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UNID IV EXTINÇÃO CONTRATOS

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DA EXTINÇÃO DO CONTRATO
1. Modo normal de extinção dos contratos
2. Modos anormais de extinção dos contratos. Extinção dos contratos sem cumprimento
 2.1. Causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato
 2.1.1. Nulidade absoluta e relativa
 2.1.2. Cláusula resolutiva
 2.1.3. Direito de arrependimento
2.2. Causas supervenientes à formação do contrato
 2.2.1. Resolução
 2.2.1.1. Resolução por inexecução voluntária
 2.2.1.2. Exceção do contrato não comprido
 2.2.1.3. Resolução por inexecução involuntária
 2.2.1.4. Resolução por onerosidade excessiva
 2.2.2. Resilição
 2.2.2.1. Distrato
 2.2.2.2. Resilição unilateral: denúncia, revogação e renúncia
2.3. Morte de um dos contratantes
2.4. Rescisão
 
1. Modo normal de extinção dos contratos
 Os contratos, assim como os negócios jurídicos em geral, têm um ciclo vital: nascem do acordo de vontades, produzem os efeitos que lhes são próprios e extinguem-se. 
Não há, portanto, contrato eterno. 
O vínculo contratual é, por natureza, passageiro e deve desaparecer naturalmente, tão logo o devedor cumpra a prestação prometida ao credor (Gonçalves, 2016, p.178). 
~ Assim, extinção do contrato é todo e qualquer ato pelo qual o contrato deixa de exitir.
 Assim o meio normal de extinção dos contratos se dar: a) cumprimento do contrato; ou b) verificação de fatores como vencimento do termo, implemento da condição resolutiva ou frustração da condição suspensiva.
 A execução, seja ela instantânea (cumpridos imediatamente após a celebração), diferida (são os que devem ser cumpridos também em só ato, mas em um momento futuro) ou continuada (são os que se cumprem por atos reiterados) é o meio normal de extinção do contrato, haja vista ser o modo como o devedor cumpre a prestação prometida ao credor (Gonçalves, 2016, p.178). 
 Destarte, há determinadas situações que ensejam a extinção do contrato sem a devida finalidade alcançada, ou seja, extingue-se o contrato sem que haja o cumprimento da obrigação assumida. Há várias causas que acarretam essa extinção anormal dos contratos, dentre elas, as causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato, bem como as causas supervenientes a sua formação. 
 
2. Modos anormais de extinção do contrato. Extinção do contrato sem cumprimento
 Conforme afirmação supracitada, o contrato pode extinguir-se sem ter havido o cumprimento da obrigação assumida. As causas que promovem esse tipo de extinção contratual podem ser anteriores ao contrato ou mesmo supervenientes a este. A seguir será discutido com mais detalhes cada uma dessas causas.
2.1. Causas anteriores ao contrato
 Luciano e Luciano (2016, p.303) advertem que os fatos anteriores e concomitantes à formação dos contratos, estão no plano da existência e da validade dos contratos e não precisamente como formas de extinção dos contratos.
 As causas anteriores ou contemporâneas a formação do contrato são: 
 a) defeitos decorrentes do não cumprimento de seus requisitos subjetivos (capacidade das partes e livre consentimento), objetivos (objeto lícito, possível, determinado ou determinável) e formais (forma prescrita em lei), que afetam a sua validade, acarretando a nulidade absoluta ou relativa (anulabilidade);
 b) implemento de cláusula resolutiva expressa ou tácita.
 c) Direito de arrependimento
 Para uma melhor compreensão será analisado de forma individualizada cada uma dessas causas.
2.1.1. Nulidade absoluta e relativa
 Antes de explicar propriamente a temática é necessário esclarecer a diferença entre nulidade (nulidade absoluta) e anulabilidade (nulidade relativa). Na nulidade absoluta (arts.166 e 167 do CC) quando da formação do negócio jurídico viola-se norma de ordem pública – norma cogente que tutela interesses fundamentais da sociedade – atingindo, portanto, interesse geral. Decorre também quando o negócio jurídico é realizado diretamente por um absolutamente incapaz, quando o objeto é ilícito, impossível, indeterminado e quando não se segue a forma prescrita em lei, bem como nos casos em que há simulação. Na nulidade absoluta os atos não produzem quaisquer efeitos desde a sua formação (ex tunc), além do que são imprescritíveis, podendo ser arguindos por quaisquer dos interessados ou pelo Ministério Público e decretados de ofício pelo juiz, como assim dispõe o parágrafo único do art.168 do CC (Guimarães, 2007, p.84). Já o negócio jurídico anulável (art.171, incs. I e II do CC) é aquele formado por oposição ao interesse particular, de modo que produzem normalmente seus efeitos até a prolação da sentença anulatória (ex nunc). O contrato também será anulado se for realizado diretamente por um relativamente incapaz, sem a devida assistência, e ainda com contratos eivados de vícios de consentimento. O negócio jurídico anulável só pode ser arguido pelas pessoas diretamente interessadas, as quais estão sujeitas a prazos decadenciais, arts.178-179 do CC (Guimarães, 2007, 84-85). 
 Após essas explicações pode-se afirmar que: 
 a) as causas que promovem a nulidade absoluta dos contratos decorrem da ausência de elemento essencial do ato, com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato produza seus efeitos desde a sua formação (ex tunc). Como o vício é originário, a ineficácia é no sentido amplo, a qual permite ser requerida em juízo a qualquer tempo, por qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício pelo juiz ou por promoção do Ministério Público (Gonçalves, 2016, p.180);
 b) as causas que promovem a nulidade relativa ou anulabilidade dos contratos, advém da imperfeição da vontade de uma ou ambas as partes, seja pela relatividade incapaz destas ou porque contém algum vício do consentimento, como erro, coação, dolo, etc. Como pode ser sanada e até mesmo não argüida dentro do prazo decadencial, não extinguirá o contrato enquanto não se mover a ação que a decrete. A sentença produz efeitos ex nunc. O legitimado para pleitear a anulação é somente o contraente (Gonçalves, 2016, p.180).
