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Cultura do Pânico e Sistema Penal

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coloca em grau de visibilidade amplo uma realidade virtual (estatísticas) que não 
corresponde à realidade real (cotidiano das pessoas), de maneira que a sensação de 
segurança é neutralizada, gerando pânico na sociedade, além da dicotomia entre as 
pessoas de bem e as que praticam crimes (cultura do pânico), sendo que aquelas acham 
que estas estão nos espreitando a todo tempo para praticar crimes. Isso acaba criando 
a idéia de Estado armado, com presídios, a fim de coibir esses crimes, criando o 
chamado aprisionamento em massa, evoluindo rapidamente que em 2010 teremos 
aproximadamente meio milhão de pessoas encarceradas no Brasil. Dessa forma, não 
fica somente no corpo da sociedade a cultura do pânico, mas também no corpo do 
Estado. Dados estatísticos afirmam que o Estado tem mais de 97% de seus gastos no 
sistema prisional, sendo o núcleo do investimento do Estado, enquanto que as medidas 
alternativas tem 1% dos recursos do Estado dirigidos ao sistema penal. Esse gasto não é 
somente direcionado, mas também não é questionado. Hoje o Brasil é a 4ª maior 
população prisional do planeta, sendo precedido por China, Rússia e EUA. Outro dado 
preocupante: a idéia de aprisionamento como principal punição do sistema penal, 
sendo que a situação poderia ser resolvido fora do sistema penal (EX: furto de fraldas 
descartáveis por doméstica, dentro da relação de trabalho, pela aplicação do princípio 
da insignificância, dentre outros). O crime possui diversas razões: social, psicológica, etc, 
sendo fenômeno complexo, o que leva à necessidade de uma solução que atenda a essa 
complexidade. Se nós evoluirmos a ponto de ter uma sociedade extremamente 
organizada, ainda assim, teremos comportamentos os quais iremos rejeitar, tendo a 
necessidade de puní-las. É uma espécie de simbiose, a qual precisa de controle, feito 
pela pena. Cada vez mais teremos figuras delitivas, diante da velocidade de mudança do 
comportamento humano (Roxin), mas cada vez mais brandas as sanções, pq não há 
porque insistir numa ideologia draconiana, nos efeitos da criminalidade, como é há 
séculos, ao invés de atacar as causas (sistema social). O fenômeno criminal como 
complexo, enseja uma resposta complexa, com barreiras a evitar a dissocialização 
(família, amigos, etc), as quais chamam a atuação do direito penal, mas não sozinha é 
essa atuação, mas também da sociedade. Nesse contexto, os presos por furto, art. 155, 
ensejariam a aplicação de medida alternativa à pena de prisão, pois é praticado sem 
violência ou grave ameaça. Mas a realidade não é bem assim, as pessoas permanecem 
presas entre 1 mês e um ano, os bens furtados (de baixo valor) foram devolvidos a seus 
donos em sua grande maioria, o que caracteriza reparação integral. Seria aplicação do 
princípio da insignificância a aplicação de pena alternativa, mas não é assim, a criatura 
fica presa durante o processo e ao final do qual ele é condenado à medida alternativa 
(mas ele já ficou preso, mesmo sem sentença condenatória transitada em julgado, é um 
curto-circuito). Estranho, enquanto ele é considerado inocente, ele fica sujeito a uma 
prisão processual e, quando considerado culpado por sentença, ele fica sujeito a uma 
medida alternativa – paradoxo. 
 
Seletividade da justiça penal: sistema penal está ligado ao sistema social, o qual, no Brasil, 
tem muitas desigualdades, cujo infrator vem de família humilde. Não é que o pobre seja 
criminoso, mas afirmamos que o criminoso COLHIDO pelo sistema penal é o que vem das 
camadas mais pobres da população (RICO NÃO VAI PARA A CADEIA), em mais de 86% das 
situações, não tem profissão; 81% das vezes, não têm escolaridade – alfabetizados

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