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Direito das Obrigações

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1 Introdução ao Direito das Obrigações
Para compreender o Direito das Obrigações, primeiramente, analisa-se a relação desse ramo do Direito Civil com os demais ramos do Direito Privado. Depois, apresenta-se esse ramo do Direito dentro do Código Civil de 2002, que unificou as normas que disciplinam este conteúdo. Por fim, analisam-se conceitos essenciais para o Direito das Obrigações, quais sejam: dever moral, dever social, dever jurídico, débito, responsabilidade, obrigação em sentido estrito, sanção e coação.
Assista aí
Enriqueça seu conhecimento! Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=TgMSJQ5VyEw&feature=emb_title
1.1 Direito das Obrigações em relação aos outros ramos do Direito
De acordo com Carlos Gonçalves (2019, p. 18), o Direito das Obrigações nada mais é que um conjunto de normas que “regem relações jurídicas de ordem patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro”. Nesse sentido, o mesmo autor destaca que se trata de uma esfera do Direito Civil com grande relevância econômica, pois abrange todas as relações patrimoniais.
O Direito das Obrigações possui uma conexão direta com outros ramos do Direito, como o direito do consumidor que, apesar de possuir regramento específico (Código de Defesa do Consumidor), utiliza os direitos obrigacionais como seu regramento geral e suplementar. Muito além do direito do consumidor, a compreensão do Direito das Obrigações é fundamental para o entendimento de todos os ramos do Direito Privado. Nesse sentido, afirma Orlando Gomes (1981, p. 5): “o estudo de vários institutos dos outros departamentos do Direito Civil depende do conhecimento de conceitos e construções teóricos do Direito das Obrigações, tanto mais quanto ele encerra, em sua parte geral, preceitos que transcendem sua órbita e se aplicam a outras seções do Direito Privado” (apud GOMES, 2019, p. 34). Deste modo, é evidente a importância do Direito das Obrigações não só em sua esfera propriamente dita, mas para o Direito Privado como um todo, pois muito além de ecoar em outros ramos do Direito Civil, ele é pilar conceitual de todos os demais.
1.2 Unificação do Direito das Obrigações no Código Civil
Até a entrada em vigência do atual Código Civil, publicado em 2002, o Direito das Obrigações era disciplinado em dois códigos distintos: O Código Civil (1916) e o Código Comercial (1850). Assim, o atual Código Civil absorveu matérias que eram disciplinadas no Código Comercial que tratavam do Direito das Obrigações, quais sejam, o Direito de Empresa e os títulos de crédito. Assim, a Parte Primeira do Código Comercial foi revogada (arts. 1º a 456). De acordo com Miguel Reale (1999, p. 5), o que na realidade se fez foi consolidar e aperfeiçoar o que já estava sendo seguido no País, que era a unidade do Direito das Obrigações. Como o Código Comercial de 1850 se tornara completamente superado, não havia mais questões comerciais resolvidas à luz do Código de Comércio, mas sim em função do Código Civil (apud GONÇALVES, p. 35 e 36).
Nesse sentido, atualmente, o Direito das Obrigações se encontra disciplinado de forma unificada no Código Civil em sua Parte Especial, Livro I, artigos 233 a 965.
1.3 Acepções de obrigação
Segundo o doutrinador Caio Mario da Silva Pereira (2018), o ordenamento social é repleto de obrigações, deveres e imposições, sejam estas advindas da relação do indivíduo com o Estado, ou até mesmo dentro de seu núcleo familiar, por exemplo.
Nem todos os deveres penetram o ordenamento jurídico, como é o caso do dever moral ou do dever social, que, ainda que relevantes, não podem ser exigidos judicialmente, possuindo mero repúdio social como mecanismo para seu cumprimento. Por sua vez, o dever jurídico é justamente aquele que pode ser exigido judicialmente, pois possui sanções coercitivas, ou seja, possíveis interferências do Estado para o seu cumprimento (PEREIRA, 2018). Dever jurídico não é sinônimo de obrigação, pois permeia outros ramos do direito, como o Direito Penal, onde temos como exemplo o dever jurídico de não matar. Contudo, o dever jurídico costuma estar no bojo da obrigação.
Para o Direito das Obrigações, o vocábulo “obrigação” possui sentido estrito, sendo este “o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir da outra prestação economicamente apreciável” (PEREIRA, 2018, n. p.). Ainda, nas palavras de Gonçalves (2019, p. 17), "o Direito das Obrigações, todavia, emprega o referido vocábulo em sentido mais restrito, compreendendo apenas aqueles vínculos de conteúdo patrimonial, que se estabelecem de pessoa a pessoa, colocando-as, uma em face da outra, como credora e devedora, de tal modo que uma esteja na situação de poder exigir a prestação, e a outra, na contingência de cumpri-la".
Frisa-se a compreensão da obrigação como dever juridicamente relevante, economicamente mensurável, que se estabelece entre sujeitos e que pode ser exigido judicialmente se necessário. Ao tratar da obrigação em seu sentido estrito, é importante compreender dois conceitos: débito e responsabilidade. Trata-se da Teoria Dualista do Direito das Obrigações, adotada pelo Direito Civil brasileiro. Débito é o dever de um sujeito da obrigação de satisfazer a prestação ajustada, enquanto a responsabilidade nada mais é que uma consequência do não cumprimento de uma obrigação (SIMÃO, 2013).  
Toma-se como exemplo dois sujeitos, João e Carlos. João decide vender seu automóvel para Carlos. Então, João deve entregar o veículo a Carlos, que, por sua vez, deve pagar pelo bem adquirido. Se Carlos decide não pagar pelo veículo, ou seja, não cumprir com o débito que satisfaz sua prestação, nascerá para este a responsabilidade, que tem como consequência afetar o patrimônio de quem não satisfez sua prestação, conforme preceitua o artigo 391 do Código Civil.
