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AULA 1 GESTÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Profª Rita Galgani Barchik de Paula 2 INTRODUÇÃO A famosa frase de Aristóteles diz que “somos seres sociais por natureza”, assim, precisamos ter contato com outras pessoas, e por isso mantemos relações sejam elas afetivas, profissionais, familiares entre outras. Entretanto, nem sempre esse contato é harmonioso, pois cada ser humano é único, ou seja, as pessoas são diferentes, com visões de mundo e formas de conceber a vida desiguais. Com isso, o conflito pode aparecer e existe a necessidade de ser solucionado e/ou controlado. O primeiro passo é identificar o conflito e suas influências, que podem ser tanto negativas como positivas. Muitas vezes, quando ouvimos a palavra conflito, normalmente a classificamos como algo negativo, mas veremos adiante que, em alguns casos, o conflito pode ser positivo. Além disso, serão abordados alguns conceitos, características, histórico e a visão do RH no Brasil. TEMA 1 – A CARACTERIZAÇÃO E CONCEITUAÇÃO DO CONFLITO De acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2009), a palavra conflito vem do latim conflictu, e quer dizer: “1. Embate dos que lutam. 2. Discussão acompanhada de injúrias, ameaças; desavenças. 3. Guerra. 4. Luta, combate. 5. Colisão, choque.”. Conflito significa também “falta de entendimento grave ou oposição violenta entre duas ou mais partes” (Michaelis). Os conflitos surgem quando há discordâncias de opiniões que podem ser entre pessoas, grupos e/ou organizações. Para Robbins (2005, p. 326), conflito é “um processo que se inicia quando uma das partes percebe que a outra parte afeta, ou pode afetar negativamente alguma coisa que a primeira considera importante”. Podemos imaginar que os conflitos ocorrem desde o início da humanidade, e acontecem por diversas razões, visto que como sociedade, pensamos e agimos cada um de uma forma. Já para Chiavenato (2004, p. 376), conflito é a “existência de ideias, sentimentos, atitudes ou interesses antagônicos e colidentes que podem chocar- se”. Entendemos que os conflitos facilmente instalam-se em ambientes organizacionais, gerando choques de ideias e, em algumas situações, a perda da produtividade que pode trazer sérios prejuízos para as organizações. 3 De acordo com Santos (2020, p. 28), os conflitos decorrem da convivência social do homem com suas contradições, podendo ser divididos em quatro espécies que, de regra, incidem cumulativamente, como entende Vasconcelos (2017, p. 25): • Conflitos de valores (diferença na moral, na ideologia, na religião); • Conflitos de informação (informação incompleta, distorcida, conotação negativa); • Conflitos estruturais (diferenças nas circunstâncias sociais, políticas e econômicas dos envolvidos); e • Conflitos de interesses (reivindicações de bens e direitos de interesse comum contraditório). Percebemos que essas situações citadas acima são comuns no nosso dia a dia, seja no ambiente familiar, seja no de trabalho, ou vivenciamos situações por meio dos meios de comunicação que diariamente nos trazem notícias dos conflitos e problemas causados principalmente por diferenças ideológicas e econômicas. Os conflitos que ocorrem no ambiente macro nem sempre são passiveis de intervenção e controle, no entanto, no ambiente micro, se faz necessário que consigamos controlá-los para que ele não cresça e se agrave. TEMA 2 – A TEORIA EVOLUTIVA DOS CONFLITOS AO LONGO DA HISTÓRIA Santos (2020) apresenta que os conflitos existem desde o surgimento da humanidade. Relatos históricos mostram que eles causaram desordem e até guerras, provocaram dor e sofrimento. O panorama evolutivo do conflito varia conforme as circunstâncias sociais, culturais e econômicas de determinado período. Vasconcelos (2017) fez uma análise interessante sobre o contexto histórico do conflito, conforme o Quadro 1: 4 Quadro 1 – Contexto histórico do conflito PRÉ-HISTÓRIA “A pré-história foi vivida por nossos ancestrais nômades, que sobreviviam da pesca, da caça e da busca por mantimentos naturais que lhes eram suficientes. Naquele período, não existia classe social, hierarquia