleiteado pelo autor e só produz efeitos jurídicos para essa parte.
Conforme já tratado, improcedência liminar do pedido não se confunde com indeferimento da petição inicial, sobretudo porque o indeferimento da inicial se embasa em pressupostos de admissibilidade da ação, acarretando a extinção do processo sem resolução do mérito, enquanto a improcedência liminar do pedido resolve o mérito. 
1.2 Regime jurídico
Nos termos do artigo 332 do CPC, quando não for necessária a fase instrutória, ou seja, quando não houver necessidade de produção de provas, o juiz poderá, antes mesmo da citação do réu, julgar liminarmente improcedente o pedido.
As hipóteses do CPC que autorizam a improcedência liminar do pedido são o caso de pedido que contrarie os seguintes itens: (i) o enunciado do STF ou do STJ; (ii) o acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento de recursos repetitivos; (iii) o entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; (iv) o enunciado ou súmula de tribunal de justiça sobre direito local; (v) a verificação de decadência ou prescrição.
A ideia desse dispositivo é aproximar um pouco o processo civil brasileiro do common law, prestigiando o regime de precedentes mesmo quando os julgados não possuem efeito vinculante, buscando a ampliação da eficácia e aplicabilidade dos precedentes judiciais.
Nos dizeres de WAMBIER (2015, pg 453):
Nem todos esses precedentes têm força vinculante em sentido estrito – de modo a caber reclamação se eles não forem observados no caso concreto (v cap. 34 e 39, adiante). Falta tal eficácia às súmulas não vinculantes do STF e a todas as súmulas do STJ e dos tribunais locais. [...] Confere-se tal poder ao juiz a fim de impedir que inúmeros processos sobre casos análogos seguissem inutilmente todo o longo itinerário procedimental, para só muito depois chegar a um resultado desde o início já previsto, com total segurança. Prestigiam-se os princípios da economia processual e da duração razoável do processo.
Isso não significa que, quando o juiz declara a improcedência liminar do pedido, estaria decidindo contrariamente aos tribunais. Significa apenas que abriu mão de um rito mais expedido por entender que a causa merecia alguma discussão mais profunda.
É importante destacar que, para que se caracterize a improcedência liminar do pedido nas hipóteses dos incisos do artigo 332 do CPC, a decisão deverá demonstrar que a tese de direito apresentada pelo autor é inequivocamente oposta ao precedente invocado para fundamentar a extinção do processo.
Além da hipótese da improcedência liminar do pedido embasada na jurisprudência pátria, também há, conforme o §1º do artigo 332, a possibilidade de que a decisão se embase na constatação de decadência ou prescrição, somente antes da citação do réu, conforme trata WAMBIER (2015, p. 455):
O § 1.º do art. 332 apenas autoriza o direto julgamento de rejeição do pedido fundada na prescrição ou decadência, sem propiciar-se contraditório ao autor, somente antes da citação do réu. Se o juiz constatar possível prescrição ou decadência, em momento posterior à citação, deverá abrir vista às partes, antes de pronunciar-se sobre o tema (art. 487, parágrafo único, que não faz mais do que especificar a regra do art. 10). Nesse momento, se desejar, o réu poderá exercer sua renúncia à prescrição – hipótese em que o juiz estará impedido de decretá-la (art. 191 do CC/2002). Ainda, quando não houver a renúncia, tal prévia concessão de vista às partes permitirá também que o próprio autor, se for o caso, aduza razões que convençam o juiz de que, ao contrário de sua impressão inicial, não houve ainda decurso do prazo de prescrição.
Em ambos os casos será, portanto, proferida uma sentença que resolve o mérito da ação, de modo que, diante da decisão, o autor poderá interpor o recurso de apelação, cabendo retratação do juiz no prazo de 5 (cinco) dias e, caso assim não ocorra, deverá citar o réu para apresentar contrarrazões ao recurso.
2.0 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO  PROCESSO
As providências preliminares são um conjunto de atos que o juiz pratica após ser encerrado o prazo para que o réu apresente sua resposta, seja qual for, concluindo-se a chamada fase postulatória e inaugurando a fase de saneamento do processo.
A ideia da fase de saneamento é organizar o processo. Nesta fase, é verificado se há algum vício que impossibilite a continuidade do processo. Caso ele seja verificado, deve ser sanado ou, caso não seja possível, deve-se declarar a impossibilidade de continuação do processo.