2.1.2. Cláusula resolutiva ou pacto comissório
 Cláusula resolutiva é a faculdade que dispõe o contratante adimplente, de pedir a resolução do contrato pelo não cumprimento da obrigação assumida do contratante devedor. Esta faculdade pode resultar de estipulação expressa – cláusula resolutiva expressa – ou de presunção legal – cláusula resolutiva tácita – presente, por exemplo, no contrato bilateral, ou seja, aqueles que geram obrigações para ambos contratantes. O efeito primário da resolução é o retorno das partes ao status quo ante, ou seja, havendo desfazimento do negócio jurídico ao devedor deve ser restituída parcela do preço pago e devolvido o domínio a posse da coisa vendida ao vendedor. (Gonçalves, 2016, p.181).
 O art.475 do CC expressa que, a parte lesada pelo inadimplemento do contrato, tem duas alternativas: a) de resolver o contrato ou b) exigir-lhe o cumprimento mediante a execução específica (arts.536 e 538 caput, do NCPC). Qualquer das hipóteses, o credor adimplente, fará jus à indenização por perdas e danos.
 O art.474 do CC determina que, a cláusula resolutiva expressa deve se operar de pleno direito, ou seja, havendo inadimplemento de uma das partes em um contrato que contenha cláusula resolutiva expressa, a resolução dar-se-á automaticamente independentemente de pronunciamento judicial (Enunciado n.436 da V Jornada de Direito Civil). Estabelece ainda o artigo que, a cláusula resolutiva tácita depende de interpelação judicial – é o meio hábil de provar o não-cumprimento de uma obrigação, pela qual credor (interpelante) cientifica o devedor (interpelado) de que exige o adimplemento da obrigação, sob pena de constituição em mora ou outros efeitos legais – sendo que nesse caso a sentença terá efeito desconstitutivo, ou seja, desconstituirá a relação jurídica. Vide julgado:
Ementa: DIREITO CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE TRANSPORTE ESCOLAR DOS ALUNOSDA REDE PÚBLICA DE ENSINO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS CONTRATUAIS. CLÁUSULA RESOLUTIVA EXPRESSA. PRÉVIA NOTIFICAÇÃO PARA RESCISÃO DO AJUSTE. DESNECESSIDADE. ART. 474 , DO CÓDIGO CIVIL . SENTENÇA MANTIDA. 1. Trata-se de ação na qual o autor pede indenização por danos morais, materiais e também lucros cessantes, sob o fundamento de que não foi notificado acerca do término do contrato de prestação de serviço de transporte escolar dos alunos da rede pública de ensino. 2. Existindo cláusula resolutiva expressa no ajuste, e comprovado o descumprimento, pelo autor, de uma das hipóteses nela prevista, a rescisão opera-se de pleno direito, sem necessidade de prévia notificação formal, nos termos do art. 474 , do Código Civil . 3. Doutrina. 3.1. Cristiano Chaves, �A cláusula resolutiva expressa concerne a uma previsão contratual de imediata resolução em caso de inadimplemento da parte. (...) A vantagem da inserção de tal cláusula reside na prévia estipulação do alcance da resolução quanto às prestações pretéritas, como no desfazimento automático do contrato diante do inadimplemento, sem que necessite o credor interpelar o devedor (...).� (in Teoria Geral e Contratos em Espécie, Editora Juspodivm, p. 527). 4. Precedente: �Havendo cláusula resolutiva expressa no contrato firmado entre a Terracap e particular, não cumprida a obrigação nela prevista, resolve-se, de pleno direito o contrato, independentemente de qualquer notificação ao particular (...)�. (20050110639413APC, Relator: Sérgio Rocha, 2ª Turma Cível, DJE: 22/10/2010). 5. Recurso improvido. (TJDF, Ap. nº20140910089709, 2ª Turma Cível, Rel.Des. JOÃO EGMONT, Publicado no DJE : 21/01/2016 . Pág.: 406).
 
 2.1.3. Direito de arrependimento
 Desde que expressamente previsto no contrato, o arrependimento autoriza qualquer das partes a resolver o ajuste. É o caso típico das arras. Esta pode ser: a) arras penitenciais, art.420 do CC: quando uma das partes mediante declaração unilateral de vontade manifesta arrependimento, sujeitando-se à perda do sinal (aquele que forneceu o sinal e se arrependeu), ou à sua devolução em dobro (aquele que recebeu o sinal e se arrependeu), sem, no entanto, pagar indenização suplementar (Súmula 412 do STF); b) as arras confirmatórias, art.419 do CC: o desistente perderá as arras, mas terá que pagar uma indenização a outra parte se esta provar eventuais perdas e danos.
 O direito de arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado, ou se não foi estipulado prazo, antes da execução do contrato, pois, o cumprimento do contrato implica em renúncia tácita do direito de arrepender-se. O CDC prevê no seu art.49, a hipótese especial de direito de arrependimento para os casos de contratação fora do estabelecimento comercial (internet). Nesse caso o prazo para o consumidor será de 7 dias (Gonçalves, 2016, p.184-185).
 
2.2. Causas supervenientes à formação do contrato
 Neste caso o contrato se extingue por causas posteriores à sua criação.
2.2.1. Resolução
 É um remédio concedido mediante ação judicial, que permite a parte adimplente a romper o vínculo contratual em virtude do inadimplemento voluntário (culposo) ou não (involuntário), da outra parte contratante (Gonçalves, 2016, p.185). 
2.2.1.1. Resolução por inexecução voluntária
 O contratante adimplente, mediante ação judicial, requer a extinção do contrato pelo inadimplemento da outra parte que, por motivo culposo não o cumpriu, ou seja, a resolução por inexecução voluntária decorre de comportamento culposo de um dos contraentes com prejuízo ao outro (Gonçalves, 2016, p.186).
 Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições recíprocas, sujeitando ainda o inadimplente ao pagamento de perdas e danos ou da cláusula penal (também denominada de multa contratual, ou seja, consiste em uma obrigação acessória cujo objetivo consiste na prefixação de perdas e danos diante do inadimplemento absoluto ou relativo, art.409 do CC). No entanto, se o contrato for de trato sucessivo – que se cumpre por meio de reiteradas prestações, como no caso do contrato de locação – a resolução não produz efeito com relação ao pretérito, não se restituindo as prestações cumpridas, o que nesse caso a sentença da resolução terá efeito ex nunc (Gonçalves, 2016, p.186).
 Vale ressaltar que, a resolução do contrato só será possível, quando tiver por fundamento falta relevante de uma das partes contratantes, de modo que, será inviável a resolução mediante argumentos de insignificante atraso de pagamento. Logo, se uma das partes manifestou sempre tolerância por certa margem de atraso ou de pagamento de valor inexato, pouco inferior ao convencionado, não poderá alegar inadimplemento contratual e sua consequente resolução.
 Destarte, antes de abordar a resolução do contrato por inexecução involuntária, se faz mister discorrer sobre dois temas complementares à resolução por inexecução voluntária: a Teoria do adimplemento substancial e a Exceção do Contrato não comprido.
2.2.1.2. Teoria do adimplemento substancial
 Como regra geral, se houver descumprimento da obrigação contratual, “a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos”, conforme dispõe o artigo 475 do Código Civil (CC). Entretanto, a doutrina e a jurisprudência têm admitido o reconhecimento do adimplemento substancial, com o fim de preservar o vínculo contratual.
 A Teoria do Adimplemento Substancial sustenta que não se deve considerar resolvida a obrigação contratual, quando a atividade do devedor, apesar de não ter sido perfeita ou atingido plenamente o fim proposto, aproxima-se consideravelmente da prestação que foi estabelecida no contrato. Dessa forma, o credor fica impedido de resolver o contrato, caso haja cumprimento de parte essencial da obrigação assumida pelo devedor; porém, não perde o direito de obter o restante do crédito, podendo ajuizar ação de cobrança para tanto.
 Percebe-se, portanto, que essa teoria se caracteriza quando, em um contrato bilateral – onde há obrigações recíprocas entres os contratantes – o devedor cumprir quase que total a sua prestação, de modo que a diferença é mínima do que deve e o que efetivamente deveria cumprir, não represente o inadimplemento contratual, desconstituindo o credor do direito de pedir a resolução do contrato por inadimplemento contratual, haja vista que o seu proveito nessa relação contratual foi quase completamente satisfeito. 
 Nesse contexto, se ínfimo, insignificante ou irrisório o ‘descumprimento’ diante do todo obrigacional não há de se decretar a resolução do contrato, de maneira mecânica e autômata, sobretudo se isso contrariar os ideais de Justiça. O adimplemento substancial atua, portanto, como instrumento de equidade diante da situação fático-jurídica subjacente, permitindo soluções razoáveis e sensatas, conforme as peculiaridades do caso. 
 A ‘Teoria do Adimplemento Substancial’ tem sido aplicada, com frequência, em contratos de seguro. Suponha-se um contrato desta natureza, firmado pelo prazo de um ano, em que se convencionou o pagamento do prêmio em 12 (doze) parcelas mensais. Assim, se o sinistro ocorreu no 11º mês, ocasião em que o segurado se encontrava em atraso quanto à prestação correspondente, não é razoável a negativa da indenização pela seguradora, mesmo que se invoque o art. 763, do CC/02, que contém a seguinte redação: "Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação." Em casos tais, antes de se recorrer à interpretação literal dos dispositivos legais ou contratuais, é preciso aquilatar o contrato em toda sua extensão; o comportamento das partes no decurso do vínculo; os efetivos e reais prejuízos, de parte a parte; a natureza e a finalidade do negócio; o número das prestações pagas etc. Somente desta forma, poder-se-á avaliarse, de fato, houve descumprimento real, e não meramente formal, do contrato. 
 Essa teoria está sendo amplamente aceita nos tribunais, dentre estes os superiores, como se pode observar dos seguintes julgados:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO - NÃO APLICAÇÃO - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.
Aplica-se a Teoria do Adimplemento Substancial nos casos em que o devedor já tiver arcado com grande parte do débito, assim, é de se concluir pela inexistência de interesse de agir a amparar a propositura de Ação de Busca e Apreensão, cujo objetivo é a retomada do bem, devendo o credor buscar outra forma de adimplemento de seu crédito, especialmente porque a retomada do bem consubstancia-se em medida desproporcional. Contudo, nos casos em que o devedor não tiver quitado a maioria da dívida, o prosseguimento da Ação de Busca e Apreensão se torna a medida mais prudente, objetivando assim assegurar o direito do credor. (TJMG, Ap. nº10312150018983001, 18ª Câmara Cívil, Rel.Des. Arnaldo Maciel, DJE 22/02/2016).
 Alienação Fiduciária. Busca e apreensão. Deferimento liminar. Adimplemento substancial. Não viola a lei a decisão que indefere o pedido liminar de busca e apreensão considerando o pequeno valor da dívida em relação ao valor do bem e o fato de que este é essencial à atividade da devedora. Recurso não conhecido. (REsp 469.577/SC, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 25/03/2003, DJ 05/05/2003 p. 310).
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
Em um contrato, se uma parte descumpre a sua obrigação, a parte credora terá, em regra, duas opções:
1) poderá exigir o cumprimento da prestação que não foi adimplida; ou
2) pedir a resolução (“desfazimento”) do contrato.
