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1/2 O fato de o bem imóvel ter sido adquirido no curso da demanda executiva não afasta a impenhorabilidade do bem de família dizerodireito.com.br/2023/05/o-fato-de-o-bem-imovel-ter-sido.html quinta-feira, 25 de maio de 2023 Imagine a seguinte situação hipotética: O banco ajuizou execução de título extrajudicial contra Regina cobrando uma dívida. Após várias tentativas em localizar bens da executada, descobriu-se uma casa pertencente a Regina. O juiz determinou a penhora do imóvel. Regina interpôs agravo de instrumento e alegou que o imóvel objeto da penhora era a sua residência, sendo, portanto, impenhorável por constituir bem de família. O Tribunal de Justiça deu provimento ao agravo para desconstituir a penhora. O banco interpôs recurso especial demonstrando que a casa foi adquirida no curso do processo de execução. Logo, a instituição financeira argumentou que Regina agiu com fraude à execução porque utilizou o dinheiro – que era bem penhorável – para adquirir uma casa como bem de família por ser impenhorável. O argumento do recorrente foi acolhido pelo STJ? NÃO. O fato de o bem imóvel ter sido adquirido no curso da demanda executiva não afasta a impenhorabilidade do bem de família. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 2.182.745-BA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/4/2023 (Info 771). A aquisição do imóvel posteriormente à dívida não configura, por si só, fraude à execução, tampouco afasta a proteção conferida ao bem de família. Nesse sentido: A aquisição de imóvel para moradia permanente da família, independentemente da pendência de ação executiva, sem que tenha havido alienação ou oneração de outros bens, não implica fraude à execução. O benefício da impenhorabilidade aos bens de família pode ser concedido ainda que o imóvel tenha sido adquirido no curso da demanda executiva, salvo na hipótese do art. 4º da Lei nº 8.009/90, não ocorrente na hipótese. https://www.dizerodireito.com.br/2023/05/o-fato-de-o-bem-imovel-ter-sido.html 2/2 STJ. 4ª Turma. REsp 573.018/PR, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 9/12/2003. Lei nº 8.009/90 Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. A regra de impenhorabilidade do bem de família, trazida pela Lei nº 8.009/90, deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico pátrio. DOD Plus – informações complementares O benefício da impenhorabilidade do bem de família deve ser concedido ainda que o imóvel tenha sido adquirido no curso da demanda executiva, salvo na hipótese do art. 4º da Lei 8.009/90 Para o bem de família instituído nos moldes da Lei nº 8.009/90, a proteção conferida pelo instituto alcançará todas as obrigações do devedor, indistintamente, ainda que o imóvel tenha sido adquirido no curso de uma demanda executiva. STJ. 4ª Turma. REsp 1.792.265-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/12/2021 (Info 723). Jurisprudência em Teses (Ed. 202): 10) A exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista para o crédito decorrente de financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel se estende ao novo imóvel adquirido com os recursos oriundos da venda do bem primitivo penhorável.