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PTE_todateoria1_5

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20/03/2024, 15:12 Linguagem e língua: conceitos
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Linguagem e língua: conceitos
Prof. Luís Cláudio Dallier Saldanha
Descrição
A distinção entre linguagem verbal e linguagem não verbal, as principais
concepções de linguagem e as implicações dessas concepções no uso
da língua.
Propósito
Compreender a diferença entre as linguagens verbal e não verbal, as
concepções de linguagem que geralmente adotamos e as
consequências de tais concepções no uso cotidiano da língua é
fundamental para a compreensão da linguagem e de suas interferências
no uso da língua portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Linguagens verbal e não verbal
Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal.
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Módulo 2
Concepções de linguagem
Reconhecer as três principais concepções de linguagem.
Módulo 3
Linguagem e interação
Identificar implicações de diferentes concepções de linguagem no
uso do português.
Se você acha que língua e linguagem são a mesma coisa, você
agora vai aprender que a língua é uma das diversas linguagens que
o ser humano utiliza para se expressar, comunicar e interagir. Claro
que todas as linguagens têm seu valor, mas vamos enfatizar a
linguagem verbal, ou seja, a língua.
Vamos relembrar as principais características das linguagens
verbal e não verbal, conhecer algumas concepções de linguagem e
identificar algumas implicações do que estamos estudando no uso
cotidiano da língua.
Introdução
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1 - Linguagens verbal e não verbal
Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal.
O português que você aprendeu na
escola ainda é um mistério, algo
distante?
Vamos começar com a leitura de um poema para pensar um pouco
sobre nossa experiência com a língua portuguesa.
O título do poema é Aula de Português e foi escrito por Carlos
Drummond de Andrade.
Carlos Drummond de Andrade
Poeta mineiro, foi um dos principais nomes do Modernismo
brasileiro. Entre suas principais obras, estão os livros: Alguma poesia
(1930), Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945). Um de
seus poemas mais conhecidos é No meio do caminho, que tem os
famosos versos “No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma
pedra no meio do caminho”.
Aula de Português
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A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem
sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me,
sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro,
mistério.
Carlos Drummond de Andrade
Utilize o player abaixo para ouvir a citação.
O poema apresenta dois tipos de linguagem: a linguagem informal do
cotidiano, que não precisa ser aprendida na escola, e a linguagem
formal do professor ou dos livros, aprendida na sala de aula. No último
verso, isso é resumido na frase “O português são dois”.

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Linguagem informal

Linguagem formal
Assim como Drummond entende que existem duas linguagens (formal e
informal), precisamos entender que há diversos tipos de linguagem.
Vamos conhecê-los para compreender por que o português é uma das
que dispomos para a comunicação.
Linguagem verbal e linguagem não
verbal
A linguagem constitui todos os sistemas de sinais ou signos
convencionais que nos permitem a comunicação.
Mas, espera... Signo? O que é isso?
Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há
diferentes tipos de linguagem. A linguagem humana, por exemplo, pode
ser verbal e não verbal.

