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SEMÂNTICA-E-PRAGMÁTICA-DA-LÍNGUA-PORTUGUESA

Ferramentas de estudo

Questões resolvidas

De acordo com Cançado (2005), o que significa dar o significado de uma sentença na semântica formal?

a) Explicar em que condições a sentença seria falsa.
b) Dizer em que condições a sentença seria verdadeira.
c) Definir o contexto histórico da sentença.

O que afirma o princípio da composicionalidade na semântica formal?

a) O significado de uma sentença é fruto do significado dos seus itens lexicais mais a combinação sintática deles.
b) O significado de uma sentença é independente dos seus itens lexicais.
c) O significado de uma sentença é determinado apenas pela sua estrutura gramatical.

Nesse ponto da narrativa, o leitor se vê impelido a categorizar o marajá como personagem, porém com ressalvas: o homem que apareceu na porta de Morgadinha era realmente o tal marajá? O final da crônica revela o que havia por trás da visita:

a) Turcão era o marajá disfarçado.
b) O marajá era um amigo do marido de Morgadinha.
c) O marajá era um estranho que se passou por Turcão.

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Questões resolvidas

De acordo com Cançado (2005), o que significa dar o significado de uma sentença na semântica formal?

a) Explicar em que condições a sentença seria falsa.
b) Dizer em que condições a sentença seria verdadeira.
c) Definir o contexto histórico da sentença.

O que afirma o princípio da composicionalidade na semântica formal?

a) O significado de uma sentença é fruto do significado dos seus itens lexicais mais a combinação sintática deles.
b) O significado de uma sentença é independente dos seus itens lexicais.
c) O significado de uma sentença é determinado apenas pela sua estrutura gramatical.

Nesse ponto da narrativa, o leitor se vê impelido a categorizar o marajá como personagem, porém com ressalvas: o homem que apareceu na porta de Morgadinha era realmente o tal marajá? O final da crônica revela o que havia por trás da visita:

a) Turcão era o marajá disfarçado.
b) O marajá era um amigo do marido de Morgadinha.
c) O marajá era um estranho que se passou por Turcão.

Prévia do material em texto

SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA 
DA LÍNGUA PORTUGUESA 
INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
 O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de 
aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, 
interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida 
uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para 
todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em 
perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil.
 Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é 
preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas.
 
 A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos 
definidos para as atividades.
 
