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Sistema Único de 
Saúde: Legislação 
e Políticas Públicas
Desenvolvimento das Políticas Públicas de Saúde no Brasil
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Me. Luciana Nogueira
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Aline Gonçalves
Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Breve Visão Histórica da Saúde no Brasil;
• Sistema Único de Saúde (SUS);
• Conceito de Saúde.
Objetivos
• Conhecer os principais aspectos históricos da Saúde no Brasil, assim como seus avanços e 
mudanças ocorridas ao longo das décadas em nosso país;
• Compreender o conceito do processo saúde-doença e refletir sobre a sua própria visão 
do tema;
• Conhecer a fundamentação e os princípios dos conceitos do Sistema Único de Saúde no 
Brasil (SUS);
• Ter elucidado que coexistem várias formas de se pensar saúde na sociedade, a fim de 
auxiliar no enfrentamento dos desafios encontrados na prática da profissão.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para 
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no 
material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades 
solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, 
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos 
ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como suges-
tões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpre-
tação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns 
de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, 
além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico 
espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
Desenvolvimento das Políticas 
Públicas de Saúde no Brasil
Fonte: Getty Im
ages
UNIDADE 
Desenvolvimento das Políticas Públicas de Saúde no Brasil
Contextualização
Você acredita que o Sistema Único de Saúde (SUS) funciona de forma igualitária para todos? 
As pessoas têm consciência do que seria um processo saúde-doença e o que determina 
esse processo? 
Para compreendermos o que ocorre na área da saúde como um todo, ou como 
a vida das pessoas é afetada pelo processo saúde-doença, devemos conhecer um 
pouco da cronologia histórica da saúde no Brasil, desde os tempos do Império e da 
chegada da corte portuguesa ao Brasil até os dias de hoje. 
Refletir sobre as reformas sanitárias ocorridas ao longo das décadas e que foram 
obtidas com muita luta social. Saber avaliar os processos que determinam e influen-
ciam na qualidade da saúde das pessoas e a importância da criação de um Sistema 
Único de Saúde, e todas as suas diretrizes e princípios para atender a população.
Perceber que as mudanças na área da saúde são contínuas e que deve se levar em 
consideração as necessidades de todos, independentemente de raça, classe social, 
cultural, entre outros.
Formar uma opinião crítica e refletir sobre a saúde em nosso país é o que preten-
demos com o estudo desta unidade.
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Breve Visão Histórica da Saúde no Brasil
Se pensarmos que na pré-história e antiguidade se imaginava que a doença era 
 resultado de um castigo divino e influência dos maus espíritos, e que a humanidade che-
gou ao ponto de perfurar crânios (trepanação) para espantar os maus espíritos, vemos o 
quanto o entendimento sobre a saúde e a doença evoluiu no decorrer do tempo.
No Brasil não foi diferente. Antes dos portugueses chegarem ao Brasil, as doenças 
presentes aqui eram típicas da região, mas, com a chegada dos navios, trouxeram 
doenças comuns na Europa e que começaram a se propagar aos nativos da região. 
Foi o primeiro grande problema de saúde entre a população, pois os índios não 
 tinham imunidade para combater determinadas enfermidades, bem como os imi-
grantes portugueses para as doenças locais. 
Nesse período, não existia nenhuma preocupação com a saúde no Brasil, e quem 
cuidava da saúde eram os Pajés e curandeiros; com a vinda da corte, as figuras do 
físico-mor e cirurgião-mor surgiram no cenário, com as mesmas funções exercidas em 
Portugal (aplicar penalidades e multas, autorizações para exercício da “arte de curar” e 
fiscalização), e um tempo depois os boticários fizeram parte desse cenário na colônia.
 A arte do boticário, disponível em: https://bit.ly/3n12UEt
Assim, para garantir a saúde no Brasil colônia, diversas medidas foram adotadas 
para adequar as leis e normas que estavam vigentes em Portugal e aplicar aqui, no 
Brasil, e assim agregar as medidas de saúde. Outras figuras que aparecem nesse 
período, responsáveis pela saúde do povo em Portugal, eram os chamados almota-
céis, que tinham como atribuição a fiscalização dos alimentos (e destruição dos que 
estavam em condições inadequadas); atuavam, também, em funções administrativas 
e judiciárias, fiscalização de pesos e medidas, definição de taxas. 
