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Linguagem Verbal e Não Verbal

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DESCRIÇÃO
Neste tema, são abordadas a distinção entre linguagem verbal e linguagem não verbal, as
principais concepções de linguagem e as implicações dessas concepções no uso da língua.
Esses elementos são fundamentais para compreensão da linguagem e de suas interferências
no uso da Língua Portuguesa.
PREPARAÇÃO
Este tema tem como propósito a compreensão da diferença entre linguagem verbal e não
verbal, as concepções de linguagem que geralmente adotamos, e as consequências de tais
concepções no uso cotidiano da língua.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal
MÓDULO 2
Reconhecer as três principais concepções de linguagem
MÓDULO 3
Identificar implicações de diferentes concepções de linguagem no uso do português
INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar em quantos anos estudou a Língua Portuguesa na escola?
Sabe a quantidade de regras gramaticais que tentou decorar ou de páginas que escreveu nas
aulas de redação?
Para muita gente, estudar Português é algo chato, relacionado à decoreba de regras
gramaticais ou à produção de textos com pouca conexão com o mundo real da comunicação.
Se essa foi a sua experiência, já adiantamos que você é convidado a olhar a Língua
Portuguesa de outra forma. Caso sua relação com o idioma ao longo de vários anos na escola
tenha contribuído para melhorar o uso da nossa língua, aqui você vai aprender ainda mais.
MÓDULO 1
 Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal
Vamos começar com a leitura de um poema para pensar um pouco sobre nossa experiência
com a Língua Portuguesa.
O título do poema é Aula de Português e foi escrito por Carlos Drummond de Andrade.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poeta mineiro, foi um dos principais nomes do Modernismo brasileiro. Entre suas
principais obras, estão os livros: Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940) e A
Rosa do Povo (1945). Um de seus poemas mais conhecidos é No meio do caminho, que
tem os famosos versos No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio
do caminho.
AULA DE PORTUGUÊS
Carlos Drummond de Andrade
 
A linguagem 
na ponta da língua, 
tão fácil de falar 
e de entender
A linguagem 
na superfície estrelada de letras, 
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, 
e vai desmatando 
o amazonas de minha ignorância. 
Figuras de gramática, esquipáticas, 
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
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Já esqueci a língua em que comia, 
em que pedia para ir lá fora, 
em que levava e dava pontapé, 
a língua, breve língua entrecortada 
do namoro com a prima. 
O português são dois; o outro, mistério.
 
O PORTUGUÊS QUE VOCÊ APRENDEU NA
ESCOLA AINDA É UM MISTÉRIO, ALGO
DISTANTE?
O poema apresenta dois tipos de linguagem: a linguagem informal do cotidiano, que não
precisa ser aprendida na escola, e a linguagem formal do professor ou dos livros, aprendida
na sala de aula. No último verso, isso é resumido na frase “O português são dois”.
LINGUAGEM INFORMAL
LINGUAGEM FORMAL
Assim como Drummond entende que existem duas linguagens (formal e informal),
precisamos entender que há diversos tipos de linguagem. Vamos conhecê-los para
compreender por que o português é uma das que dispomos para a comunicação.
LINGUAGEM VERBAL E LINGUAGEM NÃO
VERBAL
A linguagem constitui todos os sistemas de sinais ou signos convencionais que nos permite
a comunicação.
Mas, espera... Signo? O que é isso?
Vídeo com libras
Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há diferentes tipos de
linguagem. A linguagem humana, por exemplo, pode ser verbal e não verbal.
 SAIBA MAIS
Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal. O semáforo é outro exemplo
de linguagem não verbal.
Vejamos mais detalhes sobre a relação das linguagens verbais e não verbais na galeria a
seguir:
 
Imagem: Shutterstock.com
LÍNGUA E LINGUAGEM VERBAL SÃO TERMOS
CORRESPONDENTES.
A partir da caracterização da linguagem verbal como uma linguagem humana que utiliza a
palavra, perceba que a língua é um tipo de linguagem, mas ela não é a única linguagem de que
dispomos.
Ou seja, a língua é uma linguagem humana específica, baseada na palavra.
 
Foto: Shutterstock.com
EXPRESSÃO CORPORAL? LINGUAGEM
MUSICAL?
A música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que pertencem a outro tipo de
linguagem humana, já denominada aqui como linguagem não verbal. Por isso, são comumente
usadas expressões como linguagem da música, linguagem corporal, linguagem pictórica>
etc.
 
Foto: Shutterstock.com
ASSOCIAÇÃO INERENTE
“Que outro ser tem gestos significativos, pinta, fotografa, faz cinema? Compreende-se, assim,
que o homem e a linguagem se relacionam de forma a não se conceberem um sem o outro e
que a linguagem está indissoluvelmente associada com a atividade mental humana, a qual,
absolutamente, não se manifesta só pelo verbal” 
(PALOMO, 2001).
 
Imagem: Shutterstock.com
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INTEGRAÇÃO ENTRE AS LINGUAGENS VERBAL
E NÃO VERBAL
Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem verbal (a fala) e
da linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.).
A história em quadrinhos é outro exemplo de integração de linguagem verbal e não verbal.
LINGUAGEM PICTÓRICA
Linguagem pictórica é toda e qualquer manifestação de linguagem imagética – fotografia,
pinturas, desenhos, iluminuras – que possuem características singulares em relação ao
duplo processo de produção e reprodução da própria produção. O texto representado
pelas figuras que marcam e estruturam para nós significados são, no limite, a linguagem
imagética.
A distinção entre linguagem verbal e não verbal não deve levar você a concluir que a
comunicação acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de linguagem.
 
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
Com as tecnologias digitais e a internet, essa integração entre linguagem verbal e não verbal
fica muito evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons e outros recursos para
interagir nas redes sociais. É cada vez mais comum trocarmos mensagens em que a escrita se
mistura com emojis ou emoticons.
 ATENÇÃO
Este material didático é um exemplo de integração entre diferentes tipos de linguagem,
articulando texto escrito com vídeo, podcast , imagens e símbolos.
Tudo isso é possível por causa de outra integração: convergência entre diferentes mídias
formando o que tem sido chamado de hipermídia. É como se o livro impresso, o rádio, a
televisão e o computador estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim,
hoje em dia, fala-se de uma linguagem hipermidiática, um bom exemplo dessa integração de
linguagem verbal e não verbal.
É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos de comunicação. Mas
você deve reconhecer que a linguagem não verbal está associada intimamente a nossas
atividades e possui também sua relevância. Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa
num texto escrito também dizem muito e, às vezes, até contradizem o que falamos ou
escrevemos.
Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca os olhos
num ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas ou balança pernas e pés num movimento
frenético. Dificilmente essa pessoa vai convencer o outro de que está calma.
Assim, ao fazermos a distinção entre linguagem verbal e não verbal não queremos sugerir que
apenas uma delas seja importante e precise ser cuidada.
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinais ou signos, que permitem a
comunicação entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na palavra escrita ou oral,
ele é identificado como linguagem verbal. Os demais tipos de signos formam outro conjunto de
linguagens denominado linguagem não verbal, como é o caso da pintura e dos gestos.
A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se intensificoucom as tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A OPÇÃO QUE DESCREVE A SITUAÇÃO EM QUE APARECE
APENAS O USO DA LINGUAGEM VERBAL.
A) Um gerente gesticulando e falando alto.
B) A escrita do professor na lousa.
C) Um ator representando uma ação dramática no palco.
D) Um instrutor sinalizando com as mãos para o operador de máquinas.
2. É CORRETO AFIRMAR QUE A LÍNGUA:
A) Corresponde à linguagem verbal.
B) Constitui exemplo de linguagem não verbal.
C) Deve ser considerada linguagem verbal somente na modalidade falada.
D) Não é utilizada integrada ou articulada com outras formas de linguagem.
GABARITO
1. Assinale a opção que descreve a situação em que aparece apenas o uso da linguagem
verbal.
A alternativa "B " está correta.
 
A escrita é uma linguagem verbal. Nas demais alternativas, temos a presença de linguagem
não verbal, como é o caso dos gestos na alternativa A, da representação teatral na alternativa
C e do gestual na opção D.
2. É correto afirmar que a língua:
A alternativa "A " está correta.
 
A língua é linguagem verbal, ou seja, baseada na palavra. A palavra, elemento central da
linguagem verbal, pode ser tanto oral quanto escrita, por isso, a alternativa C está incorreta. A
opção D está incorreta porque a língua pode ser utilizada de forma integrada a outras
linguagens, como acontece nas histórias em quadrinhos.
MÓDULO 2
 Reconhecer as três principais concepções de linguagem
Depois de fazer a distinção entre linguagem verbal e não verbal, é hora de prosseguir e
apresentar as três principais concepções de linguagem.
Veja quais são elas a seguir.
 
LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO
PENSAMENTO
De acordo com essa concepção, a linguagem corresponde a uma expressão que se constrói
no interior da mente e tem, na exteriorização, apenas uma tradução. A linguagem é entendida
como uma forma de expressar pensamentos, sentimentos, intenções, vontades, ordens,
pedidos etc.
 