2.1 Julgamento antecipado parcial do mérito
O julgamento antecipado parcial do mérito trata da possibilidade de que, em causas que envolvam mais de um pedido, o juiz se pronuncie para analisar parte do mérito, possibilitando dilação probatória para o restante da demanda. Conforme lição de WAMBIER (2015, p. 457):
Tal fatiamento do mérito pode ocorrer em relação a um ou alguns dos vários pedidos formulados na ação, na reconvenção ou em outras demandas incidentais (como é o caso da denunciação da lide). Por exemplo: o autor formula três pedidos na inicial – e dois deles, por ocasião do julgamento conforme o estado do processo, não apresentam nenhuma controvérsia quanto aos fatos que os embasam, havendo necessidade de provas apenas relativamente ao terceiro pedido. Outro exemplo: as provas documentais reunidas nos autos já são suficientes para elucidar os fatos relevantes para o julgamento do pedido feito pelo autor, sendo necessária somente instrução probatória relativamente ao suporte fático da reconvenção que o réu formulou.Mas o fatiamento pode ainda incidir sobre uma única pretensão formulada, na medida em que ela seja fracionável, decomponível. Por exemplo: o autor pede a condenação do réu ao pagamento de um milhão de reais, e o réu desde logo reconhece a procedência de duzentos mil reais, defendendo-se quanto ao resto.
Conforme texto do artigo 356 do CPC, o julgamento parcial do mérito poderá ocorrer quando o pedido se mostrar incontroverso, mesmo sem produção de provas, e quando parte da demanda estiver em condições de julgamento, nos termos do artigo 355 do CPC.
O artigo 355, por sua vez, determina a possibilidade de julgamento antecipado do mérito quando não houver necessidade de produção de provas, ou quando o réu for revel e o direito do autor se encontrar pré-constituído.
A decisão poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida (§1º, art. 356), sendo que tanto a liquidação quanto o cumprimento do julgamento parcial poderão ser desde logo solicitados e processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz, (§4º, art. 356, CPC). 
A respeito da execução provisória da decisão, assim leciona WAMBIER (2015, p. 460):
Se não for atribuído efeito suspensivo ao agravo contra tal decisão (arts. 995 e 1.019 do CPC/2015 – v. n. 25.5), ela poderá ser, desde logo, executada provisoriamente – se for o caso, procedendo-se antes à liquidação da condenação. Dispensa-se inclusive prestação de caução para tanto (art. 356, § 2.º – v. vol. 3, caps. 3 e 16, onde se examina o exato alcance de tal dispensa). Note-se que a solução do mérito dada em sentença, por ser recorrível mediante apelação que em regra tem efeito suspensivo, normalmente não poderá ser, desde logo, executada. Assim, a decisão interlocutória de mérito possui um regime de eficácia privilegiado, em contraste com o da sentença. Uma vez transitada em julgado a decisão parcial do mérito – seja porque não se interpôs recurso contra ela, seja porque não tiveram sucesso aqueles interpostos – passa a caber a própria execução definitiva (art. 356, § 3.º, do CPC/2015), mesmo que ainda esteja em curso a fase cognitiva do processo relativamente à outra parcela do mérito. Tanto a liquidação quanto o cumprimento provisório ou definitivo da decisão poderão ser processados em autos apartados (art. 356, § 4.º, do CPC/2015). Além disso, com o trânsito em julgado da decisão interlocutória de mérito, forma-se coisa julgada material sobre o comando decisório ali contido (art. 502 do CPC/2015) – independentemente do trânsito em julgado do pronunciamento que resolve a parte restante do mérito.
Por fim, é importante esclarecer que a decisão que resolver parcialmente o mérito, tendo em vista que não encerra a demanda, é considerada decisão interlocutória e, portanto, é impugnável mediante interposição de Agravo de Instrumento.
2.2 Saneamento
A fase de saneamento, conforme já tratado, é um conjunto de providências preliminares que ocorrem no caso de o juiz entender que o processo deve prosseguir como está, sem proferir alguma das modalidades de julgamento previstas no artigo 353 do CPC.
As providências preliminares encontram-se previstas entre os artigos 348 e 353, sendo que tais atos serão praticados se: (i) o réu não apresentar contestação; (ii) o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor; (iii) o réu alegar preliminares ao mérito elencadas no artigo 337 do CPC.
