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EDUCAÇÃO EM SAÚDE II Bruna Becker Função social da educação em saúde Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a função social da educação em saúde no Brasil. Explicar a influência da educação em saúde na vida cotidiana. Apontar ações de educação em saúde que têm impacto positivo nas sociedades. Introdução As políticas públicas de saúde são ferramentas utilizadas pela gestão para mudar realidades de saúde, melhorar a qualidade dos serviços de saúde, trazer melhores condições de vida para a população e fortalecer aquilo que é preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Política de Educação em Saúde permite o aprendizado mútuo entre educador e educando. Nesse sentido, as equipes de saúde realizam ações no contexto social em que atuam, tornando a população mais consciente e autônoma sobre seus cuidados em saúde. Portanto, a educação em saúde tem um papel social importante e transformador. Neste capítulo, você compreenderá a função social da educação em saúde no País, reconhecerá como as ações dessa temática interferem na vida cotidiana da população, bem como conhecerá algumas práticas de educação em saúde que beneficiam a sociedade e as comunidades em que são desenvolvidas. Função social da educação em saúde no Brasil Assumindo o pressuposto de que as políticas de saúde são construídas com o objetivo de mudar realidades e são materializadas nos serviços de saúde por meio de ações dos profi ssionais e dos gestores em sua atuação cotidiana, a educação em saúde representou, nas últimas décadas, uma importante estratégia para modifi car contextos sociais e transformar o conhecimento dos indivíduos sobre o autocuidado. Nesse sentido, a função social da educação em saúde no Brasil é de extrema importância não só para o desenvolvimento social, mas também para a consolidação daquilo que é preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta da educação em saúde pretende tornar a atuação do profissional mais presente. Nesse sentido, é preciso dar ferramentas ao profissional de saúde para uma atuação comprometida socialmente, a fim de que este entenda que suas atividades também são de educador em saúde, tornando-o um agente transformador da sociedade. No entanto, como tornar essa educação em saúde igualitária e dialógica dentro das diversas realidades sociais? Nesse sentido, a proposta dos movimentos de educação popular em saúde traz a realidade de uma educação conscientizadora por meio do crescimento consciente do educando e das ações do educador como profissional de saúde. Esse movimento está pautado no trabalho da educação popular de saúde pública, realizado por profissionais e gestores de saúde, quando a atuação deste extrapola a assistência e se estende a uma ação social ampliada, valorizando a forma de viver e as trocas de contexto social, de modo que existe uma motivação no aprendizado e um diálogo sobre a vida por intermédio do corpo e da saúde (BRANDÃO, 2001). Apesar de serem pautadas pelos princípios de integralidade, universalidade, equidade e serem organizadas de maneira descentralizada, hierarquizada e com participação da população, além de trazer no seu conjunto de ações um conceito de saúde mais ampliado, as mudanças na organização dos contextos de saúde por meio da educação popular, por si só, não se mostram capazes de transformar a prática sanitária brasileira de forma a garantir a melhoria da qualidade de vida e saúde dos cidadãos brasileiros. Nesse sentido, novos modelos assistenciais são pensados para suprir essas necessidades. De acordo com Cordeiro (1996, p. 11): A construção do novo modelo assistencial centrado nas estratégias de im- plantação e generalização do Programa Saúde da Família, articuladas com os princípios de descentralização, municipalização, integralidade e qualidade dos cuidados de saúde é parte indissociável da consolidação e aprimoramento do SUS. A visão sistêmica e integral do indivíduo só é atingida quando se entende que a qualidade de vida está vinculada à saúde e ao bem-estar. Dessa forma, Função social da educação em saúde2 ao se pensar saúde como qualidade de vida, tornam-se necessárias práticas de saúde que englobem a visão sistêmica e integral do indivíduo, da sua família e da comunidade em que ele está inserido. A educação em saúde (ES) deve representar um espaço de prática e conhecimento que promova a relação entre a ação de saúde e o pensar e fazer do cotidiano