Foto: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
Nessa forma de entender a linguagem, a intenção de expressar alguma coisa é um ato
monológico. Isso quer dizer que a enunciação ou o ato de fala (o modo como nos
expressamos) está centrado na pessoa que se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta
importância ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece.
MONOLÓGICO
O uso do termo monológico (mono = um, único; logos = discurso racional) não se
apresenta como a fundamentação de um tipo de teoria da comunicação, que defende o
discurso como ato centrado apenas no emissor da fala. Apenas quer mostrar que, nesta
concepção da linguagem, tal ato ainda está centrado na necessidade individual de se
comunicar.
O USO DA LÍNGUA É VISTO COMO ALGO QUE
SE LIMITA A QUEM FALA OU ESCREVE.
Não há preocupação sobre como o outro vai ler ou ouvir nossa mensagem. Assim, a
exteriorização do “pensamento por meio de uma linguagem articulada e organizada” depende
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da capacidade de organizar, de maneira lógica, esse mesmo pensamento (TRAVAGLIA, 2003,
p. 21).
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e escrever bem conforme a
gramática normativa) depende das regras às quais o pensamento lógico deve estar sujeito.
Dessa forma, se as pessoas não se expressam bem ou não usam a língua corretamente, isso
acontece porque elas não estão pensando corretamente. A solução, então, para expressar
adequadamente o que se está pensando é a internalização das regras gramaticais e de seu
adequado uso.
 ATENÇÃO
Mas há um problema: esta concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a
linguagem funciona, pois há outros aspectos envolvidos além da intenção de exteriorizar o que
pensamos. Não é o caso de afirmar que a concepção está errada. Precisamos avançar e
verificar outras formas complementares de compreender a linguagem.
LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE
COMUNICAÇÃO
A linguagem deve ser compreendida além de sua função de expressar o que pensamos ou
sentimos, pois, ao nos expressarmos, nos dirigimos a alguém, ou seja, comunicamos algum
tipo de mensagem para uma ou mais pessoas. Por isso, há outra concepção de linguagem que
compreende a língua, por exemplo, como um código por meio do qual elaboramos nossas
mensagens para serem comunicadas.
A língua é tomada predominantemente como um código, que deve ser utilizado com eficiência,
ou seja, deve tornar inteligível a mensagem que se quer comunicar, levando o receptor a
responder adequadamente ao objetivo da comunicação.
CÓDIGO
O código é entendido como “um conjunto de regras que permite a construção e a
compreensão de mensagens. É, portanto, um sistema de signos. A linguagem é, por
conseguinte, um dentre outros códigos (código marítimo, código rodoviário)”. Dentre
todos os outros códigos, a linguagem verbal, seja escrita ou oral, é o único código que
“pode falar dos próprios signos que os constituem ou de outros signos” (VANOYE, 1987).
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Foto: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua ou outro, precisa ser
conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor para que a comunicação se realize. O uso do
código, no caso, a própria língua, “é um ato social, envolvendo consequentemente pelo menos
duas pessoas”. Por isso, “é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante,
preestabelecida, convencionada para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p.
22).
 ATENÇÃO
A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem, porém, uma limitação. É
uma concepção centrada no código, ou seja, voltada principalmente para o funcionamento
interno da língua ou de outra linguagem utilizada, deixando de lado aspectos como a relação
entre a linguagem e o contexto social e histórico. Por isso, você precisa conhecer outra
concepção de linguagem, que permita avançar na compreensão da linguagem e seus usos.
LINGUAGEM COMO LUGAR OU
EXPERIÊNCIA DE INTERAÇÃO HUMANA
Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do pensamento e,
também, vai além da transmissão de informação ou da comunicação. Ao usar a língua, o
indivíduo realiza ações, age, atua sobre o interlocutor. A linguagem, aqui, é um “lugar de
interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre
interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e
ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente alguma
coisa, na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores “interagem enquanto
sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com as
formações imaginárias (imagens) que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais”
(TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Para ilustrar, veja um exemplo:
Todos já observaram uma situação em que a identificação apenas da linguagem oral entre dois
sujeitos corresponderia a um ato comunicativo direto. No entanto, notamos que a interação
social faz com que aquilo que é dito seja muito maior.
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos mãe e filha
interagindo, em que a primeira faz referência ao comportamento da segunda, com uma ordem
direta.
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
A reação da filha cria em nós, observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e
interações que nos remetem à própria relação familiar.
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
TUDO QUE FALAMOS E OUVIMOS TEM O
PODER DE PROVOCAR REAÇÕES, PRODUZIR
MUDANÇAS, DESPERTAR SENTIMENTOS E
PAIXÕES, DESENCADEAR PROCESSOS E
AÇÕES.
Se um agente da lei, dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não
está simplesmenteexteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não é
mesmo?
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
Quando consideramos as palavras de um juiz ao proferir essa célebre frase clássica, temos um
exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que expressão do pensamento ou
comunicação de uma informação.
Nesse caso, a fala da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico.
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptado por João Paulo Gonçalves
 ATENÇÃO
O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como interação social, constituindo-
se numa dimensão privilegiada do uso da língua. Para estar inserido na vida em sociedade, é
preciso que a língua seja utilizada para favorecer a abertura ao diálogo, a interação entre as
pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou seja, o que falamos e escrevemos se
relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao longo da vida.
DIÁLOGO
(Dia = separação, confronto; logos = discurso racional) apresenta-se como a exigência
de, pelo menos, dois interlocutores no ato da fala, que é diferente da concepção
monológica vista anteriormente. Trata-se, sem dúvida, de apresentar uma
intencionalidade por parte daquele que fala.
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Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para além da sua
finalidade de comunicação e da divisão entre linguagem verbal e não verbal. A linguagem pode
ser concebida como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e, mais
adequadamente, como lugar de interação humana.
 
As três concepções da linguagem podem ser resumidas da seguinte forma:
EXPRESSÃO DO PENSAMENTO
A expressão se constrói no interior da mente
Ato monológico, individual
Regras para a organização lógica do pensamento: gramática normativa
Para quem se fala, em que situação e para que se fala não são preocupações no uso da
língua
COMUNICAÇÃO
Meio objetivo para a comunicação
A expressão nasce da necessidade de se comunicar
Troca de mensagens entre emissor e receptor
Existência de códigos para a eficiência da comunicação
Preocupação com o meio, o destinatário, a mensagem e a utilização eficiente do código
INTERAÇÃO HUMANA
Experiência de interação humana
A expressão é também ação
Privilegia o diálogo e a interatividade
Valorização do contexto dos usuários da língua e adequação no uso da língua
Preocupação com as dimensões afetivas e sociais
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO É:
A) Concepção que enfatiza o código utilizado na comunicação de uma mensagem.
B) Conceito que se caracteriza pela preocupação com o modo pelo qual o outro vai ler ou ouvir
a mensagem.
C) Entendimento mais amplo da língua, que valoriza o contexto social e histórico da situação
de comunicação.
D) Abordagem centrada na pessoa, que se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta
importância ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece.
2. A CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM COMO EXPERIÊNCIA DE INTERAÇÃO
HUMANA ESTÁ ASSOCIADA A SEGUINTE AFIRMAÇÃO:
A) O uso da língua serve apenas para expressar o pensamento.
B) O diálogo, a interação e a atuação sobre o outro são características importantes da
linguagem.
C) Falamos ou escrevemos corretamente somente quando pensamos corretamente.
D) A internalização das regras gramaticais serve para adestrar e organizar o pensamento.
GABARITO
1. A linguagem como expressão do pensamento é:
A alternativa "D " está correta.
 
A opção correta é a letra D porque a concepção da linguagem como expressão do pensamento
valoriza quem se expressa, deixando de lado o interlocutor e o contexto em que a linguagem é
usada. A opção A corresponde à concepção de linguagem como instrumento de comunicação.
As opções B e C referem-se à concepção de linguagem como experiência de interação
humana.
2. A concepção de linguagem como experiência de interação humana está associada a
seguinte afirmação:
A alternativa "B " está correta.
 
Alternativa correta é a opção B porque o diálogo e a interação são privilegiados na concepção
de linguagem como lugar de interação. As opções A, C e D estão incorretas porque se referem
à concepção de linguagem como expressão do pensamento. A opção B está correta porque
trata de uma característica da concepção de linguagem como forma de interação.
MÓDULO 3
 Identificar implicações de diferentes concepções de linguagem no uso do português
SOBRE AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
Para começarmos a explorar este assunto, o professor Luíz Cláudio Dallier propõe uma
reflexão.
Vídeo com libras
No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para perceber como elas
possuem um aspecto prático no uso cotidiano do idioma, compreendemos como a concepção
da linguagem como interação pode nos auxiliar nessa construção.
Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e nosso
humor. O que falamos também provoca efeitos e reações no outro.
 
