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CEARÁ 2050 Estudo Setorial Especial Recursos Hídricos Fortaleza-CE, julho de 2018 CEARÁ 2050 Estudo Setorial Especial Recursos Hídricos Com o objetivo de enriquecer o diagnóstico da Plataforma Ceará 2050 foram realizados estudos setoriais em temas específicos. Os trabalhos, elaborados por estudiosos e pesquisadores em cada assunto, têm cunho autoral. O diagnóstico do Ceará 2050 foi coordenado pelo Prof. PHD Jair do Amaral Filho e analisou os últimos 30 anos de desenvolvimento do estado. O estudo setorial especial de Recursos Hídricos complementa a análise qualitativa desta temática a partir da visão do autor Francisco de Assis Souza Filho. Autor Francisco de Asssis Souza Filho CEARÁ 2050 DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS HÍDRICOS RESUMO EXECUTIVO 1. A Segurança Hídrica é imperativa para promoção do desenvolvimento sustentável. A garantia de água em quantidade e qualidade adequadas para os usos– humanos, econômicos e ecossistêmico - e a prevenção e a resposta a eventos hidrológicos extremos - secas e cheias - são condições básicas para o desenvolvimento da sociedade, sendo as mesmas, também, dimensões intrínsecas à segurança hídrica. 2. As crises devido à escassez hídrica associada as secas marcaram os ciclos de desenvolvimento do Ceará, estas produziram colapsos na produção econômica, nos sistemas urbanos, na saúde entre outros setores, produzindo migrações e grande sofrimento para as populações. Estes fatos encontram-se amplamente documentado nos relatos de secas como as de 1877-78, 1887-90, 1915, 1919, 1932, 1958, 1970, 1981-83, 1998, 2012-2017. Estes impactos tornaram o Risco Hidrológico em Risco Sistêmico por sua abrangência multisetorial, por sua severidade potencialmente catastrófica para a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico das populações humanas. 3. Mitigar os impactos destes eventos tem sido um desafio intergeracional aos cearenses. A redução destes impactos requer o reconhecimento que os processos associados aos recursos hídricos têm características sócio-naturais. Compreender a ocorrência da água na natureza em sua variabilidade espacial e temporal, reconhecer os riscos oriundos destes padrões de ocorrência para reduzir as vulnerabilidades sociais advindas destes riscos deve ser o caminho a ser trilhado. Grosso modo, esta tem sido a trajetória do último século. 4. O Ceará é um estado com baixa disponibilidade hídrica, devido à combinação de uma série de fatores, sobretudo: baixos índices de precipitação (inferiores a 900 mm); altas taxas de evaporação (superiores a 2.000mm); irregularidade do regime de precipitação (secas frequentes e por vezes plurianuais); e um contexto hidrogeológico desfavorável (80% do território sobre rocha cristalina, com camada de solo raso e poucos recursos hídricos subterrâneos). Por isso a maior parte dos rios são naturalmente intermitentes, ou seja, são corpos d’água que secam durante a estação seca. 5. Os eventos de secas plurianuais impõem aos reservatórios a necessidade de transportem a água dos anos chuvosos para anos secos subsequentes, este processo caracteriza a regularização plurianual dos reservatórios estratégicos no Estado. A evaporação dos lagos dos reservatórios impõe perdas de água relevantes neste transporte temporal de água realizados pelos reservatórios, limitando na prática o horizonte da capacidade de regularização. 6. Infraestrutura física de armazenamento e transferência hídrica, sistema de gestão dos recursos hídricos e proteção aos mais vulneráveis através de políticas de assistência social (segurança alimentar) tem aumentado a resiliência da sociedade às secas. 7. A segurança hídrica da população do Estado (8,95 milhões de habitantes) e das atividades econômicas durante os períodos de escassez são, portanto, fortemente dependentes de sofisticada infraestrutura hídrica, com reservatórios, interligação de bacias, canais e adutoras, estações de bombeamento entre outros. No Ceará, além de milhares de reservatórios de menor porte (mais de 28.000), 155 reservatórios são considerados estratégicos por concentrarem a capacidade de reservação plurianual (18,63 bilhões de m³), distribuídos nas 12 regiões hidrográficas do Estado. A infraestrutura hídrica compreende ainda 408 km de canais, 1.784 km de adutoras e redes de distribuição e 32 estações de bombeamento. No total, são 2.582 km de rios perenizados, envolvendo 81 corpos d’água. 8. O problema da água no Ceará não se encerra em ser tão pouca nas secas; há a poluição que degradam a qualidade da água notadamente em anos secos onde eutrofização e salinidade comprometem mananciais; há o problema das cheias urbanas e nos baixos vales dos grandes rios intermitentes; há o problema do elevado custo econômico e financeiro de disponibilização; e há os conflitos associados a apropriação deste recurso escasso, conflitos estes entre regiões, entre usos da água e entre visões sociais e interesses contraditórios. 9. Sistema especializado na gestão dos recursos hídricos com arcabouço político- jurídico- institucional bem definido foi criado no Estado do Ceará integrado e autônomo ao Sistema Nacional de Recursos Hídricos. 10. Até os anos 1990, a política e gestão de recursos hídricos no território do Ceará– e no Nordeste semiárido em geral – eram essencialmente federais, conduzidas por instituições do governo federal que tinham como missão principal o combate contra as secas. Destaca-se aqui o papel do DNOCS. Este contexto político-institucional foi fortemente modificado com a implementação do Sistema de Gestão de Recursos Hídricos em nível estadual, no contexto das reformas da área de águas no Brasil iniciado na Constituição de 1988 e plasmado na Lei Federal das Águas (Lei 9433-97). 11. O Sistema Nacional de Recursos Hídricos que surge da reforma da água no Brasil possui instâncias de participação social (Conselho Nacional de Recursos Hídricos e Comitês de Bacia de Rios Federais) e organização executiva e regulatória na Agência Nacional de Água (ANA). Este sistema tem como objeto primário de ação as águas de domínio da União (rios que cruzam fronteiras dos Estados, fazem fronteira com outros países ou águas oriundas de obras da união). As águas nos lagos dos reservatórios construídos pelo DNOCS e as bacia hidrográfica dos rios Poti e Longar no oeste do Ceará estão sob o domínio da União. Requerendo que o sistema estadual se articule com o Federal para a gestão destas águas. As demais regiões hidrográficas são de domínio estadual, assim como, as águas subterrâneas. 12. O Sistema Estadual de Recursos Hídricos, criado em 1987, de forma similar ao Nacional possui organizações de caráter executiva e instâncias de participação social e prevê a articulação com outros setores e sistemas. As instâncias de participação social são o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Comitês de Bacia Hidrográfica, Comissões de Alocação de Água dos Vales Perenizados e Comissão Gestora de Sistemas Hídricos. As organizações de caráter executivo são a Secretária dos Recursos Hídricos (SRH), Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), Superintendência de Obras Hídricas (SOHIDRA) e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME). 13. A capacidade tecnológica e de pesquisa no Estado do Ceará é fator relevante na construção de soluções inovadoras empreendidas pelo sistema cearense e na capacitação do corpo técnico do sistema de recursos hídricos. Destacando-se o papel exercido pela Pós-Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Ceará criada no início da década de 1970. 14. A formulação e coordenação política, articulação com outras políticas públicas e entre as instituições do Sistema, assim como, o planejamentoda política estadual e outorga de uso da água cabe a SRH. A COGERH tem como foco a operação da complexa infraestrutura de gestão e toda a operacionalização da gestão da demanda e da gestão de conflitos pelo uso da agua. A alocação de água realizada pelas instâncias de participação social é intensamente apoiada pela COGERH, assim como, é esta instituição que desenvolve os planos de bacia hidrográfica. 15. As ações de gestão dos recursos hídricos podem ocorrer em três dimensões: Gestão da oferta (ex. construção, operação e manutenção da infraestrutura de oferta de água superficial e subterrâneas, assim como, de mananciais não convencionais), Gestão da Demanda (ex. outorga de uso água e cobrança pelo uso da água) e Gestão de Conflitos (mediação de conflitos na alocação de água). 