Além disso, tanto em um caso como no outro, ela poderá também pedir o pagamento de eventuais perdas e danos que comprove ter sofrido. Isso está previsto no art. 475 do Código Civil:
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
A teoria do adimplemento substancial tem por objetivo mitigar o que foi explicado acima. Segundo essa teoria, se a parte devedora cumpriu quase tudo que estava previsto no contrato (ex: eram 48 prestações, e ela pagou 46), então, neste caso, a parte credora não terá direito de pedir a resolução do contrato porque, como faltou muito pouco, o desfazimento do pacto seria uma medida exagerada, desproporcional, injusta e violaria a boa-fé objetiva.
Desse modo, havendo adimplemento substancial (adimplemento de grande parte do contrato), o credor teria apenas uma opção: exigir do devedor o cumprimento da prestação (das prestações) que ficou (ficaram) inadimplida(s) e pleitear eventual indenização pelos prejuízos que sofreu.
Veja o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva:
Adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão próximo ao resultado final, que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez que a primeira pretensão viria a ferir o princípio da boa-fé (objetiva)" (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e Português in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português. São Paulo: RT, 1980, p. 56).
A origem desta teoria remonta o Direito Inglês do séc. XVIII, tendo lá recebido o nome de "substancial performance".
A teoria do adimplemento substancial é acolhida pelo STJ?
SIM. Existem julgados adotando expressamente a teoria. Vale ressaltar, no entanto, que seu uso não pode ser banalizado a ponto de inverter a lógica jurídica de extinção das obrigações. O “normal” que as partes esperam legitimamente é que os contratos sejam cumpridos de forma integral e regular.
Diante disso, a fim de que haja critérios, o STJ afirma que são necessários três requisitos para a aplicação da teoria:
a) a existência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes;
b) o pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando o total do negócio;
c) deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.
STJ. 4ª Turma. REsp 1581505/SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 18/08/2016.
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética:
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Conceito
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565).
Regramento
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de alienação fiduciária.
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.
Resumindo:
Alienação fiduciária de bens MÓVEIS fungíveis e infungíveis quando o credor fiduciário for instituição financeira Alienação Decreto-Lei nº 911/69 Código Civil de 2002 (arts. 1.361 a 1.368-A) Lei nº 9.514/97
INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL À ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA REGIDA PELO DL 911/69
A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69.
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária.
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio.
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio.
Antônio financiou o veículo em 48 prestações. Após pagar 44 parcelas, ele ficou desempregado e não conseguiu arcar com as 4 últimas prestações.
O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)?
Havendo mora por parte do mutuário, deverá ser adotado o procedimento previsto no DL 911/69:
Notificação do devedor
O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de busca e apreensão. Confira:
Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.
Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos?
NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada por intermédio do Cartório de RTD.
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do própriodestinatário (§ 2º do art. 2º do DL 911/69).
Para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do devedor, ainda que não pessoalmente.
Ajuizamento da ação de busca e apreensão
Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior.
Concessão da liminar
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69).
Possibilidade de pagamento integral da dívida
No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). Veja o dispositivo legal:
Art. 3º (...)
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)
O que se entende por “integralidade da dívida pendente”?
Todo o débito.
Segundo decidiu o STJ, a Lei nº 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente as prestações vencidas.
Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar.
Em nosso exemplo, Antônio terá que pagar, em 5 dias, as 4 parcelas restantes.
O devedor purga a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão vencidas e mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento. Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei n.° 10.931/2004 passou a não mais permitir a purgação da mora.
Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em todos os processos semelhantes:
Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info 540).
Feita esta breve revisão, voltemos ao nosso exemplo:
O Banco enviou notificação extrajudicial para Antônio informando que ele se encontrava em débito (Súmula 72-STJ), mas este não fez a purgação da mora.
Diante disso, a instituição financeira ingressou com ação de busca e apreensão requerendo a entrega do bem, conforme autoriza o art. 3º do DL 911/69:
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário.
O juiz concedeu a liminar e o automóvel saiu da posse de Antônio e foi entregue ao Banco.
Resposta do devedor
O devedor fiduciante apresentou, então, resposta (uma espécie de contestação) prevista no § 3º do art. 3º do DL 911/69.
Nesta defesa apresentada pelo devedor, ele pediu a aplicação da teoria do adimplemento substancial, afirmando que cumpriu quase todas as prestações (cumpriu 91,66% do contrato). Logo, a determinação de tomar o veículo, resolvendo o contrato, seria uma medida desproporcional. Argumentou que o banco deveria ter ingressado com ação cobrando as quatro últimas parcelas que não foram pagas.
A tese do devedor foi aceita pelo STJ? É possível a aplicação da teoria do adimplemento substancial para a alienação fiduciária regida pelo DL 911/69?
NÃO.
Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info 599).
Conforme vimos acima, devidamente comprovada a mora ou o inadimplemento, o DL 911/69 autoriza que o credor fiduciário possa se valer da ação de busca e apreensão, sendo irrelevante examinar quantas parcelas já foram pagas ou estão em aberto.
Além disso, o art. 3º, § 2º do DL 911/69 prevê que o bem somente poderá ser restituído ao devedor se ele pagar, no prazo de 5 dias, a integralidade da dívida pendente.
Dessa forma, a lei foi muito clara ao exigir a quitação integral do débito como condição imprescindível para que o bem alienado fiduciariamente seja remancipado. Ou seja, nos termos da lei, para que o bem possa ser restituído ao devedor livre de ônus, é necessário que ele quite integralmente a dívida pendente.
Assim, mostra-se incongruente impedir a utilização da ação de busca e apreensão pelo simples fato de faltarem poucas prestações a serem pagas, considerando que a lei de regência do instituto expressamente exigiu o pagamento integral da dívida pendente.
Incentivo ao inadimplemento das últimas parcelas
Vale mencionar, ainda, que a aplicação da teoria do adimplemento substancial para obstar a utilização da ação de busca e apreensão representaria um incentivo ao inadimplemento das últimas parcelas contratuais, considerando que o devedor saberia que não perderia o bem e que o credor teria que se contentar em buscar o crédito faltante por outras vias judiciais menos eficazes.
