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formas de superar o centrismo existente por meio do Coronelismo (voto como moeda 
de troca) e dos Consórcios Públicos Intermunicipais (tema central, a ser tratado na 
segunda parte). 
2.4 A MUNICIPALIDADE NA CONSTITUIÇÃO DE 1934 E A ADAPTAÇÃO DO 
MODELO DE FEDERALISMO 
 A crise da Bolsa de Nova Iorque93, em 1929, ocasionou a crise do modo de 
produção capitalista e a Grande Depressão na economia mundial. No Brasil, tal 
situação manifestou-se por meio da crise do café, nosso principal produto da 
economia na época. Com a queda nas exportações, a Oligarquia cafeeira não detinha 
mais o poder econômico e político do início da Primeira República, passando a 
disputá-lo com outros grupos. Esse contexto de incertezas levou o Brasil à Revolução 
de 30, no final da qual Getúlio Dorneles Vargas foi conduzido ao Governo Provisório. 
 A promulgação da Constituição brasileira de 1934 e a adaptação do modelo de 
Federalismo foram decisivamente influenciadas (1) pelo “New Deal”94, política 
intervencionista estatal norte-americana por meio da qual o Estado passou a regular 
fortemente a economia após a Crise de 1929, bem como (2) pela Constituição de 
Weimar, de 191995, no que toca à concessão de direitos sociais. 
 Nessa nova conjuntura socioeconômica96, houve a necessidade de adaptar o 
modelo de Federalismo vigente, o qual nunca atendeu com eficácia aos interesses 
dos Estados-membros, além de ter relegado os Municípios a um segundo plano. 
Assim, objetivando atenuar o caráter competitivo de outrora entre União e Estados-
membros, a Constituição de 1934 introduziu, por meio da redação do art. 10º97, uma 
 
93 VICENTINO, Cláudio. DORIGO, Gianpaolo. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1997. p. 305-
332. 
94 SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha. Constituições do Brasil. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. 
p. 45. 
95 SOUZA JÚNIOR, op. cit., p. 46-47. 
96 “Com o New Deal, o liberalismo de Adam Smith cedeu lugar ao keynesianismo, que defendia a 
intervenção do Estado para controlar o desenvolvimento da economia, de modo que combatesse 
crises e garantisse emprego e direitos sociais. Roosevelt determinou grandes emissões monetárias, 
inflacionando deliberadamente o sistema financeiro; fez investimentos estatais de monta, como 
hidrelétricas; estimulou uma política de empregos, entre outras medidas, o que ativou o consumo e 
possibilitou a progressiva recuperação da economia”. 
VICENTINO, Cláudio. DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. 3º vol. 2ª ed. São Paulo: 
Scipione, 2013. p. 80. 
97 “Art 10 - Compete concorrentemente à União e aos Estados: 
 I - velar na guarda da Constituição e das leis; 
nova técnica de repartição, a competência concorrente, cuja premissa básica estava 
na ideia de cooperação98 entre esses dois entes. 
 É importante salientar que não houve substituição de técnicas, mas sim a 
combinação delas, de maneira a acrescentar à preexistente técnica horizontal (das 
competências enumeradas para cada um dos dois entes e remanescentes aos entes 
regionais), a técnica vertical de repartição (competência concorrente), a qual se faz 
presente até hoje e viabilizou as ações conjuntas entre os entes99. Assim, a 
Constituição de 1934 enumerou as competências privativas da União e dos Estados-
membros e, no art. 10º100, estabeleceu as competências concorrentes entre esses 
dois entes, introduzindo o modelo de Federalismo Cooperativo Autoritário101. 
Cooperativo, porque introduziu um rol em que ambos poderiam atuar; autoritário, pois 
 
 II - cuidar da saúde e assistência públicas; 
 III - proteger as belezas naturais e os monumentos de valor histórico ou artístico, podendo 
impedir a evasão de obras de arte; 
 IV - promover a colonização; 
 V - fiscalizar a aplicação das leis sociais; 
 VI - difundir a instrução pública em todos os seus graus; 
 VII - criar outros impostos, além dos que lhes são atribuídos privativamente”. 
BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. 
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm>. Acesso em: 
03 jan. 2016. 
98 TORRES, Sílvia Faber. O Princípio da Subsidiariedade no Direito Público Contemporâneo. Rio 
de Janeiro: Renovar, 2001. p. 219-220. 
99 SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha. Constituições do Brasil. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. p. 
47. 
100 “Art 10 - Compete concorrentemente à União e aos Estados: 
 I - velar na guarda da Constituição e das leis; 
 II - cuidar da saúde e assistência públicas; 
 III - proteger as belezas naturais e os monumentos de valor histórico ou artístico, podendo 
impedir a evasão de obras de arte; 
 IV - promover a colonização; 
 V - fiscalizar a aplicação das leis sociais; 
 VI - difundir a instrução pública em todos os seus graus; 
 VII - criar outros impostos, além dos que lhes são atribuídos privativamente. 
 Parágrafo único - A arrecadação dos impostos a que se refere o número VII será feita pelos 
Estados, que entregarão, dentro do primeiro trimestre do exercício seguinte, trinta por cento à União, 
e vinte por cento aos Municípios de onde tenham provindo. Se o Estado faltar ao pagamento das 
cotas devidas à União ou aos Municípios, o lançamento e a arrecadação passarão a ser feitos pelo 
Governo federal, que atribuirá, nesse caso, trinta por cento ao Estado e vinte por cento aos 
Municípios”. 
BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. 
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm>. Acesso em: 
04 jan. 2016. 
101 BONAVIDES, Paulo. A constituição aberta: temas políticos e constitucionais da atualidade, 
com ênfase no federalismo das regiões. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 434. 
	Márcia Regina Zok da Silva
	Márcia Regina Zok da Silva

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