O rol de hipóteses é apenas exemplificativo, sendo que caberá ao juiz também praticar outros atos, conforme lição de WAMBIER (2015, p. 462):
– determinar que as partes manifestem-se sobre a possível falta de um pressuposto de admissibilidade (pressuposto processual ou condição da ação) de que ele cogitou de ofício (art. 5.º, LV, da CF/1988 LV e arts. 6.º, 9.º e 10 do CPC/2015);
– dar às partes, especialmente ao autor, a oportunidade para se manifestar sobre uma possível objeção material, i.e., fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do autor que pode ser conhecido de ofício, como pagamento, prescrição ou decadência (v. vol. 1, n. 12.5.4), em atenção ao contraditório e ao dever de cooperação (CF, art. 5.º, LV, da CF/1988 e arts. 6.º, 9.º e 10 do CPC/2015);
– provocar a participação de um terceiro como amicus curiae (art. 138 do CPC/2015 – v. vol. 1, n. 19.9.1);
– intimar o Ministério Público para que esse possa participar como fiscal da lei, nos casos legalmente previstos (art. 178 do CPC/2015 – v. vol. 1, cap. 22);
– dar vista, ao autor, de documentos novos juntados pelo réu ao contestar (art. 437 do CPC/2015 – v. n. 15.9, adiante);
– intimar as partes para que então efetivamente especifiquem as provas que pretendem produzir, se apenas as indicaram genericamente na fase postulatória (v. n. 13.12.2, adiante) etc.
2.3 Decisão de saneamento e organização do processo
Nos termos do artigo 357, o juiz deverá, em decisão de saneamento e organização do processo, corrigir eventuais defeitos que o processo apresente. Tal correção deve ser feita nos termos tratados no tópico precedente. Cabe também ao juiz organizar os próximos atos processuais.
A ideia é trazer mais eficiência ao processo, evitando que eventuais nulidades detectadas comprometam a validade e eficácia do pronunciamento final de mérito. Nos dizeres de WAMBIER (2015, p. 465):
A ideia que está presente nessa determinação do legislador é a da gestão do processo, à luz do princípio da eficiência, previsto no art. 8.º do CPC/2015, e que está intimamente relacionado com a necessidade de dar cumprimento à garantia constitucional da razoável duração. A ineficiência, entendida como a falta de método capaz de dar rendimento a qualquer instrumento destinado à prestação do serviço público, é algo que deve ser insistentemente combatido. Ao eleger o princípio da eficiência como regra motriz do processo civil, o legislador ficou atento à necessidade de criar mecanismos capazes de permitir que o resultado útil e justo do processo seja alcançado mediante o uso de métodos que permitam aos seus atores a obtenção desse resultado em tempo adequado, sem dilações inúteis e com certa funcionalidade. O art. 357 do CPC/2015 é um desses mecanismos.
Na decisão de saneamento e organização, nos termos do artigo 357 do CPC, o juiz deverá: (i) resolver questões processuais eventualmente presentes; (ii) delimitar questões de fato que deverão ser objeto de produção de prova; (iii) definir a distribuição do ônus da prova; (iv) delimitar questões de direito relevantes para a decisão de mérito; (v) designar audiência de instrução e julgamento. 
Após a decisão, as partes podem requerer esclarecimentos ou ajustes no prazo de 5 (cinco) dias (§1º), caso necessitem.
Caso a demanda apresente complexidade (§3º), o juiz poderá designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes. Ou então, caso devam ser ouvidas testemunhas (§§ 4º, 5º,6º e 7º), o juiz designará audiência de instrução e julgamento, com a finalidade de produzir as provas necessárias.
Assista aí
3.0 EXTINÇÃO DO PROCESSO
Nos termos do artigo 316, CPC, a única forma de extinção do processo é por meio de sentença, seja tal sentença de mérito ou não.
 
Por decisão de mérito tem-se aquela que adentra no direito discutido. É resolvido se a dívida é devida ou não, se o réu deve entregar a coisa, deixar de fazer algo, e assim por diante.
 
Por decisão que não julga o mérito, tem-se aquelas em que o juiz, por uma questão processual, detecta que o processo deve ser extinto, sem adentrar no bem da vida tutelado. Por exemplo: ele pode reconhecer a existência da coisa julgada ou a ausência de interesse de agir.
 
O artigo 317, CPC, de forma a evitar a extinção sem julgamento de mérito desnecessária, dispõe que “antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício”.
3.1 Decisões que não examinam o mérito
As situações que originam decisões que extinguem o processo sem análise de mérito estão previstas no artigo 485, CPC:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.
