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1.0 Formação do processo e petição inicial
Neste tópico, abordaremos o ato inicial de instauração do processo representado pelo protocolo da petição inicial. Trata-se da peça de ingresso que expõe do que se trata a demanda sobre a qual versará o processo. É a petição que fundamenta juridicamente o direito pleiteado e expõe qual o direito que a parte pretende que seja satisfeito com aquela demanda. No Código de Processo Civil (CPC), Lei nº 13.105/2015, a formação do processo é tratada no artigo 312, enquanto a petição inicial é tratada nos artigos 319 a 331.
1.1 Petição inicial e demanda
O processo é, sinteticamente, um conjunto de normas aplicáveis a procedimentos judiciais. Estas normas têm o objetivo de dirimir conflitos gerados no âmbito de uma relação jurídica entre sujeitos.
O processo se inicia com o protocolo da petição inicial, que representa a propositura da demanda naquela data específica, conforme artigo 312 do CPC, que diz: “Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada. Todavia, a propositura da ação só produz os efeitos mencionados quanto ao réu no art. 240 depois que for validamente citado”.
A propositura da demanda inaugura uma série de atos processuais que se seguirão, formando a relação processual entre as partes do processo, bem como entre estas e aquela jurisdição.
Assista aí
A petição inicial não se confunde com a demanda, mas é a forma pela qual a demanda se materializa no mundo jurídico, como se a petição inicial fosse um recipiente e a demanda o líquido que o preenche.
A partir da propositura da ação, o processo passa a produzir efeitos para o autor, gerando litispendência. No entanto, ele só passa a produzir efeitos para o réu a partir da citação.
A propositura da demanda induz litispendência e torna litigiosa a coisa em relação ao autor, enquanto que os efeitos do artigo 240 do CPC, que incluem também a constituição de mora do devedor, apenas fazem efeito em relação ao réu depois da citação válida.
Desses efeitos é muito importante destacar a litispendência, que é o efeito verificado quando se repete ou reproduz uma ação que esteja em curso ou que foi anteriormente ajuizada. Nesse caso, nos termos do § 2º do artigo 337 do CPC, consideram-se idênticas as ações que possuírem mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido. Sendo assim, ao inaugurar uma demanda judicialmente, é importante verificar se a ação idêntica está – ou já esteve – em curso, uma vez que a propositura da demanda é o momento em que se verifica se há litispendência ou não.
Nos dizeres de Fredie Didier Jr. (2015, p. 548):
A demanda é o conteúdo da petição inicial. Forma é o meio pelo qual a vontade se expressa, se exterioriza. Ao tempo em que serve para exteriorizar a vontade, a forma serve de prova para o ato jurídico. Para maior segurança, a lei às vezes impõe que determinados atos jurídicos se revistam de determinada forma. A demanda é deles. O estudo dos requisitos da petição inicial (...) não passa de estudo dos requisitos formais do ato jurídico demanda. Como a demanda tem a função de bitolar a atividade jurisdicional [...] costuma-se dizer que a petição inicial é um projeto de sentença: contém aquilo que o demandante almeja ser o conteúdo da decisão que vier a acolher seu pedido.
Desse modo verifica-se que a demanda expressa por meio da petição inicial é a delimitação daquilo que poderá ser objeto da tutela jurisdicional. Desta forma, a decisão proferida futuramente só poderá alcançar os limites daquele direito que foi contemplado na petição inicial, sem poder aumentar ou reduzir o seu alcance.
1.2 Requisitos da petição inicial
Conforme dito, a petição inicial é a forma que a demanda toma, o que significa que o conteúdo deve ser expresso conforme determinados requisitos para que seja considerado juridicamente válido.
Tais requisitos encontram-se expressos nos artigos 319 a 321 do CPC e indicam as informações básicas que a petição inicial deve conter, bem como as medidas tomadas pelo autor ou pelo magistrado caso não se verifique o cumprimento de tais regras. É importante ressaltar que a petição deve ser apresentada de forma escrita, com sua autoria identificada e data de assinatura, sendo a postulação oral medida de exceção prevista em legislação específica.
Conforme o artigo 319, são pressupostos básicos da petição inicial: 
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O juízo a que a petição é dirigida é o foro identificado como competente para julgar aquela demanda, e deve ser indicado no cabeçalho da petição inicial designando-se a unidade territorial (comarca ou seção judiciária), bem como a qualidade do magistrado que receberá originariamente a demanda. Como exemplo: Exmo. Sr. Juiz de Direito da __ Vara da Fazenda Pública da Comarca de Florianópolis/SC; ou Exmo. Sr. Juiz Federal da Vara Cível da Seção Judiciária de São Paulo/SP. 
As regras para determinar qual foro é o competente para julgar determinada demanda estão insculpidas nos artigos 42 a 66 do CPC, e estabelecem qual juízo poderá julgar aquela demanda específica em razão do território, da matéria a ser julgada, da qualidade das partes envolvidas no processo ou do valor da causa.
A qualificação das partes é o simples preenchimento das informações pessoais das partes, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas.