Bons estudos!
Semântica formal: 
diferentes abordagens
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Definir “significado” à luz da semântica formal.
 Explicar o princípio da composicionalidade.
 Categorizar os elementos da recursividade na teoria semântica.
Introdução
Neste capítulo, você vai dar os primeiros passos rumo à semântica formal, 
uma das vertentes da semântica. Como você vai ver, estudar o significado 
por meio da semântica formal implica compreender a maneira como 
ele é configurado a partir das relações lógicas entre a língua e o mundo 
externo ao falante.
Assim, em um primeiro momento, você vai verificar como o signifi-
cado é tratado pela semântica formal. Em seguida, você vai conhecer o 
princípio da composicionalidade. Por fim, você vai entrar em contato com 
os principais elementos da recursividade voltados à semântica formal.
1 A semântica formal e o estudo do significado
Originada a partir dos estudos sobre lógica desenvolvidos pelo fi lósofo Richard 
Montague em meados do século XX, a semântica formal é uma vertente da 
semântica. Ela estuda o signifi cado com base na perspectiva da referenciali-
dade, ou seja, a partir da noção de que as línguas estabelecem uma referência 
aos objetos do mundo (CANÇADO, 2005).
Assim, o conceito de referencialidade é fundamental para essa vertente da 
semântica. A referencialidade está ligada ao “[...] fato de que as línguas naturais 
são utilizadas para falar sobre objetos, indivíduos, fatos, eventos, propriedades 
[...] descritos como externos à própria língua [...]” (MÜLLER; VIOTTI, 2016, 
p. 2), articulando tanto o conhecimento do falante sobre o seu idioma quanto
o conhecimento que ele tem do mundo à sua volta. Para compreender melhor
como funciona a referencialidade, observe a Figura 1, a seguir.
Figura 1. A referencialidade.
Fonte: Adaptada de Snake22/Shutterstock.com.
O significado e a condição de verdade
Como você viu, a referencialidade é uma característica básica da semântica 
formal. A partir dela, outra singularidade emerge. Tal singularidade é descrita 
por Müller e Viotti (2016, p. 138):
Por esta razão, na Semântica Formal, o significado é entendido como uma 
relação entre a linguagem por um lado, e, por outro, aquilo sobre o qual a 
linguagem fala. Este “mundo” sobre o qual falamos quando usamos a lin-
guagem pode ser tomado como o mundo real, parte dele, ou mesmo outros 
mundos ficcionais ou hipotéticos.
Nesse contexto, para essa vertente da semântica, “[...] dar o significado de 
uma sentença é dizer em que condições essa sentença seria verdadeira [...]” 
(CANÇADO, 2005, p. 140). Assim, o significado está diretamente associado 
ao conceito de condição de verdade, que você vai conhecer melhor a seguir. 
Considere esta sentença como exemplo:
Um homem pulou o muro.
Agora veja o que Cançado (2005, p. 140) afirma sobre ela: “Se tentarmos 
explicar o significado da sentença [...], diríamos que ela significa que uma 
pessoa, com as qualidades normalmente atribuídas a homem (sexo masculino, 
Semântica formal: diferentes abordagens2
adulto...) fez um movimento para ultrapassar um obstáculo, chamado muro 
[...]”. Se você precisasse definir em que condições essa sentença seria aceita 
como verdadeira, teria a seguinte resposta: a sentença “Um homem pulou o 
muro” será verdadeira quando
(a) existir no mundo a que se faz referência um ser com 
características masculinas e que seja adulto;
(b) e esse ser fizer uma ação de transpor um obstáculo fruto 
de uma construção vertical de alvenaria.
Logo, para que essa sentença tenha condições de verdade, um conjunto de 
circunstâncias deve ser atendido. Um homem não pode pular um muro se só houver 
uma mulher trocando o pneu de um carro, pois essa condição de verdade não é 
compatível com a sentença anterior. É por isso que a base da semântica formal, 
bem como a sua maneira de investigar o significado, é referencial, e não mentalista 
ou enunciativa. Caso não se estabeleça a referencialidade entre uma língua natural 
e o mundo ao qual essa língua faz referência, o significado não é estabelecido.
Aliás, outra questão importante — que você não pode confundir com a 
anterior — é se a sentença é verdadeira ou não. Isso é completamente diferente 
do conceito de condição de verdade. Considere novamente o exemplo anterior. 
Se um homem realmente pulou, a sentença é verdadeira. Seguindo a mesma 
lógica, se um homem realmente não pulou, a sentença é falsa. Porém, antes de 
se afirmar que a sentença é verdadeira ou falsa, é imprescindível que exista 
um ser humano do sexo masculino, adulto, praticando a ação de transpor um 
muro, ou seja, a condição de verdade da sentença é essencial.
A fim de arrematar isso, Cançado (2005, p. 140–141) comenta que é possível 
saber quais são as condições em que uma sentença é verdadeira sem saber 
se ela é verdadeira ou não: “[...] o que precisa ficar claro é que o significado 
da sentença está associado às condições de verdade da sentença, e não à sua 
verdade ou falsidade [...]”.
2 Princípio da composicionalidade
Você já viu como a semântica formal estuda o signifi cado, principalmente por 
meio da perspectiva da referencialidade. Você também conheceu o conceito 
de condição de verdade. Agora, você vai estudar outro conceito importante 
para essa vertente da semântica, o princípio da composicionalidade.
3Semântica formal: diferentes abordagens
Como pontua Cançado (2005), o princípio da composicionalidade afirma 
que o significado de uma sentença é fruto do significado dos seus itens lexicais 
mais a combinação sintática deles. Considere o seguinte:
Se soubermos o significado das partes da sentença e soubermos as regras que 
explicitam como combinar essas partes, então podemos deduzir o significado 
da sentença, ou seja, se soubermos o significado das unidades e regras para 
montá-las em unidades mais complexas, então poderemos construir e inter-
pretar uma infinidade de sentenças novas, assim como explicar por que certas 
interpretações não são possíveis (CANÇADO, 2005, p. 141).
Aliás, Müller e Viotti (2016) elaboram um comentário pertinente no que 
diz respeito à produtividade que as línguas naturais possuem em função de 
tal princípio. Veja:
As línguas naturais nos permitem produzir e compreender constantemente 
significados novos. E isto não só pela sua flexibilidade na criação de palavras 
novas, mas principalmente porque elas nos permitem produzir e compreender 
sentenças completamente novas. Isso é possível porque a partir do significado 
dos itens lexicais e da maneira com estes se compõem derivamos o significado 
das unidades complexas. Ou seja, cada parte de uma sentença contribui de uma 
forma sistemática para seu significado (MÜLLER; VIOTTI, 2016, p. 139).
Esse comentário é bastante pertinente. Imagine que os idiomas são organis-
mos humanos e que as palavras são as células, unidades menores e mais simples. 
Essas unidadespermitem construir unidades maiores e mais complexas.
Quando você pensar no princípio da composicionalidade, relacione-o à composição, 
isto é, ao produto da união de partes menores.
Aplicação do princípio da composicionalidade
Como você viu, a semântica formal estuda o signifi cado a partir da perspectiva 
da referencialidade. Assim, para que o signifi cado se estabeleça, deve haver 
um conjunto de circunstâncias básicas, ou seja, a condição de verdade. Depois 
que isso estiver consolidado, o falante de uma língua pode compreender o 
Semântica formal: diferentes abordagens4
sentido de um enunciado por meio do princípio da composicionalidade. Tal 
princípio, como você já sabe, afi rma que o signifi cado de um enunciado está 
ligado ao signifi cado dos seus itens lexicais, bem como à maneira pela qual 
esses itens estão dispostos sintaticamente (CANÇADO, 2005).
Considere como exemplo a sentença a seguir:
(1) João abraça Maria.
Na sentença (1), existem três itens lexicais:
 “João”, nome de uma pessoa do gênero masculino;
 “abraça”, ação de dar um abraço em alguém;
 “Maria”, nome de uma pessoa do gênero feminino.
Agora considere a disposição sintática desses itens da sentença (1). Ob-
serve que a sentença (S) é constituída de um sintagma nominal (SN) e de um 
sintagma verbal (SV). O SN é formado por um núcleo (N), no caso, “João”. 
Por sua vez, o SV é formado por um verbo (V), “abraça”, e um SN, “Maria”. 
Isso que você acabou de ler pode ser representado pela Figura 2.
Figura 2. Diagrama de árvore da sentença (1).
5Semântica formal: diferentes abordagens
A partir da disposição sintática da sentença, mais os significados par-
ticulares de cada item lexical, tem-se a seguinte situação: para entender o 
significado de S, é preciso entender o significado de SN e SV. Para entender 
o SN, é preciso entender o significado de N. Para entender o significado de 
SV, é necessário entender o significado de V e de SN.
Logo, conhecendo a composição dos itens lexicais e de seus respectivos 
significados, é possível compreender o significado total da sentença. É em 
virtude disso que o princípio da composicionalidade tem esse nome. Por meio 
da composição de unidades menores e simples, pode-se entender as unidades 
maiores e complexas.
3 Recursividade na semântica formal
Agora você vai ver como categorizar os elementos de recursividade da se-
mântica formal. Como você viu antes, o princípio da composicionalidade 
afi rma que “[...] o signifi cado de uma sentença não é determinado apenas pelo 
signifi cado de suas palavras, mas também por sua estrutura gramatical [...]” 
(MÜLLER; VIOTTI, 2016, p. 141).
Por sua vez, Oliveira (2001, p. 143) pontua que, considerando os pressupostos 
da semântica formal, “Um falante, quando interpreta uma sentença qualquer, 
atribui referências aos nomes que utiliza, relacionando, de algum modo, a 
cadeia sonora a objetos no mundo [...]”. Para Oliveira (2001), dependendo do 
modo como o falante relaciona a língua com o mundo, sobretudo por meio de 
sentenças, há determinada construção de significados.
É nesse contexto que os elementos recursivos de acarretamento, pressu-
posição, paráfrase, contradição e ambiguidade se inserem. A seguir, você vai 
conhecer a definição desses elementos e ver alguns exemplos práticos, com 
o intuito de categorizá-los.
Acarretamento
O acarretamento, segundo Cançado (2005), ocorre a partir da seguinte lógica: 
a verdade de uma sentença consequentemente leva à verdade de outra, e, por 
sua vez, o conteúdo expresso na segunda está contido na primeira. A fi m de 
compreender melhor, observe as sentenças a seguir:
(2) Carlos continua doente.
(3) Carlos adoeceu na infância.
Semântica formal: diferentes abordagens6
Note que, se (2) é verdadeiro, consequentemente (3) também será. Além 
disso, a informação de (3) está contida em (2); logo, a sentença (2) acarreta a 
sentença (3). Outro detalhe frisado por Cançado (2005) em relação ao acarre-
tamento é relativo à assimetria. Você pode perceber isso tomando novamente 
como exemplo as sentenças (2) e (3). Como (2) acarreta (3), não pode haver o 
caminho inverso, isto é, (3) acarretando (2).
Müller e Viotti (2016, p. 145) também comentam sobre o acarretamento:
Acarretamento é uma relação de sentido fundamental entre sentenças e de-
termina alguns de nossos padrões de inferência. Por exemplo, se (a) e (b) são 
verdadeiras, nós sabemos que (c) é verdadeira. Podemos dizer que (a) e (b) 
juntas acarretam (c) porque a situação descrita por (a) e (b) juntas é suficiente 
para descrever a situação em (c).
Você pode ver isso no exemplo a seguir.
(4) Jupará é mamífero.
(5) Jupará é notívago.
(6) Jupará é mamífero e notívago.
Note que as sentenças (4) e (5) acarretam (6), porque as duas primeiras 
juntas descrevem a última. Caso isso esteja em um texto, o acarretamento 
pode se mostrar um aliado relevante na interpretação textual.
Pressuposição
A pressuposição, como afi rma Cançado (2005), é uma espécie de acarreta-
mento, porém ocorre de forma mais implícita. Ou seja, a pressuposição não 
está totalmente explícita no material linguístico. Nesse sentido, a pressuposição 
implica uma afi rmação antecipada. Para entender isso melhor, veja o exemplo 
apresentado por Müller e Viotti (2016):
(7) A Maria parou de fumar.
Quando você lê essa sentença, pode fazer a afirmação antecipada de (7):
(8) A Maria fumava.
7Semântica formal: diferentes abordagens
Note que, antes de parar de fumar, necessariamente deve haver a ação de 
fumar. Logo, a sentença (8) traz uma suposição anterior à apresentada em 
(7), isto é, uma pressuposição. Complementando a fala das autoras, Cançado 
(2005, p. 33) indica que a pressuposição “[...] é derivada a partir da estrutura 
linguística da própria sentença; são determinadas construções, expressões 
linguísticas, que desencadeiam essa pressuposição [...]”. De fato, no sintagma 
verbal de (7), existe o verbo “parou” e também há o sintagma preposicional 
“de fumar”, que só poderia existir devido ao verbo “fumava” de (8).
Paráfrase
Segundo Cançado (2005, p. 28), “Quando temos uma relação simétrica, ou 
seja, a sentença (a) acarreta a sentença (b) e a sentença (b) também acarreta a 
sentença (a), temos a relação de paráfrase [...]”. Diferentemente do que ocorre 
no acarretamento, em que as sentenças são assimétricas — ou seja, uma 
sentença está contida na outra, fazendo com que uma acarrete a outra, e não 
o contrário —, na paráfrase o acarretamento é mútuo.
Para entender isso com mais clareza, veja estes exemplos de acarretamento:
(9) Carlos continua doente.
(10) Carlos adoeceu na infância.
Agora veja estes exemplos de paráfrase:
(11) Governo Federal atrasa os salários dos servidores.
(12) Governo Federal não paga o ordenado dos funcionários 
públicos na data prevista.
A informação de (10) está contida em (9), sendo que (9) acarreta (10), 
isto é, o conteúdo expresso na segunda sentença consequentemente levou à 
primeira, portanto há uma relação assimétrica. No entanto, isso não ocorre 
em (11) e (12). Nessas duas últimas sentenças, a relação é assimétrica, 
sendo que o significado ocorre tanto em (11) quanto em (12). Assim, a 
paráfrase pode ser formada tanto por itens lexicais sinônimos como por 
estruturas sintáticas distintas, mas que mantenham a mesma relação entre 
os objetos descritos.
Semântica formal: diferentes abordagens8
Em relação à paráfrase, há um dado importante. Segundo a ABNT NBR 10520:2002, da 
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é por meio da paráfrase que ocorre 
a citação indireta em textos acadêmicos.
Contradição
A contradição, como afi rma Cançado (2005, p. 47), ocorre quando “[...] dois 
fatos descritos pela sentença não podem se realizar ao mesmo tempo e nem 
nas mesmas circunstâncias no mundo [...]”. Veja o exemplo a seguir:
(13) Esta mesa é quadrada.
(14) Esta mesa é redonda.
Tanto (13) quanto (14) fazem referência a um mesmo objeto no mundo. Todavia, 
não é possível que tal objeto tenha formatos espaciais de quadradoe redondo ao 
mesmo tempo. Ainda no que tange à contradição, Müller e Viotti (2016) fazem 
uma ressalva pertinente: recorrentemente, itens lexicais com significados opostos 
estão presentes em contradições, mas algumas vezes isso não quer dizer que 
necessariamente sejam contraditórios. Para compreender isso, veja o caso a seguir:
(15) Carlos nasceu na Bahia.
(16) Carlos morreu na Bahia.
Embora (15) e (16) contenham itens lexicais com significados opostos, eles 
não envolvem contradição. Nesse caso, são “momentos extremos do processo 
de viver”. Isto é, como os verbos estão no pretérito, é possível uma pessoa, em 
um momento da vida, nascer e, em outro momento, morrer na Bahia.
Ambiguidade
Para Cançado (2005), a ambiguidade diz respeito a uma imprecisão de signifi ca-
dos em uma sentença. Um exemplo clássico disso são as palavras homônimas, 
isto é, aquelas que possuem a mesma escrita, mas têm signifi cados diferentes. 
Veja um exemplo:
9Semântica formal: diferentes abordagens
(17) Ele estava irado.
Em (17), o item lexical “irado” pode tanto significar algo muito bom quanto 
um comportamento colérico, raivoso. Müller e Viotti (2016) pontuam que a 
ambiguidade também pode ocorrer por meio de uma construção sintática 
específica, como no exemplo a seguir:
(18) Os alunos e os professores inteligentes participaram do 
simpósio.
Essa construção sintática pode remeter a dois significados:
(18a) [[Os alunos e os professores] inteligentes] participaram 
do simpósio.
ou ainda
(18b) [[Os alunos] e [os professores inteligentes]] participaram 
do simpósio.
CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. 2. ed. Belo Horizonte: 
UFMG, 2005.
MÜLLER, A. L. P.; VIOTTI, E. C. Semântica formal. In: FIORIN, J. L. (org.). Introdução à lin-
guística II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2016. p. 137–159.
OLIVEIRA, R. P. Semântica formal: uma breve introdução. Campinas: Mercado das Letras, 
2001.
Leitura recomendada
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10520:2002. Informação e 
documentação – Citações em documentos – Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.
Semântica formal: diferentes abordagens10
Semântica argumentativa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Discutir sobre a teoria da argumentação na língua (TAL).
 Interpretar a teoria dos blocos semânticos (TBS).
 Demonstrar modelos de descrição semântico-argumentativos.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a semântica argumentativa, uma das 
vertentes dos estudos semânticos. Diferentemente de outras vertentes, 
a de viés argumentativo aborda o sentido por meio da perspectiva do 
convencimento entre os falantes de uma língua. Assim, ela define cate-
gorias analíticas a fim de explicar como a significação ocorre.
Inicialmente, você vai conhecer a TAL. Em seguida, vai ver como ela se 
relaciona à TBS. Por fim, você vai acompanhar um exemplo de descrição 
semântico-argumentativa.
1 Teoria da argumentação na língua
A semântica argumentativa, também conhecida como semântica enunciativa 
ou da enunciação, é orientada pela perspectiva da argumentação. Ou seja, essa 
vertente semântica busca estudar o sentido a partir de um jogo de convenci-
mento realizado pelos interlocutores por meio da língua.
Como você deve saber, a semântica formal é regida pelo princípio da 
referencialidade, isto é, essa corrente entende que a língua representa algo 
no mundo. Já a semântica argumentativa é pautada pela perspectiva da argu-
mentatividade. Essa perspectiva considera que um falante de uma língua não 
verbaliza apenas uma sentença contendo uma informação que faz referência 
a uma coisa da realidade, mas almeja convencer outro sujeito por meio da 
língua. Veja o que Cançado (2005, p. 142) afirma sobre isso:
Nessa abordagem, as condições de verdade de uma sentença não são relevan-
tes. A ideia que sustenta essa teoria é a de que há interesse em contar com 
categorias descritivas que dizem respeito mais ao possível uso na interação 
dos falantes/ouvintes, e menos no que diz respeito à sintaxe ou ao conteúdo 
objetivo da sentença.
A semântica argumentativa teve início na transição entre as décadas de 
1960 e 1970, com o linguista Oswald Ducrot. Embora tenham uma raiz no 
estruturalismo de Ferdinand de Saussure, as pesquisas de Ducrot aprofundam 
os princípios teóricos do pai da linguística, em especial o conceito de valor 
do signo linguístico.
Fundamentado no conceito de valor linguístico, que afirma que um signo 
linguístico adquire valor a partir de outro, Ducrot almejou “[...] levantar as 
possibilidades que a língua oferece para o uso e as limitações que ela impõe 
a esses usos [...]” (CABRAL, 2013, p. 184).
Ou seja, Ducrot (1989) entende que o uso está ligado aos sentidos produzidos 
nos enunciados dos falantes. Porém, não está em jogo qualquer sentido: há uma 
restrição de sentido ocasionada por elementos da própria língua que regulam 
orientações argumentativas. Em virtude disso, Ducrot (1989), junto com Jean-
-Claude Ascombre, fundaram a semântica argumentativa, por meio da TAL. 
A TAL evidencia que a língua, bem como o sentido, é marcada pela argu-
mentatividade. Em virtude disso, emerge outra característica: a intenciona-
lidade. Veja:
A intencionalidade subjacente à produção de enunciados, em situação de 
interlocução, orienta o sentido a ser construído, dada a situação discur-
siva. Se se entende a argumentatividade como algo que está inscrito na 
linguagem, parte-se do princípio de que ninguém diz o que não acredita 
ser importante; logo, toda ação de dizer comporta a intenção, por parte do 
locutor, de “mostrar” a conclusão para a qual o alocutário deve se encami-
nhar (COSTA, 2008, p. 25).
Devido à argumentatividade e à intencionalidade, Ducrot (1989) e seus pares 
começaram a se interessar particularmente por estudar algumas palavras que 
orientam o sentido a ser construído (CABRAL, 2013). Tais palavras são os 
operadores argumentativos, que possuem uma dupla função “[...] de ligação 
e de orientação, isto é, o conector é uma palavra que articula as informações 
e os argumentos de um enunciado [...]” (CABRAL, 2013, p. 185).
Semântica argumentativa2
A fim de tornar essa teoria mais palpável, você vai ver a seguir um exemplo 
clássico, o uso do operador argumentativo “mas”. No momento em que ele é 
usado, não há oposição de sentido entre dois enunciados, e sim restrição de 
sentido entre as orientações argumentativas possíveis direcionadas à conclusão. 
Observe:
(1) Este restaurante é bom, (2) mas é caro.
Em casos como esse, pode haver condução à conclusão da argumentação — 
ou seja, os interlocutores não vão almoçar no restaurante caro —, ou restrição 
à conclusão da argumentação — isto é, eles vão almoçar no restaurante caro. 
Observe que a inserção do operador argumentativo “mas” conduz a uma 
possível conclusão da argumentação e não à outra, pois o “[...] sentido do 
enunciado, de acordo com esse ponto de vista teórico, conduz a determinada 
direção [...]” (CABRAL 2013, p. 186).
Segundo essa teoria, as condições argumentativas seguem a lógica do 
“portanto”. Em relação a isso, considere novamente o exemplo anterior: 
“O restaurante é bom, mas é caro. Portanto, não vamos almoçar nele”. De 
outra forma, Freitas (2008, p. 112) formula o seguinte:
De acordo com essa posição teórica, os próprios elementos linguísticos favo-
recem a argumentação e não os fatos que estes poderiam representar. Cada 
enunciado “argumenta”, isto é, favorece uns encadeamentos discursivos e 
impede outros, em função de seu significado linguístico inerente.
Além disso, é interessante destacar a diferença entre sujeito empírico, 
locutor e enunciador proposta por Ducrot (1989). O sujeito empírico não é 
objeto de estudo da linguística. Já o locutor é o responsável pelo enunciado. 
Por sua vez, os enunciadores são origens de pontos de vista, e não pessoas. 
Como afirma Freitas (2008, p. 113), “Os enunciadores são argumentadores e 
em relação a eleso locutor assume atitudes (de concordância, de identificação, 
de rejeição etc.), e assim constitui sua própria argumentação [...]”.
3Semântica argumentativa
2 Teoria dos blocos semânticos
Com o desenvolvimento da semântica argumentativa, outros teóricos surgiram, 
contribuindo para a expansão do campo. Nesse cenário, uma pesquisadora 
ganha destaque: Marion Carel. Na década de 1990, Carel (1995) elaborou uma 
teoria que aprofundou a TBS.
Marion Carel é professora da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, localizada 
em Paris, na França. Ela possui especialização em semântica e nos estudos discursivos 
e enunciativos.
Segundo Lunardi e Freitas (2011, p. 163), “A TBS é uma teoria que explica 
o sentido argumentativo dos enunciados, de modo que as palavras são descritas 
não a partir de um conhecimento prévio da realidade, mas sim através de suas 
potencialidades discursivas [...]”.
Assim, nessa nova teoria, é mantida a perspectiva da argumentatividade 
e da intencionalidade. Porém, na TAL,
[...] as relações argumentativas entre os signos se baseavam em encadeamentos 
por meio do conectivo portanto, simbolicamente representado por A - - - - - } 
C, em que A indica um fato F, representado em um enunciado-argumento que 
explica ou justifica uma conclusão C (DUCROT, 1989, p. 16).
A grande contribuição de Carel (1995) à teoria de Ducrot é relativa ao 
sentido dos enunciados. Carel (1995) notou que tal sentido é formado pelo 
encadeamento argumentativo entre os enunciados. A TBS “[...] postula que as 
relações argumentativas se baseiam em encadeamentos enunciativos constituí-
dos por dois segmentos, unidos por um conector, que tanto pode ser normativo 
(portanto) quanto transgressivo (no entanto) [...]” (COSTA, 2008, p. 44). Cada 
encadeamento argumentativo, segundo Costa (2008), é fundado na fórmula “X 
conectivo Y”, demonstrando um aspecto argumentativo distinto. O Quadro 
1 sintetiza essas noções.
Semântica argumentativa4
Fonte: Adpatado de Costa (2008).
X conectivo Y
Conectivo normativo Conectivo transgressivo
Portanto No entanto
Quadro 1. Encadeamento argumentativo
A fim de compreender isso melhor, observe o exemplo a seguir:
(3) João tem muito dinheiro e é feliz.
(4) João tem saúde e é feliz.
Observe que, tanto no encadeamento argumentativo (3) quanto no encade-
amento argumentativo (4), a felicidade não é a mesma. Logo, cada felicidade 
possui um sentido específico. Isso se justifica porque cada enunciado é es-
truturado e sequenciado de maneira singular, atuando impreterivelmente de 
maneira conjunta, nunca separada. Observe:
(5) João tem muito dinheiro (portanto) é feliz.
(6) João tem saúde (portanto) é feliz.
Em ambos os casos, há a seguinte configuração:
Enunciado X — conectivo normativo — enunciado Y
Porém, você se lembra de que a TBS também considera os encadeamentos 
argumentativos feitos com operadores argumentativos transgressivos? Pois 
bem, nesse caso, pode-se expandir as possibilidades argumentativas de um 
enunciado. Considere o caso do encadeamento argumentativo “João tem muito 
dinheiro e é feliz”. Em relação a ele, pode-se definir um bloco semântico, 
como mostra o Quadro 2.
5Semântica argumentativa