Em síntese, conforme ensinamento de Gonçalves, a responsabilidade é “a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional” (2019, p. 51). Em outras palavras, a responsabilidade no Direito das Obrigações é uma garantia contra eventual inadimplemento de um dever obrigacional, trazendo consequências em caráter coercitivo, visando o adimplemento da obrigação (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
1.4 Sanção e coação
No âmbito do Direito das Obrigações, as sanções se apresentam como mecanismos de coação, que visam, inicialmente, o cumprimento das prestações ajustadas por sujeitos que contraem uma obrigação. Diretamente relacionada com o conceito de responsabilidade, a sanção se dá dentro da esfera do patrimônio da parte. Nesse sentido, destaca-se a redação do artigo 389, do Código Civil: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.” (BRASIL, 2002, on-line).
Neste ponto, é importante destacar o caráter patrimonial da sanção e, consequentemente, da responsabilidade para o Direito das Obrigações. Esta natureza patrimonial possui embasamento constitucional, pois a Constituição da República impossibilita a chamada “prisão civil” no Brasil” em seu artigo 5º, LXVII: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel” (BRASIL, 1988, on-line). Assim, veda-se a possibilidade da responsabilização pessoal do devedor.
Destaca-se que a regra da responsabilização patrimonial no Direito das Obrigações não possui exceções no ordenamento brasileiro. Apesar do dispositivo constitucional acima apontado permitir a prisão civil do devedor de alimentos, esta não possui caráter punitivo e nem visa satisfazer a obrigação, sendo, portanto, um mero mecanismo de coerção pessoal dentro da esfera da responsabilidade patrimonial (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Assista aí
2 Conceito, elementos e sujeitos da obrigação
Primeiramente, apresenta-se o conceito de obrigação. Segundo Carlos Gonçalves (2019, p. 37),
obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo)o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se com o cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível.
No mesmo sentido, é a definição dada pelo doutrinador Washington de Barros Monteiro (1997, p. 8 apud GONÇALVES, 2019, p. 27), que diz que obrigação é “a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio.”
Ainda, suscintamente, segundo Orlando Gomes (2005, p. 15), a obrigação é “um vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa fica adstrita a satisfazer uma prestação em proveito de outra” (apud FARIAS; ROSENVALD, 2017). Tendo como base as definições consonantes acima apresentadas, identificam-se três elementos principais que compõem a obrigação: 
· 
· 
· 
Nesse sentido, analisam-se os elementos supra listados. Posteriormente, distingue-se direito obrigacionais e direitos reais e, por fim, traz-se uma definição das chamadas obrigações naturais.
2.1 Elemento objetivo ou material: a prestação
A prestação é o elemento palpável da obrigação, que também é chamado pela doutrina de “elemento material”. O elemento objetivo nada mais é que a prestação, que, por sua vez, se traduz em uma conduta ou ato humano: dar, fazer ou não fazer. Dar e fazer são condutas positivas, enquanto não fazer é uma conduta negativa (GONÇALVES, 2019).
Conforme o artigo 104 do Código Civil, o objeto da obrigação deve ser lícito, possível (possibilidade jurídica e física), determinado ou determinável (ainda que inicialmente indeterminado, deve ser possível determina-lo no momento da execução). Por fim, o objeto da obrigação deve ser economicamente mensurável, ou seja, deve ter capacidade de se traduzir patrimonialmente (PEREIRA, 2018).
2.2 Elemento subjetivo: os sujeitos da obrigação
Toda obrigação é composta de, ao menos, dois sujeitos, sendo que um exercerá o papel de sujeito ativo (credor) e o outro de sujeito passivo (devedor). Ambos sujeitos podem ser pessoas naturais ou jurídicas, determinados ou determináveis. Ainda, em uma mesma obrigação, podem existir múltiplos credores e/ou devedores. O sujeito ativo, o credor, é a quem se deve a prestação, podendo exigir o cumprimento desta. Por sua vez, o sujeito passivo, o devedor, é quem deve satisfazer a pretensão do credor (GONÇALVES, 2019).
2.3 Elemento imaterial ou abstrato: o vínculo jurídico
O vínculo jurídico é elemento imaterial que une os sujeitos da obrigação, ou seja, que une credor e devedor, possibilitando que o primeiro possa exigir a prestação do segundo. É este o elemento que garante a sujeição do devedor ao credor, tanto na esfera do débito quanto na responsabilidade, criando uma coerção para que o sujeito passivo cumpra a prestação que é devida. Nas palavras de Farias e Rosenvald (2017, p. 82),
é exatamente o vínculo jurídico que confere a coercibilidade à relação obrigacional. Assim sendo, garante-se o cumprimento da prestação avençada, porque, se não cumprida voluntariamente, enseja a atividade substitutiva da vontade do devedor, através da atuação do Estado-juiz, que vai se imiscuir no patrimônio do devedor para retirar a quantidade de patrimônio suficiente para solver a dívida.
Percebe-se que o vínculo jurídico é, na verdade, formado pelo binômio débito e responsabilidade - conceitos já trabalhados anteriormente - afinal, o débito é o dever do devedor de cumprir a prestação, enquanto a responsabilidade é a possibilidade do credor de exigir a prestação do devedor, caso este não a cumpra voluntariamente.
2.4 Obrigações naturais
Para compreender as obrigações naturais, categoria especial de obrigação, deve-se antes entender o conceito de obrigação perfeita e obrigação imperfeita. A obrigação perfeita é obrigação civil, reunindo em um mesmo sujeito, o débito e a responsabilidade. Em outras palavras, trata-se da obrigação em que é devida uma prestação ao credor pelo devedor, sendo que o credor pode exigir esta do devedor, se não for cumprida voluntariamente. Por sua vez, obrigação imperfeita é aquela em que ou não há débito, ou não há responsabilidade, ou então em que ambos elementos estão presentes, mas recaem sobre sujeitos distintos.
Na esfera das obrigações imperfeitas, quando há responsabilidade sem débito, tem-se as garantias prestadas por terceiro, como ocorre na fiança, por exemplo. Já quando há débito sem responsabilidade, tem-se as chamadas obrigações naturais, onde há prestação, mas não há possibilidade de que esta seja exigida judicialmente. Como exemplo, tem-se as dívidas de jogo ou de aposta, disciplinadas pelo artigo 814 do Código Civil (FARIAS; ROSENVALD, 2017). As obrigações naturais não são um mero dever moral, que é externo à esfera jurídica. Ao mesmo tempo, não possuem responsabilidade, portanto, se diferem das obrigações civis (PEREIRA, 2018). Assim, trata-se de uma entidade intermediária, de uma situação anômala externa à obrigação civil, que é perfeita.