Conforme o § 1º do artigo 319 do CPC, caso o autor não possua tais informações, poderá requerer ao juiz as diligências judiciais necessárias para a obtenção dos dados do réu. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o réu tem moradia incerta ou seu nome é desconhecido.
Como tratado acima, o objetivo da qualificação das partes é a adequada citação do réu de modo que, conforme o § 2º do artigo 319 CPC, mesmo que alguma das informações não esteja presente, a petição inicial não será indeferida caso as informações ali contidas sejam suficientes para o sucesso na citação do réu.
A terceira exceção é aquela prevista no § 3º do artigo 319 do CPC, a qual determina que a inicial será aceita, mesmo sem os dados necessários, quando a obtenção das informações se tornar impossível ou excessivamente custosa. Um exemplo para esse caso é quando o réu é indeterminado ou numeroso, como nos casos de ocupação irregular de uma aglomeração de pessoas, em ações possessórias, em que pode ser impossível para o autor precisar quantas e quais pessoas deveriam compor o polo passivo da ação.
O fato e os fundamentos jurídicos são também conhecidos como causa de pedir. Conforme define Didier (2015, p. 551),
A causa de pedir é o fato ou o conjunto de fatos jurídicos (fato(s) da vida judicializado(s) pela incidência da hipótese normativa) e a relação jurídica, efeito daquele fato jurídico, trazidos pelo demandante como fundamento do seu pedido.[...] Tem, assim, o autor de, em sua petição inicial, expor todo o quadro fático necessário à obtenção do efeito jurídico perseguido, bem como demonstrar como os fatos narrados autorizam a produção desse mesmo efeito (deverá o autor demonstrar a incidência da hipótese normativa no suporte fático concreto).
Isso significa que o autor deverá narrar o fato e descrever qual a consequência jurídica dele que gerou o direito que se está postulando por meio da demanda, ou seja: qual fato e qual a relação jurídica consequente. 
Desse modo não poderá haver demanda genérica, mas apenas uma demanda que se amolde a uma situação, ou a uma pluralidade de situações concretas fáticas vividas pelo autor de modo concreto e individualizado. Situação essa que produziu efeitos no mundo jurídico e que gerou o litígio objeto da proposição judicial. Importante destacar que todo os fatos alegados deverão ser passíveis de prova, seja já constituída na petição inicial por meio de documentos, ou por meio de outras provas admitidas que serão produzidas ao longo do processo como oitiva de testemunhas ou perícia técnica.
É interessante citar a reprodução de esquema gráfico elaborado por Didier (2015, p. 554), por meio da qual são descritas as etapas que levarão à formação da causa de pedir, que culminará no pedido:
Clique para abrir a imagem no tamanhooriginal
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.
#PraCegoVer: Tabela com organograma: o primeiro quadrado possui a palavra "Incidência". Dele sai uma seta que passa por dois quadrados um ao lado do outro: "Fato ou conjunto de fatos" e "Hipótese normativa". A seta passa por eles e chega ao quadrado com o dizer: "Fato jurídico (causa de pedir)". Deste, uma seta liga ao quadrado com "Relação jurídica substancial deduzida", do qual saem duas setas. A da esquerda vai até o quadrado "Situação jurídica passiva (dever jurídico legal, obrigação, etc.). A seta da direita vai para o quadrado "Situação jurídica ativa (direitos subjetivos, interesses juridicamente tutelados etc.). Destes dois quadrados da esquerda e direita, saem setas que se unem e vão ao final, que indica "Pedido (efeito jurídico pretendido)".
Seguindo os requisitos da petição inicial, após delineada a causa de pedir, conforme descrito acima, é necessário que se realize o pedido que é a delimitação do que se quer por fim.
Ainda, conforme os artigos 291 a 293 do CPC, é necessário que se indique o valor da causa em número certo e expresso em moeda nacional, o qual deverá exprimir o real proveito econômico envolvido em discussão, ou evidenciar tal impossibilidade caso não haja conteúdo econômico imediatamente aferível, conforme parâmetros estimativos previstos no artigo 292 do CPC. O valor da causa será importante fator para o cálculo de despesas judiciais e honorários sucumbenciais, motivo pelo qual se faz importante que seja preciso, podendo inclusive ser impugnado pelo réu em preliminar de contestação, conforme artigo 293 do CPC.
O inciso V do artigo 292 determina que, na ação indenizatória, o valor da causa corresponderá ao valor pretendido. Isso não significa, contudo, que o autor da causa não possa fazer pedido genérico, requerendo que o juiz arbitre o valor da indenização. Conforme entendimento do STJ (REsp 693.172/MG, 12/9/2005 e REsp 1321219 de 04/05/2017) o pedido de indenização pode ser genérico. Apenas quando o valor pretendido for expressamente indicado pelo autor, ele deverá ser idêntico e vinculado ao valor da causa.
O próximo requisito trata da indicação das provas que se pretende produzir. Entretanto, essa não é a indicação definitiva das provas que serão de fato produzidas no processo, tendo em vista que o juiz pode determinar a produção de provas nos termos do artigo 370 do CPC. Desta forma, é na fase de saneamento do processo que as partes serão intimadas a indicar as provas que pretendem produzir.