Imagem: Shutterstock.com
Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch em seu livro A interação pela linguagem
sobre esse aspecto:
INGEDORE VILLAÇA KOCH
Doutora em Língua Portuguesa, professora universitária e autora de diversas obras sobre
Linguística Aplicada, coerência textual, argumentação e linguagem.
Fonte: Escavador.
DURANTE SÉCULOS, A LINGUAGEM FOI
CONSIDERADA UM INSTRUMENTO PASSIVO DE
COMUNICAÇÃO, QUE PERMITIA AO SER HUMANO
APENAS DESCREVER O QUE PERCEBIA, SENTIA OU
PENSAVA. HOJE SE RECONHECE QUE, AO FALAR, O
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INDIVÍDUO NÃO SÓ DESCREVE O QUE OBSERVA,
MAS ATUA NO MUNDO E FAZ COM QUE CERTAS
COISAS ACONTEÇAM. POR MEIO DA LINGUAGEM,
ELE TAMBÉM PODE MODIFICAR SUAS RELAÇÕES
COM OS DEMAIS E DESENVOLVER SUA PRÓPRIA
IDENTIDADE.
(...) É PRECISO PENSAR A LINGUAGEM HUMANA
COMO LUGAR DE INTERAÇÃO, DE CONSTITUIÇÃO
DAS IDENTIDADES, DE REPRESENTAÇÃO DE PAPÉIS,
DE NEGOCIAÇÃO DE SENTIDOS, POR PALAVRAS, É
PRECISO ENCARAR A LINGUAGEM NÃO APENAS
COMO REPRESENTAÇÃO DO MUNDO E DO
PENSAMENTO OU COMO INSTRUMENTO DE
COMUNICAÇÃO, MAS SIM, ACIMA DE TUDO, COMO
FORMA DE INTERAÇÃO SOCIAL.
(KOCH, 2003)
AS IMPLICAÇÕES NO USO DO PORTUGUÊS
Quando entendemos que a linguagem é mais do que expressão ou espelho do pensamento,
que vai além de ser veículo de comunicação, devemos considerar nossas intenções na
produção dos textos e o impacto naqueles que vão ouvir ou ler nossas palavras. Também
devemos dar atenção ao contexto em que a mensagem é produzida e às possíveis situações
em que será recebida.
Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns elementos podem ser
desejáveis no seu uso:
Clareza e precisão no que queremos comunicar
Cortesia, polidez e tom cordial
Abertura ao diálogo
Sustentação de um posicionamento sem desmerecer a opinião do outro
Uso de recursos persuasivos
Se queremos manter o diálogo e construir pontes, devemos cuidar da maneira como falamos,
escolhendo as palavras e o tom mais apropriado.
Por isso, ao estudar a linguagem é preciso compreender que não basta escrever e falar com
correção gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas qualidades importantes, nosso
texto escrito ou oral deve promover o diálogo, a interação e as condições para mantermos
relações civilizadas. É interessante lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que
o candidato pode ser desclassificado ao escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos
ou usando linguagem antissocial e inadequada.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. COMPREENDER O CONCEITO DE LINGUAGEM COMO EXPERIÊNCIA
DE INTERAÇÃO HUMANA E SOCIAL IMPLICA OS SEGUINTES CUIDADOS
NO USO DA LÍNGUA PORTUGUESA:
A) Aplicar regras gramaticais para deixar os textos muito formais.
B) Dizer sempre o que pensamos sem nos preocuparmos como o outro vai nos ouvir.
C) Deixar de lado nossas intenções e o contexto histórico-social na produção dos textos.
D) Falar ou escrever buscando abertura ao diálogo e se posicionando sem desmerecer a
opinião do outro.
2. SE EM UMA REUNIÃO DETRABALHO VOCÊ PRECISAR DISCORDAR
DE UM COLEGA, MANTENDO ABERTURA AO DIÁLOGO E INTERAGINDO
SEM DESMERECER A OPINIÃO DO OUTRO, O QUE NÃO SERIA
APROPRIADO DIZER?
A) Sua opinião está completamente errada e vai prejudicar totalmente o projeto.
B) É possível que sua opinião precise ser revista, já que sua ideia pode trazer algum prejuízo
ao projeto.
C) Tenho dificuldades de concordar com sua opinião, pois ela me parece trazer dificuldades ao
projeto.
D) Talvez você tenha se equivocado, pois não consigo identificar de que modo sua proposta
contribui para o projeto.
GABARITO
1. Compreender o conceito de linguagem como experiência de interação humana e
social implica os seguintes cuidados no uso da Língua Portuguesa:
A alternativa "D " está correta.
 
A opção correta é a letra D porque compreender a linguagem como interação é ter cuidado
com efeitos e reações provocados no outro diante do que dizemos e da forma como dizemos.
2. Se em uma reunião de trabalho você precisar discordar de um colega, mantendo
abertura ao diálogo e interagindo sem desmerecer a opinião do outro, o que não seria
apropriado dizer?
A alternativa "A " está correta.
 
A alternativa A é a mais apropriada porque ela evidencia uma fala em que se sustenta um
posicionamento ou uma opinião sem abertura para algum questionamento ou mesmo diálogo.
As demais alternativas apresentam formas de expressar a discordância em que se destacam a
cortesia, a polidez e a abertura ao diálogo e/ou continuidade de debate.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a Língua Portuguesa na
expressão do nosso pensamento, nas situações de comunicação e nas interações com as
pessoas, precisamos conhecer a língua e aproveitar os recursos que ela nos oferece. Aqui,
você pôde observar parte desse conhecimento. Use o que você aprendeu para vivenciar novas
experiências com a Língua Portuguesa.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
DA SILVA. Filosofia da linguagem (1) - Da Torre de Babel a Chomsky. Disponível em:
https://educacao.uol.com.br/ disciplinas/ filosofia/filosofia-da-linguagem-1- da-torre-de-babel-a-
chomsky.htm. Acesso em: 08 dez. 2019.
KOCH, Ingedore. V. A interação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
MARCHEZINI-CUNHA, Vivian; TOURINHO, Emmanuel Zagury. Assertividade e Autocontrole:
Interpretação Analítico-Comportamental. Psicologia: Teoria e Pesquisa. abr-jun 2010. vol. 26
n. 2, p295-304. Disponível em: https://www.scielo.br/ pdf/ptp/ v26n2/a11v26n2.pdf.
ORLANDI, Eni P. O que é Linguística. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.
PALOMO, Sandra M. S. Linguagem e linguagens. In: Eccos Revista Científica. São Paulo,
UNINOVE, vol. 3, n. 2, dez. 2001.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, José L. (org.). Introdução à
Linguística I. São Paulo: Contexto, 2003.
TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed.
São Paulo: Cortez, 2003.
TRIGUEIRO, Osvaldo. O estudo científico da comunicação: avanços teóricos e metodológicos
ensejados pela escola latino-americana. Pensamento Comunicacional Latino Americano, v.
2, n. 2, jan.–mar., 2001.
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo:
Martins Fontes, 1987.
EXPLORE+
Assista:
Documentário As origens da linguagem, produzido pela Crescendo Films – NHK em 2008.
Disponível no Youtube.
Vídeo Comunicação animal da Khan Academy para uma breve e interessante abordagem da
Biologia Comportamental. Disponível no Youtube.
CONTEUDISTA
Luis Claudio Dalier Saldanha
 CURRÍCULO LATTES
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DESCRIÇÃO
Conhecimento de variação linguística, seus tipos e ocorrências. Apresentação da norma culta e
seu uso na comunicação.
PROPÓSITO
Apresentar os diferentes casos de variação linguística e as implicações do conceito de norma
culta no uso adequado da língua portuguesa.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer diferentes tipos e manifestações da variação linguística no português
MÓDULO 2
Esclarecer o conceito de norma culta e suas implicações no uso da língua portuguesa
MÓDULO 1
 Reconhecer diferentes tipos e manifestações da variação linguística no português
INTRODUÇÃO
O professor Luís Cláudio Dallier faz uma breve contextualização deste tema.
INTRODUÇÃO
Vídeo com libras.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: O QUE É?
A língua sofre variações ao longo do tempo, conforme o espaço geográfico, a estrutura social e
a situação ou o contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua está sujeita a passar por
modificações no tempo e no espaço a fim de satisfazer às necessidades de expressão e
de comunicação, individuais ou coletivas, de seus usuários.
ISSO É O QUE SE CHAMA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA.
Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se levarmos em conta uma
situação de comunicação qualquer, teremos alguns elementos que vão apontar para
variedades no uso da língua.
 
Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a situação ou com
o contexto, conforme o falante e as pessoas que ouvem (interlocutores), o assunto tratado ou
a intenção da mensagem. Perceba que a variação linguística corresponde a diferentes
ocorrências de uma mesma língua.
TIPOS DE VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
Sem nos preocuparmos muito com classificações técnicas e exaustivas, próprias da
Sociolinguística, podemos dizer que a variação linguística pode ser de, pelo menos, três
tipos:
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SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística é uma área da Linguística que trata das relações entre linguagem e
sociedade, estudando a função social da linguagem e a influência dos fatores sociais
sobre a língua.
ABORDAREMOS CADA UM DESSES TIPOS A SEGUIR.
 
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REGIONAL
Variações da língua numa perspectiva geográfica, originando os regionalismos. Manifestam-se,
principalmente, pelo sotaque e por palavras ou expressões utilizadas pelos falantes de
determinada região. Um exemplo desse tipo de variação são os falares ou dialetos.
Veja a diferença entre alguns falares no Brasil:
DIALETOS
São variações faladas por comunidades geograficamente definidas. Também
denominados “falares” por alguns linguistas.
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Êta que esse curso é bem arretado!
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As diferentes designações no Brasil para um mesmo referente ou aspecto da realidade é outro
exemplo de variação linguística na dimensão geográfica: macaxeira no nordeste, mandioca
em São Paulo e aipim no Rio de Janeiro correspondem à mesma raiz utilizada na culinária
nacional.
O professor Luís Cláudio Dallier explora mais essas diferenças entre as cidades do Rio de
Janeiro e São Paulo.
Vídeo com libras.
 ATENÇÃO
Não podemos afirmar que determinada região do país fala “o português mais correto”. Tal
afirmação é falsa, pois o que há são variações da língua portuguesa. A pronúncia do cearense
ou do carioca, por exemplo, não é errada ou certa, mas, simplesmente, o modo próprio de
articular os sons numa determinada comunidade linguística.
Sendo o português uma língua falada por diversas nações, em diferentes continentes, é
interessante lembrar que a língua também varia de um país para outro, tanto na fala quanto
na escrita. Ainda que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa procure padronizar a
grafia das palavras, há alguns aspectos na escrita que são peculiares em Portugal e outros no
Brasil.
 