2.5 Distinção entre direitos obrigacionais e direitos reais
Os direitos obrigacionais e o os direitos reais possuem como ponto de interseção o fato de serem ramos do Direito Privado que tratam de patrimônio, todavia, são ramos muito distintos.
Como já conceituado, os direitos obrigacionais são aqueles em que há um vínculo entre dois sujeitos, no qual o credor tem o direito de exigir determinada prestação economicamente mensurável do devedor, podendo pleitear judicialmente a prestação, se necessário. No que diz respeito aos direitos reais, também conhecidos como direito das coisas, estes trabalham com a relação entre sujeito e coisa. Em outras palavras, segundo Carlos Gonçalves (2019, p. 23): “é poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos”.
Analisando-se as principais diferenças entre esses ramos do Direito Civil, primeiramente, quanto ao objeto, observa-se que o direito obrigacional recai sobre a prestação, enquanto o direito real tem como objeto a coisa propriamente dita (GONÇALVES, 2019). Quanto aos sujeitos, segundo Farias e Rosenvald (2017), o direito obrigacional é cooperativo (ao menos dois sujeitos), enquanto o direito real é atributivo (apenas um sujeito, que é quem tem direito sobre a coisa). Ainda, conforme salienta Gonçalves (2019), o sujeito passivo do direito obrigacional é determinado ou determinável, enquanto o do direito real é indeterminável, pois trata-se da coletividade abstrata (todas as pessoas). A indeterminação do sujeito passivo dos direitos reais é intimamente ligada à sua eficácia. A eficácia dos direitos reais é absoluta (erga omnes), ou seja, vale para todos as pessoas. Por sua vez, os direitos obrigacionais possuem eficácia relativa (inter partes), só gerando efeitos para os sujeitos que adentram à obrigação.
Quanto à duração, os direitos obrigacionais são temporários, se extinguindo com o cumprimento da prestação. Já os direitos reais são perpétuos, só se extinguindo com as hipóteses previstas em lei, como a desapropriação. Quanto ao exercício, os direitos obrigacionais são mediatos, pois há a presença do devedor, enquanto os direitos reais são imediatos, pois seu exercício se dá diretamente na coisa (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Por fim, aponta-se que os direitos reais são numerus clausus (rol taxativo), ou seja, todos os direitos existentes nesse ramo do Direito Civil estão previstos em lei (art. 1.225, CC). Já os direitos obrigacionais são numerus apertus (rol exemplificativo), pois são inúmeros e nem todos estão previstos em lei (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Como vimos, os direitos das obrigações são diferentes dos direitos reais. Contudo, existem obrigações híbridas, que integram tanto os direitos das obrigações quanto os direitos reais: são as chamadas obrigações propter rem. Segundo Gonçalves (2019, p. 30), essas obrigações “têm características de direito obrigacional, por recair sobre uma pessoa quefica adstrita a satisfazer uma prestação, e de direito real, pois vincula sempre o titular da coisa”. Existem várias obrigações propter rem espalhadas pelo Código Civil, como, por exemplo, a obrigação dos condôminos de não alterar a fachada do prédio (art. 1.336, III, CC).
Assista aí
3 Princípios do Direito das Obrigações
Como ramo do Direito Privado, o Direito das Obrigações se sujeita aos princípios gerais do Direito Civil, como a boa-fé, função social, autonomia privada, dentre outros. Para além destes, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2017) apontam três princípios de excepcional importância para o Direito Obrigacional disciplinado no Código Civil de 2002: socialidade, eticidade e operabilidade.
Princípio da socialidade
Princípio da eticidade
Princípio da operabilidade
4 Fontes das obrigações
Segundo Maria Helena Diniz (2007, p. 40), as fontes das obrigações são “os reguladores de relações particulares, entre duas ou mais pessoas, tendo por objeto determinada prestação”. A doutrinadora aponta duas fontes: a lei e o fato jurídico, que por sua vez se decompõe em fato jurídico voluntário (ato jurídico e negócio jurídico) e fato jurídico involuntário (ato ilícito).
Importante destacar que ambas as fontes dialogam, pois em todas as obrigações há a presença do fato humano e a atuação do ordenamento jurídico (PEREIRA, 2018).
4.1 Lei como fonte das obrigações
Pereira (2018) preconiza que a lei é fonte primária de todo direito. No mesmo sentido é o entendimento de Maria Helena Diniz (2007), que afirma que é o direito que dá significação jurídica aos fatos humanos e, especificamente no Direito das Obrigações, é a lei que garante a formação do vínculo obrigacional.
Sempre presente como fonte, a lei ora atua como fonte imediata, ora atua como fonte mediata da obrigação. A lei é fonte imediata nas situações em que a obrigação decorre, exclusivamente, da vontade do Estado, ou seja, nos casos em que a obrigação é determinada diretamente pela lei, a exemplo da obrigação alimentar (art. 1.696, CC). Já o papel de fonte mediata da lei se dá quando a obrigação decorre do fato jurídico, pois aqui a fonte imediata será a vontade dos sujeitos manifesta no fato jurídico, e a lei agirá respaldando esse fato (GONÇALVES, 2019).
Neste sentido, "pode-se, assim, resumidamente, dizer que a obrigação resulta da vontade do Estado, por intermédio da lei, ou da vontade humana, por meio do contrato, da declaração unilateral da vontade ou do ato ilícito. No primeiro caso, a lei atua como fonte imediata, direta, da obrigação, nos demais, como fonte mediata ou indireta" (GONÇALVES, 2019, p. 50).
4.2 Fato jurídico voluntário como fonte das obrigações: ato jurídico e negócio jurídico
Por fato jurídico voluntário, entende-se ser o fato que produz efeitos queridos pelo sujeito. Tal categoria de fato jurídico abrange os atos jurídicos e os negócios jurídicos.
Ato jurídico, em sentido estrito, “é o que gera consequência jurídica prevista em lei e não pelas partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada” (DINIZ, 2007, p. 42). Já negócio jurídico é quando “se procura criar normas para regular interesses nas partes, harmonizando vontades aparentemente antagônicas” (DINIZ, 2007, p. 42). Resumidamente, negócio jurídico possui efeitos oriundos das vontades das partes, previamente negociadas entre elas, enquanto o ato jurídico em sentido estrito é aquele que só possui os efeitos previstos em lei, mas que também eram pretendidos pelo sujeito.