Por fim, a petição inicial deverá conter a opção por realizar ou não a audiência de conciliação ou mediação. Sendo facultativa, ela ocorrerá caso o autor assim opte, antes da oportunidade de defesa por parte do réu, com o objetivo oportunizar que o litígio se finalize em uma composição amigável. Caso o autor não indique sua vontade, ela será presumida e o juiz agendará a audiência, independentemente de emenda à inicial.
Além dos requisitos inerentes ao conteúdo da petição inicial, o artigo 320 do CPC determina que esta deverá ser instruída com os seguintes documentos indispensáveis à propositura da ação: os documentos que comprovam a qualificação da parte autora, conforme indicado na inicial; a procuração que outorga poderes ao advogado do autor (art. 287 do CPC), que a lei expressamente exige; e documentos que sejam aptos a provar o direito, já que o momento para produção de prova documental é, em regra, no momento da propositura.
A produção documental deve provar, quando suficiente, todos os fatos alegados, já que o ônus de provar o que alega, em regra, é do autor da demanda. 
Entretanto, é importante observar que a petição inicial não é o único momento de produção de prova no processo, já que é possível ao autor: (i) produção de prova documental posterior, após a fase de saneamento do processo; (ii) requerer que o juiz diligencie para a obtenção de documentos necessários a provar o direito; e (iii) requisitar que o réu exiba documentos dos quais tem posse, e que são necessários ao deslinde da demanda.
1.3 Emenda da petição inicial
Vimos, portanto, o que uma petição inicial deve conter para que seja deferida pelo juiz e para que se dê prosseguimento à demanda. Entretanto, pode acontecer de algum dos requisitos formais não ser observado pela parte autora, mas se tratar de algo que possa ser corrigido ou sanado, não justificando que o juiz cancele todo o processo por este motivo, já que ele pode ser consertado pelo autor.
Diante de tal situação, o artigo 321 do CPC determina que quando o juiz verificar que algum dos requisitos dos artigos 319 e 320 está faltando ou apresenta irregularidades capazes de prejudicar o julgamento futuro da demanda, deverá determinar que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, emende ou complete a petição.
Neste caso, o juiz deverá indicar e descrever de modo pormenorizado qual requisito entende estar omisso ou incompleto na petição inicial, demonstrando objetivamente ao autor o que deve ser corrigido para que a petição seja deferida.
Emendar a inicial é, portanto, corrigir um vício apontado pelo juiz como essencial para a solução da lide. Essa determinação pode ser feita quantas vezes o juiz entender necessário, sempre que entender que o defeito é sanável, com o objetivo de evitar que o processo se perca em razão de requisitos formais, os quais são importantes para o processo mas não podem prejudicar a solução de conflitos.
Caso o autor não cumpra a diligência requerida pelo juiz, a petição inicial será indeferida, conforme prescreve o parágrafo único do artigo 321 do CPC.
1.4 Indeferimento da petição inicial: considerações gerais e hipóteses
Conforme já tratado, a petição inicial deve obedecer a uma determinada forma. A demanda deve possuir pertinência e determinados documentos deverão compor a petição. Caso não sejam cumpridas tais premissas, a petição inicial será indeferida, conforme autoriza o artigo 321 do CPC, impedindo de modo liminar o prosseguimento da causa, antes que o réu seja ouvido. O momento do indeferimento da inicial é muito importante, pois mata a causa antes mesmo que ela exista e produza efeitos no mundo jurídico. Após a praticar outros atos processuais, como a citação do réu, já não é mais possível que se indefira a inicial, pois a demanda já terá iniciado a produção de efeitos no mundo jurídico.
Isso não significa que o juiz não possa extinguir posteriormente o processo por outros motivos processuais verificados após o prosseguimento válido do feito (conforme art. 485 do CPC). Significa apenas que esse é o único momento que o feito poderá ter fim com fundamento no indeferimento da petição inicial.
Conforme lição de Didier (2015, p. 558):
É o indeferimento [da petição inicial] uma hipótese especial de extinção do processo por falta de um “pressuposto processual”. A petição inicial válida é um requisito processual de validade, que, se não preenchido, implica extinção do processo sem exame do mérito. Se o defeito se revelar macroscopicamente, é o caso de indeferimento; se o magistrado tiver ouvido o réu para acolher a alegação de invalidade, não é mais o caso de indeferimento, mas sim de extinção com base no art. 485, IV do CPC. A distinção é importante, pois o regramento do art. 331 do CPC somente se aplica à decisão que indefira a petição inicial, bem como, sendo liminar a sentença, não se condenará o autor ao pagamento de honorários advocatícios em favor do réu ainda não citado.
Ou seja, é justamente pelo fato de a petição inicial não produzir qualquer efeito jurídico em relação a qualquer pessoa que ela pode ser indeferida sem quaisquer ônus à parte autora, como se o processo não houvesse sido iniciado para o mundo jurídico. Isso não acontece quando outros atos processuais são praticados, o que envolve o réu na demanda e passa a produzir efeitos, gerando consequências processuais, como é o caso do pagamento de honorários advocatícios conforme exemplo supracitado pelo doutrinador.