Fonte: Adaptado de Costa (2008).
Conectivo normativo Conectivo transgressivo
Aspecto argumentativo 1 Aspecto argumentativo 3
João tem muito dinheiro 
e (portanto) é feliz.
X — conectivo normativo — Y
João não tem muito dinheiro 
e (no entanto) é feliz.
X negativo — conectivo 
transgressivo — Y
Aspecto argumentativo 2 Aspecto argumentativo 4
João não tem muito dinheiro 
e (portanto) não é feliz.
X negativo — conectivo 
normativo — Y negativo
João tem muito dinheiro e 
(no entanto) não é feliz.
X — conectivo transgressivo 
— Y negativo
Quadro 2. Bloco semântico
Assim, para cada encadeamento argumentativo, gera-se um aspecto argu-
mentativo com uma fórmula específica, sendo que isso está inserido em um 
bloco semântico. Veja o que afirma Carel (1995, p. 69–70):
[...] os termos do encadeamento argumentativo (X e Y) não são segmentos 
semanticamente independentes compreensíveis cada um em separado, 
mas que constituem uma “representação unitária” dos princípios, estere-
ótipos ou fórmulas que convocam, isto é, se trata de blocos lexicais que 
adquirem sua força persuasiva a partir da explicitação de um determinado 
lugar comum.
Além disso, Costa (2008) ressalta que o sentido é inerente às palavras, 
mas depende do encadeamento argumentativo existente entre os enunciados 
mediados pelos operadores argumentativos. Gera-se, assim, um sentido que 
será evocado em dada situação comunicativa.
Como você viu, a TBS ampliou a TAL, uma vez que a primeira não se 
limita à condição argumentativa fundamentada no conectivo “portanto”. 
A TBS considera outros possíveis encadeamentos argumentativos, os quais 
são validados a partir de um contexto enunciativo específico.
Semântica argumentativa6
3 Modelo de descrição semântico-argumentativo
Neste tópico, você vai ver uma descrição semântico-argumentativa elaborada 
sobretudo a partir da TBS. Você vai verifi car como ocorre a dinâmica dos 
blocos semânticos a partir de um conjunto de enunciados reais. Para começar, 
considere este exemplo, retirado de Freitas (2008, p. 119):
O processo de exploração vigente na Amazônia ocorre sem pla-
nejamento nem ordenação ambiental; portanto, é insustentável. 
A agricultura migratória já devorou vários tipos de floresta, 
apesar da existência de tecnologias para o desenvolvimento 
sustentável da região. Infelizmente, muitas pessoas inescrupu-
losas, inimigas da natureza e escravas do lucro fácil, teimam em 
exterminar a galinha dos ovos de ouro.
Esse exemplo é um trecho de uma carta do leitor publicada em uma revista 
semanal. Aqui, a descrição dos enunciados será dividida em três partes. Em 
cada parte, você vai analisar o encadeamento argumentativo, o aspecto argu-
mentativo e o bloco semântico.
O processo de exploração vigente na Amazônia ocorre sem pla-
nejamento nem ordenação ambiental; portanto, é insustentável.
A seguir, veja como esse trecho pode ser dividido.
  Enunciado 1: “O processo de exploração vigente na Amazônia ocorre 
sem planejamento nem ordenação ambiental”.
  Conectivo normativo: “portanto”.
  Enunciado 2: “é insustentável”.
Assim, o sentido desse bloco semântico é: ação predatória — portanto — 
insubsistente. Todavia, o trecho do exemplo não se limita à primeira parte, 
pois ainda existem mais duas, que você vai ver a seguir. Observe:
A agricultura migratória já devorou vários tipos de floresta, 
apesar da existência de tecnologias para o desenvolvimento 
sustentável da região.
7Semântica argumentativa
Veja a divisão a seguir.
  Enunciado 1: “A agricultura migratória já devorou vários tipos de 
floresta”.
  Conectivo transgressivo: “apesar de”.
  Enunciado 2: “apesar da existência de tecnologias para o desenvolvi-
mento sustentável da região”.
Logo, o sentido desse bloco semântico é: florestas destruídas — no entanto 
— tecnologias para o progresso equilibrado. Por fim, há a terceira parte:
Infelizmente, muitas pessoas inescrupulosas, inimigas da natu-
reza e escravas do lucro fácil, teimam em exterminar a galinha 
dos ovos de ouro.
Novamente, veja a divisão a seguir.
  Enunciado 1: “Infelizmente, muitas pessoas inescrupulosas, inimigas 
da natureza e escravas do lucro fácil”.
  Conectivo transgressivo: “portanto”.
  Enunciado 2: “teimam em exterminar a galinha dos ovos de ouro”.
Dessa forma, o sentido desse enunciado é: pessoas sem escrúpulos — 
portanto — destruição da Amazônia. Observe que, em cada bloco semântico, 
há uma unidade de sentido. Porém, como todos os blocos estão interligados e 
formam um sentido global, é possível criar um bloco semântico do parágrafo 
inteiro. Veja:
Ações predatórias — portanto — insubsistentes — no entanto 
— tecnologias para o progresso equilibrado — portanto — des-
truição da Amazônia.
Em outras palavras:
Ações predatórias que ocorrem na floresta são insubsistentes. 
Mesmo quehaja tecnologia para o progresso equilibrado, a des-
truição da Amazônia ainda acontece.
Semântica argumentativa8
Com base no exemplo, você pode ver como ocorre a descrição semântico-
-argumentativa fundamentada na TBS. Note que o sentido do parágrafo da 
carta do leitor é fruto de um bloco semântico proporcionado por meio de 
encadeamentos e aspectos argumentativos. Esses encadeamentos e aspectos, 
por sua vez, são gerados por meio de articulações entre os enunciados e os 
conectores normativos e transgressivos, sendo que todos são interdependentes, 
produzindo um sentido global de sentenças complexas.
CABRAL, A. L. T. Ducrot. In: OLIVEIRA, L. A. Estudos do discurso: perspectivas teóricas. 
São Paulo: Parábola Editorial, 2013.
CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. Belo Horizonte: 
Editora UFMG, 2005.
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v. 24, n. 1, p. 167–188, 1995.
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do Espírito Santo, Vitória, 2008.
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e sentido na linguagem. Campinas: Pontes, 1989. p. 13–39.
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Sentido no Discurso. Revista do GEL, São José do Rio Preto, v. 5, n. 1, p. 109–128, 2008.
LUNARDI, G. R.; FREITAS, E. C. Metáforas em títulos de reportagens jornalísticas: a ar-
gumentação sob a perspectiva da teoria dos blocos semânticos. Revista Investigações, 
Recife, v. 24, n. 2, p. 157–188, 2011.
9Semântica argumentativa
Semântica cognitiva
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Diferenciar semântica cognitiva de linguística cognitiva.
 Conceituar categorização e teoria prototípica.
 Relacionar a metáfora ao processo de categorização.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a semântica cognitiva, que é uma vertente 
da semântica. Uma das grandes inovações trazidas por ela é considerar, 
dentro do seu arcabouço teórico, a cognição humana no processo de 
significação de uma língua. Com isso, a semântica cognitiva reforça uma 
abordagem mais funcionalista à língua, bem como reitera o papel do 
sujeito nesse processo.
Em um primeiro momento, você vai conhecer a distinção entre a 
semântica cognitiva e a linguística cognitiva. Em seguida, vai estudar o 
conceito de categorização e a teoria prototípica. Por fim, você vai ver qual 
é a relação entre a metáfora e o processo de categorização.
1 Linguística cognitiva e semântica cognitiva
Antes de conhecer a distinção entre semântica cognitiva e linguística cogni-
tiva, é importante que você esteja familiarizado com a trajetória teórica do 
gerativismo. Essa corrente pavimentou o que viria a ser uma nova vertente 
da linguística e da semântica.
O ponto de partida: gerativismo
Com a publicação da obra Estruturas Sintáticas, por volta de 1950, Noam 
Chomsky revolucionou a linguística. Esse estudioso norte-americano trouxe 
ao seio da disciplina questões relacionadas à linguagem como um sistema 
autônomo (assim como outras faculdades mentais, por exemplo, a memória, 
o pensamento matemático, etc.), inato (depositado na mente das pessoas) e 
comum a todos os seres humanos. Com isso, uma abordagem mais formalista 
ganhou espaço na linguística, com ênfase nas “[...] características internas da 
língua, seus constituintes e as relações entre eles” (CORTEZ, 2011, p. 58). A 
partir daí, nasceram conceitos importantes, como os de gramática universal, 
competência e desempenho linguístico.
Chomsky (1972) considerou que as línguas naturais são frutos de princípios 
inatos e autônomos. Para ele, a linguagem é uma característica biológica e 
incrustada no DNA humano. Assim, cada ser humano, por meio de inputs 
(informações linguísticas disponíveis no ambiente em que o falante está), 
estabelece as regras e normas de uma língua. Ao definir um conjunto limitado 
de combinações por meio dessas normas, o falante desse idioma consegue 
produzir infinitas frases (daí o nome “gerativismo”). Tal produção não depende 
do estímulo/resposta advindo do meio para determinar o comportamento, 
contrariando a hipótese behaviorista.
Por ter uma abordagem mais universalista da língua (entendida como algo 
comum a todos os seres humanos), Chomsky (1972) buscou analisar sentenças 
idealizadas, e não sentenças contextualizadas e reais. Além disso, devido ao 
privilégio dado ao estudo das regras e normas internalizadas em cada falante, 
o autor constatou que a sintaxe é o nível gramatical mais alto de todos (em 
detrimento da fonética, da morfologia, da semântica, etc.).
Todavia, a partir de 1980, diversos linguistas revisitaram as contribuições 
de Chomsky, tecendo uma série de críticas. Tais críticas, mais tarde, acabaram 
criando uma nova vertente da linguística, a linguística cognitiva, que por sua 
vez originou a semântica cognitiva.
O surgimento da linguística cognitiva
Em 1980, George Lakoff , Ronald Langacker e Eleanor Rosch iniciaram uma 
série de questionamentos ao gerativismo. Um desses questionamentos dizia 
respeito à noção de que a linguagem seria uma faculdade autônoma na mente 
humana, como se fosse independente de outras faculdades mentais, indo 
de encontro ao princípio da modularidade. Na verdade, a mente funciona 
de maneira integrada. Logo, é “[...] fundamental levar em consideração os 
processos de pensamento subjacentes à utilização de estruturas linguísticas e 
sua adequação aos contextos reais nos quais essas estruturas são construídas” 
(MARTELOTTA; PALOMANES, 2012, p. 179).
Semântica cognitiva2
Considere ainda o seguinte:
[...] a proposta cognitivista leva em conta aspectos relacionados a restrições 
cognitivas que incluem a captação de dados da experiência, sua compreensão 
e seu armazenamento na memória, assim como a capacidade de organização, 
acesso, conexão, utilização e transmissão adequada desses dados (MARTE-
LOTTA; PALOMANES, 2012, p. 179).
Dessa forma, a linguística cognitiva procurou estudar a “[...] relação siste-
mática entre linguagem, pensamento e experiência” (MARTELOTTA; PALO-
MANES, 2012, p. 179). No Quadro 1, a seguir, veja as principais diferenças 
entre o gerativismo e a linguística cognitiva.
Gerativismo Linguística cognitiva
Faculdade da linguagem autônoma. Faculdade da linguagem associada às 
outras faculdades mentais (memória, 
raciocínio lógico, emoções, etc.).
Concepção formalista — estuda a 
língua em sua forma, focando os 
aspectos linguísticos.
Concepção funcionalista — estuda 
a língua em uso, aliando os aspectos 
linguísticos e os extralinguísticos.
Sintaxe como nível privilegiado, que 
comanda as combinações possíveis 
que o falante pode usar.
A fonética, o léxico, a morfologia, a 
sintaxe e a semântica atuam juntos na 
comunicação humana.
Estuda o falante ideal, sem intervenção 
de fatores externos.
Estuda o falante real em conjunto com 
fatores externos a ele.
Quadro 1. Diferenças entre o gerativismo e a linguística cognitiva
Linguística cognitiva e semântica cognitiva
Como você viu, a partir dos estudos de Langacker, de Rosch e, sobretudo, de 
Lakoff , uma nova vertente linguística foi criada: a linguística cognitiva. A 
linguística cognitiva “[...] interessa-se pelo conhecimento através da linguagem 
e procura saber como é que a linguagem contribui para o conhecimento do 
mundo” (SILVA, 1997, p. 3). Além disso, o falante de uma língua adquire um 
3Semântica cognitiva
status relevante nesse processo, pois ele “[...] não é mais visto como um mero 
manipulador de regras preestabelecidas, mas como um produtor de signifi cados 
em situações comunicativas reais nas quais interage com interlocutores reais” 
(MARTELOTTA; PALOMANES, 2012, p. 181).
Nesse contexto, uma das dimensões em quea linguística cognitiva busca 
compreender a maneira pela qual a linguagem auxilia no conhecimento de 
mundo é a semântica, principalmente em relação ao significado. Assim, a 
semântica cognitiva foi constituída como um ramo da linguística cognitiva: 
ela tem o intuito de estudar o significado a partir da perspectiva cognitiva. 
Isso quer dizer que “[...] o significado de uma expressão linguística não reflete 
diretamente a relação entre ‘palavra’ e ‘mundo’, mas é sempre mediado por 
processos inerentes à cognição humana” (FERRARI, 2010, p. 151).
O estudo do significado por meio da mediação da cognição humana é feito “[...] 
através dos nossos sentidos corporais, e a partir daí algumas extensões de sentido são 
estabelecidas” (MARTELOTTA; PALOMANES, 2012, p. 181). Em função disso, o contexto 
externo ao sujeito propicia experiências diversas, as quais são sentidas pelo corpo e, 
por sua vez, fornecem a base para os sistemas de significação. Você vai estudar esse 
fenômeno mais profundamente no tópico seguinte, que trata da categorização e da 
teoria prototípica.
2 O conceito de categorização e a teoria 
prototípica
Você já sabe que a semântica cognitiva, braço da linguística cognitiva, destina-se 
a estudar o sentido a partir da perspectiva da cognição. Esta, por sua vez, estabe-
lece que o sentido se confi gura por meio da mediação dos processos da cognição 
humana, sendo que a experiência do sujeito é parte integrante desse cenário.
De acordo com Silva (1997, p. 6), “[...] a interpretação e a aquisição de novas 
experiências é feita à luz de conceitos e categorias já existentes, que, por isso 
mesmo, funcionam como modelos interpretativos, como paradigmas”. Ainda 
segundo Silva (1997, p. 6), “Uma das capacidades cognitivas fundamentais 
é a categorização, isto é, o processo mental de identificação, classificação e 
nomeação de diferentes entidades como membros de uma mesma categoria”.
Semântica cognitiva4
Ou seja, para a semântica cognitiva, o conceito de categorização é re-
levante, uma vez que ele pode ser considerado um dos elementos-chave do 
processo de significação. Para compreender melhor tal conceito, considere 
as definições a seguir.
  Peixes: animais que nascem e vivem na água.
  Mamíferos: animais vertebrados que têm mamas.
Por meio da sua vivência, o falante, articulando os seus conhecimentos da 
língua, estabelece mentalmente categorias de diferentes seres do mundo. A 
categoria “peixes”, por exemplo, se define por um conjunto de características 
específicas. Da mesma forma, na categoria “mamíferos”, há uma série de 
singularidades. Logo, o conceito de categorização diz respeito às categorias, 
as quais “[...] se formam e se definem em termos de ‘condições necessárias 
e suficientes’ (isto é, através de propriedades individualmente necessárias e 
conjuntamente suficientes)”; consequentemente, “[...] os elementos de uma 
categoria têm o mesmo estatuto (não havendo pois graus de representatividade)” 
(SILVA, 1997, p. 7).
Esse conceito, na verdade, não é novo. Ele já existe desde Aristóteles e foi 
revisitado pela filosofia da linguagem de Wittgenstein e pela antropologia 
cultural de Berlin e Kay (FERRARI, 2010). Contudo, o conceito de catego-
rização possui limitações, como você pode ver a seguir:
Se, por um defeito de nascença, surgir um tigre com apenas três patas, ele 
deixaria de ser tigre? E se, por acaso, algum tigre resolver incluir vegetais em 
sua dieta, ele deixa de ser tigre? [...] Certamente, problemas dessa natureza 
interferem na aceitação de uma definição de conceito que use a noção de 
condições suficientes e necessárias (CANÇADO, 2005, p. 94).
Considere mais uma vez o exemplo mencionado anteriormente: reflita 
agora sobre o caso da baleia, uma vez que ele produz uma inconsistência nas 
categorias de mamíferos e peixes. A baleia possui características de ambos 
os grupos. Logo, o conceito de categorização, para a semântica cognitiva, 
apresenta limitações e insipientes.
Devido a isso, Rosch (1978) criou a teoria prototípica, ou teoria dos pro-
tótipos. De acordo com essa teoria, as categorias se comportam, na verdade, 
a partir da dinâmica entre núcleo e periferia. Observe a Figura 1.
5Semântica cognitiva
Figura 1. As categorias a partir da teoria prototípica.
Pela teoria prototípica, o elemento central carrega mais definições e ca-
racterísticas da categoria do que o elemento periférico. Note que a passagem 
é gradual de dentro para fora e vice-versa. Além disso, um elemento pode ser 
a interface entre duas ou mais categorias. É o que você pode ver na Figura 2.
Figura 2. Interface entre categorias prototípicas: mamíferos e peixes.
Essa teoria se reflete no dia a dia da língua, principalmente no aspecto 
semântico. Para Cançado (2005, p. 94), “A baleia é um animal que tanto pos-
sui propriedades da categoria MAMÍFERO como propriedades da categoria 
PEIXE. Por isso, muitos falantes são incapazes de dizer, com certeza, se a 
baleia é um peixe ou um mamífero”.
Semântica cognitiva6
Aliás, é interessante ressaltar o que Chiavegatto (2009, p. 82) pontua acerca 
dos desdobramentos causados por essa tomada de posicionamento teórico:
A possibilidade de que processos cognitivos e construções linguísticas façam 
parte de categorias prototípicas é fundamental para a análise de uma série de 
fenômenos em linguística cognitiva. Pode explicar, por exemplo, a polissemia, 
a abrangência das correspondências metafóricas e as diferentes naturezas de 
introdutores de espaços mentais.
Dessa forma, no próximo tópico, você vai se aprofundar na teoria proto-
típica, relacionando o processo de significação com um dos fenômenos mais 
instigantes e pesquisados pela semântica cognitiva, a metáfora.
3 O fenômeno da metáfora
Como você viu, para a semântica cognitiva, o processo de signifi cação se 
confi gura a partir da articulação entre as diversas faculdades mentais e as 
experiências dos usuários de uma língua no seu agir no mundo. Por isso, essa 
articulação permite uma categorização dos falantes em relação ao mundo 
pela linguagem.
Entretanto, a categorização da realidade muitas vezes esbarra em sentidos 
que possuem características menos palpáveis, ou seja, mais abstratos, os quais 
demandam processos cognitivos mais elaborados. É nesse contexto que surgem 
as metáforas, fenômeno semântico muito estudado pela semântica cognitiva. 
Como Chiavegatto (2009) expôs anteriormente, as construções linguísticas 
e processos cognitivos pautados na categorização, sobretudo prototípica, 
permitem explicar fenômenos semânticos mais plásticos e intangíveis. Veja:
[...] devido à nossa experiência física de ser e de agir no mundo — de perce-
ber o ambiente à nossa volta, de mover nossos corpos, — de exercitar e de 
experienciar forças, etc. —, formamos estruturas conceituais básicas com as 
quais organizamos o nosso pensamento sobre outros domínios mais abstratos 
(CANÇADO, 2005, p. 102).
Uma forma de isso ocorrer é por meio da metáfora. De acordo com Lakoff 
e Johnson (2003), o processo cognitivo da metáfora realizado pelo falante 
almeja construir um sentido a partir da projeção de domínios, com o intuito 
de materializar um conceito impalpável.
7Semântica cognitiva
Cançado (2005, p. 97) mostra que a metáfora se estabelece a partir da 
aproximação e da atribuição do domínio-fonte e do domínio-alvo: “[...] o ponto 
de chegada ou o conceito descrito é conhecido, geralmente, como o domínio 
do alvo (do inglês, target domain); [...]. Enquanto o conceito comparado, ou a 
analogia, é conhecida como o domínio da fonte (do inglês, source domain)”. 
Para exemplificar a metáfora, Lakoff e Johnson (2003) utilizam o caso clássico 
“argumentação é guerra” (Quadro 2).
Fonte: adaptado de Lakoff e Johnson (2003).
Domínio-fonte Domínio-alvo
Guerra (palpável) Argumentação (abstrato)
Inimigos Debatedores
Confronto Discussão
Quadro 2. Metáfora “argumentação é guerra”
Como você pode observar, o domínio-fonte projeta sentidos (inclusive frutos 
de experiências reais do falante)no domínio-alvo. Isso faz com que a argu-
mentação, uma abstração, adquira características oriundas do domínio-fonte.
Considere o seguinte:
Entre os dois domínios estabelecem-se analogias estruturais: os participantes 
de uma discussão correspondem aos adversários de uma guerra, o conflito 
de opiniões corresponde às diferentes posições dos beligerantes, levantar 
objeções corresponde a atacar e manter uma opinião a defender, desistir de 
uma opinião corresponde a render-se, etc. Tal como uma guerra, uma batalha 
ou uma luta, também uma discussão, um debate ou o processo de argumen-
tação pode dividir-se em fases, desde as posições iniciais dos oponentes até 
a vitória de um deles, passando por momentos de ataque, defesa, retirada, 
contra-ataque (SILVA, 1997, p. 13).
Semântica cognitiva8
Chiavegatto (2009, p. 89) mostra que a metáfora também influencia outros 
processos de significação:
Com as informações que são transferidas entre os domínios, construímos 
novos significados com relações que se processam no contexto. [...]. As cor-
respondências efetuadas podem explicar, por exemplo, processos figurativos 
como as metáforas e suas extensões em figuras como analogias, comparações, 
personificações, hipérboles, eufemismos.
A metáfora, à luz da semântica cognitiva, se constitui a partir da dinâmica 
dos domínios, os quais não só estruturam o pensamento humano, como 
também auxiliam na significação, bem como na compreensão do mundo 
pelo falante.
Neste capítulo, você estudou os pressupostos teóricos fundamentais da 
semântica cognitiva. Como você viu, ela é um braço da linguística cognitiva, 
que surgiu a fim de questionar os princípios gerativistas. De modo ímpar, 
a linguística cognitiva trouxe para a semântica a cognição como elemento 
importante do processo de significação.
Além disso, como você viu, para a semântica cognitiva, o sentido é 
estabelecido entre a palavra e o mundo, em um processo mediado pela 
cognição humana. Nesse processo, a interpretação se configura a partir de 
formulações de categorias que classificam e organizam a realidade. Porém, 
a categorização não é feita de maneira engessada e estanque. Na verdade, 
ela se comporta por meio de protótipos, aliando elementos com um maior 
conjunto de características (nucleares) a elementos com um menor conjunto 
de características (periféricos).
Por último, você estudou a relação entre a categorização e a metáfora, 
que se mostra um fenômeno importante na significação. Afinal, por meio da 
projeção de domínios, a metáfora permite expandir e atribuir novos sentidos 
às mais distintas expressões linguísticas.
9Semântica cognitiva
CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. Belo Horizonte: 
UFMG, 2005.
CHIAVEGATTO, V. C. Introdução à linguística cognitiva. Matraga, v. 16, n. 24, 2009. Dis-
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ponível em: http://www.cadernosdeletras.uff.br/joomla/images/stories/edicoes/41/
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Semântica cognitiva10
Semântica computacional 
e semântica cultural
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Identificar a semântica computacional e a sua interface com as ciências 
linguísticas.
 Resumir as divisões da semântica computacional.
 Explicar os níveis de sentido no âmbito da semântica cultural.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar duas vertentes da semântica, a compu-
tacional e a cultural. Primeiramente, você vai conhecer os pressupostos 
básicos da semântica computacional e ver como se configurou a relação 
entre a linguística e a informática. Ademais, vai conferir quais foram os 
impactos dessa relação na pesquisa sobre a linguagem.
Depois, você vai se debruçar sobre os conceitos básicos da semân-
tica cultural, uma vertente relativamente nova da área da semântica. 
Diferentemente das outras vertentes, ela privilegia os aspectos culturais 
e identitários no estudo do sentido nas línguas naturais.
1 Semântica computacional
Para começar a compreender a semântica computacional, você precisa se 
familiarizar com a linguística computacional. Afi nal, a semântica computa-
cional é uma das ramifi cações da linguística computacional. A seguir, você 
vai conhecer os pressupostos básicos da linguística computacional e verifi car 
a sua relação com a semântica computacional.
Semântica e linguística computacional
A linguística computacional é, como descrevem Vieira e Lima (2001, p. 1), “[...] 
a área de conhecimento que explora as relações entre linguística e informática, 
tornando possível a construção de sistemas com capacidade de reconhecer e pro-
duzir informação apresentada em linguagem natural”. Othero (2006), por sua vez, 
destaca que o conhecimento produzido pela linguística computacional é utilizado 
para tentar processar (isto é, compreender e produzir) as línguas naturais e dominar 
o conhecimento linguístico envolvido em uma linguagem natural. A linguística
computacional teve início em 1950, com Warren Weaver, matemático estadunidense.
Weaver, aproximando a matemática da comunicação, iniciou o campo 
de conhecimento da tradução automática (machine translation) a partir da 
projeção de um computador voltado para a tradução, denominado memo-
randum. Assim, a linguística computacional, ao aliar essas duas áreas do 
conhecimento, promove um tratamento computacional da linguagem, ou seja, 
o linguista computacional aplica os princípios computacionais, principalmente
o de processamento de dados, à linguística.
Para saber mais sobre a tradução automática, leia o artigo de Ronaldo T. Martins e 
Maria das Graças V. Nunes intitulado “Noções Gerais de Tradução Automática”. O artigo 