ou Estado; os conflitos eram resolvidos pela própria comunidade e as relações humanas eram horizontalizadas, sendo raros os casos de violência”. REVOLUÇÃO AGRÍCOLA Depois de um longo período, alguns grupos/povos não precisavam deixar suas terras, pois aprenderam a plantar, e a caça e a pesca eram suficientes para mantê-los fixos no mesmo local, dando início ao que chamamos de Revolução Agrícola. Nesse momento, os indivíduos já construíam moradias e abrigos e não precisavam mais vagar em busca de sobrevivência, no entanto, foi nesse momento que começaram certas disputas, onde os mais fortes se apossaram de terras férteis e produtivas e dos animais, acumulando riqueza e poder, dando surgimento aos reinados e a escravidão dos povos derrotados. REVOLUÇÕES FRANCESA E AMERICANA Com isso surgiu os modernos Estados Democráticos de Direito, nos quais as políticas econômicas e sociais começaram a perder a conformação rígida. As relações piramidais foram 5 sendo substituídas e as pessoas passaram aa conviver em uma pluralidade de contextos. GLOBALIZAÇÃO Com a globalização a informação chega mais rápido e de forma mais acessível à população. Acontecimentos em todos os cantos do país foram transmitidos por notícias que invadiram o nosso dia a dia e nos desestabilizaram, afetaram nossos sentimentos e valores, pois muitas notícias eram negativas e muitas vezes de acontecimentos violentos. Isso trouxe uma reflexão as pessoas que tiveram uma consciência maior dos seus direitos a uma vida digna, com direito a liberdade e igualdade. Fonte: elaborado com base em Vasconcelos, 2017, citado por Maya, 2020. Assim, podemos entender que o conflito se modifica conforme acontecimentos e sua transformação depende das necessidades dos indivíduos envolvidos. Dessa forma, começamos a perceber que o “conflito é fenômeno inerente as relações humanas, sendo consequências de posições antagônicas quanto a fatos e comportamentos que envolvam expectativas, valores ou interesses comuns” (Vasconcelos, 2017, p. 21). Mesmo com base na ideia de que o conflito causa dor e sofrimento, ele faz parte do processo de desenvolvimento dos seres humanos e é necessário para o crescimento do indivíduo nos âmbitos social, organizacional e político. Nas organizações, se analisarmos a trajetória das teorias administrativas, percebemos que no início da Administração Científica e da Teoria Clássica de Taylor e Fayol não havia preocupação com o indivíduo, e que muitas vezes o homem era considerado como parte da máquina, sendo assim não se pensava que os conflitos não podiam existir. A partir da teoria das Relações Humanos, com o autor Elton Mayo, obteve- se a percepção sobre a necessidade de olhar para o indivíduo e suas necessidades, no entanto, um olhar ainda de forma incipiente. Outra teoria que 6 trouxe essa observação foi a teoria comportamental que trabalha a importância da motivação, da comunicação, de um olhar cada vez mais de forma interna ao indivíduo. Essas teorias trouxeram também o entendimento de que os conflitos podem ter pontos positivos e que são inevitáveis. A abordagem mais recente, segundo Robins (2005), é a visão interacionista, que propõe não apenas que o conflito pode ser uma força positiva, como defende abertamente a tese de que algum conflito é absolutamente necessário para o desempenho eficaz de um grupo. A principal contribuição dessa abordagem, portanto, é encorajar os líderes dos grupos a manter um nível mínimo constante de conflito suficiente para manter o grupo viável, autocrítico e criativo. Quadro 2 – Mudanças nas visões sobre os conflitos Escolas da administraçãoVisão do conflito Escola clássica – Visão tradicional O conflito deve ser evitado: ele seria a indicação de que alguma coisa não está funcionando direito dentro do grupo. Escola das relações humanas Argumenta que o conflito é uma consequência natural e inevitável em qualquer grupo, não sendo necessariamente ruim, podendo mesmo ter o potencial de ser uma força positiva. Escola Interacionista Defende abertamente a tese de que um mínimo de conflito é absolutamente necessário para o desempenho eficaz do grupo. Fonte: elaborado com base em Moreira; Rodrigues; Costa, 