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ABDOME Diagnóstico de doenças do abdome são feitas pela história clínica em 70% dos casos e 90% pelo exame físico. Os exames complementares podem tornar-se desnecessários em grande parte dos atendimentos, sendo apenas utilizados para confirmar o diagnóstico clínico ou excluir diferenciais. TOPOGRAFIA DO ABDOME: 1 – Epigástrio: Fígado, Estômago e piloro, Pâncreas, Omento maior, cólon transverso, Rins e suprarrenais, Aorta, Linfonodos 2 – Mesogástrio: Estômago, Duodeno, Cólon transverso, Úraco, Intestino Delgado, Rim, Aorta, Linfonodos 3 – Hipogástrio: Intestino Delgado, Cólon Sigmoide, Bexiga, Úraco, Útero e anexos. 4 - Hipocôndrio D: Fígado, Vesícula Biliar, Flexura cólica hepática, Rim D e Suprarrenal D 4 - Hipocôndrio E: Estômago, Baço, Cauda do Pâncreas, Flexura cólica esplênica, Rim E e Suprarrenal E 6 - Flancos D: Lobo de Riedel (borda anterior do lobo D do fígado), cólon ascendente, intestino delgado e Rim D. 7 - Flancos E: Intestino Delgado e Rim E. 8 - Fossas ilíacas D: Ceco, Apêndice e Linfonodos 9 - Fossas ilíacas E: Cólon Sigmoide e Linfonodos. DOR ABDOMINAL: ▪ Queixa mais comum que leva o paciente ao medico. A manifestação é subjetiva, diferindo na percepção entre os indivíduos. O limiar dessa percepção depende de vários fatores de ordem psicológica, educacional e cultural. É importante no processo de diagnóstico diferencial de inúmeras doenças. ▪ RECEPTORES DA DOR: Terminações nervosas >> corpo do neurônio-raiz dorsal da medula >> fibra A >> dor aguda e localizada Terminações nervosas >> corpo do neurônio-raiz dorsal da medula >> fibra C >> dor difusa e de longa duração ▪ TIPOS: ❖ DOR PARIETAL OU SOMÁTICA - Nocirreceptores localizam-se na pele, subcutâneo, aponeurose, peritônio parietal, raiz do mesentério. - Originam primariamente do peritônio parietal incluindo parede abdominal e retroperitônio, sendo desencadeadas a partir de qualquer forma de injúria dos tecidos. - Varia desde dor surda (intensa, sem muita definição) a cortante, de forma contínua (não é do tipo cólica), com localização circunscrita e assimétrica. - O paciente procura se manter quieto, refere piora com tosse, espirros, vibrações e movimentos em geral ❖ DOR VISCERAL - Percepção dolorosa através das fibras do SNA -intestino e peritônio visceral - Nocirreceptores localizam-se no parênquima e na parede dos órgãos sólidos, vísceras ocas e mesentério. - Vísceras ocas que apresentam espasmos ou estiramentos. - Caráter agudo, em cólica, com ataques intermitentes de dor que variam em intensidade e com intervalos sem dor, de localização indefinida, próxima à linha média, acompanhada de agitação psicomotora, náuseas, vômitos, palidez e sudorese. - O paciente frequentemente encontra algum alívio se movimentando, mexendo, agachando ou dobrando o tórax sobre o abdome, comprimindo a região, enquanto não tolera bem o repouso. ❖ DOR REFERIDA - Sensação dolorosa superficial localizada à distância da estrutura responsável pela for. - A inervação é proveniente do mesmo segmento neural ou do segmento adjacente. - Convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos superficiais e profundos para neurônios nociceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula. EXAME FÍSICO 1. INSPEÇÃO ✓ Estática: - Posições: ortostática e decúbito dorsal - Tipos de abdome - Abaulamentos, retrações, cicatrizes - Cicatriz umbilical: observar desvios que podem indicar massas - Pele e anexos - Turgescência venosa ✓ Dinâmica: - Hérnias: manobras respiratórias (segura o ar e estufa o abdome, por exemplo) - Respiração: observar se faz respiração abdominal ou mais torácica - Movimentos peristálticos - Pulsações: caso seja possível enxergar as pulsações de aorta e ilíacas, geralmente é em pacientes muitos magros ou indica obstruções, por exemplo. 2. AUSCULTA - Observar por 2 minutos no mínimo - Início no quadrante inferior D até o quadrante inferior E em movimento no sentido horário - Ruídos intestinais normais: peristalse - Borborigmos: peristaltismo de luta, comum em quadros diarreicos, por exemplo. - Vascolejo gástrico: líquidos e gases no estômago - Sopros vasculares - Atritos - Recomenda-se executar a ausculta antes da palpação para evitar aumento involuntário do peristaltismo. 