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Vírgulas e Sentido

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197Vírgulas e Significado
Língua Portuguesa
 “Vai ficar cego, Não, logo que a vida estiver normalizada, 
que tudo comece a funcionar, opero-o, será uma questão de 
semanas, Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se 
chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, 
Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Ce-
gos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem”.
(Saramago, 1999)
Galáxia 
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E agora? O que pensar de textos como esses, que desobedecem to-
das as regras da gramática? De que maneira lidamos com textos que 
não trazem algumas marcas de pontuação, ou não trazem nenhuma 
delas? Como construir um sentido para esses textos? 
Precisamos recorrer ao conhecimento que já temos ou à nossa in-
tuição das estruturas da língua, ou seja, aquilo que sabemos intuitiva-
mente sobre o funcionamento da língua. É um exercício que nos de-
safia, pois estamos lidando com textos que transgridem as estruturas 
“normatizadas” ou ditadas pela gramática e fogem ao senso comum, is-
to é, fogem daquela linguagem que estamos acostumados a ler e que 
julgamos “correta” ou “normal”. Vale a pena tentar!
Se o texto literário (caso dos dois fragmentos que você acabou de 
ver) permite transgredir – esta é a sua característica – as regras ditadas 
pela gramática, esta transgressão é feita por 
quem conhece a norma. Não é o caso de “fa-
zer de qualquer jeito”. O autor do texto literá-
rio infringe a norma conscientemente, porque 
conhece as regras. 
Esta subversão consciente às regras postas 
acontece, também, em outras áreas, com ou-
tras “gramáticas”: Observe a reprodução ao la-
do, do quadro Les Demoiselles d’Avignon, que 
foi pintado em 1907 e está no Museu de Arte 
Moderna de New York. 
Pablo Picasso pintou este quadro numa 
fase denominada cubista. Veja o que signi-
fica o cubismo: “movimento na pintura, de-
senvolvido por Picasso e Braque por volta de 
1907. O cubismo constituiu um corte radical 
na descrição realista da natureza que domi-
nava a pintura e a escultura européia desde o Pablo Picasso. As moças de Avignon, 1907. Óleo sobre tela, 243.9 x 
233.7 cm. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, Estados Unidos. 
www.moma.org

198 O Discurso como prática social: oralidade, leitura, escrita, Literatura
Ensino Médio
Renascimento, uma vez que Picasso e Braque 
desejavam revelar a estrutura permanente dos 
objetos, em vez da sua aparência em determi-
nado momento ou lugar.”(Enciclopédia Ilus-
trada Folha)
Observando uma pintura renascentis-
ta podemos perceber o “corte radical” que o 
cubismo fez, subvertendo as normas de uma 
gramática da pintura que vigorava desde o Re-
nascimento. 
Leonardo da Vinci, considerado um dos 
maiores gênios da humanidade, pintou a Mo-
nalisa, quadro que está no Museu do Louvre e 
que constitui um marco da pintura renascen-
tista. É um dos quadros mais conhecidos e re-
produzidos do mundo.
Leonardo Da Vinci. Mona Lisa ou La Gioconda, 1503 - 06. Óleo sobre ma-
deira de álamo,77 x 53 cm. Museu do Louvre, Paris. www.louvre.fr

• Comente as diferenças entre as duas pintu-
ras e o sentido de cada uma delas, obser-
vando como elas podem estar relacionadas 
com a realidade.
 ATIVIDADE
Voltando ao texto escrito, há transgressões, porém, que comprome-
tem textos que precisam ser claros, como o texto jurídico. Veja o exem-
plo de um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 59. Os Municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de 
recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a ju-
ventude.
O que acontece com o sentido deste artigo, se tirarmos a vírgula colocada após a palavra Municí-
pio?
 ATIVIDADE

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