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Processo de conhecimento Unidade 2

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PROCESSO DE CONHECIMENTO
DESENVOLVIMENTO DO CONTRADITÓRIO
Rafaela Lacerda Assis
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OLÁ!
O processo para que produza uma decisão válida deve ser desenvolvido em contraditório, o que significa que às partes deve ser dada a oportunidade de participar do processo e de influenciar na decisão final que será produzida pelo juiz.
Nesta presente unidade, estudaremos o desenvolvimento do contraditório, caracterizado pelos seguintes fatores: (i) a forma e o modo de comunicação dos atos processuais às partes; (ii) as formas e efeitos da comunicação da instauração do processo ao réu, (iii) a realização de audiência preliminar de conciliação e mediação e; (iv) as possíveis respostas do réu e o efeito da ausência de resposta.
Bons estudos!
1.0 ATOS PROCESSUAIS E A COMUNICAÇÃO DE ATOS PROCESSUAIS
O artigo 188 do CPC dispõe que “os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial”.
Em consonância com os artigos 189 a 192, CPC, há regras gerais a serem respeitadas, tais como a utilização da língua portuguesa, a publicidade dos atos e o atendimento aos prazos legais.
Porém, o CPC prestigia o princípio da instrumentalidade das formas. Nesse sentido, tem-se que a instrumentalidade dos atos deve ser respeitada, porém, não deve haver um excesso de formalismo que obstaculize a efetividade e celeridade processual.
Assim, mesmo que um ato não tenha sido realizado na forma estipulada pela lei, ele poderá ser aceito desde que atinja a sua finalidade. Também há situações em que as partes podem, de comum acordo, estabelecer a forma, o tempo e a comunicação dos atos processuais.
Sobre o tema, destaca-se importante lição de Wambier (2015, p. 347-348):
O art. 188 do NCPC reitera o conteúdo do consagrado art. 154 do CPC/73 e prestigia o princípio da instrumentalidade das formas.
É consagrada no direito processual civil a ideia de que processo é instrumento, não um fim em si mesmo. O processo judicial, como método destinado à prestação da tutela jurisdicional, não existe por si só, exaurindo-se de maneira autossuficiente; o processo é acessório, no sentido de servir à aplicação do direito material: o processo é veículo, conduto, instrumento de incidência do direito material a determinada situação concreta da vida.
E esta é precisamente a beleza do processo: ser instrumento do direito material, relevando a finalidade (resolução da controvérsia no campo do direito material, em regra).
Esta é a ratio essendi do direito processual: instrumentalidade. Nenhum demérito decorre desta afirmação: o direito material ganha efetividade porque existe o processo!
Não obstante, o princípio da instrumentalidade insculpido no art. 188 do NCPC não pode ser entendido como autorizador do desapego à forma. Não se trata, com efeito, de interpretar o art. 188 em análise como desprestigiador da forma processual: esta é relevante (relevantíssima, aliás), dado que sinônimo de o processo se desenvolverá de maneira segura.
O que o art. 188 quer dizer é que sempre haverá se observar alguma forma na prática dos atos e termos processuais, preferencialmente a forma preconizada em lei, porém se darão por válidos e úteis os atos e termos processuais que, ainda que praticados de forma distinta daquela prevista, atinjam sua finalidade essencial.
A essência do princípio da instrumentalidade emanado do art. 188 do NCPC admite a seguinte síntese: em regra não é relevante, para fins de validade do ato processual, se foi estritamente observada a forma específica estabelecida em lei; ainda que seja levado a cabo de outra forma (portanto, de alguma forma), o ato e o termo processual serão considerados válidos desde que atingida sua finalidade.
Os atos e termos processuais, portanto, independem de forma determinada, em regra, desde que se realizem de alguma forma e atinjam o fim que deles se espera.
Em relação à prática eletrônica de atos processuais, o CPC traz uma regulamentação genérica nos artigos 193 a 199, cabendo a cada tribunal adotar as regras específicas, dentre elas o sistema a ser utilizado.
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Fonte: iStock, 2020
Assista aí
#PraCegoVer: juiz em imagem desfocada. Ele está sentado e segurando o martelo. Ao fundo, duas pessoas estão de pé.
1.1 Do tempo e do lugar dos atos processuais
O tempo e o lugar dos atos processuais estão regulamentos pelos artigos 212 a 217 do CPC.
De acordo com tais regras, os atos processuais somente podem ser realizados em dias úteis, das 06h às 20h. Caso o ato processual tenha início antes das 20h, seu término pode ocorrer após tal horário.
Quando o ato processual tiver que ser praticado por meio de petição, se o processo for físico, o protocolo deverá ser feito de acordo com o expediente estabelecido por cada fórum ou tribunal. Caso o processo seja eletrônico, poderá ser feito em qualquer horário, até as 24h do último dia do prazo (art. 212, § 3º, e art. 213, CPC).
Durante as férias forenses e nos feriados, não serão praticados os atos processuais, a exceção das regras previstas nos artigos 212, § 2º, 214 e 215, CPC. Entende-se por feriado, além dos expressamente previstos em lei, os sábados, domingos e dias em que não houver expediente forense.
Estabelecendo uma regra territorial, o artigo 217 determina que “os atos processuais realizar-se-ão ordinariamente na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de deferência, de interesse da justiça, da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz”.
Cada Tribunal possui um regulamento próprio que autoriza o protocolo integrado. Em outras palavras, permitem que o protocolo de petições de primeiro grau seja feito em fórum ou comarca distinto da sede do juízo da demanda, desde que sob a mesma jurisdição do Tribunal.
Ainda, alguns Tribunais possuem postos autorizados espalhados pelo Estado, permitindo que os protocolos direcionados à segunda instância sejam feitos fora do Tribunal em cidades do interior.
1.2 Comunicação dos atos processuais: citação, intimação e cartas
A forma de comunicação dos atos processuais está prevista nos artigos 236 a 275, CPC, sendo possível a comunicação através de citação, intimação e carta.
Nos termos do CPC, as comunicações serão feitas por:
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Pela sua complexidade e importância, a citação será abordada em tópico apartado.
Merecem atenção especial as cartas que podem ser de ordem, rogatória ou precatória (arts. 260 a 268, CPC), sendo assim definidas por WAMBIER (2015, p 444).