16. O sistema de gerenciamento de recursos hídricos construiu instâncias que procuram realizar a mediação de conflitos de forma administrativa. Os conflitos têm as mais diversas fontes, destaca-se os conflitos associados a alocação de água que definem quem (uso, usuário ou região) se apropriará da água para a produção de benefícios de caráter público ou privado. O debate sobre acesso e democratização do uso da água tem neste ponto um de seus focos. Aqui a questão não é exclusivamente quais usos (abastecimento urbano, industrial, irrigação...) irão se apropriar da água mas quem (pequeno, médio ou grande irrigante, que tipo de indústria...) se apropriará e se esta apropriação produzirá equidade e justiça social. Frequentemente este debate tratará do tema de equidade e eficiência do ponto de vista econômico e social. Estes conflitos têm nas alocações entre usos de transposições de bacia momentos de grande intensidade devido ao fato de disputas envolvendo desenvolvimento regionais e olhar patrimonialista sobre os recursos naturais e hídricos constituírem o contexto simbólico e de disputa por recursos escassos que constituem o processo de alocação de água de transposição de bacia. Exemplo desta assertiva pode ser encontrado na transposição de bacia do Rio Jaguaribe para a Região Metropolitana de Fortaleza e o complexo portuário do Pecém. 17. Como anteriormente observado, foram relevantes os avanços na direção de tornar a sociedade mais resiliente as secas, mecanismos de mediação de conflitos construídos assim como mecanismos de financiamento da gestão do sistema formam desenvolvidos. A cobrança pelo uso da água é instrumento essencial da política de águas no Ceará possuindo função econômica (incentivar a conservação de água através do sinal do preço) e função financeira (mecanismo de arrecadação de recursos extrafiscais para financiar o sistema de recursos hídricos). 18. O sistema de recursos hídricos possui, no entanto, desafios e fragilidades que necessitam ser superados. Estas são oriundas de problemas que necessitam de abordagem intersetorial como é o caso, por exemplo: • Abastecimento de populações rurais que vivem em pequenas comunidades – que requer ações de planejamento, construção de infraestrutura e gestão, coordenação do setor de recursos e saneamento para tornar possível a universalização do acesso a água; • Gestão da qualidade da água - que demanda ações de controle de fontes poluidoras e ações do setor de recursos hídricos, meio ambiente e do setor específico a cada uso poluidor; • Melhoria da eficiência no uso da água - que demanda ações do setor de recursos hídricos e do setor específico que deseja promover maior eficiência (ex. irrigação, cidades). • Elaboração de modelo de gestão de águas urbanas - que requer a articulação entre diversos setores e diversas esferas de poder. 19. Assim como fragilidades inerentes ao setor de recursos hídricos: • Elevadas perdas no transporte de água bruta em calha dos rios; • Gestão de Secas que requer planejamento mais proativas • A não incorporação de estratégias adaptativas as mudanças climáticas no planejamento dos recursos hídricos estaduais; • Elaboração de mecanismos de compensação financeira e seguro para as secas. 20. A Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará desenvolveu recentemente planejamento que procura responder a estas questões, entre as medidas destaca-se o projeto Malha D’água que procura ampliar a segurança hídrica para as populações humanas no Ceará. 21. Os modelos de gerenciamento e de tecnologias desenvolvidas na construção do modelo de gestão de águas do Ceará são inovadoras e são consideradas com experiência de sucesso no Brasil por órgãos gestores de água no Brasil e por organismos multilaterais. O Ceará tornou-se uma marca reconhecida em Gestão de Recursos Hídricos recendo delegações de diversos estados brasileiros e delegações internacionais para conhecer o modelo. Esta marca pode tornar-se oportunidade de produção de riqueza para o Ceará se o mesmo possuir a capacidade de construir infraestrutura de Ciência e Tecnologia e de consultoria que possibilite exportar os desenvolvimentos e produtos atuais e futuros do Sistema Estadual de Recursos Hídricos. 22. A democratização do acesso a água e o processo participativo na gestão necessitam ser fortalecidos e aprofundados. 1 Sumário 1 Introdução ...................................................................................................... 2 2 Breve recuperação da história ........................................................................ 9 3 Contexto: Geografia Física, Clima e Recursos Hídricos .............................. 13 4 Análise da Evolução do Setor ...................................................................... 22 Oferta .................................................................................................... 22 Demanda ............................................................................................... 35 Balanço Hídrico .................................................................................... 41 5 Evolução das políticas, instituições e marcos regulatórios para o Setor ...... 44 Política e Sistema Nacional de Recursos Hídricos ............................... 45 Política e Sistema Estadual de Recursos Hídricos ................................ 49 Financiamento do Sistema de Recursos Hídricos ................................. 56 6 Planejamento de Recursos Hídricos do Estado ............................................ 59 APENDICE I: Análise SWOT dos Recursos Hídricos do Ceará........................ 61 APÊNDICE II: “Linha do Tempo” marcando principais eventos, reformas, políticas e inovações ....................................................................................................... 64 ANEXO I: Mapas ............................................................................................... 74 ANEXO II: Sistema Integrado de Saneamento Rural (SISAR) .......................... 79 ANEXO III: Balanço Hídrico da Cagece para o Ceará em 2016........................ 81 ANEXO IV: Atlas de Abastecimento da ANA. .............................................. 82 ANEXO V: Áreas Irrigadas no Ceará ................................................................. 84 2 1 Introdução A Segurança Hídrica é imperativa para promoção do desenvolvimento sustentável. A garantia de água em quantidade e qualidade adequadas para os usos– humanos, econômicos e ecossistêmico - e a prevenção e a resposta a eventos hidrológicos extremos - secas e cheias - são condições básicas para o desenvolvimento da sociedade, sendo as mesmas, também, dimensões intrínsecas à segurança hídrica. As crises devido à escassez hídrica associada as secas marcaram os ciclos de desenvolvimento do Ceará, estas produziram colapsos na produção econômica, nos sistemas urbanos, na saúde entre outros setores, produzindo migrações e grande sofrimento para as populações. Estes fatos encontram-se amplamente documentado nos relatos de secas como as de 1877-78, 1887-90, 1915, 1919,1932, 1958, 1970, 1981-83, 1998, 2012-2017. Estes impactos tornaram o Risco Hidrológico em Risco Sistêmico por sua abrangência multisetorial, por sua severidade potencialmente catastrófica para a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico das populações humanas. Mitigar os impactos destes eventos tem sido um desafio intergeracional aos cearenses. A redução destes impactos requer o reconhecimento que os processos associados aos recursos hídricos têm características sócio-naturais. Compreender a ocorrência da água na natureza em sua variabilidade espacial e temporal, reconhecer os riscos oriundos destes padrões de ocorrência para reduzir as vulnerabilidades sociais advindas destes riscos deve ser o caminho a ser trilhado. Grosso modo, esta tem sido a trajetória do último século. O Ceará é um estado com baixa disponibilidade hídrica, devido à combinação de uma série de fatores, sobretudo: baixos índices de precipitação (inferiores a 900 mm); altas taxas de evaporação (superiores a 2.000mm); irregularidade do regime de precipitação (secas frequentes e por vezes plurianuais); e um contexto hidrogeológico desfavorável (80% do território sobre rocha cristalina, com camada de solo raso e poucos recursos hídricos subterrâneos). Por isso a maior parte dos rios são naturalmente intermitentes, ou seja, são corpos d’água que secam durante a estação seca. As vazões que possam vir a serem encontradas neste período tem como origem a liberação de água dos reservatórios (perenização). Os eventos de secas plurianuais impõem que estes reservatórios transportem a água dos anos chuvosos para anos secos subsequentes, este processo caracteriza a regularização plurianual dos reservatórios estratégicos no Estado. A evaporação dos lagos dos reservatórios impõe perdas de água 3 relevantes neste transporte temporal de água realizados pelos reservatórios, limitando na prática o horizonte da capacidade de regularização. Infraestrutura física de armazenamento e transferência hídrica, sistema de gestão dos recursos hídricos e proteção aos mais vulneráveis através de políticas de assistência social (segurança alimentar) tem aumentado a resiliência da sociedade às secas. A segurança hídrica da população do Estado (8,95 milhões de habitantes) e das atividades econômicas durante os períodos de escassez são, portanto, fortemente dependentes de sofisticada infraestrutura hídrica, com reservatórios, interligação de bacias, canais