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julgado TJDFT - novação

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Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Órgão 7ª Turma Cível
Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0707217-60.2023.8.07.0007
APELANTE(S) ZULEICA RODRIGUES DE MAGALHAES
APELADO(S) EZEQUIEL FEU,ANA FERNANDES REIS FEU e MILLENE PIMENTA
PEREIRA
Relator Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO
Acórdão Nº 1782782
EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO CUMULADA COM
COBRANÇA. CONTRATO DE LOCAÇÃO. RESCISÃO ANTECIPADA. TERMO DE
ACORDO. DESCUMPRIMENTO DOS TERMOS POR PARTE DOS LOCATÁRIOS.
 NOVAÇÃO EXECUÇÃO DO CONTRATO. POSSIBILIDADE. INSTITUTO DA DA DÍVIDA.
NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE . SUBSISTÊNCIA DAANIMUS NOVANDI
OBRIGAÇÃO CONTRATUAL DOS FIADORES. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
 1. A novação é a criação de uma obrigação nova, para extinguir uma anterior, podendo mudar o objeto
da prestação (novação objetiva), ou mesmo substituir o credor ou o devedor por terceiros (novação
subjetiva). Nessa senda, para termos a presença de novação devem ser preenchidos certos requisitos
(art. 360 do CC), quais sejam: a) a existência de obrigação anterior; b) a constituição de nova
obrigação; e c) a intenção de inovar uma obrigação ( ).animus novandi
2. É imprescindível que o credor tenha a intenção de novar (expressa ou tácita), na medida em que a
novação resulta na renúncia aos direitos acessórios e garantias que o acompanham, não sendo possível
a sua presunção.
3. O elemento essencial para a caracterização da novação, qual seja, o ânimo de novar, deve ser
inequívoco, o que não restou demonstrado na situação. No caso, os documentos juntados pelas
embargantes não comprovam a existência de um acordo que extinguiu a obrigação anterior, tendo em
 vista que, o Termo de acordo prevê apenas o reconhecimento da existência de dívida e assunção de
obrigação de entrega do imóvel por parte dos locatários, o qual não foi cumprido.
 4. Dessa feita, não se configura o instituto da novação contratual, pois não houve a substituição da
relação jurídica (contrato de locação), com alteração do devedor, do credor, ou do objeto de prestação;
permanecendo todas relacionadas ao contrato de locação anteriormente firmado entre as partes
 (locadora, fiadores e locatários), permanecendo as responsabilidades cíveis dos fiadores/apelados.
 5. , paraRECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO declarar subsistente a
obrigação dos fiadores/apelados quanto aos valores devidos em face do contrato locatício firmado entre
as partes e cobrado em processo de execução.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - Relator, SANDRA REVES - 1º
Vogal e MAURICIO SILVA MIRANDA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador
ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO.
PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 16 de Novembro de 2023
Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO
Presidente e Relator
RELATÓRIO
 Trata-se de Apelação Cível interposta por ZULEICA RODRIGUES DE MAGALHÃES em face da
 sentença proferida pelo Juízo da Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais e Conflitos Arbitrais de
Taguatinga que nos autos dos embargos à execução, julgou parcialmente procedente o pleito autoral
para excluir os fiadores do encargo contratual em face do Termo de Acordo Extrajudicial, bem como
homologá-lo, com base no disposto no inciso I combinado com a alínea "b" do inciso III do artigo 487
do CPC.
Para compreensão do caso, peço vênia ao d. Magistrado para utilizar o relatório da sentença:a quo
“Trata-se de embargos à execução proposto por MILLENE PIMENTA PEREIRA, EZEQUIEL FEU e
ANA FERNANDES REIS FEU em desfavor de ZULEICA RODRIGUES DE MAGALHÃES, sob o
argumento básico que, em 31 de março de 2022, a embargada teria firmado acordo de rescisão
antecipada do contrato de locação com o locador Evaldo Araújo Baia, sem a anuência ou
conhecimento dos fiadores, fato que ensejaria a novação da obrigação e exclusão da responsabilidade
da cláusula originária de fiança (ID 155881842).
Após o atendimento de decisão que determinou a emenda da inicial, constou dos autos o recebimento
dos embargos à execução sem efeito suspensivo e oportunizou-se à parte embargada manifestar-se nos
autos (ID 159748413).
A embargada, ZULEICA RODRIGUES DE MAGALHÃES, em sede de manifestação, sustenta que no
acordo firmado não houve ânimo de novar e que a transação teria servido de reforço ao contrato de
locação original. A embargante pontua que a autocomposição previu a perda de eficácia na hipótese
de inadimplemento e que, portanto, estaria vigente a garantia fidejussória (ID 162590017).
Após a fase de réplica (ID 165693884) e nada tendo sido pugnado a nível de especificação de provas,
determinou-se a conclusão do feito para sentença (ID 165839227).
É O RELATÓRIO”.
 julgando parcialmente Sobreveio a sentença procedentes os pedidos iniciais (ID n.º 50637622 - Pág. 1).