As cartas precatórias consistem na requisição da prática de determinado ato processual (atos instrutórios, decisões concessivas de tutelas de urgência etc.) de um juízo a outro, sendo ambos do mesmo grau de jurisdição, porém com distintas competências territoriais.
As cartas de ordem consistem em requisição da prática de determinado ato processual remetida por um juízo de instância superior a um juízo de instância inferior. Em geral, as cartas de ordem são provenientes do tribunal, no qual tramita determinado recurso ou determinada ação de sua competência originária, e destinadas ao juízo de primeiro grau subordinado a este tribunal, para que se dê o cumprimento de determinado ato processual.
As cartas rogatórias, por sua vez, destinam-se à requisição, pelo órgão jurisdicional brasileiro, da prática de atos processuais à Justiça de outro país.
Ainda, há alguns requisitos a serem preenchidos para que as cartas possuam validade, conforme preceitua o artigo 260, CPC: “I - a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato; II - o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao advogado; III - a menção do ato processual que lhe constitui o objeto; IV - o encerramento com a assinatura do juiz.”
Em relação à intimação, a lei preceitua casos em que a intimação deve ser pessoal, sendo a regra geral a intimação eletrônica, ou seja, através do sistema eletrônico, utilizado pelo Tribunal.Quando não for pessoal ou na forma eletrônica, a intimação se dará por meio de órgão oficial, por exemplo, publicação em diário oficial.
A intimação é importante pois é a partir dela que as partes tomam ciência dos atos processuais praticados e a serem praticados, dando início aos prazos processuais.
Citação
Depois de tratar dos meios de comunicação dos atos processuais vamos estudar o mais importante deles: a citação. A citação é o ato que inaugura o contraditório, convidando o réu a integrar a lide e apresentar sua resposta à pretensão do autor, iniciando o diálogo processual manifesto pela garantia constitucional da ampla defesa.
Conforme veremos a seguir a citação – tema tratado entre os artigos 238 e 259 do CPC – é requisito de validade processual, pode ocorrer por diferentes modalidades e produz diversos efeitos processuais.
Noções Gerais e Pessoalidade da Citação
A citação é, conforme o artigo 238 do CPC, “o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual”, constituindo condição de validade do processo, ressalvadas as hipóteses em que o contraditório nem chega a ser instaurado, conforme já estudamos (indeferimento da petição inicial e improcedência liminar do pedido).
O fato é que, por se tratar de um ato formal, este pode ser substituído por outro ato que tenha o mesmo efeito, como é o caso do comparecimento espontâneo do réu (§1º, artigo 239), sendo que em sua resposta o réu poderá alegar nulidade da citação.
Caso a preliminar de nulidade não seja acolhida e o réu tenha perdido o prazo de resposta, ele será considerado revel no processo de conhecimento (§2º do artigo 239).
Não obstante a citação inaugure o contraditório e possibilite ao réu participar do processo como parte, não é condição de existência do processo, pois o processo existe mesmo sem que o réu tenha conhecimento. Nos termos do art. 239 a citação é condição de validade do processo e de eficácia perante ao réu.
Nos dizeres de DIDIER (2015, p. 608):
Se há processo antes da citação – que, a propósito dá-se em seu bojo –, não se pode considerar como pressuposto de existência fato que está, na linha do tempo, em momento posterior à existência daquilo que se pretende condicionar.[...] Não é por acaso que o artigo 238 do CPC conceitua a citação como ato que convoca alguém para integrar a relação jurídica processual que, obviamente, preexiste à convocação.
Como condição de validade do processo, para que a citação seja considerada eficaz ela deverá ser pessoal, feita na pessoa do réu, executado, interessado, representante legal ou procurador que possua poderes para recebê-la (art. 242, CPC).
Quanto à pessoalidade da citação, os parágrafos do artigo 242 apresentam exceções à regra, sendo as seguintes: (i) no caso de ausência do citando, quando possível, nos termos do §1º do artigo 242, a citação será feita na pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou gerente; (ii) no caso de locador que se ausentar do Brasil, a representação legal é presumida, caso em que o administrador do imóvel poderá ser citado no lugar do locador ausente (§2º); (iii) a citação dos entes federativos, suas autarquias e fundações de direito público serão citados perante o órgão de advocacia pública responsável pela representação judicial (§3º).
Quando o citando estiver incapacitado de receber a citação, nos termos do artigo 245 e seus parágrafos, o juiz procederá aos procedimentos dos §§ 1º a 3º e nomeará em seguida um curador ao citando, observando a preferência estabelecida em lei, de modo que a citação será feita na pessoa do curador nomeado (§5º do atigo 245).
Efeitos da Citação
Nos termos já tratados, a citação inaugura o contraditório. Isso que quer dizer que o réu passa a integrar a causa em litígio, integrando a relação jurídico-processual. Neste caso, para o réu, consideram-se os termos do artigo 240: (i) os efeitos da litispendência passam a produzir efeitos para o réu, ainda que o juízo seja incompetente; (ii) o direito discutido passa a ser litigioso; (iii) o autor não pode mais alterar a demanda sem consentimento do réu; (iv) o devedor é constituído em mora.
É importante destacar que, no caso da constituição do devedor em mora, trata-se de um efeito processual no âmbito do direito material. Conforme lição de DIDIER (2015, p. 613):
A constituição em mora, pela citação, se dá no caso de cobrança de dívidas negociais sem termo certo para pagamento, em relação às quais o devedor não tenha sido constituído em mora pela prática de outro ato anterior. Mora é o retardamento ou imperfeito cumprimento da obrigação.
Desse modo verifica-se que a citação não só constitui a relação jurídico-processual como apresenta diversos efeitos processuais e de direito material.
A citação e a interrupção da prescrição pelo despacho citatório
Além dos efeitos tratados, a citação também tem o condão de interromper a prescrição, a qual retroagirá à data de propositura da ação.
A redação do § 1º do artigo 240 significa que o ato que determina a citação, ou seja, o despacho citatório, caso ocorra após verificação dos pressupostos processuais e considere a causa válida, interrompe a prescrição, a decadência e os demais prazos extintivos (§4º), os quais retroagirão à data de propositura da demanda.
