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O Exercício Legal e Ilegal da Medicina

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ÉTICA E BIOÉTICA 
Graziela Gonzaga Santana 
REGULAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL DO 
EXERCÍCIO PROFISSIONAL 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
• Art. 5.º → Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no país a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade. 
• XIII → É livre o exercício de qualquer 
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei 
estabelecer. 
• Norma que necessita de regulamentação!!! 
• Trata-se de uma liberdade relativa. 
 
• Conforme os ensinamentos de FRANÇA,2014, 
p.64: O princípio constitucional de livre 
exercício de uma profissão não é a garantia 
para que qualquer um possa entregar-se sem 
restrição a uma atividade, mas o direito de 
exercê-la desde que legalmente habilitado e 
capaz para um determinado fim. A liberdade 
constitucional referente ao exercício pleno da 
profissão exige, de quem a exerce, 
autorização, idoneidade e competência. Essa 
liberdade a que se refere a Carta Magna é a 
de poder qualquer pessoa, rica ou pobre, 
nacional ou estrangeira, dedicar-se a um 
determinado ofício, desde que tenha 
adquirido capacidade e habilitação legal. 
 
• A prerrogativa da concessão de licença para o 
exercício da medicina, é do Estado. 
 
• Ainda segundo os ensinamentos de Genival 
Veloso de França, p.64: Encontra-se essa 
liberdade relativa sujeita ao poder de polícia 
do Estado, pois, mesmo exercendo-se a 
profissão médica em caráter privado, há 
interesses individuais e coletivos que exigem 
amparo e proteção. Daí a disciplinação e a 
regulamentação da medicina. A medicina é 
uma das profissões intrinsecamente ligadas à 
saúde pública, e a violação das suas 
exigências não poderia furtar-se à categoria 
de crime. O que a lei prevê não é 
simplesmente a defesa de interesses de uma 
classe, nem a concorrência desonesta e ilegal 
que se possa verificar, mas o bem-estar da 
comunidade, a fim de que pessoas 
inescrupulosas e incompetentes não ponham 
em perigo a vida e a saúde pública. 
EXERCÍCIO LEGAL DA MEDICINA 
• Regulamentação em todos os países do 
mundo. 
• Ex.: em 1335, João I restringiu a prática 
médica apenas aos licenciados pelas 
Universidades; No Brasil 
as regulamentações 
iniciaram em 1867. 
PARTICULARIDADES DA PROFISSÃO MÉDICA 
• Profissão regida por direitos e obrigações. 
PRESSUPOSTOS PARA O EXERCÍCIO MÉDICO: 
• Habilitação profissional: obtida através das 
Universidades e Faculdades médicas 
autorizadas ou reconhecidas. 
• Habilitação legal: definida pela posse de um 
título idôneo e pelo registro desse título nas 
repartições competentes. 
 
• Só há que se falar em exercício legal da 
medicina, em qualquer dos ramos ou 
especialidades, após o registro prévio de 
títulos, diplomas e certificados, nos órgãos 
competentes bem como da inscrição no 
Conselho Regional de Medicina, sob cuja 
jurisdição encontrar-se o local de atividade. 
Logo, o exercício legal da medicina para o 
 
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indivíduo que possui habilitação profissional e 
legal. 
• Lei 12.842/2013 dispõe sobre o exercício da 
medicina. 
CONSELHOS DE MEDICINA 
• Conselhos Federal e Regionais de Medicina: 
são, em seu conjunto, órgãos dotados de 
personalidade jurídica de direito público e 
forma federativa, por delegação do poder 
público, conforme estabelecem a Lei n.º 
3.268/1957 e o Decreto-lei n.º 44.045/1958. 
 
• Conselho Federal de Medicina (CFM): é um 
órgão que possui atribuições constitucionais 
de fiscalização e normatização da prática 
médica. Criado em 1951, sua competência 
inicial reduzia-se ao registro profissional do 
médico e à aplicação de sanções do Código de 
Ética Médica. 
 
• Com a evolução dos conceitos e atuação dos 
conselhos, para além da representação da 
classe. 
• Aos conselhos de medicina cabe zelar, por 
todos pelo melhor desempenho ético da 
medicina e dos que a exercem legalmente. 
 