Juros mais elevados
Se fosse aplicada a teoria do adimplemento substancial para os contratos de alienação fiduciária, haveria um enfraquecimento da garantia prevista neste instituto fazendo com que as instituições financeiras começassem a praticar juros mais elevados a fim de compensar esses riscos. Isso seria prejudicial para a economia e para os consumidores em geral.
Dessa forma, a propriedade fiduciária, concebida pelo legislador justamente para conferir segurança jurídica às concessões de crédito, essencial ao desenvolvimento da economia nacional, ficaria comprometida pela aplicação deturpada da teoria do adimplemento substancial.
 
2.2.1.3. Exceção do contrato não comprido – exceptio non adimpleti contractus
 Tal instituto encontra-se tipificado no art.476 do CC. Consiste no fato de que, nos contratos bilaterais – por gerarem obrigações recíprocas para ambas as partes – de prestações simultâneas, qualquer um dos contratantes pode recusar o cumprimento da sua prestação, sob o argumento de que o demandante não cumpriu a que lhe competia. Tem assim, por fundamento, o princípio da equidade.
 Logo aquele que não satisfez a própria obrigação, não pode exigir o implemento da do outro; mas, se mesmo assim o exigir, poderá a outra parte utilizará em sua defesa a referida exceção (Gonçalves, 2016, p.188). Nenhuma das partes, sem cumprir o que lhe cabe, pode exigir da do outro que o faça. Ex: um contrato de prestação de serviço odontológico, com divisão do pagamento em várias parcelas e previsão de execução dos serviços em igual prazo. Nãopoderá haver cobrança da última parcela sem que haja o cumprimento do último serviço ajustado. 
 Vide julgado:
Ementa: CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. MONITÓRIA. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA USO DE SOFTWARE, MANUTENÇÃO E LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTOS. COBRANÇA PARCELAS PACTUADAS. DESCABIMENTO. CLÁUSULA CONDICIONAL AO LAUDO DE ENTREGA. DESCUMPRIMENTO. PACTA SUNT SERVANDA. AUSÊNCIA DE PROVA DA EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. INADIMPLEMENTO. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO. CABIMENTO. ÔNUS DA PROVA DO AUTOR. 1. Havendo disposição contratual que prevê a condição de apresentação do "Laudo de Entrega" para dar início à cobrança dos serviços e manutenção pactuados no instrumento contratual, bem como o prazo de vigência do contrato, não pode a autora exigir a contraprestação da requerida, sem cumprir com a sua obrigação, devendo ser aplicada a regra da exceção de contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus) estabelecida no art. 476 do Código Civil que: "Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro." 2. Não existindo vício de consentimento ao celebrar o contrato de prestação de serviços com a Apelada, há que se prevalecer como expressão dos princípios da força obrigatória (pacta sunt servanda), da autonomia que revestem o contrato, conforme estabelecido pelo legislador, onde "os pactos devem ser cumpridos" 3. Não se desincumbindo a autora o ônus da prova em demonstrar o fato constitutivo de seu direito, por força da aplicação do art. 333 , I do CPC , não há como acolher a sua pretensão. 4. Recurso conhecido e improvido. (TJDF, Ap. 20140111623184 0039552-12.2014.8.07.0001)
OBS (1): a parte só poderá arguir em sua defesa, sob o fundamento da exceção do contrato não cumprido, se o contrato for bilateral de prestações simultâneas, pois, caso as prestações sejam sucessivas, não poderá valer-se de tal instituto jurídico para justificar o seu não cumprimento ou mora contratual.
OBS (2): a exceção de contrato não cumprido somente poderá ser exercida quando a legislação ou o contrato não dispuser sobre a quem cabe cumprir primeiro a obrigação. Ex:  Na compra e venda, só posso exigir a coisa depois de pagar o preço, art.491 do CC.
 Como decorrência do princípio da autonomia da vontade, admite-se a validade de cláusula contratual que restrinja o direito das partes se utilizarem do aludido art.476 do CC. Trata-se da CLÁUSULA SOLVE ET REPETE (pague e reclame depois), pela qual obriga-se o contratante a cumprir a sua obrigação, mesmo diante do não cumprimento da do outro, resignando-se a, posteriormente voltar-se contra este, para pedir o cumprimento ou as perdas e danos. Importa em renúncia ao direito de opor a exceção do contrato não cumprido (Gonçalves, 2016, p.190).
 A exceção do contrato não cumprido é contemplada também na hipótese descrita do art.477 do CC. Segundo este artigo, poderá a parte que se sentir insegura do adimplemento contratual da outra, requerer o cumprimento antecipado das prestações ou, ao menos, a sua garantia por caução ou fiança, sob pena de rescisão do vínculo contratual. Trata-se de uma hipótese de se opor o instituto da exceptio antes de haver o efetivo descumprimento da obrigação por um dos contratantes, tendo como base a possibilidade real e séria de ocorrer o inadimplemento. Ex: uma construtora “X” assina um contrato de empreita por obra certa com o proprietário de um terreno para construir-lhe vinte apartamentos. Posteriormente a assinatura do contrato, um dos sócios da construtora fica sabendo que o proprietário do terreno encontra-se insolvente. Temendo não receber pela obra construída, a construtora “X”, requer o cumprimento antecipado das prestações ou, uma garantia por caução ou fiança, sob pena de rescindir o vínculo contratual.
Enunciado n.438 da V Jornada de Direito Civil: art. 477. A exceção de inseguridade, prevista no art. 477, também pode ser oposta à parte cuja conduta põe manifestamente em risco a execução do programa contratual.