Essa distinção é importante, pois outros despachos anteriores à admissibilidade da ação, como é o caso de determinação de emenda da inicial, não produzem o mesmo efeito.
Conforme o §2º, para que a interrupção da prescrição retroaja, o réu deverá providenciar, no prazo de 10 (dez) dias, condições de viabilizar a citação, que são, conforme DIDIER (2015, p. 614), “juntar cópia da petição inicial para ser encaminhada ao réu, adiantar as despesas com citação e indicar o endereço do réu”. 
Entende-se que, cumpridas todas as determinações, a parte autora não poderá ser prejudicada pela demora do serviço judiciário (§3º).
Assista aí
1.3 Modalidades
O despacho que determina a citação induz à expedição de um mandado que poderá ser encaminhado ao citando por meio de correio, oficial de justiça ou meio eletrônico. Também pode ser certificada a citação por hora certa, pelo escrivão ou chefe de secretaria, ou por edital. 
Conforme o artigo 246 do CPC, a citação será efetivada: “I - pelo correio; II - pelo oficial de justiça; III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório; IV - por edital e V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei”. 
Correio
A citação por meio de correio é a regra geral, nos termos do artigo 247 do CPC, sendo que sua efetivação concreta depende da entrega da carta ao citando, com aposição de sua assinatura no Aviso de Recebimento, o qual será juntado aos autos para certificar a citação.
Essa espécie de citação independe de emissão de carta precatória e poderá ser feita para qualquer comarca do país, exceto nas hipóteses elencadas nos incisos do artigo 247 do CPC, que são: (i) as ações de estado, exceto ações de família; (ii) ações cujo citando é manifestamente incapaz; (iii) quando o citando for pessoa de direito público; (iv) quando o local de domicílio do citando não for atendido pelo serviço postal; (v) quando o autor requerer que o réu seja citado por outro meio.
Conforme já tratado, o autor deverá providenciar meios para que a citação se efetive. Por isso, o réu deverá receber, junto com a carta de citação, a qual deverá ser registrada, a cópia da petição inicial fornecida pelo autor, a cópia do despacho de citação ou de eventual decisão que tenha deferido a liminar, bem como as informações discriminadas no artigo 250 do CPC, além das já mencionadas.
O artigo 250 do CPC trata dos requisitos formais de conteúdo da carta de citação, que deverá conter: (i) os nomes das partes envolvidas no litígio, com os respectivos endereços de domicílio; (ii) a finalidade da citação, conforme petição inicial, com menção do prazo para contestar ou embargar no caso de execução; (iii) a sanção cabível para o caso de descumprimento de ordem judicial quando, por exemplo, o juizhouver deferido pedido liminar que impute ao réu esta obrigação; (iv) intimação para que o réu compareça na audiência de conciliação nos casos em que houver designação; (v) assinatura do escrivão ou chefe de secretaria que declarará a ordem do juiz para o ato.
Consoante já apontado, por se tratar de citação real, deverá ser feita na pessoa do citando, que deverá assinar o aviso de recebimento. No caso de recusa de recebimento ou de assinatura, a diligência será considerada não cumprida (§1º, art. 248, CPC).
Caso o citando seja pessoa jurídica, conforme já tratado, a citação poderá ser recebida por pessoa com poderes de gerência ou administração geral, ou ainda outro funcionário responsável por receber correspondências (§2º, art. 248).
Para que se considere efetivada a citação por carta e se inicie o prazo de resposta do réu, não basta que o réu receba a carta e assine o Aviso de Recebimento (AR): o ato só será considerado completo quando o AR for juntado aos autos (inciso I do artigo 231).  
Oficial de justiça
A citação por Oficial de justiça é um dos casos de exceção à regra e só ocorrerá nos casos em que não couber citação por carta, conforme já tratado no tópico anterior, ou quando, tentada a citação por carta, a diligência restar frustrada, nos termos do artigo 249 do CPC.
O mandado que o Oficial de Justiça deverá cumprir precisa atender aos mesmos requisitos já citados para o caso de citação por correio, elencados no artigo 250. É papel do Oficial de Justiça procurar o citando, buscando meios e informações necessárias para encontrá-lo, e diligenciando de modo mais incisivo que o oficial dos correios faria.
Ao encontrar o citando, o Oficial de Justiça deverá cumprir as formalidades do artigo 251 do CPC, o qual determina a incumbência de: (i) ler o mandado ao citando e entregar-lhe a cópia da inicial; (ii) atestar se o citando recebeu ou recusou o recebimento da cópia da inicial; (iii) recolher a assinatura do citando no mandado, ou certificar caso o citando se recuse a assinar o mandado.
Mesmo que a citação por Oficial não possa ocorrer em qualquer comarca sem a emissão de carta precatória, como seria no caso do envio pelo correio, o CPC permite em seu artigo 255 que o Oficial de Justiça cumpra a citação, intimação, notificações, penhoras ou quaisquer outros atos em comarcas contíguas e de fácil acesso, como é o caso de regiões metropolitanas, dispensando a emissão de carta precatória.
Hora certa
A citação por hora certa é tratada nos artigos 252 a 254 do CPC e ocorrerá quando o Oficial de Justiça comparecer à residência do citando por duas vezes, em dias e horários distintos, confirmar que o endereço está correto e suspeitar que ele está se ocultando para não receber a citação. 
Nesse caso, o Oficial de Justiça deverá preencher a verificação dos pressupostos no mandado e estará autorizado a intimar quaisquer das pessoas que estiverem presentes (familiar, vizinho, funcionário da portaria), desde que capaz, que no dia útil imediato voltará em hora especialmente designada para proceder à citação (art. 252, CPC).
Nos termos do artigo 253 e seus parágrafos, o Oficial de Justiça comparecerá na hora marcada e, mesmo que não encontre o citando ou outra pessoa que por ele responda, dará por realizada a citação, certificando a ausência do citando e indicando pessoa a quem entregou a cópia da inicial, além de apontar no mandado que, caso o citando não responda ao processo, será indicado curador especial.
Realizada a citação por hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao citando, no prazo de 10 (dez) dias, uma carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe ciência de tudo quanto foi registrado pelo Oficial de Justiça (art. 254).