2018. Em suma, percebemos que na visão tradicional, o conflito era algo sempre negativo, era visto como incompetência do gestor e tinha que ser eliminado a qualquer custo. Na visão humana, é algo natural e pode ter efeitos positivos e negativos, no entanto deve ser gerenciável. Já na visão interacionista o conflito sempre vai existir e estimula a produtividade e o resultado. Dependendo da 7 situação, a visão humana e a visão interacionista são as mais usadas atualmente no ambiente organizacional. TEMA 3 – A GESTÃO DE CONFLITOS COMO MEIO DE PACIFICAÇÃO NOS AMBIENTES CORPORATIVOS: SURGIMENTO E ESTRUTURAÇÃO O conflito é uma presença constante na história da civilização e parte integrante do convívio social. Se analisarmos o surgimento de conflitos nos ambientes corporativos, este se dá na grande maioria das vezes por questões ligadas a opiniões diferentes, personalidades antagônicas, tipos de liderança variáveis, problemas na comunicação, pressões externas, equívocos de processos e mudanças de mercado. Mas, no final, são as pessoas que estão envolvidas nos conflitos e seus gestores que precisam resolvê-los. Essas questões de forma exacerbada podem gerar embates em seus mais variados níveis e, consequentemente, afetando a instituição como um todo. O primeiro passo é entender se há realmente o conflito, os motivos que o ocasionaram, bem como, geri-los por meio de diálogos, usando comunicação assertiva. A assertividade na comunicação e nas ações é o meio termo entre a forma passiva e a agressiva de comunicação e das atitudes. Mesmo que, em alguns momentos, a comunicação passiva ou agressiva pareça necessária, a assertividade costuma ser a forma mais adequada para exercer uma boa e eficiente comunicação. Nesse estilo de comunicação abordado, não é apenas o aspecto verbal que é considerado: o não verbal também é importante para atingir a assertividade portanto, a forma como as coisas são ditas, a postura corporal, a expressão facial, o tom de voz, entre outras características são essenciais para atingir a forma assertiva (Rosenberg, 2006). Na administração de conflitos em ambientes corporativos há pelo menos três opções, sendo elas: ignorar ou fugir do conflito, debater ou discutir almejando o convencimento do outro e por fim, dialogar de forma atenta, curiosa e respeitosa. O mais importante é fazer com que as pessoas cheguem num consenso e identifiquem as causas dos conflitos, buscando sempre estratégias para fazer com que esse momento se torne algo positivo e benéfico. Os conflitos na organização, em certas circunstâncias, podem ser o motor de mudanças que precisam ocorrer para o bem de todos. O que torna um conflito positivo ou negativo são os efeitos que produzem na organização e nas pessoas, 8 sendo que o que faz a diferença nesses casos normalmente é a forma pela qual o conflito é gerenciado. Administrar conflitos ou gerir conflitos consiste, segundo Berg (2012), na escolha e consecução das estratégias mais adequadas para se lidar com cada situação de embate a fim de chegar a um acordo que seja satisfatório para as partes envolvidas, de forma que minimize seus danos. McIntyre (2007, p. 296) refere: Que o conflito existe no local de trabalho não é um fato desconhecido, mas é assunto que não é assumido com facilidade. Muitas vezes as organizações têm vergonha em admitir que o conflito existe no seio das suas instalações; acham que a existência de conflito representa uma falha da sua parte, uma relativa “perda de controle” sobre os seus empregados, sendo indicador de que a organização não está a funcionar bem. Subsiste a ideia de que a existência de conflito numa equipa revela falta de solidariedade, de colaboração e que, portanto, é algo que não deveria existir. Assim, muitas organizações não querem admitir a existência de conflito sendo este visto como uma situação negativa. Conforme Mallory (1997, citado por Beck, 2009, p. 21), “além do diagnóstico bem feito do conflito é necessário que, ao lidar com conflitos, a pessoa tenha habilidades de atuação, as quais nem sempre são desenvolvidas na educação sistemática, em ambiente escolar ou em programas de desenvolvimento