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Transposições de Monteiro Lobato

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Esta obra utiliza uma licença Creative Commons CC BY:
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7968.2016v36n1p135
“THE PENITENT WAG” E “THE FUNNY-MAN WHO 
REPENTED”: DISCUTINDO TRANSPOSIÇÕES DO 
CONTO “O ENGRAÇADO ARREPENDIDO”, DE 
MONTEIRO LOBATO
Rosemary de Paula Leite Carter*
Universidade Paulista
Resumo: Este artigo objetiva discutir aspectos do cruzamento de duas 
transposições para o inglês do conto “O Engraçado Arrependido” (1923) 
de Monteiro Lobato. Essa obra foi publicada como “The Penitent Wag” 
nos Estados Unidos em 1925 tendo outra transposição, em 1947, como 
“The Funny – Man Who Repented”. Procuramos relevar as intervenções, 
manipulações e alterações realizadas nos dois textos de chegada por seus 
tradutores considerando, também, que as transposições aconteceram em 
momentos temporais distintos. As estratégias utilizadas nas duas versões 
apontam que ambos preocuparam-se em lapidar seus textos no intuito de 
ajustá-los às expectativas e vivências culturais do novo leitor, oriundo de 
outro sistema literário.
Palavras- chave: Monteiro Lobato. Transposição. Idioma Inglês.
* Graduação em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Mes-
trado em Letras: Língua Inglesa e Literaturas Inglesa e Norte-Americana pela 
Universidade de São Paulo (2000). Completou o Doutorado em Letras na Univer-
sidade Presbiteriana Mackenzie - SP (2012), com a Tese: Monteiro Lobato Acon-
tece na América. É professora Visitante na Universidade Paulista. São Paulo, 
Brasil. E-mail:roseplc@terra.com.br
136Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
“THE PENITENT WAG” AND “THE FUNNY-
MAN WHO REPENTED”: CROSS-EXAMINING 
THE TRANSPOSITIONS OF THE SHORT STORY 
“O ENGRAÇADO ARREPENDIDO” WRITTEN BY 
MONTEIRO LOBATO
Abstract: This article aims to cross-examine aspects of two transpositions, 
“The Penitent Wag” (1925) and “The Funny-Man Who Repented”(1947), 
of the short story “O Engraçado Arrependido” (1923), written by Mon-
teiro Lobato. We sought to highlight the interventions, manipulations and 
alterations used by both translators when trying to mediate between lan-
guages and culture in order to fulfill the expectations of a new reader from 
another literary system.
Keywords: Monteiro Lobato. Transposition. English Language.
Introdução à discussão
Este artigo é um recorte, com adaptações, da minha tese de dou-
torado em Letras que aborda aspectos do cruzamento de duas trans-
posições, “The Penitent Wag” e “The Funny-Man Who Repen-
ted”, do conto “O engraçado arrependido” de Monteiro Lobato.
O estudo da obra lobatiana encontra-se elaborado a partir das mais di-
versas perspectivas, entretanto pouco se conhece sobre as traduções 
para o idioma inglês da sua icção para adultos. Pretendemos, neste 
artigo, esclarecer alguns aspectos que julgamos interessantes a partir 
de duas versões para o inglês do conto “O Engraçado Arrependido” 
(1923), de Monteiro Lobato. A primeira versão, conhecida até este 
momento, teve como título “The Penitent Wag”, e foi publicada em 
Brazilian Short Stories, na Série Little Blue Books nº 733, pela 
Haldeman-Julius Company em 1925. A segunda análise abordará 
“The Funny-Man Who Repented”, nome atribuído ao conto em A 
World of Great Stories, pela Crown Publishers, em 1947.
O conto “The Penitent Wag”, segundo uma nota de rodapé do 
crítico literário norte-americano Isaac Goldberg¹ foi traduzido para 
137Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
o inglês por uma pessoa amiga de Monteiro Lobato, desconhecen-
do-se seu nome até os dias atuais. Já “The Funny-Man Who Re-
pented” teve como tradutor o Professor do Queens College - EUA, 
Harry Kurz (1889-1973).
Discutiremos, aqui, efeitos de sentido e de procedimentos, 
como: intervenções, explicitações, omissões, acréscimos, e pos-
síveis perdas e ganhos que o conto “O Engraçado Arrependido” 
(1923) veio a sofrer nessas duas transposições para o idioma inglês.
Pode-se já antecipar que a tarefa dos tradutores de Lobato ul-
trapassa a complexidade de qualquer trabalho tradutório visto que 
a obra lobatiana – como vem apontando sua melhor crítica - con-
tém expressões correntes de sua época, provavelmente espelho da 
linguagem corriqueira no universo das fazendas e das pequenas 
cidades interioranas, o que poderá representar entraves até para um 
bom conhecedor de ambos os idiomas.