Entretanto, conforme lição de DIDIER (2015, p. 618), não obstante o envio da correspondência seja obrigatória – e caso não ocorra acarrete a nulidade da citação – ela não será o marco para o início do prazo de resposta do réu. O prazo começará a transcorrer a partir da juntada dos autos do mandado de citação certificado pelo Oficial de Justiça.
Escrivão ou chefe da secretaria
Esse meio de citação existe com o objetivo de simplificar o procedimento de ciência do réu. Nos termos dos artigos 152, II e 246, III do CPC, caso o citando compareça ao cartório, o escrivão ou chefe de secretaria certificará a citação, cientificando-o do processo e do início do prazo para resposta, fornecendo cópia do processo.
Edital
A citação por Edital é uma forma de citação ficta, o que significa que o mandado de citação não será entregue diretamente ao citando, mas será praticado um ato processual que mitiga a pessoalidade da citação.
Do mesmo modo que a citação por hora certa, caso haja revelia, será indicado curador especial para promover a defesa do revel, conforme inciso II do artigo 72 do CPC.
O artigo 256 determina que a citação por edital, a qual é excepcional, será realizada quando: (i) o réu for desconhecido ou incerto; (ii) o lugar em que se encontrar o citando for ignorado, incerto ou inacessível; (iii) ou nos casos expressos em lei, conforme artigo 259 do CPC.
Por sua vez, o artigo determina as hipóteses legais de citação por edital, que são: (i) ação por usucapião de imóvel; (ii) ação de recuperação e substituição de título ao portador e; (iii) qualquer ação que seja necessária, por determinação legal, a provocação, para participação no processo, de interessados incertos ou desconhecidos.
O Edital deverá seguir os requisitos apontados pelo artigo 257 do CPC e será publicado na internet, no site do tribunal, na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça e, caso determinado pelo juiz, em jornal local de ampla circulação, conforme peculiaridades da comarca.
No caso de edital, o prazo para resposta do réu será determinado pelo juiz, ente 20 (vinte) e 60 (sessenta) dias e começará a fluir da data de publicação do edital (inciso III do artigo 257).
Meio eletrônico
A citação por meio eletrônico foi instituída pela Lei nº 11.419/2006, a qual dispõe sobre a informatização do processo judicial e determina que, caso os autos estejam integralmente disponíveis para o citando, a citação poderá ser eletrônica, inclusive para a Fazenda Pública (artigo 6º da Lei nº 11.419/2006).
Nesse sentido, o CPC de 2015, na tendência da informatização dos processos, instituiu hipóteses em que o meio eletrônico será o meio preferencial de citação que são: (i) empresas públicas e privadas, com exceção das microempresas e empresas de pequeno porte; (ii) a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as entidades da administração indireta.
É importante pontuar que, não obstante a obrigação esteja prevista no CPC, o modo de citação deverá observar os requisitos do artigo 5º da Lei nº11.419/2006, que são:
Art. 5º As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2º desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.
§ 1º Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte.
§ 3º A consulta referida nos §§ 1º e 2º deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo.
§ 4º Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a abertura automática do prazo processual nos termos do § 3º deste artigo, aos que manifestarem interesse por esse serviço.
§ 5º Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade,conforme determinado pelo juiz.
§ 6º As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais.
Apenas os cadastrados no sistema poderão ser citados eletronicamente, motivo pelo qual o §1º do artigo 246 do CPC obriga que as pessoas jurídicas mantenham seu cadastro atualizado perante os tribunais.
Procedida a citação eletrônica, nos termos do artigo 231 do CPC, o prazo para a resposta começará a fluir do dia útil seguinte à consulta ao teor da citação, ou do dia útil seguinte ao término do prazo para que a consulta se dê.
Assista aí
1.4 AUDIÊNCIA PRELIMINAR DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO
A audiência de conciliação e de mediação está prevista no CPC no artigo 334, que trata da designação da audiência, as formas de intimação, hipóteses em que não ocorrerá a audiência, a possibilidade de que ocorra por meio eletrônico, os efeitos do não comparecimento injustificado do autor e do réu, a obrigatoriedade de comparecimento de advogado, o modo de autocomposição e a organização da pauta de audiências.
A diferença entre audiência de conciliação e mediação diz respeito ao tipo de técnica que será utilizada, em relação ao tipo de conflito, nos termos do artigo 165 do CPC. Consoante §§2º e 3º do artigo 165 do CPC, o conciliador “atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes” e poderá sugerir soluções para o litígio, enquanto o mediador “atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará os interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos”. Ou seja, a conciliação trata de uma solução puramente jurídica para a lide, enquanto a mediação visa restabelecer vínculos de comunicação quebrados que levaram ao litígio.
A ideia da realização da audiência antes mesmo da apresentação de defesa é justamente evitar o litígio, caso ainda seja possível, provocando as partes a se mobilizarem pela autocomposição, em um cenário institucional que facilite o debate, que poderia não ocorrer caso a ação não houvesse sido proposta.
Conforme já tratado na unidade anterior, o autor deverá indicar na petição inicial se deseja ou não que seja realizada a audiência preliminar de conciliação, sendo que as partes podem optar por expressamente manifestarem-se no sentido de dispensar a audiência.
O artigo 334 do CPC estabelece que, deferida a petição inicial, o juiz designará a audiência de conciliação ou mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, mesmo que o autor tenha se manifestado pela dispensa da audiência, devendo o réu ser citado com, no mínimo, 20 (vinte) dias de antecedência.
Isso porque, conforme o §4º, a audiência só não acontecerá caso ambas as partes, mesmo no caso de litisconsórcio (§6º, art. 334) manifestem expressamente o desinteresse na autocomposição, sendo que caso o autor dispense a audiência, o réu tem até 10 (dez) dias de antecedência para manifestar a discordância com a realização da audiência de conciliação ou mediação.
Conforme lição de DIDIER (2015, p. 624):
O legislador preferiu não impor a audiência em caso em que ambas as partes manifestem expressamente o seu desinteresse. A solução parece boa: elimina a possibilidade de a audiência não se realizar porque apenas uma parte não a deseja, mas ao mesmo tempo respeita a vontade das partes no sentido de não querer autocomposição, o que está em conformidade com o princípio do respeito ao autorregramento da vontade e com o princípio da cooperação. Repita-se o que já se disse neste Curso: a vontade das partes não pode ser nem é um dado irrelevante para o processo.