profissional”. TEMA 4 – O CONFLITO E SUAS DIMENSÕES DE COMPLEXIDADE, INSTABILIDADE E INTERSUBJETIVIDADE Os conflitos podem ser analisados e estudados a partir de várias perspectivas, contextos e áreas de estudo, tais como: a administração, a psicologia e o direito, todas essas ciências debruçam-se em apontar soluções e formas adequadas de resolução. Berg (2012) defende que existem três tipos de conflitos: pessoais, interpessoais e organizacionais. O conflito pessoal é como a pessoa lida com si mesma, são inquietações, dissonâncias pessoais do indivíduo, e reflete num abismo entre o que se diz e faz, ou contraste entre o que se pensa e como age. Esse tipo de conflito pode levar a determinados estados de estresse e atrito. Ainda de acordo com o autor citado acima, o conflito interpessoal é aquele que ocorre entre indivíduos, quando duas ou mais pessoas encaram uma situação de maneira diferente. Embora boa parte dos conflitos sejam causados por processos organizacionais, a maioria dos atritos e desavenças são, no entanto, 9 de origem interpessoal, o que as torna mais difíceis de se lidar. Podem existir ainda dentro dos conflitos interpessoais, o intragrupal (divergência numa mesma área, setor, etc.), e intergrupal (dissensão entre áreas, setores diferentes). Por fim, o conflito organizacional é um tipo de conflito não fundamentado em sistema de princípios e valores pessoais, e sim do resultado das dinâmicas organizacionais em constante mudança, muitas delas externas à empresa (Berg, 2012). Para Chiavenato (2004), o conflito pode ser individual, que pode ser interno (psicológico ou interindividual) e externo (social). As empresas hoje precisam ter um olhar para esses dois tipos de conflitos. Já em relação aos níveis de gravidade, ele pode ser percebido (latente), experienciado (velado, oculto) e manifesto (aberto) (Chiavenato, 2004). O conflito percebido é quando as partes percebem e compreendem que o conflito existe, pois sentem que seus objetivos são diferentes dos objetivos dos outros e que existem oportunidades de interferência ou bloqueio. É chamado de conflito latente. Já o conflito experienciado é aquele que provoca sentimentos de hostilidade, raiva, medo, descrédito entre uma parte e outra. É chamado de conflito velado, pois não é manifestado externamente com clareza. E o conflito manifestado é quando é expresso por meio de comportamento de interferência ativa ou passiva, por ao menos uma das partes. É chamado de conflito aberto (Chiavenato, 2004). Conhecendo a natureza e o tipo de conflito, o gestor poderá agir com mais assertividade, aumentando suas chances de tomar uma decisão que mantenha o bem-estar entre as pessoas ou grupos, sem conivência e injustiças. “O conflito é inevitável, portanto, é necessário conhecer a respeito de suas possíveis soluções ou resoluções. A solução de um conflito passa quase sempre pelo exame das condições que o provocaram” (Chiavenato, 2004, p. 416). Rigalia (1998) afirma que existem diversos níveis em que podem ser situados os conflitos – político, econômico, étnico, nacional,internacional – e que envolvem indivíduos, grupos, organizações. Entretanto, existem duas formas de analisarmos os conflitos. Uma primeira, dos que veem, nos grupos sociais e organizacionais, a harmonia e o equilíbrio e, por conseguinte, tomam o conflito como uma patologia social, um mal que deve ser reprimido e eliminado. E uma segunda linha de pensamento em que percebe-se que os grupos e os sistemas sociais são profundamente marcados por conflitos porque, em uma sociedade, o 10 equilíbrio e a harmonia não são normais. Portanto, visualizam nos conflitos potenciais criativos, sementes de mudanças, progressos e melhoramentos. Logicamente, presume-se ser necessário administrar situações conflituosas, não no sentido de eliminá-las, conforme tratam os estruturalistas, mas sim de transformá-las, alicerçando-se naquilo que defende o construtivismo (Moreira, 2018). Para Berg (2012), existem várias maneiras de abordar e administrar conflitos, porém uma das mais eficazes é denominada de Estilos de administração de Conflitos, método criado por Kenneth Thomas e Ralph Kilmann, que propõem cinco formas de administrar conflitos, conforme a seguir: 1. Competição: é uma atitude assertiva e não cooperativa, onde prevalece o uso do poder. Ao competir, o indivíduo procura atingir seus próprios interesses em detrimento dos da outra pessoa, é um estilo agressivo em que o indivíduo faz uso do poder para vencer. 