É este caráter tão profundamente brasileiro que tornará 
interessante discutir se a “imagem de Brasil” projetada por Lobato, 
no conto incluído na nona edição de Urupês (1923), ao menos aqui 
provisoriamente entendido como texto de partida, veio ou não a so-
frer alguma repaginação nos mencionados dois textos de chegada.
Para que possamos melhor acompanhar a análise dessas duas 
transposições foi elaborado um quadro que apresenta os dois textos 
de chegada em inglês, dispostos ao lado do texto de partida. A 
coluna ML indica o texto de partida “O engraçado arrependido” 
presente em Urupês, nona edição, publicado pela Monteiro Lobato 
& Cia. em 1923.
A letra G, no quadro, designa a transposição “The Penitent 
Wag”, com tradutor(a) desconhecido(a) e foi publicada em Brazi-
lian Short Stories, Little Blue Books nº733 em 1925, com “In-
trodução” de Goldberg.
Já a letra K, refere-se à versão “The Funny - Man Who Repen-
ted” tendo Harry Kurz como tradutor, sendo publicada inicialmen-
te em A World of Great Stories, em 1947.
Como por hipótese, G (tradutor desconhecido) pode ter reali-
zado seu trabalho em qualquer momento entre 1918 (ano da publi-
138Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
cação da primeira edição de Urupês) e 1925 (data do lançamento 
de Brazilian Short Stories nos Estados Unidos), levaremos em 
consideração que as ferramentas adotadas nas versões nessa épo-
ca, baseavam-se mais na intuição, na cultura e nos conhecimentos 
do idioma de chegada dos tradutores, muitas vezes eles próprios, 
escritores. Tanto Kurz como a publicação em G não especificam 
qual edição do texto de partida foi fonte para respectivas trans-
posições, portanto cotejaremos a edição de 1923, logo anterior à 
versão em inglês.
Com a publicação dos contos “The Penitent Wag”, “Modern 
Torture” (“Um suplício moderno”) e “The Plantation Buyer” (“O 
comprador de fazendas”), que também fizeram parte em Brazilian 
Short Stories (1925), Monteiro Lobato teve a oportunidade de in-
serir seu nome no mercado livreiro norte-americano. Lobato já era, 
naquela altura, mencionado no cânone nascente de escritores oriun-
dos da América do Sul, em algumas obras e artigos do Professor e 
conceituado crítico literário Isaac Goldberg.
Quanto ao papel da tradução na construção do cânone literário, 
Bassnett (2003) argumenta que à medida que os Estudos de Tradu-
ção avançaram no mundo contemporâneo, também se colocaram 
em evidência questionamentos importantes sobre:
[...] as estratégias utilizadas pelos tradutores e as normas vi-
gentes em determinado momento histórico, o discurso dos 
tradutores, os problemas da medição do impacto das traduções 
e, mais recentemente, os problemas relativos ao estabeleci-
mento de uma ética da tradução (BASSNETT, 2003, p. 5-6).
É a partir de tais pressupostos que analisaremos alguns trechos 
das duas transposições mencionadas.
Análise de trechos das Transposições “The Penitent Wag” e 
The Funny - Man Who Repented
Como já explicitado, G refere-se ao texto (1925) com tradutor (a) 
desconhecido (a), e K é aquele transposto por Harry Kurz (1947).
139Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
ML G K 
Francisco Teixeira de 
Souza Pontes, galho 
bastardo duns Souza 
Pontes de trinta mil 
arrobas afazendados 
no Barreiro, só aos 
trinta e dois anos de 
idade entrou a pensar 
seriamentena vida (p. 
23).
Francisco Teixeira de 
Souza Pontes, bastard 
scion of a Souza 
Pontes family, rich 
planters of Barreiros 
and owners of thirty 
thousand “arrobas”* 
of coffee, at thirty-
two years of age 
began to take life 
seriously (p.27).
Francisco Teixeira 
De Souza Pontes, 
illegitimate scion of 
a Souza Pontes who 
owned some large 
Barreiro plantations, 
began to think 
seriously on life only 
when he reached his 
thirty-second birthday 
(p. 941).
O conto nomeado em ML como “O engraçado arrependido” 
(1923) foi transposto em G, por “The Penitent Wag”(1925) e, em 
K, por “The Funny-Man Who Repented”(1947).
A transposição do título inicial delineia maior profundidade 
semântica em G (“The Penitent Wag”), pois o termo em inglês 
“wag” sugere ao leitor um indivíduo gozador, contador de pia-
das que, eventualmente, poderia expor as pessoas ao ridículo, 
enim, um “troçador”. O conto de Monteiro Lobato primeira-
mente publicado na Revista do Brasil (Abril de 1917), tinha 
por título “A Gargalhada do Colector”, privilegiava uma ima-
gem “escancarada”do riso. Posteriormente, o conto veio a se 
chamar “O engraçado arrependido”, mais próximo do adjetivo 
“funny” ou seja, divertido, forma mais contida, mantida no tí-
tulo dado por K: “The Funny-Man Who Repented”.
