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- Hotel Paris! Disse ao da boléia, atirando-se no fundo da carruagem. O cocheiro endireitou-se sobre a almofada, espichou o pescoço, sacudiu as rédeas e os animais dispararam, assoprando grossamente contra o ar frio da manhã. * * * Coqueiro enfiou pela escadaria do hotel. Estava tudo deserto e silencioso; apenas, no salão principal, viam-se um preto velho e um caixeiro desdormido que, entre bocejos, se dispunha a principiar a limpeza da casa. Dir-se-ia que ali passara um exército de bêbados. Por toda a parte vinho derramado, copos partidos, cacos de garrafa e destroços do vasilhame que servira à mesa; o oleado do chão escorregava com uma crusta gordurosa de restos de comida e vômito pezinhado; um espelho ficara em fanicos e um aquário desabara, fazendo-se pedaços e alagando o pavimento, onde peixinhos dourados e vermelhos jaziam, uns mortos e outros ainda estrebuchando. O preto, de gatinhas, em manga de camisa e calças arregambiadas , procurava desencardir o sobrado com um esfregão de coco, que ia embeber ao canto da sala numa tina cheia d’ água; enquanto o caixeiro, a jogar o corpo, muito esbodegado, erguia o que estava pelo chão e empilhava as cadeiras sobre as mesinhas de mármore, ao comprido das paredes. - Onde é o quarto do Amâncio? perguntou-lhe João Coqueiro. - Amâncio?...repetiu aquele, emperrando no meio da sala para fitar o interlocutor com um olhar morto de sono! - Ah! bocejou. - O tal moço do pagode de ontem?... Coqueiro sacudiu a cabeça perpendicularmente. - É cá, no número dois, mas escusa bater, que ele aí não está. Ficou lá em cima, no onze, com a Janete. E, voltando ao serviço: - Se não é coisa de pressa, o melhor seria procurá-lo mais logo...Deve de estar agora ferrado no sono, que levou na pândega até as quatro e meia!... Coqueiro voltou-lhe as costas e dirigiu-se para o segundo andar. Bateu à porta no n.º 11. Ninguém respondeu. Tornou a bater. Bateu de novo.