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Ciências Sociais Aula1

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Ciências Sociais / Aula 1 - Conhecendo o Discurso Político 
Introdução
A Ciência Política é uma área do saber que estuda os fenômenos políticos, o funcionamento de comunidades políticas e a convivência entre os seus membros. Visa, portanto, analisar a política, as estruturas e os processos de governo, utilizando-se de abordagem científica.
Fenômenos como a construção do discurso político, a palavra política no espaço social, a complexidade do campo político: os setores de ação social, entre outras grandezas, serão analisados focando a palavra política e a questão do poder.
Da mesma maneira, será abordada a identidade do sujeito político como uma questão da legitimidade e as estratégias do discurso político, tendo como referencial a retórica política com a finalidade de qualificar os fenômenos políticos. Esta abordagem é muito importante devido à utilização da persuasão no discurso político.
Objetivos
Identificar os fenômenos da construção do discurso político, a palavra política no espaço social, a complexidade do campo político;
Analisar a identidade do sujeito político como uma a questão da legitimidade e as estratégias do discurso político;
Compreender utilização da persuasão no discurso político.
O papel do discurso na construção da vontade coletiva
Costuma-se dizer que todos os discursos são discursos de poder, isso porque todos desejam impor verdades a respeito de um tema específico – seja no domínio da ciência, da moral, da ética, do comportamento etc. Se isso é assim em qualquer discurso, imaginem quando se trata de um discurso político!
Por muito maior razão é possível esse entendimento, na medida em que é próprio do discurso político a luta pelo poder.
Você sabia?
O discurso político, bem como sua forma, é estudado de maneira mais aprofundada desde os tempos da democracia grega, quando a participação do cidadão na vida política da cidade possuía um caráter essencial no processo de formação da vontade coletiva. Ele se caracteriza pela construção discursiva que busca o convencimento de um determinado grupo em assuntos de interesse coletivo e vem sendo considerado um pré-requisito de grande importância para o exercício de uma vida política plena (LIMA e GÓES, 2015).
O discurso político tem por objetivo expressar ideias de forma argumentativa e persuasiva. Seus conteúdos alteram-se de acordo com o contexto (político, social, econômico e jurídico).
As relações construídas com o discurso político
Com a crescente aproximação entre as diversas ciências sociais, em particular o direito e a política, certo é que o discurso político tende a contaminar o discurso jurídico. Aliás, é sempre interessante que coloquemos que a vontade política no Estado contemporâneo necessita da forma jurídica para ganhar validade (e, na maior parte das vezes, também eficácia social).
De toda maneira, há um certo consenso de que devemos abandonar a neutralidade e assumir os ideais democráticos e plurais como valores a serem passados ao nosso aluno. Assim, o estudo acerca da discursividade política deve colocar em evidência a necessidade de que, em um ambiente democrático, é necessária a convivência de discursos conflitantes, sendo que predomina aquele que estiver habilitado a se impor (por melhor convencer) na arena política.
O discurso político tem por característica expressar ideias de forma argumentativa e persuasiva e seus conteúdos se alteram na medida em que são modificados os contextos mental, social, econômico (e, consequentemente, jurídico) vigentes no grupo.
Observa-se que, em sociedades contemporâneas democráticas, é possível que um mesmo sujeito assuma várias posições políticas no decorrer da vida, o que acaba por servir de indicativo que somos todos sujeitos de múltiplos discursos.
Por isso, dado o papel central da discursividade no plano político, o estudo sobre o mesmo mostra que entre a razão, a emoção e a autoridade de quem profere a fala, são vários os prismas pelo qual o discurso político pode ser avaliado. Porém, todos eles devem começar a partir da análise da relação entre política e poder.
Vamos a ela!
A relação entre política e poder
Vamos começar com a afirmação segundo a qual, quando se trata de Política, há aqueles que possuem o poder de fazer valer suas escolhas em um universo de muitas outras possibilidades de escolhas.
Ora, mas o que é o poder?
Não há como falar em política sem falar em poder.
Assim, as condições em que o poder é desempenhado, a forma como os governos o empregam, sua natureza e validade, assim como a relação que há entre o uso e a justificativa para isso tal, serão objeto do nosso encontro de hoje.
Vamos começar afirmando que o poder é um elemento que está presente em quase todas as relações sociais. Mas, aqui vamos nos restringir a analisar o poder sob a lógica das ciências políticas. E, nesse sentido, veremos que, sob esse aspecto, o poder quase sempre vem acompanhado de ideologias utilizadas para justificar ações dos poderosos (que detêm esse poder).
Conforme apontam Lima e Góes (2015), o sociólogo Anthony Giddens, ao tratar da definição de poder, considera que ele é a habilidade de os indivíduos ou grupos fazerem valer os próprios interesses ou as próprias preocupações, mesmo diante da resistência de outras pessoas.
Por vezes, quando não vencem os argumentos do convencimento puro, essa posição está vinculada ao emprego direto da força, como nos casos em que autoridades se utilizam da violência para fazer valer o que almejam. No decorrer não só da história dos povos em geral, mas em especial da história brasileira, muitas vezes, o exercício do poder se deu pelo uso da força bruta (revolução, golpe etc).
Entretanto, embora o poder possa ser exercido de forma ilegítima e até ilegal, é claro que é muito melhor quando ele é exercido de forma legítima e legal.
Fonte: http://goo.gl/hqiohy
Poder legítimo
Aqui, é importante que expliquemos o que estamos chamando de poder legítimo. É aquele que é exercido sob anuência daqueles que a ele estão submetidos.