Figura 1 – Cirurgião Negro Colocando Ventosas. Aquarela, 1826. Jean Baptiste Debret
Fonte: rededosaber.sp.gov.br
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UNIDADE 
Desenvolvimento das Políticas Públicas de Saúde no Brasil
A Junta do Protomedicato, espécie de comissão formada por sete deputados que 
possuíam atribuições semelhantes às do Físico-Mor, foi instituída pela rainha D. Maria 
I. Dentre as funções, estava a responsabilidade pelas atividades relacionadas à saúde e 
higiene em Portugal, e, consequentemente, a decisão ampliou-se para o Brasil colônia.
Somente em 1808, 300 anos após o descobrimento, foi criada a primeira or-
ganização nacional de saúde pública no Brasil, junto com o cargo “Provedor-Mor 
de Saúde”, que pode ser considerado um princípio dos serviços de fiscalização que 
foram implementados nos portos. 
Alguns anos depois da Independência do Brasil (em 30 de agosto de 1828), foi 
publicada a lei de Municipalização dos Serviços de Saúde, que transferiu as atribuições 
que eram do físico-mor e cirurgião-mor para as Juntas Municipais. É do mesmo perí-
odo a criação da Inspeção de Saúde Pública implementada no Porto do Rio de Janeiro. 
Para saber mais, acesse os links: 
• Cronologia histórica da saúde pública: https://bit.ly/2S5ADyp
• Físico-Mor/Fisicatura-Mor do Reino, Estado e domínios ultramarinos: https://bit.ly/3icJuc9
• Junta de higiene pública: https://bit.ly/339WRFJ
Como aconteceu em outros países, o Brasil também sofreu grandes transforma-
ções com a Revolução Industrial. Foi um período de grande mudança na organização 
da sociedade e, consequentemente, para a saúde pública. Houve crescimento das 
cidades, aglomerando famílias em locais sem estrutura adequada (saneamento básico), 
levando ao surgimento de endemias e epidemias, fazendo com que o governo pre-
cisasse destinar recursos para saúde com o objetivo de conter a disseminação das 
doenças e prestar atendimento aos doentes. 
Primeiras Décadas do Século XX
O século XX trouxe mais modificações. O começo do século trouxe novos conhe-
cimentos para a administração pública, com a utilização de dados estatísticos para 
compreender a sociedade, inclusive o comportamento das doenças. 
Foi um período de grande crescimento de algumas doenças, como febre amarela 
de malária, epidemias que trouxeram grande impacto na sociedade, com elevado 
número de mortes e interferência no crescimento econômico (prejuízo e dificuldade 
na expansão do capitalismo). 
Associado ao acesso às novas informações sobre os agentes causadores de 
 doenças (melhora na tecnologia e o entendimento de que existia agentes causadores 
de doenças), o governo passou a incentivar as pesquisas biomédicas, em especial 
das doenças tropicais e a de grupos de trabalho, para conter o crescimento dessas 
doenças, utilizando estratégia e força militar para intervir (uso de disciplina e força). 
Foram as primeiras campanhas sanitárias e, apesar da grande resistênciapor parte 
da população da época por falta de entendimento, obtiveram ótimos resultados no 
controle desses processos (por meio do cruzamento do conhecimento científico, da 
competência técnica e a organização do processo de trabalho). 
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Em 25 de maio de 1900, foi criado o Instituto Soroterápico Federal, responsá-
vel pela produção de soros e vacinas contra a peste, e Oswaldo Cruz foi nomeado 
Diretor-Geral de Saúde Pública (cargo que corresponde, hoje, ao do Ministro da 
Saúde). A partir da atuação de Oswaldo Cruz no Instituto, diversas campanhas de 
saneamento foram realizadas, algumas com impacto histórico importante, como a 
campanha contra a febre amarela, que dividiu a cidade em 10 distritos sanitários sob 
responsabilidade de um delegado de saúde. Oswaldo Cruz também incluiu nas ações 
a união de forças da administração federais e a prefeitura, a diretoria geral de saúde 
pública do pessoal médico e limpeza pública dos municípios. 
Saiba mais sobre a história de Oswaldo Cruz em: https://bit.ly/349oMVn
Figura 2 – Médico e Sanitarista Oswaldo Cruz
Fonte: Divulgação
Para conseguir esse controle em uma época em que as regras sanitárias eram 
praticamente inexistentes, foi necessária ação da polícia sanitária, que utilizava força 
militar para combater a febre amarela. Os moradores de locais insalubres eram 
 penalizados com multas e poderiam ser intimados a derrubar ou reformar o imóvel. 