e adutoras, estações de bombeamento entre outros. No Ceará, além de milhares de reservatórios de menor porte (mais de 28.000), 155 reservatórios são considerados estratégicos por concentrarem a capacidade de reservação plurianual (18,63 bilhões de m³), distribuídos nas 12 regiões hidrográficas do Estado. A infraestrutura hídrica compreende ainda 408 km de canais, 1.784 km de adutoras e redes de distribuição e 32 estações de bombeamento. No total, são 2.582 km de rios perenizados, envolvendo 81 corpos d’água. O problema da água no Ceará não se encerra em ser tão pouca nas secas; há a poluição que degradam a qualidade da água notadamente em anos secos onde eutrofização e salinidade comprometem mananciais; há o problema das cheias urbanas e nos baixos vales dos grandes rios intermitentes; há o problema do elevado custo econômico e financeiro de disponibilização; e há os conflitos associados a apropriação deste recurso escasso, conflitos estes entre regiões, entre usos da água e entre visões sociais e interesses contraditórios. Sistema especializado na questão dos recursos hídricos com arcabouço político- jurídico-institucional bem definido foi criado no Estado do Ceará integrado e autônomo ao Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Até os anos 1990, a política e gestão de recursos hídricos no território do Ceará – e no Nordeste semiárido em geral – eram essencialmente federais, conduzidas por instituições do governo federal que tinham como missão principal o combate contra as secas. Destaca-se aqui o papel do DNOCS. Este contexto político-institucional foi fortemente modificado com a implementação do Sistema de Gestão de Recursos Hídricos em nível estadual, no contexto das reformas da área de águas no Brasil iniciado na Constituição de 1988 e plasmado na Lei Federal das Águas (Lei 9433-97). O Sistema Nacional de Recursos Hídricos que surge da reforma da água no Brasil possui instâncias de participação social (Conselho Nacional de Recursos Hídricos e Comitês de Bacia de Rios Federais) e organização executiva e regulatória na Agência Nacional de Água (ANA). Este sistema tem como objeto primário de ação as águas de 4 domínio da União (rios que cruzam fronteiras dos Estados, fazem fronteira com outros países ou águas oriundas de obras da união). As águas nos lagos dos reservatórios construídos pelo DNOCS e as bacia hidrográfica dos rios Poti e Longar no oeste do Ceará estão sob o domínio da União. Requerendo que o sistema estadual se articule com o Federal para a gestão destas águas. As demais regiões hidrográficas são de domínio estadual, assim como, as águas subterrâneas. O Sistema Estadual de Recursos Hídricos, criado em 1987, de forma similar ao Nacional possui organizações de caráter executiva e instâncias de participação social e prevê a articulação com outros setores e sistemas. As instâncias de participação social são o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Comitês de Bacia Hidrográfica, Comissões de Alocação de Água dos Vales Perenizados e Comissão Gestora de Sistemas Hídricos. As organizações de caráter executivo são a Secretária dos Recursos Hídricos (SRH), Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), Superintendência de Obras Hídricas (SOHIDRA) e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME). O Quadro 1 apresenta estas organizações. A capacidade tecnológica e de pesquisa no Estado do Ceará é fator relevante na construção de soluções inovadoras empreendidas pelo sistema cearense e na capacitação do corpo técnico do sistema de recursos hídricos. Destacando-se o papel exercido pela Pós-Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Ceará criada no início da década de 1970. A formulação e coordenação política, articulação com outras políticas públicas e entre as instituições do Sistema, assim como, o planejamento da política estadual e outorga de uso da água cabe a SRH. A COGERH tem como foco a operação da complexa infraestrutura de gestão e toda a operacionalização da gestão da demanda e da gestão de conflitos pelo uso da agua. A alocação de água realizada pelas instâncias de participação social é intensamente apoiada pela COGERH, assim como, é esta instituição que desenvolve os planos de bacia hidrográfica. As ações de gestão dos recursos hídricos podem ocorrer em três dimensões: Gestão da oferta (ex. construção, operação e manutenção da infraestrutura de oferta de água superficial e subterrâneas, assim como, de mananciais não convencionais), Gestão da Demanda (ex. outorga de uso água e cobrança pelo uso da água) e Gestão de Conflitos (mediação de conflitos na alocação de água). O sistema de gerenciamento de recursos hídricos construiu instâncias que procuram realizar a mediação de conflitos de forma administrativa. Os conflitos têm as mais diversas fontes, destaca-se os conflitos associados a alocação de água que definem quem (uso, usuário ou região) se apropriará da água para a produção de benefícios de 5 caráter público ou privado. O debate sobre acesso e democratização do uso da água tem neste ponto um de seus focos. Aqui a questão não é exclusivamente quais usos (abastecimento urbano, industrial, irrigação...) irão se apropriar da água mas quem (pequeno, médio ou grande irrigante, que tipo de indústria...) se apropriará e se esta apropriação produzirá equidade e justiça social. Frequentemente este debate tratará do tema de equidadee eficiência do ponto de vista econômico e social. Estes conflitos têm nas alocações entre usos de transposições de bacia momentos de grande intensidade devido ao fato de disputas envolvendo desenvolvimento regionais e olhar patrimonialista sobre os recursos naturais e hídricos constituírem o contexto simbólico e de disputa por recursos escassos que constituem o processo de alocação de água de transposição de bacia. Exemplo desta assertiva pode ser encontrado na transposição de bacia do Rio Jaguaribe para a Região Metropolitana de Fortaleza e o complexo portuário do Pecém. Como anteriormente observado, foram relevantes os avanços na direção de tornar a sociedade mais resiliente as secas, mecanismos de mediação de conflitos construídos assim como mecanismos de financiamento da gestão do sistema formam desenvolvidos. A cobrança pelo uso da água é instrumento essencial da política de águas no Ceará possuindo função econômica (incentivar a conservação de água através do sinal do preço) e função financeira (mecanismo de arrecadação de recursos extrafiscais para financiar o sistema de recursos hídricos). O sistema de recursos hídricos possui, no entanto, desafios e fragilidades que necessitam ser superados. Estas são oriundas de problemas que necessitam de abordagem intersetorial como é o caso, por exemplo: i. Abastecimento de populações rurais que vivem em pequenas comunidades – que requer ações de planejamento, construção de infraestrutura e gestão, coordenação do setor de recursos e saneamento para tornar possível a universalização do acesso a água; ii. Gestão da qualidade da água - que demanda ações de controle de fontes poluidoras e ações do setor de recursos hídricos, meio ambiente e do setor específico a cada uso poluidor; iii. Melhoria da eficiência no uso da água - que demanda ações do setor de recursos hídricos e do setor específico que deseja promover maior eficiência (ex. irrigação, cidades). 6 iv. Elaboração de modelo de gestão de águas urbanas - que requer a articulação entre diversos setores e diversas esferas de poder. Assim como fragilidades inerentes ao setor de recursos hídricos: i. Elevadas perdas no transporte de água bruta em calha dos rios; ii. Gestão de Secas que requer planejamento mais proativas iii. A não incorporação de estratégias adaptativas as mudanças climáticas no planejamento dos recursos hídricos estaduais; iv. Elaboração de mecanismos de compensação financeira e seguro para as secas. Os modelos de gerenciamento e de tecnologias desenvolvidas na construção do modelo de gestão de águas do Ceará são inovadoras e são consideradas com experiência de sucesso no Brasil por órgãos gestores de água no Brasil e por organismos multilaterais. O Ceará tornou-se uma marca reconhecida em Gestão de Recursos Hídricos recendo delegações de diversos estados brasileiros e delegações internacionais para conhecer o modelo. Esta marca pode tornar-se oportunidade de produção de riqueza para o Ceará se o mesmo possuir a capacidade de construir infraestrutura de Ciência e Tecnologia e de consultoria que possibilite exportar os desenvolvimentos e produtos atuais e futuros do Sistema Estadual de Recursos Hídricos. A democratização do acesso a água e o processo participativo na gestão necessitam ser fortalecidos e aprofundados. O presente relatório tem por objetivo apresentar diagnóstico dos Recursos Hídricos no Ceará e do Sistema de Gestão. 