De acordo com WAMBIER (2015, p. 567), a extinção sem julgamento de mérito decorre de um rol de matérias que impedem o magistrado de apreciar o mérito. Portanto, é preciso ser declarada a existência de tal óbice, destacando que tais empecilhos devem ser detectados o quanto antes, para garantir a economia processual:
O art. 485 elenca o conteúdo que pode ter uma sentença terminativa ou processual. Trata-se de um rol de matérias que impede o juiz de apreciar o mérito, e que, portanto, o leva à prolação de uma decisão em que declara a existência destes óbices. A incompetência é uma destas matérias, que, todavia, porque há disposição legal expressa (art. 64, § 3.º do NCPC), autorizando que o juízo remeta o processo àquele que seria o competente, não gera sentença, mas decisão interlocutória. O mesmo se diga quanto ao impedimento: é um fenômeno que interfere na imparcialidade do juiz, que é pressuposto processual de validade, e obsta que este decida o mérito. No entanto, também neste caso, diz a nova lei, como também diz o CPC/73, que o processo deve ser encaminhado ao juiz que não seja impedido (art. 146, § 1.º do NCPC).
A sentença, como se observou nos comentários aos arts. 203 a 205, é, à luz do NCPC, pronunciamento judicial que tem por conteúdo a matéria constante dos arts. 485 e 487, e que tem por função colocar fim à fase cognitiva do procedimento comum ou à execução (art. 203, § 1.º). Não há, necessariamente, extinção da relação processual, nem mesmo em caso de sentença processual, pois a relação pode se manter viva para a fase em que se pleiteará cumprimento relativo aos honorários de advogado e reembolso de custas.
O art. 485, portanto, alista temas que devem ser objeto de análise do juiz, para que possa ser apreciado o mérito. A maioria dos incisos traz elementos que devem preferencialmente, ser examinados no início do processo, evidentemente, por razões de economia processual. (WAMBIER, 2015, p. 567)
Havendo a extinção do processo sem julgamento de mérito, a ação pode ser reproposta (art. 486, CPC), desde que corrigido o vício indicado.
WAMBIER traz valiosos exemplos sobre o tema:
A ação pode ser reproposta, quando há o pronunciamento judicial final, que não resolve o mérito, nos casos de que trata o artigo anterior. Mas desde que, diz a nova lei, o vício seja CORRIGIDO e que haja prova do pagamento das custas e dos honorários de advogado.
Indeferimento da inicial, falta de pressupostos processual positivo, falta das condições da ação e reconhecimento de que há convenção de arbitragem etc.: são os casos que geram a possibilidade de repropositura da ação se sanado o vício (e pagas as custas e os honorários).
Assim, por exemplo, a ausência de interesse deve desaparecer: a dívida que não estava vencida já deve ter vencido; já se terá completado o prazo para a configuração da usucapião. Ou ainda, o autor se fez representar adequadamente, o que não tinha ocorrido no primeiro processo.
A litispendência, que terá dado causa à prolação da primeira sentença, há de ter cessado: o primeiro processo, cujo curso foi causa de extinção do segundo, pode ter dado azo à prolação de sentença que não resolveu o mérito. Então, diz a lei, pode ser movida a terceira ação. O mesmo não ocorre, todavia, se aquela litispendência se tiver transformado em coisa julgada (sentença de mérito). (WAMBIER, 2015, p. 568-569)
No entanto, quando ocorrer a extinção do processo por perempção, o autor não poderá repropor a demanda. O artigo 386, § 3º, CPC, traz o conceito de perempção: “se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono da causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito”.
WAMBIER (2015, p. 569) ensina que existe diferença entre nova ação idêntica e nova ação com o mesmo objetivo, sendo que esta última poderia ser reproposta após a ocorrência da perempção:
“Não se aplica o preceito se, na verdade, de ‘nova ação’ se tratar. A mesma imperfeição técnica não tem lugar, todavia, no caput do art. 483, em que se faz menção à possibilidade de que se ‘intente de novo a ação’. Realmente, para que haja perempção, é necessário que o processo se extinga sem resolução de mérito, por três vezes, pelo fato de o autor ter abandonado o processo, por mais de trinta dias, por não ter promovido as diligências que lhe competiam, para que a mesma ação não possa ser intentada “de novo”, e não para que não se possa intentar nova ação com o mesmo objetivo. Dizer-se que vai intentar nova ação com o mesmo objetivo não equivale a intentar uma ação idêntica à anterior (a mesma ação), pois pode haver causas de pedir diferentes, alterando-se, assim, a identidade da ação, identidade essa a que se chega pelos critérios partes, causae petendi e petitum ou objeto do pedido, como já se disse.”
Assista aí
3.2 Decisões que examinam o mérito
O artigo 487, CPC, traz a hipóteses em que o juiz profere decisão apreciando o mérito da demanda, o bem da vida tutelado, quando a parte renunciar ao seu direito ou quando as partes transigirem:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;
III - homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.
Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1º do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se.
MARINONI define o julgamento de mérito da seguinte forma:
Apresenta-se o mérito como tema central do processo civil, de modo a ser enfrentado pela sentença definitiva, mediante a qual o órgão jurisdicional responde ao pedido deduzido pelo autor.
Haverá, pois, “julgamento de mérito” toda vez que, ultrapassado o exame das questões formais, o processo estiver escorreito para receber decisão sobre o objeto da controvérsia submetida à cognição do órgão jurisdicional. (MARINONI, 2016, p. 157)
A sentença de mérito põe fim ao litígio, resolvendo a questão em favor de uma das partes. Tanto é que o artigo 488 preceitua que, “desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485”.
Eis o que leciona MARINONI sobre o tema:
A regra do art. 488, inspirada no valioso princípio de que não há nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans grief) e conectada com os arts. 277 e 283, parágrafo único, do CPC/2015, enquadra-se no ideário instrumentalista na perspectiva de que o processo tem por precípuo escopo o julgamento de mérito.
Como já observado, ao ensejo da exegese do art. 485, a atividade saneadora do juiz é permanente. Assim, antes mesmo de se preocupar com o julgamento de mérito, é necessário examinar se coexistem os pressupostos processuais e as chamadas condições da ação. Todo cuidado é pouco, uma vez que a ausência de um desses requisitos constitui óbice intransponível à resposta estatal alvitrada pelas partes.
Reconhecendo o acerto do legislador quanto à precisão do dispositivoora enfocado, assevera José Roberto dos Santos Bedaque que a sua interpretação extensiva “revela-se perfeitamente adequada e pode estender seu alcance a todas as hipóteses em que algum defeito processual não identificado no momento oportuno, seja ignorado, possibilitando o tão desejado pronunciamento sobre o mérito”. (MARINONI, 2016, p. 178)
4.0 SUSPENSÃO DO PROCESSO: ANÁLISE DAS HIPÓTESES LEGAIS
A suspensão do processo está prevista nos artigos 313 a 315, CPC. Apesar de o artigo 313, CPC, trazer um rol taxativo, alguns itens permitem uma ampliação dos motivos que ensejariam tal ampliação, como por exemplo por convenção das partes.
Deve-se ter em mente que a suspensão do processo é ato de extrema necessidade, sendo uma exceção. Nessa linha, WAMBIER assim se manifesta:
A suspensão do processo é, a rigor e como regra, uma situação absolutamente indesejada.
O que o autor quer, quando propõe a ação, é que o curso do processo, pelo procedimento que ao tipo de questão seja destinado pela lei, não sofra interrupções ou crises, mas que caminhe em direção ao alcance de sua finalidade, que é a sentença de mérito.
Ainda que se trate de situação temporária, como efetivamente o é, na qual atos processuais ordinários não são praticados, é algo que, em regra, foge aos padrões de normalidade convenientes para o processo. Dissemos que apenas atos ordinários não são praticados porque, excepcionalmente, poderá ocorrer a prática de atos processuais tidos por urgentes, nos termos do que dispõe o art. 314. (WAMBIER, 2015, p. 430)
As situações expressamente previstas são:
Art. 313. Suspende-se o processo:
I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador;
II - pela convenção das partes;
III - pela arguição de impedimento ou de suspeição;
IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas;
V - quando a sentença de mérito:
a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente;
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo;
VI - por motivo de força maior;
VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo;
VIII - nos demais casos que este Código regula.
IX - pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advogada responsável pelo processo constituir a única patrona da causa;
X - quando o advogado responsável pelo processo constituir o único patrono da causa e tornar-se pai.
Salvo as previsões específicas, o CPC não determina por quanto tempo o processo deverá ser suspenso, mas em algumas situações o tempo de suspensão está relacionado à causa que a originou. Por exemplo, se o processo depender de outra demanda que pende de julgamento, o primeiro processo somente será retomado quanto houver o julgamento pendente.
Assim, em situações em que não se é possível determinar o prazo de suspensão, o juiz poderá colocar uma condição de termo, como por exemplo: “até a realização do evento X”. Nos demais casos, o juiz pode indicar um prazo e, se houver necessidade, pode prorrogar tal prazo.
Porém, há casos em que a suspensão não pode perdurar de forma indiscriminada, como no caso da perda da capacidade processual e falecimento de uma das partes ou dos patronos. Nesses casos, há expressa previsão legal de duração da suspensão.
Ainda, o artigo 313, § 4º, CPC, determina que em hipóteses excepcionais, a suspensão não pode ser superior a 1 ano e 6 meses.