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Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal. O
semáforo é outro exemplo de linguagem não verbal.
Vejamos mais detalhes sobre a relação das linguagens verbais e não
verbais na galeria a seguir:
Língua e linguagem verbal são termos correspondentes
A partir da caracterização da linguagem verbal como uma
linguagem humana que utiliza a palavra, perceba que a língua é
um tipo de linguagem, mas ela não é a única linguagem de que
dispomos.
Ou seja, a língua é uma linguagem humana específica, baseada
na palavra.
Expressão corporal? Linguagem musical?
A música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos
que pertencem a outro tipo de linguagem humana, já
denominada aqui como linguagem não verbal. Por isso, são
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comumente usadas expressões como linguagem musical,
linguagem corporal, linguagem pictórica etc.
Associação inerente
“Que outro ser tem gestos significativos, pinta, fotografa, faz
cinema? Compreende-se, assim, que o homem e a linguagem
se relacionam de forma a não se conceberem um sem o outro
e que a linguagem está indissoluvelmente associada com a
atividade mental humana, a qual, absolutamente, não se
manifesta só pelo verbal.”
(PALOMO, 2001, p. 11).
Integração entre as linguagens verbal e não verbal
Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso
da linguagem verbal (a fala) e da linguagem não verbal
(gestual, postura corporal, tom da voz etc.).
A história em quadrinhos é outro exemplo de integração das
linguagens verbal e não verbal.
Linguagem pictórica
Linguagem pictórica é toda e qualquer manifestação de linguagem
imagética – fotografia, pinturas, desenhos, iluminuras – que
possuem características singulares em relação ao duplo processo de
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produção e reprodução da própria produção. O texto representado
pelas figuras que marcam e estruturam para nós significados são, no
limite, a linguagem imagética.
A distinção entre as linguagens verbal e não verbal não deve levar você a
concluir que a comunicação acontece sempre e apenas por meio de um
único tipo de linguagem.
Linguagem hipermidiática
Com as tecnologias digitais e a internet, essa integração entre as
linguagens verbal e não verbal fica muito evidente e interessante, pois
usamos palavras, imagens, sons e outros recursos para interagir nas
redes sociais. É cada vez mais comum trocarmos mensagens em que a
escrita se mistura com emojis ou emoticons.
Atenção!
Este material didático é um exemplo de integração entre diferentes tipos
de linguagem, articulando texto escrito com vídeo, podcast, imagens e
símbolos.
Tudo isso é possível por causa de outra integração: convergência entre
diferentes mídias formando o que tem sido chamado de hipermídia. É
como se o livro impresso, o rádio, a televisão e o computador
estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim, hoje
em dia, fala-se de uma linguagem hipermidiática, um bom exemplo
dessa integração de linguagens verbal e não verbal.
É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos
de comunicação. Mas você deve reconhecer que a linguagem não verbal
está associada intimamente a nossas atividades e possui também sua
relevância. Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa num texto
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escrito também dizem muito e, às vezes, até contradizem o que falamos
ou escrevemos.
Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo
tempo, pisca os olhos num ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas ou
balança pernas e pés num movimento frenético. Dificilmente essa
pessoa vai convencer o outro de que está calma.
Assim, ao fazermos a distinção entre linguagens verbal e não verbal, não
queremos sugerir que apenas uma delas seja importante e precise ser
cuidada.
Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinais ou
signos, que permitem a comunicação entre os seres humanos. Quando
o signo é centrado na palavra escrita ou oral, ele é identificado como
linguagem verbal. Os demais tipos de signos formam outro conjunto de
linguagens denominado linguagem não verbal, como é o caso da pintura
e dos gestos.
A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo,
mas que se intensificou com as tecnologias digitais ou a chamada
linguagem hipermidiática.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a opção que descreve a situação em que aparece apenas
o uso da linguagem verbal.
Parabéns! A alternativa B está correta.
A escrita é uma linguagem verbal. Nas demais alternativas, temos a
presença de linguagem não verbal, como é o caso dos gestos na
alternativa A, da representação teatral na alternativa C, do gestual
na opção D e do gráfico na alternativa E.
Questão 2
É correto afirmar que a língua
A Um gerente gesticulando e falando alto.
B A escrita do professor na lousa.
C
Um ator representando uma ação dramática no
palco.
D
Um instrutor sinalizando com as mãos para o
operador de máquinas.
E Um estudante desenhando um gráfico.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
A língua é linguagem verbal, ou seja, baseada na palavra. A palavra,
elemento central da linguagem verbal, pode ser tanto oral quanto
escrita, por isso, as alternativas C e E estão incorretas. A opção D
está incorreta porque a língua pode ser utilizada de forma integrada
a outras linguagens, como acontece nas histórias em quadrinhos.
A corresponde à linguagem verbal.
B constitui exemplo de linguagem não verbal.
C
deve ser considerada linguagem verbal somente na
modalidade falada.
D
não é utilizada integrada ou articulada com outras
formas de linguagem.
E
deve ser considerada linguagem verbal somente na
modalidade escrita.
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2 - Concepções de linguagem
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as três principais concepções de
linguagem.
Concepções de linguagem
Depois de fazer a distinção entre linguagens verbal e não verbal, é hora
de prosseguir e apresentar as três principais concepções de linguagem.
Veja quais são elas a seguir.
Linguagem como expressão do pensamento
De acordo com essa concepção, a linguagem corresponde a uma
expressão que se constrói no interior da mente e tem, na exteriorização,
apenas uma tradução. A linguagem é entendida como uma forma de
expressar pensamentos, sentimentos, intenções, vontades, ordens,
pedidos etc.
Nessa forma de entender a linguagem, a intenção de expressar alguma
coisa é um ato monológico. Isso quer dizer que a enunciação ou o ato
de fala (o modo como nos expressamos) está centrado na pessoa que
se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta importância ao outro
e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece.
Monológico
O uso do termo monológico (mono = um, único; logos = discurso
racional) não se apresenta como a fundamentação de um tipo de
teoria da comunicação, que defende o discurso como ato centrado
apenas no emissor da fala. Apenas quer mostrar que, nesta
concepção da linguagem, tal ato ainda está centrado na necessidade
individual de se comunicar.
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O uso da língua é visto como algo que se limita a quem fala
ou escreve.
Não há preocupação sobre como o outro vai ler ou ouvir nossa
mensagem. Assim, a exteriorização do “pensamento por meio de uma
linguagem articulada e organizada” depende da capacidade de
organizar, de maneira lógica, esse mesmo pensamento (TRAVAGLIA,
2003, p. 21).
Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e
escrever bem conforme a gramática normativa) depende das regras às
quais o pensamento lógico deve estar sujeito. Dessa forma, se as
pessoas não se expressam bem ou não usam a língua corretamente,
isso acontece porque elas não estão pensando corretamente. A
solução, então, para expressar adequadamente o que se está pensando
é a internalização das regras gramaticais e de seu adequado uso.
Atenção!
Mas há um problema: essa concepção acaba sendo uma forma parcial
de entender como a linguagem funciona, pois há outros aspectos
envolvidos além da intenção de exteriorizar o que pensamos. Não é o
caso de afirmar que a concepção está errada. Precisamos avançar e
verificar outras formas complementares de compreender a linguagem.
Linguagem como instrumento de comunicação
A linguagem deve ser compreendida além de sua função de expressar o
que pensamos ou sentimos, pois, ao nos expressarmos, nos dirigimos a
alguém, ou seja, comunicamos algum tipo de mensagem para uma ou
mais pessoas. Por isso, há outra concepção de linguagem que
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compreende a língua, por exemplo, como um código por meio do qual
elaboramos nossas mensagens para serem comunicadas.
Código
O código é entendido como “um conjunto de regras que permite a
construção e a compreensão de mensagens. É, portanto, um sistema
de signos. A linguagem é, por conseguinte, um dentre outros códigos
(código marítimo, código rodoviário)”. Dentre todos os outros
códigos, a linguagem verbal, seja escrita ou oral, é o único código
que “pode falar dos próprios signos que os constituem ou de outros
signos” (VANOYE, 1981, p. 30).
A língua é tomada predominantemente como um código, que deve ser
utilizado com eficiência, ou seja, deve tornar inteligível a mensagem que
se quer comunicar, levando o receptor a responder adequadamente ao
objetivo da comunicação.
Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua
ou outro, precisa ser conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor
para que a comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria
língua, “é um ato social, envolvendo consequentemente pelo menos
duas pessoas”. Por isso, “é necessário que o código seja utilizado de
maneira semelhante, preestabelecida, convencionada para que a
comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22).
Atenção!
A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem,
porém, uma limitação. É uma concepção centrada no código, ou seja,
voltada principalmente para o funcionamento interno da língua ou de
outra linguagem utilizada, deixando de lado aspectos como a relação
entre a linguagem e o contexto social e histórico. Por isso, você precisa
conhecer outra concepção de linguagem que permita avançar na
compreensão da linguagem e seus usos.
Linguagem como lugar ou experiência de interação humana
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Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do
pensamento e, também, vai além da transmissão de informação ou da
comunicação. Ao usar a língua, o indivíduo realiza ações, age, atua
sobre o interlocutor.A linguagem, aqui, é um “lugar de interação
humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido
entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um
contexto sócio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não
comunica somente alguma coisa, na verdade, ao usar a língua, o
indivíduo ou os interlocutores “interagem enquanto sujeitos que ocupam
lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com as
formações imaginárias (imagens) que a sociedade estabeleceu para
tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Para ilustrar, veja um exemplo:
 Todos já observaram uma situação em que a
identificação apenas da linguagem oral entre dois
sujeitos corresponderia a um ato comunicativo
direto. No entanto, notamos que a interação social
faz com que aquilo que é dito seja muito maior.
 Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um
espaço e observamos mãe e filha interagindo, em
que a primeira faz referência ao comportamento da
segunda, com uma ordem direta.
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Tudo que falamos e ouvimos tem o poder de provocar reações, produzir
mudanças, despertar sentimentos e paixões, desencadear processos e
ações.
 A reação da filha cria em nós, observadores, uma
série de julgamentos, leituras, valores e interações
que nos remetem à própria relação familiar.
 Se um agente da lei, dirigindo-se a uma pessoa, dá
voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não está
simplesmente exteriorizando seu pensamento ou
comunicando uma novidade, não é mesmo?
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O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como
interação social, constituindo-se numa dimensão privilegiada do uso da
língua.
Diálogo
Considerando sua origem latina (dia = separação, confronto; logos =
discurso racional), apresenta-se como a exigência de, pelo menos,
dois interlocutores no ato da fala, que é diferente da concepção
monológica vista anteriormente. Trata-se, sem dúvida, de apresentar
uma intencionalidade por parte daquele que fala.
Atenção!
Para estar inserido na vida em sociedade, é preciso que a língua seja
utilizada para favorecer a abertura ao diálogo, a interação entre as
pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou seja, o que falamos
e escrevemos se relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao longo da
vida.
Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da
linguagem para além da sua finalidade de comunicação e da divisão
entre linguagens verbal e não verbal. A linguagem pode ser concebida
como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e,
mais adequadamente, como lugar de interação humana.
 Quando consideramos as palavras de um juiz ao
proferir essa célebre frase clássica, temos um
exemplo de que o uso da língua pode ser mais do
que expressão do pensamento ou comunicação de
uma informação.
Nesse caso, a fala da autoridade faz surgir ou
realiza um ato social e jurídico.
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As três concepções da linguagem podem ser resumidas da seguinte
forma:
A expressão se constrói no interior da mente.
Ato monológico, individual.
Regras para a organização lógica do pensamento:
gramática normativa.
Para quem se fala, em que situação e para que se fala não
são preocupações no uso da língua.
Meio objetivo para a comunicação.
A expressão nasce da necessidade de se comunicar.
Troca de mensagens entre emissor e receptor.
Existência de códigos para a eficiência da comunicação.
Preocupação com o meio, o destinatário, a mensagem e a
utilização eficiente do código.
Experiência de interação humana.
A expressão é também ação.
Privilegia o diálogo e a interatividade.
Valorização do contexto dos usuários da língua e
adequação no uso da língua.
Preocupação com as dimensões afetivas e sociais.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Expressão do pensamento 
Comunicação 
Interação humana 
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A linguagem como expressão do pensamento é
Parabéns! A alternativa D está correta.
A concepção da linguagem como expressão do pensamento
valoriza quem se expressa, deixando de lado o interlocutor e o
contexto em que a linguagem é usada. As opções A e E
correspondem à concepção de linguagem como instrumento de
comunicação, enquanto as opções B e C se referem à concepção
de linguagem como experiência de interação humana.
Questão 2
Indique a alternativa que corretamente se associa à concepção de
linguagem como experiência de interação humana.
A
concepção que enfatiza o código utilizado na
comunicação de uma mensagem.
B
conceito que se caracteriza pela preocupação com
o modo pelo qual o outro vai ler ou ouvir a
mensagem.
C
entendimento mais amplo da língua, que valoriza o
contexto social e histórico da situação de
comunicação.
D
abordagem centrada na pessoa, que se expressa
por meio da linguagem, sem dar tanta importância
ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a
enunciação acontece.
E
abordagem centrada nos elementos da
comunicação, com destaque para o interlocutor.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
O diálogo e a interação são privilegiados na concepção de
linguagem como lugar de interação. As demais opções estão
incorretas porque se referem à concepção de linguagem como
expressão do pensamento.
A
O uso da língua serve apenas para expressar o
pensamento.
B
O diálogo, a interação e a atuação sobre o outro são
características importantes da linguagem.
C
Falamos ou escrevemos corretamente somente
quando pensamos corretamente.
D
A internalização das regras gramaticais serve para
adestrar e organizar o pensamento.
E A expressão se constrói no interior da mente.
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3 - Linguagem e interação
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car implicações de diferentes concepções de
linguagem no uso do português.
Linguagem
Sobre as concepções de linguagem
Para começarmos a explorar o assunto deste módulo, o professor Luís
Cláudio Dallier propõe uma reflexão.
No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para
perceber como elas possuem um aspecto prático no uso cotidiano do
idioma, compreendemos como a concepção da linguagem como
interação pode nos auxiliar nessa construção.
Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito
nossa vida e nosso humor. O que falamos também provoca efeitos e
reações no outro.