 
2.2.1.4. Resolução por inexecução involuntária
 Até agora se falou em resolução do contrato por inexecução da parte que agiu culposamente para o inadimplemento – resolução por inexecução voluntária. Porém, poderá a resolução do contrato ocorrer de fato não imputável as partes, como o que sucede nas hipóteses de caso fortuito e força maior, que impossibilitam o cumprimento da obrigação. Tem-se nesse caso a resolução do contrato por inexecução involuntária.
 Para se alegar inexecução involuntária do contrato é necessário alguns requisitos:
 1) A inexecução contratual deve ter caráter objetivo, ou seja, não pode a parte concorrer para o inadimplemento da prestação; tem que advir de caso fortuito ou força maior; 
 2) A impossibilidade de se cumprir a prestação deve ser total, pois se a inexecução for parcial e de pequena proporção, o credor pode ter o interesse em que, mesmo assim, o contrato seja cumprido;
 3) A impossibilidade de se cumprir a prestação deve ser definitiva, pois, a impossibilidade temporária acarreta apenas a suspensão do contrato. Somente se justifica a resolução neste caso, se a impossibilidade persistir por tanto tempo que o cumprimento da obrigação deixa de interessar o credor.
 O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente se obrigou a ressarcir os prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior (art.393 do CC), ou estiver em mora. Cabe interpelação judicial para proferir sentença declaratória e obrigar o contratante a restituir o que recebeu. O efeito da resolução nesse caso é ex tunc. Ex: João comprou de Paulo, um grande fazendeiro, um touro reprodutor no valor de R$ 5.000,00, pagando de imediato a aquisição. O produto seria entregue em dois dias úteis na sua fazenda. Ocorre que, após o primeiro dia da compra, o touro que ainda estava no pasto da fazenda de Paulo foi atingido por um raio e morreu imediatamente. Nesse caso Paulo terá que restituir o valor de R$5.000,00 pago por João.
 2.2.1.5. Resolução por onerosidade excessiva, arts.478-480 do CC
 Embora o princípio pacta sunt servanda ou da intangibilidade do contrato – força obrigatória do contrato entre as partes – seja fundamental para a segurança dos negócios jurídicos, estes podem sofrer as consequências de modificações posteriores e até mesmo serem resolvidos em virtude da quebra insuportável da equivalência das prestações. 
 Este pensamento já era previsto pelos antigos, porém, foi na Idade Média, que se desenvolveu a cláusula rebus sic stantibus (estando assim as coisas), que consiste basicamente em presumir, nos contratos cumutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência de uma cláusula implícita de que, a convenção não permanece em vigor se as coisas não permanecerem como eram no momento da celebração (Gagliano e Pamplona Filho, 2016, p.313). 
 Destarte, no final da Idade Média com os movimentos liberais, houve o fortalecimento do pacta sunt servanda e a cláusula rebus sic stantibus ficou esquecida. Porém, o capitalismo avassalador e os desequilíbrios contratuais instalados do século XX fizeram ressurgir este instituto mas em uma nova roupagem, denominada de Teoria da Imprevisão. 
 A Teoria da Imprevisão é o substrato teórico que permite rediscutir os preceitos contidos na relação contratual, em face da ocorrência de acontecimentos novos, imprevisíveis pelas partes e a elas não imputáveis (Gagliano e Pamplona Filho, 2016, p.312).
 A Teoria da Imprevisão, é a base para a resolução do contrato por onerosidade excessiva, assim disposta nos arts.478 a 480 do CC. Poderá então o devedor – excessivamente onerado – a pleitear a resolução do contrato ou mesmo pedir a sua revisão, buscando adaptá-lo aos fatos supervenientes. 
 O art. 478 do CC estabelece os requisitos para a resolução do contrato por onerosidade excessiva. 
 a) vigência de um contratocumutativo de execução diferida ou de trato sucessivo: exige-se que o contrato seja cumutativo (as partes antevêem as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem), de execução diferida (a prestação é futura e não imediata, de modo que, o devedor só cabe cumprir com a obrigação por ocasião do seu vencimento) ou de trato sucessivo (prestação por prazo indeterminado);
 b) ocorrência de fato extraordinário e imprevisível: a condição externa é a superveniência de fato extraordinário e imprevisível, que tenha operado modificação na situação econômica do contrato e instaurado com isso o desequilíbrio contratual entre as partes, de modo que, se o mesmo fosse cumprido redundaria num enriquecimento anormal em benefício do credor, determinando um empobrecimento da mesma natureza, em relação ao devedor.
 c) considerável alteração da situação de fato existente no momento da execução, em confronto com a que existia por ocasião da celebração: diz respeito ao desequilíbrio contratual instaurado em virtude da situação extraordinária e imprevista.
 d) nexo causal entre o evento superveniente e a consequente excessiva onerosidade.
OBS: o contratante que estiver em mora, quando ocorrer a situação extraordinária e imprevista, não poderá invocar em sua defesa a onerosidade excessiva, pois, estando naquela situação, responde pelos riscos supervenientes, ainda que decorrentes de caso fortuito e força maior.
 O art.479 do CC permite a parte contrária (réu), ao considerar que lhe é mais vantajoso manter o contrato, solicitar a modificação equitativa das suas condições, de modo que, ao se restabelecer o equilíbrio econômico seja possível adimplir com o mesmo. 
 Vale ressaltar que a MP 881/2019 estabeleceu no parágrafo único do art.421 do CC, que haverá um intervenção mínima do Estado nas relações privadas e que a revisão contratual será excepcional, o que favorecerá para injustiças sociais, haja vista que o contrato mesmo mantendo uma desigualdade considerável entre as partes, o Estado não poderá intervir para restaurar o equilíbrio contratual, o que afronta consideravelmente a função social, um dos pilares da Constituição Federal.
 A MP 881/2019 acrescentou ainda os arts.480 –A e 480 – B, que seguem in verbis: 
Art. 480 – A. Nas relações interempresariais, é licito às partes contratantes estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação de requisitos de revisão ou de resolução do pacto contratual.