7 QUADRO 1: ORGANIZAÇÕES DO SISTEMA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS 1. Secretária dos Recursos Hídricos (SRH), criada em 1987, responsável pela formulação da Política Estadual de Recursos Hídricos. Cabe à SRH promover o aproveitamento racional e integrado das águas; coordenar, gerenciar e operacionalizar estudos, pesquisas, programas, projetos, obras, produtos e serviços referentes a recursos hídricos, e promover a articulação dos órgãos e entidades estaduais do setor com os órgãos e entidades federais e municipais. A SRH compõe e coordena o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos - SIGERH, que visa implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos, bem como planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos. São vinculadas à SRH: a Cogerh, a Sohidra e a Funceme. Mais informações: www.srh.ce.gov.br/ . 2. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) foi criada em 1993 com o objetivo de gerenciar a oferta dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos de domínio do Estado e da União por delegação. É o único órgão gestor do Brasil que é uma companhia pública, com sede em Fortaleza e oito gerências regionais. Atualmente, a COGERH tem como modelo a gestão por resultados, orientados por objetivos estratégicos, que podem ser monitorados, em torno de seis principais eixos de atuação: i) operação e manutenção da infraestrutura hídrica; ii) Monitoramento quantitativo e qualitativo dos recursos hídricos; iii) Estudos e projetos; iv) Gestão participativa (com destaque para a alocação negociada de água, através dos comitês de bacia); v) Implementação dos instrumentos de gestão; e iv) Desenvolvimento institucional. O Ceará foi o primeiro a implementar a cobrança pelo uso da água bruta no Brasil, em 1996, que constitui a principal receita para o funcionamento da COGERH e para financiar os custos de monitoramento e operação e manutenção da infraestrutura hídrica; a cobrança aumentou substancialmente ao longo do tempo, indo de R$ 268 mil em 1996 a R$ 104 milhões em 2016. Até o início da cobrança pelo uso da água bruta, foram recursos do BIRD que possibilitaram o desenvolvimento institucional da COGERH (PROURB e PROGERIRH). Mais informações: https://portal.cogerh.com.br/ 3. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), criada em 1972 com o nome de Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais e transformada em 1987 em Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, exerce um importante papel na gestão das águas em função das características marcantes do clima e da hidrologia no semiárido. Sua finalidade básica é realizar pesquisas científicas e tecnológicas, estudos no campo dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos e a prestação de serviços especializados nas áreas de Meteorologia e Recursos Hídricos, incluindo o monitoramento climatológico e hidrológico. Recentemente, a Funceme voltou a fazer parte do Sistema de Recursos Hídricos e atua em quatro áreas afins: Meteorologia, Monitoramento, Recursos Ambientais e Recursos Hídricos, com a finalidade de planejar, implantar e desenvolver políticas públicas ou de ações da iniciativa privada que necessitem de suporte nas informações sobre clima, hidrologia e meio ambiente. Mais informações: http://www.funceme.br/ http://www.srh.ce.gov.br/%20. https://portal.cogerh.com.br/ http://www.funceme.br/ 8 QUADRO 1: ORGANIZAÇÕES DO SISTEMA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS 4. A Superintendência de Obras Hidráulicas (SOHIDRA), é uma autarquia criada em 1987 que tem como finalidade planejar, executar e acompanhar a fiscalização de obras e serviços de interferência hídrica, no âmbito da Política Estadual de Recursos Hídricos, a exemplo do Cinturão das Águas atualmente em construção. Mais informações: http://www.sohidra.ce.gov.br/ 5. Os comitês de bacia e comissões gestoras no Ceará são organismos colegiados que tem como atribuição principal a alocação negociada de água, descrita adiante. Os comitês são criados por bacias hidrográficas, enquanto as comissões gestoras atuam em unidades hidrológicas locais, tais como um vale perenizado e açudes. Esses organismos, juntamente com o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, têm praticado o compartilhamento de decisões sobre alocação de água, sobretudo em situações de escassez, com os organismos governamentais responsáveis pela gestão de recursos hídricos.http://www.sohidra.ce.gov.br/ 9 2 Breve recuperação da história A partir do século XVIII iniciou-se um crescimento mais significativo das populações humanas no semiárido, devido aos diferentes ciclos econômicos (gado, algodão...). Estes ciclos econômicos e suas populações foram marcados pelas secas. Na segunda metade do século XVIII, desenvolvia-se o criatório bovino associado à indústria do charque que tinha como mercado consumidor a zona da mata do Nordeste. Em 1777, pela falta de pastos e de água devido a uma seca, sete oitavos do rebanho bovino do semiárido foi dizimado. Esta seca combinada com a de 1793 levou à falência ou transferência das charqueadas para outras regiões (Rio Grande do Sul principalmente). Após algumas décadas de chuvas regulares no período de 1844 a 1877 e uma conjuntura econômica internacional favorável, as populações humanas cresceram nos sertões associadas à produção de algodão e ao criatório de gado, quando se dá um significativo aumento da densidade demográfica e, neste período, por iniciativa do Imperador Dom Pedro II, foi enviada uma expedição ao Ceará (“Comissão Científica de Exploração” (1859-1861), da qual participaram figuras notáveis como Guilherme Capanema e Raja Gabaglia, com o objetivo de estudar a natureza e aspectos culturais. Esta comissão sugeriu o desenvolvimento de uma política de convivência à seca. Em linhas gerais, propôs como medidas: (i)construção de estruturas de armazenamento de água (açudes, grandes cisternas, etc.); (ii) aproveitamento dos períodos de bonança, para fazer reservas alimentares (humana e animal); e (iii) a necessidade de implantação de políticas permanentes, com recursos a tempo. Esta última, não verificada nem mesmo na construção do Açude Cedro, marco inicial da chamada solução hidráulica. Em 1877, inicia-se um período de secas extremamente severas, que encontrou uma população grande e vulnerável. O evento climático, associado à forma da sociedade produzir e organizar-se, impõe uma catástrofe com perdas de vidas humanas e no colapso do sistema produtivo. Segundo alguns autores, foram quinhentas mil pessoas mortas no Ceará e seus arredores. Este evento coloca o problema das secas como questão de Estado, o qual teve repercussão em fóruns nacionais, passando a ser visualizado como problema nacional, dando origem a movimentos sociais e a políticas governamentais sobre o tema, tornando as secas um fato sócio-natural. A política de águas tem assim seu nascimento associado à escassez quantitativa dos recursos hídricos. A proposta inicial de solução ao problema da escassez foi a 10 construção de infraestrutura de armazenamento que possibilitasse a transferência de água no tempo (da estação seca para a úmida e de anos úmidos para anos secos). Essa iniciativa foi batizada de “solução hidráulica”, contemplando o programa de açudagem que tem como marco inicial a construção do açude do Cedro e que incluía a implementação da irrigação como fator de desenvolvimento da região, sendo a primeira investida neste sentido, a implantação a partir do começo do século XX (1911) de Hortos Florestais às margens dos reservatórios. Neste mesmo intuito, outras investidas foram implementadas até a década de 50 e, já no final da década de 60, inicia-se a Política de Perímetros Públicos Irrigados. No desencadear desta política, gradualmente, deu-se a inclusão de ações/programas estaduais, e hoje está construída uma ampla rede de reservatórios de regularização sazonal (atualmente são cerca de 28.000 micros e pequenos reservatórios) e regularização plurianual. A regularização plurianual tem a capacidade de estocar 18,67 bilhões de m³ e regularizar aproximadamente 128 m 3 /s. Em 1906 foi finalizada a construção do Açude Cedro, na cidade de Quixadá; em 1918, o Riacho do Sangue, em Solonópole e, em 1927, o açude Santo Antônio de Russas, na cidade de Russas, por exemplo. O DNOCS teve papel essencial na construção da infraestrutura hídrica no Estado. É criado, em 1909, a IOCS, Inspetoria de Obras Contra as Secas. Essa instituição mudou de nomenclatura ao longo do tempo, adotando, em 1945, a sigla DNOCS, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. As ações do órgão tinham como características a construção de obras de infraestrutura hídrica, como barragens, açudes e poços, para estocagem de água a ser utilizada nos períodos de crise hídrica, bem como a formação de rede de estradas e mesmo de núcleos populacionais inteiros para acolher os técnicos e suas famílias e os projetos de irrigação. O acúmulo de água aparecia, nas ações iniciais, como um objetivo em si mesmo, sem considerar as formas de apropriação do recurso. Além disso, a problemática das secas ganhou um corpo técnico de estudiosos concentrados no Instituto Politécnico do Rio de Janeiro, cujas propostas apresentadas no