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Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch, em seu livro A interação
pela linguagem, sobre esse aspecto:
Ingedore Villaça Koch
Doutora em Língua Portuguesa, professora universitária e autora de
diversas obras sobre Linguística Aplicada, coerência textual,
argumentação e linguagem.
Fonte: Escavador.
Durante séculos, a linguagem foi
considerada um instrumento
passivo de comunicação, que
permitia ao ser humano apenas
descrever o que percebia, sentia ou
pensava. Hoje se reconhece que, ao
falar, o indivíduo não só descreve o
que observa, mas atua no mundo e
faz com que certas coisas
aconteçam. Por meio da linguagem,
ele também pode modificar suas
relações com os demais e
desenvolver sua própria identidade.
[...] É precisopensar a linguagem
humana como lugar de interação, de
constituição das identidades, de
representação de papéis, de
negociação de sentidos, por
palavras, é preciso encarar a
linguagem não apenas como
representação do mundo e do
pensamento ou como instrumento
de comunicação, mas sim, acima de
tudo, como forma de interação
social.
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(KOCH, 2003, p. 123-128)
Utilize o player abaixo para ouvir a citação.
As implicações no uso do português
Quando entendemos que a linguagem é mais do que expressão ou
espelho do pensamento, que vai além de ser veículo de comunicação,
devemos considerar nossas intenções na produção dos textos e o
impacto naqueles que vão ouvir ou ler nossas palavras. Também
devemos dar atenção ao contexto em que a mensagem é produzida e às
possíveis situações em que será recebida.
Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns
elementos podem ser desejáveis no seu uso:

Clareza e precisão no que queremos
comunicar

Cortesia, polidez e tom cordial

Abertura ao diálogo

Sustentação de um posicionamento sem
desmerecer a opinião do outro

Uso de recursos persuasivos
Se queremos manter o diálogo e construir pontes, devemos cuidar da
maneira como falamos, escolhendo as palavras e o tom mais
apropriado.
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Por isso, ao estudar a linguagem, é preciso compreender que não basta
escrever e falar com correção gramatical, coerência, coesão e clareza.
Além dessas qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral deve
promover o diálogo, a interação e as condições para mantermos
relações civilizadas. É interessante lembrar, por exemplo, que há
concursos ou exames em que o candidato pode ser desclassificado ao
escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou usando
linguagem antissocial e inadequada.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Compreender o conceito de linguagem como experiência de
interação humana e social implica alguns cuidados no uso da
língua portuguesa. Indique a alternativa que aborda corretamente
um ou mais cuidados necessários.
A
Aplicar regras gramaticais para deixar os textos
muito formais.
B
Dizer sempre o que pensamos sem nos
preocuparmos com a forma como o outro vai nos
ouvir.
C
Deixar de lado nossas intenções e o contexto
histórico-social na produção dos textos.
D
Falar ou escrever buscando abertura ao diálogo e se
posicionando sem desmerecer a opinião do outro.
E
Focar a mensagem, deixando de lado preocupações
com o modo como falamos ou escrevemos.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
Compreender a linguagem como interação é ter cuidado com
efeitos e reações provocados no outro diante do que dizemos e da
forma como dizemos.
Questão 2
Se, em uma reunião de trabalho, você precisar discordar de um
colega, mantendo abertura ao diálogo e interagindo sem
desmerecer a opinião do outro, o que não seria apropriado dizer?
Parabéns! A alternativa A está correta.
A alternativa A apresenta uma fala inapropriada porque ela
evidencia uma fala em que se sustenta um posicionamento ou uma
opinião sem abertura para algum questionamento ou mesmo
diálogo. As demais alternativas apresentam formas de expressar a
A
Sua opinião está completamente errada e vai
prejudicar totalmente o projeto.
B
É possível que sua opinião precise ser revista, já que
sua ideia pode trazer algum prejuízo ao projeto.
C
Tenho dificuldades de concordar com sua opinião,
pois ela me parece trazer dificuldades ao projeto.
D
Talvez você tenha se equivocado, pois não consigo
identificar de que modo sua proposta contribui para
o projeto.
E
Parece-me que sua opinião pode gerar algum ruído
em relação ao projeto.
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discordância em que se destacam a cortesia, a polidez e a abertura
ao diálogo e/ou continuidade de debate.
Considerações �nais
Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a
língua portuguesa na expressão do nosso pensamento, nas situações
de comunicação e nas interações com as pessoas, precisamos
conhecer a língua e aproveitar os recursos que ela nos oferece. Aqui,
você pôde observar parte desse conhecimento. Use o que você
aprendeu para vivenciar novas experiências com a língua portuguesa.
Podcast
Neste podcast, acompanhe os professores Luís Cláudio Dallier, Antônio
Soares Abreu e Maria Franco de Moura em uma conversa sobre os
principais tópicos deste conteúdo.
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Confira as indicações que separamos especialmente para você!
Assista ao documentário As origens da linguagem, produzido pela
Crescendo Films – NHK em 2008, que está disponível no YouTube.
20/03/2024, 15:12 Linguagem e língua: conceitos
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Veja também o vídeo Comunicação animal, no canal da Khan
Academy, no YouTube, para uma breve e interessante abordagem
da Biologia Comportamental.
Referências
SILVA, J. C. da. Filosofia da linguagem: da Torre de Babel a Chomsky.
Pedagogia & Comunicação, 2009.
KOCH, I. V. A interação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto,
2003.
MARCHEZINI-CUNHA, V.; TOURINHO, E. Z. Assertividade e autocontrole:
interpretação analítico-comportamental. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
v. 26 n. 2, p. 295–304, abr. –jun. 2010.
ORLANDI, E. P. O que é Linguística. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.
PALOMO, S. M. S. Linguagem e linguagens. Eccos Revista Científica, v. 3,
n. 2, p. 9–15, dez. 2001.
PETTER, M. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, J. L. (org.).
Introdução à Linguística I. São Paulo: Contexto, 2003.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de
gramática. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
TRIGUEIRO, O. O estudo científico da comunicação: avanços teóricos e
metodológicos ensejados pela escola latino-americana. Pensamento
Comunicacional Latino-Americano, v. 2, n. 2, jan.–mar., 2001.
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral
e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
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Norma culta e variação linguística
Prof. Luís Cláudio Dallier
Descrição
Conhecimento de variação linguística, seus tipos e ocorrências.
Apresentação da norma culta e seu uso na comunicação.
Propósito
Compreender os diferentes casos de variação linguística e as
implicações do conceito de norma culta no uso adequado da língua
portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Variação linguística
Reconhecer diferentes tipos e manifestações da variação linguística
no português.
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Módulo 2
O que é a norma culta
Identificar o conceito de norma culta e suas implicações no uso da
língua portuguesa.
Você já percebeu que a língua portuguesa apresenta variações em
relação à pronúncia ou ao significado de algumas palavras
dependendo da localidade do falante? Isso acontece porque a
língua é algo vivo, dinâmico, e seu uso no dia a dia implica
variações que estão relacionadas com a região, a profissão, o grau
de escolaridade e outrosfatores do usuário da língua.
Reconhecer que a língua apresenta diversidades no seu uso é
importante para identificarmos em que situações de comunicação
uma variedade da língua é apropriada ou inadequada. Na verdade,
precisamos conhecer a norma culta da língua para reconhecermos
as diferentes manifestações das variações em relação a essa
norma ou padrão.
Por isso, vamos estudar alguns casos de variação linguística para
depois compreendermos o que é e como funciona a norma culta da
língua.
Introdução
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1 - Variação linguística
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer diferentes tipos e
manifestações da variação linguística no português.
Contextualizando
Neste vídeo, o professor Luís Cláudio Dallier faz uma breve
contextualização do assunto. Confira!
Variação linguística: o que é?
A língua sofre variações ao longo do tempo, conforme o espaço
geográfico, a estrutura social e a situação ou o contexto de uso. Isso
significa dizer que uma língua está sujeita a passar por modificações no