4.3 Fato jurídico involuntário como fonte das obrigações: ato ilícito
Ainda seguindo o entendimento de Maria Helena Diniz, define-se fato jurídico involuntário como aquele que gera efeitos alheios à vontade do agente, o que ocorre nos casos de ato ilícito. Aqui, tem-se apenas consequências indesejadas pelo agente, previstas em lei, como as sanções (DINIZ, 2007). Os atos ilícitos foram definidos expressamente no Código Civil, em seus artigos 186 e 187, sendo que suas consequências se encontram previstas nos artigos 927 e seguintes.
5 Atos unilaterais
Como regra geral no Direito das Obrigações, as declarações unilaterais de vontade de um sujeito são fatos irrelevantes do ponto de vista da constituição de uma obrigação. Normalmente, o Direito das Obrigações trata de situações onde há convergência de declarações de vontades de mais de um sujeito, que formam um vínculo obrigacional entre si.
Todavia, excepcionalmente, atos unilaterais (declarações unilaterais de vontade) constituem obrigações para o sujeito, seja colocando-o como sujeito ativo ou passivo de uma obrigação (COELHO, 2012). O Código Civil apresenta, em seu Título VII, quatro tipos de atos unilaterais geradores de obrigação: promessa de recompensa (arts. 854 a 860), gestão de negócios (arts. 861 a 875), pagamento indevido (arts. 876 a 883) e enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886).
5.1 Promessa de recompensa
A promessa de recompensa ocorre quando um sujeito se compromete a recompensar ou gratificar um terceiro que preencher certos requisitos pré-estabelecidos. Este sujeito que promete a recompensa é chamado de “promitente” e, ao se comprometer, fica vinculado aos termos de sua declaração, se tornando devedor desta (COELHO, 2012). Nesse sentido, ressalta-se o artigo 855 do Código Civil, que estabelece que quem preencher os requisitos estabelecidos pelo promitente tem direito de exigir a recompensa. Por fim, ressalta-se que, como pontua Coelho (2012), pode-se prometer recompensa por qualquer ato, fato, coisa, fazer ou condição, basta que recompense-se algo lícito.
5.2 Gestão de negócios
Como regra geral, uma pessoa pratica atos só em nome próprio, ou em nome de terceiro através de representação (uma procuração, por exemplo). Todavia, existem situações em que um sujeito pratica atos sem ser representante legal ou contratual de outro sujeito, mas que geram obrigações para o último. É o caso da gestão de negócios. Conforme o artigo 861 do Código Civil, a gestão de negócios ocorre quando “aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com que tratar” (BRASIL, 2002, on-line). O dono do negócio deve ser imediatamente comunicado (art. 864, CC).
5.3 Pagamento indevido
É a hipótese em que alguém recebe algo que não lhe era devido, nascendo assim a obrigação de restituir (art. 876, CC). Por exemplo, se Amanda paga a pessoa errada, quem receber o pagamento de Amanda tem dever de restituir o valor recebido. Todavia, conforme artigo 877, cabe a Amanda provar que realizou o pagamento indevido em razão de um erro.
Observa-se na redação desse artigo que, na verdade, o dono do negócio só fica vinculado em relação a atos praticados em atenção aos seus interesses e, ainda segundo o Código Civil (art. 862), se a gestão for contrária aos interesses do dono, caberão sanções contra aquele que interviu em seu negócio.
5.4 Enriquecimento sem causa
O Código Civil conceitua o enriquecimento sem causa de maneira clara e objetiva em seu artigo 884: “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, quando um sujeito adquirir vantagem patrimonial em função de terceiro sem fundamento jurídico para isso, nasce a obrigação de compensar o sujeito prejudicado (COELHO, 2012).
6 Classificação das obrigações
São várias as classificações possíveis para as obrigações, que variam de doutrinador para doutrinador. Para fins didáticos, apresentam-se aqui as classificações utilizadas pelo Código Civil expressamente, ou seja: obrigações de dar (arts. 233 a 246), obrigações de fazer (arts. 247 a 249), obrigações de não fazer (arts. 250 e 251), obrigações alternativas (arts. 252 a 256), obrigações divisíveis e indivisíveis (arts. 257 a 263) e obrigações solidárias (arts. 264 a 285).
6.1 Obrigações de dar
Nas obrigações de dar, o devedor tem o dever de entregar um bem móvel ou imóvelpara seu credor. O cumprimento da obrigação de dar bem móvel ocorre com a tradição, enquanto o cumprimento da obrigação de dar bem imóvel se dá com o registro (GONÇALVES, 2019).
Segundo Diniz (2007, p. 70), "são consideradas como prestações de coisa as obrigações do vendedor e comprador, do locador e locatário, do doador e do depositário (CC, art. 627), do segurador e do segurado (CC, art. 757), do comodatário, do rendeiro ou censuário (CC, art. 810), do mutuário (CC. 586) etc."
A obrigação de dar pode se referir a dar coisa certa ou incerta. Coisa certa é a coisa individualizada, perfeitamente determinada em gênero, quantidade e quantidade. Por exemplo, ao comprar uma obra de arte de um certo artista, tem-se coisa certa, pois nenhuma outra obra poderá substituir aquela precisamente. Já a coisa incerta é a coisa desprovida de individualidade, apenas definida quanto ao seu gênero e quantidade, logo, desprovida de sua qualidade. Por exemplo, um restaurante ao comprar uma caixa de cebolas, sem especificação de qualidade (GONÇALVES, 2019).
6.2 Obrigações de fazer
A obrigação de fazer é aquela em que o credor busca um ato ou serviço a ser executado pelo devedor. Ao contrário do que ocorre na obrigação de dar, aqui busca-se a conduta do devedor, não o bem que possa resultar dessa conduta. Para avaliar se uma obrigação é de dar ou de fazer, deve-se analisar o que prepondera: se é a coisa em si, ou se o a coisa é uma mera consequência do fazer (FARIAS; ROSENVALD, 2017). 
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Figura 1 - Conceitos preliminares das obrigações do fazerFonte: Adaptado pela autora.