contexto da grande seca de 1877, já indicavam a solução hidráulica para o Nordeste brasileiro. Na década de 1950, com o surgimento da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), inicia-se uma nova fase, mais associada ao planejamento regional, baseada nos Estudos Integrados de Base, que tiveram a colaboração de 11 missões estrangeiras. Tais estudos contribuíram para a elaboração dos Planos Diretores de Bacias, os quais, no caso cearense, deram suporte ao Plano Diretor do Vale do Rio Jaguaribe, sob assistência da Missão Francesa, e do Vale do Rio Curu, com apoio da Missão de Israel (SILVA, 2004). Em 1961 é inaugurado o Açude Orós, na cidade de mesmo nome, com a perspectiva de acumular água para os períodos de seca. Contudo, este reservatório só passa a contribuir com a perenização do Vale do Jaguaribe nos anos 1980 quando foi instalada o dispositivo de liberação de água. Dessa forma, torna-se possível a instalação, já no contexto da ditadura iniciada em 1964, dos primeiros perímetros públicos irrigados. Os perímetros atendiam à necessidade de conter as tensões no campo, que se acirravam com a organização dos trabalhadores em torno da luta pela terra e com a migração para a capital do Estado, como também visavam o desenvolvimento da agricultura irrigada, dadas as dificuldades da produção agrícola frente à escassez de água. Nas últimas décadas tem sido executada, com custos de implantação e operação elevados, a ampliação das infraestruturas de transferência hídrica entre diferentes regiões do território através de adutoras e canais. Atualmente, essa infraestrutura é complementar aos leitos naturais, levando água onde a rede natural não leva. Observa-se perdas significativas no transporte em leitos de rios (30 a 80% em alguns rios no período seco), utiliza-se água para transportar água. Além disso, a capacidade de regularização plurianual em diversas bacias hidrográficas cearenses encontra-se próxima de seu limite máximo (Ex: Bacias Metropolitanas, Curu, Médio e Baixo, Médio e Alto Jaguaribe, Salgado e Banabuiu, Acarau). A disponibilidade de água subterrânea no Ceará é relativamente modesta excetuando-se a região do Araripe, Apodi, faixa costeira e formação Serra Grande na Ibiapaba. A disponibilidade em fraturas de rochas no cristalino é pequena não obstante sua relevância para o abastecimento de populações rurais difusas e o abastecimento emergência em períodos secos. A SOHIDRA tem desempenhado papel relevante na construção de poços. A deterioração da qualidade das águas em reservatórios, principalmente no período seco, tem aderido este tema na agenda da política de água na última década. Esta deterioração tem levado a impactos importantes no abastecimento urbano associados a eutrofização, por exemplo. A COGERH vem monitorando a qualidade de 12 água dos reservatórios, no entanto um modelo de gestão de qualidade da água ainda é um desafio a ser superado. Esta recuperação história centra-se no período anterior a implantação do sistemainicial de recursos hídricos, que ocorre em meados dos anos 1980, que será posteriormente discutido. 13 3 Contexto: Geografia Física, Clima e Recursos Hídricos A escassez hídrica no Ceará está associada a semiaridez do clima e a grande variabilidade a ele associada. Os fatores que condicionam estas características climáticas são geofísicos de escala planetária não sendo definidos por processos na escala local. O clima no estado não pode ser modicado localmente como se pretendeu nos anos 1970 e início dos anos 1980 com o programa de Chuvas Artificiais da FUNCEME. Cabe entender e procurar prever a dinâmica climática para reconhecer os seus padrões de ocorrência com vistas a avaliar os riscos e mitigar vulnerabilidades da sociedade. A estratégia atual é gerenciar o risco climático nos recursos hídricos. O Estado tem atualmente na FUNCEME uma instituição de excelência responsável em liderar este processo tanto no monitoramento do tempo e do clima, como em estudos de meteorologia, recursos hídricos e meios ambiente, em articulação com a UFC e UECE, e centros de pesquisa Nacionais e Interncaionais. A relação do Cearense com a seca é profunda. Os relatos históricos dos efeitos deste fenômeno, em épocas de populações com baixa densidade demográfica e de reduzidas demandas hídricas, demonstram a vulnerabilidade da região ao seu clima. Segundo o IBGE (Resolução nº 05, de 2002) o Ceará tem 148.826 Km2 de território, sendo que 86,82% se caracteriza como semiárido, isto, conforme a atualização do mapa geográfico e social do semiárido brasileiro, efetuada através da Portaria de 10 de março de 2005, do Ministério da Integração Nacional, que deu nova delimitação ao semiárido. Por esta delimitação, 150 municípios cearenses (81,5% dos seus 184 municípios) estão na região semiárida. Os semiáridos cearenses são regiões onde predomina o bioma caatinga. A precipitação média anual no estado é de 806 milímetros e a evaporação média anual é de 2.000 a 2.500 mm/ano. A relação entre a precipitação e a elevada evaporação é que caracteriza a semiaridez. A elevada evaporação impõe adicionalmente grande ineficiência a regularização plurianual dos reservatórios. O regime de precipitações apresenta uma grande variabilidade espacial em sua ocorrência como mostrado nas Figura 1a e 1b. A região dos sertões dos Inhamuns apresenta precipitação de 500mm de média anual enquanto a região litorânea tem total de chuva de até 1.800mm. Os semiáridos ocorrem no Ceará de forma heterogênea, constituindo-se de um grande número de paisagens com diferenças na ocorrência de sua fauna, flora e tipos de solo. A diversidade das paisagens é traduzida em aptidões e vulnerabilidades diferentes. 14 A utilização sustentável dos recursos naturais exige o reconhecimento da diversidade dos geoambientes do Ceará. Entre estas paisagens encontra-se a depressão sertaneja; feição mais frequente que se caracteriza em suas diferentes ocorrências por solos rasos, altitude em torno de 200m e pertencentes ao domínio geológico cristalino. Figura 1. Distribuição Espacial das Precipitações no Ceará. (a) médias dos totais anuais no período 1981-2010 e (b) distribuição de 1990 a 2009. Fonte: FUNCEME. O domínio cristalino constitui 75% do território cearense (PERH, 1992), sendo o maior condicionante para a ocorrência das águas subterrâneas no Estado. Sob este domínio, elas acumulam-se em fraturas das rochas com aquíferos de baixa produtividade e de qualidade da água limitante a certos usos, embora que, para algumas populações difusas, tornam-se alternativas de atender suas demandas. Quanto ao domínio sedimentar existem três ocorrências principais: no Cariri cearense, no Apodi e na Faixa Costeira (Aquíferos Barreiras e Dunas) e na Ibiapaba (formação Serra grande). Neste domínio os aquíferos apresentam maior potencial de exploração, no entanto há carência de uma quantificação precisa deste potencial. Embora contribuam significativamente para o abastecimento de sedes e distritos, notadamente a bacia sedimentar do Araripe, que apresenta sobre si considerável densidade demográfica. 15 FIGURA QUADRO 2. Distribuição Espacial das Precipitações no Ceará. (a) médias dos totais anuais no período 1981-2010 e (b) distribuição de 1990 a 2009. (b) Fonte: FUNCEME. 16 A reduzida profundidade do solo cristalino leva a uma pequena capacidade de armazenamento subterrâneo, favorecendo o escoamento superficial o que justificou uma política de açudagem. Contudo a alta evaporação é uma das principais perdas físicas das águas estocadas em reservatórios, assim como, influencia a qualidade da água armazenada ao concentrar sais e nutrientes promovendo salinização e eutrofização dos lagos. Ao comportamento médio do clima, caracterizado pela semiaridez, superpõe-se a significativa variabilidade climática, uma das maiores do planeta. A amplitude do total anual médio precipitação no Ceará para o período de 1911-2017 foi de 249 mm em 1919 a 1708 mm em 1985. A precipitação total anual no Estado do Ceará tem sua estatística básica apresentada na Tabela 1. A evolução temporal dos totais pluviométricos anuais no Estado do Ceará de 1911-2017 encontra-se na Figura 2. Tabela 1. Estatísticas da precipitação total anual no Estado do Ceará, em mm. Parâmetros estatísticos Precipitação (mm) Média 807 Máximo 1708 Mínimo 247 Mediana 786 Desvio Padrão 276 Coeficiente de Variação 0,34 Figura 2. Precipitação no Estado do Ceará no período de 1911-2017: total anual precipitado na linha contínua em azul e média móvel de 12 anos na linha em preto pontilhada (em mm). 