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DE REGISTRO
Variações relacionadas com modalidades expressivas adotadas por um mesmo falante ou
segmento social em função do contexto, do interlocutor e das expectativas sociais.
De acordo com Coseriu (1980, p. 110-111), os registros linguísticos, ou estilos, são diferentes
porque as situações e os interlocutoresdiferem muito, bem como as expectativas sociais,
influenciadas pela cultura. Por isso, podemos perceber que, além dos registros individuais, há
aqueles que expressam a identidade de grupos profissionais ou biológicos (homens, mulheres,
jovens, crianças).
Os registros ou estilos se classificam em pelo menos três tipos:
GRAU DE FORMALISMO
Representa uma escala de formalidade no uso dos recursos da língua. Podemos ir de um estilo
muito informal e popular (troca despretensiosa de mensagens no WhatsApp, por exemplo) até
um excessivo grau de formalidade no uso da língua (redação de um ofício, por exemplo).
Simplificando, podemos afirmar que há pelo menos dois registros alusivos à
formalidade: formal e informal. Logo, os diferentes estilos corresponderão ao grau de
formalismo do contexto comunicativo, determinando as diferentes maneiras de usar a língua.
MODO
Representa as duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A língua falada pode usar
recursos como entonação, ênfase de termos ou sílabas, duração dos sons, velocidade em que
se dizem as sequências linguísticas etc. Além disso, a oralidade se caracteriza pelas
hesitações, repetições, retomadas, correções e outras marcas que não são comuns à escrita. A
escrita tende a ser mais formal e a fala mais informal, embora existam exceções; há textos
altamente formais na língua falada e outros extremamente informais na língua escrita.
SINTONIA
Representa o ajustamento na estruturação das mensagens do falante, com base em
informações específicas acerca do ouvinte ou leitor (status do interlocutor, tecnicidade do
conteúdo da mensagem, necessidade de cortesia no trato com o outro, norma a ser seguida
etc.). 
 
Imagine que um profissional da saúde, ao preparar ou orientar uma criança para determinado
procedimento, usará um registro ou estilo de linguagem distinto da linguagem usada com um
paciente adulto. Com a criança, por exemplo, o vocabulário será mais simples, com algumas
palavras no diminutivo, e o tom de voz mais afetivo. 
 
Pense em outra situação: você precisa recusar dois convites que recebeu, um da pessoa que
você namora e outro do diretor da empresa em que trabalha. Faz sentido usar as mesmas
expressões ou estilo ao responder a pessoas com as quais você tem diferentes graus de
intimidade? Certamente vamos usar estilos ou registros diferentes.
 
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SOCIAL
As diferentes formas de falar marcam os grupos sociais ou, até mesmo, a faixa etária de
determinado conjunto de pessoas. Ao ouvir alguém falando “percurá” (no lugar de procurar),
“iorgute” (em vez de iogurte), “os hôme” (e não os homens) ou “pra mim fazer” (no lugar de
para eu fazer), certamente você associará esse falante a um grupo social com baixa ou
nenhuma escolaridade.
A FALTA DE DOMÍNIO DA LÍNGUA PADRÃO,
PRESTIGIADA SOCIALMENTE, É UM INDICADOR DE
PERTENCIMENTO A DETERMINADO GRUPO SOCIAL.
As gírias usadas por um falante podem revelar também a que grupo social e à qual faixa etária
ele pertence. Do mesmo modo, os jargões técnicos podem indicar a atividade profissional de
quem os utiliza.
JARGÕES TÉCNICOS
Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Daí que
podemos falar em jargão dos médicos, jargão dos militares etc.
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 SAIBA MAIS
Ao ouvir expressões típicas do juridiquês ou do economês, por exemplo, você deve concluir
que os falantes são adultos, com alta escolaridade e pertencentes a determinado grupo
profissional.
JURIDIQUÊS
Juridiquês é uma palavra criada para designar o uso rebuscado e exagerado de jargão e
termos técnicos da área jurídica.
ECONOMÊS
Economês designa os termos técnicos ou jargões utilizados pelos economistas.
Note que o poema apresenta construções da língua portuguesa que são típicas de falantes de
classes sociais menos escolarizadas, revelando pronúncias contrárias à ortoepia, ou seja,
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distintas do que a norma gramatical determina. As pronúncias fora da norma gramatical, no
entanto, não impedem a comunicação e muito menos a construção dos telhados.
Embora se trate de uma variedade linguística desprestigiada socialmente, o poema não
estigmatiza essa variante linguística, pois sugere uma valorização do trabalho das pessoas
mais simples com o verso final: “E vão fazendo telhados”.
ORTOEPIA
Ortoepia é a parte da gramática que estabelece a pronúncia correta das palavras,
conforme a língua culta ou padrão.
A LINGUAGEM DA INTERNET
Além das variações linguísticas que você acabou de conhecer, também é importante prestar
atenção às alterações que a língua portuguesa apresenta nos meios digitais.
Com a Internet e os diversos recursos para escrever e falar usando um computador ou celular,
surge uma variedade linguística que recebeu o nome de Internetês.
Algumas características da variedade linguística na Internet são:
 
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Abundância de siglas e abreviaturas não convencionais, dando mais agilidade e velocidade à
escrita.
Criação de palavras novas e uso de gírias, com mais liberdade para expressar novos conceitos
ou adaptar termos de outras línguas.
 
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Estrangeirismos, usando e incorporando termos de outra língua, frequentemente do inglês.
 
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Uso de caracteres especiais (@, #) e emoticons (ou emojis) para adequação aos códigos
utilizados em meios digitais ou como alternativa para expressar emoções e intuitos.
 
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Integração ou hibridismo entre escrita, sons, imagens e outras linguagens (hipertexto, por
exemplo) para maior expressividade.
A informalidade e a irreverência da linguagem na Internet acabam se distanciando da
formalidade da língua que utilizamos nos documentos, nos livros, na escola ou nas relações
mais formais no trabalho. Por isso mesmo, haverá inadequação no uso da língua quando
escrevermos um trabalho acadêmico ou redigirmos um e-mail na empresa em que trabalhamos
com a informalidade ou alguma característica do Internetês.
 SAIBA MAIS
Algumas pessoas acham que o uso despreocupado da língua portuguesa na Internet, em
relação às normas gramaticais, seria um tipo de deformação que contribuiria para um
empobrecimento linguístico e cultural. Quer saber o motivo por trás desse pensamento? Leia
mais!
LEIA MAIS
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A invasão de palavras inglesas, ligadas à informática e à Internet, é vista como ameaça à
língua portuguesa, levando os usuários a incorporarem expressões e valores culturais
estrangeiros que redundariam em prejuízo à cultura nacional e local.
Conforme diz Saldanha (2001, p. 35), deve-se ter o cuidado de não se impor um único
registro da língua, elegendo-se determinada variação ou modalidade linguística padrão
para a Internet, nem tampouco fechar-se temerariamente a qualquer tipo de contribuição
linguística vinda de fora.
Valer-se criteriosamente da contribuição de outras línguas é, na verdade, o recomendável
nessa questão; reconhecendo-se, dessa forma, uma prática histórica que ocorre no seio
da língua portuguesa em relação a línguas como o grego, o italiano, o francês e outras
mais desde muito tempo.
“A INTERNET, PELA SUA ESPECIFICIDADE, EXIGE OU
PROPICIA UM TIPO DE TEXTO ESPECIAL. TAMBÉM
AQUI A INADEQUAÇÃO CONSISTE EM QUERER
REDIGIR UM TEXTO QUALQUER FORA DA INTERNET
COMO SE FORA PARA ELA, OU VICE-VERSA. TODO
TEXTO – NA INTERNET OU NÃO –, COMO TODA
EXPRESSÃO LINGUÍSTICA, DEVE ESTAR ADEQUADO
ÀS IDEIAS, AO INTERLOCUTOR E ÀS
CIRCUNSTÂNCIAS.”
(BECHARA, 2000)
Constatar que a língua varia, seja em seu uso na Internet ou na diversidade de espaços e
situações comunicativas, deve nos levar a reconhecer a legitimidade das diferentes linguagens
e evitar o preconceito ou a estigmatização de falares, dialetos ou qualquer variedade
linguística. Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que a língua aprendida na escola
constitui a norma para comunicação e convívio no ambiente acadêmico e profissional, alémdaqueles espaços e das interações sociais em que a língua padrão é a mais adequada.
NO PRÓXIMO MÓDULO, VOCÊ CONHECERÁ
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA PADRÃO,
TAMBÉM CHAMADA NORMA CULTA, ALÉM DE
REFLETIR SOBRE SEU USO NAS SITUAÇÕES EM QUE
ELA É NECESSÁRIA.
 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. IDENTIFIQUE A OPÇÃO QUE APRESENTA UM EXEMPLO DE
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS EM FUNÇÃO DO BAIXO GRAU
DE ESCOLARIDADE DO FALANTE.
A) Depois daquele post misterioso, resolvi estalquear o Face dele.
B) Que menino lindinho, vamos abrir a boquinha para a tia ver se o dentinho já está nascendo?
C) Os dono pediu pra mim fazer a obra.
D) #sextou! Partiu encontrar os amigos da facul no happy hour!
2. CONSIDERE O TEXTO A SEGUIR: 
 
MANDIOCA: MAIS UM PRESENTE DA AMAZÔNIA 
AIPIM, CASTELINHA, MACAXEIRA, MANIVA, MANIVEIRA. AS
DESIGNAÇÕES DA MANIHOT UTILISSIMA PODEM VARIAR DE REGIÃO,
NO BRASIL, MAS UMA DELAS DEVE SER LEVADA EM CONTA EM TODO
O TERRITÓRIO NACIONAL: PÃO-DE-POBRE – E POR MOTIVOS ÓBVIOS.
RICA EM FÉCULA, A MANDIOCA – UMA PLANTA RÚSTICA E NATIVA DA
AMAZÔNIA DISSEMINADA NO MUNDO INTEIRO, ESPECIALMENTE
PELOS COLONIZADORES PORTUGUESES – É A BASE DE SUSTENTO DE
MUITOS BRASILEIROS E O ÚNICO ALIMENTO DISPONÍVEL PARA MAIS
DE 600 MILHÕES DE PESSOAS EM VÁRIOS PONTOS DO PLANETA, E EM
PARTICULAR EM ALGUMAS REGIÕES DA ÁFRICA. (O MELHOR DO
GLOBO RURAL, FEV. 2005). 
 
