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Pressupostos da responsabilidade civil I

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e-Tec Brasil31
Aula 5 - Pressupostos da 
responsabilidade civil I
Na aula anterior estudamos o conceito de responsabilidade civil. Hoje 
nossa missão será iniciar a análise de quais são os seus pressupostos, ou 
seja, os elementos necessários para sua configuração.
5.1 Pressupostos gerais da responsabilida- 
 de civil
Podemos dizer que os pressupostos básicos da responsabilidade civil são re-
sumidos no seguinte: é uma conduta humana ilícita, seja por ação ou 
omissão, intencional (dolosa) ou por culpa (negligência, imprudência 
ou imperícia), que cause um dano, e que entre tais requisitos haja um 
nexo causal e uma pessoa civilmente responsável (imputabilidade).
De forma resumida, temos como requisitos indispensáveis para que haja a 
responsabilização civil: 1- conduta humana ilícita (que pode ser por ação ou 
omissão seja dolosa ou culposa); 2- existência de um dano; 3- nexo de cau-
salidade entre esse dano e a referida conduta.
Então vamos estudar cada um deles, suas características e circunstâncias 
nesta aula e na aula seguinte.
5.2 Primeiro pressuposto: conduta humana 
 ilícita, por ação ou omissão, dolosa ou 
 culposa
O pressuposto basilar é considerar uma determinada conduta humana vo-
luntária, que pode ser por ação ou omissão, à prática de um ato ilícito. E o 
ato ilícito é aquele contrário ao ordenamento jurídico, ou seja, às normas e 
leis vigentes. Em resumo, ilegal.
Para Amaral (2008, p.551), “o ato ilícito pode ser penal ou civil, conforme 
resulte da infração da norma de direito público penal, que visa defender a 
sociedade, prevenindo e penalizando a infração e retribuindo com a pena 
cominada, ou da infração de norma de direito privado, que tem por objetivo 
a defesa dos interesses particulares, de natureza pessoal (direitos da perso-
nalidade) ou econômica”.
Entende que ato ilícito “é o ato praticado com infração de um dever legal ou 
contratual, de que resulta dano para outrem”.
Em relação à importância de caracterizá-lo, afirma que o ato ilícito é “uma 
das principais fontes das obrigações, fazendo nascer uma relação jurídica 
cujo objeto é o ressarcimento do dano causado, a indenização”.
Também há diferenciação nas esferas cível e penal, visto que “o ilícito civil 
produz a coação patrimonial, gerando uma obrigação de restituir, ou de inde-
nizar, ou a execução forçada ou, ainda, a declaração de nulidade de um ato”, 
enquanto o “ilícito penal além de poder acarretar todas essas consequências, 
vai mais além, determinando uma coação pessoal, através da pena privativa de 
liberdade ou de uma medida de segurança” (Maggio, 2001. p.71).
Você sabia que as penas podem ser classificadas entre quatro tipos? São elas:
•	 Privativas de Liberdade: São aquelas em que a liberdade do indivíduo 
é restrita, seja de forma total ou parcial. Para cumpri-la, geralmente a 
pessoa fica presa.
•	 Restritivas de Direitos: São aquelas em que ao invés de restringir a li-
berdade do indivíduo, restringe-se algum direito. Ex: cassação da carteira 
de habilitação se o motorista causar um grave acidente automobilístico; 
necessidade de apresentação em delegacia, durante a realização da par-
tida de futebol, daquele torcedor que vai ao campo para brigar. 
•	 Multa: É o pagamento de algum valor em dinheiro fixado pelo Juiz.
•	 Medidas de Segurança: É a espécie de pena que se aplica àqueles 
agentes que praticaram algum crime, mas que possuem doença ou per-
turbação de natureza mental e que, portanto, necessitam de internação. 
Ex: internação ou tratamento em hospital de custódia ou até mesmo 
sujeição à tratamento ambulatorial. 
E quanto à culpa, é importante sua verificação? Naturalmente que sim, mas 
antes de estudá-la, devemos entendê-la. 