Outra ação importante na época foram as brigadas mata-mosquitos, que faziam a 
inspeção na cidade, limpavam as calhas e telhados, cobravam a proteção de caixas 
d’água, adição de petróleo nos ralos e bueiros e outras ações para destruir os possí-
veis criadouros de larvas e mosquitos.
Após a abolição da escravatura, em 1888, e a instauração da República do Brasil, em 1889, 
o País continuava a sofrer com epidemias e falta de saneamento básico. Sanitaristas nacio-
nais, com destaque para Oswaldo Cruz, começaram a buscar soluções para melhorar esse 
cenário. Oswaldo Cruz encontrou muita resistência ao tentar implantar medidas de sane-
amento básico para a população, bem como regras de higiene básica e a tentativa de va-
cinar a população, o que gerou grande revolta na população leiga. Para impedir que essas 
doenças se espalhassem, o governo destruiu casas, desalojou pessoas e tornou a vacinação 
obrigatória, o que ocasionou uma revolta em 1904, conhecida como a Revolta da Vacina. 
Carlos Chagas sucedeu a Oswaldo Cruz e conseguiu avançar com menos oposição popular. 
E como estamos nos dias atuais? Ainda encontramos resistência por parte da população e 
de alguns governantes para aceitar a implantação de medidas profiláticas contra doenças 
e epidemias?
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UNIDADE 
Desenvolvimento das Políticas Públicas de Saúde no Brasil
Para controle da saúde da população, diversos órgãos foram criados e deixaram de 
existir no decorrer da história da saúde pública em nosso país, tendo alguns marcos 
com a criação do primeiro Ministério da Saúde (em 1930, com o nome Ministério dos 
Negócios da Educação e Saúde Pública); a criação, em 1953, do Ministério da Saúde 
que temos hoje; a criação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em 1991; e a cria-
ção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 1999. A legislação em 
saúde também mudou muito, em especial com a publicação da nova constituição, que 
definiu a saúde como um direito de todos e a lei orgânica do SUS, de que falaremos 
mais adiante. O que podemos perceber é que os sistemas de saúde evoluem com a 
humanidade e estarão em constante adaptação à sociedade e tecnologias. 
Assista ao Filme “História da Saúde Pública no Brasil” (2006). Direção de Renato Tapajós.
Disponível em: https://bit.ly/3cKyLV6
VIII Conferência Nacional de Saúde e Reforma Sanitária no Brasil
Parece estranho começar um texto na oitava conferência em saúde, afinal, tivemos 
sete conferências anteriores. A importância dessa conferência de 1986 foi o contexto em 
que ela ocorreu, tanto mundial, período em que estava ocorrendo uma reorganização 
da visão da saúde, quanto nacional, com mudanças políticas que levaram à mudança de 
nossa Constituição em 1988. Essa conferência foi o pontapé para a Reforma Sanitária 
Brasileira, que culminou na criação do Sistema Único de Saúde (SUS). 
A Reforma Sanitária no Brasil nasceu junto com a luta contra a ditadura, na déca-
da de 1970, e referia-se às diversas ideias apresentadas para transformar o sistema 
de saúde vigente na época, no qual somente os trabalhadores com carteira assinada 
tinham direito à saúde, e os demais deveriam contar com o sistema privado ou com 
as santas casas (instituições beneficentes), resultando em propostas com base na 
universalidade do direito à saúde. 
Um dos nomes que marcou o período foi Sérgio Arouca, médico e sanitarista que, 
em conjunto com grupo de incentivadores, começou a definir as necessidades prio-
ritárias na saúde, uma tarefa difícil, pois dependia de um entendimento abrangente 
do significado da saúde. Nessa época já se tinha o conceito de saúde da OMS, que a 
determinava como o completo bem-estar físico, mental e social. Essas ideias se transfor-
maram em projeto que foi apresentado na Conferência Nacional de Saúde, evento que 
foi presidido por Sérgio Arouca (presidente da Fiocruz, na época). Foi a primeira con-
ferência com participação popular debatendo um novo modelo de saúde para o País. 
O documentário “Oitava: a conferência que auscultou o Brasil”, disponibilizado pela 
Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), traz uma visão da oitava conferência e entrevista com 
 alguns envolvidos na época. Não é nossa intenção debater pontos de vista políticos, mas 
que você perceba a importância desse acontecimento histórico na construção de nosso sis-
tema de saúde atual. Disponível em: https://youtu.be/zZAHdF0fNps
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Foram cinco dias de debates (17 a 21 de março) e mais de quatro mil participan-
tes, divididos em 135 grupos de trabalho, com o objetivo de colaborar para a formu-
lação de um novo sistema de saúde. Três temas principais foram abordados: 
• A saúde como dever do Estado e direito do cidadão; 
• A reformulação do Sistema Nacional de Saúde; 
• O financiamento setorial.