1800 1700 1600 1500 1400 1300 1200 1100 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 Anos To ta l A n u al d e P re ci p it aç ão ( m m ) 17 Observa-se então, que uma característica marcante dos semiáridos Cearense e de seus enclaves úmidos, é a grande variabilidade climática. Esta se traduz em uma grande dispersão em torno da média da ocorrência anual das precipitações e vazões, isto é, os valores observados em um dado ano podem ser bastante diferentes (para mais ou para menos) das médias de longo prazo destas variáveis climáticas. Esta variabilidade ocorre no espaço e no tempo, visto que, os três principais sistemas meteorológicos indutores de chuvas no estado apresentam alta irregularidade temporal e espacial. O clima no Ceará possui modos de variação em múltiplas escalas temporais (sazonal, interanual, multidedecadal, centenária). Observa-se na Figura 2 que a média móvel de 12 anos de precipitação varia de 650 mm a 950 mm, período mais úmido com precipitação 50% maior que o período mais seco demonstrando a grande variabilidade entre décadas. Os riscos de extremos hidrológicos (cheias e secas) para um local ou região estão associados a estes modos de variação. Identificar e entender os modos de variação do clima torna-se decisivo para quantificar os riscos hidrológicos e consequentemente a definição dos mecanismos de gerenciá-los. As precipitações ocorridas na cidade de Fortaleza ilustram estes modos de variação. Observa-se na Figura 3 que a variação interanual dos totais de precipitação anual varia de 500 mm a 2800 mm, ou seja, o máximo é mais de cinco vezes o mínimo anual no período de 1849 a 2006. Esta variabilidade superpõe-se a uma pronunciada variabilidade sazonal onde 70% dos totais das precipitações ocorrem em três meses (fevereiro, março e abril) e 90% no primeiro semestre do ano. E é sobreposta por uma QUADRO 2: PRINCIPAIS SISTEMAS PRODUTORES DE CHUVA NO CEARÁ Os vórtices ciclônicos de ar superior, indutor de chuvas na denominada pré-estação (dezembro e janeiro), normalmente iniciam-se no Cariri, chegando à Ibiapaba e demais serras úmidas. Quando existentes,manifestam-se cedo, se alargados atingem o setor Sul do Sertão Central, porém, muito raramente seu Norte, fazendo com que nesta área e nas demais, as precipitações aconteçam posteriormente. A zona de convergência intertropical, principal sistema indutor de precipitações, está relacionada à quadra chuvosa (fevereiro a maio), originando-se com a formação de nuvens no Oceano Atlântico, deslocadas pelos ventos alísios em direção ao Ceará. Ocorrem com maior frequência em março, justificando o registro de chuvas mais intensas para este mês. Sua frequência irregular é fator da variabilidade pluviométrica, contudo é o sistema de maior previsibilidade. Já as ondas de leste, embora pouco influentes, também contribuem para a variabilidade, são eventuais e concentradas na zona litorânea. Estes sistemas climáticos são condicionados por condicionantes climáticos de larga escala como as temperaturas da superfície do mar (TSM) do Oceano Pacífico na região do El Nino e da TSM do Atlântico Tropical norte e sul (Dipolo do Atlântico). A relação destas variáveis climática e do regime de precipitação no Ceará é mostrada na Figura QUADRO 2. Sistema orográfico de precipitação localizado a barlavento das terras úmidas do Baturité e Meruoca. 18 variabilidade multidecadal que pode ser observada na Figura 3 onde a precipitação média em uma década pode variar de entorno de 1000 mm a 1800 mm. Estes modos de variação traduziram-se em impactos sócio-econômicos de grande vulto que condicionaram os ciclos econômicos e marcaram a cultura da região. Figura 3. Precipitações na Cidade de Fortaleza no período de 1849 a 2017 (proxy construída com múltiplos postos pluviométricos): totais anuais em azul e média móvel de 10 anos em preto. Os modos de variação do regime de chuvas são amplificados na vazão, fato associado ao sinal da precipitação se superpor ao da evapotranspitação, de forma que anos secos tem baixa precipitação e alta evaporação e o inverso ocorrendo em anos úmidos. A Figura 4 apresenta as vazões na seção fluviométrica de Iguatu no rio Jaguaribe no Estado do Ceará com área de drenagem de 20.000 km2. Este é um rio intermitente (caracterizando pronunciada variabilidade sazonal) que teve vazões médias anuais variando de zero a 220 m3/s, assinalando a significativa variabilidade Interanual. A gestão da oferta de água através da construção de infraestrutura de estocagem de água é uma estratégia eficiente para mitigar o impacto destes padrões de variação. Pequenos reservatórios podem reduzir a variabilidade sazonal e reservatórios grandes podem reduzir a severidade média dos eventos de extremos de secas ou cheias. A variabilidade decadal é também relevante neste contexto, observa-se na referida figura que a média móvel de 10 anos varia entre 20 m3/s (década anterior a 1945) e 70m3/s (década anterior a 1925). Apenas por hipótese, suponha que poder-se-ia utilizar integralmente este recurso par irrigar e que o consumo da irrigação seria de 1,0 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Ano Pr ec ip it aç ão A n ua l ( m m ) 1 8 4 0 1 8 5 0 1 8 6 0 1 8 7 0 1 8 8 0 1 8 9 0 1 9 0 0 1 9 1 0 1 9 2 0 1 9 3 0 1 9 4 0 1 9 5 0 1 9 6 0 1 9 7 0 1 9 8 0 1 9 9 0 2 0 0 0 2 0 1 0 2 0 2 0 19 l/s.ha. Sob esta hipótese poder-se-ia irrigar 70 mil hectares na década mais úmida e 20 mil hectares na década seca. A possibilidade de irrigar 3,5 vezes mais área é um exemplo da relevância econômica da variabilidade decadal. Figura 4. Vazões no Posto Fluviométrico de Iguatu (Ceará): médias anuais em pontos azuis e média móvel de 10 anos na linha preta cheia. 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Diferentemente da variabilidade interanual, os estoques de água não conseguem mitigar este tipo de variação devido ao longo período de exposição das superfícies de lagos com grande volume de água expostas ao efeito da evaporação, isto é, a evaporação secaria os lagos antes que a década seca termine. Para a variabilidade decadal a infraestrutura hídrica de transposições de bacias que associem sistemas com diferente padrão de ocorrência climática (se disponíveis e viáveis), a gestão da demanda e dos conflitos são frequentemente as ferramentas mais relevantes para lidar com este modo de variação, capazes de mitigar o seu efeito. A gestão da oferta se realizando através do dimensionamento, operação e manutenção da infraestrutura hídrica, sendo a segurança (hidrológica, hidráulica, estrutural, geotécnica...) desta infraestrutura aspecto essencial. Gestão da demanda consistindo em todas as ações relacionadas aos usos econômicos e sociais da água e a sustentabilidade ambiental. Aspectos como conservação da água (uso racional) e flexibilidade dos usos são dimensões relevantes, a gestão da demanda é realizada através de instrumentos como outorga, cobrança entre outros. A Gestão de Conflito tem sua necessidade em decorrência da escassez relativa dos recursos hídricos. Esta escassez impõe a necessidade de alocar a água entre os diferentes usos potenciais ou efetivos, este fato está associado a disputas de interesses conflitantes que necessitam ser Afluências Iguatu Média Movel (10 anos) Polinômio V a z ã o ( m 3 /s ) 20 administrados; para tanto faz-se necessário arcabouço político/jurídico/institucional adequado. O reconhecimento dos padrões de variação climáticos em cada região hidrográfica, bacia ou localidade é decisivo para escolha e configuração dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos. Quanto maior for a variabilidade climática (que pode ser medida em uma primeira aproximação pelo coeficiente de variação das séries temporais) maior será o desvio das condições médias associado a um evento extremo para uma mesma probabilidade de ocorrência. Isto é, maior variabilidade pode estar associada a maior severidade dos extremos de secas e cheias. Isto imporá a necessidade de uma melhor gestão de risco nas três dimensões da gestão dos recursos hídricos. A mudança climática para o setor de recursos hídricos tem sua relevância na medida de quanto pode modificar o padrão médio de ocorrência dos processos hidrológicos (precipitação, vazão, evaporação...) e de seus modos de variação. Desafio atual é quantificar o impacto das potenciais mudanças do clima no regime de precipitação e vazão de uma bacia hidrográfica, amplificando-se esta dificuldade na razão inversa ao tamanho da bacia. Os modelos de cenarização da mudança do clima convergem consistentemente na indicação de aumento de temperatura e de sua amplitude para todas as regiões do planeta. Este fato não se reproduz quando avaliada as precipitações produzidas pelos diferentes modelos. Havendo neste caso discrepância não apenas na intensidade da mudança como em sua direção. Isso amplifica-se quando se analisam as vazões. Exemplificando a afirmação supracitada a Figura 5 apresenta o cenário de afluências para o reservatório Pacoti-Riachão no Estado do Ceará para dez modelos de mudança climática para o RCP 4.5 no CMIP5 utilizados no IPCC. Observa-se que quatro modelos apresentam sinal de aumento de vazões e seis de redução de vazões. Resultado similar é observado para as afluências aos reservatórios Orós, Banabuiú e Castanhão. Os modelos de mudança climática com algumas poucas exceções traduzem futuros possíveis, futuros verossímeis. Desta forma não considerar estes futuros no gerenciamento de recursos hídricos é desconsiderar as incertezas associadas ao clima e consequente as variáveis de oferta (ex. vazões) e demanda (evapotranspiração de culturas irrigadas, temperatura nas demandas urbanas) associadas a ele. Isso pode nos 21levar a se investir em ações que se mostrarão inadequadas no futuro e associadas a alto nível de arrependimento. Figura 5. Desvios percentuais das vazões com relação as vazões médias do Século XX para as afluências aos reservatórios: (a) Castanhão, (b) Orós, (c) Bananuiú e (d) Pacoti- Riachão. 