Venosa (2009, p.23), explica que culpa “é a inobservância de um dever 
que o agente deveria conhecer e observar”, em suma “contém uma 
conduta voluntária, mas com resultado involuntário, a previsão ou a 
previsibilidade e a falta de cuidado devido, cautela e atenção”.
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Podemos resumir culpa como sendo uma atitude ou falta de atitude que 
causa uma consequência não desejada. Pode se dar por falta de conheci-
mento técnico ou despreparo profissional (também chamada de imperícia), 
por preguiça ou indiferença (negligência) ou desatenção às regras que deve-
riam ser observadas (imprudência).
A noção civil da culpa é confirmada pelo Código Penal, ao conceituar um 
crime culposo como aquele “quando o agente deu causa ao resultado 
por imprudência, negligência ou imperícia” (Código Penal, art. 18, in-
ciso II). 
Diversamente da culpa, o dolo caracteriza-se por um ato voluntário, ou 
seja, quando o agente procura o ato de maneira intencional, pré-determina-
da, desejando a ocorrência de uma determinada consequência. Por exem-
plo: Há tempos Fulano mantém desavenças com Beltrano, e um determina-
do dia, resolve matá-lo. Para tanto, Fulano adquire um revólver calibre 38 e 
vai até a residência de Beltrano, toca a campainha e quando este atende, dis-
para três tiros à “queima-roupa”. Nessa situação hipotética, não há dúvidas 
de que Fulano realmente tinha a intenção e vontade de matar Beltrano, e 
fez tudo para que sua idéia fosse colocada em prática. É a noção de DOLO.
Para o Código Penal, a conceituação de crime doloso é taxativa, seguindo a 
mesma linha interpretativa da legislação civil, ou seja, diz-se aquele em que 
“agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo” (Código Penal, 
art. 18, inciso I).
Como dito, a conduta humana pode ser ativa (ação) ou passiva (omissão). 
Portanto, é possível sim que uma pessoa seja responsabilizada porque de-
veria fazer algo e não o fez. Um exemplo disso é o crime de omissão de 
socorro previsto no art. 304 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei Federal nº 
9.503/97):
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de 
prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamen-
te, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não 
constituir elemento de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do 
veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se 
trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.
Segundo o Dicionário Eletrônico 
Houaiss: IMPERÍCIA é a falta 
de perícia, ou seja, a falta de 
habilidade ou experiência repu-
tada necessária para a realização 
de certas atividades e cuja 
ausência, por parte do agente, 
o faz responsável pelos danos 
ou ilícitos penais advenientes; 
NEGLIGÊNCIA é a falta de 
cuidado, incúria, falta de apuro, 
de atenção, desleixo, desmazelo, 
falta de interesse, de motivação, 
indiferença, preguiça, ou seja, é 
a inobservância e descuido na 
execução de ato; e IMPRUDÊN-
CIA é a inobservância das 
precauções necessárias.
Aula 5 - Pressupostos da responsabilidade civil I
O crime de omissão de socorro também é previsto no Código Penal:
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem 
risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida 
ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, 
nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão re-
sulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Aliás, o Código Penal explica a importância à omissão na interpretação dos 
crimes pelos juízes:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente 
é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omis-
são sem a qual o resultado não teria ocorrido.
(...)
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e 
podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do 
resultado.
Mas o que isso tem a ver comigo? Bem, tem muito ver. Para melhor enten-
der, veja o próximo item abaixo.
Resumo
Vimos o primeiro requisito para configuração da responsabilidade civil, seus 
diversos aspectos e conceitos.
Atividades de aprendizagem
Qual a diferença entre “dolo” e “culpa”. Pesquise em jornais, revistas e na 
Internet situações que possam exemplificar o conceito de cada um
.
Para você aprofundar sua leitura 
a respeito do crime de omissão 
de socorro, acesse o artigo do 
Prof. João José Caldeira Bastos 
intitulado “Crime de Omissão 
de Socorro: Divergências 
Interpretativas e Observações 
Críticas”, pelo link a seguir:
 http://jus2.uol.com.br/doutrina/
texto.asp?id=11018.
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