Importante efeito da manifestação de discordância do réu na realização da audiência é que, conforme o inciso II do artigo 335 do CPC, a partir do protocolo da manifestação de desinteresse começará a correr o prazo para sua resposta. 
Outra hipótese de não ocorrência da audiência será quando a lide, por sua natureza, não admitir autocomposição, como é o caso de ações que envolvam o Poder Público, o qual só pode realizar transações quando expressamente autorizado por lei. Nesse caso, o reú só será citado para apresentar resposta, sem ser intimado para realização de audiência (art. 335, III).
Conforme o artigo165 do CPC, a audiência deverá ocorrer em centros judiciários de solução consensual de conflitos, espaço criado exclusivamente para a realização de audiências de conciliação e mediação, as quais também poderão ocorrer por meio eletrônico em videoconferência (§7º, art. 334).
A respeito da realização da audiência, o §2º do artigo 334 determina que poderá acontecer mais de uma sessão, no intervalo máximo de 2 (dois) meses, sendo necessária a figura do conciliador ou mediador, conforme o caso (§1º). Ademais, a pauta das audiências deverá ser organizada de tal modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o início da seguinte (§12).
Faz-se importante pontuar que é obrigatória a presença dos advogados das partes. Entretanto, as próprias poderão indicar representantes com poderes para transigir, por meio de procuração específica (§10, art. 334), caso em que as partes não precisarão comparecer.
Importante é o lembrete de DIDIER (2015, p.626) a esse respeito:
Há proibição de atuação de advogado como preposto (art. 23 do Código de Ética da OAB). Parece, no entanto, que essa proibição não se aplica à representação processual, porquanto a participação de advogado, aqui, na qualidade de representante negocial, restringir-se-á à negociação e à assinatura do termo de acordo – atividades típicas do exercício da advocacia. A restrição do Código de Ética refere-se à preposição em causas trabalhistas, nas quais a figura do preposto assume outras funções – depor pela parte, por exemplo.
As partes são obrigadas a comparecer à audiência, sendo que nos termos do § 8º, o não comparecimento injustificado “é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado”, conforme o tribunal que estiver processando a demanda.
A autocomposição deverá ser homologada por sentença (§11) e, caso não ocorra, o prazo para resposta do réu começa a contar da data de realização da audiência (art. 335, I).
2.0 RESPOSTAS DO RÉU E REVELIA
Conforme já tratado, após a citação válida do réu, caso não haja audiência de conciliação ou caso a conciliação reste frustrada, inicia-se o prazo para a resposta do réu.
Resposta do réu é o termo genérico para todas as possíveis reações processuais cabíveis ao réu, não se confundindo simplesmente com a defesa, que é apenas uma espécie de resposta.
 
O réu poderá responder à pretensão do autor das seguintes formas: 
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2.1 Espécies de Defesa
Em prol da concentração da defesa (que será estudada em tópico próprio), todos os argumentos de defesa devem ser apresentados em contestação.
Inicialmente, a defesa é dividida em dois tipos: de admissibilidade e de mérito.
As defesas de admissibilidade são traduzidas nas preliminares de contestação, indicadas no artigo 337 do CPC. As matérias de admissibilidade devem ser alegadas em primeiro lugar. Isso deve ocorrer porque são elas que discutem os pressupostos processuais, as condições da ação, além de todos os requisitos necessários para a propositura da demanda e instauração do processo, como por exemplo a ilegitimidade das partes, inépcia da petição inicial, coisa julgada etc.
Nos dizeres de Wambier (2015, p. 580):
No que se refere à defesa processual, o art. 337 elenca as preliminares, que abrangem matérias cuja análise, sob o ponto de vista lógico, deve anteceder a defesa de mérito, uma vez que, se acatadas, levam à extinção do processo ou à necessidade de que sejam tomadas providências prévias à apreciação da procedência ou não do pedido do autor.
As defesas deadmissibilidade são divididas em peremptórias (que podem levar à extinção da demanda) e dilatórias (que adiam a análise o mérito da demanda).
De acordo com a WAMBIER (2015, p. 583):
O art. 337 do NCPC elenca as defesas processuais, relacionadas à falta das condições da ação e dos pressupostos processuais. São as preliminares que, se acatadas, podem levar à extinção da ação sem análise do mérito – defesa processual própria ou peremptória – ou ao adiamento da análise do mérito, em razão da necessidade de que seja adotada, antes, alguma providência – defesa processual imprópria ou dilatória.
São defesas processuais peremptórias: a inépcia da petição inicial, perempção, litispendência e coisa julgada, convenção de arbitragem, ausência de legitimidade ou de interesse processual.
São, por sua vez, defesas processuais dilatórias: inexistência ou nulidade da citação, incompetência absoluta ou relativa, incorreção do valor da causa, conexão, incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização, falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar, a indevida concessão do benefício da justiça gratuita.
Ainda, as preliminares podem ser de objeção ou de exceção. De objeção são aquelas que podem ser conhecidas de ofício pelo juiz (prescrição, incompetência absoluta). De exceção são as que devem ser alegadas pela parte, não podendo ser conhecidas de ofício (incompetência relativa, cláusula de arbitragem).
Por sua vez, a defesa de mérito, como o próprio nome já indica, reflete o direito material do réu, podendo ser direta ou indireta. Se a defesa de mérito for direta, tem-se a negativa do direito do autor, por exemplo, e a dívida não existe. Se for indireta, tem-se a indicação de fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito do autor, por exemplo, e a dívida foi paga.
Leciona Wambier (2015, p. 581):
É na contestação que o réu deve impugnar, de maneira especificada, os fatos alegados pelo autor e o pedido formulado na inicial, expondo as razões pelas quais se impõe sua improcedência. Trata-se da defesa substancial, pois se volta contra o direito material afirmado pelo autor. Pode ser direta ou indireta.
A defesa de mérito direta é aquela por meio do qual o réu nega a ocorrência do fato constitutivo do direito do autor (v.g. inexiste o fato danoso narrado na inicial) ou as consequências jurídicas que o autor diz decorrerem desses fatos (v.g. o evento danoso existiu, mas dele não decorre indenização por dano moral no valor excessivo pretendido pelo autor), ou ambos.