• Para o médico inscrever-se no Conselho 
Regional de Medicina, faz-se necessário 
apresentar à Secretaria desse órgão os 
seguintes documentos: 
 Requerimento dirigido ao Presidente. 
 Cópia autêntica ou original do Diploma 
registrado no MEC ou na Universidade. 
 Recibo de recolhimento da Contribuição 
Sindical. 
 Prova de estar em dia com o serviço 
militar. 
 Título de eleitor. 
 Três fotografias 3 × 4. 
EXCEÇÕES 
• Médico estrangeiro domiciliado na fronteira 
→ Lei 6815/80. Artigo 21 §1° autoriza 
(concessão de documento especial) X Artigo 
99 nega (visto temporário não pode inscrever-
se em entidade fiscalizadora do exercício de 
profissão regulamentada). Normalmente, 
esse indivíduo acaba atuando como médico, 
mesmo não sendo brasileiro. 
 
• Programa Mais Médicos 2013-2019: médico 
intercambista atuando no Brasil. 
 
• Inscrição de médico portador de 
necessidades especiais: o Conselho Federal 
de Medicina, através do Parecer-Consulta 
CFM n.º 02/1995, ratificou o direito de 
registro do diploma e inscrição no CRM de 
médicos formados como portador de 
deficiência, sem imposição de limitação para 
o exercício da medicina → coibir práticas 
discriminatórias/ diferente de doença 
incapacitante. 
 
• Inscrição de médico estrangeiro 
refugiado/asilado: médico estrangeiro 
detentor de visto de refugiado/asilado, 
conforme a Lei n.º 9.474, de 22 de julho de 
1997, que define mecanismos para a 
implementação do Estatuto dos Refugiados 
de 1951: Com diploma estrangeiro 
devidamente revalidado por uma 
universidade pública brasileira, conforme 
estabelece a Lei n.º 9.394/1996, poderá obter 
inscrição com validade obrigatoriamente igual 
a da Cédula de Identidade de Estrangeiro – 
visto de Refugiado/Asilado, conforme a 
Resolução CFM n.º1.244/1987, de 8 de agosto 
de 1987, podendo exercer qualquer atividade 
médica remunerada, excetuados somente os 
casos em que a lei exija o requisito de 
brasileiro nato ou naturalizado. 
 
• Revalida: Exame Nacional de Revalidação de 
Diplomas Médicos Expedidos por Instituições 
de Educação Superior Estrangeiras, com 
organização do INEP, exame composto de 
verificação de documentos, prova teórica, 
prova de habilidades clínicas e testes práticos 
de habilidades. 
 
 
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• Suspensão do registro por doença 
incapacitante: 
 Interdição cautelar: o Conselho Federal 
de Medicina, por meio de sua Resolução 
n.º 1.987/2012, permite que os 
Conselhos Regionais de Medicina 
possam interditar cautelarmente o 
exercício profissional de médico cuja 
ação ou omissão, decorrentes de sua 
profissão, esteja prejudicando 
gravemente a população, ou na 
iminência de fazê-lo. 
 
• Anotações de penalidades na carteira 
profissional do médico infrator (prontuário 
diferente de carteira profissional) podem 
haver incidência de dano moral. 
EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA 
• Os não formados em medicina não podem 
exercer quaisquer atividades privativas dos 
médicos. (Lei 12.842/13). 
 
• Exceções: 
 Estudante de medicina sob supervisão. 
 Estudante de medicina sem supervisão 
em caso de urgência e emergência. 
 
• Caso Lecéne: caso de laparotomia com 
retirada de apêndice e ovários. Exemplo de 
exercício ilegal da medicina. 
 
• Impossível a formação médica sem que haja 
prática com supervisão. 
• Não se trata de ato ilícito quando uma 
cirurgia não segue plano pré-estabelecido. 
EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE 
DENTÁRIA OU FARMACÊUTICA 
• Artigo 282 do Código Penal: Exercer, ainda 
que a título gratuito, a profissão de médico, 
dentista ou farmacêutico, sem autorização 
legal ou excedendo-lhe os limites. 
• Pena: detenção de 6 meses a 2 anos. 
• Parágrafo único. Se o crime é praticado com 
fim de lucro, aplica-se também multa. 
• Para consumação do delito, basta o perigo 
não sendo necessária a consumação de lesões 
ou malefícios específicos. objeto jurídico 
tutelado: incolumidadepública (saúde 
pública) 
• Sujeito ativo: qualquer pessoa (na primeira 
parte do artigo) Médico, dentista ou 
farmacêutico (crime próprio na segunda parte 
do artigo). 
• Sujeito Passivo: a coletividade (de forma 
secundária a pessoa tratada ou atendida). 
 
• Requisitos para configuração: Habitualidade. 
• Tipo subjetivo: o dolo (primeira parte do 
artigo) ou dolo genérico (segunda parte do 
artigo). Não há forma culposa. 
 