Na obra de partida quanto nos textos de chegada, as expressões 
que qualificam a personagem título têm conotação religiosa: em G, 
encontramos o adjetivo – “penitent” – e, em K, o verbo também de 
raízes religiosas –“to repent”- (arrepender-se).
Pode-se dizer que há um duplo sentido na mensagem do enun-
ciado: o gozador estaria arrependido não da premeditação do “cri-
me” contra o major, mas da escolha concretizada em seus anos 
140Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
juvenis, de cuja imagem tão fortemente consolidada na sociedade 
local, não conseguia se desvencilhar. Seria sempre considerado 
um palhaço (“clown”) ou mero trocista (“wag”), que de “tanto 
fazer graça” não era levado a sério. O próprio título do conto 
já conduz o leitor à presença de um paradoxo, pois “indivíduos 
engraçados” tendem a ver os fatos da vida por uma óptica sem 
culpa, sem arrependimentos...
Em “The Funny-Man Who Repented”, o texto inicia-se com le-
tras maiúsculas que, coincidentemente, contempla o nome completo 
da personagem principal, diferentemente dos dois outros textos (ML 
e G), em que observamos o uso de maiúsculas na forma convencio-
nal, aplicadas somente à primeira letra de nomes e sobrenomes.
Ambas as transposições utilizam-se da palavra “scion” para 
caracterizar Francisco Teixeira de Souza Pontes, descendente de 
família abastada, mas descrito em ML como um “galho bastardo”. 
O termo empregado (“galho”) está ligado ao universo da agricul-
tura, da lavoura o que foi seguido nas escolhas em G e K, quando 
optaram por “scion”.
G acrescenta um “s” à localidade mencionada no texto de par-
tida: “Barreiros”, ao invés de “Barreiro” em ML, no que não foi 
seguido por K, que é fiel ao texto de partida.
Para transpor a idéia de “afazendados”. G credita um adjetivo 
à família Souza Pontes ao qualificá-la como “rich”; já K detalha 
“[...] Souza Pontes who owned some large Barreiro plantations”. 
O termo “plantation”, no idioma inglês, está ligado no imaginá-
rio norte-americano às terras do sul dos EUA: no século XIX, as 
fazendas sulistas eram descritas como “large plantations”. As-
sim, a palavra “plantation” para o norte-americano, denota não 
só uma grande herdade como também um estilo de vida senhorial 
e patriarcal.
Em ML, a situação econômica da Família de Souza Pontes é 
indicada pelo segmento “Souza Pontes de trinta mil arrobas afa-
zendados no Barreiro” e vale a pena observar como cada um dos 
tradutores transpôs a informação.
141Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
Um dado que não está contido no texto original em ML é 
acrescentado por G, ao relatar que a família Souza Pontes é de-
tentora de trinta mil arrobas... “de café”. O tradutor insere uma 
nota de rodapé, relatando que uma arroba seria o equivalente a 
32 “pounds”. Sabemos que a medida inglesa equivalente a um 
“Pound” é de aproximadamente 453,59 gramas; assim uma ar-
roba seria o equivalente a 15 quilos, e 30.000 arrobas a 450.000 
quilos, o que fornece ao leitor norte-americano uma ideia da ri-
queza da família Pontes.
Observamos que o Brasil, em 1925, projetava uma imagem 
agrária mundialmente forte calcada em seu carro chefe - as expor-
tações do café - e provavelmente, na época, ser um fazendeiro de 
café no país seria sinônimo de riqueza. 
Tanto a nota de rodapé como a palavra “café” estão ausentes no 
texto de partida, verificando-se, então, um acréscimo em G. Jul-
gamos que essa intervenção possa ter ocorrido para conferir uma 
imagem abastada à família Souza Pontes.
Para Bassnett (2003, p.13) uma tradução não seria um mero “es-
pelho” do texto original, mas este poderia sofrer uma “modificação” 
ou “alteração” em seu percurso, de acordo com as opções de escolha 
deixadas ao tradutor, para satisfazer as expectativas de seus leitores.
Já K não acrescenta notas de rodapé em nenhum trecho de seu 
texto, seguindo estritamente o texto de partida.
G mantém as arrobas (30.000) mencionadas em ML, ao contrá-
rio de K, que as omite, numa manipulação do trecho. Essa infor-
mação que a nosso ver remete à ideia de “grandeza” e “poder” da 
família da personagem, perde-se no texto de K.