A defesa de mérito indireta, por sua vez, é aquela por meio da qual o réu admite, nem que o faça em atenção ao princípio da eventualidade, o fato constitutivo do direito do autor (v.g. a dívida existiu), mas alega outros fatos novos, extintivos (a dívida foi paga), impeditivos (foi contraída sob coação) ou modificativos do direito do autor (houve o parcelamento do valor devido).
Por fim, a defesa pode ser instrumental ou interna. Sendo interna aquela que pode ser alegada no bojo do processo e instrumental àquela que depende da formação de autos próprios.
A maioria das defesas são internas, sendo que as instrumentais estão expressamente previstas na legislação, por exemplo, alegação de suspeição ou impedimento do magistrado.
2.2 Contestação
Nos tópicos que se seguem, falaremos a respeito da contestação, que é a defesa do réu, uma das formas de resposta, conforme já tratado.
3.0 Noções Gerais
Contestação é a manifestação do réu de resistência à pretensão do autor, em que será, em petição única, alegada toda a matéria de defesa. Conforme lição de DIDIER (2015, p. 637):
A contestação está para o réu como a petição inicial está para o autor. Trata-se do instrumento da exceção exercida (exercício do direito de defesa), assim como a petição inicial é o instrumento da demanda (ação exercida). É pela contestação que o réu apresenta sua defesa. No procedimento comum, a contestação é escrita e deve ser assinada por quem tenha capacidade postulatória – advogado, Membro do ministério Público ou defensor público.
Nos termos do artigo 335, o prazo para apresentação da contestação é de 15 dias contados: (i) da audiência de conciliação quando não houver autocomposição; (ii) do protocolo do pedido de cancelamento de audiência apresentado pelo réu; (iii) da data de perfectibilização da citação, nos termos do artigo 231, já abordado anteriormente.
3.1 Ônus da impugnação especificada
A ideia da especificação da impugnação é que não é possível que exista defesa genérica, de modo que cada fato alegado pelo autor em sua inicial deverá ser especificamente combatido pelo réu em sua defesa. Portanto, o que não for especificamente impugnado será reputado como verdadeiro, nos termos do artigo 341 do CPC. 
O mesmo artigo também traz exceções à regra, dispensando a impugnação específica quando: (i) a defesa for apresentada por defensor público, advogado dativo ou curador especial, caso em que poderá ser apresentada defesa genérica; (ii) não for admitida confissão a respeito do fato, como é o caso dos direitos indisponíveis; (iii)  faltar na petição inicial documento essencial que a lei exige para constituir o fato; (iv) o réu contestar apenas alguns fatos que logicamente decorram a impugnação de outros.
3.2 Regra de Concentração da defesa
A regra da concentração da defesa é aquela expressa no artigo 336 do CPC, por meio do qual determina-se que o réu deverá alegar na contestação toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor.
O efeito dessa regra é que o momento para impugnação das teses e fatos expostos na petição inicial é exclusivamente na contestação. Nos dizeres de DIDIER (2015, p. 638):
A regra da eventualidade (Eventualmaxime) ou da concentração da defesa na contestação significa que cabe ao réu formular toda a sua defesa na contestação. Toda defesa deve ser formulada de uma só vez como medida de previsão ad eventum, sob pena de preclusão. O réu tem o ônus de alegar tudo quanto puder, pois ao contrário, perderá a oportunidade de fazê-lo.
O artigo 337¹  elenca um rol de todas as matérias preliminares que poderão ser alegadas pelo réu em sede de defesa, contestando a própria admissibilidade da ação, além de todas as teses de mérito que deverão contestar especificamente, conforme já tratado os fatos e o direito alegado pelo autor.
¹ Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa;
IV - inépcia da petição inicial;
V - perempção;
VI - litispendência;
VII - coisa julgada;
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X - convenção de arbitragem;
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
§ 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.
§ 5º Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo.
§ 6º A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.
Isso demonstra que, não obstante o Código de Processo Civil tenha simplificado o procedimento de reconvenção em relação ao código anterior, permitindo que seja apresentada na mesma petição da contestação, ele mantém sua autonomia processual, que perdura mesmo na ausência de contestação ou de extinção da ação principal.
3.3 Reconvenção
Nos termos do artigo 343 do CPC, na contestação o réu pode proporreconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal e com o argumento de defesa, como por exemplo em uma ação de cobrança em que o réu alega que o devedor é, de fato, o autor.
A reconvenção deverá obedecer aos mesmos requisitos da petição inicial, ainda que apresentada na mesma petição da contestação, sendo o autor intimado para apresentar resposta no prazo de 15 (quinze) dias (§1º, art. 343).
Caso o autor desista da ação, a reconvenção segue como ação autônoma, sendo inclusive possível que o então réu indique terceiro para compor a lide conjuntamente ao autor, ou mesmo indique litisconsorte (§§ 2º, 3º e 4º, art. 343). Inclusive a independência da reconvenção permite que o autor apresente reconvenção mesmo sem apresentar contestação (§6º, art. 343).
Isso demonstra que, não obstante o Código de Processo Civil tenha simplificado o procedimento de reconvenção em relação ao código anterior, permitindo que seja apresentada na mesma petição da contestação, ele mantém sua autonomia processual, que perdura mesmo na ausência de contestação ou de extinção da ação principal.
4.0 Exceções de Incompetência, Impedimento e Suspeição
As regras envolvendo incompetência e impedimento ou suspeição estão previstas no CPC nos artigos 64 a 66 e 144 a 148, respectivamente. São regras gerais que, se não seguidas, podem gerar a nulidade dos atos praticados, ou até mesmo do processo como um todo.
4.1 Da incompetência
A incompetência pode ser relativa ou absoluta, e deve ser alegada como preliminar de contestação.
Por competência absoluta, tem-se aquela que é devida em lei em decorrência do direito material envolvido, da condição de uma das partes e pelo critério funcional. Por exemplo: a discussão de um tributo federal atrai a competência absoluta da justiça federal, não podendo ser a ação julgada na justiça estadual.