está disponível on-line e você pode encontrá-lo por meio de uma busca na internet.
O processamento de dados consiste basicamente no conjunto de atividades 
executadas de modo planejado para coletar e ordenar dados, a fim de executar 
algo com determinado fim (BONIATI; PREUSS; FRANCISCATTO, 2014). A 
produção de texto no computador é um exemplo de processamento de dados. O 
programador de um software de edição de texto fornece uma série de comandos, os 
quais são inseridos no computador. Quando o usuário aciona o teclado e o mouse, 
vários dados são gerados; tais dados são coletados e transformados em texto digital.
Agora, considere essa mesma lógica no âmbito da linguística computacio-
nal. Ao articular os conhecimentos da computação à linguística, o linguista 
computacional aplica o processamento de dadosaos diversos fenômenos 
linguísticos, envolvendo desde o armazenamento até a interpretação. Um 
exemplo é o ReGra, um revisor gramatical para o português desenvolvido 
Semântica computacional e semântica cultural2
pelo Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional de São Carlos. 
Esse programa tem a função de verificar desvios ortográficos, utilização 
inadequada da crase, regência e concordância verbal e nominal, tudo de acordo 
com a norma padrão da língua portuguesa (RINO et al., 2002).
Portanto, a linguística computacional busca explorar os conhecimentos da 
informática e aplicá-los à linguística, de modo que os fenômenos linguísticos 
sejam tratados pela computação — tanto no que diz respeito ao armazenamento 
e à organização quanto no que se refere à compreensão e à interpretação.
Princípios da semântica computacional
Como você viu, a linguística computacional é o ramo interdisciplinar que 
abarca tanto os conhecimentos da informática quanto os da linguística. A partir 
disso, ela busca sistematizar os fenômenos linguísticos, ora na perspectiva do 
armazenamento, ora na perspectiva da interpretação.
Em síntese, a semântica computacional é o braço da linguística computa-
cional cujo princípio é unir os conhecimentos da informática aos da semântica. 
Dessa forma, segundo Pagani (2013, p. 1), a semântica computacional possui 
uma:
[...] tendência maior para a explicação dos fenômenos (tanto linguísticos, em 
relação à capacidade semântica dos falantes de alguma língua, quanto compu-
tacionais, em relação à implementação desses fenômenos em computadores) 
ou para a sua metacompreensão (novamente, tanto linguisticamente na imple-
mentação computacional de modelos linguísticos quanto computacionalmente 
discutindo-se a computabilidade das teorias ou dos fenômenos linguísticos).
Ou seja, a semântica computacional almeja estudar os fenômenos semânti-
cos com a contribuição da informática, seja para compreender tais fenômenos 
por meio da informática, seja para utilizar esta última com a finalidade de 
colher, tratar e organizar os dados que envolvam fenômenos linguísticos.
Um exemplo disso pode ser observado nos programas do tipo chatterbots. 
Os chatterbots são programas de computador projetados para simular uma 
conversa (chat significa “conversa”, enquanto bot é a abreviação de “robô”). 
Veja o que Othero (2006, p. 348) comenta a respeito dessa ferramenta:
[...] acreditamos que a próxima geração de chatterbots deva exigir dos pro-
gramadores um profundo conhecimento [...] da semântica de uma língua 
(que tornará possível fazer com que o programa seja capaz de interpretar o 
significado do input linguístico dado a ele pelo usuário humano).
3Semântica computacional e semântica cultural
Note que a semântica computacional vincula os conhecimentos da pró-
pria semântica aos da informática. A ideia é que a partir disso seja possível 
estudar e pesquisar os processos de significação de maneira interdisciplinar. 
Ademais, embora a semântica computacional tenha como característica a 
interdisciplinaridade com a informática, isso não quer dizer que ela esteja 
longe da linguística. Na verdade, o que existe é um aprofundamento do estudo 
dos fatos da linguagem, mas com contribuições da informática, de modo que 
se possa entender os fenômenos linguísticos pela óptica dos computadores.
2 Áreas da semântica computacional
A partir de agora, você vai conhecer a divisão existente na semântica compu-
tacional. Pode-se dizer que essa divisão está mais ligada à maneira pela qual 
os conhecimentos da semântica e os da informática são aplicados e ao fi m que 
eles possuem. Assim, tais conhecimentos são divididos em dois grandes gru-
pos: a linguística de corpus e o Processamento de Linguagem Natural (PLN).
Linguística de corpus
Essa área da semântica computacional está associada ao “[...] trabalho a par-
tir de corpora eletrônicos que contenham amostras de linguagem natural” 
(OTHERO, 2006, p. 342). Ou seja, essa categoria está preocupada em coletar, 
armazenar e analisar dados e informações de ordem semântica. Em suma, a 
linguística de corpus almeja reunir um conjunto de dados referentes a fenô-
menos semânticos e tratá-los para determinado fi m. Um exemplo disso são 
os modelos semânticos descritos por Hanis e Noller (2012).
Os modelos semânticos são programas de computador capazes de classificar 
e relacionar as informações de um banco de dados qualquer, de modo que se 
possa categorizar e cruzar essas informações. Ou seja, a partir de definições 
e conceitos previamente programados, é possível agrupar dados similares e 
fazer com que eles interajam com outros.
Para compreender melhor, considere o caso dos aplicativos de tráfego 
(HANIS; NOLLER, 2012). Em um aplicativo de tráfego inteligente, dados 
são fornecidos em tempo real a partir de sensores de semáforo, sensores de 
velocidade, relatórios meteorológicos e de acidentes, eventos do calendário 
(feriados, por exemplo), etc. Porém, é necessário categorizar tais dados para 
que eles sejam funcionais. Além disso, existem situações nas quais pode haver 
ambiguidade, a exemplo da palavra “veículo”. Essa palavra sozinha pode não 
Semântica computacional e semântica cultural4
representar a realidade, ou seja, o veículo pode ser um carro, uma caminhonete, 
um caminhão, uma motocicleta, etc.
É nesse momento que o modelo semântico pode ser inserido. Nesse contexto:
[...] um modelo semântico poderia ajudar a entender relações como as dos sensores 
de semáforo com as intersecções que eles monitoram, qualquer sensor de semáforo 
com outros sensores na mesma estrada ou a relação das estradas sobre as quais 
temos dados de sensor específicos com outras estradas que as cruzam e, coletiva-
mente, como alimentadores para as principais rodovias. O modelo também pode 
gerar informações parecidas sobre linhas de ônibus ou de metrô. Pode descrever 
os tipos de serviço disponíveis com os locais atendidos. As relações entre as 
estações e endereços e linhas de serviço e rotas de carro forneceriam a base para 
entender as implicações sobre o tráfego rodoviário de perturbações específicas 
no serviço de transporte coletivo (HANIS; NOLLER, 2012, documento on-line).
Portanto, a linguística de corpus se volta diretamente para os corpora de 
natureza semântica, com o intuito de tratar, organizar e analisar esse conjunto 
de dados por meio da articulação entre os saberes da semântica e da informática.
PLN
Outra divisão da semântica computacional diz respeito ao PLN. Como afi rma 
Othero (2006, p. 342), essa divisão:
[...] preocupa-se diretamente com o estudo da linguagem voltado para a cons-
trução de softwares, aplicativos e sistemas computacionais específicos, como 
tradutores automáticos, chatterbots, parsers, reconhecedores automáticos de 
voz, geradores automáticos de resumos, etc.
Assim, esse tipo de semântica computacional está diretamente associado à 
interpretação das línguas, sobretudo no nível do sentido. Isso pode ser atestado 
por Vieira (2002, p. 20), que diz que, “[...] para o processamento da língua 
natural, vários subsistemas são necessários para dar conta dos diferentes 
aspectos da língua: sons, palavras, sentenças e discurso nos níveis estruturais, 
de significado e de uso”.
Um caso que representa isso, inclusive já abordado aqui, é o dos chatterbots. 
Assim, o PLN se mostra um campo bastante fértil para a semântica computa-
cional, principalmente quando atrelado à Inteligência Artificial (IA). Nesse 
sentido, McDonald e Yazdani (1990, p. 176) pontuam que “[...] a pesquisa em 
PLN pode proporcionar insights bastante úteis sobre processos e representações 
da linguagem na mente humana, apontando, assim, para a verdadeira IA”.
5Semântica computacional e semântica cultural
3 Semântica cultural
Agora, você vai conhecer mais uma vertente da semântica, a semântica cultural. 
Para Ferrarezi Junior e Basso (2013, p. 1), essa vertente “[...] estuda a relação 
entre os sentidos atribuídos às palavras ou demais expressões de umalíngua 
e a cultura em que essa mesma língua está inserida”.
De certa forma, a semântica cultural traz uma abordagem nova, pois atrela o 
aspecto do sentido à cultura da língua. Souza e Vianna (2015, p. 111) destacam 
que a semântica cultural atesta:
[...] que as estruturas das línguas naturais não são meros agrupamentos de 
regras gramaticais, mas reflexos da cultura, das organizações sociais e do 
meio. Nesse sentido, a Semântica Cultural vê a língua como sendo mais do que 
uma herança passada de geração a geração, tendo em vista que ela interfere, 
diretamente, na forma como enxergamos e vivenciamos o mundo, uma vez 
que é através dela, da língua, que expressamos esse mundo.
Portanto, na perspectiva da semântica cultural, uma língua não é um produto 
artificial e isolado socialmente. Na verdade, ela é viva e contextualizada, de 
modo que influencia e é influenciada pela cultura. Aqui, a cultura é entendida 
a partir do conceito proposto por Eagleton (2005). Para esse autor, a cultura 
é um conjunto de valores, costumes, crenças e práticas que configuram a 
forma de viver de um grupo específico. Tal conjunto é responsável por gerar 
conhecimento implícito, permitindo que os integrantes do grupo ressignifiquem 
e se apropriem de modos de agir em contextos específicos.
Considerando esses pressupostos, você consegue depreender como a se-
mântica cultural concebe o processo de significação das línguas humanas? 
Para essa corrente, as línguas possuem duas dimensões: a visão de mundo 
dos falantes e a dimensão linguística.
Dimensão da visão de mundo do falante
Para Novais e Ferrarezi Junior (2015, p. 3), a dimensão da visão de mundo do 
falante “[...] é construída por meio e entremeada com a construção cultural de 
cada comunidade (onde se inserem os signifi cados)”. Ou seja, ela é o conjunto 
de crenças, costumes e práticas singulares de uma região, o qual particulariza 
uma forma de se enxergar a realidade, de acordo com a perspectiva do falante. 
É nesse nível que os signifi cados estão inseridos.
Semântica computacional e semântica cultural6
Dimensão linguística
Já a dimensão linguística, segundo Novais e Ferrarezi Junior (2015), é a ma-
nifestação da visão de mundo do falante. É na dimensão linguística que o 
sentido está inserido. Para a semântica cultural, existe uma distinção entre o 
signifi cado (nível da visão de mundo do falante) e o sentido (nível linguístico).
Entretanto, para essa vertente da semântica, é mais pertinente estudar o 
nível linguístico:
Se o significado não é objeto do estudo da Semântica, mas suas manifestações 
é que o são — quais sejam elas, as múltiplas formas pelas quais a língua o 
manifesta em seu sistema e nas funções para as quais esse sistema foi criado 
[...] podemos confirmar a adoção do termo “sentido”, que me parece ser, na 
literatura corrente, aquele que mais se aproxima da ideia que pretendo expres-
sar quando falo de manifestações linguísticas do significado (FERRAREZI 
JUNIOR, 2010, p. 59).
Com o intuito de tornar esses dois conceitos mais palpáveis, Almeida e 
Fossile (2016) formulam o exemplo apresentado no Quadro 1, a seguir. Esse 
exemplo parte do princípio de que cada região do Brasil encara a figura da 
mulher de maneira diferente. Afinal, cada lugar, devido às suas singularidades, 
possui uma visão de mundo específica. Ademais, existe também a prática dessa 
visão de mundo, isto é, a manifestação verbal dela por meio de uma língua. 
Considerando isso tudo, o Quadro 1 mostra o caso da palavra “rapariga”, 
indicando como ela é utilizada em cada região do Brasil.
 Fonte: Adaptado de Almeida e Fossile (2016). 
Região do Brasil Sentido
Amazônia Menina virgem, donzela
Região Sul Moça jovem de boa família
Região Nordeste Concubina geralmente sustentada 
por um homem casado
Região Norte e Região Centro-Oeste Prostituta
 Quadro 1. Dimensão da visão de mundo do falante e dimensão linguística utilizando 
como exemplo a palavra “rapariga” 
7Semântica computacional e semântica cultural
Como você pode inferir, ainda que esteja em jogo a mesma palavra, o 
sentido vinculado a ela (dimensão linguística) está em função de um signifi-
cado (dimensão da visão de mundo) contextualizado em determinada cultura. 
Inclusive, alguns sentidos podem ser mais estabilizados, uma vez que podem 
ser mais comuns a determinadas culturas do que outros sentidos, os quais são 
mais singulares. Nesse viés, destacam-se as expressões idiomáticas, as quais, 
segundo Rocha (2012), são unidades lexicais que contêm uma linguagem 
metafórica e, muitas vezes, são fruto de uma comunidade específica. Aliás, 
elas são frequentemente estudadas por essa vertente semântica.
Ao longo deste capítulo, você estudou os princípios básicos da semântica computacio-
nal e cultural. Como você pôde notar, a semântica computacional reúne conhecimentos 
tanto da própria semântica quanto da informática, sendo dividida em linguística de 
corpus e PLN. Já a semântica cultural insere o fator cultural na investigação do significado, 
permitindo que os traços identitários sejam levados em consideração no momento 
da pesquisa e da análise semântica.
ALMEIDA, N. R.; FOSSILE, D. K. Semântica cultural: um estudo acerca da atribuição de 
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proj.ufsm.br/cadernos/cafw/tecnico_agroindustria/introducao_informatica.pdf. Acesso 
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perworks/br/industry/library/ind-semanticmodels/index.html. Acesso em: 8 abr. 2020.
Semântica computacional e semântica cultural8
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
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local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
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linhas, ano 2, n. 4, 2002.
VIEIRA, R.; LIMA, V. L. S. Linguística computacional: princípios e aplicações. In: NEDEL, 
L. (org.). IX Escola Regional de Informática - 2001 (ERI2001). Porto Alegre: SBC- Regional 
Sul, 2001. v. 1, p. 27-58.
Leitura recomendada
MARTINS, R. T.; NUNES, M. G. Noções gerais de tradução automática. NILC - ICMC-USP, 
n. 68, p. 1-26, 2005. Disponível em: http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/download/Notas-DidaticasICMC_68.pdf. Acesso em: 5 maio 2020.
9Semântica computacional e semântica cultural
SEMÂNTICA E 
PRAGMÁTICA
Mariana Corallo Mello de Azevedo Kuhlmann
Pragmática: definição 
e situação no campo 
da linguística
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Analisar as bases e interfaces da pragmática com a linguística e com
a análise do discurso.
 Identificar os conceitos de coerência pragmática e de regras
conversacionais.
 Descrever a corrente funcionalista na pragmática.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a constituição teórico-metodológica 
da pragmática no âmbito dos estudos linguísticos. Para isso, você vai 
conhecer os fundamentos que sustentam a pragmática enquanto abor-
dagem da linguagem humana, com vistas a ampliar a sua compreensão 
sobre o objeto de análise dessa área de estudos. Paralelamente, você 
vai ver quais são as possíveis interfaces entre pragmática, educação e 
análise do discurso.
Em seguida, você vai se familiarizar com os princípios básicos postu-
lados pela pragmática, o que inclui o conceito de coerência pragmática, 
que se relaciona às regras conversacionais. Por fim, você vai estudar a 
abordagem funcionalista da pragmática e ver as possibilidades de análise 
linguística pautadas por essa orientação.
1 O espaço da pragmática nos estudos 
linguísticos
A comunicação humana propicia um espectro de análise muito amplo, com 
abordagens teórico-metodológicas que enfocam diversos objetos de estudo. 
Para você compreender o espaço da pragmática nos estudos linguísticos, é 
interessante partir de um exemplo:
Eu já assumi um projeto.
Em princípio, o teor informacional dessa sentença é restrito. É possível 
depreender que o sujeito elabora uma afirmação acerca de um projeto que foi 
assumido. Há também um elemento temporal expresso pelo advérbio “já”, 
que reforça que o espaço de tempo vinculado à ação de assumir um projeto 
se encontra no passado. No entanto, a análise acerca da sentença é meramente 
descritiva. Não há indícios ou recursos que permitam investigar de modo 
pormenorizado o contexto da situação em que esse enunciado foi emitido. 
Analise agora o mesmo exemplo, mas apresentado em outro formato:
Interlocutor 1: Estou procurando com urgência colaboradores 
para o meu projeto. Você teria disponibilidade para participar?
Interlocutor 2: Eu já assumi um projeto.
Interlocutor 1: Entendi. Tudo bem.
Em relação ao contexto em que esse diálogo acontece, considere o seguinte:
  os interlocutores trabalham juntos em uma empresa;
  recentemente houve a atribuição de projetos na empresa, que variam 
em termos de responsabilidade e complexidade.
Como você viu, a mesma frase do primeiro exemplo aparece posteriormente 
em meio a informações adicionais: há um outro interlocutor, o Interlocutor 
1, que elabora uma pergunta direcionada ao Interlocutor 2. Também há in-
formações que não estão diretamente expressas na interação presente nesse 
curto diálogo: sabe-se que ambos os interlocutores trabalham juntos em uma 
empresa que distribuiu diferentes projetos a seus funcionários e que tais 
projetos possuem níveis de complexidade diversos. A partir desses dados, é 
possível propor uma análise mais pormenorizada, baseada no contexto de fala 
e no que foi linguisticamente formulado pelos interlocutores.
Pragmática: definição e situação no campo da linguística2
Você pode concluir que o Interlocutor 1 está sobrecarregado em relação ao 
projeto sob a sua responsabilidade, uma vez que ele emprega a expressão “com 
urgência”. Ao perceber que o Interlocutor 2 pode ter mais disponibilidade, 
talvez por ter assumido um projeto mais simples, ele pergunta se haveria a 
possibilidade de colaboração entre ambos. Tal solicitação não é atendida pelo 
Interlocutor 2, que expressa uma resposta nem explicitamente afirmativa, 
nem negativa — ele afirma que já assumiu outro projeto, sinalizando falta de 
interesse em estabelecer uma parceria de colaboração. O diálogo se encerra com 
o Interlocutor 1, que sinaliza a compreensão da resposta que lhe foi fornecida.
Essa breve análise exemplifica o escopo dos estudos situados na pragmática: 
o uso da linguagem. A análise do uso da linguagem, por estar contextualizada, 
revela informações que podem não estar expressamente ditas nos enunciados. 
Segundo Fiorin (2008a, 2008b), a pragmática é o campo da linguística dedicado 
a estudar a relação entre a estrutura da linguagem e a sua utilização propria-
mente dita. Para o autor, a pragmática é absolutamente necessária “[...] pois 
há palavras e frases cuja interpretação só pode ocorrer na situação concreta 
da fala [...]”, uma vez que “[...] comunicamos muito mais do que as palavras 
significam [...]” (FIORIN, 2008a, 2008b, p. 166).
Ao retomar os exemplos apresentados no início desta seção, você pode 
perceber a pertinência das considerações tecidas por Fiorin (2008a, 2008b). 
O enunciado “Eu já assumi um projeto”, quando descontextualizado, é co-
municativamente restrito. O teor informacional da sentença fica limitado ao 
significado das palavras. No entanto, quando a sentença é contextualizada, 
torna-se viável analisar o processo interacional em que ela foi enunciada. Ao 
afirmar que um outro projeto já foi assumido, o interlocutor não apenas define 
algo sobre a sua situação particular: ele situa o seu papel social em relação ao 
interlocutor. A falta de disposição para colaborar com o seu colega, expressa 
na afirmação sobre a sua situação de trabalho, constitui, na realidade, uma 
resposta indireta, porém negativa, para a pergunta feita.
No campo da pragmática, há uma gama de regras e estratégias linguísticas 
por meio das quais as funções gerais da linguagem podem ser realizadas com 
o propósito de atender às intenções comunicativas dos falantes. No exemplo 
apresentado, o Interlocutor 2 provavelmente optou por não responder negati-
vamente para evitar uma situação de conflito e manter a polidez. Sobre tais 
regras, Bates (1976, p. 81) afirma:
A Pragmática é talvez melhor definida como sendo um conjunto de regras 
que regem o uso da língua no contexto. Como tal, não define um tipo distinto 
de estrutura linguística ou “objeto”. Pelo contrário, tudo na linguagem é 
3Pragmática: definição e situação no campo da linguística
pragmática, para começar. Nós escolhemos nossos sentidos para se adequar 
aos contextos e construir nossos sentidos para esses contextos, de tal forma 
que os dois são inseparáveis, da mesma maneira que a figura é definível de 
acordo com o fundo. Segundo essa visão, todo ato envolvido na construção 
de sentido é um ato pragmático.
Isso significa que a pragmática situada na linguística contempla as carac-
terísticas de utilização da língua, como a intencionalidade dos falantes, os 
papéis sociais exercidos por eles, os tipos socializados de fala e o conhecimento 
de mundo, aqui entendido como as referências socioculturais que os falantes 
possuem. Por isso, é razoável considerar que a pragmática se encontra na 
intersecção entre três elementos da linguagem, também compreendidos como 
aspectos pragmáticos da linguagem: o contexto, os usuários e o conhecimento 
sociocultural (Figura 1).
Figura 1. Elementos da linguagem constituintes da pragmática.
A relação entre usuários (falantes ou interlocutores), contexto (situação 
interativa) e conhecimento (referências socioculturais) constitui as condições 
de uso da língua. Isso significa que, nesse âmbito teórico-metodológico, os 
interlocutores são sujeitos intencionais que selecionam estratégias discursivas, 
Pragmática: definição e situação no campo da linguística4
a partir do seu repertório de referências, para expressar atos de fala que se 
concretizam em determinado contexto.
O marco inicial da pragmática se deu por meio das contribuições dos 
filósofos da linguagem Austin (1990) e Grice (1982). Ainda recorrendo às 
considerações de Fiorin (2008a, 2008b, p. 166), é possível sintetizar tais con-
tribuições e o processo de consolidaçãoda pragmática da seguinte forma:
O ponto de partida da Pragmática foram os trabalhos dos filósofos da linguagem 
John Austin e Paul Grice. O primeiro diz que a linguagem não tem uma função 
descritiva, mas uma função de agir. Ao falar o homem realiza atos. Por exemplo, 
ao dizer Eu lhe prometo vir, o ato da promessa é realizado quando se diz Eu lhe 
prometo. Grice mostra que a linguagem natural comunica mais do que aquilo 
que se significa num enunciado, pois quando se fala, comunicam-se também 
conteúdos implícitos. Quando alguém diz ao outro, que está se aprontando para 
sair, São oito horas, ele não está fazendo uma simples constatação sobre o que 
marca o relógio, mas dizendo Apresse-se; Vamos chegar atrasados.
Assim, a perspectiva lançada pela pragmática reconhece que, ao articular 
sentenças, o falante não está limitado a constatar passivamente aquilo que é 
informado; ele efetivamente age em determinado contexto. Quanto ao conteúdo 
da linguagem, a pragmática assume que há informações que são comunicadas 
nos processos interativos sem serem explicitamente mencionadas. Rajagopalan 
(2016, p. 198) também contempla essas constatações:
A Pragmática é um modo peculiar de olhar para a linguagem e estudá-la. Ela 
encara a linguagem como ação, acima de qualquer coisa ou produzir certos 
vocábulos. Em verdade, nós agimos de uma forma ou de outra ao optar por 
falar alguma coisa para alguém. Ou, até mesmo ao optarmos por calar ao invés 
de falar. A fala e mesmo a ausência de fala fazem parte de um ato bem mais 
complexo. Ao falar, nós nos posicionamos no mundo diante das situações 
nas quais nos encontramos e diante das questões que surgem. E isso tem 
desdobramentos políticos, entre outros.
Nesse ponto, percebe-se que há uma interface entre a pragmática e a análise 
do discurso. Para demonstrar tal interface, cabe definir, mesmo que brevemente, 
o que se afirma sobre a análise do discurso:
Em resumo, o que a Análise do Discurso se propõe é não reduzir a função da 
linguagem apenas a informar, a comunicar ou a persuadir. Trabalhando com 
as condições de sentido, a Análise do Discurso busca pontuar o confronto 
político-ideológico que historicamente se materializa no discursivo (SOUZA, 
2016, p. 126).
5Pragmática: definição e situação no campo da linguística
Assim, a partir dessas considerações analíticas e definicionais, é possível 
apreender que as condições de sentido consistem em aspectos pragmáticos 
que veiculam processos discursivos de cunho político-ideológico. Em outras 
palavras, os aspectos pragmáticos são traços que podem ser resgatados no 
discurso de modo a evidenciar referências socioculturais que se materializam 
historicamente na fala por meio de convenções e estratégias linguísticas.
Em termos práticos, tal interface entre pragmática e análise do discurso se 
concretiza no setor da educação. A partir do referencial teórico composto por 
essas duas áreas, é possível propor diversos encaminhamentos para investigar 
a materialidade da linguagem — seja na língua oral, seja na língua escrita —, 