Em ML, é forte a crítica do autor ao estilo de vida da perso-
nagem Pontes,que conseguira casa, vestuário e o mais, somente a 
custa de exibir-se com a sua “veia cômica”, nunca tendo de fato se 
preocupado em buscar um trabalho sério.
Abaixo temos a descrição de como Pontes, até então, ganhara 
a vida...
142Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
ML G K
Como fosse de 
natural engraçado, 
vivera até alli à conta 
de veia comica, e 
com ella amanhára 
casa, mesa, vestuario 
e o mais.Sua moeda 
corrente eram 
micagens, pilherias, 
anecdotas de inglez 
e tudo quanto bole 
com os musculos 
faciaes do animal 
que ri,vulgo homem, 
repuxando risos 
ou matracolejando 
gargalhadas (p.23).
A wag by nature, 
up to that time he 
had lived off his 
comic strain and 
thereby reaped board, 
lodging, clothing and 
all else. His currency 
consisted of grimaces, 
jokes, anecdotes 
about Englishmen and 
everything that tickles 
the facial muscles of 
the animal that laughs 
commonly called 
man, provoking 
hilarity or raising 
hearty guffaws 
(p.27).
A natural clown, he 
had used his comic 
gifts until then to 
make his way and 
provide him with 
home, food, clothing, 
and the rest. The 
currency he used in 
payment consisted 
of funny –faces, 
jokes, stories about 
the English, and 
everything calculated 
to produce an effect 
on the facial muscles 
of the laughing animal 
commonly called 
man, by summoning 
him to chortle or 
break into guffaws 
(p.941-42)
Considerando o trecho em ML, os tradutores recorrem a so-
luções diferentes à abertura do parágrafo ao apresentarem a per-
sonagem Pontes. Verificamos uma construção mais alongada em 
ML, “Como fosse de natural engraçado”, em que se constata o 
acréscimo lexical com a conjunção “como”, e o verbo no subjun-
tivo - “ser”. Já em G, temos uma introdução mais concisa em que 
se lê “a wag by nature” com a retomada da expressão que dá título 
ao conto e reforça os sentidos nele embutidos. Em K, o termo “clo-
wn” traz para o texto toda a carga semântica da expressão.
O verbo “amanhar”, presente no texto de partida, está ligado ao 
mundo da lavoura, da labuta na terra, com conotação de esforço físi-
co, representação ausente em G (“to reap”) e em K (“to provide”).
143Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
A expressão“moeda corrente” (ML) está transposta por “cur-
rency” em ambas transposições e, em K, verificamos o acréscimo 
lexical com a expressão “in payment”, em que o tradutor, num alon-
gamento, reforça ao leitor desavisado a maneira como a personagem 
Pontes ganhava sua vida: sua moeda de troca era “fazer graça”. 
Já fazer “micagens” foi transposto em G por “grimaces” (“fa-
zer caretas”) e, em K, por “funny-faces”. ML usa o verbo “bo-
lir” (“mexer”); G utiliza–se do verbo “tickle”, que acrescenta ao 
texto a ideia de “fazer cócegas”, enquanto que em K constatamos 
uma perífrase para aproximar-se do texto de partida (“[...] and 
everything calculated to produce an effect on the facial muscles of 
the laughing animal commonly called man [...]”).
Registramos, abaixo, um trecho onde Monteiro Lobato (ML) 
comenta sobre a Encyclopedia do Riso e da Galhofa de Eduardo 
Laemmert (1848):
ML G K
Sabia de cór a 
Encyclopedia do Riso 
e da Galhofa, de Fuão 
Pechincha a creatura 
mais dissaborida 
que Deus botou no 
mundo; mas era tal 
a arte do Pontes, 
que as semsaborias 
mais relamborias 
ganhavam em sua 
bocca um chiste raro 
e os ouvintes
He knew So-and-So’s 
“Encyclopedia of 
Laughter and Mirth” 
by heart—the most 
mirthless creature 
God ever made, but 
such was Pontes 
ability that he could 
turn the most feeble 
jokes into excellent 
witticisms, to the 
delight of his hearers 
(p. 27).
He knew by heart 
the Enciclopedia 
of Laughter and 
Merriment by Fuao 
Pechincha, the most 
insipid author God 
ever let into his 
world; but Pontes’ 
art was so fine that 
he the most pointless 
tales received, when 
recounted by him, a 
special tang, enough
babavam de puro 
goso (p. 23).
to make his listeners 
froth at the mouth 
with pure joy (p.942). 
144Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
G e K dão diferentes soluções tipográficas à citação a respeito 
da Encyclopedia do Riso e da Galhofa em ML: ambos transpõem o 
título para o inglês. Entretanto K optou pelo “itálico” ao referir-se 
à obra Enciclopedia of Laughter and Merriment e G, pelo uso de 
aspas - “Encyclopedia of Laughter and Mirth”.