Com exceção dos atos urgentes e que envolvam perecimento de direito, nenhum ato processual pode ser praticado enquanto perdurar a suspensão do processo (art. 314, CPC).
Assista aí
5.0 PROVAS: TEORIA GERAL E DIREITO PROBATÓRIO
Prova é o meio utilizado para formar o convencimento do juiz a respeito de fatos controvertidos que tenham relevância ao processo. É um direito fundamental das partes, que emana do princípio do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, CF) e no decorrente direito que estas possuem de influir no convencimento do juiz.
5.1 Noções Gerais
DIDIER JR propõe o conceito de provas em dois sentidos:
• Objetivo - como o instrumento ou o meio hábil, para demonstrar a existência de um fato (as testemunhas, os documentos, entre outros).
• Subjetivo - é “a certeza (estado psíquico) originada quanto ao fato, em virtude da produção do instrumento probatório. Aparece a prova, assim, como convicção formada no espírito do julgador em torno do fato demonstrado”. (DIDIER JR, 2015, p. 592)
DIDIER JR vai além, concebendo a prova como direito fundamental decorrente do próprio contraditório, uma vez que a dimensão substancial do contraditório é a possibilidade de influenciar a convicção e a decisão do Juiz. Os meios utilizados para este propósito também são as provas, portanto compõem de forma inevitável o princípio do contraditório, pois garantem a sua dimensão material.
5.2 Princípios
Três princípios se destacam sobre o tema:
· A.
· B.
· C.
5.3 Momento da produção das provas
A fase de produção de provas tem início após o despacho saneador e termina na audiência, no momento em que o juiz declara encerrada a instrução e abre o debate oral (art. 364, CPC).
São três os momentos da prova:
· 
· 
· 
5.4 Fontes
Nos termos do artigo 369 do CPC: “As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”.
Dessa forma, as provas são os elementos trazidos ao processo para orientar o juiz na busca da verdade, devendo ser obtidos por vias lícitas, sob pena de serem desentranhados dos autos e, portanto, não considerados em julgamento.
O código elenca alguns tipos de provas:
a) Ata Notarial – Art. 384
b) Depoimento pessoal – Arts. 385 a 388
c) Confissão – Arts. 389 a 395
d) Exibição de documento ou coisa – Arts. 396 a 404
e) Prova documental – Arts. 405 a 438
f) Dos documentos eletrônicos – Arts. 439 a 441 – inovação do novo CPC
g) Prova testemunhal – Arts. 442 a 463
h) Prova Pericial – Arts. 464 a 480
i) Inspeção Judicial – Arts. 481 a 484
O Enunciado 636, do Fórum Permanente de Processualistas Civil, traz opções de provas não previstas no Código de Processo Civil, mas que são aceitas em juízo.
“Enunciado 636 - (artigos. 369, 439 440 e 584, todos do CPC) As conversas registradas por aplicativo de mensagens instantâneas e redes sociais podem ser admitidas no processo como prova, independentemente de ata notarial.”
5.5 Espécies de provas
Depoimento Pessoal
O depoimento da parte pode ser requerido pela parte adversa, e tem como objetivo extrair uma confissão.
De acordo com MARINONI (2016, p. 30-31):
Quanto ao depoimento da parte, deve-se de início observar que ele não se confunde com o interrogatório livre. Com efeito, o interrogatório livre é disciplinado pelo art. 139, VIII, CPC, embora o art. 385, em sua parte final, também trate dessa figura. Por meio do interrogatório livre, admite-se que o magistrado, de ofício, determine a oitiva das partes, em qualquer momento do processo, e por quantas vezes forem necessárias, para esclarecer os fatos da causa. Desse modo, o interrogatório livre tem por objetivo o esclarecimento do juiz, razão pela qual pode ser determinado de ofício pelo magistrado, em qualquer fase do processo, podendo ocorrer mais de uma vez.
Já o depoimento da parte, regido a partir do art. 385 do CPC, tem outra finalidade: destina-se a induzir o depoente à confissão. Por isso, esse depoimento só será tomado a requerimento da parte adversária, não podendo ser requerida pelo próprio depoente, nem pelo juiz. Mais que isso, há um momento específico para que essas declarações sejam tomadas (na audiência de instrução e julgamento, conforme prescreve o art. 361, II, CPC) havendo preclusão sobre a colheita dessa fonte de prova.
São, portanto,institutos absolutamente distintos o depoimento da parte e o interrogatório livre.