DE ACORDO COM O TEXTO, HÁ NO BRASIL UMA VARIEDADE DE
NOMES PARA A MANIHOT UTILISSIMA, NOME CIENTÍFICO DA
MANDIOCA. ESSE FENÔMENO REVELA QUE:
A) A planta é nomeada conforme as particularidades que apresenta, recebendo diversos
nomes porque se trata de uma planta diferente em cada caso e, ainda, porque não é comum
uma língua possuir mais de um nome para uma mesma planta ou ingrediente.
B) Existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta, exemplificando a
ocorrência da variação linguística.
C) Os nomes designam espécies diferentes da planta, conforme a região, confirmando a
uniformidade da língua portuguesa.
D) A expressão “pão-de-pobre” confirma a uniformidade da língua, demonstrando a unidade e
não variação da língua portuguesa.
GABARITO
1. Identifique a opção que apresenta um exemplo de variação linguística do português
em função do baixo grau de escolaridade do falante.
A alternativa "C " está correta.
 
A alternativa C apresenta marcas da variedade linguística em função da classe social e baixa
escolaridade como: falta de concordância nominal e verbal em “os dono pediu” e uso de “pra
mim fazer” no lugar de “para eu fazer”. As alternativas A e D apresentam características do
Internetês. A opção B retrata um registro ou forma de falar ajustados ao interlocutor e à
situação (verificação da saúde bucal de uma criança).
2. Considere o texto a seguir: 
 
Mandioca: mais um presente da Amazônia 
Aipim, castelinha, macaxeira, maniva, maniveira. As designações da Manihot utilissima
podem variar de região, no Brasil, mas uma delas deve ser levada em conta em todo o
território nacional: pão-de-pobre – e por motivos óbvios. Rica em fécula, a mandioca –
uma planta rústica e nativa da Amazônia disseminada no mundo inteiro, especialmente
pelos colonizadores portugueses – é a base de sustento de muitos brasileiros e o único
alimento disponível para mais de 600 milhões de pessoas em vários pontos do planeta, e
em particular em algumas regiões da África. (O melhor do Globo Rural, fev. 2005). 
 
De acordo com o texto, há no Brasil uma variedade de nomes para a Manihot utilissima,
nome científico da mandioca. Esse fenômeno revela que:
A alternativa "B " está correta.
 
A variedade de nomes para a mesma planta revela a existência da variação linguística, mais
especificamente, a variação produzida pelos regionalismos.
MÓDULO 2
 Esclarecer o conceito de norma culta e suas implicações no uso da língua
portuguesa
CONTEXTUALIZAÇÃO
Quando constatamos que a língua portuguesa varia em função da diversidade dos falantes, do
espaço, do tempo, da situação de comunicação e de outros fatores, podemos nos perguntar se
toda forma de usar a língua é válida, desde que as pessoas se entendam; ou indagar se esses
diferentes usos da língua não seriam desvios e incorreções da língua padrão, da norma culta.
Tais questionamentos são importantes porque todos nós aprendemos na escola a chamada
língua culta, mas convivemos boa parte do tempo com usos da língua distantes ou diferentes
da norma padrão, que estudamos nos livros de gramática.
É PRECISO ENTENDER O QUE É A NORMA CULTA E
QUAL O OBJETIVO DA GRAMÁTICA NO
APRENDIZADO DA LÍNGUA PARA, ENTÃO,
RESPONDERMOS SOBRE QUE TIPO DE LÍNGUA USAR
NAS DIVERSAS SITUAÇÕES DE COMUNICAÇÃO DO
DIA A DIA.
 
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NORMA CULTA
A norma culta é aquela formada por um conjunto de estruturas concebidas como corretas, que
podem ser usadas tanto para falar quanto para escrever. Trata-se da chamada variante padrão
ou norma padrão. Ela é tão valorizada socialmente que, quando estão em um ambiente mais
formal, os indivíduos com alto nível de escolaridade procuram monitorar sua fala.
Vamos entender melhor como funciona a norma culta da língua, que tem prestígio social.
Vídeo com libras.
Como você pôde perceber, os registros informais e distintos da norma culta caracterizam o
papel social do falante da língua. Se o falante tem baixa escolaridade e pertence a uma
comunidade linguística que se comunica dessa forma, o uso que ele faz da língua evidencia
exatamente o grupo social ao qual pertence. Nesse caso, não deve haver uma expectativa de
uso da língua padrão.
Por outro lado, se o falante teve acesso à educação formal e possui alto grau de escolaridade,
a expectativa é de que ele utilize a norma culta como a opção mais adequada para se
expressar em situações formais de comunicação. Caso isso não aconteça, ele frustrará a
expectativa em função da classe social e comunidade linguística às quais pertence.
Imagine um professor universitário em uma videoaula dizendo o seguinte:
 
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EMBORA O USO DO PRONOME ELA COMO OBJETO
DIRETO SEJA COMUM NA FALA DE MUITAS PESSOAS
– MESMO ESCOLARIZADAS –, NÃO É PRESCRITO
PELA GRAMÁTICA.
LOGO, A FORMA ADEQUADA CONFORME A NORMA
CULTA É:
 
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 ATENÇÃO
Usar o pronome oblíquo A substituindo um substantivo é algo formal, mas, uma boa alternativa
seria optar pelo uso de um termo equivalente ou sinônimo: “A exposição foi encerrada, mas eu
vi as obras de arte no ano passado”.
A língua pode ser comparada a um guarda-roupa, com vestimentas para diversas ocasiões e
finalidades. A norma culta seria comparada a vestuários convenientes em situações formais,
com diferentes graus de formalidade, como cerimônia de casamento, audiência num tribunal,
entrevista de emprego, ambiente de trabalho, ambiente acadêmico etc. 
 
Terno, gravata, vestido longo, tailleur, terninho e alguns acessórios e adereços seriam
adequados a algumas dessas situações. Não é adequado comparecer a esses ambientes ou
participar dessas situações como se fôssemos à praia, usando sunga ou biquíni, por exemplo.
ESSA IMAGEM OU COMPARAÇÃO DA LÍNGUA COM O
GUARDA-ROUPA NOS AJUDA A COMPREENDER O
CONCEITO DE ADEQUAÇÃO NO USO DA LÍNGUA.
 SAIBA MAIS
Quem faz uma analogia similar é o linguista brasileiro Marcos Bagno (2005), que compara a
língua padrão ao molde de um vestido. Leia mais.
É adequado usar a norma culta quando essa é a expectativa da sociedade ou da
comunidade linguística em função do nosso status, classe social, formação acadêmica ou
atividade profissional. Também é adequado o seu uso nas situações de comunicação formais,
oficiais, nas atividades escolares e acadêmicas, na atividade profissional etc.
Em situações mais informais ou quando a expectativa da comunidade linguística em que
interagimos for de uma comunicação coloquial, então usaremos a língua num registro menos
formal, ainda que não inteiramente distante da norma culta.
É preciso cuidado com as escolhas linguísticasque fazemos para que nosso interlocutor não
as interprete como erro ou grosseria. Também devemos atentar para a escrita, pois algumas
liberdades ou licenças numa fala mais informal podem ser inadequadas na escrita. Por
exemplo, não fica bem escrever nas redes sociais ou num e-mail expressões ou incorreções
gramaticais muito comuns na fala coloquial ou descuidada.
 
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A seguir, reunimos dois jeitos de comunicar a mesma coisa: de acordo com o Registro culto (ou
seja, a norma culta da língua) e de acordo com o Registro coloquial, que representa os usos
mais comuns na oralidade, mas que têm que ser evitados – principalmente em textos escritos.
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O QUE DEFINE A NORMA CULTA DA
LÍNGUA?
De acordo com o professor e linguista Luiz Travaglia (2001, p. 25-26), os argumentos ou as
justificativas para o estabelecimento da norma culta são os seguintes:
ESTÉTICOS
Uso de critérios como elegância, colorido, beleza, finura, expressividade. Rejeição de vícios
como a cacofonia, colisão, eco, pleonasmo etc.
ELITISTAS OU ARISTOCRÁTICOS
Opção pelo uso da língua pertencente à classe de prestígio em detrimento do uso das classes
populares.
POLÍTICOS
Critério de purismo e vernaculidade. Rejeição de estrangeirismo ou qualquer aspecto que
“ameace” a identidade ou soberania da nação ou da cultura nacional.
COMUNICACIONAIS
Critérios relacionados com a facilidade de comunicação e compreensão. As construções e o
léxico devem resultar na “expressão do pensamento”.
HISTÓRICOS
Recorre-se à tradição para critérios de exclusão e permanência de usos da língua.
 