#PraCegoVer: Na imagem, temos uma representação gráfica em três níveis: o primeiro, e maior, apresenta o Direito das obrigações como conjunto de regras jurídicas; na sequência, interliga dois importantes conceitos da obrigação do fazer: o credor, com a capacidade de exigir determinada prestação econômica ou determinado comportamento e, o devedor, que tem o dever de cumprir prestação econômica ou omissão de comportamento. Além disso, para o devedor, o patrimônio garante o cumprimento da prestação.
A obrigação de fazer pode ser fungível ou infungível. Veja a seguir:
	Fungível
	
	Infungível
	
No caso de obrigação infungível, se o devedor inadimplir com sua obrigação, o que torna a obrigação impossível por ser a prestação personalíssima, deverá indenizar o credor por perdas e danos, salvo se não teve culpa no inadimplemento (arts. 247 e 248, CC). Noutro giro, em caso de obrigação fungível, se o devedor inadimplir com culpa, o credor poderá contratar terceiro para cumprir a prestação e os custos serão suportados pelo devedor, que ainda poderá incorrer em perdas e danos (art. 249, CC). 
O cumprimento de uma obrigação de dar coisa só é possível se a coisa for certa. Então, a coisa incerta deve se tornar certa no momento do adimplemento da prestação, através da chamada concentração da obrigação, que nada mais é que a individualização da coisa que acontece através da escolha. Em regra, a escolha da qualidade cabe ao devedor, mas as partes podem determinar em contrato que o credor pode ser o responsável por realizar a individualização da coisa, conforme artigo 244, CC (DINIZ, 2007).
O Código Civil, ao disciplinar as obrigações de dar, se preocupou com a possibilidade de perda ou deterioração da coisa, pois são situações que impossibilitam o cumprimento da obrigação do modo em que tenha sido pactuada entre as partes. A perda ou deterioração ocorre antes da tradição do bem do devedor para o credor e suas consequências dependem da presença ou não de culpa do devedor.
No caso das obrigações de dar coisa certa, se houver perda total, ou seja, perecimento da coisa, a obrigação se torna impossível e o contrato se resolve por inadimplemento. Contudo, se houver culpa, a obrigação também se resolve, mas o devedor responderá pelo equivalente do valor da coisa, mais perdas e danos (art. 234, CC). Em caso de perda parcial de coisa certa, ou seja, de deterioração, caberá ao credor decidir se aceita a coisa no estado em que se encontra, ou se a obrigação se torna impossível. Caso escolha receber a coisa deteriorada, haverá o devido abatimento do valor do bem, para que o credor não fique prejudicado (art. 240, CC). Já no caso das obrigações de dar coisa incerta, como o objeto não é individualizado até o momento do adimplemento da obrigação, não é possível que o devedor alegue perda do objeto (art. 246, CC).
Por fim, observa-se a obrigação de restituir, subespécie da obrigação de dar, prevista nos artigos 238 a 240 do Código Civil. São as hipóteses que se caracterizam “pela existência de coisa alheia em poder do devedor, a quem cumpre devolvê-la ao dono. Tal modalidade impõe àquele a necessidade de devolver coisa que, em razão de estipulação contratual, encontra-se legitimamente em seu poder” (GONÇALVES, 2019, p. 72). É o que ocorre, por exemplo, quando um sujeito aluga um automóvel, contraindo a obrigação de devolver o veículo para a locadora em uma determinada data. Aqui, se a coisa se perder antes de ser devolvida para o credor, sem culpa do devedor, a obrigação se resolve e o credor sofre a perda (art. 238, CC). Contudo, se houver culpa do devedor, este responderá pelo equivalente, mais perdas e danos (art. 239, CC). O mesmo vale para a hipótese de deterioração, pois só caberá indenização em favor do credor se houver culpa do devedor (art. 240, CC).
6.3 Obrigações de não fazer
Enquanto as obrigações de dar e de fazer são consideradas obrigações positivas, por exigirem uma conduta do devedor, as obrigações de não fazer são chamadas de negativas, pois exigem uma omissão por parte do devedor. A obrigação de não fazer tem como foco um dever de abstenção (GONÇALVES, 2019). Em caso de obrigação impossível, sem culpa do devedor, a obrigação de não fazer se extingue (art. 250, CC). Já em caso de descumprimento da obrigação de não fazer com culpa do devedor, o credor pode exigir que este desfaça o ato praticado, quando possível, e ainda há possibilidade de incidência de perdas e danos (art. 251, CC). 
6.4 Obrigações alternativas
Quando uma obrigação possui apenas um objeto, chama-se essa de obrigação simples. Já quando uma mesma obrigação possui múltiplos objetos tem-se uma obrigação composta. Uma obrigação composta pode ser cumulativa, alternativa ou facultativa.
Obrigação cumulativa é aquela em que há mais de uma prestação e a obrigação só será cumprida se todas as prestações forem solvidas. Por sua vez, na obrigação alternativa existem múltiplas prestações, mas basta o cumprimento de uma delas para que a obrigação se dê por cumprida. Para facilitar a memorização, basta lembrar que as prestações da obrigação cumulativa são interligadas por “e” (dar um boi e uma galinha e um porco), enquanto as prestações da obrigação alternativa são interligadas por “ou” (dar um boi ou uma galinha ou um porco) (GONÇALVES, 2019).
Conforme previsão expressa no Código Civil, em seu artigo 252, como regra, a escolha da prestação que bastará para sanar a obrigação será realizada pelo devedor. Quando a prestação é escolhida, ocorre a concentração da obrigação. A presença de um objeto definido fruto da concentração torna a obrigação simples. Segundo Gonçalves (2019), o fundamento por trás da existência das obrigações alternativas é favorecer o cumprimento da obrigação, pois permite ao devedor mais possibilidades de prestações capazes de sanar seu dever.
Devido à multiplicidade de possíveis prestações, deve-se ter atenção com as previsões do Código Civil para o caso de perda do objeto em obrigação alternativa. Se apenas uma das prestações se perder, a obrigação se concentra na prestação restante (art. 253, CC). Se todas as prestações se perderem, sem culpa do devedor, a obrigação se extingue (art. 256, CC). Agora, se todas as prestações se perderem com culpa do devedor, o devedor terá de pagar ao credor o valor correspondente à última prestação que se perdeu e ainda há possibilidade de perdas e danos (art. 254, CC).