Confissão
Diferentemente do depoimento pessoal, na confissão há o interesse da parte em admitir a verdade, em interesse contrário ao seu e favorável à parte.
Sobre a confissão, destaca-se ensinamento de MARINONI (2016, p. 40):
Por meio da confissão, o depoente afirma ser verdadeiro um fato, contrário a seu interesse e favorável ao interesse da parte adversária. É certo que, para a eficácia desta declaração, não é indispensável que a parte tenha efetivamente a intenção de descortinar a verdade, ou ainda que aja com interesse lídimo de manter sua conceituação (como pessoa íntegra e proba); também não se cogita de hipótese em que a parte tenha por objetivo favorecer o adversário. Basta, para a validade da confissão, que esta seja produzida de vontade livre e consciente (sob pena de, em não o sendo, faltar ao ato jurídico um dos seus requisitos essenciais: a vinculação da esfera jurídica por vontade própria), pena de ser inválida, porque realizada mediante erro, “dolo” ou coação, como se verá adiante.
Prova documental
Configura-se como prova documental todo documento pré-existente ao processo. Em outras palavras, quando da instauração do processo, tal documento já existia.
A prova documental não necessariamente implica em um documento escrito, podendo ser uma foto, um objeto, etc. Ainda, nem tudo o que for escrito é prova documental, como por exemplo o laudo pericial.
Nesse sentido, MARINONI assim esclarece:
Segundo Comoglio, Ferri e Taruffo, “à categoria das provas documentais se reduzem em geral todas as coisas que aparecem idôneas a documentar um fato, ou seja, a narrá-lo, a representá-lo ou a reproduzi-lo”. Conquanto genérica, a definição presta-se bem para demonstrar a impossibilidade de assimilação de prova documental por prova escrita. As figuras não se confundem, sendo possível haver prova documental não escrita (fotografia, por exemplo), bem assim prova escrita não documental (v.g. o laudo pericial).
A representação aludida, portanto, não se resume à mera escrituração de declarações. Ao contrário, abrange o registro de sons, imagens, estados de fato, ações e comportamentos, além dos “documentos criados através das tecnologias modernas da informação e das comunicações, como os dados inseridos na memória do computador ou transmitidas através de uma rede de informática, e em geral os assim ditos documentos informáticos” (documenti informatici no original). (MARINONI, 2016, p. 45)
Ata notarial
A ata notarial consiste na redução a termo, pelo tabelião, de informação que não estava documentada.
Acerca da ata notarial, diz MARINONI (2016, p. 28):
A ata notarial, apesar de seu tratamento apartado, constitui documento público, de autoria de um notário, de modo que seu valor probante é aquele estipulado pelo art. 405. Assim, a ata notarial faz prova não apenas de sua existência, mas ainda dos fatos que o notário atestar que ocorreram em sua presença ou que foram por ele verificados. Em última análise, trata-se de maneira peculiar de criação de documento público, cuja finalidade é, especificamente, servir de meio de prova.
Ademais, por se tratar de documento público, a ata notarial rege-se por toda a disciplina dada pelo código a essa categoria de documentos.
Assim, por se tratar de documento público, os limites ao valor da ata notarial são os mesmos aplicáveis a qualquer outro documento público. Por exemplo, não pode, obviamente, o notário elaborar ata notarial quando impedido (art. 27, da Lei 8.935/1994) ou quando incompetente (art. 407). Em tais casos, bem como quando não for observada formalidade essencial para a elaboração de ata notarial, o valor probante do ato praticado será o mesmo de qualquer documento particular, nos exatos termos do que prescreve o art. 407.
Exibição de documento ou coisa
O CPC, no artigo 396, disciplina a exibição de documento ou coisa: “o juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder”.
MARINONI traz observações especiais sobre o tema:
Na presente seção, o Código regula “meio de prova” intermediário entre aqueles que têm origem na parte e em terceiro. Trata-se aqui da situação em que a prova de certo fato depende da apresentação, em juízo, de algum documento ou de coisa, que se sabe estar em posse da parte contrária ou mesmo de terceiro. Como bem pondera Redenti, ao tratar da exibição, a legislação não se preocupa, propriamente, com um meio de prova, mas sim com uma tramitação processual, que se presta para oferecer ao magistrado o meio de prova propriamente dito (o documento ou a coisa, para inspeção). (MARINONI, 2016, p. 50)
Prova testemunhal
 A prova testemunhal consiste na oitiva de pessoas, não relacionadas à lide, acerca dos fatos em litígio.