A competência relativa, como o próprio nome já indica, é aquela que pode ser relativizada por envolver interesses privados. Sua fixação decorre do valor da causa e da territorialidade. Por exemplo: em alguns casos, a ação pode ser ajuizada no juizado especial por conta do baixo valor da causa, mas o autor opta pela justiça comum.
A incompetência absoluta é matéria de ordem pública, podendo ser alegada a qualquer momento, em preliminar de contestação ou petição apartada, e pode ser reconhecida de ofício pelo magistrado.
Por sua vez, a incompetência relativa somente pode ser arguida pelo réu em preliminar de contestação. Uma vez não sendo arguida, há a relativização da competência e a preclusão do direito de requerer a remessa dos autos ao juízo competente.
Nos ensinamentos de Wambier (2015, p. 130-131):
■ Importante alteração: a incompetência relativa será arguida em preliminar de contestação
O NCPC, em seu art. 64, inova de maneira robustamente positiva ao dispor que a incompetência relativa (isto é, incompetência em razão do valor ou de natureza territorial), uma vez verificada, poderá ser arguida em capítulo preliminar de contestação, revogando-se o sistema do CPC/73, que condiciona a arguição de incompetência relativa à apresentação de exceção de incompetência.
Trata-se de norma simplificadora, que extingue a figura da exceção de incompetência e uniformiza a metodologia de suscitação de incompetências: tanto a incompetência relativa (em razão do valor e territorial) quanto a absoluta (material e funcional) serão arguíveis no âmbito da contestação, sem a necessidade de ajuizamento, no caso das primeiras, de exceção de incompetência, gerando-se o processamento de incidente processual.
■ Incompetência absoluta
Dado decorrer de normas de ordem pública, a violação a disposições legais estabelecedoras de competência absoluta pode ser arguida tanto na contestação (em capítulo da petição de defesa preliminar à abordagem dos argumentos atinentes ao mérito), quanto em petição simples, ou mesmo no bojo de qualquer outra manifestação (recursos etc.), em qualquer tempo e grau de jurisdição. Trata-se de vício insanável, gerador de nulidade absoluta e, portanto, suscitável por qualquer das partes ou apreciável ex officio.
Observamos que, apesar de pronunciável de ofício pelo magistrado, a declaração de incompetência absoluta deverá ser precedida da oitiva da parte contrária, conforme disposto no art. 9º e no § 2º do art. 64, ambos do NCPC.
4.2 Do impedimento e da suspeição
A imparcialidade do juiz é condição de validade do processo. Caso sua imparcialidade seja colocada em discussão, pode gerar a nulidade de todos os atos práticos.
Nessa linha o CPC traz duas situações a fim de evitar tal parcialidade: casos em que o juiz está impedido de julgar a ação e casos em que ele pode ser considerado suspeito.
Nos casos expressamente previstos de impedimento (art. 144, CPC), há a ocorrência da presunção absoluta de que, por conta das situações ali descritas, o juiz não atuará com a imparcialidade que lhe é obrigatória, logo deve ser afastado do caso.
As hipóteses de suspeição, por outro lado, são situações em que a parcialidade do juiz gera uma presunção relativa. Ou seja, pode ser constatado que, apesar de ser amigo íntimo de uma das partes (inciso I, art. 145, CPC), o juiz manterá sua imparcialidade não favorecendo nenhuma das partes.
O rol de situações que geram o impedimento do juiz ou sua suspeição é taxativo e está previsto nos artigos 144 e 145, CPC.
Sobre o tema, WAMBIER (2015, p. 274) assim leciona:
As causas de impedimento estão relacionadas a fatos objetivamente verificáveis. e geram a presunção absoluta de parcialidade do juiz. Estão enumeradas, de forma taxativa, no art.144 do NCPC.
As causas de suspeição, por sua vez, têm conotação subjetiva e geram presunção relativa de parcialidade do juiz. Embora se afirme que a enumeração do art. 145 (correspondente ao art. 135 do CPC/73) seria também taxativa5., não nos parece que seja exatamente assim. Cândido Dinamarco sustenta que “a aparente rigidez dessas tipificações fica superada pela ideia mater da suspeição, que é o estado anímico de perda da serenidade e equidistância – seja porque ao juiz é aconselhado que se dê por suspeito por motivo de foro íntimo, seja porque as alegações de suspeição fundam-se mais na própria perda de serenidade que no enquadramento típico em hipóteses legais. Nos casos de impedimento a tipificação é mais rígida e sempre rigorosamente objetiva, não comportando ampliação alguma”.
Tanto o impedimento quanto a suspeição envolvem a imparcialidade do juiz, condição inafastável do devido processo legal, porém, diferentemente do primeiro, cujas hipóteses são preestabelecidas, mostra-se difícil, senão impossível, ao legislador antever todas as possibilidades de vínculos subjetivos que possam colocar em risco a equidistância que o julgador deve manter das partes. Por força disso, o rol do art. 145 do NCPC, correspondente ao art. 135 do CPC/73, não deve ser tido por exaustivo. Não é por outra razão que o legislador, ao prever as hipóteses de suspeição, valeu-se de conceitos vagos, especialmente, no inciso IV, quando dispôs que se deve considerar suspeito o juiz interessado no julgamento do processo. Apenas após a análise do caso concreto, com as inúmeras circunstâncias que pode envolver, é que se poderá dizer se o juiz agiu com interesse pessoal na causa, ou não, o que acaba por enfraquecer eventual limitação que a taxatividade da enumeração das hipóteses implicaria.
Embora os artigos 144 a 147, CPC, mencionem a imparcialidade/suspeição dos magistrados, o artigo 148, do mesmo diploma legal, amplia a aplicação de tais dispositivos a todos os demais sujeitos do processo que devam ser imparciais, tais como Ministério Público, Peritos, escreventes etc.
Essa ampliação decorre do fato de que o processo, assim como os seus operadores, deve ser imparcial, de forma a garantir que a justiça seja feita sem favorecimentos ou detrimentos.
O impedimento ou a suspeição devem ser suscitados em até 15 dias após o conhecimento do fato pela parte, em petição apartada e dirigida ao juiz do processo, que poderá acolher tal alegação, remetendoo processo para outro juiz, ou instaurar o incidente de suspeição ou impedimento, que será distribuído a um relator que também ouvirá as razões de defesa do magistrado.