3. PERCUSSÃO - Sinal de Jobert: presença de timpanismo na região da linha hemiclavicular D >> pneumoperitônio - Macicez hepática: Percussão na Linha hemiclavicular D no 5° EIC com macicez. O normal seria som submaciço. - Espaço de Traube: espaço semilunar do 5° ao 10° EIC, tendo como limites gradeado costal, baço, pâncreas, colón, rim e estômago. Normalmente quando percutido apresenta timpanismo. - Pesquisa de ascite: * Sinal de Piparote: sensação de líquido do lado oposto ao que foi empurrado. * Macicez móvel de decúbito: macicez ipsilateral o lado oposto do decúbito lateral e timpânico contralateral 4. PALPAÇÃO - Superficial e, depois, profunda - Específica - Manobras especiais - Órgãos palpáveis só em condições patológicas: bexiga, apêndice, flexura do cólon, delgado, baço. - Sempre começar em local diferente do relato de dor e conversar com o paciente durante a palpação. - Parede abdominal: ✓ Sensibilidade ✓ Pontos dolorosos ✓ Resistência da parede abdominal: defesa muscular (voluntária) e defesa abdominal (involuntária). ✓ Integridade anatômica da parede: diástase do reto abdominal, hérnias. ✓ Pulsações ✓ Crepitações: gás ou líquido no subcutâneo - Massas palpáveis: ✓ Localização ✓ Tamanho ✓ Consistência ✓ Superfície ✓ Sensibilidade ✓ Mobilidade ✓ Pulsação - Palpação do fígado: ✓ Manobra bimanual (Chauffard) ✓ Manobra em garra (Mathieu) ✓ Descrever: tamanho (quantos cm abaixo do rebordo costal), borda, superfície, consistência e sensibilidade Espaço de Traube Macicez móvel de decúbito Sinal de Piparote Bimanual Em garra - Palpação do baço: ✓ Decúbito dorsal na inspiração: manobra bimanual ✓ Posição de Shuster: decúbito lateral D com MIE flexionado ✓ Manobra bimanual ou em garra (Mathieu-Cardarelli) - Vesícula biliar: ✓ Normalmente não palpável ✓ Ponto cístico: ângulo entre Rebordo costal D e a borda externa do reto abdominal. Comprimir na inspiração profunda - Sistema urinário: ✓ Rim D pode ser palpável: mais abaixo que o rim E ✓ Bimanual em decúbito dorsal: método de Guyon ✓ Bimanual em Decúbito lateral E: método de Israel ✓ Ortostatismo com o joelho D apoiado em uma cadeira em 90°: método de Goelet - MANOBRAS ESPECIAIS: o MURPHY: dor no ponto cístico na inspiração >> colecistite o BLUMBERG: descompressão dolorosa >> irritação peritoneal o ROVSING: descompressão dolorosa referida à compressão do QIE e sente no QID >> apendicite o PSOAS: levantar perna Dcontra resistência, em decúbito dorsal, ou estender em decúbito lateral E >> apendicite o OBTURADOR: flexão do joelho e abdução da coxa D >> apendicite o JOBERT: timpanismo na percussão da loja hepática >> ruptura de víscera oca (pneumoperitônio) o GIORDANO: punho percussão lombar positiva >> principalmente pielonefrite e cálculos renais o SINAL SE TORRIS HOMINIS: dor à percussão da loja hepática >> abscesso hepático o MANOBRA DE RECHAÇO: espalmar a mão com compressão firme e provocar impulso rápido com as polpas digitais. Nota-se choque nas polpas digitais. >> visceromegalia em ascite volumosa Posição de Shuster Ponto Cístico Sistema urinário Guyon Goelet o SINAL DE CHANDELIER / SINAL DE MC BURNEY: toque vaginal e retal , respectivamente, em casos de apendicite complicada com abscesso ROVSINGGIORDANO PSOAS OBTURADOR RESUMO DE UM EXAME NORMAL (“check-list do abdome”): ✓ Abdome plano, sem lesões de pele, cicatrizes, circulação colateral ou herniações. ✓ Pulsações arteriais e peristalse não identificáveis à inspeção. ✓ Peristaltismo normal presente nos quatro quadrantes e ausência de sopros. ✓ Ausência de hipertimpanismo ou macicez em flancos. ✓ Ausência de visceromegalias. ✓ Indolor à palpação. ✓ Ausência de massas palpáveis. GD ABDOME CASO CLÍNICO 1: VAA, 27 anos, masculino, dor abdominal em FID há 1 dia. Exames complementares: leucócitos 14000 sem desvio, USG: apêndice cecal de calibre aumentado 9mm e paredes espessadas com borramento de gordura. Diagnóstico: apendicite aguda 1. Qual a característica da dor abdominal? Dor em pontada, inicialmente visceral (mal localizada) e posteriormente parietal (localizada) 2. Pode haver sintomas associados? Quais? Sim, febre baixa (37,5°C a 38°C), podendo não aparecer em idosos. Náuseas, vômitos, perda de apetite. 