MARINONI (2016, p. 85) leciona:
Por meio da prova testemunhal obtém-se, através das declarações de alguém estranho à relação processual, determinada versão de como se passaram certos fatos importantes para a definição do litígio. As testemunhas são sempre pessoas que não se confundem com os sujeitos principais do processo. Assim, não podem ostentar essa condição aqueles que, no processo, assumem a função de parte (como seria o caso do chamado ao processo, do opoente, do denunciado da lide e do assistente litisconsorcial). O assistente simples poderia, em tese, ser testemunha, não fosse sua vinculação à causa, que determina sua suspeição (art. 447, § 3.º, II, do CPC).
Prova pericial
A prova pericial é necessária para situações em que a análise do caso dependa de conhecimento técnico específico, como prova contábil, prova de engenharia, etc.
Eis o que nos ensina MARINONI (2016, p. 101):
A prova pericial advém da necessidade de se demonstrar no processo fato que dependa de conhecimento especial que esteja além dos saberes que podem ser exigidos do homem e do juiz de cultura média. Não importa que o magistrado que está tratando da causa, em virtude de capacitação técnica individual e específica (porque é, por exemplo, formado em engenharia civil), tenha qualificação para analisar a situação concreta. Se a capacitação requerida por essa situação não estiver dentro dos parâmetros daquilo que se pode esperar de um juiz, não há como dispensar a prova pericial, ou seja, a elucidação do fato por prova em que participe um perito – nomeado pelo juiz – e em que possam atuar assistentes técnicos indicados pelas partes, a qual deve resultar em laudo técnico-pericial que, por essas, poderá ser discutido. O fato que requer conhecimento técnico não interessa apenas ao juiz, mas fundamentalmente às partes, que têm o direito de discuti-lo de forma adequada mediante, se for o caso, a indicação de assistentes técnicos. Em poucas palavras: a legitimidade do resultado da prova pericial requer que as partes tenham tido a devida possibilidade de participar em contraditório da sua formação.
Inspeção judicial
A inspeção judicial será determinada pelo juiz, sendo requerida pela parte somente com justificativa devidamente fundamentada.
Importa na realização de diligência até o local, coisa ou pessoa a ser inspecionado, de forma a compor o livre convencimento do magistrado.
Eis o que leciona MARINONI sobre o tema:
A inspeção judicial, segundo o art. 481, pode incidir sobre pessoas ou coisas. Se o caso recomendar – e isso não for prejudicial às partes em termos de despesas e de tempo – o juiz deve ir ao local em que está a pessoa ou a coisa para realizar a inspeção. Em outra hipótese, o juiz pode determinar a apresentação da pessoa ou coisa na sede do juízo ou em local que for mais oportuno. (MARINONI, 2016, p. 137)
É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· estudar diversos atos que podem ser praticados antes mesmo do julgamento final de mérito pelo juiz, e que impedem que o processo transcorra inválido, ou que dure mais tempo do que o necessário, verificando que o CPC prima pela necessidade de se privilegiar a eficiência.
· ver que o juiz pode julgar liminarmente o pedido, para declarar manifesta improcedência dopleito autoral, julgando o mérito antes mesmo de proceder à citação do réu.
· entender que, caso a demanda supere a análise preliminar, e após a resposta do réu, o magistrado tem o dever de promover as chamadas providências preliminares, instaurando a fase de saneamento do processo com a finalidade de, mais uma vez, verificar se há algum impedimento para o transcurso válido do processo.
· saber que, nesse momento, o juiz poderá também julgar parcialmente ao mérito quanto a pedidos que prescindam da produção de provas e mostrem-se, portanto, incontroversos.
· compreender que, verificados pressupostos que impeçam o seguimento do processo, o juiz deverá extinguir o processo analisando ou não o mérito.
· compreender, por fim, que após o seguimento válido do processo, os meios e procedimento de produção de provas que demonstrarão os fatos alegados possibilitarão a formação do convencimento do juiz para que seja proferida a decisão final de mérito, tema que estudaremos na próxima unidade.
REFERÊNCIAS
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria do processo e processo de conhecimento. 17. ed. rev., atual. e ampl. –São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017.
BUENO, Cassio Scarpinella (coordenador). Comentários ao código de processo civil – volume 2. São Paulo: Saraiva, 2017.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Presidência da República, Secretaria Geral, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. Ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. v.1.
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DOLLORE, Luiz; ROQUE, André Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar Duarte. Processo de conhecimento e cumprimento de sentença: comentários ao CPC de 2015. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016.
MARINONI, Luiz Guilherme Marinoni. Curso De Processo Civil - Vol. 1 - 4ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais 2019.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros comentários ao novo Código de processo civil: artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

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