Observe-se que o indeferimento da inicial não resolve o mérito, possibilitando que a demanda seja novamenteproposta caso corrigidos os vícios que motivaram o indeferimento, quando possível. A decisão que indefere a petição inicial apenas declara que aquela demanda, do modo como foi apresentada, não poderá nem mesmo ser apreciada pelo juízo, tendo em vista o fato jurídico que impede o prosseguimento do feito.
Outro efeito do modo de indeferimento da petição inicial é o recurso cabível diante da decisão proferida. Quando a demanda versar sobre diversas causas de pedir, o indeferimento da inicial pode ser parcial, ou seja, em relação a apenas parte da pretensão jurídica, seguindo o feito em relação à parte que o juiz entende como apta de prosseguimento, cabendo agravo (nos termos do art. 1015 do CPC) face à decisão, que será interlocutória. Quando se tratar de uma causa de pedir indivisível, o indeferimento da inicial implicará na prolação de uma sentença que extinguirá o feito sem resolução de mérito, contra a qual poderá ser interposto o recurso de apelação.
Caso a decisão seja proferida em tribunal, monocraticamente ou em instância colegiada, a decisão também terá características diferentes, cabendo outros recursos.
Conforme lição de Didier (2015, p. 560):
Com base nisso, pode-se estabelecer o sistema recursal da decisão que indefere a petição inicial:
a) se se tratar de um indeferimento parcial feito por juízo singular (decisão interlocutória), o recurso cabível é o agravo de instrumento (art. 354, par. Ún, CPC;);
b) se se tratar de indeferimento total do feito por juízo singular, será apelação;
c) contra indeferimento total ou parcial feito por decisão do relator, caberá agravo interno;
d) contra indeferimento total ou parcial feito por acórdão, caberão, conforme o caso, recurso ordinário constitucional, recurso especial ou recurso extraordinário.
As hipóteses de indeferimento da petição inicial estão contidas no artigo 330 do CPC, e seus efeitos no artigo 331 do CPC.
Conforme o Código de Processo Civil a petição inicial será indeferida quando: (i) for inepta; (ii) a parte for manifestamente ilegítima; (iii) o autor carecer de interesse processual; (iv) não forem atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.
O Artigo 331 trata dos efeitos jurídicos do indeferimento da petição inicial que são: (i) o cabimento do recurso de apelação; (ii) a possibilidade de que o juiz se retrate no prazo de 5 (cinco) dias contados da apelação. O réu deverá ser citado para responder à apelação, caso não haja retratação por parte do juiz, ou intimado do trânsito em julgado quando não houver interposição de apelação.
Caso, em sede de recurso, o tribunal reforme a decisão, o novo prazo para contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos à primeira instância.
Para a compreensão das hipóteses elencadas no artigo 330 é necessário o entendimento de determinados conceitos que não se encontram explícitos no texto da lei, exceto pela petição inepta, que é definida no § 1º do citado artigo.
1.5 Inépcia da inicial
Conforme o § 1º do artigo 330 do CPC, a inicial será considerada inepta quando faltar pedido ou causa de pedir; quando apresentar pedido indeterminado não albergado pelas hipóteses legais que permitirem pedido genérico; quando a narração dos fatos não levar logicamente à conclusão ou contiver pedidos incompatíveis entre si.
Observe que os defeitos elencados pelo CPC estão todos ligados a vícios que impedem ou obstaculizam o julgamento do feito, tendo em vista que não é possível que se julgue uma demanda que não explicite o que se pretende, ou que não haja fatos e fundamentos que justifiquem o pedido, ou que formule pedidos que se anulem ou que sejam contraditórios.
A inépcia da inicial decorre da ausência da identificação dos limites e fundamentos da demanda, impossibilitando ao magistrado delimitar a respeito do que, de fato, versa a demanda. Desta forma, torna-se impossível alcançar o mérito da questão, que não pode ser identificado naquela petição inicial inepta. A inépcia é, portanto, uma ausência de possibilidade de identificação e de reconhecimento do que deve ser julgado.
A ausência de pedido ou de causa de pedir impede a delimitação da demanda. O juiz não consegue verificar até onde pode julgar, tendo em vista que diversas informações essenciais estão ausentes ou incompletas, tratando-se de uma demanda obscura.
O pedido e seus requisitos serão melhor abordados no tópico seguinte, mesmo assim é importante destacar que o pedido deverá ser certo e determinado, sendo que o pedido indeterminado, quando a lei não autorizar pedido genérico, é outra das causas de inépcia da inicial. Isso se justifica porque a decisão de mérito oferta uma resposta a um pedido. Se não é possível identificar precisamente qual é o pedido, não é possível também conferir-lhe uma resposta adequada.
A terceira hipótese de inépcia da inicial trata do pedido, abordando a coerência da demanda. Não é possível que a narração dos fatos e fundamentos verse sobre um determinado tema enquanto o pedido seja a respeito de outro. Por exemplo: em uma ação possessória em que se discute a desocupação de determinado imóvel, o pedido não pode versar sobre demarcação de terras. Outro exemplo é quando a demanda versa sobre descumprimento contratual e o autor requer anulação do contrato, enquanto deveria pedir resolução do contrato.