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A NORMA CULTA OU LÍNGUA PADRÃO É
DEPENDENTE DA OBSERVÂNCIA E USO DAS REGRAS
ESTABELECIDAS PELA GRAMÁTICA NORMATIVA.
POR ISSO, VALE ENTENDER UM POUCO MELHOR O
QUE É E COMO ELA FUNCIONA.
GRAMÁTICA NORMATIVA
A gramática normativa é a gramática da escola, por meio da qual você aprendeu as principais
regras ou normas da língua padrão, principalmente da modalidade escrita. Ela prescreve o que
é considerado correto e reprova o que é errado de acordo com a norma culta, a única
considerada como válida. Por isso mesmo, a gramática normativa também é denominada
“gramática prescritiva”.
“A GRAMÁTICA NORMATIVA TENDE A CONSIDERAR
APENAS OS FATOS DA LÍNGUA ESCRITA, TOMANDO A
VARIEDADE ORAL DA NORMA CULTA COMO
IDÊNTICA À ESCRITA. APRESENTA UMA DESCRIÇÃO
DO PADRÃO CULTO DA LÍNGUA E DITA NORMAS DE
BEM FALAR E ESCREVER, VALORIZANDO A
CORREÇÃO GRAMATICAL.”
(TRAVAGLIA, 2001, p. 30-31)
Oswald de Andrade (1890-1954), no poema Pronominais, publicado em 1925, já retratava de
forma irreverente e provocativa a imposição das regras da gramática normativa e a dificuldade
de seu uso na fala das pessoas despreocupadas com a norma culta ou mesmo sem o seu
domínio. Vamos ler o poema a seguir:
O poema é um interessante registro literário da variação linguística em função de diferentes
modalidades (escrita e oralidade) e diferentes grupos ou classes sociais (letrados e não
letrados).
O poema opõe os usos do pronome “me”:
DÊ-ME UM CIGARRO
REGISTRO FORMALO
Ênclise
Norma culta: não se inicia frase com pronome átono antes do verbo (próclise), pois o correto é
o pronome átono após o verbo (ênclise).

ME DÁ UM CIGARRO
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REGISTRO INFORMAL
Próclise
Forma coloquial: inadequação gramatical, a gramática prescreve a ênclise.
ÊNCLISE
Quando o pronome é colocado após o verbo.
PRÓCLISE
Quando o pronome é colocado antes do verbo.
Segundo Travaglia (2001, p. 24), a gramática normativa pode ser entendida, também, como
“um manual com regras de uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se
expressar adequadamente”. Assim, somente é abonado ou aceito pela gramática o que
obedece às normas do bom uso da língua, configurando o falar e o escrever corretamente. Por
isso, todas as outras formas de uso da língua são consideradas desvios, erros, deformações
ou degenerações.
 SAIBA MAIS
Para encerrarmos os estudos deste módulo, observe um exemplo de como a gramática
normativa indica a formalidade de uso da língua.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUAL OPÇÃO APRESENTA O USO DA LÍNGUA PORTUGUESA
CONFORME A NORMA CULTA E A GRAMÁTICA NORMATIVA?
A) Eu vi ela ontem na biblioteca.
B) A gente sempre vamos naquele barzinho.
C) Me empresta o carregador de celular.
D) Nós vamos ao cinema.
2. CONHECER E DOMINAR A NORMA CULTA IMPLICA:
A) Utilizar indistintamente as prescrições da gramática normativa em qualquer situação, formal
e informal, e com qualquer interlocutor, letrado e não letrado, não importando se somos
compreendidos ou não.
B) Comparar a língua a um guarda-roupa no qual existem somente vestuário a ser usado em
situações muito formais.
C) Usar a língua adequadamente, conforme cada situação e interlocutor, como se fosse um
guarda-roupa no qual existem vestuários para diversas ocasiões.
D) Frustrar as expectativas da comunidade linguística à qual pertencemos, ou seja, os
segmentos sociais com alto grau de escolaridade.
GABARITO
1. Qual opção apresenta o uso da língua portuguesa conforme a norma culta e a
gramática normativa?
A alternativa "D " está correta.
 
A opção D deve ser assinalada porque o uso do pronome pessoal “nós” e a da forma verbal
“vamos” é aceito pela gramática normativa. A opção A deveria trazer “Eu a vi” no lugar de “Eu
vi ela”. A alternativa B deveria ser, de acordo com a norma culta, “Nós sempre vamos àquele
barzinho”. A opção C deveria trazer “Empresta-me” em vez de “Me empresta”.
2. Conhecer e dominar a norma culta implica:
A alternativa "C " está correta.
 
A língua pode ser comparada a um guarda-roupa que dispõem de peças para usarmos em
qualquer situação. Quando dominamos a norma culta, teremos vestimenta adequada para
qualquer situação formal. A alternativa A está incorreta porque as situações informais e os
interlocutores não letrados podem exigir eventualmente de nós um uso coloquial da língua para
que a comunicação aconteça. A opção B está incorreta porque a imagem da língua como um
guarda-roupa deve incluir peças para qualquer situação, tantos as formais quanto as informais.
A opção D está incorreta porque o domínio da norma culta não frustra uma comunidade
linguística altamente letrada ou escolarizada.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como temos visto, a gramática normativa está mais voltada para a variedade escrita da língua
e se ocupa com a manutenção de regras consideradas próprias da língua culta ou de prestígio.
Há, sem dúvida, uma tradição em se prestigiar a língua escrita. Possivelmente por ter
características mais conservadoras, transformar-se mais lentamente e estar sob a proteção da
ortografia.
A escrita manifesta-se sempre em descompasso com as transformações da fala, cuja dinâmica
do uso lhe traz alterações contínuas, naturais e bem mais velozes. Mas, como você aprendeu
aqui, tanto a escrita quanto a fala de uma língua apresentam variações e mudam com o tempo
e com os inúmeros estímulos que recebem.
Estudar a língua portuguesa levando em conta o fenômeno da variação linguística e o
entendimento do que vêm a ser a norma culta e a gramática normativa ajudará, certamente,
você a se apropriar cada vez mais dos recursos da língua para um uso adequado às diversas
situações comunicativas.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2005.
BECHARA, E. 3 questões sobre língua portuguesa. In: Folha de S. Paulo. São Paulo, 2 jul.
2000. Mais!, p. 3
COSERIU, E. Lições de linguística geral. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1980.
SALDANHA, L. C. D. Bibliotecas imaginárias e o livro eletrônico: possiblidades do texto no
ciberespaço. In: Revista Philologus, Rio de Janeiro, v. 21, p. 26-37, 2001.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed.
rev. São Paulo: Cortez, 2003.
EXPLORE+
Sobre variação linguística regional, leia: Português do Brasil eportuguês de Portugal.
Veja também a charge de Roberto Kroll e reflita sobre o uso da língua.
 
robertokroll.com.br
CONTEUDISTA
Luís Cláudio Dalier
 CURRÍCULO LATTES
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DESCRIÇÃO
Este tema aborda o conceito de texto e discurso, bem como a distinção e a complementaridade
entre eles, além de apresentar uma caracterização dos gêneros textuais e alguns cuidados
necessários na produção e leitura de textos.
PROPÓSITO
Compreender o conceito de texto, discurso e gênero textual para identificar estratégias e
cuidados necessários à elaboração e à leitura de um texto.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Distinguir os conceitos de texto e de discurso
MÓDULO 2
Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual
MÓDULO 3
Reconhecer o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos
MÓDULO 1
 Distinguir os conceitos de texto e de discurso
INTRODUÇÃO
Todas as vezes em que você se comunica ou interage com alguém, há sempre uma intenção
ao falar ou ao escrever.
 
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Dependendo dessa intenção ou da finalidade do ato de comunicação, haverá maneiras
diferentes de construir sua fala e sua escrita, ou seja, você acabará usando modos específicos
para se expressar ou interagir por meio da língua.
 
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VEJAMOS A SEGUINTE SITUAÇÃO:
Imagine que Rodrigo chegou em casa ansioso por contar algo que aconteceu no trabalho, uma
situação ocorrida que lhe deu muita esperança de ser promovido.
 
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Falamos e escrevemos com as mais diferentes intenções, adequando nosso ato de
comunicação a partir delas, por isso devemos concluir que há diversas formas de organizar o
discurso. Isso também implica dizer que existem diversos gêneros textuais, além daquelas
moda lidades que você deve ter aprendido na escola, como narração, descrição e
dissertação.
No diálogo acima, qual modalidade você acha que Rodrigo utilizou para contar o fato ocorrido?
NARRAÇÃO
DESCRIÇÃO
DISSERTAÇÃO
Ao contar o episódio, tentando mostrar as chances de ter uma promoção, ele utilizou aspectos
característicos da narração, que é um tipo específico de se organizar o discurso, assim como
nós também fazemos comumente no dia a dia.
Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos típicos da
narração, como: personagem, espaço, tempo etc.
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Pense mais uma vez e tente novamente!
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ENUNCIAÇÃO
O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em
funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um
enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve).
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Para compreender tudo isso e identificar possíveis aplicações no uso da língua, você
aprenderá os conceitos de discurso e de texto para, então, verificar como o conhecimento dos
diferentes gêneros textuais o ajudará a escrever e a ler melhor.
 
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CONCEITO DE TEXTO E DISCURSO
Para distinguir texto e discurso, primeiramente é preciso conceituá-los, além de identificar a
utilidade dessa distinção. Mas, em vez de começar logo com uma definição, vamos pensar um
pouco sobre a prática, ou seja, vamos considerar uma situação concreta de uso da língua.
Imagine que alguém diga a um colega o seguinte:
 
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A resposta "sei" provavelmente frustrou quem perguntou. A decepção ou mesmo o
estranhamento diante de tal resposta ocorre porque a intenção de quem pergunta não é obter
uma informação sobre o conhecimento ou não do horário, mas pedir um dado que traga
sentido, referência e clareza.
A INTENÇÃO DE QUEM PERGUNTA É UM
ELEMENTO FUNDAMENTAL NA ENUNCIAÇÃO,
ASSIM COMO A FORMA COM QUE O TEXTO É
RECEBIDO PELO ENUNCIATÁRIO.
O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos da linguagem, o
conceito de enunciação, assim como tantos outros, apresenta variações na forma como é
definido, conforme a abordagem teórica em que seja tomado.
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A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso da nossa hipotética situação de
comunicação, pode-se imaginar a presença explícita dessa enunciação do seguinte modo:
 
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ENUNCIAÇÃO
O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que a língua é
colocada em funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em
vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve).
 