Art. 480 – B. Nas relações interempresariais, deve-se presumir a simetria dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles definida.
 Segundo Marcondes (on line)[footnoteRef:1] esse dispositivo parece permitir que as partes, que compõe uma relação empresarial, possam prevê o que seria onerosidade excessiva no contexto específico do contrato celebrado entre elas, ou mesmo quais seriam precisamente os “acontecimentos extraordinários e imprevisíveis”, impedindo assim que o Judiciário determinasse os motivos de uma possível onerosidade, de modo a prevalecer a autonomia das partes. [1: MARCONDES, João Claudio Monteiro. A revisão do contrato pelas próprias partes conforme “MP da Liberdade Econômica. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI305186,51045-A+revisao+do+contrato+pelas+proprias+partes+conforme+MP+da+Liberdade. Acesso em: 15/09/2019.] 
 Nas palavras de LUPI (2019, p342)[footnoteRef:2] : [2: LUPI André Lipp Pinto Basto. Os contratos comerciais na Declaração dos Direitos de Liberdade Econômica (MP 881/19). Revista Brasileira de Políticas Públicas. Brasília, v.9, n.1, p. 333-350, 2019.] 
Ao remeter à vontade dos contratantes a constituição de requisitos de revisão ou resolução do pacto, a MP parece querer indicar que o modo adequado para promover a revisão ou resolução do pacto decorre da própria vontade das partes, que devem se dedicar a pensar nesses temas quando pactuam, sob pena de, em não o fazendo, não haver tutela da revisão.
 Dessa forma, se as partes nada avençam as possibilidades de uma possível revisão, esta seria feita a critério do juiz, conforme a sua subjetividade.
 2.2.2. Resilição
 A palavra resilir advém do latim resilire, que significa etimologicamente voltar atrás. A resilição não deriva do inadimplemento contratual, mas unicamente da manifestação de vontade de uma ou ambas as partes de extinguir o contrato anteriormente celebrado. Assim, forma-se um novo contrato para extinguir o anterior.
 A resilição pode ser bilateral ou unilateral. A resilição bilateral, denominada de distrato, ocorre quando ambos os contratantes manifestam a vontade de extinguir o contrato anteriormente celebrado. Já a resilição unilateral, se constitui somente quando, um dos contratantes, manifesta a vontade de romper o vínculo contratual. Este tipo de resilição somente é admitida nos contratos por prazo indeterminado, tais como os contratos de trato sucessivo, bem como àqueles em que a lei determinar ou o quando o próprio contrato dispuser, pois a regra, é a impossibilidade de um dos contratantes romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade (Gonçalves, 2016, p.204).
 
2.2.2.1. Distrato
 É a manifestação de vontade de ambas as partes de extinguirem a relação jurídica anteriormente celebrada. Pode-se então afirmar que, o distrato é um contrato bilateral que visa extinguir um contrato anteriormente celebrado. Qualquer contrato pode cessar pelo distrato. No entanto, é necessário, que os efeitos do contrato não tenham sido exauridos, ou seja, que a finalidade do contrato não tenha sido alcançada, pois, o cumprimento das prestações assumidas pelas partes é a via normal de extinção do contrato. Contrato extinto não precisa ser dissolvido.
 Gonçalves (2016, p.205) ressalta que, o art.472 não deve ser interpretado de forma literal, de modo que, o distrato deve obedecer a mesma forma do contrato a ser desfeito quando a lei exigir a formalidade para a constituição deste, mas, quando a lei não exigir formalidade específica para a formação do contrato, o distrato poderá ser realizado de forma livre, não necessariamente da mesma forma que foi constituído o contrato deverá ser desfeito. Assim, a compra e venda de imóvel de valor superior à taxa legal que exige escritura pública, só pode ser desfeita de comum acordo por meio de escritura pública. Mas no contrato de locação, que tem a forma livre, o distrato pode ser realizado de forma verbal, mesmo tendo sido construído mediante contrato escrito.
Ementa: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. DISTRATO. DEVOLUÇÃO ÍNFIMA DO VALOR ADIMPLIDO. ABUSIVIDADE. RETENÇÃO DE PERCENTUAL SOBRE O VALOR PAGO. SÚMULA 7 DO STJ. 1. "O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato" (art. 472 do Código Civil ), o que significa que a resilição bilateral nada mais é que um novo contrato, cujo teor é, simultaneamente, igual e oposto ao do contrato primitivo. Assim, o fato de que o distrato pressupõe um contrato anterior não lhe desfigura a natureza contratual, cuja característica principal é a convergência de vontades. Por isso, não parece razoável a contraposição no sentido de que somente disposições contratuais são passíveis de anulação em virtude de sua abusividade, uma vez que "'onde existe a mesma razão fundamental, prevalece a mesma regra de Direito". 2. A lei consumerista coíbe a cláusula de decaimento que determine a retenção do valor integral ou substancial das prestações pagas por consubstanciar vantagem exagerada do incorporador. 3. Não obstante, é justo e razoável admitir-se a retenção, pelo vendedor, de parte das prestações pagas como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador. 4. No caso, o Tribunal a quo concluiu, de forma escorreita, que o distrato deve render ao promitente compradoro direito à percepção das parcelas pagas. Outrossim, examinando o contexto fático-probatório dos autos, entendeu que a retenção de 15% sobre o valor devido seria suficiente para indenizar a construtora pelos prejuízos oriundos da resilição contratual. Incidência da Súmula 7 do STJ. 5. Recurso especial não provido. (Resp.1132943/PE. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. 4ª Turma. Dje 27/09/2013). 
 É oportuno informar que a Lei Nº 13.786, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2018, disciplinou o distrato, bem como o inadimplemento contratual de financiamento de imóveis. 