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tempo e no espaço a fim de satisfazer às necessidades de expressão e
de comunicação, individuais ou coletivas, de seus usuários.
Isso é o que se chama variação linguística.
Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se
levarmos em conta uma situação de comunicação qualquer, teremos
alguns elementos que vão apontar para variedades no uso da língua.
Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com
a situação ou com o contexto, conforme o falante e as pessoas que
ouvem (interlocutores), o assunto tratado ou a intenção da mensagem.
Perceba que a variação linguística corresponde a diferentes
ocorrências de uma mesma língua.
Tipos de variações
linguísticas
Sem nos preocuparmos muito com classificações técnicas e exaustivas,
próprias da Sociolinguística, podemos dizer que a variação linguística
pode ser de, pelo menos, três tipos:
Sociolinguística
Sociolinguística é uma área da Linguística que trata das relações entre
linguagem e sociedade, estudando a função social da linguagem e a
influência dos fatores sociais sobre a língua.
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Abordaremos cada um desses tipos a seguir.
Variação regional
Variações da língua numa perspectiva geográfica, originando os
regionalismos. Manifestam-se, principalmente, pelo sotaque e por
palavras ou expressões utilizadas pelos falantes de determinada região.
Um exemplo desse tipo de variação são os falares ou dialetos.
Veja a diferença entre alguns falares no Brasil:
Dialetos
São variações faladas por comunidades geograficamente definidas.
Também denominados “falares” por alguns linguistas.
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Êta que esse curso é bem arretado!
Caraca! Esse curso é muito maneiro!
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Nossinhora! Esse curso é bom demais da conta, sô!
Bah, esse curso é tri!
As diferentes designações no Brasil para um mesmo referente ou
aspecto da realidade é outro exemplo de variação linguística na
dimensão geográfica: macaxeira no Nordeste, mandioca em São Paulo e
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aipim no Rio de Janeiro correspondem à mesma raiz utilizada na
culinária nacional.
Rio de Janeiro X São Paulo
O professor Luís Cláudio Dallier explora mais essas diferenças entre as
cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Não podemos afirmar que determinada região do país fala “o português
mais correto”. Tal afirmação é falsa, pois o que há são variações da
língua portuguesa.
Exemplo
A pronúncia do cearense ou do carioca, por exemplo, não é errada ou
certa, mas, simplesmente, o modo próprio de articular os sons numa
determinada comunidade linguística.
Sendo o português uma língua falada por diversas nações, em
diferentes continentes, é interessante lembrar que a língua também
varia de um país para outro, tanto na fala quanto na escrita. Ainda que o
Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa procure padronizar a
grafia das palavras, há alguns aspectos na escrita que são peculiares
em Portugal e outros no Brasil.