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É possível que um texto não explicite as intenções do autor, ou seja, a enunciação pode estar
implícita. Nesse caso, será preciso ouvir ou ler o texto, entendê-lo e perceber as intenções do
autor. Teremos, então, uma decodificação desse texto.
Além da intenção, que pode estar implícita ou explícita na interação por meio da linguagem,
temos sujeitos que interagem em determinado tempo ou contexto a partir de um texto ou
mensagem.
OS ASPECTOS RELACIONADOS COM A
PESSOA (QUEM FALA/OUVE OU QUEM
ESCREVE/LÊ) E COM O TEMPO (EM QUE
MOMENTO OU CONTEXTO A COMUNICAÇÃO SE
DÁ) TAMBÉM FAZEM PARTE DA ENUNCIAÇÃO.
 
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Mesmo que esses aspectos nem sempre estejam explicitados ou claros no texto, a produção
textual envolve os seguintes elementos da enunciação:
 
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A partir dessa abordagem inicial sobre enunciação, vamos a uma primeira caracterização de
texto e de discurso. Segundo Abreu (2004), podemos dizer que:
 
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O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo e, muitas vezes, com algumas marcas
da enunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo.
 
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O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo de
codificação e só termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de decodificá-lo. Por isso,
também se afirma que o discurso é histórico.
Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser considerado algo acabado e
estático. No entanto, o discurso teve seu início juntamente com o texto e vai se completando à
medida que o texto vai sendo lido por seus leitores. Por isso, Abreu (2004) nos diz que o
discurso é sempre dinâmico e pode ser repetido infinitamente, sempre de formas
diferentes, dependendo do repertório de seus leitores.
AS CONCEPÇÕES DE TEXTO E DE DISCURSO
NOS PERMITEM, ENTÃO, MAIS DO QUE FAZER
UMA DISTINÇÃO, PERCEBER QUE ELES SÃO
COMPLEMENTARES.
Por isso, podemos afirmar: Discurso é o texto em atividade comunicativa; vindo a público
e se realizando. É bom observar que o texto pode ser escrito ou oral, embora enfatizemos na
maioria das vezes o texto escrito. O discurso também pode se realizar tanto a partir de um
texto escrito quanto de um texto oral.
 ATENÇÃO
Não confunda discurso com a fala de um orador!
O professor Luís Cláudio Dallier e o linguista Antônio Suárez Abreu retomam o conceito de
texto e discurso com alguns exemplos práticos.
Vídeo com libras
Podemos, então, concluir que todas as vezes que escrevemos ou falamos temos um texto que
se realiza como discurso. Isso acontece porque quem fala e escreve tem uma intenção ou
objetivo contido na mensagem e até na forma de comunicá-la. Quem ouve e lê precisa decifrar
(compreender) a mensagem e a sua intenção a partir do próprio conhecimento de mundo e,
claro, do próprio texto.
Mas, você pode se perguntar:
PARA QUE SERVE DEFINIR TEXTO E DISCURSO, 
ALÉM DE FAZER A DISTINÇÃO ENTRE ELES?
QUAL A UTILIDADE DESSES CONCEITOS?
Essas perguntas são muito importantes e serão respondidas na continuidade deste tema. Mas
antes, verifique se você de fato aprendeu o que é um texto e um discurso realizando a
atividade a seguir.
 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A ENUNCIAÇÃO É UM CONCEITO IMPORTANTE PARA COMPREENDER
O QUE É UM DISCURSO, ALÉM DA DISTINÇÃO E COMPLEMENTARIDADE
ENTRE TEXTO E DISCURSO. SOBRE A ENUNCIAÇÃO, É CORRETO
AFIRMAR QUE:
A) Refere-se à atividadesocial e interacional em que a língua é colocada em funcionamento
por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para
quem se fala ou se escreve), produzindo um enunciado.
B) A intenção tem pouca importância na produção do texto e, consequentemente, na forma
como ele será lido.
C) O produto da enunciação é chamado enunciatário.
D) O produto da enunciação é chamado enunciatário.
E) No campo dos estudos da linguagem, assim como tantas outras noções, a de enunciação
apresenta uma única forma de ser apresentada, sendo resumida a dois elementos: enunciador
e enunciatário.
2. TEXTO E DISCURSO SÃO CONCEITOS QUE DEVEM SER
COMPREENDIDOS COMO DISTINTOS E AO MESMO TEMPO
COMPLEMENTARES PORQUE:
A) O texto é a parte abstrata e o discurso é a parte concreta.
B) O texto é escrito e o discurso é oral.
C) O discurso é o texto em atividade comunicativa, vindo a público e se realizando.
D) O texto é dinâmico e indefinido enquanto o discurso é estático e definitivo.
E) O texto pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo da
bagagem cultural de seus leitores, já o discurso pode ser considerado algo acabado e estático.
GABARITO
1. A enunciação é um conceito importante para compreender o que é um discurso, além
da distinção e complementaridade entre texto e discurso. Sobre a enunciação, é correto
afirmar que:
A alternativa "A " está correta.
 
A intenção de quem pergunta é um elemento fundamental na enunciação, assim como a
forma com que o texto é recebido pelo enunciatário. O termo enunciação refere-se à atividade
social e interacional em que a língua é colocada em funcionamento por um enunciador (aquele
que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se
escreve). O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos da
linguagem, o conceito de enunciação, assim como tantos outros, apresenta variações na forma
como é definido, conforme a abordagem teórica em que seja tomado.
2. Texto e discurso são conceitos que devem ser compreendidos como distintos e ao
mesmo tempo complementares porque:
A alternativa "C " está correta.
 
O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo. O discurso, por sua vez, é dinâmico:
principia quando o emissor realiza o processo de codificação e só termina quando o
destinatário cumpre sua tarefa de decodificá-lo. O discurso é histórico. Quando um texto é
escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser considerado algo acabado e estático. No entanto, o
discurso teve seu início juntamente com o texto e vai se completando à medida que o texto vai
sendo lido por seus leitores. Por isso, o discurso “é sempre dinâmico e pode ser repetido
infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo do repertório de seus leitores”.
MÓDULO 2
 Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual
CUIDADOS NA ELABORAÇÃO DO TEXTO
Compreender a relação entre texto e discurso deve levá-lo a determinados cuidados na
produção do texto e na sua leitura.
Em relação à leitura, você deve lembrar que o discurso é um conceito relacionado com as
intenções presentes no texto (de forma explícita ou implícita) e outros elementos da
comunicação como:
Quem escreve;
Quem lê;
Em que contexto o texto foi produzido;
O momento em que o texto é lido.
 
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Isso quer dizer que o discurso é algo situado, ou seja, ele é produzido por alguém, com
determinada intenção, em algum contexto e tendo em vista o interlocutor.
PARA A COMPREENSÃO OU INTERPRETAÇÃO
ADEQUADA DO TEXTO, 
SERÁ PRECISO CONSIDERAR TAMBÉM ESSES
ELEMENTOS OU ASPECTOS, 
MUITAS VEZES ESCONDIDOS NAS
ENTRELINHAS.
O linguista Antônio Suárez Abreu fala sobre cuidados na elaboração do texto a partir da noção
de discurso.
Vídeo com libras
 
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Você certamente percebeu o quão importante é a construção do discurso e a relevância de
refletir sobre ele. Mas sejamos um pouco mais práticos, trataremos agora da elaboração do
texto.
 
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ELABORAÇÃO DO TEXTO
Ao elaborar um texto, você deve ter em mente que não escreve para si mesmo, pois seu texto
é produzido para que outros o leiam, ele se transformará em discurso. Por isso, deve haver
cuidado na elaboração, na forma pela qual suas intenções estarão marcadas ou presentes na
mensagem.
Se escrevemos e falamos para que outros nos entendam ou mesmo atendam aos objetivos de
nossa comunicação, precisamos nos esforçar para irmos além da simples expressão do que
temos em mente. Isso tem a ver com um importante mecanismo da comunicação, que foi
resumido pelo professor Blikstein (1990), em seu livro Técnicas de comunicação escrita, da
seguinte forma.
Os princípios do mecanismo da comunicação seriam:
I
Toda comunicação escrita deve gerar uma resposta a uma determinada ideia ou necessidade
que temos em mente.
II
A comunicação escrita será correta e eficaz se produzir uma resposta igualmente correta.
III
Resposta correta é a que esperamos, isto é, aquela que corresponde à ideia ou necessidade
que temos em mente.
IV
Para avaliarmos a correção e a eficácia de uma comunicação escrita, temos que verificar
sempre se houve uma resposta e se ela corresponde à ideia ou necessidade que queremos
passar ao leitor.
Veja o exemplo:
 
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É preciso, então, cuidado em relação a vários aspectos no uso da língua nas situações de
comunicação.
Vejamos três deles:
1. VOCABULÁRIO
 
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Preferir palavras e expressões que, além de expressar o que pensamos, ajudem o leitor ou
ouvinte a identificar a nossa intenção ou o objetivo do texto. Palavras pouco conhecidas ou
rebuscadas, termos técnicos e vocabulário restrito a uma área diferente da do nosso
interlocutor podem oferecer alguma dificuldade.
O vocabulário sempre deve estar adequado ao contexto em que comunicamos nossa
mensagem e ao nosso interlocutor. Se precisarmos usar alguma palavra difícil ou pouco
conhecida, é recomendável que ela venha acompanhada de alguma explicação, evitando
deixar o texto pedante ou pretencioso. Não é um vocabulário excessivamente formal ou com
preciosismos que vai demonstrar nosso domínio da língua.
 
