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SaúdedaMulhereo EnfoquedeGênero Encontram-senaliteraturaváriosconceitossobresaúdedamulher. Háconcepçõesmaisrestritasqueabordam apenasaspectosdabiologia eanatomiadocorpofemininoeoutrasmaisamplasqueinteragem com dimensõesdosdireitoshumanosequestõesrelacionadasàcidadania.Nasconcepções maisrestritas,ocorpodamulherévistoapenasnasuafunçãoreprodutivaeamaternidade torna-seseuprincipal atributo.Asaúdedamulherlimita-seàsaúdematernaouàausência deenfermidadeassociadaaoprocessodereproduçãobiológica.Nesse casoestãoexcluídososdireitossexuaiseasquestõesdegênero(COELHO,2003). Em 1994,naConferênciaInternacionalsobrePopulaçãoeDesenvolvimento,asaúde reprodutivafoidefinidacomo“um estadodecompletobem-estarfísico,mentalesocialem todasasmatériasconcernentesaosistemareprodutivo,suasfunçõeseprocessos,enão apenas meraausênciadedoençaouenfermidade.Asaúdereprodutivaimplica,porconseguinte,quea pessoapossaterumavidasexualsegurae satisfatória,tendoacapacidadedereproduzirealiberdadededecidir sobrequandoequantasvezesdevefazê-lo”(CIPD,1994). Nessadefinição,toma-secomoreferênciaoconceitodesaúdeda OrganizaçãoMundialdaSaúde(OMS),esãoincorporadasdimensões dasexualidadeedareproduçãohumananumaperspectivadedireitos. Noentanto,apesardoavançoem relaçãoaoutrasdefinições,oconceitodaCIPDficarestritoà saúdereprodutivaenãotrataasaúde-doença comoprocessonaperspectivadaepidemiologiasocial,oquevem sendobastantediscutido desdeofinaldosanos60. Asaúdeeadoençaestãointimamenterelacionadaseconstituem um processocujaresultanteestádeterminadapelaatuaçãodefatores assim comonasidentidades,atitudesecomportamentosdaspessoas. Asdesigualdadesdegênerotendem aaprofundaroutrasdesigualdades sociaiseadiscriminaçãodeclasse,raça,casta,idade,orientaçãosexual, etnia,deficiência,línguaoureligião,dentreoutras(HERA,1995). Damesmamaneiraquediferentespopulaçõesestãoexpostasavariadostiposegrausderisco, mulheresehomens,em funçãodaorganizaçãosocialdasrelaçõesdegênero,também estão expostosapadrõesdistintosdesofrimento,adoecimentoemorte.Partindo-sedesse pressuposto,éimprescindívelaincorporaçãodaperspectivadegênero naanálisedoperfilepidemiológicoenoplanejamentodeaçõesdesaú- de,quetenham comoobjetivopromoveramelhoriadascondiçõesde vida,aigualdadeeosdireitosdecidadaniadamulher. EvoluçãodasPolíticasde AtençãoàSaúdedaMulher NoBrasil,asaúdedamulherfoiincorporadaàspolíticasnacionais desaúdenasprimeirasdécadasdoséculoXX,sendolimitada,nesse período,àsdemandasrelativasàgravidezeaoparto.Osprogramas materno-infantis,elaboradosnasdécadasde30,50e70,traduziam umavisãorestritasobreamulher,baseadaem suaespecificidadebiológicaenoseupapel socialdemãeedoméstica,responsávelpelacria- ção,pelaeducaçãoepelocuidadocom asaúdedosfilhosedemais familiares. Háanálisesquedemonstram queessesprogramaspreconizavam as açõesmaterno-infantiscomoestratégiadeproteçãoaosgruposderiscoeem situaçãode maiorvulnerabilidade,comoeraocasodascrian- çasegestantes.Outracaracterísticadessesprogramaseraaverticalidadeeafaltade integraçãocom outrosprogramaseaçõespropostos pelogovernofederal.Asmetaseram definidaspelonívelcentral,sem qualqueravaliaçãodasnecessidadesdesaúdedaspopulaçõeslocais. Um dosresultadosdessapráticaéafragmentaçãodaassistência(COSTA,1999)eobaixo impactonosindicadoresdesaúdedamulher. Noâmbitodomovimentofeministabrasileiro,essesprogramas sãovigorosamentecriticadospelaperspectivareducionistacom que tratavam amulher,quetinhaacessoaalgunscuidadosdesaúdenociclogravídico-puerperal, ficandosem assistêncianamaiorpartedesua vida.Com forteatuaçãonocampodasaúde,omovimentodemulherescontribuiupara introduzirnaagendapolíticanacional,questões, atéentão,relegadasaosegundoplano,porserem consideradasrestritasaoespaçoeàs relaçõesprivadas.Naquelemomentotratava-sede