2. Acomodação: é uma atitude inassertiva, cooperativa e autossacrificante, o posto da competição, onde ao acomodar-se a pessoa renuncia aos seus próprios interesses para satisfazer os interesses de outra parte. É identificada como um comportamento generoso, altruísta e dócil. 3. Afastamento: é uma atitude inassertiva e não cooperativa, pois ao afastar- se, a pessoa não se empenha em satisfazer os seus interesses e nem tampouco coopera com a outra pessoa. O indivíduo se coloca à margem do conflito, adiando-o ou recuando perante situações de ameaça. 4. Acordo: é uma posição intermediária entre a assertividade e cooperação, onde o indivíduo procura soluções mutuamente aceitáveis, que satisfaçam parcialmente os dois lados. O acordo significa trocar concessões, ou então procurar por uma rápida solução de meio termo. 5. Colaboração: é uma atitude tanto assertiva quanto cooperativa, onde ao colaborar, o indivíduo procura trabalhar com a outra pessoa tendo em vista encontrar uma solução que satisfaça plenamente os interesses das duas partes. Um dos principais desafios em gerenciar conflitos nas organizações é a identificação de suas origens. Essa perspectiva é essencial para podemos gerenciá-los de uma forma efetiva e eficaz, pois sem essa percepção torna-se difícil determinar quais recursos devemos alocar para, por exemplo, o treinamento 11 das pessoas, bem como quanto e quando investir em outras medidas, com vistas à administração e resolução dos conflitos (ABRH-SP, 2016). TEMA 5 – A RESPOSTA AO CONFLITO CORPORATIVO NO BRASIL – VISÃO VOLTADA AO RH De acordo com um estudo realizado pela ABRH-SP (2016), o que torna um conflito positivo ou negativo são os efeitos que produzem na organização e nas pessoas, sendo que o que faz a diferença nesses casos normalmente é a forma pelo qual o conflito é gerenciado. As causas dos conflitos podem ser variadas, desde pressões externas, equívocos de processos e fluxos de informações e mudanças de mercado. Mas, no final, são as pessoas que estão envolvidas nos conflitos e seus gestores que precisam resolvê-los. O fator humano é sempre um elemento do problema e da solução, e assim se inicia o papel de RH na questão. A área de Recursos Humanos assume papel estratégico nesse processo de solucionar conflitos, pois é necessário que se entenda as causas desses conflitos para que seja alcançada a melhor solução e assim evitar a existência de um ambiente organizacional agressivo e com prejuízos ao desenvolvimento do trabalho de forma geral. Ainda de acordo com o estudo realizado pela ABRH-SP (2016), entendemos que, muitas vezes, o RH atua mais na prevenção de conflitos por meio de ações de desenvolvimento como treinamentos de comunicação, negociação e liderança, por ainda não ter certeza do seu papel como mediador de conflitos na organização, nem expertise nas novas ferramentas de resolução de conflitos. Por isso, entendemos a necessidade de tornar o setor mais estratégico e, a partir dos seus subsistemas, intermediar e minimizar as situações de conflitos ou administrá-las junto aos gestores de cada área para que o conflito não se torne algo negativo. No dia a dia, percebemos que alguns motivos que causam conflitos presentes nas empresas e que podem ser evitados são: ambiente de trabalho hostil, desmotivação, resultados insatisfatórios, problemas de relacionamento, não execução de tarefas, baixa produção, falta de foco, baixo desempenho, conflitos entre colaboradores, desvalorização do profissional, entre outros. Esses foram apenas alguns exemplos de situações que podem trazer conflitos nas organizações. Reflita quais situações você já experimentou em relação a conflitos em empresas onde já atuou. O que poderia ter sido feito? 