 Inconformada a embargada apela (ID n.º 50637626 - Pág.1/12), alega que a rescisão antecipada do
contrato de locação por meio de termo de acordo, decorre do contrato originário, razão pela qual não se
vislumbra a incompatibilidade entre as obrigações, o que afasta também a possibilidade de
caracterização da novação tácita. Afirma que, não restou caracterizado, no caso em exame, a novação
da dívida, máxime porque a lei exige demonstração cabal do ânimo das partes em novar as obrigações,
o que também não se verificou no termo de acordo.
 Por estes motivos, requer que seja conhecido e provido o presente recurso de apelação para reformar a
sentença recorrida a fim de julgar improcedentes os pedidos dos apelados/fiadores, já que a execução
fundada em contrato de locação é válida ante a inexistência de novação expressa ou tácita,
permanecendo assim, a obrigação dos apelados/fiadores pelo débito executado.
Preparo devidamente recolhido (ID n.º 50637627 e 50637628).
Contrarrazões apresentadas (ID n.º ), requerendo o desprovimento do recurso.50637631 - Pág. 1/4
É o relatório.
VOTOS
O Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - Relator
 Trata-se de Apelação Cível interposta por ZULEICA RODRIGUES DE MAGALHÃES em face da
 sentença proferida pelo Juízo da Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais e Conflitos Arbitrais de
Taguatinga que nos autos dos embargos à execução, julgou parcialmente procedente o pleito autoral
para excluir os fiadores do encargo contratual em face do Termo de Acordo Extrajudicial, bem como
homologá-lo, com base no disposto no inciso I combinado com a alínea "b" do inciso III do artigo 487
do CPC.
 Inconformada a embargada apela (ID n.º 50637626 - Pág.1/12), alega que a rescisão antecipada do
contrato de locação por meio de termo de acordo, decorre do contrato originário, razão pela qual não
se vislumbra a incompatibilidade entre as obrigações, o que afasta também a possibilidade de
caracterização da novação tácita. Afirma que, não restou caracterizado, no caso em exame, a novação
da dívida, máxime porque a lei exige demonstração cabal do ânimo das partes em novar as
obrigações, o que também não se verificou no termo de acordo.
 Por estes motivos, requer que seja conhecido e provido o presente recurso de apelação para reformar a
sentença recorrida a fim de julgar improcedentes os pedidos dos apelados/fiadores.
A contenda versa sobre se houve a caracterização de novação em decorrência da rescisão antecipada
do contrato de locação por meio de termo de acordo, e a permanência da obrigação dos
apelados/fiadores pelo débito executado.
Vejamos.
É cediço que a novação é a criação de uma obrigação nova, para extinguir uma anterior, podendo
mudar o objeto da prestação (novação objetiva), ou mesmo substituir o credor ou o devedor por
novação terceiros ( subjetiva).
 Nessa senda, para termos a presença de novação devem ser preenchidos certos requisitos (art. 360 do
 constituição CC), quais sejam: a) a existênciade obrigação anterior; b) a de nova obrigação; e c) a
intenção de inovar uma obrigação ( ).animus novandi
 Veja bem, é imprescindível que o credor tenha a intenção de novar, na medida em que a novação 
resulta na renúncia aos direitos acessórios e garantias que o acompanham, conforme disposto no art.
364 Código Civildo , in verbis:
 “A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em
contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os
 novação”bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na .
 De fato, quando a novação não é manifestada expressamente, deve resultar de modo claro e
praticamente inequívoco das circunstâncias que envolvem a estipulação. Na dúvida, entende-se que
 novaçãonão houve , pois esta não se presume.
Nesse sentido, confira-se os precedentes deste e. Tribunal, o qual estabelece que a configuração da
novação se dará somente mediante a presença do (expresso ou tácito), animus novandi in verbis:
 “(...) 3.1. Na novação, o credor e o devedor ajustam nova obrigação com intenção deliberada
(ânimo de novar) de substituir a obrigação anterior.Embora o credor não tenha recebido a primeira
prestação que lhe era devida, aceita que ela seja considerada extinta, porque só poderá exigir o
adimplemento da obrigação que a substitui. 3.2. Trata-se, portanto, de um modo extintivo, mas não
satisfativo, da obrigação. Sua natureza é sempre contratual, pois não pode ser interposta pela lei. 
 Para que a novação se caracterize, são necessários os requisitos seguintes: a) a existência de uma
 primeira obrigação; b) uma nova obrigação; c) intenção de novar. Artigo 360 do Código Civil. 3.3.
 Ainda que a novação possa ser firmada de forma tácita, ela mesmo assim tem de ser incontroversa,
logo não pode ser presumida por uma das partes contratantes. (...)
 3.6. Jurisprudência: (...) 1. Para que ocorra a novação são imprescindíveis os requisitos do art. 360
do Código Civil, quais sejam, existência de uma primeira obrigação, uma nova obrigação e a
intenção de novar (animus novandi). 2. A intenção de novar pode ser expressa ou tácita, porém
 novação incontroversa, logo não pode a ser presumida por uma das partes contratantes.(...)