Na hipótese de, por estipulação contratual,ter-se estabelecido que a escolha da prestação cabe ao credor, afastando-se assim a regra geral prevista no artigo  252 do Código Civil, se houver perda de uma prestação, o credor poderá escolher se quer que esta seja substituída por uma das prestações alternativas, ou se quer receber o valor da prestação que se perdeu, podendo ainda exigir perdas e danos (art. 255, CC).
6.5 Obrigações alternativas com faculdade de substituição da prestação
Existe uma subespécie de obrigação alternativa chamada obrigação facultativa, que é uma “obrigação simples, em que é devida uma única prestação, ficando, porém, facultado ao devedor, e só a ele, exonerar-se mediante o cumprimento de prestação diversa e predeterminada. É obrigação facultativa de substituição.” (GONÇALVES, 2019, p. 108)
As obrigações facultativas não possuem previsão no Código Civil. Aqui, há a estipulação de objeto principal e objeto substitutivo (secundário ou subsidiário) e caberá ao devedor, e somente a ele, escolher qual objeto pagará para cumprir com a obrigação. Esta é a diferença fundamental entre as obrigações alternativas genéricas e as obrigações alternativas com faculdade de substituição da prestação, pois naquelas pode-se estipular que a escolha da prestação caberá ao credor (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Outra diferença fundamental reside no fato de a obrigação alternativa ser composta, enquanto a obrigação facultativa é simples. Apesar de a obrigação facultativa ter mais de uma prestação possível, do ponto de vista do devedor, para o credor a prestação é só uma e, por isso, simples.
Como aqui todo processo de escolha emana do devedor, caso haja perda do objeto, a obrigação se extingue sem possibilidade de o credor exigir qualquer outra prestação, ou então o devedor poderá meramente realizar o pagamento através de um objeto substitutivo (GONÇALVES, 2019). 
6.6 Obrigações divisíveis e indivisíveis
Nas obrigações divisíveis e indivisíveis, há multiplicidade de sujeitos, ou no polo ativo da obrigação, ou no polo passivo, ou em ambos os polos. Obrigações divisíveis (fracionárias) são aquelas em que é possível que haja cumprimento fracionado, ou seja, a obrigação pode ser dividida entre as partes, sem que a prestação fique prejudicada (art. 257, CC). Por sua vez, as obrigações indivisíveis são aquelas em o objeto é uma coisa ou fato que não pode ser fracionado (art. 258, CC).
Como regra, toda obrigação é divisível, então, obrigações indivisíveis são excepcionais. Quanto à divisibilidade do bem propriamente dito, o Código Civil, em seu artigo 87, define que “bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável do valor, ou prejuízo do uso a que se destinam” (BRASIL, 2002, on-line). Ainda, em seu artigo 88 esclarece que “os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes” (BRASIL, 2002, on-line). Também se destaca aqui a redação do artigo 258, que define que “a obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada razão determinante do negócio jurídico” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, em resumo, pode-se concluir que a indivisibilidade pode ocorrer por três razões distintas: 1) pela natureza da coisa; 2) por vontade das partes; ou 3) por determinação da lei.
Como exemplo de obrigação indivisível pela natureza da coisa, tem-se a obrigação de dar um gato, pois não é possível repartir um animal sem que esse morra (COELHO, 2012). Já como exemplo de indivisibilidade por determinação da lei, tem-se o artigo 1.791, que determina que até que ocorra a partilha, a herança será indivisível para os co-herdeiros.
Analisa-se agora, os efeitos da divisibilidade e da indivisibilidade da prestação. Se a obrigação for divisível e houver pluralidade de devedores, cada devedor será responsável apenas por sua quota-parte da prestação. Havendo pluralidade de credores, cada credor só tem direito a sua parte (art. 257, CC). Assim, por exemplo, em uma obrigação onde duas pessoas devem 200 reais para um credor, cada pessoa só está obrigada a pagar 100 reais, que é sua quota-parte. Agora, em outro exemplo, se uma pessoa deve duas sacas de café para dois credores, cada credor só pode exigir uma saca de café do devedor, o que equivale a sua parte (GONÇALVES, 2019).
Se a obrigação for indivisível, o Código Civil prevê regras distintas para o cumprimento da obrigação. Segundo o artigo 259, no caso de pluralidade de devedores, todos são responsáveis pela dívida toda e, caso apenas um devedor pague a dívida sozinho, poderá cobrar dos demais, sub-rogando-se no direito do credor (ou seja, assumindo o papel de credor). Esta regra decorre justamente da indivisibilidade da prestação. Nas palavras de Gonçalves (2019, p. 122),
o devedor, demandado por obrigação indivisível, não pode exigir que o credor acione conjuntamente todos os codevedores. Qualquer deles, à escolha do autor, pode ser demandado isoladamente pela dívida inteira. Ressalva-se apenas ao devedor, que solve sozinho o débito por inteiro, sub-rogação dos direitos creditórios, a fim de reaver dos consortes as quotas respectivas. 
Havendo pluralidade de credores, cada credor só terá direito a sua parte. Então, se um devedor decidir pagar a dívida inteira a apenas um credor, ainda assim este poderá ser demandado pelos demais cocredores. Assim, o devedor só cumpre a obrigação se pagar todos os credores, ou se pagar um credor com caução de ratificação dos demais credores (art. 260, CC).  Caso apenas um credor receba a prestação inteira, os outros cocredores poderão cobrar sua parte deste credor (art. 261, CC).
Segundo o artigo 262 do Código Civil, se um dos credores remitir a dívida, ou seja, perdoar a dívida, esta remissão só vale para sua parte da prestação, então, os outros cocredores ainda poderão exigir sua parte da dívida, sem, é claro, poderem exigir a quota-parte da dívida que era do credor que realizou a remissão da dívida. Então, por exemplo, se João deve dez sacas de café para cinco credores (duas sacas para cada) e um dos credores decide remir a dívida, João ainda deve um total de oito sacas de café (duas sacas para cada um dos quatro credores que não perdoaram a dívida).