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2. ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM ÀS SITUAÇÕES
E AOS LEITORES QUE TEMOS EM VISTA
O estilo e o nível de linguagem que usamos em nossa escrita ou fala devem estar adequados
ao contexto da comunicação, ao objetivo ou à intenção da nossa mensagem e ao interlocutor
(o receptor, a pessoa com quem nos comunicamos):
 
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Se o objetivo, por exemplo, for escrever um manual com procedimentos e orientações para o
uso de um celular, o texto deverá ter um estilo que respeite a língua culta, mas que será
simples, objetivo e claro, com predomínio de verbos no imperativo ou infinitivo, além de
descrições e outras características desse gênero textual.
 
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Se escrevermos um bilhete ou enviarmos um recado por um aplicativo de mensagens,
usaremos uma linguagem mais coloquial, um tom pessoal e talvez algumas abreviaturas, entre
outras características.
Mais adiante você aprenderá outros aspectos importantes na produção e na elaboração do
texto em função de seu gênero.
3. CONSTRUÇÃO DAS FRA SES E CORREÇÃO
GRAMATICAL
Organizar cada parágrafo do texto, os períodos e as frases que o compõem é uma forma de
deixar o texto claro, coeso e coerente.
 
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Escrever e falar sem incorreções gramaticais também contribui para o melhor entendimento da
mensagem, além de dar credibilidade ao autor em virtude do seu domínio da língua padrão. Há
outros cuidados na elaboração do texto que destacamos para ajudá-lo a escrever melhor. São
aspectos que o ajudarão a perceber características que devem estar presentes em todos os
textos e, além disso, a aprender uma outra forma de definir o que é um texto.
Vamos, então, conhecer quatro importantes recomendaçõesque você precisa considerar ao
escrever e ao ler um texto:
NÃO CONFUNDA TEXTO COM A MERA SOMA OU
AGLOMERADO DE FRASES
Um texto deve ser um todo orgânico com encadeamentos que interliguem as suas partes. Isso
im plica, na leitura, que não devemos tomar as frases ou partes do texto isoladamen te, sem
considerar o seu contexto.
Se o texto é um todo orgânico, então sua com preensão não pode se basear apenas em um
fragmento isolado do contexto.
DELIMITE O SEU TEXTO!
Os professores Platão e Fiorin (2003) nos lembram em seu livro Para entender o texto que o
texto deve ser “delimitado por dois espaços de não sentido, dois brancos, um antes de
começar o texto e ou tro depois”, ou seja, tem início e fim, está delimitado num determinado
espaço. Isso implica uma organização textual. Se o texto é uma unidade, ele deve ter começo,
meio e fim.
FAÇA COM QUE SEU TEXTO SEJA UM GERADOR DE
SENTIDO
O que você escreve tem que fazer sentido para quem vai ler. Caso isso não aconteça, não se
produzirá um discurso, o texto não se realizará.
Os sentidos têm de ser marcados pela coerência; devem ser, também, confirmados a partir de
seu contexto.
ESTEJA ATENTO A ELEMENTOS DO CONTEXTO
DURANTE A PRODUÇÃO
De acordo com Platão e Fiorin (2003), o texto é o produto de um sujeito que pertence “a um
grupo social num tempo e num espaço”, alguém que expõe em seus textos as ideias, os
anseios, os temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social.
Assim, é necessário entender as concepções existentes na época e na sociedade em que o
texto foi produzido para não correr o risco de compreendê-lo de maneira distorcida.
Esses cuidados na elaboração do texto correspondem a uma forma de entender o que é um
texto. Por isso, é hora de apresentar a seguinte definição: O texto é um todo orgânico
gerador de sentido. Essa definição nos ajuda a perceber que um texto tem que fazer sentido
e possui princípio e fim, mesmo que ele seja um texto muito pequeno.
 
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Imagine que alguém, diante de um princípio de incêndio, grite: FOGO.
 
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Ou vamos supor que uma professora, diante de uma sala de aula muito barulhenta, escreva
numa lousa a palavra: SILÊNCIO.
Nos dois casos temos um exemplo de texto, por menor que seja sua estrutura. Isso acontece
porque nessas situações de comunicação existe uma unidade linguística delimitada e que
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produz sentido a partir da intenção de quem fala ou escreve.
 
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LINGUÍSTICA
Estudo científico da linguagem e das línguas naturais. A utilização deste termo depende
das perspectivas metodológicas, das teorias e das disciplinas que estudam os diferentes
fenômenos.
Fonte: Portal da língua portuguesa.
Compreender que o texto é um todo orgânico que produz sentido também traz como
desdobramento estabelecer correspondência e articulação entre suas partes. As frases não
podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa sequência sem sentido e sem unidade.
 DICA
A palavra TEXTO está relacionada, emsua origem, com a palavra TECIDO. Daí que podemos
falar na "tecitura de um texto",em "tecer um texto". É preciso tecer os fios, ou tecer as palavras,
de tal forma que o texto se apresente coeso e orgânico: uma unidade articulada.
O processo de articulação do texto, que permite a integração entre suas partes, é chamado de
encadeamento semântico (semântico = sentido). Ele é que produz a textualidade ou a “trama
semântica”. A coesão, segundo Abreu (1999), é exatamente esse processo de encadeamento
que produz a textualidade, que cuida da estruturação da sequência superficial do texto.
Conforme nos ensinam Platão e Fiorin (2003), podemos também dizer que a coesão textual é a
ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto, por meio
de “elementos formais que assinalam o vínculo entre os componentes do texto”. Quando um
conteúdo escrito apresenta repetições desnecessárias, retomando uma palavra ou ideia
sempre com o mesmo termo, temos um caso de falta de coesão. O exemplo a seguir, retirado
do livro Curso de redação, do professor Antônio Suarez Abreu, é uma boa oportunidade para
verificar a falta de coesão num texto.
 
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Se você levar em conta que o termo “revendedoras de automóveis” pode ser substituído por
agência, concessionária ou loja, e “automóveis” pode ser substituído por carros, veículos,
produto ou mercadoria, é possível reescrever o texto estabelecendo a coesão. Veja:
 
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Perceba que, além de evitar a repetição de “revendedoras de automóveis” e da palavra
“automóveis”, substituindo esses termos por sinônimos, foram utilizados mecanismos de
coesão como a elipse, ou seja, omissão de um termo.
Nesse exemplo, na oração desiste de comprar o automóvel, foi omitido o complemento da
forma verbal “desiste”, sem prejuízo à compreensão do texto. Também se substituiu o termo
“os automóveis” na frase para vender os automóveis mais caro pelo pronome oblíquo átono
junto ao verbo vender: “para vendê-los mais caro”. Outro mecanismo de coesão utilizado foi a
retomada do termo “revendedora de automóveis” valendo-se de um advérbio, no caso, o
advérbio de lugar “lá”: “o cliente vai lá...”. Há diversas outras formas de articular as partes de
um texto, as sentenças ou frases que formam cada período ou parágrafo, garantindo a coesão
textual.
Se queremos, por exemplo, articular duas sentenças com o sentido de oposição, podemos usar
conectores ou articuladores como:
Mas
Porém
Contudo
No entanto
Todavia
Se a ideia for articular sentenças diferentes com o sentido de causalidade, usaremos
articuladores como:
Porque
Uma vez que
Já que
Visto que
Devido a
Por causa de
Veja o exemplo a seguir:
A DIRETORA DA ESCOLA CONVOCOU OS PAIS
E OS RESPONSÁVEIS DOS ALUNOS PARA UMA
REUNIÃO ONTEM À TARDE, PORÉM POUCOS
COMPARECERAM, JÁ QUE UMA FORTE CHUVA
INUNDOU OS PRINCIPAIS ACESSOS AO
COLÉGIO.
Perceba que duas informações iniciais estão articuladas com a ideia de oposição: a
convocação e o não comparecimento de quem foi convocado. Em seguida, apresenta-se a
causa para o não comparecimento: a forte chuva. A coesão também se manifesta ao se evitar
a repetição desnecessária da expressão “os pais e os responsáveis” na oração: porém
poucos compareceram, além de se retomar o termo “escola” pelo sinônimo “colégio” na
última oração.
 
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Confira outras explicações e exemplos sobre coesão textual com o linguista Antônio Suárez
Abreu.
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DICA!
O Quiz de Português é um aplicativo de perguntas e respostas que abrangem as divisões da
gramática e as regras gerais de construção textual, como os recursos de coerência e coesão.
É voltado para todos que querem melhorar ou apenas testar o seu conhecimento na língua
portuguesa, além de educadores e alunos da área.
Baixe nas versões:
 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. COMPREENDER QUE O TEXTO É UM TODO ORGANIZADO QUE
PRODUZ SENTIDO IMPLICA AFIRMAR QUE, NA LEITURA E NA
PRODUÇÃO TEXTUAL, É RECOMENDÁVEL:
A) Basear a leitura em fragmentos e partes isoladas do texto, sem levar em conta o contexto.
B) Não identificar como texto aquelas produções muito curtas, de apenas uma única palavra,
como no exemplo em que alguém grita “Fogo!”, diante de um princípio de incêndio.
C) Estabelecer correspondência e articulação entre as partes do texto, pois as frases não
podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa sequência sem sentido e sem unidade.
D) Dar pouca ou mesmo nenhuma importância à forma com que o leitor vai receber o texto.
E) Não delimitar o texto escrito num determinado espaço, pois a organização textual pouco
importa.
2. O TEXTO BEM ESCRITO DEVE TER SUAS PARTES ARTICULADAS
ADEQUADAMENTE, OU SEJA, DEVE TER A MARCA DA COESÃO
TEXTUAL. NO TEXTO ABAIXO, HÁ GRAVES PROBLEMAS DE COESÃO
TEXTUAL.
A DIRETORA DA ESCOLA CONVOCOU OS PAIS

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