3. Descreva todo o exame do abdome - Inspeção: avaliar se há cicatriz de apendicectomia (para descartar apendicite), ou outras cicatrizes, abaulamentos, retrações, hérnias, pulsações e respiração. - Ausculta: ruídos hidroaéreos podem estar diminuídos - Percussão: para avaliar os sons timpânico, maciço ou Submaciço - Palpação: no ponto de McBurney (FID = Flanco Inferior Direito) 4. Quais manobras podem ser feitas no exame físico para confirmar esse diagnóstico? - Sinal de Blumberg: descompressão dolorosa em FID - Sinal de Rovsing: compressão dolorosa referida (palpação profunda esquerda e dor percebida em FID pelo deslocamento dos gases e, consequentemente, distensão do ceco). - Sinal do obturador: flexão e rotação interna da coxa D - Sinal do Psoas: levantar a perna D ou, em decúbito lateral E, elevar a perna D - Toque retal e exame ginecológico (no caso de mulheres) para diagnóstico diferenciai: observar sensibilidade, sinais de aumento de temperatura, massas pélvicas, secreção vaginal. CASO CLÍNICO 2: AV, 47 anos, feminino, dor abdominal em hipogástrio há 10 dias, associada a náusea e vômito. Nega febre. Internada pela clínica médica devido a náuseas e vômitos, realizou investigação para dor pélvica inicialmente com avaliação da GO. Após achado de TC, solicitada avaliação da cirurgia geral. Diagnóstico: apendicite complicada com abscesso pélvico. 1. Descreva todo o exame do abdome - Inspeção Estática: paciente pode apresentar-se em posição fetal ou com MMII fletidos, abdome plano sem abaulamentos, cicatriz umbilical sem desvios - Inspeção dinâmica: manobra de Valsalva sem evidências de herniações, respiração abdominal ou torácica, movimentos peristálticos não observados à inspeção e sem pulsações visíveis. - Ausculta: geralmente normal, mas pode estar diminuído ou abolido em caso de diarreia irritativa provocada por compressão intestinal pelo abscesso. - Percussão: maciço em hipogástrio e fossa ilíaca D - Palpação: superficial e profunda defesa no quadrante inferior de intensidade variável. Pode apresentar massa palpável na região pélvica e deve ser observado tamanho, consistência, superfície, sensibilidade, mobilidade e pulsação. ✓ Sinal do obturador: positivo ✓ Sinal de Chandelier (toque vaginal): positivo ✓ Sinal de Blumberg: positivo ✓ Sinal de Rovsing positivo ✓ Sinal de Mc Burney: se a ponta do apêndice estiver orientada para a pelve, esse exame pode revelar a origem da dor. Abscessos pélvicos bombeando os fundos de saco pélvicos são passíveis de detecção tanto no exame ginecológico quanto no toque retal. ✓ Sinal do Psoas: pode ser positivo nos casos de contato direto do apêndice retrocecal sobre o íleo-psoas ou quando já existe um abcesso formado na região. CASO CLÍNICO 3: ABC, 64 anos, feminino, dor intensa em HCD há 1 dia, associada a vômitos. Nega febre. Há 1 ano apresenta dor abdominal em HCD que piora após alimentação gordurosa, associada a vômitos. Exames complementares: laboratório>> BT 0,58, GGT 37, FA 71. USG>> vesícula biliar retraída, repleta de cálculos medindo até 1cm, ausência de dilatação de vias biliares com sinais inflamatórios. Diagnóstico: colecistite. 1. Descreva todo o exame de abdome. Quais as manobras podem ser feitas no exame físico para confirmar esse diagnóstico? - Inspeção Estática: ausência de cicatrizes, abaulamentos ou retrações, abdome plano e simétrico - Inspeção dinâmica: manobra de Valsalva sem evidências de herniações, respiração abdominal ou torácica, movimentos peristálticos não observados à inspeção e sem pulsações visíveis. - Ausculta: ruídos hidroaéreos presentes. Caso houvesse queixa de constipação, os ruídos poderiam estar reduzidos - Percussão: Som Submaciço em HCD. Quando há um processo inflamatório a motilidade intestinal diminui muito, fazendo com que