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Variação de Registro
Variações relacionadas com modalidades expressivas adotadas por um
mesmo falante ou segmento social em função do contexto, do
interlocutor e das expectativas sociais.
De acordo com Coseriu (1980, p. 110-111), os registros linguísticos, ou
estilos, são diferentes porque as situações e os interlocutores diferem
muito, bem como as expectativas sociais, influenciadas pela cultura.
Por isso, podemos perceber que, além dos registros individuais, há
aqueles que expressam a identidade de grupos profissionais ou
biológicos (homens, mulheres, jovens, crianças).
Os registros ou estilos se classificam em pelo menos três tipos:
Representa uma escala de formalidade no uso dos recursos da
língua. Podemos ir de um estilo muito informal e popular (troca
despretensiosa de mensagens no WhatsApp, por exemplo) até
um excessivo grau de formalidade no uso da língua (redação de
um ofício, por exemplo). Simplificando, podemos afirmar que há
pelo menos dois registros alusivos à
formalidade: formal e informal. Logo, os diferentes estilos
corresponderão ao grau de formalismo do contexto
comunicativo, determinando as diferentes maneiras de usar a
língua.
Grau de formalismo 
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Representa as duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A
língua falada pode usar recursos como entonação, ênfase de
termos ou sílabas, duração dos sons, velocidade em que se
dizem as sequências linguísticas etc. Além disso, a oralidade se
caracteriza pelas hesitações, repetições, retomadas, correções e
outras marcas que não são comuns à escrita. A escrita tende a
ser mais formal e a fala mais informal, embora existam
exceções; há textos altamente formais na língua falada e outros
extremamente informais na língua escrita.
Representa o ajustamento na estruturação das mensagens do
falante, com base em informações específicas acerca do ouvinte
ou leitor (status do interlocutor, tecnicidade do conteúdo da
mensagem, necessidade de cortesia no trato com o outro, norma
a ser seguida etc.).
Imagine que um profissional da saúde, ao preparar ou orientar
uma criança para determinado procedimento, usará um registro
ou estilo de linguagem distinto da linguagem usada com um
paciente adulto. Com a criança, por exemplo, o vocabulário será
mais simples, com algumas palavras no diminutivo, e o tom de
voz mais afetivo.
Pense em outra situação: você precisa recusar dois convites que
recebeu, um da pessoa que você namora e outro do diretor da
empresa em que trabalha. Faz sentido usar as mesmas
expressões ou estilo ao responder a pessoas com as quais você
tem diferentes graus de intimidade? Certamente vamos usar
estilos ou registros diferentes.
Variação Social
Modo 
Sintonia 
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As diferentes formas de falar marcam os grupos sociais ou, até mesmo,
a faixa etária de determinado conjunto de pessoas. Ao ouvir alguém
falando “percurá” (no lugar de procurar), “iorgute” (em vez de iogurte),
“os hôme”(e não os homens) ou “pra mim fazer” (no lugar de para eu
fazer), certamente você associará esse falante a um grupo social com
baixa ou nenhuma escolaridade.
A falta de domínio da língua padrão, prestigiada
socialmente, é um indicador de pertencimento a
determinado grupo social.
As gírias usadas por um falante podem revelar também a que grupo
social e à qual faixa etária ele pertence. Do mesmo modo, os jargões
técnicos podem indicar a atividade profissional de quem os utiliza.
Juridiquês
Juridiquês é uma palavra criada para designar o uso rebuscado e
exagerado de jargão e termos técnicos da área jurídica.
Economês
Economês designa os termos técnicos ou jargões utilizados pelos
economistas.
Jargões técnicos
Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à
profissão. Daí que podemos falar em jargão dos médicos, jargão dos
militares etc.
Saiba mais
Ao ouvir expressões típicas do juridiquês ou do economês, por exemplo,
você deve concluir que os falantes são adultos, com alta escolaridade e
pertencentes a determinado grupo profissional.
A variação em função do nível social e da escolaridade foi muito bem
retratada pelo poeta modernista Oswald de Andrade (1890-1954) no
poema sugestivamente intitulado Vício na fala:
Vício na fala
(Oswald de Andrade)
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
Vício na fala
(Oswald de Andrade)
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Note que o poema apresenta construções da língua portuguesa que são
típicas de falantes de classes sociais menos escolarizadas, revelando
pronúncias contrárias à ortoepia, ou seja, distintas do que a norma
gramatical determina. As pronúncias fora da norma gramatical, no
entanto, não impedem a comunicação e muito menos a construção dos
telhados.
Embora se trate de uma variedade linguística desprestigiada
socialmente, o poema não estigmatiza essa variante linguística, pois
sugere uma valorização do trabalho das pessoas mais simples com o
verso final: “E vão fazendo telhados”.
Ortoepia
Ortoepia é a parte da gramática que estabelece a pronúncia correta das
palavras, conforme a língua culta ou padrão.
A linguagem da Internet
Além das variações linguísticas que você acabou de conhecer, também
é importante prestar atenção às alterações que a língua portuguesa
apresenta nos meios digitais.
Com a Internet e os diversos recursos para escrever e falar usando um
computador ou celular, surge uma variedade linguística que recebeu o
nome de internetês.
Algumas características da variedade linguística na Internet são:
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Abundância de siglas e abreviaturas não convencionais, dando
mais agilidade e velocidade à escrita.
Criação de palavras novas e uso de gírias, com mais liberdade
para expressar novos conceitos ou adaptar termos de outras
línguas.
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Estrangeirismos, usando e incorporando termos de outra língua,
frequentemente do inglês.
Uso de caracteres especiais (@, #) e emoticons (ou emojis) para
adequação aos códigos utilizados em meios digitais ou como
alternativa para expressar emoções e intuitos.
Integração ou hibridismo entre escrita, sons, imagens e outras
linguagens (hipertexto, por exemplo) para maior expressividade.
A informalidade e a irreverência da linguagem na Internet acabam se
distanciando da formalidade da língua que utilizamos nos documentos,
nos livros, na escola ou nas relações mais formais no trabalho. Por isso
mesmo, haverá inadequação no uso da língua quando escrevermos um
trabalho acadêmico ou redigirmos um e-mail na empresa em que
trabalhamos com a informalidade ou alguma característica do
internetês.
Algumas pessoas acham que o uso despreocupado da língua
portuguesa na Internet, em relação às normas gramaticais, seria um tipo
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de deformação que contribuiria para um empobrecimento linguístico e
cultural. Quer saber o motivo por trás desse pensamento?
Resposta
A invasão de palavras inglesas, ligadas à informática e à Internet, é vista
como ameaça à língua portuguesa, levando os usuários a incorporarem
expressões e valores culturais estrangeiros que redundariam em
prejuízo à cultura nacional e local.
Conforme diz Saldanha (2001, p. 35), deve-se ter o cuidado de não se
impor um único registro da língua, elegendo-se determinada variação ou
modalidade linguística padrão para a Internet, nem tampouco se fechar
temerariamente a qualquer tipo de contribuição linguística vinda de fora.
Valer-se criteriosamente da contribuição de outras línguas é, na verdade,
o recomendável nessa questão; reconhecendo-se, dessa forma, uma
prática histórica que ocorre no seio da língua portuguesa em relação a
línguas como o grego, o italiano, o francês e outras mais desde muito
tempo.
Sobre textos na Internet, Bechara fala:
A Internet, pela sua especificidade,
exige ou propicia um tipo de texto
especial. Também aqui a
inadequação consiste em querer
redigir um texto qualquer fora da
Internet como se fora para ela, ou
vice-versa. Todo texto – na Internet
ou não –, como toda expressão
linguística, deve estar adequado às
ideias, ao interlocutor e às
circunstâncias.
(BRECHARA, 2000, n. p.)
Constatar que a língua varia, seja em seu uso na Internet ou na
diversidade de espaços e situações comunicativas, deve nos levar a
reconhecer a legitimidade das diferentes linguagens e evitar o
preconceito ou a estigmatização de falares, dialetos ou qualquer
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variedade linguística. Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que a
língua aprendida na escola constitui a norma para comunicação e
convívio no ambiente acadêmico e profissional, além daqueles espaços
e das interações sociais em que a língua padrão é a mais adequada.
No próximo módulo, você conhecerá algumas características da língua
padrão, também chamada norma culta, além de refletir sobre seu uso
nas situações em que ela é necessária.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Identifique a opção que apresenta um exemplo de variação
linguística do português em função do baixo grau de escolaridade
do falante.
A
Depois daquele post misterioso, resolvi estalquear o
Face dele.
B
Que menino lindinho, vamos abrir a boquinha para a
tia ver se o dentinho já está nascendo?
C Os dono pediu pra mim fazer a obra.
D
#sextou! Partiu encontrar os amigos da facul no
happy hour!
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A alternativa C apresenta marcas da variedade linguística em
função da classe social e baixa escolaridade como: falta de
concordância nominal e verbal em “os dono pediu” e uso de “pra
mim fazer” no lugar de “para eu fazer”. As alternativas A e D
apresentam características do Internetês. A opção B retrata um
registro ou forma de falar ajustados ao interlocutor e à situação
(verificação da saúde bucal de uma criança). A opção E traz um
registro do português de Portugal.
Questão 2
Considere o texto a seguir:
Mandioca: mais um presente da Amazônia
Aipim, castelinha, macaxeira, maniva, maniveira. As designações da
Manihot utilissima podem variar de região, no Brasil, mas uma delas
deve ser levada emconta em todo o território nacional: pão-de-
pobre – e por motivos óbvios. Rica em fécula, a mandioca – uma
planta rústica e nativa da Amazônia disseminada no mundo inteiro,
especialmente pelos colonizadores portugueses – é a base de
sustento de muitos brasileiros e o único alimento disponível para
mais de 600 milhões de pessoas em vários pontos do planeta, e em
particular em algumas regiões da África. (O melhor do Globo Rural,
fev. 2005).
De acordo com o texto, há no Brasil uma variedade de nomes para a
Manihot utilissima, nome científico da mandioca. Esse fenômeno
revela que
E Estou a esperar uma resposta tua.
A
a planta é nomeada conforme as particularidades
que apresenta, recebendo diversos nomes porque
se trata de uma planta diferente em cada caso e,
ainda, porque não é comum uma língua possuir
mais de um nome para uma mesma planta ou
ingrediente.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
A variedade de nomes para a mesma planta revela a existência da
variação linguística, mais especificamente, a variação produzida
pelos regionalismos.
2 - O que é a norma culta
B
existem variedades regionais para nomear uma
mesma espécie de planta, exemplificando a
ocorrência da variação linguística.
C
os nomes designam espécies diferentes da planta,
conforme a região, confirmando a uniformidade da
língua portuguesa.
D
a expressão “pão-de-pobre” confirma a
uniformidade da língua, demonstrando a unidade e
não variação da língua portuguesa.
E
mandioca é o nome específico para a planta que
existe somente na Amazônia, sendo os demais
nomes designações para outro tipo de planta.
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Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o conceito de norma
culta e suas implicações no uso da língua portuguesa.
Contextualização
Quando constatamos que a língua portuguesa varia em função da
diversidade dos falantes, do espaço, do tempo, da situação de
comunicação e de outros fatores, podemos nos perguntar se toda forma
de usar a língua é válida, desde que as pessoas se entendam; ou indagar
se esses diferentes usos da língua não seriam desvios e incorreções da
língua padrão, da norma culta. Tais questionamentos são importantes
porque todos nós aprendemos na escola a chamada língua culta, mas
convivemos boa parte do tempo com usos da língua distantes ou
diferentes da norma padrão, que estudamos nos livros de gramática.
É preciso entender o que é a norma culta e qual o objetivo da gramática
no aprendizado da língua para, então, respondermos sobre que tipo de
língua usar nas diversas situações de comunicação do dia a dia.
Norma culta
A norma culta é aquela formada por um conjunto de estruturas
concebidas como corretas, que podem ser usadas tanto para falar
quanto para escrever. Trata-se da chamada variante padrão ou norma
padrão. Ela é tão valorizada socialmente que, quando estão em um
ambiente mais formal, os indivíduos com alto nível de escolaridade
procuram monitorar sua fala.
Norma culta
Vamos entender melhor como funciona a norma culta da língua, que
tem prestígio social.