bem como as suas variadas formas de significação e interpretação.
Capperucci (2010, p. 60) discorre sobre essa relação no campo da educação 
ao reconhecer que as práticas pedagógicas no Brasil tendem a não estimular 
os alunos a se constituírem com leitores ativos da linguagem e dos processos 
de ensino e aprendizagem:
Considerada a importância da linguagem, dentro da educação pretendemos 
ampliar a discussão sobre a necessidade de analisar os discursos implícitos 
e explícitos no contexto educativo com o objetivo de ascendermos linguis-
ticamente na capacidade de verificarmos nas ideologias subjacentes nos 
documentos que regem a educação brasileira, seus reais objetivos, e assim, 
partindo de uma visão sem estereótipos discutirmos possibilidades de rupturas 
para novas direções.
Assim, se a análise do discurso se propõe a recuperar os processos de cons-
trução e socialização do conhecimento, a pragmática investiga os mecanismos 
linguísticos e os aspectos contextuais que os sustentam. Veja o que Fiorin 
(2008a, 2008b, p. 181) afirma sobre essa relação entre discurso e pragmática:
Todos esses mecanismos produzem efeitos de sentido no discurso. Não é 
indiferente o narrador projetar-se no enunciado ou alhear-se a ele; simular 
uma concomitância dos fatos narrados com o momento da enunciação ou 
apresentá-los como anteriores ou posteriores a ele; presentificar o pretérito; 
enunciar um eu sob a forma de um ele.
Alinhar ambas as áreas do setor da educação parece ser uma estratégia 
certeira para o processo de renovação da educação brasileira. A ideia é 
propor atividades e práticas pedagógicas que questionem as mensagens 
Pragmática: definição e situação no campo da linguística6
explícitas e implícitas implicadas nos discursos que circulam na sociedade 
e nos documentos escolares — documentos pedagógicos, planos de aula, 
avaliações, etc.
2 A noção de coerência pragmática e as regras 
conversacionais
Fiorin (2008a, 2008b, p. 176) destaca que, no bojo da pragmática, há a ten-
dência, por parte de alguns estudiosos, de assumir que os comportamentos 
linguísticos são determinados por regras ou princípios gerais de natureza 
racional: “A maneira de utilizar a linguagem na comunicação é regida por 
princípios gerais assentados em inferências pragmáticas [...]”.
Essa orientação teórico-metodológica conduziu Grice (1982) a propor 
estudos dedicados a analisar tais princípios gerais. Como resultado de 
seus esforços de análise, Grice (1982) propôs a noção de implicatura, 
relacionada ao princípio da cooperação. Sinteticamente, Grice (1982) 
afirma que esse princípio pode ser formulado do seguinte modo: que as 
intervenções e contribuições do falante às interações ocorram conforme o 
requerido pelo objetivo ou pela direção acordados durante a troca verbal 
em que se está engajado.
O princípio da cooperação pode ser definido como um dispositivo geral 
da comunicação que permite que os falantes deduzam e façam inferências, 
também chamadas de “implicaturas conversacionais”, preenchendo lacunas 
de sentido que se verificam, proposital ou inadvertidamente, em certos enun-
ciados. Considere o seguinte:
Segundo inúmeros estudiosos da Pragmática, ela é governada por um 
Princípio de Cooperação, que exige que cada enunciado tenha um objeto 
ou uma finalidade. Muitas vezes, os atos de fala não são manifestados 
explícita, mas implicitamente e, portanto, só se percebe o objeto ou o 
propósito de um enunciado quando se entendem esses implícitos (FIORIN, 
2008b, p. 176).
Esse dispositivo está fundamentado em regras conversacionais, também 
chamadas de “máximas conversacionais”. Essas regras são compartilhadas 
pelos falantes por meio de um repertório de conhecimento. Tal repertório 
7Pragmática: definição e situação no campo da linguística
os conduz a reconhecer e recuperar o teor motivacional e intencional que 
sustenta os enunciados de modo a preservar a coerência pragmática em 
dada situação.
A coerência pragmática é um conceito central na organização da comunica-
ção. Basicamente, a coerência pragmática consiste numa esquematização linear 
que supõe que uma resposta seja elaborada quando uma pergunta é enunciada. 
É por meio da coerência pragmática que os atos de fala se organizam, sendo 
orientados pelas regras ou máximas conversacionais de Grice (1982).
A seguir, veja uma síntese das regras ou máximas conversacionais de 
Grice (1982).
  Regra da quantidade: a contribuição deve conter o tanto de informação 
exigida; ela não deve conter mais informações do que é exigido.
  Regra da qualidade: a contribuição deve ser verídica; não se deve 
afirmar o que se pensa que é falso e não se deve afirmar coisa de que 
não se tem provas.
  Regra da relação (da pertinência): a colaboração não deve abordar o 
que não é concernente ao assunto tratado (deve ser pertinente).
  Regra da maneira: a colaboração deve ser clara, não obscura; deve-se 
evitar a ambiguidade, ser breve (evitar prolixidadeinútil) e falar de 
maneira ordenada.
Tais regras podem ser infringidas durante uma interação. É justamente 
nessa ocasião que as implicaturas são ativadas com vistas a preservar o encami-
nhamento da conversação. No entanto, é importante ressaltar que as infrações 
às regras conversacionais não devem ser assumidas nem como ocorrências 
prejudicais à comunicação, nem como ocorrências favoráveis a ela.
Durante um enunciado, o falante mobiliza estratégias com base em referên-
cias socioculturais com vistas a expressar a sua intencionalidade no discurso. 
Logo, as infrações podem ser cometidas de modo a atender à sua orientação 
de expressão comunicativa.
Por essa razão, as infrações às regras conversacionais devem ser entendi-
das como componentes da competência comunicativa dos falantes. Elas são 
provocadas quando os interlocutores enquadram a situação de fala conforme 
as suas motivações e percepções. As infrações podem impossibilitar que o 
processo comunicativo ocorra, mas não necessariamente. A seguir, no Quadro 
1, veja alguns enunciados que exemplificam tais infrações.
Pragmática: definição e situação no campo da linguística8
Tipo de violação Descrição Exemplos
Violação à regra da 
quantidade
Nesse caso, viola-se a regra da 
quantidade pois uma informação 
evidente é verbalizada, comprome-
tendo a utilidade informacional.
— Você por aqui!
— Não, já fui embora.
Violação à regra da 
qualidade
A regra da qualidade é infringida 
quando o interlocutor demonstra 
desdém, exagero ou ironia, deixando 
claro que o que é afirmado não con-
diz com o que ele realmente pensa.
— Este é um exce-
lente carro!
— É, até que serve.
Violação da regra 
da relação (da 
pertinência)
A regra da relação é violada quando 
um dos interlocutores não se engaja 
no tópico proposto, expressando 
uma informação que não é perti-
nente e provocando uma interrup-
ção ou mudança de tópico.
 —Você tem um mi-
nuto para conhecer a 
nossa organização?
— Desculpe, estou 
com pressa. Preciso 
trabalhar.
Violação da regra 
da maneira
A regra da maneira é desrespeitada 
quando os interlocutores optam 
por se manifestar de tal modo que a 
informação solicitada não é direta-
mente respondida, envolvendo, em 
geral, ambiguidades, multiplicidade 
de sentidos e obscuridades. Aqui, a 
resposta dada pode consistir num 
empecilho para o acesso à informa-
ção, ou pode revelar informações 
implícitas que ultrapassam o que foi 
indagado em princípio.
— Você trabalhou 
por quanto tempo 
com ela?
— O suficiente.
Quadro 1. Infrações às regras conversacionais
Alinhando os conceitos
Os conceitos discutidos até aqui não devem ser compreendidos como exclu-
dentes, e sim como complementares. Para compreender melhor, observe a 
Figura 2, que esquematiza as defi nições abordadas.
9Pragmática: definição e situação no campo da linguística
Figura 2. O domínio da pragmática e seus elementos interacionais.
A pragmática consiste num segmento da linguística cujo enfoque é o uso 
da linguagem que se orienta pela coerência pragmática. Isso significa que as 
interações se constituem de modo a serem pragmaticamente coerentes. Por 
exemplo, para toda pergunta, se espera que haja uma resposta comunicati-
vamente compatível. A condição para que a coerência pragmática ocorra é o 
princípio da cooperação.
Operante, o princípio da cooperação preconiza que as interações sejam 
regidas por um propósito, objeto ou finalidade decodificado e reconhecido 
pelos interlocutores sempre que eles intervêm. Como você viu na Figura 2, 
tal princípio da cooperação se desdobra em quatro regras ou máximas con-
versacionais: a regra conversacional da quantidade, a regra conversacional 
da qualidade, a regra conversacional da relação e a regra conversacional 
da maneira.
Embora tais regras estejam implicadas no princípio da cooperação, é 
importante considerar que nem sempre elas serão efetivamente empre-
gadas. Nesse caso, ocorrem infrações, propositais ou não. É importante 
ressaltar que as infrações não são nem necessariamente negativas, nem 
necessariamente positivas. Essas eventuais violações são componentes 
da competência linguística do falante, que pode manipular os recursos da 
linguagem conforme o seu entendimento dos enunciados e a sua intencio-
nalidade comunicativa.
Pragmática: definição e situação no campo da linguística10
3 Funcionalismo e pragmática: um possível 
alinhamento teórico-metodológico
A abordagem funcionalista da pragmática está vinculada ao que se entende 
por abordagem funcional dos estudos da linguagem. Sobre o funcionalismo 
e a pragmática, Halliday (1978, p. 126) argumenta:
Se podemos variar nosso nível de formalidade ao falar ou escrever, ou passar 
livremente de um tipo de contexto para outro, usando a língua ora para planejar 
uma atividade organizada, ora para pronunciar uma conferência, ora para 
manter disciplinadas as crianças, é porque a natureza da língua é tal que tem 
todas essas funções integradas em sua capacidade total.
O funcionalismo é uma vertente de análise das diferentes áreas da lin-
guística — entre as quais figura a pragmática. Ele se orienta pelo estudo da 
língua em suas atribuições funcionais. A partir desse viés de análise, a função 
comunicativa não é apenas uma particularidade da linguagem humana; ela 
pressiona e molda o sistema linguístico como um todo. Veja o que Marques 
(2006, p. 2) pontua:
A forma estrutural da língua é como é devido aos seus diferentes modos 
de uso, às suas diferentes funções sociais. Essas funções se referem ao 
fato de que quando nos comunicamos estamos inseridos em contextos 
diversos e variados que requerem do falante a utilização de expressões 
que sejam adequadas a cada situação. Sendo assim, o uso da língua de-
termina a sua estrutura.
O posicionamento do autor revela a pertinência de se avaliar a relação 
existente entre as perspectivas funcionalistas. Se o funcionalismo está de-
dicado a investigar como o uso linguístico modela as estruturas formais da 
língua, então a pragmática, por contemplar as condições que regem os usos 
linguísticos, oferece um amplo respaldo teórico para que esse processo seja 
investigado.
Complementarmente, Modesto (2006, p. 24) afirma que, a partir do con-
texto situacional, o falante elege o uso linguístico a ser empregado em sua 
produção linguística:
11Pragmática: definição e situação no campo da linguística
A partir do contexto situacional, o falante seleciona o registro a ser utilizado 
em sua atuação linguística. Suas escolhas no ato comunicacional estão ligadas 
ao papel que assume na interação verbal. A escolha depende, portanto, da 
intenção do falante, da forma que ele considera adequada emitir sua informação 
pragmática e de como ele deseja que o destinatário a receba e retorne a ele.
Assim, o falante e o ouvinte, os interlocutores, compartilham um conheci-
mento mútuo que, quando socializado durante uma interação, desencadeia dois 
processos interativos: um de expressão de intenções e outro de interpretação 
de intenções. Pragmaticamente, os interlocutores nesses processos recorrem 
a certos usos linguísticos para que sejam sustentados comunicativamente.
A depender do contexto, um dos falantes pode optar por assumir uma 
posição mais ambígua e não responder diretamente ao que lhe foi indagado. 
Em outras ocasiões, o falante pode se mostrar mais cooperativo, com vistas 
a demonstrar maior comprometimento em atender aos questionamentos que 
lhe foram direcionados. Além disso, um dos falantes pode priorizar o caráter 
informacional, oferecendo mais informações do que de fato foi requerido. Nes-
ses e em outros casos, a concretude da linguagem mobiliza usos linguísticos, 
que são manipulados pelas intenções e estão subordinados às motivações dos 
falantes engajados em uma situação interacional.
Com base no esquema denominado “Top-Down”, proposto por Levelt (1989) 
com vistas a clarificar a relação entre funcionalismo, discurso e pragmática, 
é possível verificar que o processo de produção da fala parte da intençãoem direção à expressão linguística. Inicialmente, o falante decide qual vai 
ser o seu propósito comunicativo, por meio de informações contextuais e 
pragmáticas. Depois, ele seleciona a informação que melhor se adéqua para 
que o seu objetivo seja atingido. Tal informação é gramatical e foneticamente 
codificada, de modo que ocorre articulação, resultando, por fim, na expressão 
da intencionalidade que desencadeou todo esse processo.
Ao contrário do que se supõe em outras vertentes linguísticas, os falantes 
não selecionam passiva e mecanicamente os usos linguísticos com base no que 
a situação de fala demanda. Na realidade, há uma interação de forças linguís-
ticas que moldam e pressionam a função dos usos (funcionalismo) por meio de 
recursos da linguagem que são agenciados (pragmática), consolidando, assim, 
as intenções dos falantes engajados em determinada situação comunicativa.
Pragmática: definição e situação no campo da linguística12
AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
BATES, E. Language and context: the acquisition of pragmatics. Massachussets: Elsevier, 
1976.
CAPPERUCCI, S. A. S. Uma análise discursiva do programa Brasil Alfabetizado: educação 
para as massas ou educação de massas? 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) 
– Centro Universitário de Caratinga, Caratinga, 2010. 
FIORIN, J. L. Pragmática. In: FIORIN, J. L. Introdução à linguística I: objetos teóricos. São 
Paulo: Contexto, 2008, p. 166-186.
FIORIN, J. L. Pragmática. In: FIORIN, J. L. Introdução à linguística II: princípios de análise. 
São Paulo: Contexto, 2008. p. 161-177.
GRICE, H. P. Lógica e conversação. In: DASCAL, M. (org.). Fundamentos metodológicos 
da lingüística. Campinas: Unicamp, 1982. p. 81- 103. (Pragmática, v. 5).
HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Cohesion in English. Londres: Longman, 1978.
MARQUES, W. Funcionalismo, pragmática e análise do discurso. Natal: UFRN, 2006.
MODESTO, A. T. T. Abordagens funcionalistas. Revista Eletrônica de Divulgação Científica 
em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura Letra Magna, [s. l.], ano 3, n. 4, p. 1–19, 2006
LEVELT, W. J. M. Speaking: from intention to articulation. Cambridge: MIT, 1989.
RAJAGOPALAN, K. Pragmática. In: MOLLICA, M. C.; FERRAREZI, C. Sociolinguística, socio-
linguísticas. São Paulo: Contexto, 2016. p. 185–195.
SOUZA, T. C. C. Sociolinguística e análise do discurso: pragmática. In: MOLLICA, M. C.; 
FERRAREZI, C. Sociolinguística, sociolinguísticas. São Paulo: Contexto, 2016. p. 123–133.
Leituras recomendadas
CANÇADO, M. Atos de fala e implicaturas conversacionais. In: CANÇADO, M. Manual 
de semântica: noções básicas e exercícios. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
MOURA, H. Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e prag-
mática. Florianópolis: Insular, 1999.
13Pragmática: definição e situação no campo da linguística
SEMÂNTICA E 
PRAGMÁTICA
Silvia Adélia Henrique Guimarães
Dêixis e modalização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Descrever o fenômeno da dêixis.
 Enumerar os elementos dêiticos.
 Explicar o fenômeno da modalização em estruturas simples e
complexas.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar o fenômeno da dêixis e o fenômeno da 
modalização. Ambos são muito importantes para os estudos da lingua-
gem e para a produção de sentido.
A dêixis é o fenômeno responsável por ativar certos elementos ex-
tralinguísticos para que se possa efetivar a compreensão de algum ele-
mento linguístico em determinada situação comunicativa. Por sua vez, 
a modalização serve para posicionar o enunciador em seu enunciado.
1 O fenômeno da dêixis
“Dêixis” é uma palavra que guarda relação com a noção de apontamento. 
É um termo de origem grega traduzido por “apontar”, “mostrar”, “indicar”. 
Mesmo ao ser incorporado pelo latim, e também pelos estudos da linguagem, 
o termo preservou seu sentido etimológico. O fenômeno da dêixis, estudado do
ponto de vista da pragmática, ocorre quando algum dado linguístico precisa 
se ancorar na própria situação comunicativa, tendo como ponto de origem o 
enunciador daquela comunicação, para ter o seu sentido adequadamente cons-
truído (FIORIN, 1996; ILARI, 2001; ILARI; GERALDI, 2008; MELO, 2015).
Na tradição dos estudos da pragmática, Émile Benveniste é considerado o 
precursor dos estudos da dêixis, tendo em vista que outros teóricos que estuda-
ram esse fenômeno o fizeram a partir de áreas de conhecimento diversas. Veja:
No que diz respeito aos estudos linguísticos, que é o que nos interessa de 
perto, praticamente toda a literatura sobre dêixis menciona Benveniste como 
fundamento. E se não o fazem diretamente, fazem-no mencionando autores 
como Lahud (1979), Levinson (1983), Fillmore (1971; 1979;1982), Lyons 
(1977;1982), que, por sua vez, fundamentam-se em Benveniste. A herança 
deixada por esses autores foi a do tratamento da dêixis primordialmente 
como fenômeno de ostensão e, além disso, a da classificação, já tradicional, 
em dêixis de pessoa, tempo e lugar, com diversos subtipos, como a dêixis 
social, a dêixis discursiva e a dêixis de memória (CIULLA, 2018, p. 365).
Benveniste foi o teórico que, ao estudar a linguística geral, de Saussure, 
concluiu que a linguagem não existe fora dos sujeitos de sua produção (BEN-
VENISTE, 2005). Isso deságua em outra proposição importante de Benveniste, 
que se relaciona à noção de subjetividade. Se os estudos clássicos da dêixis 
concentravam-se no aspecto “locacional”, de apontamento, Benveniste postulou 
algo mais “contextual”. Para o teórico, considerar o enunciador na produção 
da linguagem resulta em saberes sobre a constituição de subjetividade e sobre 
como ela interfere, de seu lado, na própria construção da linguagem. Nas 
palavras de Benveniste (2005, p. 288), “[...] ‘eu’ se refere ao ato de discurso 
individual, no qual é pronunciado e lhe designa o locutor. É um ser que não 
pode ser identificado, a não ser dentro do que, noutro passo, chamamos de 
instância do discurso, e que só tem referência atual”.
Assim, para Benveniste (2005), a assunção de um “eu” está intimamente 
ligada à situação enunciativa. Mas há outro fator que ele salienta: o “eu” se 
pronuncia para um “tu”, que também se constrói subjetivamente. Logo, a 
Dêixis e modalização2
teoria defendida por Benveniste é a da (inter)subjetividade, que ocorre em 
um tempo e um espaço que também partem do posicionamento do enunciador. 
Inicia-se, assim, a concepção “eu–aqui–agora” de Benveniste.
É nas pistas da linguagem que se reconhece essa tríade “eu–aqui–agora”. 
Tais pistas linguísticas necessitam de informações fora do contexto linguístico 
para se completarem comunicativamente. Por isso, pronomes pessoais como 
“eu” e “tu” são reconhecidos como elementos dêiticos, pois é “fora deles” 
que se encontra o referente dêitico. Isso ocorre porque os pronomes citados 
podem se referir a uma ou outra pessoa no discurso, a depender de quem 
esteja falando (portanto, para fazer uma leitura correta do ato enunciativo, 
você precisa saber quem é a pessoa que está falando).
A seguir, veja algumas definições importantes.
 Elemento dêitico: elemento linguístico que materializa o fenômeno da dêixis.
 Referente dêitico: referente com o qual o elemento dêitico cria um elo na enun-
ciação (tradicionalmente, diz-se que é para quem o elemento dêitico aponta).
 Enunciação: situação “do mundo real” que está construindo comunicação.
 Enunciador: aquele a partir de quem ocorre a enunciação.
 Enunciatário: aquele com quem se estabelece a comunicação, para quem se
dirige a enunciação.
 Elemento exofórico: “exo” significa “fora”, enquanto “phora” significa “portar”,
“carregar”. Assim, o elemento exofórico carrega o sentido para fora do enunciado.
Esse tipo de construção centrada no enunciador ocorre, igualmente, no caso 
de advérbios como “aqui” e “ali”. Esses termos, a depender da localização de 
quem está falando, podem significar um ou outro lugar. Portanto,para referi-los 
adequadamente, você precisa saber para onde o enunciador está apontando 
— lugar esse que também pode ser simbólico. Benveniste (2005) seguiu esse 
3Dêixis e modalização
mesmo raciocínio para a construção dêitica do tempo, para completar o eixo 
“eu–aqui–agora” da subjetividade.
Essa necessidade mais pragmática de dependência do ato enunciativo para 
se construir um sentido leva os elementos dêiticos a serem chamados também 
de elementos “exofóricos”, pois é fora do enunciado que eles encontram a 
sua referência. Contudo, observou-se que um dêitico poderia encontrar sua 
referência não apenas fora do texto: por vezes, a referência dêitica poderia 
estar no texto, ou no discurso. Assim, assume-se também o dêitico como um 
elemento vazio que tem seu sentido carregado em “elementos fóricos”, de 
acordo com a situação.
Fillmore (1971) é tido como o primeiro teórico que acrescentou aos três 
tipos clássicos de dêixis a dêixis textual, a dêixis social e a dêixis de memória. 
Essas classificações são amplamente seguidas na atualidade. A dêixis textual 
faz referência a outro elemento dentro do próprio texto ou discurso (podendo 
ser chamada, por alguns teóricos, de dêixis discursiva). A dêixis social faz 
referência às relações existentes entre os enunciadores — se são respeitosas, 
impositivas, etc. Por sua vez, a dêixis de memória depende de os dois partici-
pantes da enunciação terem um conhecimento partilhado, para que possam 
resgatar, na memória, o referente dêitico.
Não se esqueça de que a base teórica que pauta a pragmática defende que 
linguagem é ação (AUSTIN, 1990). Assim, qualquer situação linguística a 
ser analisada dentro desse escopo precisa ser analisada do ponto de vista de 
um fazer(-se) no mundo extralinguístico, de um agir sobre o outro. Logo, o 
enunciador é o eixo central nos estudos da dêixis; ou seja, o enunciador é o 
centro de todas as coordenadas do evento enunciativo. Essa perspectiva não é 
diferente na teoria da modalização, que você vai estudar ainda neste capítulo. 
A modalização trata-se de uma teoria que estuda o modo de expressão de um 
enunciador em um momento de enunciação. Por isso, modalizar é colocar-se no 
mundo, é agir sobre ele, é posicionar-se de uma ou de outra forma, a depender 
dos modalizadores escolhidos para enunciar.
Neste capítulo, portanto, você vai estudar os principais elementos dêiticos, 
bem como os elementos modalizadores. As classificações servirão como base 
para que você possa aplicar esses saberes de modo contextualizado. Lembre-se 
de que o contexto de enunciação é que lhe dará as ferramentas necessárias 
para explicar o fenômeno da dêixis e o fenômeno da modalização.
Dêixis e modalização4
2 Elementos dêiticos
Como você já viu, Benveniste foi responsável por formular as três categorias 
clássicas dos componentes dêiticos, a partir da pessoa na enunciação (por isso, 
classifi cou-os em dêixis de pessoa, de tempo e de espaço). Contudo, outros 
teóricos sugeriram um desdobramento dessa classifi cação. Aqui, você vai 
conhecer outras três categorias comumente estudadas: dêixis social, textual 
e de memória.
Embora muitos estudiosos considerem que os elementos anafóricos e dêiticos podem 
se sobrepor e formar um continuum na comunicação, você não deve confundir ele-
mentos dêiticos com elementos anafóricos (CAVALCANTE, 2011). Estão em jogo dois 
fenômenos distintos, embora os dois façam referência a determinados elementos. 
Enquanto a anáfora refere-se a termos e a expressões linguísticas dentro ou fora do 
mesmo texto (oral, escrito ou multimodal), os dêiticos estão diretamente ligados à 
situação de enunciação.
Como pontuam Ilari e Geraldi (2008, p. 69), no português “[...] há uma grande 
maioria de expressões que se usam ora como anáforas, ora como dêiticas, mas 
os dois fenômenos são distintos em princípio; e em certos casos os dêiticos e os 
anafóricos distribuem-se em séries paralelas mas não intercambiáveis”. É o caso 
destes exemplos: “ontem”, “na véspera”, “hoje”, “naquele dia”, “amanhã”, “no dia 
seguinte”.
Dêixis de pessoa
As dêixis pessoais são aquelas que se referem aos interlocutores de determi-
nada enunciação. Um termo técnico bastante utilizado nos estudos da dêixis 
é “origo”, que signifi ca “origem” ou “ponto de origem”. Os referentes aos 
quais os elementos dêiticos remetem sempre partem de uma origo, ou seja, 
partem do enunciador, do “eu” que dá origem ao enunciado (CAVALCANTE; 
CUSTÓDIO FILHO; BRITO, 2014).
5Dêixis e modalização
Por isso, linguisticamente, a dêixis de pessoa é representada por pronomes 
de primeira e segunda pessoas do discurso (sejam eles pronomes pessoais ou 
possessivos), por pronomes possessivos e sufixos verbais de número e pessoa 
(que servirão como pista, caso o pronome pessoal não apareça no enunciado) 
e por vocativos.
Os pronomes pessoais de primeira e de segunda pessoas funcionam como dêiticos, 
mas os pronomes de terceira pessoa, não. Isso ocorre porque os pronomes de terceira 
pessoa são assumidos como “não pessoas”, já que não participam diretamente do ato 