22 4 Análise da Evolução do Setor 4.1 Oferta A disponibilidade hídrica natural no Ceará está associada a água meteórica, superficial e subterrânea. A água meteórica tem aproveitamento direto em escala local associado a agricultura de sequeiro e as cisternas rurais. Sua ocorrência apresenta grande variabilidade espacial e temporal associada a ocorrência das chuvas. O risco da oferta associado a este manancial é elevado. A disponibilidade de água devido ao escoamento superficial é a maior responsável pelo abastecimento dos diversos usos da água. A ocorrência natural dos escoamentos superficiais apresenta grande variabilidade sazonal. Os rios são intermitentes, escoam durante o primeiro semestre do ano civil e são secos no segundo semestre. Como narrado anteriormente os escoamentos fluviais apresentam grande variabilidade interanual e interdecadal. As principais bacias hidrográficas do estado e os seus principais rios são apresentados na Tabela 2. Observa-se que 49,5% do território cearense drena suas águas para o Rio Jaguaribe. A construção de reservatórios foi a estratégia utilizada para reduzir a variabilidade sazonal e interanual característica do regime fluvial dos rios intermitentes do Ceará. A evolução temporal dos estoques é mostrada na Figura 6. Atualmente o Ceará tem uma capacidade de armazenamento de 18,6 bilhões de metros cúbicos. Os cinco maiores reservatórios Castanhão (6,7 bilhões de m3), Orós (1,9 bilhões de m3), Banabuiú (1,6 bilhões de m3), Araras (0,89 bilhões de m3) e Figueiredo (0,52 bilhões de m3) armazenam juntos 61% da capacidade de estocagem e quatro deles encontram-se no Vale Perenizado do Rio Jaguaribe. Observa-se na Figura 7 um aumento significativo dos estoques nos períodos: (i) após a seca de 1958 no Governo Juscelino onde foram construídos os reservatórios: Ararás (1958), Orós (1961), parcialmente Banabuiú (1966); (ii) no período de 1985- 2015 em função da construção do Castanhão (2003) e Figueiredo (2013) construído pelo DNOCS e o programa de açudagem regional do Governo do Estado nos programas PROURB (15 reservatórios) e PROGERH (10 reservatórios). 23 Tabela 2. Principais Bacias Hidrográficas e Rios no Ceará. Bacias Hidrográficas Área (Km²) Área (%) Alto Jaguaribe 24.636 16,78 Salgado 12.865 8,76 Médio Jaguaribe 10.376 7,07 Banabuiú 19.316 13,15 Baixo Jaguaribe 5.452 3,71 Bacias Metropolitanas 15.085 10,27 Acaraú 14.423 9,82 Coreaú 10.657 7,26 Curu 8.528 5,81 Bacias Litorâneas 8.619 5,87 Bacia dos Sertões de Crateús 10.821 7,37 Bacia da Serra da Ibiapaba 5.988 4,13 Estado do Ceará 146.858 100,00 Fonte: COGERH. 24 Figura 6. Evolução Temporal da capacidade de armazenamento de águas superficiais do Ceará em milhões de metros cúbicos. A capacidade de estocar água não representa em si a disponibilidade hídrica efetiva. A sua importância encontra-se na possibilidade de controlar os extremos de cheias ao armazenar água e os de seca ao liberar água. Parcela relevante do estoque de água é perdida pela evaporação em função de ter que se transportar água por vários anos. A disponibilidade efetiva para uma garantia de 90% (consegue suprir a vazão declarada em nove de cada dez anos) para os diversos reservatórios encontra-se na Tabela 3. A vazão regularizada total apresentada nesta Tabela é de 130,21 m3/s, este valor não incorpora a contribuição do Castanhão. A construção desta rede de açudagem permitiu a perenização de um total de 2.582 km de rios perenizados, envolvendo 81 corpos d’água no ano de 2012. A distribuição espacial destes rios perenizados pode ser observada no mapa da Figura 7. A utilização da rede fluvial para realizar o transporte da vazão regularizada tem a grande vantagem do baixo custo de transporte (não há necessidade de construir ou manter infraestrutura de transferência, assim como, não se paga energia) no entanto, apresenta elevadas perdas de transporte (utiliza-se água para transportar água). A baixa eficiência no transporte se traduz em custos elevados associado a perda de água regularizada e a parcela do impacto das secas que poderiam ter sido mitigada se não houvesse as referidas perdas de transporte. 20.000 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 Ano C ap ac id ad e d e A rm az en am e nt o ( m ilh õ es d e m 3) 25 Tabela 3. Vazão Regularizada dos Reservatórios. Reservatório Q90 (m³/s) Reservatório Q90 (m³/s) Reservatório Q90 (m³/s) Acaraú Mirim 0.73 Favelas 0.51 Prazeres 0.12 Adauto Bezerra 0.05 Flor do Campo 0.12 Premuoca 0.09 Amanary 0.28 Fogareiro 3.42 Quandú 0.04 Angicos 0.66 Forquilha 1.24 Quincoé 0.20 Aracoiaba 5.03 Frios 1.26 Quixabinha 0.04 Araras 12.56 Gangorra 0.70 Quixeramobim 1.26 Arneiroz II 3.03 Gavião 0.42 Realejo * Arrebita 0.46 General Sampaio 4.17 Riachão 0.10 Atalho 0.63 Gomes 0.04 Riacho do Sangue 3.49 Ayres de Souza 3.93 Itaúna 0.56 Rivaldo de Carvalho 0.19 Banabuiú 13.56 Jaburu II 0.70 Rosário 0.34 Barra Velha 0.38 Jatobá * S. Ant. de Aracat. 0.14 Benguê 0.31 Jenipapeiro 0.19 S. Ant. de Russas 0.91 Bonito 0.04 Jerimum 0.09 S. Maria de Aracat. 0.02 Cachoeira 0.35 Joaquim Távora 0.25 S. Pedro Timbaúba 0.92 Canafístula * Lima Campos 0.29 Salão 0.15 Canoas 0.39 Madeiro * Santo Antônio * Capitão Mor * Malcozinhado 0.43 São Domingos 0.10 Caracas 0.19 Manoel Balbino 0.11 São José II 0.73 Carão * Martinópole 0.39 São Mateus 0.26 Carmina * Mons. Tabosa 0.04 São Vicente 0.19 Carnaubal 0.67 Muquém 0.69 Serafim Dias 0.28 Castanhão * Nova Floresta 0.17 Sitios Novos 1.73 Castro 2.72 Olho dÁgua 0.13 Sobral * Catucinzenta 0.15 Orós 10.43 Souza 0.68 Cauhipe 0.19 Pacajus 7.05 Sucesso 0.18 Caxitoré 0.81 Pacoti 5.33 Tatajuba 0.01 Cedro 0.01 Parambu 0.03 Tejuçuoca 0.90 Cipoada 3.42 Patos 0.15 Thomás Osterne 0.11 Cupim 0.07 Pau Preto 0.02 Trapiá III 0,26 Colina 0.05 Patu 0.82 Trapiá II 0.12 26 Tabela 4. Vazão Regularizada dos Reservatórios. (Continuação) Reservatório Q90 (m³/s) Reservatório Q90 (m³/s) Reservatório Q90 (m³/s) Desterro 0.15 Pedras Brancas 4.05 Trici 0.46 Diamante 0.09 Pentecoste 10.25 Trussu 1.62 Do Coronel 0.01 Pirabibu 0.96 Tucunduba 1.64 Edson Queiroz 2.39 Poço da Pedra 0.09 Ubaldinho 0.26 Ema * Poço do Barro 2.51 Valério 0.01 Estrema 0.19 Poço Verde 0.11 Várzea do Boi 0.31 Faé 0.99 Pompeu Sobrinho * Vieirão 0.01 Farias de Sousa 0.05 Potiretama 0.08 Figura 7. Rede de açudagem e Rios Perenizados. O Ceará possui dois domínios de águas subterrâneas: a) o das rochas sedi- mentares, que ocupam somente vinte e sete por cento (27%) da área do Estado; b) o das 27 rochas cristalinas, que ocupam setenta e três por cento (73%) da área do Estado. O domínio sedimentar apresenta água em maior e melhor qualidade que a disponível no domínio cristalino. A Figura 8 apresenta os principais aquíferos do Estado com os valores percentuais de suas áreas de ocorrência conforme apresentado no Pacto da Águas. Figura 8. Mapa geológico esquemático do Ceará com a indicação dos principais sistemas aquíferos e os percentuais das áreas de ocorrência. Fonte: CPRM, 2003. 28 QUADRO 3: DESCRIÇÃO DOS AQUIFEROS DO CEARÁ (Aluviões – 2,9%) Os Aluviões são aquíferos livres, com espessuras de até 5 metros. São representados por sedimentos de granulometriamuito fina, frequentemente intercalados com níveis argilosos e orgânicos, derivados de uma ação erosiva sobre rochas sedimentares e migração de partículas das zonas de mangue. Eles são, ainda hoje, os aquíferos mais utilizados pela população no interior cearense.Eles podem ser de pequeno, médio e grande porte. Os poços que são implantados nas aluviões de pequeno porte atingem vazões superiores a 10m³/h, na sua maioria. Enquanto que, as aluviões de médio e grande porte geram vazões superiores a 50m³/h. (Dunas/Barreiras – 10,0%) Dunas/paleodunas se constituem os melhores potenciais hidrogeológicos ao longo do litoral contribuindo substancialmente para o abastecimento de agua dessa região. São compostos por areias pouco consolidadas e extremamente homogêneas, finas a médias, com diâmetro efetivo predominando entre 0,15 a 0,25 mm e espessuras entre 10 - 25 metros. A captação nesse tipo de aquífero é realizada por poços tubulares rasos, com profundidades inferiores a 20 metros, que produzem vazão média de 6,0 m³/h, podendo alcançar até 16,0 m³/h. Outro tipo de domínio hidrogeológico que ocorre ao longo do litoral é o Barreiras. Ele possui uma espessura média entre 40 e 50 metros, representada por intercalações de níveis arenosos a síltico-argilosos que condicionam a diferentes permeabilidades, tanto vertical quanto horizontalmente. Com isso, sua potencialidade é baixa com vazão média de 2,8 m³/h. (Apodi – 