 Ressalta Luciano e Luciano (2016, p.320) que, não obstante o Código Civil exigir que o distrato tenha a mesma forma nos casos em que se exija a formalidade para o contrato que será desfeito, é prudente que haja um paralelismo de formas, ou seja, ainda que o contrato seja de forma livre, mas que tenha sido feito de forma escrita, o indicado é que o distrato seja feito de forma escrita também. 
2.2.2.2. Resilição unilateral: denúncia, revogação e renúncia
 Conforme se afirmou anteriormente, a resilição unilateral se constitui somente quando um dos contratantes manifesta a vontade de romper o vínculo contratual notificando a outra parte da sua decisão. Este tipo de extinção contratual é característica dos contratos por prazo indeterminado, de obrigações duradouras, uma vez que ninguém é obrigado a ficar vinculado a outro perpetuamente. Dessa forma, pode haver resilição unilateral, nos contratos de trato sucessivo (ex: contrato de locação, art.6º, 46, §2º e 57 da Lei n.8.245/91) bem como nos contratos em que a lei determinar (ex: mandato, comodato e depósito) ou mesmo quando no próprio contrato dispuser.
OBS (1): mandato, art.653 do CC: é um tipo contratual no qual alguém recebe de outrem poderes para praticar atos ou administrar interesses em seu nome.
OBS (2): comodato, art.579 do CC: é um contrato benéfico, pelo qual uma pessoa entrega outrem alguma coisa infungível (coisa que não pode substituir-se por outra da mesma espécie, qualidade ou quantidade), para que use gratuitamente e, posteriormente a restitua. 
OBS: (3): depósito, art.627 do CC: é o contrato em que uma das partes, nomeada depositário, recebe da outra, denominada depositante, uma coisa móvel, para guardá-la, com a obrigação de restituí-la na ocasião ajustada ou quando lhe for reclamada; tem por finalidade guardar coisa alheia.
 A resilição unilateral pode ser por: denúncia, revogação e renúncia.
 a) denúncia: é quando um dos contratantes, de um contrato de trato sucessivo, notifica o outro da sua vontade de extinguir o vínculo contratual. Nesse caso o contrato só vai ser considerado extinto quando houver o ressarcimento da outra parte;
 b) Revogação: a resilição ocorre quando o mandante, por ato unilateral, extingue o contrato de mandato (é o contrato pelo qual alguém se obriga a praticar atos jurídicos ou administrar interesses por conta de outra pessoa, art.653 do CC);
 c) Renúncia: a resilição é operada pelo mandatário;
 A resilição unilateral independe de pronunciamento judicial e produz efeitos ex nunc. Para valer deve ser notificada a outra parte, produzindo efeitos a partir do momento em que chega a seu conhecimento (declaração receptícia de vontade). Em regra a notificação não precisa ser justificada, mas em certos contratos exige-se que se tenha justa causa. Nestas hipóteses a inexistência de justa causa não impede a resilição do contrato, mas a parte que o resiliu injustificadamente fica obrigada a pagar, à outra, perdas e danos (Gonçalves, 2016, p.206).
 Na hipótese descrita do parágrafo único do art.473 do CC, em vez de simplesmente determinar o pagamento de perdas e danos sofridas pela parte que teve prejuízos com a dissolução unilateral do contrato, o legislador optou por atribuir uma tutela específica, convertendo o contrato, que poderia ser extinto por vontade de uma das partes, em um contrato comum, com duração pelo prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. Ex: João recebeu de Paulo um imóvel em comodato. Ficou muito feliz e logo na primeira semana fez algumas modificações que lhe custaram caras. Com um mês de contrato, Paulo notifica João informando-lhe da sua vontade de resilir o comodato, sem, contudo, tivesse qualquer fato superveniente que justificasse tal decisão. Nesse caso o artigo em comento estabelece que, mesmo diante da vontade de Paulo em querer resilir o contrato, este continuará por certo tempo até que Paulo seja compensado pelas despesas que teve. 
 
2.3. Morte de um dos contratantes
 A morte de um dos contratantes só acarreta a dissolução dos contratos personalíssimos (intuitu personae) que não poderão ser executados pela morte daquele em consideração do qual foi ajustado (Gonçalves, 2016, p.207). 
2.4. Rescisão
 Hodiernamente se emprega a palavra rescisão como sinônimos de resolução e de resilição. No entanto, tal termo, deve ser empregado na dissolução de determinados contratos em que ocorreu lesão ou foram celebrados em estado de perigo (Gonçalves, 2016, p.208). 
 Lesão é o defeito do negócio jurídico que se configura quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação assumida pelo outro contratante, art.157 do CC. A Lesão ocorre, portanto, quando uma pessoa numa condição de inferioridade decorrente de uma premente necessidade ou de inexperiência, pactua um contrato bilateral e oneroso em que sua prestação é manifestamente desproporcional ao valor da contraprestação pactuada.
 Pela leitura do art.156 do CC, entende-se que ocorre o estado de perigo, quando o agente diante de situação de grave perigo de vida, conhecido pela outra parte, emite declaração de vontade para salvar-se ou pessoa próxima, assumindo obrigação excessivamente onerosa. É, portanto, “a situação de extrema necessidade que conduz uma pessoa a celebrar negócio jurídico em que assume obrigação desproporcional e excessiva” (Gonçalves, 2016, p. 392). Ex: o doente, em perigo de vida, que paga honorários excessivos para o cirurgião atendê-lo.
REFERENCIA
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 9ªed. São Paulo: Saraiva, v.3, 2012.
GUIMARÃES, Luis Paulo Cotrim. Direito Civil: Lei de introdução ao Código Civil, parte geral e direito das coisas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 
MACHADO Costa; CHINELLATO Silmara. Código Civil Interpretado. Tamboré – São Paulo: Manole, 2014. 
KRUSCHEWSKY, Eugênio. Invalidade dos contratos. Revista Eletrônica de Direito da Universidade de Salvador. Faculdade de Direito. Salvador, Bahia. Agosto, 2005.

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