as fezes fiquem retidas por mais tempo e aumentando a absorção de água, o que leva ao desenvolvimento de fecalomas. Se o fecaloma estiver no reto, será som timpânico na região intestinal. Se estiver no sigmoide, terá som Submaciço. Mas a resposta ao processo inflamatório depende de cada paciente, sendo que ele também poderá apresentar quadro de diarreia. - Palpação superficial: pontos dolorosos na região do HCD - Palpação profunda: em caso de obstrução completa, a vesícula biliar pode ficar cheia de cálculos e apresentar- se palpável como uma massa. - Palpação específica: Sinal de Murphy >> ponto cístico doloroso à inspiração profunda (ângulo entre Borda costal D e Borda externa do m. reto abdominal). CASO CLÍNICO 6: PHS, 52 anos, masculino, dor epigástrica há 5 anos, em crises de meses de duração, que melhora com alimentação. É pedreiro e tabagista de 20 cigarros por dia. Nega perda de peso. Há 1 semana evacuou durante 3 dias fezes escuras e de mau cheiro. Refere melhora da dor com a ingestão de leite ou bicarbonato. 1. Qual o tipo de dispepsia mais provável para esse caso? Justifique sua resposta. A dispepsia orgânica com úlcera em que o sintoma predominante é a dor epigástrica. Há 3 dias o paciente apresentou fezes escuras que poderiam caracterizar melena (sangue digerido proveniente da úlcera), além da dor ser aliviada após ingestão de alimentos, comum entre pacientes com úlceras pépticas. Isso ocorre devido à destruição da mucosa gastrointestinal que causa dor quando em contato com conteúdo ácido (HCl) e o alimento reduz a acidez, levando ao alívio do sintoma. Paciente tabagista apresenta maior probabilidade de ter úlceras pépticas, maior chance de perfuração da mucosa e menor cicatrização, pois o cigarro provoca redução da produção de bicarbonato pelo duodeno. 2. Na informação sobre as “fezes escuras”, você faria mais alguma pergunta? - As fezes são diarreicas? - Quantos episódios por dia? - Qual a consistência das fezes? (Se for melena, lembra borra de café) - Há dor ao evacuar? - Observou sangue vivo nas fezes? - Observou muco (catarro) nas fezes? CASO CLÍNICO 7: CPBA, 61 anos, feminino, solteira, branca, natural de cidade de pequeno porte no interior. Procurou atendimento queixando-se de forte dor abdominal acrescida de náuseas e vômitos com início súbito na madrugada. Foi admitida na ala de urgência em hospital de rede particular apresentando quadro de enjoo. Nega alterações do sistema geniturinário, hiporexia, perda de peso ou febre. Nega quadro semelhante anterior, cirurgias, alergias ou hemotransfusões, tabagismo ou etilismo. Paciente com história pregressa de “gastrite nervosa” (SIC) e uso diário de bicarbonato de sódio há 20 anos. Possui comorbidades: HAS, hipotireoidismo, quadro de ansiedade generalizada em tratamento. Diagnóstico: úlcera gástrica perfurada. 1. Qual a característica da dor abdominal? A dor pode ser caracterizada como visceral, poisapresenta sintomas associados como enjoo, palidez, vômito e sudorese. É uma dor difusa, sem localização definida. Geralmente se manifesta na região da linha mediana do abdome, relatada como cólica. O paciente se apresenta geralmente agitado. 2. Descreva todo o exame do abdome. - Inspeção (ectoscopia geral) - Ausculta (seguindo o caminho do intestino grosso), para observar ruídos hidroaéreos diminuídos e vasos abdominais - Percussão dos quadrantes para avaliar padrões de timpanismo e macicez - Palpação superficial de todos os quadrantes para avaliar defesa, sinal de Blumberg e dor à palpação. - Palpação profunda: palpar vísceras (fígado e baço) em rechaço ou em garra em busca de visceromegalias e dor à palpação. Tentar palpar cada um dos rins e pesquisar por dor à percussão no ângulo costovertebral. Palpar pulsações da aorta. Pesquisar por ascite pelo piparote 3. Descreva um achado do exame físico específico para esse caso. No exame físico haverá a percussão de som timpânico acima do fígado onde normalmente se encontra som Submaciço (perfuração de víscera oca) = sinal de Traube positivo.
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