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Como você pôde perceber, os registros informais e distintos da norma
culta caracterizam o papel social do falante da língua. Se o falante tem
baixa escolaridade e pertence a uma comunidade linguística que se
comunica dessa forma, o uso que ele faz da língua evidencia
exatamente o grupo social ao qual pertence. Nesse caso, não deve
haver uma expectativa de uso da língua padrão.
Por outro lado, se o falante teve acesso à educação formal e possui alto
grau de escolaridade, a expectativa é de que ele utilize a norma culta
como a opção mais adequada para se expressar em situações formais
de comunicação. Caso isso não aconteça, ele frustrará a expectativa em
função da classe social e comunidade linguística às quais pertence.
Imagine um professor universitário em uma videoaula dizendo o
seguinte:
Embora o uso do pronome ela como objeto direto seja comum na fala
de muitas pessoas – mesmo escolarizadas –, não é prescrito pela
gramática.
Logo, a forma adequada conforme a norma culta é:
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Usar o pronome oblíquo a substituindo um substantivo é algo formal,
mas, uma boa alternativa seria optar pelo uso de um termo equivalente
ou sinônimo: “A exposição foi encerrada, mas eu vi as obras de arte no
ano passado”.
A língua pode ser comparada a um guarda-roupa, com vestimentas para
diversas ocasiões e finalidades. A norma culta seria comparada a
vestuários convenientes em situações formais, com diferentes graus de
formalidade, como cerimônia de casamento, audiência num tribunal,
entrevista de emprego, ambiente de trabalho, ambiente acadêmico etc.
Terno, gravata, vestido longo, tailleur, terninho e alguns acessórios e
adereços seriam adequados a algumas dessas situações. Não é
adequado comparecer a esses ambientes ou participar dessas
situações como se fôssemos à praia, usando sunga ou biquíni, por
exemplo.
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Essa imagem ou comparação da língua com o guarda-roupa nos ajuda a
compreender o conceito de adequação no uso da língua.
Quem faz uma analogia similar é o linguista brasileiro Marcos Bagno
(2005), que compara a língua padrão ao molde de um vestido.
De acordo com Bagno (2005), o molde não pode ser interpretado
como sendo o próprio vestido. Embora contenha as peças sobre
as quais o tecido será cortado, sequer de tecido o molde é feito.
Ele diz isso para ilustrar a diferença entre o ideal (as normas da
língua reunidas) e o real (os falantes em situação de uso).
As regras da gramática normativa e o ideal de língua padrão
teriam a função de ser um molde, mas o uso dessas normas
acabaria sendo "uma costura às avessas". Assim, em vez de o
molde servir para "cortar o tecido e depois montar o vestido",
aqueles que se apegam à língua padrão como única forma válida
e legítima de uso da língua consideram o "uso real e concreto da
língua (um vestido já pronto) e vão medir e avaliar esse uso para
ver se ele está de acordo com o molde pré-estabelecido"
(BAGNO, 2005, p. 160).
A norma culta ou norma padrão pode ser entendida, então, como
um modelo, uma medida, um conjunto sistematizado de
orientações, situando-se num contínuo de variações. Como
nenhum falante segue ou domina rigorosa e completamente as
regras da norma padrão, temos numa das extremidades o falante
que mais se aproxima do ideal linguístico, elaborando um
discurso mais culto; na outra ponta, encontramos os falantes
que mais se afastam do modelo de perfeição linguístico e que
produzem uma variedade menos culta.
A norma padrão acaba sendo uma abstração, um modelo, um
ideal a partir do qual se produzem diversos modos de uso da
língua. As variedades linguísticas seriam, então, mais concretas,
realizando-se por meio da fala que é ouvida, recolhida, registrada,
comparada e analisada pela Sociolinguística, por exemplo.
É adequado usar a norma culta quando essa é a expectativa da
sociedade ou da comunidade linguística em função do nosso status,
classe social, formação acadêmica ou atividade profissional. Também é
Língua padrão como molde de um vestido 
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adequado o seu uso nas situações de comunicação formais, oficiais,
nas atividades escolares e acadêmicas, na atividade profissional etc.
Em situações mais informais ou quando a expectativada comunidade linguística em que interagimos for de
uma comunicação coloquial, então usaremos a língua
num registro menos formal, ainda que não
inteiramente distante da norma culta.
É preciso cuidado com as escolhas linguísticas que fazemos para que
nosso interlocutor não as interprete como erro ou grosseria. Também
devemos atentar para a escrita, pois algumas liberdades ou licenças
numa fala mais informal podem ser inadequadas na escrita. Por
exemplo, não fica bem escrever nas redes sociais ou num e-mail
expressões ou incorreções gramaticais muito comuns na fala coloquial
ou descuidada.
A seguir, reunimos dois jeitos de comunicar a mesma coisa: de acordo
com o registro culto (ou seja, a norma culta da língua) e de acordo com
o registro coloquial, que representa os usos mais comuns na oralidade,
mas que têm que ser evitados – principalmente em textos escritos.
Registro coloquial

Registro coloquial
Registro culto
Eu a vi ontem.
Registro coloquial

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Registro coloquial
Registro culto
Isso é muito bom para nós.
Registro coloquial

Registro coloquial
.
Registro culto
Tire a carrapeta da torneira e conserte-a.
Registro coloquial

Registro coloquial
Registro culto
Todos têm conhecimento dessa questão.
Registro coloquial

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Registro coloquial
Registro culto
Retire-se daqui.
Registro coloquial

Registro coloquial
Registro culto
O homem interpelou-me aos gritos.
Registro coloquial

Registro coloquial
Registro culto
Faltam cinco minutos para acabar a aula.
Registro coloquial

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Registro coloquial
Registro culto
O diretor pediu para eu vir aqui.
O que de�ne a norma culta
da língua?
De acordo com o professor e linguista Luiz Travaglia (2001, p. 25-26), os
argumentos ou as justificativas para o estabelecimento da norma culta
são os seguintes:
Uso de critérios como elegância, colorido, beleza, finura,
expressividade. Rejeição de vícios como a cacofonia, colisão,
eco, pleonasmo etc.
Opção pelo uso da língua pertencente à classe de prestígio em
detrimento do uso das classes populares.
Critério de purismo e vernaculidade. Rejeição de estrangeirismo
ou qualquer aspecto que “ameace” a identidade ou soberania da
nação ou da cultura nacional.
Estéticos 
Elitistas ou aristocráticos 
Políticos 
Comunicacionais 
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Critérios relacionados com a facilidade de comunicação e
compreensão. As construções e o léxico devem resultar na
“expressão do pensamento”.
Recorre-se à tradição para critérios de exclusão e permanência
de usos da língua.
A norma culta ou língua padrão é dependente da observância e uso das
regras estabelecidas pela gramática normativa. Por isso, vale entender
um pouco melhor o que é e como ela funciona.
Gramática normativa
A gramática normativa é a gramática da escola, por meio da qual você
aprendeu as principais regras ou normas da língua padrão,
principalmente da modalidade escrita. Ela prescreve o que é
considerado correto e reprova o que é errado de acordo com a norma
culta, a única considerada como válida. Por isso mesmo, a gramática
normativa também é denominada “gramática prescritiva”.
A gramática normativa tende a
considerar apenas os fatos da
língua escrita, tomando a variedade
oral da norma culta como idêntica à
escrita. Apresenta uma descrição do
padrão culto da língua e dita normas
de bem falar e escrever, valorizando
a correção gramatical.
Históricos 
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(TRAVAGLIA, 2001, p. 30-31)
Oswald de Andrade (1890-1954), no poema Pronominais, publicado em
1925, já retratava de forma irreverente e provocativa a imposição das
regras da gramática normativa e a dificuldade de seu uso na fala das
pessoas despreocupadas com a norma culta ou mesmo sem o seu
domínio. Vamos ler o poema a seguir:
Pronominais
(Oswald de Andrade)

Pronominais
(Oswald de Andrade)
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
O poema é um interessante registro literário da variação linguística em
função de diferentes modalidades (escrita e oralidade) e diferentes
grupos ou classes sociais (letrados e não letrados).
O poema opõe os usos do pronome “me”:
Dê-me um cigarro
Registro formal
Ênclise
Norma culta: não se
inicia frase com
pronome átono antes
do verbo (próclise), pois
o correto é o pronome
átono após o verbo
(ênclise).
Me dá um cigarro
Registro informal
Próclise
Forma coloquial:
inadequação
gramatical, a gramática
prescreve a ênclise.