da população. Dessa forma, as ações de ES encontram-se vinculadas ao exercício da cidadania, em busca por melhores condições de vida e saúde da população, principalmente quando perpassam todas as fases do atendimento, promovendo espaços de troca de informação, permitindo identificar as demandas de saúde dos usuários e as escolhas mais adequadas e diminuindo a distância habitual entre os profis- sionais de saúde e a população (ARAUJO, 2004). Essa é uma das formas de se fomentar a inserção social em saúde, visto que oferece condições para que o indivíduo se veja como “sujeito” do seu processo de saúde–doença, sendo participativo na condução da vida da comunidade, e não passivo — “paciente” — e alienado das suas condições de vida, bem como reforça a vinculação com a unidade de saúde e com os profissionais de saúde, impactando de forma positiva na saúde da comunidade (BRASIL, 2009). A educação em saúde tem um importante papel social, pois as ações reali- zadas no âmbito da atenção básica e nos locais de cotidiano das comunidades, considerando a realidade social de cada indivíduo, têm potencial transformador e multiplicador. Conforme Adelaide (OMS, 2010), a “saúde” é um conceito positivo, que enfatiza não só recursos sociais e pessoais, mas também permite conhecer os recursos físicos ligados ao cuidado de cada indivíduo. Nesse sentido, o conceito de promoção da saúde, um dos princípios norteadores das ações realizadas no setor saúde, extrapola questões relacionadas ao estilo de vida e ao bem-estar da população e deve estar presente no desenvolvimento das ações de educação em saúde, devido ao seu potencial de transformação social. 3Função social da educação em saúde Integralidade como princípio do SUS e eixo norteador das ações de educação em saúde Segundo Nietsche (apud MACHADO et al., 2007), o conceito de integralidade identifica os indivíduos como totalidades, sendo compreendidos por todas as possibilidades que os compõe em sua plenitude. No âmbito da saúde, o serviço prestado de forma integral vai além das estruturas organizacionais preconizadas pelo SUS, pois se estende pela qualidade da atenção prestada ao indivíduo e ao coletivo, assegurando um compromisso com o aprendizado e a prática profissional. As ações de saúde devem ser desenvolvidas em consonância com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, constituídas pelos princípios do SUS: universalidade, participação popular, regionalização, hierarquização, descentralização e atendimento integral à população. Com base no que se pensa sobre integralidade segundo a Constituição, os serviços devem ofertar ações de promoção à saúde, prevenção, reabilitação, sendo que as ações precisam estar integradas aos espaços de prestação dos serviços de saúde do SUS (CAMPOS, 2003). Inerente ao que se preconiza como integralidade, destacam-se as ações de educação em saúde como estratégias para aproximar a realidade dos conceitos de saúde, a busca pelas possibilidades de mudanças dos cenários sociais, a partir da atuação dos profissionais, do trabalho coletivo das equipes de saúde e das políticas em maior instância (MACHADO et al., 2007). As estratégias de educação em saúde alinhadas com a integralidade são pautadas em políticas que vão muito além das concepções clínicas e dos tratamentos, pois são comprometidas com o desenvolvimento da cidadania, do cuidado integral, da qualidade de vida, da solidariedade e da promoção do indivíduo como um todo(SCHALL; STUCHINER, 1999). Nesse sentido, fica evidente a importância de se pensar no conceito de integralidade nas ações de educação em saúde e, principalmente, na importância social que tais ações têm ao serem aplicadas às comunidades. Influência da educação em saúde na vida cotidiana A história da educação em saúde tem sido marcada por diferentes concepções e práticas. Esse conceito possui um campo de prática e de conhecimento que proporciona a criação de vínculos entre a ação dos profi ssionais de saúde e a população. Além disso, essas ações devem ser pensadas de acordo com a realidade e o cotidiano da população (VASCONCELOS, 2001). As políticas de saúde pensadas nas instâncias de gestão se materializam na “ponta” do sistema, por meio das práticas realizadas pelas equipes de saúde. Portanto, é fundamental refletir sobre a influência de tais ações e práticas Função social da educação em saúde4 e como elas interferem na qualidade dos serviços prestados e se realmente atingem aquilo que