(07124266520228070000, Relator: Fátima Rafael, 3ª Turma Cível, DJE: 6/3/2023.) 3.7. Inobstante o
 esforço dos apelantes em demonstrar que a substituição do acordo acordo anterior pelo novo
 novaçãoconfigurar-se-ia em , o fato é que não restou evidenciado nos autos que as partes intentaram
em novar e sim que houve uma tentativa de repactuação da dívida no sentido de possibilitar o
recebimento do débito”. (grifou-se)
(Acórdão 1725565, 07361133920208070001, Relator: JOÃO EGMONT, 2ª Turma Cível, data de
julgamento: 12/7/2023, publicado no DJE: 19/7/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
“(...) 3. Com efeito, a higidez do contrato, a falta de alteração do seu objeto ou do débito
 consolidado, atrelados à ausência da vontade de novar, afastam a hipótese de novação, de modo
 que deve ser mantida a obrigação solidária dos fiadores assumida no pacto locatício.
 4. RECURSO E APELAÇÃO ADESIVA CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS”. (grifou-se)
(Acórdão 1725472, 07292121520178070016, Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, 3ª Turma
Cível, data de julgamento: 12/7/2023, publicado no DJE: 18/7/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
Assim, não se verifica, no presente caso, o elemento essencial para a caracterização da novação, qual
seja, o ânimo de novar, que deve ser inequívoco.
No caso vertente, os documentos juntados pelas embargantes não comprovam a existência de um
 acordo que extinguiu a obrigação anterior, tendo em vista que, o Termo de acordo prevê apenas o
reconhecimento da existência de dívida e assunção de obrigação de entrega do imóvel por parte dos
locatários, o qual não foi cumprido.
Compulsando os autos, constata-se que a locadora/embargada se obrigou a pagar aos locatários o
montante de R$ 2.470,59 (dois mil, quatrocentos e setenta reais e cinquenta e nove centavos) a título
de ressarcimento pela rescisão antecipada, sendo que os locatários descumpriram a obrigação de
entregar o imóvel livre e desembaraçado até o dia 30 de abril de 2022.
Diante do descumprimento da avença entre as partes, a embargada/locadora ajuizou ação de despejo e
execução no valor de R$ 11.464,28 (onze mil, quatrocentos e sessenta e quatro reais e vinte e oiti
centavos), por encargos locatícios, já que o acordo previa expressamente que a ausência de entrega do
imóvel pelos locatários tornaria sem efeito o acordo firmado.
Nota-se que a execução proposta deu-se com fundamento na cláusula 3ª, alínea “b”, do Termo de
acordo firmando, o qual previu expressamente a possibilidade de executar o contrato de locação: “b)
Poderá ainda, executar o contrato de locação nos termos firmados entre as partes, em face do
ACORDANTE descumpridor, e ainda, em face dos fiadores que não anuíram ao presente
 sendo que o contrato originário dispõe que os, ”,instrumento em consonância ao contrato de locação
fiadores são solidariamente responsáveis pelas obrigações que o locatário assumir através de acordo
extrajudicial.
Destaca-se ainda que o processo originário se refere a execução dos débitos devidos até a efetiva
desocupação do imóvel, não havendo qualquer vício ou nulidade que enseja a desconstituição do título
executivo extrajudicial – contrato de locação – que possa ensejar a inexigibilidade em relação aos
fiadores/apelados.
Dessa feita, não se configura o instituto da novação contratual, pois não houve a substituição da
relação jurídica (contrato de locação), com alteração do devedor, do credor, ou do objeto de prestação;
permanecendo todas relacionadas ao contrato de locação anteriormente firmado entre as partes
(locadora, fiadores e locatários).
Em relação a permanência da obrigação dos fiadores ante ao entabulamento de Termo de Acordo em
contrato de locação, este Tribunal já decidiu:
 “(...) 1. O acordo homologado judicialmente, por si só, no caso não exclui a responsabilidade
decorrente de fiança locatícia, porquanto apenas demonstrada a convenção acerca de confissão e
 novação(...)”parcelamento do débito, o que não se confunde com .
(Acórdão 1374968, 07362871920188070001, Relator: FÁBIO EDUARDO MARQUES, 7ª Turma
Cível, data de julgamento: 22/9/2021, publicado no DJE: 27/10/2021. Pág.: Sem Página
 Cadastrada.)
Dessa forma, diante dos elementos probatórios colacionados nos autos, verifica-se que não ocorreu a
 alegada novação da dívida locatícia, razão pela qual devem permanecer as responsabilidades cíveis
 dos fiadores/apelados em face do Termo de Acordo Extrajudicial firmado entre as partes, decorrente
do contrato de locação originário.
Diante do exposto, do recurso e no mérito , paraCONHEÇO DOU PARCIAL PROVIMENTO
reformar a sentença e declarar subsistente a obrigação dos fiadores/apelados quanto aos valores
devidos em face do contrato locatício firmado entre as partes e cobrado em processo de execução.
É como voto.
A Senhora Desembargadora SANDRA REVES - 1º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO
CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME.

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