Em G, o termo “mirthless” retoma a palavra “mirth” já pre-
sente na transposição do título do livro, acrescentando um traço de 
ironia ausente no texto de partida. Em K, a opção “insipid” prece-
dendo o substantivo “author”, por sua vez, mantém a etimologia 
ligada a “sabor” presente no texto de partida.
G e K transpõem a expressão “de cór”, presente no texto de 
partida, por outra equivalente no idioma de chegada: “by heart”. 
G novamente investe em novos significados ao empregar “So and 
So’s” (caso genitivo) que, com ironia, coloca o autor no anonima-
to: “So and So’s Encyclopedia of Laughter and Mirth”. Ao optar 
pela expressão “So-and-So’s” equivalente ao vernáculo “fulano”, 
“sicrano”, G tanto pode espicaçar a curiosidade do leitor como, 
também, menosprezar a importância do autor do livro. No idioma 
inglês, como também no português, valer-se das expressões sicra-
no ou beltrano quando conhecemos o nome do indivíduo nomeado 
mas o omitimos, de certa forma diminuímos sua importância.
Valem aqui algumas considerações sobre a obra citada em ML. 
Eduardo Laemmert, sob o pseudônimo de Pafúncio Semicúpio 
Pechincha, lança a Encyclopedia do Riso e da Galhofa pela sua 
própria editora em 1848. ML (1923) aponta que a enciclopédia 
fora escrita por “Fuão Pechincha”, numa possível referência à Pa-
fúncio Semicúpio Pechincha (Eduardo Laemmert), o organizador 
da Encyclopedia do Riso e da Galhofa (1848); K é fiel ao texto de 
partida: a relação de “So and So” é com um óbvio pseudônimo, e 
não com um nome próprio...
G ao caracterizar o autor da Enciclopédia do Riso e da Galhofa 
como “the most mirthless creature God ever made”, constrói um 
jogo interessante e irônico com a transposição do título Encyclo-
pedia of Laughter and Mirth, negando a seu autor (“mirthless”) a 
característica que nomeia sua obra.
145Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
Relativamente ao autor ao qual a enciclopédia é atribuída, o 
texto de partida o nomeia como Fuão (fulano, sicrano ou beltrano). 
Em inglês, haveria a opção da transposição para “John Doe”, ou 
“Simpleton”, expressões que indicariam uma pessoa sem nome, 
um “Zé ninguém”. No entanto, G e K optaram por não transpor a 
palavra “Fuão” e tampouco se valeram de uma nota de rodapé, que 
poderia aproximar o termo ao imaginário do leitor norte-america-
no. Não se encontra, também, uma nota dos tradutores para men-
cionar a ligação entre o importante editor alemão Laemmert – já 
estabelecido no Brasil no século XIX -, e a inserção do sobrenome 
“Pechincha” ao texto de chegada, o que faz com que o leitor norte-
-americano não “saboreie” o detalhe sutil presente em ML.
G optou, como observado, por não individualizar a autoria des-
sa obra e K, por não traduzir por completo seu autor (Pechincha), 
que consta no texto de origem de 1923. A palavra “Pechincha”, 
que em inglês significa “bargain”, não está de todo longe do adjeti-
vo “barato”, e não deixa de ser uma alusão divertida e de remeter a 
uma caricatura da personagem. A nosso ver, o fato de G e K opta-
rem pela não transposição do termo conteve o sorriso malicioso...
Sobre o assunto da supressão de termos, recurso engendrado 
por G e K nesse trecho, temos a opinião de Campos (2004) ao 
mencionar que “a omissão de detalhes do texto de partida, quando 
na sua transposição para outro idioma, deve-se a alguns fatores”. 
Campos aponta a existência de dois tipos de tradução como conse-
quência de textos difíceis, ainda que não de todo intraduzíveis, o 
que vem determinar dois tipos de tradução a “integral”, na qual se 
traduzem todos os itens, todas as palavras e expressões; e a “par-
cial”, na qual deixam de serem traduzidas algumas partes do texto 
de origem (CAMPOS, 2004, p.31).
Campos (2004) menciona a tradução dita “oblíqua”:
Quando as duas línguas são de troncos linguísticos diferentes, 
como o português, que é uma língua neo-latina, e o inglês, 
que é anglo-germânica, a tradução costuma distanciar-se 
146Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
bastante da forma do original, tornando-se assim menos 
literal, menos palavra por palavra, e mais “oblíqua”, como 
se diz. Mas também a diferença de culturas, entre as dos 
falantes naturais de uma língua e a dos falantes naturais 
da outra, contribui para a obliquidade de uma tradução 
(CAMPOS, 2004, p.33).