O pronunciamento de Sérgio Arouca durante a oitava conferência reforça a im-
portância do conceito ampliado da saúde e é um marco na história do SUS. 
Assista ao Vídeo de Pronunciamento do sanitarista Sergio Arouca durante a 8ª Conferência 
Nacional em Saúde, realizada em março de 1986, em Brasília (DF).
Disponível em: https://bit.ly/2SctWdL
“‘Reforma Sanitária é a designação que se dá à plataforma política defendida pelo ‘Movimento 
Sanitário Brasileiro’, que representou uma ampla articulação de atores sociais, incluindo mem-
bros dos departamentos de medicina preventiva de várias universidades, entidades como o 
Centro Brasileiro de Estudos (CEBES), fundado em 1978, movimentos sociais de luta por me-
lhores condições de saúde, autores e pesquisadores, militantes do movimento pela redemo-
cratização do país nos anos 1970 e 1980 e parlamentares que faziam a crítica às políticas de 
saúde existentes no Brasil. A ‘Reforma Sanitária’ incluía em sua pauta uma nova organização 
do sistema de saúde no país – com várias características que o SUS afinal adotou –, em parti-
cular uma concepção ampliada dos determinantes sociais do processo saúde-doença e a cria-
ção de um sistema público de assistência à saúde, gratuito com garantia de acesso universal 
do cuidado para todos os brasileiros” (REIS, ARAÚJO e CECÍLIO, s/d, p. 3). 
Com a publicação da nova Constituição em 1988, o Brasil foi definido como Estado 
Democrático de Direito, e as propostas da Reforma Sanitária resultou na tão esperada 
universalidade do direito à saúde ao proclamar em seu texto a saúde como direito 
de todos e dever do estado. Essa constituição, chamada também de “Constituição 
Cidadã”, redefiniu as prioridades do setor da saúde. O texto estabeleceu itens como a 
necessidade da criação de políticas de saúde, controle e participaçãosocial, o direito 
individual e social à saúde, e a necessidade de ações e proteção e promoção à saúde. 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988) 
São diretrizes organizacionais para saúde determinadas na Constituição Federal 
de 1988 (artigo 198): 
I. Descentralização, com direção única em cada esfera de governo.
II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, 
sem prejuízo dos serviços assistenciais.
III. Participação da comunidade. 
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UNIDADE 
Desenvolvimento das Políticas Públicas de Saúde no Brasil
O artigo 198 cita também a forma de financiamento, a partir dos recursos do 
orçamento da seguridade social, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, além da possibilidade da utilização de outras fontes. E obedece, ainda, 
aos seguintes princípios doutrinários e organizativos:
Quadro 1
Doutrinários
• Universalidade;
• Equidade;
• Integralidade.
Organizativos
• Descentralização político-administrativa;
• Conjugação de recursos; 
• Participação da comunidade;
• Regionalização e hierarquização.
Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Lei 8.080, em 19 de setembro 
de 1990. Essa lei é conhecida também como “Lei Orgânica da Saúde” e foi criada 
para cumprir a determinação constitucional de implantação de políticas de saúde. 
Falaremos com detalhes sobre o Sistema Único de Saúde na próxima unidade, mas, 
como é um tema muito importante, deixaremos um quadro com os princípios do 
SUS para que você possa se “aquecer” no tema. 
Princípios do SUS:
I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; 
II – integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das 
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada 
caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III – preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;
IV – igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qual-
quer espécie;
V – direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI – divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua 
utilização pelo usuário;
VII – utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação 
de recursos e a orientação programática;
VIII – participação da comunidade;
IX – descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de 
governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionali-
zação e hierarquização da rede de serviços de saúde;
X – integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamen-
to básico;
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XI – conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de 
assistência à saúde da população;
XII – capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; 
XIII – organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para 
fins idênticos.
Lei 8.080/90
Conceito de Saúde
Apesar de hoje o conceito ampliado da saúde estar amplamente divulgado, con-
ceituar se uma pessoa está saudável ou não é uma tarefa difícil, isso porque, em 
geral, não percebemos a saúde, mas sentimos sua ausência e não existe um limite 
preciso entre saúde e doença, é necessário que o indivíduo aprenda a ouvir os sinais 
apresentados pelo corpo, incluindo a reações sobre os aspectos socioeconômicos e 
culturais, entre outros.