enunciativo: fala-se sobre a terceira pessoa, mas não se fala com ela.
Dêixis espacial
Os dêiticos espaciais são marcadores de ostensão (ato ou efeito de mostrar). 
Eles estão relacionados a um lugar situado na enunciação; ou seja, estão 
relacionados ao distanciamento e à proximidade entre o locutor e um refe-
rente. A classe de palavras que geralmente cumpre essa função dêitica é a 
dos advérbios (Quadro 1).
Classe de palavras Alguns exemplos
Advérbios (com valor) de lugar Aqui, ali, cá, lá, além
Locuções adverbiais (com valor) de lugar Aqui perto, lá atrás
Pronomes e determinantes 
demonstrativos
Este, esse, aquele, aquilo, o outro, o mesmo
Certos verbos que indicam movimento Ir, vir, trazer, levar, partir, chegar, aproximar-
-se, afastar-se, subir, entrar, sair, descer
Certas preposições e locuções prepositivas Perante, ao lado de
 Quadro 1. Elementos efetivadores da dêixis espacial 
Dêixis e modalização6
O advérbio de lugar realizará uma marcação dêitica apenas se o enunciador 
for o ponto de origem do lugar em questão. Assim, possibilidades vagas e 
localização, como a demarcada pelo advérbio “onde”, não estão recobertas de 
valor dêitico (CAVALCANTE; CUSTÓDIO FILHO; BRITO, 2014).
Agora, observe a Figura 1.
Figura 1. Tirinha da personagem Mafalda.
Fonte: Quino (2011, documento on-line). 
O pronome demonstrativo grifado no último quadrinho funciona, nesse 
caso, como um elemento dêitico espacial. A dêixis tem como lugar inicial o 
enunciador, o “eu” discursivo — Mafalda. Portanto, o demonstrativo tem por 
referência o mundo em que a personagem vive — a Terra.
Alguns profissionais poderiam tender a classificar o pronome em análise 
pela teoria da anáfora. Considere ainda que essa é uma situação enunciativa 
com muitas nuanças, especialmente porque o enunciador está apresentando, 
ainda que inferencialmente, um valor negativo sobre o mundo em que vive.
Por fim, existem expressões não dêiticas que podem funcionar, em deter-
minados contextos, como dêiticas. Essa complexidade pode ser observada na 
descrição de Ilari e Geraldi (2008, p. 66-67, grifos nossos):
Os demonstrativos, pronomes pessoais e tempos de verbos são os exemplos 
sempre lembrados de palavras dêiticas, mas a dêixis é um fenômeno bem mais 
comum do que o uso dessas formas; elementos dêiticos podem virtualmente 
compor-se com elementos não dêiticos na significação de palavras e expli-
car “antonímias” que de outro modo seriam incompreensíveis. Uma dessas 
antonímias é entre ir e vir: as orações 
(3) Pedro veio de São Paulo para o Recife.
e 
7Dêixis e modalização
(4) Pedro foi de São Paulo para o Recife. 
não se distinguem pela natureza da ação referida, que consiste em ambos os casos 
numa mesma viagem, num mesmo deslocamento geográfico, e, sim, pelo fato de 
que o locutor se situa, num caso, no ponto de chegada e, no outro caso, fora dele. 
Analogicamente, um mesmo movimento de massas populacionais será descrito,conforme o ponto de vista, como imigração ou emigração; e se jogarmos como os 
limites do que se deva entender por “nós” ou “nosso país”, uma mesma campanha 
militar de ocupação poderá ser apresentada como uma invasão ou uma defesa (a 
história da guerra do Paraguai é contada de outro modo... do outro lado da fronteira).
Dêixis de tempo
Os dêiticos temporais indicam determinado tempo, cuja demarcação ocorre 
no momento da enunciação. Assim como no caso dos dêiticos espaciais, 
nem todos os marcadores de tempo equivalem a um dêitico. Mais uma vez, 
a observação contextual da enunciação é que promoverá essa compreensão.
Os advérbios de tempo “ontem”, “agora” e “amanhã” são exemplos clássicos 
da dêixis temporal. Contudo, você não pode se esquecer de que o contexto 
enunciativo é essencial para essa compressão. Uma expressão como “desde 
que saí do seu abraço” é um marcador de tempo.
Dêixis social
Essa categoria dêitica, de certa forma, é uma extensão da categoria “dêixis de 
pessoa” — ou uma especifi cidade dela. É de acordo com o contexto situacional 
que alguém decide como vai acionar o seu interlocutor. Essa escolha redunda 
na construção da relação entre ambos: uma relação de maior proximidade ou 
distanciamento, de maior respeito ou petulância, etc.
Essas leituras, contudo, são possíveis apenas de acordo com o con-
texto de interação. O mesmo pronome de tratamento “você” pode acionar 
sensação de intimidade entre amigos, o que é positivo, e sensação de 
desrespeito em relação a um médico ou uma pessoa idosa. Por outro lado, 
a escolha do pronome de tratamento “senhora” pode demonstrar respeito 
a uma pessoa mais jovem, mas também ironia. Assim, a dêixis social “[...] 
remete diretamente aos interlocutores, mas as formas que a codificam 
refletem relacionamentos em sociedade que condicionam a escolha dos 
Dêixis e modalização8
níveis de maior ou menor formalidade” (CAVALCANTE; CUSTÓDIO 
FILHO; BRITO, 2014, p. 88).
O dêitico social, portanto, aponta para a relação entre pessoas ou grupos 
na sociedade, marcando hierarquias e papéis sociais de maior ou de menor 
prestígio, por exemplo (MELO, 2015). Geralmente, vocativos e pronomes de 
tratamento são os termos linguísticos que cumprem essa função dêitica. São 
exemplos de dêixis social: “mestre”, “doutor” e “tu”.
Dêixis textual
Diferentemente dos demais elementos dêiticos, a dêixis textual materializa-se 
no cotexto. Portanto, o ponto de partida desse tipo de dêixis é o próprio texto. 
A partir desse ponto, o “começo–meio–fi m”, o “antes–depois” e o “acima–
abaixo” são os tempos e espaços a serem compreendidos. Veja:
O que chamaremos de dêixis textual é sempre um processo híbrido que mis-
tura uma função anafórica (ou de introdução referencial) com uma função 
dêitica. É dêitico porque considera o ponto de origem do locutor; é anafórico 
(ou introdutório) porque sempre vai estabelecer uma cadeia com outro refe-
rente do texto (CAVALCANTE; CUSTÓDIO FILHO; BRITO, 2014, p. 94).
São representantes de dêixis textuais expressões como “no exemplo acima”, “no 
parágrafo anterior”, “aqui”, “no quadro abaixo”, “no texto ao lado” e “a seguir”.
Dêixis de memória
Ocorre quando o coenunciador precisa dispor de um conhecimento prévio e 
compartilhado para acionar determinado referente apontado pelo demonstra-
tivo. Em “naquele dia”, “aquele” aponta para um evento presente na memória 
dos interlocutores. Presume-se que ambos saibam a que dia se refere o pronome 
e o que aconteceu em tal dia.
Veja como um exemplo de dêixis de memória aparece na letra da canção 
“Aquele abraço”, de Gilberto Gil (c2003-2020, documento on-line, grifos 
nossos).
9Dêixis e modalização
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo
Aquele abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraço
Chacrinha continua
Balançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha
Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho palhaço
Alô, alô, Terezinha
Aquele abraço!
Alô, moça da favela
Aquele abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema
Aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu
Régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu
Aquele abraço!
Pra você que me esqueceu
Rum!
Dêixis e modalização10
Aquele abraço!
Alô, Rio de Janeiro
Aquele abraço!
Todo o povo brasileiro
Aquele abraço!
É necessário um conhecimento de mundo para compreender a que abraço 
o enunciador da canção se refere. Há uma série de saberes implicados, em
especial a respeito da vida do compositor Gilberto Gil. Por exemplo: conhe-
cimentos sobre a ditadura militar e a forma de atuação desse músico naquele 
período; e conhecimentos sobre o time de futebol para o qual ele torce, para 
entender a carga de ironia em relação ao time do Flamengo.
3 O fenômeno da modalização
De acordo com Neves (2000, p. 244), “Modalizar é expressar alguma interven-
ção do falante na defi nição da validade e do valor do seu enunciado: modalizar 
quanto ao valor de verdade, modalizar quanto ao dever, restringir o domínio, 
defi nir atitude e, até, avaliar a própria formulação linguística”.
A modalização serve para posicionar o enunciador em seu enunciado. 
Por isso, muitas vezes, a modalização é entendida como uma opinião implí-
cita do enunciador. Como você já viu, para Benveniste (2005), a linguagem 
é construção de subjetividade. Para construir essa subjetividade, ou para 
mostrar uma parte conveniente dela, o enunciador apropria-se de diferentes 
recursos linguísticos. Assim, além de dar algum valor de fala ao enunciador, 
a modalização pode também isentar o falante de alguma responsabilidade ou 
comprometimento no ato enunciativo.
Contudo, essa “isenção” é apenas aparente. Textos como os empresariais 
(memorando, por exemplo), os judiciais (como sentenças) e os noticiosos 
(como a notícia), que tradicionalmente apelam para a neutralidade, também 
têm marca de modalização e, de alguma forma, posicionam o enunciador. 
Veja o que afirma Nascimento (2013, p. 10):
Por mais que a sociedade tente sistematizar, normatizar e estabelecer padrões 
para as interações no ambiente empresarial e oficial, a natureza dialógica 
e argumentativa da linguagem irá prevalecer. Assim, sempre haverá, em 
maior ou menor grau, marcas que denunciam as intenções e a presença do 
responsável pelo dito.
11Dêixis e modalização
Até aqui, você viu a noção funcional dos modalizadores, que pode ser tão 
ampla quanto a intencionalidade do enunciador. Agora, você está convidado a 
se concentrar no aspecto gramatical da construção dos modalizadores (KOCH, 
2011a, 2011b):
 certos advérbios/locuções adverbiais;
 adjetivos, nos casos em que eles revelem opinião ou posicionamento;
 verbos modais (“poder”, “ter”);
 verbos proposicionais (“crer”, “achar”, “ser”);
 construção de auxiliar + infinitivo (“ter de”, “precisar de”);
 estruturas subordinadas, nos casos em que os verbos constitutivos
expressem modalidade (“tenho certeza de que”; “todos sabem que”;
“não há dúvidas de que”);
 verbos performativos explícitos (“ordeno”, “suplico”, “requeiro”);
 modos e tempos verbais;
 operadores argumentativos (“pouco”, “um pouco”, “quase”, “muito”,
“demais”, “mesmo”).
Koch (2011a, 2011b) apontou que um mesmo recurso linguístico pode operar 
diversos tipos de modalização. Ademais, a intenção é a base da análise da mo-
dalização. Note, por exemplo, a diferença de posicionamento do enunciador em 
frases como: “é preciso que eu vote com consciência”, “é provável que eu vote com 
consciência” e “é certo que eu vote com consciência”. Do mesmo modo, ainda 
segundo Koch (2011a, 2011b), o verbo “dever” pode exprimir diferentes intenções, 
a depender do enunciado: “todos devem ficar em casa” (obrigação), “deve chover 
amanhã” (possibilidade), “devo estar ficando gripado” (possibilidade).
Agora que você conheceu um pouco do panoramados modalizadores, nas 
subseções a seguir, você vai estudar os recursos da teoria da modalização e 
as suas funções discursivas.
Modalizadores epistêmicos
A palavra “epistêmico” e seus derivados (“epistemologia”, “epistemológico”) 
têm sentido relacionado à noção de saber. Por isso, a modalização epistêmica 
está diretamente ligada ao saber, a crença e à opinião do enunciador — seja 
Dêixis e modalização12
no âmbito da certeza, da quase certeza ou da probabilidade (em função de 
uma habilidade para se fazer algo).
Veja alguns advérbios e expressões adverbiais que podem emergir em cons-
truções desse tipo: “realmente”, “naturalmente”, “exatamente”, “sem dúvida”, 
etc. Note que expressões com valor predicativo também podem funcionar como 
modalizadoras. É o que ocorre em: “é certo”, “estou seguro”, “ficou evidente”, 
“podem contrair”, etc. A seguir, veja como os modalizadores são classificados.
 Modalização epistêmica asseverativa: sugere que o enunciador consi-
dera determinado conteúdo certo/verdadeiro. Essa modalização restringe 
a contra-argumentação, pois estabelece que o enunciador é detentor de 
determinado saber, com discurso de autoridade. Silva (2009, p. 2.278)
apresenta o seguinte exemplo: “O Brasil não pode aspirar posição de
grande nação sem fazer da educação uma prioridade”. Para ela, “[...]
o uso da expressão ‘não pode’ implica que o locutor ‘tem certeza’ a
respeito da prioridade em educação no Brasil”, o que marca o caráter
asseverativo do modalizador (SILVA, 2009, p. 2.278).
 Modalização epistêmica quase asseverativa: sugere que o enunciador
considera determinado conteúdo quase certo/quase verdadeiro. Veja
estes exemplos: “talvez”, “possivelmente”, “provavelmente”, “quase”,
“uma forma de”, “um tipo de”, “estatisticamente”, etc. Silva (2009, p.
2.278) explica uma ocorrência asseverativa a partir da seguinte frase:
“Pode-se conceber o fenômeno da criminalidade como pirâmide, cujo
vértice é ocupado pelas chefias do crime, com seus staffs de gerentes,
conselheiros e lavadores de dinheiro”. Ao explicá-la, a pesquisadora
diz: “[...] a par do uso de ‘pode-se’, o locutor dá a entender que sua
afirmação é uma opinião pessoal, dessa forma, não evidencia neces-
sariamente uma verdade, mas sim uma crença. Ele crê que ‘pode-se
conceber o fenômeno da criminalidade como uma pirâmide’” (SILVA,
2009, p. 2.278).
 Modalização epistêmica habilitativa: sugere a capacidade de alguém 
para fazer algo expresso no enunciado.
13Dêixis e modalização
Modalizadores deônticos
A palavra “deôntico” está relacionada aos deveres morais, às obrigações. Ela 
não pode ser confundida com a palavra “dêixis”, pois ambas têm origem, 
signifi cado e aplicação completamente diferentes. A partir do signifi cado de 
“deôntico”, você pode concluir que os modalizadores deônticos estão direta-
mente relacionados às noções de obrigação e obrigatoriedade.
 Modalização deôntica de obrigatoriedade: relaciona-se a uma im-
posição. Pode demonstrar um discurso de autoridade. Um exemplo de
locução verbal que opera nessa classificação é o “ter” (“tem de fazer”). 
Esse tipo de modalização também pode estar voltado para ações futuras
(SILVA, 2009).
 Modalização deôntica de proibição: como o nome antecipa, trata-se
de uma modalização que proíbe algo. Esses modalizadores estabelecem 
uma restrição.
 Modalização deôntica de possibilidade: relaciona-se a uma probabili-
dade que opera em dois eixos: aquilo que tem permissão para acontecer 
e aquilo que tem probabilidade de acontecer, mesmo que não tenha
relação com a vontade.
 Modalização deôntica volitiva: está relacionada à vontade, ao querer, 
ao desejar no discurso.
Modalizadores avaliativos
Esses modalizadores estão relacionados a uma avaliação. São de base predi-
cativa. São exemplos de advérbios observados nessa categoria: “felizmente”, 
“curiosamente”, “surpreendentemente”, “sinceramente”, “lamentavelmente”.
Modalizadores restritivos
Esses modalizadores são assim chamados pelo fato de delimitarem certo espaço 
ou campo de entendimento (geografi camente, biologicamente, entre outros).
No Quadro 2, a seguir, veja um resumo dos modalizadores.
Dêixis e modalização14
 Fonte: adaptado de Nascimento (2013). 
Tipo de 
modalização Subtipos
Efeito de sentido no enunciado 
ou enunciação
Epistêmica 
(expressa 
avaliação sobre 
o caráter de 
verdade ou 
conhecimento)
Asseverativa Apresenta o conteúdo como algo certo ou 
verdadeiro.
Quase assertiva Apresenta o conteúdo como algo quase certo ou 
verdadeiro.
Habilitativa Expressa a capacidade de algo ou alguém realizar o 
conteúdo do enunciado.
Deôntica 
(expressa ava-
liação sobre o 
caráter faculta-
tivo, proibitivo, 
volitivo ou de 
obrigatorie-
dade)
De 
obrigatoriedade
Apresenta o conteúdo como algo obrigatório e que 
precisa acontecer.
De proibição Expressa o conteúdo como algo proibido, que não 
pode acontecer.
De 
possibilidade
Expressa o conteúdo como algo facultativo ou dá 
permissão para que algo aconteça.
Volitiva Expressa um desejo ou vontade de que algo ocorra.
Avaliativa (ex-
pressa avalia-
ção ou ponto 
de vista)
— Expressa uma avaliação ou ponto de vista sobre o 
conteúdo, excetuando-se qualquer caráter deôn-
tico ou epistêmico.
Delimitadora — Determina os limites sobre os quais se deve consi-
derar o conteúdo do enunciado.
 Quadro 2. Tipos e subtipos de modalizadores 
Neste capítulo, você viu as noções centrais de dêixis e modalização. Na 
primeira seção, você viu que a dêixis ultrapassa a noção de “apontar para fora 
do texto”. A dêixis parte de uma origo: ela é sempre construída de um “eu” 
para um “tu” — o “ele” não é, portanto, elemento dêitico. Além disso, você 
15Dêixis e modalização
viu que, por meio dos elementos dêiticos, constrói-se a (inter)subjetividade; 
ou seja, os elementos dêiticos dão pistas sobre quem é o enunciador e sobre 
como ele “constrói” o seu coenunciador.
Na segunda seção, você aprofundou seus conhecimentos sobre a noção 
de dêixis e viu, com vários exemplos, a classificação dos elementos dêiticos: 
dêixis de pessoa, dêixis de tempo, dêixis de espaço, dêixis social, dêixis 
textual e dêixis de memória.
Na terceira e última seção, você estudou a modalização. Como você 
viu, um enunciador, ao se posicionar frente ao seu discurso/texto, mesmo 
que seja indiretamente, está modalizando — e isso ajuda a construir a 
subjetividade do enunciador. Ainda na terceira seção, você conheceu a 
classificação da modalização em epistêmica, deôntica, avaliativa e deli-
mitadora, verificando as formas como o enunciador pode se posicionar 
em seu discurso.
Observe que os lexemas modais são modais em potencial. O contexto e a estrutura 
linguística, somados, sempre direcionarão a sua análise. Veja os exemplos a seguir.
(a) Eu acho que é nos sites que os 
produtos são mais baratos.
(b) Ele acha que é nos sites que os 
produtos são mais baratos.
(c) Naquela época, eu achava que era nos 
sites que os produtos eram mais baratos.
Apenas em (a) você observa um modalizador. Em (b), a estrutura complexa pode 
confundir a análise, mas você não está diante de um emprego modal, tendo em vista 
que o pronome está em terceira pessoa (não se esqueça da relação entre “eu” e “tu”). 
Em (c), também não há modalizador, tendo em vista o verbo no passado (NEVES, 2000).
Dêixis e modalização16
AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
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Textos/Anais/ABRALIN_2009/PDF/Leilane%20Ramos%20da%20Silva.pdf. Acesso em: 
14 abr. 2020.
17Dêixis e modalização
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Leituras recomendadas
CABRAL, A. L. T.; SANTOS, L. W. Dêixis pessoal e verbos na construção de um objeto 
de discurso argumentativamente orientado. Conexão Letras, v. 11, n. 15, p. 25-37, 2016. 
FARIAS JÚNIOR, J. F. A dêixis discursiva como referenciação meta(cognitiva) e 
meta(linguística) no gênero artigo de opinião. Dialogia, n. 13, p. 123-136, 2011. 
SANTOS, L. W.; CAVALCANTE, M. M. Referenciação: continuum anáfora-dêixis. Intersec-
ções, v. 12, n. 1, p. 224-246, 2014.
Dêixis e modalização18
Máximas conversacionais 
e implicaturas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Ilustrar as máximas conversacionais e o princípio cooperativo.
 Analisar as dimensões do explícito e do implícito no ato de linguagem.
 Diferenciar as implicaturas convencionais das implicaturas
conversacionais.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as máximas conversacionais e a noção 
de implicatura, bem como suas respectivas classificações. Primeiramente, 
você vai conhecer as noções centrais das máximas conversacionais e do 
princípio da cooperação. Depois, vai se familiarizar com as dimensões 
do explícito e do implícito. Tais noções embasam o que você vai estudar 
em seguida, as implicaturas conversacionais.
1 As máximas conversacionais e o princípio 
da cooperação
O fi lósofo inglês Herbert Paul Grice (1913–1988) foi o responsável pela formulação 
dos conceitos de máxima conversacional e implicatura. Esse teórico, estudioso de 
Saussure, ao examinar a modalidade oral da língua, observou que as informações 
enunciadas não se limitavam à estrutura linguística (o que ele publicou em um 
primeiro artigo, de 1957, denominado “Signifi cado”). Nesse artigo, o teórico 
distinguiu os signifi cados naturais dos não naturais (baseados nas convenções 
humanas) e assumiu os sujeitos como parte da enunciação. Em 1967, Grice publicou 
outro artigo, denominado “Lógica e Conversação”. Nele, o autor concentrou-se 
na implicitude, sistematizando, para isso, o princípio da cooperação e as super-
máximas, máximas e submáximas conversacionais (GRICE, 1982).
Nos dois artigos mencionados, o teórico afirma que, além do que é dito 
literalmente nos enunciados, há algo mais sendo expresso. Por meio desses 
artigos, especialmente, Grice (1982) questionou a concepção tradicional de 
linguagem como espelho da realidade e começou a difundir a sua proposição de 
que a comunicação abrange também o que está nas “entrelinhas” (o implicado).
Grice (1982) defendeu que, para se entender o que está nas entrelinhas, 
é necessário um esforço de ambos os participantes da comunicação, um en-
gajamento mútuo (da parte do enunciador, as pistas necessárias; da parte do 
enunciatário, a atenção necessária) para que aquilo que não foi expresso seja 
compreendido. Foi assim que o teórico chegou ao princípio que sustenta as 
suas teorias: o princípio da cooperação.
Devido às noções que propõe, Grice filia-se à teoria pragmática. Como 
você sabe, é possível identificar diferentes vertentes nos estudos da pragmática. 
Tais vertentes são desdobradas segundo suas abordagens. Há a pragmática 
indicial, a teoria de performance, a pragmática conversacional, a pragmática 
ilocucional e a semântica da enunciação (ESPÍNDOLA, 1998). Os estudos 
de Grice não apenas inserem o teórico na vertente da pragmática conversa-
cional como também permitem que muitos estudiosos o denominem “pai da 
pragmática conversacional”.
Para Grice (1982), existem duas dimensões na fala humana: a dimensão 
do “dito” e a dimensão do “implicado”. Foi em torno dessa premissa que ele 
organizou suas propostas teóricas. A partir da concepção de que nem tudo o que 
se quer dizer é dito com todas as letras, como você vai ver, Grice concentrou-se 
em estudar como os interactantes chegam, então, ao não dito — ao implicado.
Com essas reflexões, Grice (1982) concluiu que os sujeitos da interação se 
esforçam, em alguma medida, para construir enunciados que sejam interpre-
tados conforme a intenção de fala. Mesmo que esse esforço para que as partes 
se entendam construa-se de forma inconsciente, e mesmo que não resulte de 
um contrato explícito que governa o ato comunicativo, Grice defendeu existir 
uma grande regra conversacional que possibilita a comunicação. Para essa 
regra funcionar, os interactantes precisam se envolver e contribuir com ela. A 
esse esforço cooperativo, ou seja, a esse engajamento dos interlocutores nas 
diferentes situações comunicativas para contribuir para a eficácia do ato de 
fala, Grice denominou “princípio da cooperação”.
Máximas conversacionais e implicaturas2
Esse engajamento deságua na seguinte supermáxima de Grice (1982, p. 86): 
“Faça sua contribuição conversacional tal como é requerida, no momento em 
que ocorre, pelo propósito ou direção do intercâmbio conversacional em que 
você está engajado”. Como resultado do princípio da cooperação, Grice (1982) 
formulou a teoria das máximas conversacionais. Essa teoria ajuda a explicar 
o funcionamento das dimensões do dito e do implicado (especial interesse 
de Grice), pois consegue dimensionar, linguisticamente, o engajamento dos 
interlocutores no ato enunciativo.
As máximas conversacionais ditam as normas e conduzem a postura co-
municativa do enunciador. São elas, portanto, que contribuem para a formação 
de sentidos do que é enunciado e possibilitam o alcance da intencionalidade do 
enunciador. Afinal, para Grice (1982), o que é dito é diferente do que é assumido.
Essas máximas integram o já mencionado “contrato comunicativo” — 
aquele acordo que não necessita ser combinado em cada evento e que faz 
parte naturalmente da interação humana (GRICE, 1982). De alguma forma, 
cada um, ao se comunicar, segue essas regras “intuitivamente”; são regras 
“presumidas” pelos participantes da interação. Ou seja: “Os interlocutores 
presumem que as pessoas, normalmente, fornecerão uma quantidade apropriada 
de informações, que falarão a verdade, que serão relevantes e que procurarão 
serem as mais claras possíveis” (LEÃO, 2013, p. 70).
Seguindo a premissa do princípio da cooperação que rege a comunicação, 
Grice (1982) chegou às supermáximas conversacionais e as destrinchouem quatro 
categorias: de quantidade, de qualidade, de relação e de modo. Essas categorias, 
para o proponente, implicam os acordos que conduzem os indivíduos a escolher 
a forma como vão falar. A seguir, você vai conhecer cada uma das máximas.
De acordo com o dicionário (PRIBERAM DICIONÁRIO, c2020), uma máxima pode ser 
definida como um dito sentencioso, um axioma ou um conceito.
3Máximas conversacionais e implicaturas
Máxima da quantidade
A máxima da quantidade está relacionada ao volume de informações for-
necidas em um ato enunciativo. Em relação a essa máxima, Grice (1982) 
sugere um equilíbrio: não inserir mais informações do que o necessário à 
situação comunicativa, mas também não inserir menos informações do que 
o necessário a ela. Assim, em uma aula de sexto ano, selecionar um volume
de informações de nível universitário seria inadequado, pois não contribuiria 
para a compreensão do estudante. Da mesma forma, ensinar esse aluno de 
sexto ano em linguagem infantil seria demasiado improdutivo.
Máxima da qualidade
A máxima da qualidade está relacionada ao conteúdo do que será falado ou escrito. 
Para Grice (1982), o enunciador deve selecionar aquilo que acredita ser verdadeiro 
e aquilo que é comprovável. Uma frase como “Você é meu mundo” não estaria 
seguindo essa máxima conversacional, pois expressaria uma inverdade do ponto 
de vista das verdades do mundo (já que funciona como linguagem fi gurada).
Máxima da relação
Para Grice (1982), o enunciador precisa selecionar informações relevantes 
para o ato enunciativo; as informações precisam ter relação com o que foi 