Como um exemplo, em G temos a omissão de “babavam de 
puro gozo” presente em ML, substituído por “the delight of his 
hearers”, em que o termo “delight” eleva a expressão do riso, ao 
omitir detalhes físicos. Tipograficamente “Fuão” possui um til em 
ML, que é omitido em K e em G.
As “semsaborias e relamborias”, em ML, foram transpostas, 
em G, para“the most feeble jokes” e em K, para “the most poin-
tless tales”, numa interpretação em que cada tradutor classifica 
de uma maneira o gênero textual a que se refere ML. “Jokes” 
(em G) significariam “piadas sem graça” e “tales”- contos ou 
histórias, em K.
O substantivo “chiste” presente em ML foi transposto em G 
como “witticism”, que eleva a qualidade do “ser engraçado” ao re-
meter ao termo “wit” (atitude intelectual e abstrata) e em K, como 
a “special tang”, que remete ao mundo olfativo, mantendo assim 
a sensação física do gozo da ironia expressa em K: “his listeners 
froth at the mouth with pure joy”.
ML completa a descrição da personagem Francisco Pontes, ao 
mencionar ao leitor que os “ouvintes babavam de puro goso” ao ou-
vir seus gracejos; a opção foi modalizada em G, pois ao invés de uti-
lizar-se do verbo “babar”, escreve: “to the delights of his hearers”.
A seguir, apontamos as escolhas lexicais dos tradutores para 
verbos onomatopaicos:
147Cad. Trad. (Florianópolis, Online),V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
ML G K
Também grunhia de 
porco, cacarejava 
de gallinha, coaxava 
de untanha, ralhava 
de mulher velha, 
choramingava de 
fedelho, silenciava de 
deputado governista 
ou perorarava de 
patriota em sacada (p. 
24).
He also grunted 
like a pig, cackled 
like a hen, croaked 
like a toad, scolded 
like an old woman, 
whimpered like a 
baby, enjoined silence 
like a Representative 
or speechified like 
a patriot at a street 
meeting (p. 27-28).
 He could also grunt 
like a pig, cackle like 
a hen, croak like a 
toad, scold like an 
old woman, whimper 
like a crybaby, call 
for silence like a 
congressman in 
power, or harangue 
like a patriot on the 
balcony (p. 942).
Em ML, são vários os verbos onomatopaicos: grunhir, caca-
rejar, coaxar; os verbos estão no “Pretérito Imperfeito” assim 
como os outros verbos do parágrafo: ralhava, chorava, silencia-
va e perorava.
G utiliza-se do Simple Past Tense e K opta pelo verbo mo-
dal “could” juntamente com a “base form” dos verbos: “grunt”, 
“cackle”, “croak”, “scold”, “whimper”, “call for silence” (num 
alongamento) e “harangue”. Os verbos no idioma de chegada - 
“grunt”, “cackle”, “croak” - são igualmente onomatopaicos. K, 
ao empregar o modal “could”, explicita que a personagem Pontes 
demonstrava, também, a habilidade de “grunhir” como um porco 
(se assim o desejasse).
Já nos textos em ML e em G, Pontes “grunhia de porco” (como 
na discrição de um hábito, e não de uma habilidade), o que vem 
ao encontro da introdução do parágrafo da língua de partida, que 
explicita que Pontes “era de natural engraçado”, e cuja graça cons-
tituía-se, também, em saber imitar animais.
Em ML, o espaço em que a personagem Pontes perorava era 
semi-doméstico: a sacada de uma casa, dimensão mantida em K 
(“balcony”), mas que em G se transforma em um comício na rua - 
“street meeting”, numa manipulação do trecho.
148Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
A transposição da palavra “fedelho”, em G, é desmarcada 
(“baby”) e já em K, é marcada (“crybaby”) aproximando-se da 
conotação de um bebê “chato e chorão” (“a crybaby”). A pala-
vra “fedelho” remete em português, também, à imagem de uma 
criança pequena, não necessariamente a de um bebê como os dois 
tradutores classificaram.
Abaixo, constatamos um exemplo da manipulação do texto de 
partida, pelo tradutor em G.
ML G K
Que vozeio de bipede 
ou quadrupede 
não copiava elle às 
maravilhas, quando 
tinha pela frente um 
auditorio predisposto? 
(p.24).
What two-legged 
or four-legged hum 
of voices did he not 
mimic to perfection as 
long as he had before 
him an audience 
well equipped with 
those “muscles of 
mirth” invented by 
our talented authoress 
Albertina Bertha? 
(p.28).
When he had before 
him a favorable 
audience, what cry of 
biped or quadruped 
could he not imitate to 
perfection? (p.942).