Por fim, aponta-se que, nas obrigações indivisíveis com mais de um devedor, caso haja inadimplemento, deve-se observar a culpa de cada um. Se todos forem culpados pelo descumprimento da obrigação, todos responderão pelo equivalente da prestação, mais perdas e danos. Contudo, se a culpa for de apenas um devedor, todos respondem pelo valor equivalente, mas apenas o culpado responderá por perdas e danos (art. 263, CC). 
6.7 Obrigações solidárias e obrigações indivisíveis
Uma obrigação é solidária quando há multiplicidade de credores e/ou devedores e todos os credores têm direito à dívida toda, enquanto cada devedor é responsável pelo adimplemento da dívida toda. As obrigações solidárias estão disciplinadas no Código Civil, nos artigos 264 a 285. Quando há multiplicidade de devedores, há solidariedade passiva. Quando há multiplicidade de credores, há solidariedade ativa (PEREIRA, 2018). Nesse sentido, as principais características da obrigação solidária são, segundo Gonçalves (2019, p. 132):
a) pluralidade de sujeitos ativos ou passivos; b) multiplicidade de vínculos, sendo distinto ou independente o que une o credor a cada um dos codevedores solidários e vice-versa; c) unidade de prestação, visto que cada devedor responde pelo débito todo e cada credor por exigi-lo por inteiro. A unidade de prestação não permite que esta se realize por mais de uma vez; se isto ocorrer, ter-se-á repetição (CC, art. 876); d) corresponsabilidade dos interessados, já que o pagamento da prestação efetuado por um dos devedores extingue a obrigação dos demais, embora o que tenha pago possa reaver dos outros as quotas de cada um.
É muito importante diferenciar as obrigações solidárias das obrigações indivisíveis, pois as duas se assemelham pela pluralidadede sujeitos e pela possibilidade de a obrigação ser demandada de apenas um devedor. A primeira diferença consiste no fato de que, na obrigação indivisível, um devedor só poderá ser demandado pela dívida toda em razão da impossibilidade de se dividir a prestação, enquanto que, na obrigação solidária, a prestação até pode ser divisível, mas, mesmo assim, cada devedor será responsável pelo todo. Em outras palavras, na obrigação indivisível, ainda que o devedor possa ser demandado individualmente pelo todo, este só deve sua quota-parte. Já na obrigação solidária, o devedor pode ser demandado pelo todo porque deve o todo. Nesse sentido, diz-se que a obrigação solidária é uma relação subjetiva (recai sobre os sujeitos), enquanto que a obrigação indivisível é objetiva (tem a ver com o objeto da obrigação, que é a prestação) (PEREIRA, 2018).
Por fim, Pereira (2018) aponta outra diferença: na obrigação indivisível, caso essa se converta em perdas e danos, a obrigação perde sua indivisibilidade, pois, conforme preceitua o artigo 263 do Código Civil, todos os devedores responderão igualmente por estas. Por sua vez, na obrigação solidária, esta perdura mesmo se convertida em perdas e danos, afinal, não guarda relação com o objeto da obrigação, mas sim com seus sujeitos. 
A diferenciação das obrigações solidárias e das obrigações indivisíveis é tema recorrente em provas de concursos públicos, por exemplo. Assim, é essencial realizar uma leitura comparativa dos artigos que tratam de ambas as modalidades de obrigação no Código Civil.
6.8 Obrigações solidárias ativas, passivas e seus efeitos
Agora, passa-se para uma análise aprofundada das obrigações solidárias. Primeiramente, observa-se que os artigos 265 e 266 do Código Civil trazem dois princípios comuns à solidariedade. O primeiro deles é que solidariedade não se presume, pois deve advir da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC). O segundo princípio trata da possibilidade de uma obrigação solidária poder apresentar diferentes modalidades de obrigação dentro de si, variando entre os devedores e credores (art. 266, CC). In verbis: “A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente para o outro” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, o artigo 266 demonstra que a obrigação solidária pode ser distinta entre os sujeitos sem que, contudo, a obrigação perca sua unidade. Por exemplo, para facilitar o cumprimento da obrigação, pode-se definir que cada devedor pode cumprir sua prestação em um local distinto. O artigo 266 se comunica, diretamente, com uma das principais características da obrigação solidária, que é a multiplicidade de vínculos (GONÇALVES, 2019). Quanto aos efeitos da solidariedade, estes diferem a depender da obrigação solidária ser ativa (quanto aos credores) ou passiva (quanto aos devedores). Conforme preceitua o artigo 267 do Código Civil, na obrigação solidária ativa cada um dos credores pode exigir do devedor a prestação por inteiro e, assim, a obrigação se resolve. Posteriormente, basta que os cocredores realizem acerto com o credor que recebeu a prestação (art. 272, CC). Noutro giro, se nenhum credor solidário demandar a obrigação do devedor, o devedor poderá escolher a quem quer pagar (art. 268, CC).
Caso ocorra perda do objeto da obrigação, esta se converterá em perdas e danos e a solidariedade continuará a existir (art. 271, CC). Se um dos cocredores remitir a dívida em uma obrigação solidária, a remissão valerá para todos os demais, ou seja, a obrigação fica extinta para o devedor em relação a todos os credores. Nesse caso, o cocredor que realizou a remissão deverá ressarcir os demais (art. 272, CC).
O artigo 273 do Código Civil trata da possibilidade de um devedor opor exceções pessoais a um dos credores. “Exceção” é uma palavra técnica utilizada pelo legislador que quer dizer defesa contra uma pretensão, ou seja, um ataque que o devedor pode utilizar contra um credor. Uma exceção pode ser objetiva (aponta vícios da própria prestação) ou pessoal (aponta vícios na relação dos sujeitos da obrigação). Como exemplo de exceções pessoais, tem-se, por exemplo, o caso em que um devedor aponta que o credor não está devidamente representado em um processo. Assim, o que o artigo acima preceitua é que, se o devedor opuser uma exceção pessoal contra um dos credores, esta não afeta os demais credores. Novamente, trata-se da individualização de cada um dos múltiplos vínculos que existem em uma mesma obrigação solidária (GONÇALVES, 2019).