revelarasdesigualdadesnascondiçõesdevidaenasrelaçõesentreos homenseasmulheres,osproblemasassociadosàsexualidadeeàre-arcabouçoconceitual queembasariaaformulaçãodoSistemaÚnicode Saúde(SUS). Onovoprogramaparaasaúdedamulherincluíaaçõeseducativas, preventivas,dediagnóstico,tratamentoerecuperação,englobando aassistênciaàmulherem clínicaginecológica,nopré-natal,partoe puerpério,noclimatério,em planejamentofamiliar,DST,câncerde colodeúteroedemama,além deoutrasnecessidadesidentificadasa partirdoperfilpopulacionaldasmulheres(BRASIL,1984). OprocessodeconstruçãodoSUStem grandeinfluênciasobrea implementaçãodoPAISM.OSUSvem sendoimplementadocom base nosprincípiosediretrizescontidosnalegislaçãobásica:Constituição de1988,Lein.º8.080eLein.º8.142,NormasOperacionaisBásicas (NOB)eNormasOperacionaisdeAssistênciaàSaúde(NOAS),editadaspeloMinistérioda Saúde.Particularmentecom aimplementação daNOB96,consolida-seoprocessodemunicipalizaçãodasaçõese serviçosem todooPaís.AmunicipalizaçãodagestãodoSUSvem se constituindonum espaçoprivilegiadodereorganizaçãodasaçõese dosserviçosbásicos,entreosquaissecolocam asaçõeseosserviços deatençãoàsaúdedamulher,integradosaosistemaeseguindosuas diretrizes. OprocessodeimplantaçãoeimplementaçãodoPAISM apresenta especificidadesnoperíodode84a89enadécadade90,sendoinfluenciado,apartirda proposiçãodoSUS,pelascaracterísticasdanova políticadesaúde,peloprocessodemunicipalizaçãoeprincipalmente pelareorganizaçãodaatençãobásica,pormeiodaestratégiadoProgramaSaúdedaFamília. Estudosrealizadosparaavaliarosestágios deimplementaçãodapolíticadesaúdedamulherdemonstram aexistênciadedificuldadesna implantaçãodessasaçõese,emboranãose tenhaum panoramaabrangentedasituaçãoem todososmunicípios, pode-seafirmarqueamaioriaenfrentaaindadificuldadespolíticas, técnicaseadministrativas. Visandoaoenfrentamentodessesproblemas,oMinistériodaSaúde editouaNormaOperacionaldeAssistênciaàSaúde(NOAS2001),que “ampliaasresponsabilidadesdosmunicípiosnaAtençãoBásica,defineforam tratadosde formaisoladaequehouveaincorporaçãodeum tema novocomoaviolênciasexual(CORREA;PIOLA,2002). Nessebalançosãoapontadasaindaváriaslacunascomoatençãoao climatério/menopausa;queixasginecológicas;infertilidadeereprodu- çãoassistida;saúdedamulhernaadolescência;doençascrônico-degenerativas;saúde ocupacional;saúdemental;doençasinfecto-contagiosaseainclusãodaperspectivadegênero eraçanasaçõesaserem desenvolvidas. Em 2003,aÁreaTécnicadeSaúdedaMulheridentificaaindaanecessidadedearticulaçãocom outrasáreastécnicasedaproposiçãode novasações,quaissejam:atençãoàsmulheresrurais,com deficiência, negras,indígenas,presidiáriaselésbicaseaparticipaçãonasdiscussõeseatividadessobre saúdedamulheremeioambiente. –maiorproporçãodeóbitosdecriançasnegrassem assistência médica; –escoresinferioresparacriançasnegrasnoAPGAR1; –maiorporcentagem decriançasnegrasdebaixopesoaonascer,característicaquepoderia indicar,além deproblemasnutricionais,apossibilidadedemaiorprevalênciadedoenças maternascomodiabetesehipertensãonãocontroladasduranteagravidezpormenoracesso oupelapiorqualidadedos serviçosdesaúdequeasmãesdessegrupoutilizam. Dadosrelativosàtaxadecesáreaporgruposraciaisrevelam,conformeestudodeChacham,“A medicalizaçãodocorpofemininoeaincidênciadopartocesáreoem BeloHorizonte”,queas mulheresbrancas tiveram 48,1%decesáreas,asasiáticas50%,enquantomulherespardas tiveram 32,5%emulheresnegras28,4%. Quantoàdiscriminaçãonaassistênciaduranteagravidezeparto, pesquisarealizadapelaFiocruz/Pref.RiodeJaneiro,divulgadanaFolha deSãoPauloem 26demaiode2002,demonstraque5,1%demulheres brancasnãoreceberam anestesianopartonormal,em relaçãoa11,1% denegras;82%demulheresbrancasnãoforam informadassobrea importânciadopré-natal,em comparaçãoa76,6%denegras.Quanto aossinaisdeparto,73,1%dasbrancasforam