inicialmente foi preconizado nas políticas de saúde. Nesse sentido, o fortalecimento do SUS por meio de práticas de educação em saúde se constitui como um processo social e político que ocorre no cotidiano do serviço e que proporciona ao indivíduo maior autonomia sobre a sua situação de saúde (ALVES, 2005). No entanto, para que essas ações sejam efetivas, é importante que o método pedagógico utilizado nas ações de educação em saúde considere o contexto social das populações que se quer atingir. As pessoas adquirem um enten- dimento sobre seu papel e sua inserção social por meio do trabalho, da vida social, da sobrevivência e das percepções de sua realidade e seu contexto. Esse conjunto de conhecimentos é a matéria-prima para o planejamento de ações de educação popular em saúde. A valorização do saber popular e da realidade do indivíduo proporciona ao educador a possibilidade de ações mais assertivas e com capacidade de entendimento daquele indivíduo ou daquela comunidade (VASCONCELOS, 2001). Em relação aos diversos espaços e contextos de aplicação dessas ações, destaca-se a atenção básica como uma realidade inesgotável de possibilida- des de desenvolvimento de práticas de educação em saúde. Isso ocorre pela aproximação dos serviços de saúde da realidade social das comunidades, possibilitando práticas de caráter preventivo e promocional (COSTA, 1999). Conforme relatos do estudo de Feijão e Galvão (2007, documento on-line), após a implementação do SUS, as ações no âmbito da atenção primária à saúde (APS) alcançaram diversas mudanças sociais e de saúde em várias regiões, sendo conferida grande importância à participação popular e à mobilização social, de modo que “A educação em saúde passa a ser um instrumento de construção da participação popular em diversos contextos, sendo um deles os serviços de saúde e, ao mesmo tempo, ao aprofundamento da intervenção científica em saúde”. É possível desenvolver atividades educativas em grupo nos ambientes dos serviços de saúde utilizando-se diversos temas, como, por exemplo, a sexualidade, para jovens e adolescentes. Cada serviço pode utilizar a me- todologia que melhor se adapta ao seu modo de trabalho e às possibilidades de execução. É importante que ações coletivas tenham caráter participativo e permitam a troca de experiências baseadas nas vivências dos pacientes, e, sobretudo, a linguagem dos profissionais de saúde deve se manter acessível e simples (BRASIL, 2002). Ainda, sabe-se que o estado de saúde dos indivíduos está relacionado ao seu comportamento e, consequentemente, ao seu contexto social e aos seus 5Função social da educação em saúde hábitos de vida. Para que se atinjam níveis aceitáveis de bem-estar e vida saudável, é importante promover a adoção de comportamentos saudáveis e a mudança de condutas que são prejudiciais à saúde, e as ações de educação podem contribuir para isso. Nesse sentido, é fundamental entender fatores que determinam os estilos de vida das pessoas e que tais comportamentos estão associados a uma complexa constelação e interação de fatores biológicos, psicológicos, micro e macrossocias e ambientais (GOMES, 2009). Ações de educação em saúde, contexto social e seu impacto positivo na sociedade Existem vários contextos em que a educação em saúde é utilizada como ferra- menta, além de existirem diversas ações de educação em saúde já realizadas desde a implementação do SUS. No entanto, cabe sinalizar algumas ações importantes e seus contextos de utilização, que impactam positivamente no contexto social de diversas regiões do País. Programa Saúde da Família O Programa Saúde da Família (PSF) foi implantado no Brasil pelo Ministério da Saúde, em 1994, sendo conhecido hoje como “Estratégia de Saúde da Família”. Conforme preconizado pelo SUS, a organização dos serviços de saúde e das práticas está pautada pela integralidade, que se caracteriza pela incorporação de práticas preventivas e assistenciais em um mesmo serviço ofertado. Nesse contexto, preconiza-se que o indivíduo se desloque a um mesmo local para receber assistência preventiva e curativa. Em se tratando das equipes de Saúde da Família, tais profi ssionais são capacitados para executar desde ações de busca ativa de casos na comunidade adscrita, mediante visita domiciliar, até acompanhamento ambulatorial dos casos diagnosticados (tu- berculose, hanseníase, hipertensão, diabetes, entre outras enfermidades), com o fornecimento de medicamentos. O princípio da integralidade