Uma vez acolhido o incidente de suspeição pelo Tribunal, o relator deverá determinar a partir de qual momento o juiz não poderia ter atuado, tornando nulo todos os atos por ele praticados.
Em não sendo acolhida a suspeição ou o impedimento, o processo retoma sua tramitação normal.
4.3 Revelia
Uma vez citado para responder à ação, o réu tem o ônus de se defender. Chama-se ônus pois não é uma obrigação, mas deve arcar com as consequências de não o fazer.
Nesse sentido, o CPC prevê a aplicação dos efeitos da revelia quanto o réu não contestar a ação. Eis os dizeres do artigo 344:
Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor.
Por efeitos da revelia, entende-se que serão consideradas como verdadeiras as alegações formuladas pelo autor, desde que em consonância com as provas produzidas nos autos.
Ainda, conforme o artigo 345, não ocorrerão os efeitos da revelia quando: “I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos.”
Eis os ensinamentos de WAMBIER (P. 603/604):
De acordo com o art. 76 do NCPC, será reputado revel, o réu que, uma vez intimado para tanto, não regulariza sua representação nos autos. Em verdade, o juiz deverá analisar caso a caso para verificar se realmente a revelia estará configurada, para fins de incidência da regra do art. 344. Poderá ocorrer, por exemplo, de o réu tempestivamente ter apresentado contestação, firmada por advogado que posteriormente veio a falecer. Se, uma vez intimado, o réu não regularizar a capacidade postulatória, será reputado revel, para fins do efeito do art. 346, mas não do 344, pois, com a defesa apresentada oportunamente, estabeleceu-se controvérsia quanto aos fatos alegados pelo autor.
O art. 344, tal como o art. 319 do CPC/73, refere-se ao efeito material da revelia, que é a “presunção” de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor. O dispositivo legal não deixa dúvida de que essa “presunção” diz respeito apenas a alegações de fatos, o que implica dizer que caberá ao juiz analisar livremente os temas de direito, não sendo a revelia garantia alguma de procedência do pedido do autor. De acordo com o STJ, “a falta de contestação não conduz necessariamente à procedência da ação, porquanto os efeitos da revelia não incidem sobre o direito da parte, mas apenas quanto à matéria de fato” ou, ainda, “na revelia, a presunção de veracidade é relativa, de forma que a sua ocorrência conduz à procedência do pedido se, com as provas dos autos, o magistrado se convencer da existência dos fatos alegados e não contestados.”. Assim também, “A caracterização de revelia não induz a uma presunção absoluta de veracidade dos fatos narrados pelo autor, permitindo ao juiz a análise das alegações formuladas pelas partes em confronto com todas as provas carreadas aos autos para formar seu convencimento”.
A despeito da ausência de apresentação de contestação e declaração dos efeitos da revelia, o réu será intimado através do seu advogado ou por diário oficial. As contestações de todos os atos processuais podem se manifestar no processo a qualquer momento.
É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· Entender os atos processuais:Vimos no início da dessa unidade o que são os atos processuais, bem como as formas de sua apresentação e comunicação. Houve a diferenciação da prática dos atos em processos eletrônicos e processos físicos, mas sempre destacando que a instrumentalidade das formas é princípio a ser aplicado, pois o mais importante é o ato processual atingir sua finalidade sem trazer prejuízos às partes.
· Saber como são feitas a citação e intimação:Como forma de comunicação dos atos processuais, foram indicadas a citação, a intimação e as cartas, sendo destacado o cabimento de cada uma delas. Por exemplo: aprendemos que a carta é expedida quando o ato deve ser praticado fora do juízo competente, e que a citação informa ao réu a instauração da demanda, bem como a intimação informa acerca dos atos praticados e a serem praticados de forma mais ampla.
· Compreender as formas de citação:Em relação à citação, por se tratar de ato de suma importância, abordou-se as suas diferentes formas de realização (oficial de justiça, correios, edital, por hora certa), destacando o cabimento de cada uma dessas formas, lembrando sempre que a citação inválida pode gerar nulidade dos atos praticados.
· Entender sobre conciliação e mediação:Outro ponto estudado foi a audiência de conciliação ou de mediação que, promovendo a intenção conciliadora do legislador, propõe a resolução da demanda sem a instauração do litigio, sem que o réu tenha que apresentar defesas, sem que ocorra a tramitação integral do processo.
· Saber sobre os processos de contestação e impugnação:Não frutífera a audiência preliminar de conciliação ou de mediação, ou não requerida pelas partes, o réu deve apresentar defesa. Analisadas as diversas espécies de defesa, tem-se que a contestação é o momento de o réu alegar praticamente toda a sua matéria de defesa (à exceção das matérias de ordem pública e de nulidade absoluta, que podem ser alegadas a qualquer momento). Desde preliminares até a reconvenção, passando pela matéria de direito/mérito, indicação de provas, exceções etc. Foi ensinado o ônus da impugnação específica, sob pena de serem declarados como verdadeiros os fatos narrados pelo réu (revelia e seus efeitos), e a regra de concentração da defesa, que se traduz justamente na necessidade de apresentar toda a matéria de defesa.
· Entender sobre a contestação com base na incompetência ou impedimento:Por fim, adentramos em preliminares de contestação específicas, como a incompetência e o impedimento ou suspeição do juiz, lembrando que, se descoberta tardiamente, a suspeição ou impedimento do magistrado pode ser alegada a qualquer momento e pelo autor, não sendo de exclusividade do réu.
REFERÊNCIAS
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria do processo e processo de conhecimento. 17. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017.
BUENO, Cassio Scarpinella (coordenador). Comentários ao código de processo civil – volume 2. São Paulo: Saraiva, 2017.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Presidência da República, Secretaria Geral, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 13 nov. 2019.
BRASIL, Lei nº11.419/2006, de 19 de dezembro de 2006. Presidência da República, Secretaria Geral, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11419.htm. Acesso em: 13 nov. 2019.
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. Ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. v.1.
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DOLLORE, Luiz; ROQUE, André Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar Duarte. Processo de conhecimento e cumprimento de sentença: comentários ao CPC de 2015. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros comentários ao novo Código de processo civil: artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

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