informadasem relaçãoa 62,5%dasnegras;noqueserefereaoaleitamento,77,7%dasbrancasforam orientadas, enquantoapenas62,5%dasnegrastiveram orientação; puderam teracompanhantes46,2%dasbrancase27,0%dasnegras. Orecorteracial/étnicoéfundamentalparaaanálisedosindicadoresdesaúdeeparao planejamentoeexecuçãodeações.Indicadoresde saúdequeconsideram corouraça/etniasãoabsolutamentenecessários paraquesepossaavaliaraqualidadedevidadegrupospopulacionais, dequeecomoadoecem edequemorrem.Algunsproblemasdesaúdesãomaisprevalentesem determinados gruposraciais/étnicose,nocasodasmulheresnegras,aliteraturareferemaiorfreqüênciade diabetestipoII,miomas,hipertensãoarteriale anemiafalciforme. SaúdedasMulheresIndígenas Apopulaçãoindígenabrasileiraéestimadaem 350milpessoas, pertencentesacercade210povos,quefalam maisde170línguasidentificadas.Cadaum dessespovostem diferentesformasdeorganização social,política,econômica,derelaçãocom omeioambienteedeocupaçãodeseuterritório (BRASIL,2002). Cercade60%dessapopulaçãovivenoCentro-OesteeNortedo País,regiõesondeestãoconcentradas98,7%dasterrasindígenas.Esse segmentoconstitui,hoje,aproximadamente,0,2%dapopulaçãobrasileira,mascom presença significativaem algunsestadosbrasileiros, compondoem 15%apopulaçãodeRoraima,em 4%adoAmazonase em 3%adoMatoGrossodoSul(BRASIL,2002). OMinistériodaSaúdeassumiu,desdeagostode1999,porintermédiodaFundaçãoNacionalde Saúde(Funasa),aresponsabilidade deestruturareoperacionalizaroSubsistemadeAtençãoàSaúdeIndí- gena,articuladocom oSistemaÚnicodeSaúde(SUS). Aatençãoàsaúdedamulherdospovosindígenasaindaéprecá- ria,nãoseconseguindogarantiraçõescomoaassistênciapré-natal, deprevençãodocâncerdecolodeútero,deprevençãodeDST/HIV/ aids,dentreoutras.Sãoaindainsuficientesosdadosepidemiológicos disponíveisparaavaliaçãodosproblemasdesaúdedapopulaçãode mulhereseadolescentesindígenas. Éfundamentaldesenvolverpolíticasdesaúdevoltadasparaessas mulheres,nocontextodoetnodesenvolvimentodassociedadesindí- genasedaatençãointegral,envolvendoascomunidadesindígenasna definiçãoeacompanhamentodasmesmas. SaúdedasMulheresResidenteseTrabalhadorasnaÁreaRural Ascondiçõesdesaúdedapopulaçãoruralsãodeterminadasporespecificidadesrelacionadas aoritmodetrabalhosazonal,aosprocessos demobilidadeespacialdosacampamentoseassentamentos,àbaixa escolaridade,àpobreza,àssituaçõesdeviolênciaeàsrelaçõesdetrabalhoedegêneroque contribuem paratornarostrabalhadoresrurais maisvulneráveisàsenfermidades. SaúdedaMulherem SituaçãodePrisão GrandepartedapopulaçãopresidiáriacompreendidapeloSistema PenitenciárioNacionalestáexpostaadiversosfatoresderiscoàsaúde, ocorrendoum númerosignificativodecasosdeDST/aids,tuberculose,pneumonias, dermatoses,transtornosmentais,hepatites,traumas, diarréiasinfecciosas,além deoutrosproblemasprevalentesnapopula- çãoadultabrasileira,taiscomohipertensãoarterialediabetesmellitus. Nessecontexto,identifica-seanecessidadedeacessodessapopula- çãoàsaçõesdeatençãoàsaúde,tantocom aimplantaçãodeaçõesno níveldaatençãobásicadentrodospresídios,comopelasreferênciasÉtambém significativaa presençadeamigos,odobrodoqueocorre paraoshomens. Aguardadosfilhosémaisassumidapelascompanheirasdoshomenspresos(86,9%)doque peloscompanheirosdasmulherespresas (19,5%),sendomuitofreqüentequeosfilhosdessasmulheresfiquem sobtuteladosavósmaternos. Quantoàsaúdesexual,76,1%dasmulheresrelatam teralgum tipodeproblema,eonúmerodesoropositivasentremulherespresas (6,3%)éodobrodoshomensnamesmasituação. Sóapartirde2001,équefoiasseguradoàmulherpresaodireitoà visitaíntimadocompanheiro,masessapopulaçãofemininaenfrenta aindasériasdificuldadesnoquedizrespeitoàgarantiadessedireito. Quantoàsvisitasíntimasdepessoasdomesmosexo,nãohádireito asseguradodentrodosistemaprisional.
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