Muitos foram os conceitos adotados para saúde, o primeiro conceito universal de 
saúde foi proposto pela OMS e diz “Saúde é o completo bem-estar físico, mental e 
social e não apenas a ausência de doenças” (divulgado na carta de princípios de 7 de 
abril de 1948, desde então, o Dia Mundial da Saúde). Como esperado, esse conceito 
não agradou algumas pessoas e, em 1977, Christopher Boorse definiu saúde como 
“a ausência de doença”, um conceito que não foi adotado, visto que, naquele período, 
já estava em andamento a reorientação dos conceitos de saúde. 
Em 1981, Leon Kass definiu saúde como “o bem-funcionar de um organismo 
como um todo”, após questionar a influência da saúde mental no bem-estar e, em 
2001, Lennart Nordenfelt definiu a saúde como um estado físico e mental em que 
é possível alcançar todas as metas vitais, dadas as circunstâncias. Esses são 
alguns exemplos de como o conceito evoluiu com o tempo, até a visão global que 
temos hoje.
Na 8ª Conferência Nacional de Saúde, saúde foi definido como o resultante das 
condições de alimentação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, 
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, acesso a serviços de saúde... 
Resultado de formas de organização social de produção, as quais podem gerar pro-
fundas desigualdades nos níveis de saúde. 
Doença é um sinal da alteração do equilíbrio homem-ambiente, estatisticamente rele-
vante e precocemente calculável, produzida pelas transformações produtivas, territoriais, 
demográficas e culturais.
Qualidade de vida é o resultado da adequação das condições socioambientais às exigên-
cias humanas.
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UNIDADE 
Desenvolvimento das Políticas Públicas de Saúde no Brasil
Essa evolução nos conceitos de saúde acompanhou o desenvolvimento da ciência 
e do conhecimento sobre a história natural da doença.
De acordo com Leavell e Clark, a história natural da doença e o resultado da inter-
-relação do agente (AG), do suscetível (Hospedeiro – H) e do meio ambiente (MA) 
que afetam o processo global e o desenvolvimento da doença, desde o estímulo 
patológico, a resposta do ser humano ao estímulo até as alterações que vão levar 
à recuperação, ao defeito, à invalidez ou à morte (LEAVELL e CLARK, 1976), ou 
seja, esse conceito considera a chamada “tríade causal”, a interação de um agente 
causador, um hospedeiro e o meio ambiente para que a doença aconteça. 
Esse modelo da tríade causal valorizava as doenças infectocontagiosas, porém, 
considerando a visão global da saúde, percebeu-se que não é necessário ter um 
agente etiológico para causar uma doença, apesar de ainda podermos aproveitar 
os conceitos. 
Saiba mais sobre História Natural da Doença em: https://bit.ly/3cFznLK
Determinantes Sociais da Saúde
Como vimos, não é possível, atualmente, entender a doença somente pelas altera-
ções fisiopatológicas mensuráveis, sendo necessário incluir nesse item condições como 
sofrimento, dor, valores e sentimentos, que são muitas vezes subjetivos (BRÊTAS e 
GAMBA, 2006), ou seja, para que as ações em saúde sejam eficientes, em especial 
as relacionadas com prevenção e promoção da saúde, é necessário determinar as 
condições ou situações que interferem no estado de saúde. 
A saúde é silenciosa, geralmente não a percebemos em sua plenitude; 
na maior parte das vezes apenas a identificamos quando adoecemos. 
É uma experiência de vida, vivenciada individualmente. Ouvir o próprio 
corpo é uma boa estratégia para assegurar a saúde com qualidade, pois 
não existe um limite preciso entre a saúde e a doença, mas uma rela-
ção de reciprocidade entre ambas; entre a normalidade e a patologia, na 
qual os mesmos fatores que permitem ao homem viver (alimento, água, 
ar, clima, habitação, trabalho, tecnologia, relações familiares e sociais) 
podem causar doenças. Essa relação é marcada pela forma de vida dos 
seres humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e sociais. 
Tal constatação nos remete à reflexão de que o processo saúde-doença 
ocorre de maneira desigual entre os indivíduos, as classes e os povos, 
recebendo influência direta do local que os seres ocupam na sociedade. 