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Ênclise
Quando o pronome é colocado após o verbo.
Próclise
Quando o pronome é colocado antes do verbo.
Segundo Travaglia (2001, p. 24), a gramática normativa pode ser
entendida, também, como “um manual com regras de uso da língua a
serem seguidas por aqueles que querem se expressar
adequadamente”. Assim, somente é abonado ou aceito pela gramática o
que obedece às normas do bom uso da língua, configurando o falar e o
escrever corretamente. Por isso, todas as outras formas de uso da
língua são consideradas desvios, erros, deformações ou degenerações.
Para encerrarmos os estudos deste módulo, observe os exemplos de
como a gramática normativa indica a formalidade de uso da língua:
Frequentemente, ouvimos na fala do indivíduo considerado culto
a seguinte frase:
O livro que eu gosto já está esgotado.
No entanto, a gramática normativa prescreve uma construção
diferente:
O livro de que eu gosto já está esgotado.
Essa prescrição é baseada no fato de que, de acordo com a
norma culta, a regência do verbo gostar exige a preposição de.
Exemplo:
Eu gosto disso.
Como você deve ter aprendido na escola, eu é pronome pessoal
do caso reto e só pode ser usado na função de sujeito:
Com verbo no infinitivo: Não há nada entre eu sair e você
ficar em casa.
Regência do verbo “gostar” 
Uso de “entre eu” e “entre mim” 
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Sem verbo no infinitivo: Não há nada entre mim e você.
Vamos a outro exemplo de uso da norma culta em relação ao
uso ou não da fusão da preposição “de” com o pronome “ele”:
1) Dele quando corresponde a um pronome possessivo.
Exemplo:
A paciência dele acabou, e ele saiu da sala.
2) Dele quando corresponde à combinação da preposição de
com o pronome pessoal oblíquo tônico ele, na função de objeto
indireto.
Exemplo:
Ana gosta muito dele, e ele saiu da sala.
3) De ele como preposição de mais o pronome pessoal ele. Essa
combinação só pode ser usada quando ele for sujeito de uma
oração reduzida de infinitivo.
Exemplos:
Conversamos sobre isso de ele sair. (= de que ele saísse)
Apesar de ele ter comprado o carro, foi de táxi à festa.
O segredo é o verbo no infinitivo. Só podemos usar de ele
quando houver esse verbo.
Exemplo:
Fizemos a surpresa antes de ele chegar ao curso.
Veja ainda outra ocorrência na língua coloquial distinta do que
estabelece a gramática normativa:
Para mim ou para eu?
1) Eu é um pronome pessoal do caso reto e exerce a função de
sujeito.
2) Mim é um pronome pessoal oblíquo tônico, nunca exerce a
função de sujeito e, obrigatoriamente, deve ser usado com
Fusão da preposição “de” como pronome “ele” 
Uso de “para mim” e “para eu” 
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preposição: “a mim”, “de mim”, “entre mim”, “para mim”, “por
mim” etc.
Exemplos:
Ana trouxe o livro para eu ler. (= sujeito)
Ana trouxe o livro para mim. (= não é sujeito)
Exemplos:
Minha irmã saiu da festa antes de mim.
Ela voltou para o escritório antes de eu chegar.
Nossos professores fizeram isso por mim.
Mariana fez isso por eu estar cansada.
Observe, no entanto, a mudança no significado trazida pelo uso
da vírgula:
Para eu sair de casa, foi preciso organizar minhas finanças.
Para mim, vender meu primeiro imóvel foi uma grande conquista.
Na primeira frase, o pronome pessoal reto (eu) é o sujeito do
infinitivo (sair). Já na segunda frase, a vírgula indica que para
mim está deslocado. Nesse caso, devemos usar o pronome
oblíquo (mim), pois ele não é o sujeito do verbo vender.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Qual opção apresenta o uso da língua portuguesa conforme a
norma culta e a gramática normativa?
A Eu vi ela ontem na biblioteca.
B A gente sempre vamos naquele barzinho.
C Me empresta o carregador de celular.
D Nós vamos ao cinema.
E A diretora pediu para eu vim aqui.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
A opção D deve ser assinalada porque o uso do pronome pessoal
“nós” e da forma verbal “vamos” é aceito pela gramática normativa.
A opção A deveria trazer “Eu a vi” no lugar de “Eu vi ela”. A
alternativa B deveria ser, de acordo com a norma culta, “Nós sempre
vamos àquele barzinho”. A opção C deveria trazer “Empresta-me”
em vez de “Me empresta”. A opção E deveria trazer “eu vir aqui” no
lugar de “eu vim aqui”.
Questão 2
Conhecer e dominar a norma culta implica
Parabéns! A alternativa C está correta.
A
utilizar indistintamente as prescrições da gramática
normativa em qualquer situação, formal e informal,
e com qualquer interlocutor, letrado e não letrado,
não importando se somos compreendidos ou não.
B
comparar a língua a um guarda-roupa no qual existe
somente vestuário a ser usado em situações muito
formais.
C
usar a língua adequadamente, conforme cada
situação e interlocutor, como se fosse um guarda-
roupa no qual existem vestuários para diversas
ocasiões.
D
frustrar as expectativas da comunidade linguística à
qual pertencemos, ou seja, os segmentos sociais
com alto grau de escolaridade.
E
escrever corretamente e estigmatizar as variedades
linguísticas.
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A língua pode ser comparada a um guarda-roupa que dispõe de
peças para usarmos em qualquer situação. Quando dominamos a
norma culta, teremos vestimenta adequada para qualquer situação
formal. A alternativa A está incorreta porque as situações informais
e os interlocutores não letrados podem exigir eventualmente de nós
um uso coloquial da língua para que a comunicação aconteça. A
opção B está incorreta porque a imagem da língua como um
guarda-roupa deve incluir peças para qualquer situação, tantos as
formais quanto as informais. A opção D está incorreta porque o
domínio da norma culta não frustra uma comunidade linguística
altamente letrada ou escolarizada. A alternativa E está incorreta
porque o domínio da língua culta não deve nos levar a estigmatizar
ou ridicularizar os demais usos da língua.
Considerações �nais
Como temos visto, a gramática normativa está mais voltada para a
variedade escrita da língua e se ocupa com a manutenção de regras
consideradas próprias da língua culta ou de prestígio.
Há, sem dúvida, uma tradição em se prestigiar a língua escrita.
Possivelmente por ter características mais conservadoras, transformar-
se mais lentamente e estar sob a proteção da ortografia.
A escrita manifesta-se sempre em descompasso com as
transformações da fala, cuja dinâmica do uso lhe traz alterações
contínuas, naturais e bem mais velozes. Mas, como você aprendeu aqui,
tanto a escrita quanto a fala de uma língua apresentam variações e
mudam com o tempo e com os inúmeros estímulos que recebem.
Estudar a língua portuguesa levando em conta o fenômeno da variação
linguística e o entendimento do que vêm a ser a norma culta e a
gramática normativa ajudará, certamente, você a se apropriar cada vez
mais dos recursos da língua para um uso adequado às diversas
situações comunicativas.
d