solicitado ou com o que é esperado. Considere, por exemplo, a famosa piada 
em que uma pessoa pergunta “Que horas são?” e a outra responde “Hora de 
tomar vergonha na cara e comprar seu relógio”. Na perspectiva da máxima 
da relação, a pessoa que responde desse modo estaria fugindo ao que lhe foi 
solicitado, descumprindo, portanto, a máxima da relação.
Máxima do modo
Grice (1982) defi niu ainda a máxima do modo. Segundo ele, para haver uma 
comunicação efi caz, é necessário haver clareza. Para isso, o enunciador deve 
evitar expressões obscuras, ambiguidades e desorganização das informações. 
É devido a essa premissa, por exemplo, que falas prolixas são entendidas como 
complicadoras da comunicação. Em um evento comunicativo de prolixidade, 
muitas informações selecionadas não são convenientes, já que não emprestam 
clareza à comunicação ou a desorganizam, impedindo que a interação seja 
efi caz em dado momento.
Máximas conversacionais e implicaturas4
No Quadro 1, a seguir, veja um resumo das máximas conversacionais de Grice.
 Fonte: Ribeiro e Guimarães (2020). 
Quantidade
  Faça com que a sua contribuição seja tão informativa quanto 
requerido.
  Não faça a sua contribuição mais informativa do que é requerido.
Qualidade
  Supermáxima: faça uma contribuição que seja verdadeira.
  Não diga o que você acredita ser falso.
  Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência 
adequada.
Relação  Seja relevante.
Modo
  Supermáxima: seja claro.
  Evite obscuridade de expressão.
  Evite ambiguidades.
  Seja breve (evite prolixidade desnecessária).
  Seja ordenado.
 Quadro 1. As máximas conversacionais de Grice 
Na próxima seção, você vai estudar a explicitude e a implicitude no ato 
enunciativo. Elas ocorrem basicamente por meio das quebras das máximas 
conversacionais. Como você vai ver, contudo, esse não é um campo de estudo 
exclusivo de Grice.
2 As dimensões do explícito e do implícito 
no ato de linguagem
Em um ato comunicativo, os coenunciadores buscam constantemente com-
plementar o conteúdo informativo presente na superfície textual. Isso ocorre 
quando essa superfície não apresenta informações sufi cientes para que o sentido 
do pretendido seja efetuado. Assim, o ouvinte ou leitor busca complementar 
esse sentido por meio do não dito, das entrelinhas, do contexto enunciativo. 
É o que Charaudeau (2010) formulou, em teoria complementar à de Grice, 
como dupla dimensão ou valor do ato de linguagem: o explícito e o implícito. 
Nas palavras de Charaudeau (2010, p. 24):
5Máximas conversacionais e implicaturas
A finalidade do ato de linguagem (tanto para o sujeito enunciador quanto 
para o sujeito interpretante) não deve ser buscada apenas em sua configu-
ração verbal, mas no jogo que um dado sujeito vai estabelecer entre esta e 
seu sentido implícito. Tal jogo depende da relação dos protagonistas entre si 
e da relação dos mesmos com as circunstâncias de discurso que os reúnem.
Para Charaudeau (2010), pensar o ato de fala a partir desses sujeitos é 
importante porque o jogo de relações é variável. Isso leva a levantamentos 
de hipóteses que dependem do ponto de vista e do papel social dos falantes 
envolvidos na cena. Por essa razão, deve-se pensar no enunciado, mas também 
na intencionalidade do enunciador.
Na teoria de Charaudeau (2001), há quatro sujeitos participantes do ato de linguagem: 
o eu-comunicador, o eu-enunciador, o tu-destinatário e o tu-interpretante. O eu-
-comunicador e o tu-interpretante são os sujeitos do mundo real, são psicossociais. O 
eu-enunciador e o tu-destinatário são os participantes do ato enunciativo em si, são 
os eu-tu “encenados”, recortados para aquele ato enunciativo específico.
Em sua obra, Grice (1982) concentra-se na diferença entre o dito e o signi-
ficado. Ele defende que um enunciado explícito pode não carregar o sentido 
pretendido pelo enunciador. Esse sentido pode ser alcançado por meio de 
inferências realizadas pelo coenunciador. Por isso, Grice postula que a lin-
guagem também abrange os processamentos inferenciais.
Entretanto, para que esses processamentos ocorram, é necessário, como 
pauta comunicativa, o princípio da cooperação. Assim, se o que estiver nas 
linhas não for suficiente e as máximas conversacionais não forem observadas, 
o interactante passa às inferências, deduzindo que o enunciador tem algo
coerente a dizer.
Acompanhe esse raciocínio com o seguinte exemplo de Grice (1982, p. 84):
Suponha que A e B estejam conversando sobre um amigo comum C que está 
atualmente trabalhando num banco. A pergunta para B como C está se dando 
em seu novo emprego, e B retruca: “Oh! Muito bem, eu acho: ele gosta de seus 
colegas e ainda não foi preso”. Nesse ponto, A deve procurar o que B estava 
implicando, o que ele estava sugerindo, ou até mesmo o que ele quis dizer ao 
dizer que C ainda não tinha sido preso.
Máximas conversacionais e implicaturas6
Para responder à pergunta de A (“Como C está se dando em seu novo 
emprego?”), B seleciona uma informação que não foi requerida (“ele gosta 
de seus colegas e ainda não foi preso”), violando, assim, a máxima da relação 
(seja relevante).
Contudo, nessa situação, devido ao princípio da cooperação, haverá um 
esforço de A para compreender o que B quis dizer com “ainda não foi preso”. 
Para isso, A poderá recorrer ao seu conhecimento sobre C e ao seu conheci-
mento de mundo (alguém vai preso quando faz algo errado, um banco lida 
com dinheiro, etc.). A partir dessa relação entre o significado do dito e o 
significado do não dito, Grice (1982) chegou à noção de implicatura — re-
sultado da quebra de alguma máxima conversacional, mas recuperável pelo 
princípio da cooperação.
Grice defende que o termo “implicatura” é mais conveniente do que “implicação”, 
pois abrange o contexto situacional e os conhecimentos de mundo dos falantes. Já 
“implicação” abrangeria apenas os fenômenos linguísticos. Implicatura, portanto, é a 
inferência que pode ser extraída de um enunciado, levando a significações que estão 
para além do que os enunciados apresentam linguisticamente. Ilari e Geraldi (2008, p. 
76) também discutem essa terminologia:
O uso do termo implicatura se deve ao desejo de distinguir dois fenô-
menos linguísticos: o fenômeno do acarretamento, em que se infere 
uma expressão com base apenas no sentido literal de outra; e o fenô-
meno em que a derivação de um sentido passa obrigatoriamentepelo 
contexto conversacional.
A quebra das máximas conversacionais como modo 
de realizar implicatura
Ocorre quebra das máximas conversacionais quando um falante deixa de 
cumprir o que as máximas designam. Para Grice (1982), a quebra das máxi-
mas pode ocorrer de forma involuntária — o que pode gerar mal-entendidos. 
Entretanto, uma quebra das máximas conversacionais também pode acontecer 
de maneira intencional em um ato de fala. Uma ambiguidade, por exemplo, 
pode ser criada para gerar um duplo sentido, para gerar humor em uma piada, 
7Máximas conversacionais e implicaturas
ou ainda para gerar um efeito persuasivo (em gêneros persuasivos, como a 
propaganda). Ainda, uma informação ocultada em um contrato pode gerar 
cobranças posteriores por parte de um cliente.
Em outras palavras, um falante pode intencionalmente deixar de cumprir 
o que uma situação comunicativa requer — quantidade, qualidade, relação 
e modo. Assim, ele força o leitor ou ouvinte a interpretar a sua fala de 
outra forma a partir dessas quebras. Por outro lado, uma máxima pode ser 
quebrada sem que o princípio da cooperação seja infringido. Quando um 
enunciador deixa de cumprir uma máxima, mas fornece garantias e pistas 
para que o ouvinte chegue à intenção pretendida, há êxito no processo 
comunicativo.
Isso pode ocorrer porque a língua é ferramenta criativa para toda forma 
de comunicação, entendemos que, quando há quebras propositais dessas 
máximas, o texto, automaticamente, recebe o novo sentido pretendido” 
(ALDROVANDI, 2015). Nesse contexto, sempre se parte do pressuposto 
de que a intencionalidade tem como foco os sujeitos participantes da 
interação. A seguir, veja algumas possibilidades de quebras intencionais 
das máximas conversacionais.
Quebra da máxima da quantidade
Ocorre quando o enunciador fornece mais ou menos informações do que a 
situação comunicativa exige. Considere este exemplo:
— Que horas são?
— São cinco horas, mesmo horário em que 
encontrei meu primeiro livro de gramática quando 
estava no primeiro ano da faculdade.
Nesse caso, as informações acrescentadas não são relevantes para o primeiro 
enunciador, que gostaria apenas de se informar sobre a hora. Agora veja:
— Preciso enviar-lhe sua encomenda 
pelos Correios. Onde você mora?
— No Rio de Janeiro.
Nesse caso, a pergunta requer o endereço completo, inclusive com Código 
de Endereçamento Postal (CEP).
Máximas conversacionais e implicaturas8
Quebra da máxima da qualidade
Ocorre em enunciados que contêm inverdades literais, tautologias, ironias, 
hipérboles, brincadeiras entre amigos, metáforas e outras fi guras de lingua-
gem. Veja:
Tô com tanta fome que comeria um boi! (Hipérbole)
Mãe é mãe. (Tautologia)
Acho as brincadeiras de criança um saco! (Metáfora)
Adoro quando me dão susto. (Ironia)
Se esses enunciados forem considerados no sentido literal, eles proferem 
mentiras.
Você sabe o que é uma tautologia? É a repetição de uma mesma ideia com palavras 
diferentes, isto é, a redundância. Um exemplo é a expressão “entrar para dentro”.
Quebra da máxima da relação
Ocorre em enunciados em que a resposta não se adéqua ao conteúdo esperado:
— Cíntia irá à festa?
— Ela gosta de bichos.
Nesse diálogo, a resposta sugere que Cíntia não gosta de estar com pessoas. 
Com isso, infere-se que a resposta à pergunta é não. Contudo, literalmente, o 
que se disse não teve relação com a pergunta, quebrando a máxima.
Quebra da máxima do modo
Ocorre quando não se é claro na conversação — quando há obscuridade, 
ambiguidade, prolixidade. Observe:
9Máximas conversacionais e implicaturas
— Amiga, preciso falar com você 
sobre o que aconteceu ontem.
— Falo com você depois. Tem roupa no varal.
Nesse diálogo, foi utilizada uma estratégia: como há alguém por perto que 
não pode ouvir a conversa, a interlocutora adia o desenvolvimento da interação. 
Expressões como “tem boi na linha” também servem a esse propósito. Como 
você deve imaginar, esse tipo de estratégia só funciona perto de pessoas que 
não conhecem as expressões utilizadas como subterfúgios.
Uma ou mais máximas podem ser quebradas em um mesmo evento comunicativo. No 
diálogo que você acabou de ver, “roupa no varal”, por seu sentido figurado, ou mesmo por 
ser uma informação inverídica, quebra, além da máxima do modo, a máxima da qualidade.
Por fim, a quebra das máximas conversacionais pode estar intimamente 
ligada aos jogos de poder da sociedade. Ferreira (2009) constatou que, no gênero 
contrato jurídico, a quebra das máximas de quantidade e modo pode servir para 
confundir o cidadão comum e, com isso, impedir que ele acesse os seus direitos. 
Ferreira (2009, p. 132) explica, nas seguintes palavras, como essas quebras das 
máximas conversacionais podem servir também aos interesses das empresas:
Os interagentes possuem perfis discursivos que podem não se encaixar. Isso 
porque, devido às especificidades dos textos dos contratos, que funcionam 
como instrumentos de legalização jurídica, eles podem se prestar muito mais à 
defesa dos interesses das empresas de saúde do que para informar os aspectos 
da negociação ao seu público-alvo, que é constituído por qualquer cidadão 
que esteja desejoso de adquirir um plano de saúde.
3 Implicaturas convencionais e implicaturas 
conversacionais
O fenômeno da implicatura ocorre quando o ouvinte ou leitor percebe que, na 
enunciação, há algo mais a ser compreendido do que o que foi dito ou escrito 
“com todas as letras”. Com isso, o ouvinte ou leitor empreende um esforço 
Máximas conversacionais e implicaturas10
maior, a partir das pistas do enunciador, para entender, “por conta própria”, a 
intenção do enunciado. Grice (1982) distinguiu as implicaturas em dois tipos: 
implicaturas convencionais e implicaturas conversacionais.
Implicaturas convencionais
As implicaturas convencionais são aquelas relacionadas à decodifi cação. Para 
entendê-las, não é preciso recorrer necessariamente ao contexto comunicativo, 
pois o sentido desse tipo de implicatura está vinculado ao signifi cado literal 
de uma palavra presente no enunciado — por isso essas implicaturas são 
chamadas de “convencionais”.
As palavras mais usadas por Grice nos seus exemplos de implicaturas 
convencionais são
[...] “mas” e “portanto” [...]. Ao afirmar “ele é político, mas ele é honesto”, o 
que se diz é que (i) ele é um político e (ii) ele é honesto, sendo a sugestão de 
que há algum tipo de contradição entre as proposições (i) e (ii) uma impli-
catura convencional indicada pela palavra “mas” (OLIVEIRA, 2016, p. 77).
Agora veja uma explicação prática de Leão (2013, p. 70) sobre as impli-
caturas convencionais:
[1] José é trabalhador, contudo é pobre. 
No exemplo [1], implica-se convencionalmente que José, sendo trabalhador, 
não deveria ser pobre, mas o é. O uso literal dos termos nos dá ideia exata 
do que está sendo dito através da conjunção contudo. Podemos perceber, 
portanto, que as implicaturas convencionais não dependem de contextos 
especiais para interpretação, e, com isso, não precisam ocorrer necessaria-
mente na conversação.
As implicaturas convencionais são diferentes das pressuposições (ou dos pressupostos). 
Para Grice, as implicaturas convencionais não se ligam às condições de verdade, como 
ocorre com as pressuposições (que precisam estar ligadas a uma verdade geral de 
uma sentença).
11Máximas conversacionais e implicaturas
Implicaturas conversacionais
Diferentemente do que ocorre nas implicaturas convencionais, nas implicaturas 
conversacionais, o sentido empreendido depende do contexto de interação. 
Nesse tipo de implicatura, há um preenchimento de lacuna realizado na própria 
interação; tal preenchimento deve ser de conhecimento de ambas as partes. 
Veja o que afi rma Grice (1982, p. 92):
[...] a presença de uma implicatura conversacional deve poder ser deduzida, 
elaborada; pois ainda que possa ser intuitivamente compreendida, se a in-
tuição não for substituída por um argumento, a implicatura (se presente) não 
contará como implicaturaconversacional; será uma implicatura convencional.
Assim, se um jovem diz “Você é meu mundo” em um contexto de interação 
com a namorada, o contexto permite implicar que esse jovem está se decla-
rando apaixonado. Agora considere outro contexto comunicativo: um homem 
está encarcerado e diz essa mesma frase a uma pessoa que o visita e de quem 
ele não gosta; nesse caso, pode-se implicar que o homem está sendo irônico.
Nas palavras de Grice (1982, p. 86), as implicaturas conversacionais “[...] 
são essencialmente conectadas com traços gerais do discurso”. Veja:
Nossos diálogos, normalmente, não consistem em uma sucessão de obser-
vações desconectadas, e não seria racional se assim fossem. Fundamental-
mente, eles são, pelo menos até certo ponto, esforços cooperativos, e cada 
participante reconhece neles, em alguma medida, um propósito comum ou 
um conjunto de propósitos, ou, no mínimo, uma direção mutuamente aceita 
(GRICE, 1982, p. 86).
O teórico debruçou-se mais atentamente sobre as implicaturas conversacio-
nais porque, para ele, elas ocorrem mais vezes e, além disso, os implicitados 
conversacionais “[...] não são parte do significado das expressões cujo uso os 
produz” (GRICE, 1982, p. 103). Assim, na implicatura conversacional, pode-
-se observar como os enunciadores manipulam as máximas conversacionais 
a fim de alcançar o seu objetivo pragmático.
Considere o seguinte diálogo:
Alice: Espero que você tenha trazido o pão e o queijo.
Bruno: Eu trouxe o pão.
Agora veja a explicação de Leão (2013, p. 70):
Máximas conversacionais e implicaturas12
Nessa conversa, Alice parte do princípio de que Bruno está cooperando com 
o diálogo e não desconhece a máxima da quantidade. Ainda assim, ele não 
mencionou o queijo. Se ele tivesse trazido o queijo, ele o mencionaria tam-
bém, não violando, assim, a máxima da quantidade. Resulta daí que Bruno 
intenciona que Alice infira que o que não foi mencionado, não foi trazido. 
Dessa forma, Bruno transmitiu mais do que o dito através de uma implicatura 
conversacional.
Grice (1982) dividiu as implicaturas conversacionais em dois subtipos: 
generalizada e particularizada. As implicaturas conversacionais generalizadas 
são aquelas que apresentam noções gerais, que não dependem de um contexto 
específico. Por estar ligado a um contexto geral de conhecimento, esse tipo 
de implicatura conversacional pode ser confundido com a implicatura con-
vencional, o que é um equívoco.
Existe uma diferença linguística básica entre as implicaturas conversacionais genera-
lizadas e as convencionais: os exemplos dados para as conversacionais generalizadas 
são forjados por expressões, enquanto os exemplos de implicaturas convencionais 
estão relacionados a palavras específicas, como “mas” e “portanto”.
A implicatura conversacional generalizada pode ser ilustrada com a se-
guinte sentença:
João casou e teve um filho.
Sobre ela, D’Ávila (2017, p. 249) escreve o seguinte:
A conjunção e tem uma implicatura de ordenamento que o operador lógico � 
não carrega, isto é, do ponto de vista lógico, essa sentença significa que, em 
uma dada situação do mundo, se é verdade que João casou e se é verdade que 
João teve um filho, então é verdade que João casou e teve um filho. No entanto, 
quando os falantes, no uso cotidiano da língua, proferem [essa sentença] [...], 
normalmente, se faz a inferência de que João casou primeiro e, depois, teve 
um filho. Essa inferência não faz parte da significação do operador lógico e 
também não parece estar relacionada ao valor de verdade da sentença — ou 
seja, não faz parte do dito, sendo, nesse caso, uma implicatura.
13Máximas conversacionais e implicaturas
Já as implicaturas conversacionais particularizadas estão ligadas a certo 
contexto de interação. Considere, por exemplo, a frase “Já paguei o bolo”. 
Nesse caso, o sentido se completa apenas ao se saber quem é o enunciador, 
de que bolo se trata, etc.
Ao longo deste capítulo, você viu que a pragmática abrange muitos con-
ceitos que levam o profissional da linguagem a compreender a amplitude das 
formações linguísticas. Essas formações podem ser realizadas na superfície 
do enunciado ou em suas entrelinhas — no implicado.
Como você verificou, a pragmática conversacional e, especificamente, 
o princípio cooperativo explicam as máximas conversacionais. Além disso,
a implicatura resulta da quebra de uma ou mais máximas conversacionais.
Por fim, você conheceu os dois tipos de implicatura propostos por Grice 
(1982), a convencional e a conversacional, foco de compreensão do teórico. Por 
meio das explicações e exemplos do capítulo, você deve ter notado o seguinte: 
a intencionalidade é o que rege todos os aspectos estudados.
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Máximas conversacionais e implicaturas14
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sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
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Leituras recomendadas
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FARIAS, S. C. de. A violação das máximas conversacionais no gênero textual entrevista. Pro-
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FIORIN, J. L. (org.). Introdução à linguística. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007.
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15Máximas conversacionais e implicaturas
Análise de textos de 
diferentes gêneros: 
semântica e pragmática
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Descrever os fenômenos de construção da modalização em produ-
ções textuais.
 Interpretar o uso dos dêiticos no texto literário.
 Discutir o conceito da categorização na compreensão leitora.
Introdução
Dêiticos, modalizadores e categorizadores: o que eles têm em comum? 
São elementos linguísticos utilizados na produção e na compreensão de 
textos. A semântica e a pragmática estudam seu uso, seu funcionamento 
e suas ocorrências, orientando a análise dos textos observados a partir 
da noção discursiva.
A modalização facilita as estratégias argumentativas em textos de 
gêneros variados. A dêixis indica as referências pessoais, temporais e 
locais. A categorização se faz presente no processo de compreensão dos 
textos. Portanto, todos esses elementos são essenciais para a análise de 
textos de variados gêneros.
Neste capítulo, você vai estudar os fenômenos de construção da 
modalização em produções textuais. Você também vai ver como ocorre 
o uso dos dêiticos no texto literário. Além disso, vai conhecer o conceito 
da categorização na compreensão leitora.
1 A construção da modalização em produções 
textuais
Quando se concebe a linguagem como interação, se constata que seu uso 
refl ete as condições socio-históricas da comunidade linguística. Nesse 
contexto, a produção textual é vista como uma atividade intersubjetiva, 
caracterizada “[...] pelo triângulo (locutor, destinatário, situação de troca) 
e pela dialética da intenção e do reconhecimento da intenção pelo canal de 
fragmentos linguísticos cujo suporte é a situação de troca [...]” (PARRET, 
1988, p. 102).
O texto é construído pelo produtor de acordo com as suas intenções e com a 
imagem que ele faz de seu interlocutor. Dessa forma, a escrita é construída com 
base nas expectativas de resposta de quem receberá o texto. Nessa perspectiva, 
se percebem recursos linguísticos que marcam e guiam a interlocução. Esse 
é o caso dos modalizadores.
Koch (2003) considera os modalizadores responsáveis pela demarcação da 
relação que o produtor do texto estabelece com o conteúdo do enunciado que 
produz e com o seu interlocutor. Assim, os modalizadores se revelam como 
formas de favorecer as intenções de quem produz o texto.
Portanto, a modalização é uma estratégia semântico-argumentativa do 
falante diante de uma proposição. Com essa estratégia, ele pode julgar se a 
proposição é verdadeira ou não e expressar esse julgamento com uma forma 
escolhida. Nascimento (2013, p. 11) afirma que “[...] a modalização tem sido 
vista, pela maioria dos autores, como uma estratégia inerente ao enunciado, 
recaindo ora sobre o enunciado como um todo, ora sobre parte deste [...]”. Se a 
modalização é inerente ao enunciado, ela é inerente a qualquer tipo de texto? 
Como a modalização se constrói em produções textuais?
Para Fiorin (2000), existem as modalidades de base, que surgem de proce-
dimentos dedutivos, ou seja, na relação do sujeito com o objeto. Esse sujeito 
pode ser potencial, virtual, atualizado ou realizado. Na relação com o objeto, 
o sujeito pode, por exemplo, crer, querer ou dever, saber, ser ou fazer. Portanto, 
para compreender como a modalização ocorre nas produções textuais, é preciso 
primeiro conhecer os tipos existentes. Observe o Quadro 1, que resume os 
tipos de modalização e seus efeitos de sentido.
Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática2
Fonte: Adaptado de Nascimento (2013).
Tipos de 
modalização Subtipos
Efeitos de sentido no 
enunciado ou enunciação
Epistêmica — ex-
pressa avaliação sobre 
o caráter de verdade 
ou conhecimento
Asseverativa Apresenta o conteúdo como algo 
certo ou verdadeiro
Quase 
asseverativa
Apresenta o conteúdo como algo 
quase certo ou verdadeiro
Habilitativa Expressa a capacidade de algo ou 
alguém realizar o conteúdo do 
enunciado
Deôntica — expressa 
avaliação sobre o 
caráter facultativo, 
proibitivo, volitivo ou 
de obrigatoriedade
De 
obrigatoriedade
Apresenta o conteúdo como algo 
obrigatório e que precisa acontecer
De proibição Expressa o conteúdo como algo 
proibido, que não pode acontecer
De possibilidade Expressa o conteúdo como algo 
facultativo, ou dá permissão para 
que algo aconteça
Volitiva Expressa um desejo ou uma von-
tade de que algo ocorra
Avaliativa — expressa 
avaliação ou ponto 
de vista
— Expressa uma avaliação ou ponto 
de vista sobre o conteúdo, excetu-
ando-se qualquer caráter deôntico 
ou epistêmico
Delimitadora — Determina os limites sobre os quais 
se deve considerar o conteúdo do 
enunciado
Quadro 1. Tipos de modalização e seus efeitos de sentido
A modalização epistêmica refere-se ao eixo do conhecimento e da crença. 
Os recursos linguísticos reportam o conhecimento do produtor do texto sobre 
o tema tratado. Há expressões que manifestam essa necessidade epistêmica, 
3Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática
como: “certamente”, “com certeza”, “sem dúvidas”, “obviamente”, “é claro 
que”, “é óbvio que”, “sabe-se que”, etc. Além dessas expressões, é comum o 
uso dos verbos poder e dever juntos ou o uso de expressões como “talvez” e 
“provavelmente” para expressar a possibilidade epistêmica.
No artigo a seguir, o jornalista e escritor espanhol Arias (2020) utiliza a 
modalização como ponto de partida. Para o autor, abandonar os animais de 
estimação em época de pandemia provavelmente revela a face mais sombria 
dos seres humanos. Veja:
A face mais cruel do coronavírus é abandonar, sem nenhuma razão 
científica, os animais de estimação.
Quem é capaz de abandonar suas mascotes poderia acabar abandonando 
também os idosos, os mais vulneráveis à epidemia [...]. Na tragédia global 
da pandemia do coronavírus, que amedronta e mata, existe um drama 
agregado. É talvez sua face mais sombria, seu rosto mais cruel, porque 
nos despoja da compaixão que é o coração da convivência (ARIAS, 2020, 
documento on-line).
Note que o autor utiliza uma afirmação no título como forma de atrair 
os leitores, mas no corpo do texto é obrigado a revelar que seu julgamento é 
uma possibilidade, e não uma certeza. Para isso, ele utiliza um modalizador 
gramatical, um advérbio: “talvez”. Essa mudança de modalização se deve 
provavelmente às possíveis críticas que ele receberia: afinal, há várias faces 