12 Para Berg (2012), as principais causas de conflito organizacional são: mudanças: as mudanças ocorrem principalmente por pressão do mercado, forçando a organização a adaptar-se às novas realidades. Essas alterações são geralmente de caráter tecnológico, estrutural ou comportamental, buscando com isso melhorar a eficácia na busca por resultados, aumentar ou manter lucros, enxugar custos, atualizar a organizações em todos os aspectos, crescer ou manter-se no mercado. Mudanças organizacionais podem trazer demissões, reestruturações e espalhar medo e resistência, por isso representam uma fértil fonte de conflitos. Recursos limitados: a escassez de recursos, devido a enxugamentos promovidos pelas organizações para tornarem-se competitivas, são motivo de muitos atritos, pois podem limitar o desempenho de colaboradores e departamentos. As limitações vão desde dinheiro até as pessoas, o que gera muitas vezes grandes jornadas de trabalho objetivando o alcance de metas em detrimento à interação entre gestores e subordinados, podendo ocasionar cansaço, estresse e descontentamento geral. Choque entre metas e objetivos: impasses entre departamentos ou diretorias são comuns atualmente nas organizações, em função principalmente das metas e objetivos que se chocam, por falta de comunicação e sintonia entre as áreas. A causa desse fator é geralmente o planejamento deficiente, que compartimentado, prioriza muitas vezes ações emergenciais e isoladas de setores distintos, sem dedicar-se à integração de objetivos e metas da organização como um todo. A grande maioria desses conflitos é resolvida no dia a dia pelo diálogo e bom senso, mas às vezes isso não acontece e, neste momento, os resultados podem ser muito custosos para a organização e para o relacionamento entre as pessoas. Perda de tempo produtivo, da motivação e até de clientes ou alianças estratégicas podem ser atribuíveis, por vezes aos conflitos entre pessoas, como também decisões erradas por falta de informações e diálogo, ou a perda de um profissional importante, ou até uma greve desnecessária. São custos ocultos, não contabilizados, mas não por isso menos reais. Um dos grandes impactos dos conflitos internos é que estes afetam o quadro de funcionários e tem resultado negativo para as organizações, podendo ser de forma quantitativa pela área de RH com as faltas, rotatividade, afastamentos e licenças, que certamente representam custos. Cabe ao gestor de pessoas identificar quais ações devem ser realizadas, podendo utilizar os 13 subsistemas para definir as estratégias e desenvolvimento de políticas e procedimentos adequados para gerenciar os conflitos corporativos.Ademais, veremos adiante que, nas últimas décadas, uma das principais tendências mundiais em gestão de conflitos no âmbito das organizações tem sido o uso da chamada Alternative Dispute Resolution (ADR) ou Resolução Alternativa de Disputas (RAD), tendência que tem como foco transformar o uso do poder no sistema judiciário, por meio da utilização de métodos consensuais, tais como a Mediação. Esta tendência foi, e está sendo, muito importante para a redução da sobrecarga do sistema judiciário de muitos países, experiência que tende a ser seguida pelo Brasil (ABRH-SP, 2016). A aplicação dos meios consensuais de solução de disputas, no entanto, tem sido principalmente usada para gerir conflitos interpessoais externos, ou seja, que envolvem pessoas jurídicas e físicas. É relativamente recente a percepção de que o uso de métodos consensuais também desempenha um papel importante na resolução de disputas organizacionais internas, com benefícios excepcionais para as organizações e para as pessoas que nelas trabalham. Neste sentido, com a utilização da mediação, o papel dos Recursos Humanos no gerenciamento de conflitos internos organizacionais se amplia e se especializa. 14 REFERÊNCIAS BERG, E. A. Administração de conflitos: abordagens práticas para o dia a dia. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2012. BURBRIDGE, R. M.; BURBRIDGE, A. Gestão de conflitos: desafios do mundo corporativo. São Paulo: Saraiva, 2012. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos na organização. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. _____. 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