Por fim, também a respeito do pedido, a quarta hipótese legal é a de que, quando há mais de um pedido cumulativamente, estes não podem ser incompatíveis entre si, pois um pedido anula o que é pretendido no outro. É importante lembrar que nesse caso os pedidos são válidos, mas não poderiam estar na mesma petição inicial por se tratar de pedidos contraditórios, o que leva à conclusão de que, nesse caso, é adequado que o juiz intime a parte a optar por um dos dois pedidos e não simplesmente indefira a inicial de plano.
Além das hipóteses dos incisos do artigo 330, o CPC traz outra hipótese de inépcia da inicial em seu § 2º, que elenca requisitos específicos para ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou alienação de bens. Nesse caso, o autor deverá descrever quais das obrigações contratuais está contestando especificamente, além de demonstrar e quantificar qual valor discutido é incontroverso e qual está sendo objeto de discussão. Assim como no caso anterior, trata-se de vício sanável, em que é mais adequado que o juiz intime a parte a completar o pedido do que indefira a inicial. 
O § 3º apenas determina que, nas hipóteses do § 2º, o autor deverá permanecer adimplindo as eventuais parcelas incontroversas, regra de direito material.
Assista aí
1.6 Ilegitimidade da parte
A ilegitimidade da parte, nos termos do inciso II do artigo 330, verifica-se quando o sujeito indicado como parte na petição inicial não é o titular daquela relação jurídica que está sendo discutida na demanda, seja como autor ou como réu.
É o caso, por exemplo, de uma pessoa pleitear em nome próprio o direito de outrem, ou quando indica-se um réu que não praticou nenhuma ação contra o autor, o que acontece muito quando, na existência de grupo econômico de conhecimento notório, indica-se empresa do grupo que não foi exatamente aquela que estabeleceu a relação jurídica com o autor.
Nesse caso, por se tratar de vício sanável, o ideal é que o juiz determine a emenda da petição inicial, intimando o autor para que indique corretamente a parte que compôs a relação jurídica que está sendo discutida.
1.7 Ausência de interesse processual por parte do autor
O interesse processual diz respeito à relação entre o autor da demanda e o objeto da demanda: o bem pretendido. É a definição entre o que está sendo pedido e o direito e necessidade que o autor tem de pedir aquele bem jurídico.
Também diz respeito à relação da parte com o processo. Não há interesse processual, nos termos do inciso III do artigo 330, quando o processo não seria necessário para a obtenção do pedido ou quando o procedimento adotado não é o meio adequado para fazer aquele pedido.
1.8 Não atendimento das prescrições dos artigos 106 e 321
Por fim,o último motivo de indeferimento da petição inicial, previsto no inciso IV do artigo 330, é o descumprimento dos requisitos insculpidos nos artigos 106 e 321 do CPC.
O artigo 106 trata dos requisitos para que advogados postulem em causa própria. No caso, além de observar todos os requisitos dos artigos 319 e 320, o advogado deverá também indicar seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, ou outro endereço para recebimento de intimações. Conforme o § 1º do artigo 116, caso o advogado não cumpra os requisitos do inciso I, deverá ser intimado para completar as informações no prazo de 5 (cinco) dias. 
As prescrições do artigo 321, conforme já tratadas, dizem respeito à possibilidade de que o juiz determine a emenda da inicial de modo que, caso o autor não cumpra as determinações contidas na decisão, a petição inicial deverá ser indeferida.
2.0 Pedido
As regras relativas ao pedido, tais como requisitos, possibilidades, vedações e exceções estão previstas na Seção II, do Capítulo II, Livro I, do CPC, compreendendo os artigos 322 a 329.
Por ser um dos requisitos da petição inicial, conteúdo este apresentado no tópico acima, o pedido deve estar em total consonância com o quanto foi previsto no CPC, sob risco de indeferimento da petição inicial (art. 330, § 1º, incisos I, II e IV, CPC).
2.1 Conceito
O pedido é a pretensão objetivada pelo autor. É o bem jurídico ao qual se busca a proteção, ou seja, é o objeto final da ação e, consequentemente, guia a atuação jurisdicional ao limitar os parâmetros da sentença a ser proferida.
Ainda, é com base no pedido formulado pelo autor que o réu exercerá o seu contraditório.
Nos dizeres de Roque (2016, p. 22-23):
O pedido é um dos elementos da demanda e revela o que o autor veio buscar em juízo. Como visto em comentários ao art. 319, item 7, classifica-se em imediato (espécie de providência jurisdicional postulada) e mediato (bem da vida que o autor pleiteia). A razão de ser do processo é justamente sobre o qual recairá a atividade jurisdicional, acolhendo-o ou rejeitando-o. Sob a perspectiva do réu, será exercido o contraditório tendo por parâmetro especialmente o que foi pedido pelo autor. O pedido, em regra, bitola, a atividade jurisdicional, que não deve ser exercida além de seus limites, pela exigência de congruência entre o pedido e a sentença (arts. 141 e 492). Apesar disso, em determinadas situações, expressamente reguladas em lei, o órgão jurisdicional pode conceder tutela diversa da pedida, de maneira a assegurar a efetividade da prestação jurisdicional (por exemplo, arts. 497, 536 e 537, que se referem à tutela específica ou à obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente ou, ainda, a conversão superveniente em perdas e danos, na forma do art. 499).