 
Em G, o termo bípede foi transposto por “two-legged” e qua-
drúpede por “four-legged”; já em K temos “biped” e “quadru-
ped”, o que legitima Pontes como excelente imitador não só de 
tipos humanos (“ralhava de mulher velha...”) do quadro anterior, 
como de animais....
Nessa passagem G, numa manipulação lexical, acrescenta 
outros elementos ao texto de chegada ao adicionar o nome da 
escritora Albertina Bertha. Esse apontamento merece um parên-
tesis, pois a autora é considerada de vanguarda nas Letras bra-
sileiras². Sua obra colocou em destaque assuntos “tabus” como 
o adultério feminino e a sexualidade das mulheres provocando 
controvérsias na época.
149Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
Na nona edição do conto “O engraçado arrependido” em Uru-
pês (1923), no quadro acima, Albertina Bertha não é mencionada. 
Entretanto, na transposição norte-americana de 1925, em G, o 
nome de Albertina Bertha é inserido acompanhado por adjetivações 
como “talented authoress”.
Quando publicado em 1917 com o título “A Gargalhada do Co-
lector”, o texto mencionava o nome da escritora, mas com seu 
“pré-nome” abreviado: “Sra. A. Bertha”, fato que, como observa-
do em Martins (1998, p.75), gera um trocadilho. A inicial “A”, em 
1917, foi substituída por “Albertina”, em G, figurando assim na 
ficção norte-americana a referência à autora brasileira, com todas 
as suas letras. Ao acrescentar o adjetivo “talented” ao trecho, num 
alongamento, G (1925) não apenas qualifica a escritora como tam-
bém universaliza sua avaliação a respeito da autora, ao adicionar o 
adjetivo possessivo “our”, antes da sua adjetivação (“our talented 
authoress”). G, assim, conserva a menção e o cotejo à alegria, o 
que parece ter sido sublinhado na versão do conto de 1917, intitu-
lado “A gargalhada do colector”.
Segundo Arrojo (2007, p.76) cada tradução: “[...] exige do 
tradutor a capacidade de confrontar áreas específicas de duas lín-
guas e duas culturas diferentes, e esse confronto é sempre único, 
já que suas variáveis são imprevisíveis”. Desse modo os dois 
tradutores ao confrontarem o texto de partida, ora optam por es-
colhas semelhantes ora se utilizam de manipulações e interven-
ções, que nada mais são do que frutos do produto de suas leituras 
individuais do texto.
Escolhemos um trecho, a seguir, onde se constata a presença de 
um falso cognato:
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Rosemary de Paula Leite Carter
ML G K
O coronel, depois de 
ouvir-lhe attentamente
The Colonel, after 
listening attentively to
After listening 
attentively to his
as allegações, 
conclusas pelo 
pedido de um lugar 
de capataz, explodiu 
num ataque de 
hilaridade: - O Pontes 
capataz! Ih! Ih! Ih! 
(p. 30).
his reasons, ending up 
with the offer to take 
on the job as overseer 
on the farm, exploded 
in a fit of laughter.
“Pontes overseer! He! 
he! he!” (p. 32-33).
 statements, followed 
by the request to get 
the foreman’s place, 
the Colonel exploded 
in a hilarious burst,
“Pontes the foreman! 
Sh! Sh! Sh! (p. 945). 
Verificamos que nessa passagem ML refere-se à figura do “co-
ronel”, senhor de terras - figura folclórica no imaginário dos bra-
sileiros - e que possui uma conotação secular de poder monetário 
e político. Tanto G como K transpõem o termo de forma errônea, 
ou seja, referem-se ao fazendeiro como um homem do exército: 
“a Colonel” (um falso cognato), o que não condiz com o texto de 
partida e faz com que se perca a conotação nas entrelinhas dessa 
figura folclórica, um verdadeiro “manda-chuva”, tal seu poder no 
Brasil patriarcal e agrário.
A onomatopeia que configura uma risada -“Ih!Ih! Ih!, em ML, 
é transposta por “He!he!he!” em G e, em K, por “Sh”!sh! sh”, 
numa provável aproximação com o novo leitor, de outro idioma e 
cultura, em datas distintas.
Considerações Finais
A primeira transposição publicada em 1925 revela uma apro-
ximação com o inglês britânico, pois a Europa (Inglaterra e Fran-
ça) exercia, nos primeiros acordes do século XX, uma influência 
marcante nas Américas. Já em 1947, após a vitória dos aliados na 
segunda grande guerra, os EUA emergem como uma das “super-
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“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
-potências” e o “American way of life” transforma-se em um dos di-
tames do mundo ocidental, com sua informalidade e coloquialismo.