dá subsídio às práticas de educação em saúde, sendo estas de responsabilidade das equipes do PSF (ALVES, 2005). As ações são orientadas na perspectiva do território, dos problemas de saúde e da intersetorialidade (MENDES, 1996). Esse modelo de organização contribuiu para intervenções integrais sobre os processos de saúde–doença (PAIM, 2003; ALVES, 2005). Conforme já mencionado, as práticas de educação em saúde estão preconizadas entre as funções designadas para as equipes do Função social da educação em saúde6 PSF, com isso, espera-se que esses profissionais sejam capacitados para realizar uma assistência integral e contínua às famílias de sua região adscrita, procu- rando identificar situações que apresentem risco, auxiliando a comunidade no enfrentamento dos agravos de saúde e, principalmente, desenvolvendo ações educativas em saúde destinadas à melhoria do autocuidado, visando a propor- cionar ao cidadão autonomia nos seus processos de cuidado (ALVES, 2005). Educação Popular em Saúde Desde 1991, a Educação Popular em Saúde, em suas diversas ações e atores envolvidos, une-se aos profi ssionais de saúde e aos líderes populares, no sentido de expandir e concretizar a trajetória da educação popular em saúde nos serviços de saúde e nas comunidades (VASCONCELOS, 2001). Esse movimento valoriza, em suas ações, as trocas interpessoais, permite a partici- pação popular, a troca por meio do diálogo e a compreensão do contexto e da realidade do indivíduo como forma de oportunizar o aprendizado em saúde. Tal movimento tem priorizado a relação de educação que se estabelece entre comunidade e profi ssionais, rompendo com a verticalidade histórica existente entre médico e usuário (ALVES, 2005). Em muitos contextos regionais de saúde, as ações de educação popular em saúde são transformadoras, a ponto de modificar a história da medicina integral, no sentido de que se dedicam à ampliação das relações entre profis- sionais, familiares e sociais, em que todos estão envolvidos em uma só causa (VASCONCELOS, 2001). Pesquisas Ainda, existem diversas pesquisas realizadas no âmbito da saúde, no con- texto da atenção básica, que fortalecem as políticas de educação em saúde e que descrevem o planejamento e a execução de ações nessa temática. As pesquisas não podem ser consideradas ações de educação em saúde, mas o fomento a estudos nessa área proporciona maior visibilidade para essa temá- tica e, consequentemente, maior fortalecimento dessasações. Conforme um estudo realizado por Feijão e Galvão (2007), sobre os modelos de práticas de educação em saúde utilizados, constatou-se, segundo a mostra da pesquisa, que 39 (67,3%) dos artigos selecionados não apresentavam, ou, pelo menos, não citavam, a utilização de abordagens pedagógicas em sua metodologia e ações. Dos demais artigos analisados, 19 (32,7%) traziam claramente o tipo de abordagem utilizada, com detalhes dos motivos de escolha, bem como sua 7Função social da educação em saúde utilização no planejamento e na execução das ações educativas. Ainda, em uma escala menor, alguns estudos mencionavam em suas ações de educação em saúde os seguintes temas: pré-natal e gestação (3,4%); doenças prevalentes na infância (3,4%); PSF e APS (3,4%); doenças infecciosas e parasitárias (3,4%); adolescência e puberdade (3,4%); saúde mental (1,7%); hanseníase (3,4%); saúde ocular (1,7%); controle da cárie (1,7%); saúde escolar (3,4%). Confi ra, no Quadro 1, a distribuição dos artigos relacionados à educação em saúde de acordo com os temas e o público-alvo. Temas Público-alvo Nº. % Doenças sexualmente transmissíveis/aids Adolescentes, mulheres em idade fértil, homens e mulheres nas escolas 8 13,8 Cidadania/participação popular Clientela dos serviços 5 8,6 Nutrição/carências nutricionais Crianças, mães e cuidado- res* de crianças 4 6,8 Métodos contraceptivos/ saúde reprodutiva Mulheres em idade fértil 4 6,8 Avaliação de ações educativas Clientela dos serviços, pro- fissionais de saúde, líderes comunitários, conselheiros de saúde, entre outros 4 6,8 Hipertensão e diabetes Grupos de idosos 4 6,8 Prevenção ginecológica e autoexame das mamas Mulheres em idade fértil 3 5,2 Aleitamento materno Gestantes e puérperas 3 5,2 Sexualidade e corpo Adolescentes 3 5,2 Dengue Comunidade assistida 3 5,2 Pré-natal/gestação Gestantes e mulheres em idade fértil 2 3,4 Quadro 1. Distribuição dos artigos relacionados à educação em saúde de acordo com temas e público-alvo (Continua) Função