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Podcast
Neste podcast, os professores Luís Cláudio Dallier, Fábio Simas e
Guilherme Cardoso falam sobre norma culta e variação linguística.
Explore +
Sobre variação linguística regional, leia: Português do Brasil e
português de Portugal.
Referências
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo:
Contexto, 2005.
BECHARA, E. 3 questões sobre língua portuguesa. Folha de S. Paulo,
São Paulo, 2 jul. 2000. Mais!, p. 3.
COSERIU, E. Lições de Linguística Geral. Rio de Janeiro: Ao livro técnico,
1980.
SALDANHA, L. C. D. Bibliotecas imaginárias e o livro eletrônico:
possiblidades do texto no ciberespaço. Revista Philologus, v. 21, p. 26-
37, 2001.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de
gramática. 9. ed. rev. São Paulo: Cortez, 2001.
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00227/docs/2_explore.pdf
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20/03/2024, 15:15 Texto e discurso
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Texto e discurso
Prof. Luís Cláudio Dallier Saldanha
Descrição
Os conceitos de texto e de discurso, a distinção e a complementaridade
entre eles, bem como uma caracterização dos gêneros textuais e alguns
cuidados necessários na produção e leitura de textos.
Propósito
Compreender o conceito de texto, discurso e gênero textual para
identificar estratégias e cuidados necessários à elaboração e à leitura de
um texto.
Objetivos
Módulo 1
Conceitos de texto e de discurso
Distinguir os conceitos de texto e de discurso.
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Módulo 2
A elaboração do texto
Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção
textual.
Módulo 3
Gêneros textuais
Reconhecer o conceito de gêneros textuais e suas implicações na
leitura de textos.
A escrita e a leitura são duas práticas fundamentais na vida
acadêmica e profissional. Vivemos num mundo letrado, em
ambientes físicos ou virtuais que são povoados por textos. Cada
texto desempenha uma determinada função, atende a um objetivo,
está relacionado com certa prática social ou situação de
comunicação e interação.
Escrevemos textos para serem lidos e lemos textos que foram
escritos com determinadas intenções. Tudo isso nos conduz à
relação entre texto, discurso e gêneros textuais. Por isso, vamos
estudar esses conceitos e conhecer algumas recomendações para
ler e escrever melhor.
Vamos aos estudos!
Introdução
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1 - Conceitos de texto e de discurso
Ao �nal destemódulo, você será capaz de distinguir os conceitos de
texto e de discurso.
Introdução
Todas as vezes em que você se comunica ou interage com alguém, há
sempre uma intenção ao falar ou ao escrever.
Dependendo dessa intenção ou da finalidade do ato de comunicação,
haverá maneiras diferentes de construir sua fala e sua escrita, ou seja,
você acabará usando modos específicos para se expressar ou interagir
por meio da língua.
As formas características do uso da língua se
manifestam em determinadas estruturas, isto é, dito de
outra forma, aparecem em modos peculiares de
organizar o discurso ou o ato de comunicação.
Independentemente da finalidade, sua escrita ou sua
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fala se organizam a partir de estruturas definidas, que
muitas vezes até passam despercebidas.
Vejamos a seguinte situação:
Imagine que Rodrigo chegou em casa ansioso por contar algo que
aconteceu no trabalho, uma situação ocorrida que lhe deu muita
esperança de ser promovido.
Falamos e escrevemos com as mais diferentes intenções, adequando
nosso ato de comunicação a partir delas, por isso devemos concluir que
há diversas formas de organizar o discurso. Isso também implica dizer
que existem diversos gêneros textuais, além daquelas moda lidades que
você deve ter aprendido na escola, como narração, descrição e
dissertação.
No diálogo acima, qual modalidade você acha que
Rodrigo utilizou para contar o fato ocorrido?
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
Narração
Ao contar o episódio, tentando mostrar as chances de ter uma
promoção, ele utilizou aspectos característicos da narração, que é
um tipo específico de se organizar o discurso, assim como nós
fazemos comumente no dia a dia.
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Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu
conta de elementos típicos da narração, como: personagem,
espaço, tempo etc.
Para compreender tudo isso e identificar possíveis aplicações no uso da
língua, você aprenderá os conceitos de discurso e de texto para, então,
verificar como o conhecimento dos diferentes gêneros textuais o
ajudará a escrever e a ler melhor.
Conceitos de texto e de
discurso
Para distinguir texto e discurso, primeiramente é preciso conceituá-los,
além de identificar a utilidade dessa distinção. Mas, em vez de começar
logo com uma definição, vamos pensar um pouco sobre a prática, ou
seja, vamos considerar uma situação concreta de uso da língua. Imagine
que alguém diga a um colega o seguinte:
A resposta "sei" provavelmente frustrou quem perguntou. A decepção ou
mesmo o estranhamento diante de tal resposta ocorre porque a
intenção de quem pergunta não é obter uma informação sobre o
conhecimento ou não do horário, mas pedir um dado que traga sentido,
referência e clareza.
A intenção de quem pergunta é um elemento
fundamental na enunciação, assim como a forma
como o texto é recebido pelo enunciatário.
Enunciação
O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que a
língua é colocada em funcionamento por um enunciador (aquele que fala
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ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou
se escreve).
O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos
da linguagem, o conceito de enunciação, assim como tantos outros,
apresenta variações na forma como é definido, conforme a abordagem
teórica em que seja tomado.
A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso da nossa
hipotética situação de comunicação, pode-se imaginar a presença
explícita dessa enunciação do seguinte modo:
É possível que um texto não explicite as intenções do autor, ou seja, a
enunciação pode estar implícita. Nesse caso, será preciso ouvir ou ler o
texto, entendê-lo e perceber as intenções do autor. Teremos, então, uma
decodificação desse texto.
Além da intenção, que pode estar implícita ou explícita na interação por
meio da linguagem, temos sujeitos que interagem em determinado
tempo ou contexto a partir de um texto ou mensagem.
Os aspectos relacionados com a pessoa (quem
fala/ouve ou quem escreve/lê) e com o tempo (em que
momento ou contexto a comunicação se dá) também
fazem parte da enunciação.
Mesmo que esses aspectos nem sempre estejam explicitados ou claros
no texto, a produção textual envolve os seguintes elementos da
enunciação:
intenção;
interlocutores; e
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contexto.
Sobre a enunciação, Antônio Suárez Abreu diz o seguinte:
O entendimento do texto implica a
decodificação da intenção de quem
o produziu, por isso mesmo, às
vezes, pode-se perguntar: mas o que
é que você quis dizer com isso?
Temos, assim, uma pergunta sobre
a enunciação.
(ABREU, 2004, p. 10)
A partir dessa abordagem inicial sobre enunciação, vamos a uma
primeira caracterização de texto e de discurso. Segundo Abreu (2004),
podemos dizer que:
O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo e, muitas
vezes, com algumas marcas da enunciação que nos ajudarão na
tarefa de decodificá-lo.
20/03/2024, 15:15 Texto e discurso
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O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia quando o emissor
realiza o processo de codificação e só termina quando o
destinatário cumpre sua tarefa de decodificá-lo. Por isso, também
se afirma que o discurso é histórico.
Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser
considerado algo acabado e estático. No entanto, o discurso teve seu
início juntamente com o texto e vai se completando à medida que o
texto vai sendo lido por seus leitores. Por isso, Abreu nos afirma que o
discurso
[...] é sempre dinâmico e pode ser
repetido infinitamente, sempre de
formas diferentes, dependendo dos
repertórios de seus leitores.
(ABREU, 2004, p. 12)
As concepções de texto e de discurso nos permitem, então, mais do que
fazer uma distinção, perceber que eles são complementares.
Discurso é o texto em atividade comunicativa; vindo a
público e se realizando.
É bom observar que o texto pode ser escrito ou oral, embora
enfatizemos na maioria das vezes o texto escrito. O discurso também
pode se realizar tanto a partir de um texto escrito quanto de um texto
oral.
Atenção
Não confunda discurso com a fala de um orador!

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Compreendendo texto e
discurso
O professor Luís Cláudio Dallier e o linguista Antônio Suárez Abreu
retomam o conceito de texto e discurso com alguns exemplos práticos.
Podemos, então, concluir que todas as vezes que escrevemos ou
falamos temos um texto que se realiza como discurso. Isso acontece
porque quem fala e escreve tem uma intenção ou objetivo contido na
mensagem e até na forma de comunicá-la. Quem ouve e lê precisa
decifrar (compreender) a mensagem e a sua intenção a partir do próprio
conhecimento de mundo e, claro, do próprio texto.
Mas, você pode se perguntar:
Para que serve definir texto e discurso, além de fazer a
distinção entre eles? Qual a utilidade desses
conceitos?
Essas perguntas são muito importantes e serão respondidas na
continuidade deste material. Mas, antes, verifique se você de fato
aprendeu o que é um texto e um discurso realizando as atividades a
seguir.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A enunciação é um conceito importante para compreender o que é
um discurso, além da distinção e complementaridade entre texto e
20/03/2024, 15:15 Texto e discurso
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00234/index.html#imprimir 10/38
discurso.

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