Desse modo G (1925), ao delinear a personagem Pontes ao lei-
tor, pondera que: “He [...] enjoined silence like a representative or 
speechified like a patriot at a street meeting” (1925, p.27- 8). Já 
em K, temos: “He could [...] call for silence like a congressman 
in power […] (1947, p.942). Observamos que G opta pela palavra 
“representative” enquanto K escolhe “congressman”, termo ligado 
à vivência política do leitor norte-americano. Um antigo provérbio 
inglês seria “That’sold as the hills, Pontes” (1925, p. 37) que foi 
transposto em K de uma forma mais informal e moderna: “That’s 
an old joke, Pontes” (1947, p.947). Em G, observamos “Hold on 
man, you’ll make me gag”! (1925, p.29) e, em K, “Stop, man, 
you’re killing me!” (1947, p.943), em que o auxiliar no “Simple 
Future Tense” (“will”) foi substituído pelo “Present Continuous”; 
e a expressão inglesa “you make me gag” transposta pela expressão 
bem coloquial: “you’re killing me!”
Ainda em relação à época e seu linguajar, temos em G a ex-
pressão “federal collector’s office” que, em K, é apresentada como 
“federal internal revenue office”. A palavra “revenue” sinaliza um 
jargão de cunho financeiro utilizado nas empresas corporativas e 
no governo, principalmente após a segunda grande guerra.
Verificamos que em sua transposição Kurz se utilizou de um 
maior número de palavras em relação aos outros dois textos como, 
também, de um menor número de parágrafos em relação ao texto 
de origem e ao texto em G, o que reforça o caráter discursivo de 
cada um dos tradutores frente ao texto de origem.
Em geral, tanto o (a) tradutor (a) desconhecido (a) em G como 
Kurz, em seus papéis de leitores do texto de partida e produtores 
do texto de chegada, preocuparam-se em detalhar elementos pró-
prios de nossa cultura e vivências para o leitor norte-americano, 
vindo ao encontro das demandas desse novo público. Assim con-
verteram medidas de pesagem, acrescentaram dados como “café” 
ao texto no afã de fornecer a dimensão da riqueza da família de 
Pontes; modificaram, também, a onomatopeia do riso expressa 
152Cad. Trad. (Florianópolis, Online), V. 36, nº 1, p. 135-154, jan-abr/2016
Rosemary de Paula Leite Carter
no texto de origem, para atender as expectativas do leitor norte-
-americano.
De acordo com a argumentação de Arrojo (2007, p.44), essas 
ferramentas vêm ao encontro das opções deixadas ao tradutor, pois:
[...] nossa visão de qualquer texto, poético ou não, será 
fiel não ao texto “original”, mas àquilo que consideramos 
ser o texto original, àquilo que consideramos constituí-lo, 
ou seja, à nossa interpretação do texto de partida, que será, 
como já sugerimos, sempre produto daquilo que somos, 
sentimos e pensamos. 
Por fim verificamos que os dois tradutores procuraram respeitar 
o texto de chegada em suas transposições não deixando, entretanto, 
de marcar seu(s) texto(s) com uma releitura pessoal. Foi constatado 
que em algumas passagens os tradutores alongaram sentenças, acres-
centaram informações, adicionaram nomes próprios, adjetivaram a 
fim de explicitar detalhes que talvez achassem de difícil compreensão 
para o leitor de outro sistema literário e com outra bagagem cultural.
Notas
1. GOLDBERG, Isaac (1887-1938). Importante figura na introdução do nome de 
Monteiro Lobato e de algumas de suas obras nos EUA. Goldberg teve publicado 
alguns artigos seus na Revista do Brasil.
2. STOCKLER, Albertina Bertha de Lafayette (1880 - 1953). Escreveu Exal-
tação (1916), objeto de polêmicas ora de aplauso e entusiasmo - caso do crítico 
Araripe Junior - ou de crítica, como em Lima Barreto e Anna Ribeiro de Goés 
Bittencourt (Liga Católica das Senhoras Baianas).
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“The Penitent Wag” e “The Funny-man Who Repented”:... 
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BASSNETT, Susan. Estudos de Tradução. Fundamentos de uma Disciplina. Trad. 
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Calouste Gulbenkian, 2003.
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GOLDBERG, Isaac. (Org.). Brazilian Literature. (with a foreword by John D. 
M. Ford). New York: Alfred Knopf Inc.: September, 1922. 
______. The Spirit of Brazilian Literature. Little Blue Books nº 646. Girard, 
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MARTINS, Milena Ribeiro. Quem conta um conto... aumenta, diminui, modifica. 
O processo de escrita do conto lobatiano. Dissertação (Mestrado) Instituto de 
Estudos da Linguagem. 1998, 129 f. Campinas, SP: Universidade Estadual de 
Campinas, 1998.
Recebido em: 12/08/2015
Aceito em: 06/10/2015

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