( BRÊTAS; GAMBA, 2006)
De acordo com definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), os determi-
nantessociais da saúde relacionam-se com as condições em que uma pessoa vive e 
trabalha, os fatores sociais, econômicos, socioculturais, étnicos/raciais, psicológicos 
e comportamentais que influenciarão na ocorrência de problemas de saúde e que 
podem ser considerados fatores de risco, como moradia, alimentação, escolaridade, 
renda e emprego.
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Existem diversas formas de abordar esses determinantes, e eles aparecem em 
diversos textos, inclusive na Lei 8.080/90; influenciam não somente a saúde indivi-
dual, mas toda a coletividade. Imagine a seguinte situação: uma comunidade na qual 
exista um chefe local, justiceiro ou traficante, que controla o acesso das pessoas às 
suas casas, determina hora de recolher, entre outras situações. Como você imagina 
a saúde da população que vive nessa comunidade, avaliando a saúde pela perspec-
tiva holística que estamos estudando? Por casos como esse que ressaltamos que os 
determinantes sociais não podem ser avaliados somente pelas doenças geradas, mas 
que influencia todas as dimensões do processo de saúde das populações. 
Uma das formas de organizar os determinantes é por escalas, conforme figura a 
seguir, por meio de uma hierarquia entre os fatores mais gerais até aspectos e natu-
reza individual e genética. 
Figura 3 – Determinantes sociais da saúde
Fonte: ccs.saude.gov.br
Todas as políticas de saúde devem assegurar a redução das desigualdades sociais 
e proporcionar melhores condições de mobilidade, trabalho e lazer para garan-
tir a saúde da população, sem esquecer da conscientização individual sobre sua 
participação pessoal no processo de produção da saúde e da qualidade de vida.
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UNIDADE 
Desenvolvimento das Políticas Públicas de Saúde no Brasil
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Determinantes sociais da saúde
https://youtu.be/ii-fbpUy4iE 
Determinantes sociais da saúde (Conexão SUS)
https://youtu.be/2JJNDeUkVtI
Conceitos e Ferramentas da Epidemiologia – Sistema de Informações em Saúde
https://youtu.be/nACSaI4fEK4
 Leitura
História do conceito de saúde
https://bit.ly/30hTD1b
Determinantes sociais da saúde: portal e observatório sobre iniquidades em saúde
https://bit.ly/3l1tMCx 
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Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
 Brasília/DF: Senado, 1998.
________. Cronologia histórica da saúde pública. Fundação Nacional de Saúde, 
 Ministério da Saúde, 7 ago. 2017. Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/cronolo-
gia-historica-da-saude-publica>. Acesso em: 29/09/2020. 
________. Determinantes Sociais. Pense + SUS, Fiocruz, s/d. Disponível em: <https://
pensesus.fiocruz.br/determinantes-sociais>. Acesso em: 29/09/2020.
________. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Brasília: DF. 1990. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 13/08/2020.
________. 8ª Conferência Nacional de Saúde: quando o SUS ganhou forma. Conselho 
Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, 22 mai. 2019. Disponível em: <https://con-
selho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/592-8-conferencia-nacional-de-saude-quando-
-o-sus-ganhou-forma>. Acesso em: 29/09/2020. 
BRÊTAS, A. C. P.; GAMBA, M. A. Enfermagem e saúde do adulto. Barueri, SP: 
Manole, 2006. 
LEAVELL, H.; CLARK, E.G. Medicina Preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, 1976
OLIVEIRA, M. A. C.; EGRY, E. Y. A historicidade das teorias interpretativas do processo 
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 <https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v34n1/v34n1a02>. Acesso em: 13/08/2020.
REIS, D. O.; ARAÚJO, E. C.; CECÍLIO, L. C. O. Políticas públicas de saúde: Sistema 
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sus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/unidades_conteudos/unidade04/unidade04.
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________. Políticas públicas de saúde no Brasil: SUS e pactos pela saúde. Módulo Po-
lítico Gestor. São Paulo: Unasus; Unifesp, s/d. Disponível em: <https://www.unasus.uni-
fesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Unidade_4.pdf>. Acesso  em: 
13/08/2020. 
UNASUS; UFMA. Princípios e diretrizes do SUS. Disponível em: <http://repocursos.una-
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acervo/handle/ARES/262>. Acesso em: 29 /09/2020. 
VIANNA, L. A. C. Processo Saúde Doença. Especialização Saúde da Família – Módulo 
Político Gestor. São Paulo: Unifesp, 2012. Disponível em: <https://core.ac.uk/download/
pdf/48115879.pdf>. Acesso em: 13 /08/2020. 
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