O pedido pode ter natureza declaratória, constitutiva/desconstitutiva ou condenatória. O pedido declaratório é aquele em que se pretende o reconhecimento de forma declarada de algo, como por exemplo o pedido para que seja reconhecida a paternidade. O pedido constitutivo/desconstitutivo é aquele que pretende a criação, extinção ou alteração de uma relação jurídica. Como exemplo tem-se a invalidação de uma cláusula contratual. Por sua vez, o pedido condenatório consiste na imputação de uma obrigação, pecuniária ou não, ao réu, como por exemplo o pagamento de alimentos.
Como será abordado em tópico específico, é possível a cumulação de pedidos, inclusive a cumulação de um pedido declaratório com um condenatório. Por exemplo: declaração do reconhecimento da paternidade com a condenação em pagamento de pensão alimentícia.
Existem duas subdivisões do pedido: o pedido mediato e o pedido imediato.
Nos dizeres de Alvim (2017, p. 749):
O pedido imediato (...) é aquele que, desde logo, diretamente se deseja; é o pedido dirigido ao Poder Judiciário, no sentido de que outorgue a tutela jurisdicional especificamente solicitada.
Já o chamado pedido mediato representa o bem jurídico material (bem da vida) subjacente ao pedido imediato. O pedido mediato, portanto, representa o que o autor deseja (interesse do autor), em detrimento do interesse do réu e o imediato “como” o autor deseja. O pedido mediato evidencia o objeto litigioso, ou a lide (terminologia do Código), ou ainda, o mérito.
A título de exemplo, o pedido imediato é a condenação no pagamento de um determinado valor, enquanto que o pedido mediato é o reconhecimento da dívida.
Assista aí
2.2 Requisitos
Os requisitos estão previstos nos artigos 322 e 324 do CPC, que estabelecem que o pedido deve ser certo e determinado.
Por certo, tem-se a ideia de expresso, claro e definido. À exceção das regras previstas no § 1º do artigo 322 do CPC, o ordenamento jurídico não admite pedido implícito (o pedido implícito será estudado no subtópico correspondente). 
Nos dizeres de Roque (2016, p. 23) “tal exigência serve para que o juiz possa delimitar o âmbito de sua atuação”.
Ainda, o pedido deve ser determinado, traduzindo-se em liquidez, qualidade e/ou quantidade. Tal como ocorre com a certeza do pedido, o artigo 324, § 1º, CPC, traz as hipóteses legais em que o pedido pode ser genérico (que será abordado em tópico específico).
O pedido deve estar expresso na petição inicial e definido quanto à quantidade e à qualidade, ou seja, deve ser uma pretensão precisa, porém isso não determina a necessidade de uma expressão econômica definida.
2.3 Cumulação de Pedidos
Como narrado anteriormente, é lícito ao autor cumular os pedidos, desde que eles sejam compatíveis entre si, o juiz da causa seja competente para julgar todos os pedidos formulados, e o procedimento escolhido seja compatível para todos os pedidos formulados. Essa autorização está prevista no artigo 327 do CPC.
Nessa esteira, a compatibilidade entre os pedidos implica necessariamente que eles sejam coexistentes no mundo jurídico, ou seja, que não se excluam nem se anulem (com exceção do pedido alternativo que será analisado mais à frente). Podemos citar como exemplo uma ação revisional de aluguel cumulada com ação de despejo, em que o autor busca a revisão do valor do aluguel e, ao mesmo tempo, quer despejar o inquilino. Neste caso, ou o autor pretende a revisão do aluguel ou o despejo do inquilino: as duas situações juntas não se mostram cabíveis.
Caso os pedidos sejam incompatíveis, o juiz não deve indeferir a petição inicial de plano, mas deve determinar a intimação do autor para que opte por um dos pedidos, em nome da economia processual.
Ainda, o juiz deve ser competente para apreciar todos os pedidos. Isso significa que um pedido de competência estadual não pode ser cumulado com um pedido de competência federal. Ou, ainda, um pedido cível não pode estar junto de um pedido criminal.
No entendimento da súmula 170/STJ quando o juízo for competente apenas para apreciar alguns dos pedidos formulados, ele deverá decidir a causa no limite da sua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de uma nova ação, no juízo competente, para apreciação dos demais pedidos.
Por fim, o fato de um procedimento ser compatível com os pedidos implica em dizer que uma ação de rito especial somente pode conter pedidos pertinentes ao seu rito. Caso o autor busque cumulação de pedidos que possuem ritos incompatíveis, deve optar pela ação de rito ordinário. Por exemplo: uma ação declaratória de paternidade não pode ser cumulada com uma ação de despejo, na qual o autor pretende que seja declarada a paternidade do réu e ao mesmo tempo que este também desocupe um imóvel que pertence ao autor.