• Atenção: Caso o agente seja formado, mas 
não tenha efetuado a inscrição no conselho 
de classe comete apenas ilícito 
administrativo. 
 Também não pratica este crime o agente 
formado em Portugal sem registro no 
respectivo conselho, tendo em vista o 
acordo cultural entre os dois países. 
 
• Coautoria: é possível. Exemplo: Diretor de 
clínica que permite a prática médica por 
acadêmico sem supervisão. 
 
• Não há que se falar em exercício ilegal da 
medicina, quem pratica atividade em estado 
de necessidade. 
 
• Art. 24 do Código Penal – Considera-se em 
estado de necessidade quem pratica o fato 
para salvar de perigo atual, que não provocou 
por sua vontade, nem podia de outro modo 
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, 
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
 § 1º - Não pode alegar estado de 
necessidade quem tinha o dever legal de 
enfrentar o perigo. 
 § 2º - Embora seja razoável exigir-se o 
sacrifício do direito ameaçado, a pena 
poderá ser reduzida de um a dois terços. 
 
 
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CHARLATANISMO 
• Artigo 283 do Código Penal Charlatanismo – 
Inculcar ou anunciar cura por meio secreto 
ou infalível. 
 Pena detenção, de 3 meses a 1 ano, e 
multa. 
 
 Objeto jurídico: incolumidade pública 
(saúde pública). 
 
 Sujeito ativo: qualquer pessoa (inclusive o 
médico). 
 
 Sujeito passivo: a coletividade. 
 Tipo subjetivo: o dolo. 
 Consumação: ocorre com o 
aconselhamento ou anuncio da cura, 
independentemente de resultado. Perigo 
presumido. 
 
 Admite-se: tentativa. 
 Não é crime habitual. 
 Pode haver concurso com estelionato. 
 Os elementos fundamentais do crime são 
o segredo e a infalibilidade. 
CURANDEIRISMO 
• Art. 284 - Exercer o curandeirismo: 
I. Prescrevendo, ministrando ou 
aplicando, habitualmente, qualquer 
substância. 
II. Usando gestos, palavras ou qualquer 
outro meio. 
III. Fazendo diagnósticos. 
 
• Pena: detenção, de seis meses a dois anos. 
• Parágrafo único - Se o crime é praticado 
mediante remuneração, o agente fica 
também sujeito à multa. 
 
• Objeto jurídico: a incolumidade pública 
(saúde pública). 
 
• Sujeito ativo: qualquer pessoa desprovida de 
conhecimentos científicos. 
 
• Sujeito passivo: a coletividade e 
secundariamente a pessoa tratada. 
 
• Pressupõe habitualidade para configuração 
do delito. 
 
• Tipo subjetivo: o dolo. 
• A prescrição, ministração ou aplicação de 
substâncias. Pouco importa se a substância é 
ou não nociva à saúde. 
 
• Atos de fé não caracterizam o delito → 
liberdade de crença. Ex.: passes curativos, 
benzimentos, difusão de cura de 
enfermidades. 
 
• “Mais que todos os sortilégios mágicos e 
bruxedos, a prática do espiritismo-medicina 
constitui um grave e generalizado perigo, 
pois, inculcando curas milagreiras, induz os 
crédulos a repudiar, com sério e, às vezes, 
irreparável dano à própria saúde, os recursos 
preconizados pela ciência médica.” (Nélson 
Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro: 
Forense, 1959, v. IX, p.155). 
ATO MÉDICO 
• Deve-se entender como genérico todo 
esforço traduzido de forma organizada e 
tecnicamente ato médico reconhecido em 
favor da qualidade da vida e da saúde do ser 
humano e da coletividade. 
• Assim, não é apenas aquilo que somente o 
médico pode realizar, mas também o que é da 
competência de outros profissionais de 
mesma área que podem e devem fazer em 
favor deste projeto, ou o que pressupõe, pelo 
menos, a supervisão e a responsabilidade do 
médico. 
• Já como ato médico específico, entende-se a 
utilização de estratégias e recursos para 
prevenir a doença, recuperar e manter a 
saúde do ser humano ou da coletividade, 
inseridos nas normas técnicas (lex artis) dos 
conhecimentos adquiridos nos cursos 
regulares de medicina e aceitos pelos órgãos 
competentes, estando quem o executa, 
 
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supervisiona ou solicita profissional e 
legalmente habilitado. Este é o ato médico 
stricto sensu e somente o médico pode 
realizar.

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