Nas sociedades contemporâneas democráticas, predominam a dinamicidade, a fragilidade e mesmo a provisoriedade dos discursos políticos.
Tal discursividade no plano político considera a razão, a emoção e a autoridade de quem profere o discurso, daí os vários prismas pelo qual tal discurso político pode ser avaliado.
Identidade do sujeito político como uma a questão da legitimidade e as estratégias do discurso político
Para Charadeau (2007), entrar em contato com o outro ocorre pelo viés de um processo de enunciação de discurso, inclusive político, que consiste em:
Análise do Discurso Político
Para a realização deste processo, o sujeito falante recorre aos procedimentos de enunciação locutivos que estão em vigor no grupo social ao qual pertence e são constituídos pelos rituais sociolinguageiros.
A finalidade desse processo é a adesão às normas sociais de comportamento e pode estar vinculada aos seguintes tipos de argumentação: Logos, Pahos e Ethos.
Logos - Conjunto harmônico de leis que comandam o universo, formando uma inteligência que se manifesta no pensamento humano.
Pathos - Estimula o sentimento de piedade ou a tristeza; poder de tocar o sentimento da melancolia ou o da ternura; caráter ou influência tocante ou patética.
Ethos - Conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de uma determinada coletividade, época ou região. É a origem da ética.
Logos
Trabalho no nível da convicção, a partir do puro raciocínio e das faculdades intelectuais. É o discurso político comprometido com a busca da verdade. O auditório acredita na perspectiva do orador, em razão dos seus motivos e razões.
Pathos
É o discurso que se vincula a instrumentos relativos aos sentimentos/afeto – deslocamentos emocionais para o convencimento do auditório. Importante apontar que nesse discurso, o mais importante para o convencimento do auditório não é a força do argumento, mas a maneiracomo é transmitida para o auditório (alegria, tristeza, orgulho, desejo etc.).
Ethos
A questão de como impor sua pessoa de sujeito falante ao outro, responde à necessidade que o sujeito falante possui de fazer com que seja reconhecido como uma pessoa digna de ser ouvida (ou lida), seja porque a consideramos credível, seja porque podemos lhe atribuir confiança, seja porque ela representa um modelo carismático. Trata-se, aqui, de um processo de identificação que exige do sujeito falante a construção, por si próprio, de uma imagem que tenha um certo poder de atração sobre o auditório, de forma que este conceda ao locutor a sua adesão de maneira quase irracional. É a problemática do ethos, particularmente importante no discurso político (CHARAUDEAU, 2007). Nesse tipo de discurso, percebemos que o elemento determinante do convencimento está relacionado às virtudes do caráter do orador projetando dignidade, confiança e credibilidade.
A Política acaba por se afirmar como um campo de batalha em que se trava uma guerra simbólica para estabelecer relações de dominação ou relações pactuais. Aqui não se trata exatamente de um discurso puro sobre as ideias, mas de um discurso de ideias contaminadas pelo discurso do poder.
Sabe-se que um discurso político pode ser convincente quando fundado em raciocínio claro, baseando-se sobre as faculdades intelectuais e estando voltado para o estabelecimento de verdade. Neste caso, obtém-se a persuasão Ato ou processo de convencimento do outro. por meio de argumentos que levam o auditório a acreditar que a perspectiva do orador é correta.
Segundo Lima e Góes (2015), os discursos se constroem exatamente enquanto buscam a desconstrução daqueles com que rivalizam. Ou seja, aperfeiçoam suas linhas argumentativas a partir das críticas que recebem e também dos embates que se fazem presentes em um quadro (natural) de disputas teóricas. Com isso, fica evidenciada a dinamicidade, a fragilidade e mesmo a provisoriedade dos discursos políticos, principalmente em sociedades democráticas em que a regra é que os discursos estejam sempre sendo confrontados. Isso coloca em evidência o fato de que, em sociedades contemporâneas, seja facilmente perceptível que um mesmo sujeito assuma várias posições políticas no decorrer da vida, o que acaba por servir de indicativo que somos todos sujeitos de múltiplos discursos.
Atenção
Para esses autores, o discurso político não esgota, de forma alguma, todo o conceito de Política, mas não há Política sem discurso. A linguagem é o que motiva a ação, orientando-a e lhe concedendo sentido. A ação política e o discurso político estão indissociavelmente ligados, o que justifica pelo mesmo raciocínio o estudo político através do discurso.
Estando intrinsecamente ligado à organização da vida social, o discurso é simultaneamente:
Voltando a tratar do fenômeno político, como vimos anteriormente, podemos afirmar que ele é produto de várias componentes:
A análise do discurso político toca todas esses componentes. Isso porque cada um desses componentes deixa traços distintivos, o que significa dizer que seu campo é imenso e complexo, mas também que a análise não pode se restringir a somente às ideias que os discursos veiculam.
No entanto, a capacidade do discurso político de atingir seus objetivos depende da habilidade do sujeito em equilibrar com maior destreza as três formas de argumentos que aprendemos ao longo de nossa aula (logos, ethos e pathos).
Obviamente, este equilíbrio depende das circunstâncias de fato que envolvem a fala, bem como dos valores compartilhados pelos integrantes do auditório em que o discurso está sendo proferido.
A utilização da persuasão no discurso político
A cena política se caracteriza por um dispositivo que é posto a serviço de uma expectativa de poder. Segundo Charaudeau (2007), exercer este poder em nome de:
Percebe-se que o discurso político é um lugar de uma verdade condicionada, de “faz de conta” ou de um “fica combinado assim”, já que o que é considerado não é tanto a verdade desta fala lançada publicamente, mas sua força da “verdade” que ela parece ter.

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