Atendidos os requisitos da cumulação de pedidos, cumpre analisar as espécies de cumulação, que são divididas em: simples; sucessiva; subsidiária/eventual; e alternativa.
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Ainda que se mostrem semelhantes, a cumulação subsidiária/eventual diferencia da cumulação alternativa quanto ao direito de recorrer em face do pedido que foi rejeitado.
Na cumulação subsidiária/eventual, como autor apresenta uma preferênciaem relação aos pedidos, caso o principal seja rejeitado, é possível recorrer buscando o deferimento do pedido principal.
Por sua vez, na cumulação alternativa, como ambos os pedidos lhe satisfazem, o autor não pode recorrer buscando o deferimento do pedido que foi rejeitado.
3.0 Espécies de Pedido
A doutrina e a jurisprudência classificam os pedidos em 3 espécies: (i) pedido genérico; (ii) pedido alternativo; e (iii) pedido relativo à obrigação indivisível. Vejamos cada um deles.
3.1 Pedido Genérico
Nos termos do parágrafo 1º do artigo 324 do CPC, a formulação de pedido genérico pode acontecer em 3 hipóteses: 
	(i)
	
	(ii)
	
	(iii)
	
Na primeira hipótese, trata-se da situação em que o autor desconhece a totalidade do bem pretendido, como por exemplo a herança. O autor não tem conhecimento da integralidade do patrimônio, mas tem direito à sua cota da herança. Se tiver conhecimento da integralidade de bens a serem inventariados, deve formular pedido certo.
Na segunda hipótese, o autor desconhece a totalidade das consequências do bem jurídico tutelado, como por exemplo o pagamento de um tratamento. O autor requer que o Estado custeie um determinado tratamento, porém não possui elementos para mensurar quanto tempo este durará, e nem mesmo as providências necessárias para tanto, ou seja, não conhece os detalhes do tratamento nem o seu custo total.
Por fim, na terceira hipótese, a determinação do objeto ou da condenação depende de ato a ser praticado pelo réu. Por exemplo: requerer a condenação do réu nos valores em que recebeu indevidamente por um serviço parcialmente prestado. Será apurado o quanto foi executado do serviço, e o réu deverá devolver ao autor o valor pago a mais.
3.2 Pedido alternativo
Com previsão no artigo 325 do CPC, o pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação a ser cumprida, poderá o devedor cumpri-la de mais de uma forma, ou seja: a obrigação poderá ser extinta de diversas maneiras sem que se altere o resultado.
O parágrafo único do mesmo dispositivo legal traz a possibilidade de o juiz assegurar ao devedor o direito de escolha na forma de cumprimento da obrigação, ainda que não formulado o pedido alternativo pelo credor, quando tratar-se de previsão legal ou contratual.
Importante mencionar que o pedido alternativo não se confunde com a cumulação alternativa. Nos dizeres de Roque (2016, p. 31):
Essa hipótese não se confunde com a prevista no art. 326, parágrafo único, em que o autor formula mais de um pedido para que o juiz acolha um deles, sem estabelecer qualquer preferência (cumulação alternativa de pedidos). Aqui, a origem da alternatividade está no próprio direito material, que admite o adimplemento da obrigação de mais de um modo. É exemplo de pedido alternativo a hipótese do art. 500 do Código Civil, em que se admite que, não sendo possível o complemento da área na venda de imóvel cujo preço foi estipulado por medida de extensão, o comprador exija do vendedor a resolução do contrato ou o abatimento proporcional do preço.
3.3 Pedido relativo à obrigação indivisível
O pedido relativo à obrigação indivisível está expresso no artigo 328, CPC, que assim preceitua: “na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito”.
Nesse tipo de pedido, o credor de parte de um todo pode ajuizar a demanda sozinho, mas somente poderá levantar a parte que lhe couber. Os demais credores que não participaram da demanda podem levantar a sua parte, mesmo não tendo participado do processo, em decorrência da natureza da obrigação.
3.4 Interpretação do Pedido e Pedido Implícito
Além das espécies de pedidos narradas, há situações em que o julgador não deve se ater apenas àquilo que foi expressamente pedido pelo autor, encontrando respaldo legal para essa interpretação ampliativa.
3.5 Interpretação do Pedido
O CPC prevê situações em que, ainda que não esteja expresso no capítulo dos pedidos, há pedidos implícitos que devem ser considerados, além da hipótese de interpretação do pedido.
No antigo Código de Processo Civil, o legislador vedava a interpretação ampliativa do pedido, atendo-se ao pedido de forma restritiva. Em outras palavras, apenas o pedido expresso poderia ser considerado. No atual CPC, o legislador inovou por entender que essa interpretação ampliativa do pedido confere maior efetividade ao processo.
Nessa linha, o artigo 322, § 2º, CPC, dispõe que se deve interpretar o pedido em consonância com os fatos e direito narrados na exordial e em atendimento ao princípio da boa-fé.
Em suma, implica em dizer que os pedidos não devem ser analisados de forma isolada, mas sob o contexto da petição inicial. 