cruéis dos seres humanos, e seus interlocutores poderiam citar outras, derru-
bando seu argumento inicial.
Os verbos conjugados no modo indicativo também funcionam como mo-
dalizadores epistêmicos, já que expressam uma afirmação, garantindo que 
se constate a opinião do autor. Veja um exemplo no mesmo artigo de opinião:
Os protagonistas desta nova face da epidemia, somada ao medo que 
aflige a todos nós, são os animais de estimação, nossos companheiros 
de vida, que estão sendo abandonados à própria sorte em muitos países 
por um temor sem fundamento médico nem científico de que também 
eles possam se contagiar, conforme informou a Organização Mundial da 
Saúde (ARIAS, 2020, documento on-line).
Observe que, no final do parágrafo, os verbos estão no modo subjuntivo. A 
ideia é alertar que as pessoas que estão abandonando os animais de estimação 
não têm nenhuma certeza de que eles vão ser vítimas de contágio. O texto vai 
Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática4
se construindo de forma a marcar a crença do autor. No quinto parágrafo, há 
o uso do advérbio “justamente”, que realça as afirmações:
E é justamente a companhia amorosa de nossas mascotes de estimação 
uma das receitas mais valiosas para grandes e pequenos (ARIAS, 2020, 
documento on-line).
Nascimento (2013)investigou o uso de modalizadores na redação comercial 
e oficial. Ele constatou que a modalização epistêmica predomina nas declara-
ções e memorandos, devido ao conteúdo desses textos: eles tratam de algo que 
é considerado certo pelos autores e, assim, comprometem o locutor responsável 
pelo enunciado. Aliás, o modelo padrão de declarações sugere o uso do verbo 
“declarar”. Consequentemente, a conjugação desse verbo na primeira pessoa 
do singular do modo indicativo compromete o locutor da mensagem.
É comum que os memorandos e e-mails que constituem um pedido uti-
lizem expressões como “certo de” e “ciente de” para convencer o leitor a se 
comprometer com o pedido. Veja o que Nascimento (2013, p. 13) afirma:
[...] os epistêmicos asseverativos, em grande parte dos casos, ocorrem em 
enunciados que funcionam como argumentos para uma determinada conclusão 
pretendida pelo locutor. Em outras palavras, é comumente utilizado para o 
locutor apresentar um conhecimento (por ele considerado como verdadeiro) 
para seu interlocutor e, a partir desse conhecimento, convencer seu interlocutor 
a assumir um determinado posicionamento ou realizar uma determinada ação.
A modalização deôntica tem relação com a conduta, isto é, com o que 
deve ser feito na opinião do falante. Essa modalização está no domínio da 
obrigatoriedade ou da sugestão. Há textos em que o autor utiliza o conteúdo 
como uma necessidade e orienta o interlocutor a realizar uma leitura incisiva 
sobre a realidade. Os verbos “precisar”, “poder” e “dever” funcionam como 
modalizadores.
As redações elaboradas pelos participantes do Exame Nacional do Ensino 
Médio (Enem) são exemplos de uso desses modalizadores. Afinal, geralmente 
a proposta de redação solicita uma solução para a questão abordada. Veja o 
parágrafo de conclusão produzido por Lívia Taumaturgo no Enem de 2018 
(apud CAMPOS, 2019, documento on-line):
Portanto, cabe aos Estados, por meio de leis e investimentos, com um pla-
nejamento adequado, estabelecer políticas públicas efetivas que auxiliem a 
população a “navegar”, de forma correta, na internet, mostrando às pessoas a 
5Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática
relevância existente em utilizar o meio virtual racionalmente, a fim de diminuir, 
de maneira considerável, o consumo exacerbado, que é intensificado pela 
manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados. Além 
disso, é de suma importância que as instituições educacionais promovam, 
por meio de campanhas de conscientização, para pais e alunos, discussões 
engajadas sobre a imprescindibilidade de saber usar, de maneira cautelosa, 
a internet, entendendo a relevância de uma “polarização digital” para a 
conscientização da razão comunicativa, com o intuito de utilizar o meio 
virtual para o desenvolvimento pleno da sociedade.
Observe as palavras destacadas. Elas revelam o caráter de obrigatorie-
dade atribuído a ações de autoridades e instituições. Dessa forma, o locutor 
se mostra isento desses deveres e responsabiliza terceiros. O uso de verbos 
no subjuntivo ou no imperativo contribui para a modalização deôntica, pois 
auxilia na orientação da instrução.
Nascimento (2013, p. 15), ao analisar a modalização deôntica na redação 
oficial, afirma que ela:
[...] se fez presente em quase todos os gêneros do universo empresarial e ofi-
cial. Em grande parte dos casos, adquire um caráter instrucional, indicando 
ao interlocutor como deve agir. Esse caráter, na maioria das vezes, veicula 
concomitantemente outros sentidos. Além dessa função instrucional, os 
modalizadores deônticos são utilizados para veicular obrigatoriedade, ordem, 
proibição, permissão e pedido ou solicitação.
Já a modalização avaliativa ocorre quando o locutor deseja comparar, 
analisar e avaliar algo que será expresso no seu texto, independentemente de 
questões epistêmicas ou deônticas. Portanto, o produtor do texto se compro-
mete com o conteúdo, que se mostra pessoal. Nesses casos, a modalização se 
revela como uma estratégia argumentativa que tenta convencer o interlocutor 
a realizar determinadas ações. Veja um exemplo:
Com o maior número de infectados por coronavírus (Covid-19) na América 
Latina, o Brasil é um dos últimos a anunciar fechamento de suas fronteiras, e 
ainda assim, de modo parcial [...]. A medida chega atrasada em relação aos 
demais países do continente, e ainda com um certo tom ideológico. Mas 
está em linha com a tendência global e dos países vizinhos que, em alerta 
com a rápida proliferação do coronavírus na América Latina, começaram 
a restringir circulação nas fronteiras (OLIVEIRA, 2020, documento on-line).
Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática6
O trecho foi retirado de uma notícia intitulada “Com atraso, Brasil começa 
a fechar fronteira parcialmente pela Venezuela”. As premissas dos textos jor-
nalísticos incluem a imparcialidade e a impessoalidade, porém, como mostra 
o exemplo, é possível que o locutor revele sua opinião enquanto divulga um
acontecimento. As construções “com atraso” e “a medida chega atrasada” 
explicitam o posicionamento do autor.
A modalização delimitadora, nas palavras de Nascimento (2013, p. 17), 
“[...] é aquela que estabelece os limites dentro dos quais se deve considerar 
o conteúdo do enunciado e, por essa razão, identifica graus de tensão ou
de negociação na interlocução [...]”. Nos textos que utilizam essa modali-
zação, é comum o uso de expressões como: “exclusivamente”, “apenas”, 
“somente”, “quase”, “um tipo de”, “uma espécie de”, “geograficamente” e 
“biologicamente”.
Em diferentes gêneros textuais, encontram-se modalizadores que revelam as finalidades 
de comunicação e auxiliam os produtores de texto a atingir os seus objetivos. Portanto, 
as marcas de argumentatividade constroem diferentes textos a partir das relações 
semânticas e pragmáticas no uso da linguagem.
2 O uso dos dêiticos no texto literário
A dêixis é um fenômeno linguístico de referenciação: na prática da lin-
guagem, alguns elementos indicam e apontam pessoas, objetos, eventos 
e outros elementos aos quais os interlocutores se referem no momento da 
comunicação. A perspectiva sociodiscursiva da linguagem amplia as pos-
sibilidades de estudo de dêixis, pois as estratégias de referenciação são 
vistas como parte de um processo sociocognitivo-discursivo. Fiorin (2003, 
p. 162) explica a existência da dêixis:
Todo enunciado é realizado numa situação definida pelos participantes da 
comunicação (eu/tu), pelo momento da enunciação (agora) e pelo lugar em 
que o enunciado é produzido (aqui). As referências a essa situação constituem 
a dêixis e os elementos linguísticos que servem para situar o enunciado são 
os dêiticos.
7Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática
Portanto, os dêiticos são construídos no discurso: a cada enunciação, há uma 
construção de referência. Assim, o contexto é fundamental para a estrutura lin-
guística. E como esse contexto se define nos textos literários? Afinal, a literatura 
se mostra distante da pragmática, já que a comunicação não revela uma utilidade 
imediata. Contudo, ao produzir sua obra, o escritor pressupõe a cooperação do 
leitor, pois os textos literários revelam uma intencionalidade estética. Nessa inten-
cionalidade, pressupõe-se a cooperação do leitor: sem ela, a literatura perde seu 
valor. Nesse sentido, cabe a análise do uso de dêixis também no campo literário.
No texto literário, o leitor assume a intenção do autor de referir; logo, se cria:
[...] nesse discurso, uma “ilusão referencial”, mais ainda do que no discurso 
comum: instaura-se entre enunciador e leitor um pacto de que o escritor está 
se referindo, não ao mundo real, mas à sua própria interpretação do mundo 
real, ou ao seu próprio mundo criado, ou a ambos. Dessa forma, o discurso 
literário não requer apenas uma forma distinta de ser escrito, mas requer 
também uma forma distinta de ser lido (PINHEIRO, 2018, p. 65).
No texto literário, os dêiticos apresentam ao leitorum mundo real. Isto é, 
o mundo ficcional, imaginado, recebe características pragmáticas. Em 1967, 
Bühler reconheceu a importância dos dêiticos para a linguagem e os classificou 
em diferentes campos. No campo imaginário, localizou a relação dos dêiticos 
com a literatura, denominando a referenciação desses casos de am phantasma. 
Hamburger (1986, p. 91) amplia esses estudos e acredita que:
[...] as palavras designativas na ficção transferem-se do campo mostrativo ao 
campo simbólico da linguagem — sem serem prejudicadas pelo fato de con-
servarem ali a impressão gramatical de palavra designativa [...]. Os advérbios 
dêiticos temporais ou espaciais [hoje, ontem, amanhã/aqui, lá], perdem na 
ficção a sua função dêitica existencial, e se transformam em símbolos, nos 
quais o ponto de vista espacial se apaga, restando noções.
A análise do discurso contribuiu para a percepção de que os dêiticos estão 
presentes na literatura, pois considera que essa referenciação exerce também 
a função discursiva. Nas palavras de Maingueneau (1997, p. 42), “[...] uma 
formação discursiva não enuncia a partir de um sujeito, de uma conjuntura 
histórica e de um espaço objetivamente determináveis do exterior, mas por 
atribuir-se a cena que sua enunciação ao mesmo tempo produz e pressupõe 
para se legitimar [...]”.
Dessa forma, no texto literário, a situação de enunciação é criada, faz parte 
do mundo da história construída pelo escritor. Isso significa que o espaço, o 
tempo e os enunciadores fazem parte da cenografia, são criações que servem de 
Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática8
referência para a compreensão do texto. Contudo, essas construções/invenções 
são mais do que pano de fundo: muitas vezes, são o foco da intencionalidade 
discursiva. A seguir, você vai observar alguns textos literários para analisar 
como os dêiticos funcionam nesse contexto.
O conto “Casa tomada”, de Julio Cortázar, conta a história de dois irmãos 
que vivem em uma casa que é tomada por desconhecidos. À medida que a 
invasão ocorre, os irmãos se obrigam a desfrutar de um espaço cada vez menor 
dessa casa. Leia o início do conto:
Gostávamos da casa porque, além de ser espaçosa e antiga (as casas anti-
gas de hoje sucumbem às mais vantajosas liquidações dos seus materiais), 
guardava as lembranças de nossos bisavós, do avô paterno, de nossos 
pais e de toda a nossa infância (CORTÁZAR, 2005, documento on-line).
Note que a primeira menção à palavra “casa” surge como referência ao 
local em que os personagens gostavam de estar. Mas, à medida que o texto 
avança, essa casa deixa de ser simplesmente um espaço para se tornar um 
personagem. Observe:
Acostumamo-nos Irene e eu a persistir sozinhos nela, o que era uma loucura, 
pois nessa casa poderiam viver oito pessoas sem se estorvarem. Fazíamos 
a limpeza pela manhã, levantando-nos às sete horas, e, por volta das onze 
horas, eu deixava para Irene os últimos quartos para repassar e ia para a co-
zinha. O almoço era ao meio-dia, sempre pontualmente; já que nada ficava 
por fazer, a não ser alguns pratos sujos. Gostávamos de almoçar pensando 
na casa profunda e silenciosa e em como conseguíamos mantê-la limpa. Às 
vezes chegávamos a pensar que fora ela a que não nos deixou casar. Irene 
dispensou dois pretendentes sem motivos maiores, eu perdi Maria Esther 
pouco antes do nosso noivado. Entramos na casa dos quarenta anos com 
a inexpressada ideia de que o nosso simples e silencioso casamento de 
irmãos era uma necessária clausura da genealogia assentada por nossos 
bisavós na nossa casa. Ali morreríamos algum dia, preguiçosos e toscos 
primos ficariam com a casa e a mandariam derrubar para enriquecer com 
o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos com toda
justiça, antes que fosse tarde demais (CORTÁZAR, 2005, documento on-line).
Veja que as palavras destacadas também são dêiticos, mas são pessoais, 
ou seja, remetem às pessoas do discurso, aquelas que participam do ato da 
comunicação. Contudo, a casa não é um interlocutor; portanto, há uma inversão: 
9Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática
os personagens deixam de ser os responsáveis pelos atos e pelas ações e cedem 
espaço para a casa, que chega a ser tratada por meio de dêiticos pessoais. O 
uso da palavra “casa” e do dêitico de lugar, “ali”, demonstram que o papel da 
casa ainda oscila nesse ponto do texto. Entretanto, à medida que a história 
avança, se evidencia a força dessa casa como personagem, pois as supostas 
pessoas que a invadiram não aparecem, e os ruídos não se evidenciam como 
provocados por um ser humano. Assim, infere-se que o próprio ambiente 
contribuiu para a expulsão dos irmãos, de modo que eles pudessem viver 
sem a interferência da casa e de todas as lembranças e recomendações que 
ela suscitava. Veja um dos trechos finais:
— Tomaram esta parte — falou Irene. O tricô pendia das suas mãos e os 
fios chegavam até a cancela e se perdiam embaixo da porta. Quando 
viu que os novelos tinham ficado do outro lado, soltou o tricô sem olhar 
para ele (CORTÁZAR, 2005, documento on-line).
Note que o verbo “tomar” conjugado na terceira pessoa do plural indica 
um sujeito indeterminado: não se sabe quem tomou a casa. Dessa forma, as 
referências se tornam imprecisas e questionáveis, dificultando que o leitor 
estabeleça conexões.
Agora considere o poema “O bicho”, de Manuel Bandeira. No primeiro 
verso, ele apresenta um dêitico de tempo:
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos (BANDEIRA, 1947 apud SALGUEIRO, 
2016, documento on-line).
O advérbio “ontem” é comumente usado como referência a um tempo 
passado determinado, ou seja, as ações que ocorrem no ontem não se repetem. 
Contudo, no poema de Bandeira (1947 apud SALGUEIRO, 2016), o advérbio 
revela simplesmente o fato recente: a cada leitura, em épocas distintas, o leitor 
se identificará com as palavras do poeta. Afinal, no Brasil, a cena de alguém 
buscando comida no lixo é comum e tem se tornado banal.
A referência a esse bicho é feita com a conjugação na terceira pessoa, como 
se nota nas estrofes seguintes:
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática10
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato (BANDEIRA, 1947 apud SALGUEIRO, 2016, documento 
on-line).
A revelação da identidade desse bicho ocorre apenas no último verso:
O bicho, meu Deus, era um homem (BANDEIRA, 1947 apud SALGUEIRO, 
2016, documento on-line).
Note que o uso do vocativo “meu Deus” nesse caso não tem função re-
ferencial. O vocativo, nesse poema, não funciona como dêitico pessoal. A 
referência extrapola os limites do texto. Ao evocar Deus, o poeta, mais do que 
chamar ou se dirigir diretamente a alguém, pretende revelar seu espanto e sua 
indignação com a cena. O vocativo é um grito de denúncia, não exatamente 
para Deus, e sim para todos os leitores do poema.
No texto literário, os dêiticos funcionam de forma menos tradicional, isto é, não são 
aplicados apenas como referência direta de pessoa, tempo ou lugar. O comparti-
lhamento de conhecimentos entre autor e leitor é essencial para que a assunção de 
diferentes funções discursivas se evidencie na análise do texto literário.
3 A categorização na compreensão leitora
Quando se analisa a dimensão discursiva da linguagem, se constata que os 
aspectos cognitivos e interacionais estão presentes nesse processo de uso da 
língua. A referência é uma estratégia utilizada nas interlocuções conforme 
o discurso se desenvolve. Nesse sentido, cabe analisar como ocorrem as ati-
vidades cognitivas e interativas que os falantes praticam ao se referirem ao 
mundo nas situações de interação.
A categorização está ligada ao processo referencial, já que, na “percepção 
do mundo”, os falantes fazem distinções e classificações de cada elemento 
11Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática
que percebem. Dessaforma, a categorização é considerada um procedimento 
cognitivo que ocorre na interação.
Esse processo se associa às experiências particulares do falante, aos seus 
conhecimentos de mundo, às suas bagagens culturais e ideológicas. Portanto, 
as marcas históricas influenciam a construção da referência. Isso significa 
que o sentido das coisas, das ideias, não está predefinido: é, de certo modo, 
instável. Veja o que Ciulla (2014, p. 248) afirma:
Durante a interação, as categorias discursivas e cognitivas evoluem e se mo-
dificam; as escolhas lexicais são adaptadas e reconstruídas de acordo com o 
que está sendo negociado e com as intenções dos interlocutores. Assim, nesse 
campo movediço que é a referenciação, os efeitos de objetividade e realidade 
que criam a ilusão de estabilidade não são dados, mas são frutos dos processos 
de negociação entre os falantes e podem ser modificados a cada nova interação.
Assim, na compreensão leitora, a categorização funciona no nível do texto 
e do discurso, isto é, na consideração dos aspectos pragmáticos, cognitivos e 
interacionais. O leitor, ao buscar referências durante a leitura, forma esquemas 
e elabora procedimentos metonímicos de acordo com a mutação da catego-
rização. Afinal, como a estrutura das coisas está sujeita a modificações, é 
preciso formular ideias e características para categorizar um objeto visto pela 
primeira vez. Esse mesmo processo ocorre durante a leitura: a categorização 
é feita com base no conhecimento prévio do leitor e na sua fundamentação 
social e cultural.
A anáfora pode ser uma categorização própria do texto que auxilia o leitor a 
compreender as relações entre diferentes palavras e expressões utilizadas pelo 
autor. Mas as experiências de outras percepções e interações também favorecerão 
a categorização do objeto, da palavra. Como afirma Ciulla (2014, p. 255):
[...] a categorização é um fenômeno intimamente ligado à referenciação: todo 
ato de referir implica, também, categorizar, pois ao escolher uma expressão, 
entre todas as opções que julgar adequadas, incluindo-se aí as invenções, 
adaptações e transformações, o falante privilegia alguns aspectos e algumas 
semelhanças de família em detrimento de outros, de acordo com as discrimi-
nações (ou abstrações ou generalizações, etc.) que a palavra escolhida pode 
comportar naquela situação de uso.
Nesse sentido, se se assume que o conhecimento linguístico advém também 
de experiências do falante, pode-se pressupor que a linguística cognitiva 
é capaz de contribuir para a compreensão do fenômeno da categorização. 
Observe a Figura 1, a seguir.
Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática12
Figura 1. Charge sobre o Enem.
Fonte: César (2019, documento on-line).
Para que o leitor compreenda a mensagem da charge e perceba o tom cômico, 
precisa ter duas informações: nas redes sociais, circularam vídeos de um cantor e 
compositor amador que produziu a música “Caneta azul, azul caneta”; na folha de 
respostas do Enem, o candidato deve assinalar suas respostas com caneta preta. 
Nesse caso, portanto, o conhecimento linguístico depende das experiências do leitor.
Contudo, em textos maiores, com predominância da linguagem verbal, 
o leitor se vê obrigado a recorrer à categorização. Veja o texto a seguir, de 
Veríssimo (2001, p. 23):
A família toda ria de dona Morgadinha e dizia que ela estava sempre 
esperando a visita do Marajá de Jaipur. Dona Morgadinha não podia 
ver uma coisa fora do lugar, uma ponta de poeira em seus móveis ou 
uma mancha em seus vidros e cristais. Gemia baixinho quando alguém 
esquecia um sapato no corredor, uma toalha no quarto ou — ai, ai, ai — 
uma almofada torta no sofá da sala. Baixinha, resoluta, percorria a casa 
com uma flanela na mão, o olho vivo contra qualquer incursão do pó, 
da cinza, do inimigo nos seus domínios.
No primeiro parágrafo da crônica, já surge a expressão “Marajá de Jaipur”. 
Se o leitor recorrer às informações da realidade externa ao texto, constatará 
que esse marajá existe e vive na Índia. Entretanto, se não tiver posse dessa 
13Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática
informação, certamente o leitor categorizará o marajá como uma pessoa 
que tem muito dinheiro e vive no meio do luxo e do conforto. Na crônica, 
as palavras iniciais sugerem que esse marajá existe apenas no campo das 
ideias dos personagens. Contudo, uma situação inesperada altera o rumo 
da história:
Certa manhã bateram à porta. Dona Morgadinha, que comandava a faxina 
diária da casa com severidade militar, fez sinal para as empregadas de 
que ela mesma iria abrir. Na porta estava um homem moreno, de terno, 
gravata — e turbante! Dona Morgadinha, que uma vez brigara com o 
carteiro porque a sua calça estava sem friso, olhou o homem de alto a 
baixo e não encontrou o que dizer.
— Dona Morgadinha?
— Sim.
— Meu amo manda o seu cartão e pede permissão para vir visitá-la às 
cinco.
Dona Morgadinha olhou o cartão que o homem lhe entregara. Ali estava, 
com todas as letras douradas, “Marajá de Jaipur”. Não conseguiu falar. 
Fez que sim com a cabeça, desconcertada. O homem fez uma mesura e 
desapareceu antes que dona Morgadinha recuperasse a fala (VERÍSSIMO, 
2001, p. 24).
Nesse ponto da narrativa, o leitor se vê impelido a categorizar o marajá 
como personagem, porém com ressalvas: o homem que apareceu na porta de 
Morgadinha era realmente o tal marajá? O final da crônica revela o que havia 
por trás da visita:
Depois de duas semanas de visitas constantes do Marajá e do mais ab-
soluto descaso de dona Morgadinha pela higiene da família e da casa, o 
marido resolveu que já era demais. Procurou o seu amigo Turcão, que era 
árabe e tinha cara de hindu e que ele contratara para se fingir de Marajá 
e fazer uma brincadeira com a mulher, e disse que era hora de acabar 
com a brincadeira (VERÍSSIMO, 2001, p. 26).
Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática14
Como se vê, uma nova categorização surge para o marajá: ele é Turcão, 
um amigo do marido de Morgadinha, que aceita o desafio de se fazer passar 
pelo marajá. Essas reviravoltas demonstram como a ficção aproveita as es-
tereotipações de categorias e a categorização para envolver o leitor e atrair a 
sua atenção até o fim do texto.
As reportagens são exemplos de textos que utilizam a voz de especialistas 
para ratificar algumas ideias e legitimar a informação. Cada trecho que expõe 
o nome do entrevistado e apresenta a sua especialidade é enquadrado pelo 
leitor na categoria “informação verdadeira e confiável”. Veja trechos de uma 
reportagem publicada no jornal El País:
Assim como o coronavírus e a economia são globais, o mesmo acontece 
com o comportamento humano. Na Espanha, um dos produtos que 
primeiro desapareceu das prateleiras dos supermercados foi o papel 
higiênico. Quando o Governo suspendeu as aulas nas escolas na semana 
passada, imediatamente as redes sociais se encheram de imagens de 
clientes lotando compulsivamente os carrinhos [...]. Entre os motivos 
alegados por David Coral, presidente da agência BBDO, está o fator psi-
cológico, pois ser um produto higiênico dá uma sensação de segurança 
[...]. O professor de marketing da ESIC, Paco Lorente, também fala sobre 
comportamento, esclarecendo que todo esse fenômeno está relacionado 
à psicologia aplicada ao marketing [...]. Também o diretor acadêmico do 
Master in Market Research and Consumer Behavior da IE Business School, 
Jaime Veiga, justifica a situação falando de comportamentos irracionais 
gerados pelo estresse e pelo medo (ÁLVAREZ, 2020, documento on-line).
Portanto, a categorização relaciona-se diretamente com o contexto e com 
a situação de comunicação. Fiorin (2003, p. 71) afirma: “A mesma realidade, 
a partir de experiências culturais diversas, é categorizada diferentemente. 
Nenhum ser do mundo pertence a uma determinada categoria, os homens é 
que criam as categorias e põem nelas os seres [...]”.
Em síntese, a categorização é um processo de referência que aliaaspectos 
cognitivos e discursivos. Dessa forma, as categorias não são estanques, ou 
seja, podem ser imprevisíveis e mudar com facilidade, pois estão envolvidas 
com o contexto e com as intenções do falante. Além disso, o conhecimento 
de mundo do receptor interfere na categorização.
15Análise de textos de diferentes gêneros: semântica e pragmática
ÁLVAREZ, P. Por que o papel higiênico está se esgotando no mundo com o coronavírus. 
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ARIAS, J. A face mais cruel do coronavírus é abandonar, sem nenhuma razão cientí-
fica, os animais de estimação. El País, [s. l.], 17 mar. 2020. Disponível em: https://brasil.
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-nenhuma-razao-cientifica-os-animais-de-estimacao.html. Acesso em: 13 abr. 2020.
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