social da educação em saúde8 Segundo os autores do estudo, as ações de educação em saúde são conside- radas como todas as possíveis combinações de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde. Com isso, as práticas de educação em saúde são consideradas como a combinação da abordagem de múltiplos determinantes de comportamentos humanos, ex- periências e intervenções. O estudo conclui que os processos de elaboração, planejamento, facilitação e avaliação das ações devem integrar um estudo dos diversos determinantes relativos ao público-alvo que se quer atingir. A educação em saúde é considerada, segundo o estudo, como uma forma de promoção da saúde, pois demonstra, por meio das práticas, tanto a prevenção quanto a reabi- litação de doenças, bem como a valorização da cidadania e da responsabilidade pessoal e social relacionada à saúde (FEIJÃO; GALVÃO, 2007). Fonte: Adaptado de Feijão e Galvão (2007) . Temas Público-alvo Nº. % Doenças prevalentes na infância Mães de escolares 2 3,4 Programa Saúde da Família/ Atenção Primária em Saúde Clientela dos serviços 2 3,4 Doenças infecciosas e parasitárias Escolares, mães e cuidado- res* de crianças 2 3,4 Adolescência e puberdade Adolescentes e pré-adolescentes 2 3,4 Saúde escolar Crianças em sala de espera 2 3,4 Saúde mental Clientela em sala de espera 1 1,7 Saúde ocular Escolares e professores 1 1,7 Controle da cárie Escolares 1 1,7 Total 58 100,0 *O termo cuidadores refere-se a todas as pessoas que, de alguma forma, cui- dam de crianças, como professores, funcionários de creches, parentes próximos, de acordo com o especificado nos artigos. Quadro 1. Distribuição dos artigos relacionados à educação em saúde de acordo com temas e público-alvo (Continuação) 9Função social da educação em saúde No contexto escolar Outro campo de grande infl uência das ações de educação em saúde é o contexto das redes escolares municipais e estaduais. Nesse sentido, mesmo não estando dentro das unidades de saúde, as ações de educação em saúde são aceitas em todos os contextos de uma comunidade, e, dessa forma, as escolas são grandes centros de oportunidades para os educandos em saúde, fundamentalmente, junto dos alunos, visto que existem várias possibilidades de ações. A implementação da educação para a saúde na escola é especialmente defendida pelos seguintes motivos: – Em primeiro lugar, pelo facto de todas as crianças de um país passarem pelo sistema de ensino. Dificilmente algum programa de Educação para a Saúde implementado noutro local, atinge tanta gente, como os programas de Educação para a Saúde aplicados na escola, pelos profissionais de saúde. – Em segundo lugar, porque os resultados de numerosas investigações mostram claramente que as raízes do nosso comportamento (o nosso modo de vida) no plano sanitário (e não só) se situam na infância e adolescência. – Em terceiro lugar, porque ao fazer Educação para a Saúde na escola es- tamos a atingir indivíduos em fase de formação física, mental e social que ainda não tiveram, muitas vezes, oportunidade de adquirir hábitos insanos e que são muito mais receptivos à aprendizagem de hábitos e assimilação de conhecimentos. – Em quarto lugar, conta com a colaboração de profissionais valiosos que sabem educar A UNESCO e a Oficina Internacional de Educação e da Saúde, recomendam que “a saúde se deve aprender na escola da mesma forma que todas as outras ciências sociais” (PRECIOSO, 2004, documento on-line). Conclui-se que, no contexto escolar, os alunos têm a possibilidade de aprender sobre a vida na comunidade, os conhecimentos científicos e os hábitos sociais, mas também podem, e devem, aprender sobre hábitos de higiene, saúde e autocuidado (GOMES, 2009). Função social da educação em saúde10 ALVES, V. S. Um modelo de educação em saúde para o programa saúde da família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface - Co- municação, Saúde, Educação, v. 9, n. 16, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?pid=S1414-32832005000100004&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 11 ago. 2019. ARAÚJO, F. M. Ações de educação em saúde no planejamento familiar nas unidades de saúde da família do município de Campina Grande-PB. Campina Grande: UEPB, 2004. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2004/especializacao/ MonografiaFlaviaMentorAraujo.pdf. Acesso em: 11 ago. 2019. BRANDÃO, C. R. A educação popular na área da Saúde. 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