Esse entendimento advém do entendimento sedimentado do Superior Tribunal de Justiça que assim defendia:
(...) o pedido não deve ser extraído apenas do capítulo da petição especificamente reservado aos requerimentos, mas da interpretação lógico-sistemática das questões apresentadas pela parte ao longo da petição” (STJ, REsp 967.375, 2.ª T., rel. Min. Eliana Calmon, j. 02.09.2010, v.u., DJ 20.09.2010).
3.6 Pedido implícito
Por pedido implícito, entende-se aquele que não conste expressamente na inicial, mas que estará presente por expressa previsão legal, como é o caso dos honorários advocatícios, correção monetária e juros leais.
Eis os ensinamentos de Roque (2016, p. 23):
Como temperamento à regra geral de que o pedido deve ser expressamente formulado, são estabelecidas algumas hipóteses de pedidos implícitos, os quais, sob pena de omissão, devem ser apreciados mesmo não tendo sido pleiteados pelo autor na petição inicial.
O pedido que envolva prestações de trato sucessivo entende como implícito as prestações vincendas, conforme expressa previsão legal (artigo 323, CPC).
3.7 Ampliação da Demanda
O CPC, em seu artigo 329, inciso I, prevê a possibilidade de o autor emendar a inicial antes da citação do réu.
Essa previsão autoriza que o autor amplie os pedidos, formule novos ou os exclua, bem como amplie ou reduza o objeto da lide, respeitados os requisitos de cumulação de pedidos já estudados.
Por sua vez, o inciso II do mesmo dispositivo legal autoriza a alteração do pedido após a citação, desde que o réu concorde com tal alteração. Em caso de concordância, deverá ser concedido novo prazo para o réu se defender de tal aditamento.
Didier (2015) defende que, quando se tratar de um novo pedido conexo ao originário ou de fato constitutivo superveniente, deve ser autorizada a ampliação da lide em qualquer estágio do processo, sob pena de tornar inócuas diversas outras previsões do próprio CPC, e que não estão limitadas à ampliação da lide trazida pelo artigo 329.
Nessa toada, percebe-se que há possibilidade de ampliação da demanda para além daquelas expressamente previstas no artigo 329, CPC.
3.8 Alteração Objetiva da Demanda
De acordo com o já mencionado artigo 329 do CPC, as alterações objetivas da demanda somente podem ser feitas até o saneamento do processo. Por alterações objetivas entende-se o pedido e a causa de pedir.
Nessa linha, não pode haver alteração da demanda em fase recursal, pois implicaria em supressão de instância.
Essa vedação decorre da necessidade de se estabilizar a demanda e garantir o contraditório e ampla defesa do réu. Não pode o autor, a qualquer tempo, alterar a demanda.
No entanto, como o CPC traz uma postura mais mediadora, incentivadora de acordos, há entendimentos na doutrina de que, em caso de autocomposição, pode haver a ampliação objetiva da demanda, pois autor e réu estarão transigindo sobre seus direitos de forma espontânea e a solucionar a lide. 
É ISSO AÍ!
Ao final desta unidade, você deverá ter a capacidade de: 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· Entender que a petição inicial é o meio pelo qual a demanda se expressa, sendo que o processo é inaugurado pelo protocolo da peça inaugural, a qual deverá obedecer aos requisitos dos artigos 319 e 320 do CPC.
· Compreender que caso o autor não observe tais requisitos, o juiz poderádeterminar a emenda da petição inicial. Caso o vício seja insanável ou o autor não se manifeste no prazo concedido, a petição inicial será indeferida liminarmente, sem a citação do réu, fundamentando-se o magistrado nas causas elencadas no artigo 330 do CPC.
· Diferenciar os requisitos da petição inicial. O principal deles é o pedido, o qual expressa claramente o bem jurídico ao qual se pretende a tutela jurisdicional. Além disso, é ele que definirá os limites e o objeto da decisão final de mérito que será proferida pelo juiz, após instaurado o contraditório.
· Entender que a formulação dos pedidos deve obedecer aos requisitos dos artigos 322 e 324 do CPC. Os pedidos podem ser cumulados de modo simples, sucessivamente, subsidiariamente e alternativamente, desde que os pedidos não sejam contraditórios entre si.
· Conhecer os pedidos e suas classificações. Devem ser certos, mas podem ser genéricos, tanto nos termos do artigo 324 do CPC, alternativos, quanto nos termos do artigo 325 do CPC, relativos à obrigação indivisível; nos termos do artigo 328 do CPC; ou implícito, nos termos do artigo 322 do CPC.
REFERÊNCIAS
ALVIM, A. Manual de direito processual civil: teoria do processo e processo de conhecimento. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Presidência da República, Secretaria Geral, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 12 nov. 2019.
BUENO, C. S. (Coord.) Comentários ao código de processo civil – Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2017.
DIDIER JR., F. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento – Vol. 1. 17. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2015.
GAJARDONI, F. F.; DOLLORE, L.; ROQUE, A. V; OLIVEIRA JR., Z. D. Processo de conhecimento e cumprimento de sentença: comentários ao CPC de 2015. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016.
WAMBIER, T. A. A. et al. Primeiros comentários ao novo Código de processo civil: artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

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