Por fim, ainda tratando da obrigação solidária ativa, observa-se que a coisa julgada em relação a um dos credores beneficia todos os demais, caso seja favorável a eles. Todavia, caso a coisa julgada traga prejuízos, valerá apenas para o credor que participou da causa (art. 274, CC).
Agora, analisam-se os efeitos da solidária passiva, ou seja, nos casos em que há múltiplos devedores, que podem ser executados em conjunto, ou separadamente, sendo que cada um responde pelo todo da prestação (art. 275, CC). Caso um dos devedores solidários venha a falecer, preceitua o Código Civil, em seu artigo 276, que, havendo herdeiros “nenhum destes, será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.” (BRASIL, 2002, on-line). O que o artigo em questão diz, em outras palavras, é que se um devedor morrer, a solidariedade se extingue para seus herdeiros. O conjunto de herdeiros substitui o falecido devedor e os herdeiros entre si não são solidários, ou seja, só podem ser demandados em conjunto. Nenhum herdeiro poderá ser cobrado individualmente pela prestação. (GONÇALVES, 2019).
Caso um devedor tenha sua dívida perdoada, ou seja, remitida, tal fato não será aproveitado pelos demais codevedores (art. 277, CC). Para clarificar o conteúdo desse artigo, tem-se o seguinte exemplo: uma obrigação com três devedores, em que cada um deve uma quota-parte de cinco reais, totalizando-se uma dívida de quinze reais entre eles. Um dos três devedores obtém remissão da sua dívida. Essa remissão não vale para os demais, no sentido de que eles continuam sendo devedores. Todavia, a quota-parte remida não poderá ser exigida deles, então, agora devem em conjunto um total de dez reais.
Ainda nesse exemplo, observa-se que o devedor que adquiriu perdão de sua dívida, continua podendo ser demandado da dívida total – que agora é de dez reais. Isso porque continua sendo devedor solidário. Então, em resumo, “a remissão ou perdão pessoal dado pelo credor a um dos devedores solidários não extingue a solidariedade em relação aos codevedores, acarretando tão somente a redução da dívida, em proporção ao valor remitido” (GONÇALVES, 2019, p. 159). Então, observa-se que o efeito da remissão na solidariedade passiva é diferente da remissão da solidariedade ativa, pois na última a remissão exonera o devedor (art. 272, CC).
Há ainda a possibilidade de que o credor exonere um devedor da solidariedade. Nesse caso, diferentemente do que ocorre na remissão da dívida, o devedor não mais responderá pela obrigação total, mas apenas por sua quota-parte. Os outros devedores se beneficiam da exoneração de um devedor, pois a dívida total da solidariedade diminui (art. 282, CC).
Assim, como ocorre na solidariedade ativa, na solidariedade passiva o legislador também ressaltou a individualidade de cada um dos vínculos obrigacionais da solidariedade. Neste sentido, o artigo 278 do Código Civil determina que “Qualquer cláusula, condição, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes” (BRASIL, 2002, on-line).
Quanto a impossibilidade da prestação, o artigo 279 do Código Civil apresenta as consequências do inadimplemento da obrigação por culpa de um dos devedores solidários. Quando isso ocorre, todos os demais devedores solidários respondempelo encargo de pagar o equivalente, ou seja, arcam com o valor da quota-parte que não foi paga. Contudo, as perdas e danos só são devidas pelo devedor culpado.
Caso o cumprimento da obrigação esteja em mora, se a culpa for de todos os devedores, todos são responsáveis pelo pagamento de juros da mora. Se a culpa for de apenas um devedor, ainda assim responderão pelos juros da mora, contudo, o culpado deverá ressarcir seus codevedores posteriormente (art. 280, CC). Quanto à possibilidade de oposição de exceções por um dos devedores solidários, ressalta-se que não é possível opor ao credor uma exceção pessoal de outro codevedor. Só é possível opor uma exceção pessoal que seja do próprio devedor demandado, ou então uma exceção comum (art. 281, CC). O devedor que for demandado da dívida da solidariedade por inteiro, terá direito de regresso contra os demais codevedores, conforme preceitua o artigo 283 do Código Civil (GONÇALVES, 2019).
Por sua vez, o artigo 284 do Código Civil trata da hipótese de insolvência de um dos codevedores solidários. Quando essa hipótese ocorre, todos os codevedores responderão pela quota deste, ainda que tenham sido exonerados da solidariedade pelo credor. Isso ocorre porque é de pleno direito do credor exonerar um devedor da solidariedade em relação ao crédito, contudo, a exoneração não pode prejudicar direito alheio, que é o que ocorre caso o devedor exonerado não pudesse responder pela eventual insolvência de um codevedor da solidariedade (GONÇALVES, 2019). Para melhor compreensão, tem-se o seguinte exemplo:
1. 
 
2. 
 
3. 
Lucas, Eduardo e Pedro são devedores solidários pela quantia de R$ 30.000,00. O credor decide exonerar Lucas da obrigação, que, na ocasião, pagou o correspondente a sua quota-parte (R$ 10.000,00).
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Finalmente, preceitua o artigo 285 do Código Civil: “Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar” (BRASIL, 2002, on-line). Aqui, segundo o doutrinador Caio Mario Pereira (2018), tem-se situação em que, por algum motivo, na solidariedade existe um devedor principal, como ocorre no caso de fiança, onde há o direito de reembolso do fiador contra o afiançado (devedor principal).
É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· entender o conceito de obrigação, seus elementos, sujeitos e fontes;
· estudar sobre direito das obrigações, suas individualidades e sua relação com as demais ramificações do Direito Civil;
· compreender os princípios do direito das obrigações: princípio da socialidade, princípio da eticidade e princípio da operabilidade;
· aprender conceitos-chave, como dever jurídico, responsabilidade, sanção e coação;
· conhecer as classificações das obrigações, aprofundando-se em cada uma delas, quais sejam: obrigação de dar, fazer e não fazer, além das obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 01 dez. 2017.
COELHO, F. U. Curso de Direito Civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2017. v. 2.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
SIMÃO, J. F. A Teoria Dualista do Vínculo Obrigacional e Sua Aplicação ao Direito Civil Brasileiro. Revista Jurídica da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, São Paulo, v. 3, 2013 Disponível em: http://www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/RJESMPSP/article/view/80/44. Acesso em 26 out. 2019.

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