1,8%) São um aquífero livre no qual a recarga se procede pela infiltração de aguas pluviais em áreas de afloramento e pela transferência do Grupo Barreiras. A captação nesse tipo de domínio é realizada por poços tubulares, com profundidades médias de 60 metros, que produzem vazões medias superiores a 50,0m³/h, podendo alcançar até 200,0 m³/h. Vale ressaltar que: a) As condições de solo, clima e topografia favorecem a agricultura irrigada o que leva ao crescimento desordenado da irrigação. Isso pode levar a exaustão do aquífero como ocorreu em Baraúnas-RN; b) Existe o risco de contaminação devido ao uso indiscriminado de agrotóxicos; c) É um aquífero extremamente vulnerável na área aflorante; d) Verificou-se a existência de poços acima 300m (na área da Chapada do Apodi). (Araripe – 4,2%) É um domínio com uma diversificação litológica que se caracteriza por sequencias alternadas de arenitos, siltitos, calcarios, argilitos e folhelhos, podendo alcançar uma espessura total da ordem de 1.600m. Destaca-se o aquífero do Rio Batateira, Mauriti e o Missão Velha, cujas vazões, em geral elevadas, podem atingir valores superiores a 250 m³/h. Tem-se, também, o Exu que libera cerca de 140.000 m³/dia. Esses aquíferos são estudados por diversas instituições no Estado como: a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM); a COGERH; a FUNCEME; e a Universidade Federal do Ceará. (Parnaíba – 5,8%) A Bacia Sedimentar do Parnaíba é a terceira maior do Brasil, contudo, no Ceará localiza-se apenas os arenitos da formação Serra Grande. Estes podem alcançar uma espessura da ordem de 300 m. Possuem um comportamento de aquífero fissural cujos poços tem profundidade de 67 m e vazões de 3,7m³/h. Nesse aquífero tem-se a preocupação com o: (i) O intenso desmatamento que reduz a infiltração; e, (ii) O uso indiscriminado de agrotóxicos que aumenta o risco de contaminação. (Cristalino – 72,9%) O domínio do Cristalino tem fraca vocação aquífera, condicionada pela existência de zonas fraturadas, abertas, interconectadas e associadas a fonte de recarga. Os poços têm profundidade média de 50 a 60 metros, nível estático oscilando entre 10 e 20 metros, vazão média de 2 e 3 m³/h e capacidade específica inferior a 1,0(m³/h)/m. A alimentação se dá pela infiltração pluviométrica, drenagens influentes, lagoas, açudes e contribuição dos sistemas aquíferos sobrepostas. Sua principal vantagem e a distribuição espacial, que possibilita o abastecimento da população 29 ANO A exploração dos mananciais subterrâneas é realizada através da perfuração de poços. A SOHIDRA perfurou no período 1987-2017 um total de 10.743 poços, a evolução temporal da perfuração de poços encontra-se apresentada na Figura 9. A análise deste gráfico indica que há um aumento da quantidade de poços perfurados no segundo ano de seca. A relação entre perfuração de poços e secas no Ceará é longa. Os primeiros poços tubulares do Brasil foram perfurados na seca 1945-1846 em Fortaleza pela empresa Armstrong and Sons Drillers Co., do Texas (EUA), contratada pela Ceará Water Supply Co., concessionária do abastecimento daquela cidade. A empresa norte americana trouxe três máquinas percussoras a vapor e pessoal técnico especializado. Os poços com 150 metros de profundidade não foram recebidos pela contratante por não serem artesianos (Leal, 1999). Encontram-se cadastrados no SIAGAS (http://siagasweb.cprm.gov.br/) da CPRM mais de 23.000 poços no Ceará. Figura 9. Evolução Temporal da perfuração de poços da SOHIDRA. Fonte: SOIDRA. Rede de adutoras para o abastecimento de cidades foi construída no Ceará. A infraestrutura hídrica compreende 1.784 km de adução com capacidade de transportar uma vazão total de 4.807 l/s. A Figura 10 apresenta a evolução temporal das adutoras identificadas na base de dados da SRH. Observa-se um crescimento significativo em meados dos anos 1990 associada aos Programas Adutora do Sertão, PROURB e PROÁGUA. A distribuição espacial destas adutoras encontra-se na Figura 11. N Ú M ER O D E P O Ç O S P ER FU R A D O S. 41 13 7 93 16 1 14 7 23 8 26 7 19 7 28 16 9 28 2 77 4 19 7 12 7 34 9 23 2 47 15 7 89 4 05 90 30 4 26 3 29 4 21 4 26 1 33 6 59 2 11 47 19 94 11 11 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 2 0 1 7 http://siagasweb.cprm.gov.br/) 30 Figura 10. Evolução Temporal do comprimento das adutoras em operação no Ceará (Base de SRH-Ce) Figura 11. Rede de Adutoras do Estado do Ceará. Vale ressaltar que a distribuição espacial das populações humanas e atividades econômicas não corresponde a distribuição espacial da disponibilidade hídrica. A equalização da oferta e demanda entre regiões requer em algumas situações a 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 ANO A d u to ra s (k m ) 31 transposições de volumes de água significativas entre bacias hidrográficas, configurando-se nas Transferência de Bacias Hidrográficas. A principal transposição de bacia no Ceará (Figura 12) é a que transporta água da bacia do Jaguaribe para as Bacias Metropolitanas composto por adutoras, estações elevatórias, reservatórios, aquedutos e canais com extensão total de 256 km. O projeto do Eixo da Integração Jaguaribe-Metropolitano (denominação desta transposição) foi dimensionado para uma vazão máxima de 22 m3/s para ser construído em duas fases. O custo total dessa infraestrutura foi de aproximadamente um bilhão de reais. A primeira fase, já concluída, comtempla a construção de todos os canais em sua capacidade máxima e com metade da capacidade máxima os sifões construídos de travessia de talvegs fluviais e estações de bombeamento. A segunda etapa, ainda não construída, concluiria as obras dos sifões e estações de bombeamento. Figura 12. Transposiçãode Bacias do Rio Jaguaribe para as Bacias Metropolitanas. Esta transferência de bacia é complexa tecnicamente e politicamente. A complexidade técnica advém da operação de sistema de reservatórios estratégicos de duas regiões hidrográficas (reservatórios Orós, Castanhão, Banabuiu, Aracoiaba, Pacajus, Pacoti, Riachão, Gavião e Sítios Novos) e da operação da infraestrutura hidráulica que realiza a transposição. Corpo técnico especializado é requerido para tratar deste tema. A operação desta infraestrutura impõe custos elevados de energia elétrica 32 nas estações de bombeamento e recursos de custeio para a manutenção e reposição de máquinas, equipamentos e infraestrutura civil. Atualmente a cobrança pelo uso da água bruta financia a operação, manutenção e recuperação desta infraestrutura. A complexidade política da transposição reside no fato da água ser um recurso escasso principalmente no semiárido e transpor água de uma bacia para outra pode restringir o desenvolvimento e produzir impactos negativos na região doadora de água. A bacia receptora requer água para resolver problemas crônicos de desenvolvimento econômico e qualidade de vida para suas populações. Esta escassez hídrica traduz-se em conflitos sociais pela apropriação deste bem. Estratégia de mediação de conflito e compensação as bacias doadoras necessitam ser implementadas. Mediação de conflitos entre a Bacia do Jaguaribe e Metropolitanas vem sendo realizada pela COGERH nas reuniões de Alocação Negociada de Água, de fato a COGERH nasce para a sociedade em julho de 1994 na I Reunião de Operação dos Reservatórios do Vale do Jaguaribe (“Seminário dos Usuários dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú”). A gestão de conflitos na alocação de água é dimensão essencial a gestão dos recursos hídricos. O aprimoramento da gestão das águas nas Cidades principalmente nas regiões metropolitanas localizadas em bacias hidrográficas em que a demanda superou a oferta hídrica deve ser realizado. Esta gestão deve procurar a maior eficiência do uso da água local, o desenvolvimento de uma economia que seja menos intensiva na utilização da água e que utilize ao máximo mananciais locais convencionais e não convencionais (ex. reuso da água). Estas ações são necessárias para reduzir as externalidades negativas que a bacia receptora impõe a bacia doadora. Cabe observar que a água é pública e como tal ela não pertence as atividades econômicas ou populações residentes na bacia onde ela origina-se. A União e os Estados federados é quem possuem o domínio da água e podem alocar a mesma observando interesses mais amplos que aqueles localizados entre as fronteiras topográficas da bacia hidrográfica. Deve-se considerar os interesses de todas as populações residentes no Território nacional (entendido como o espaço geográfico de realização do poder). Aqui reside uma dimensão importante da política de águas: recursos hídricos como desenvolvimento social e econômico. Esta dimensão política de desenvolvimento da água, sua intersetorialidade, por ser bem público do ponto de vista econômico exigem que a mesma não tenha sua alocação realizada por mercados como as commodities. 33 Os impactos da Seca 2012-2017 (momento que se escreve este relatório) demostraram a vulnerabilidade de diversos sistemas de abastecimento de cidades, áreas irrigadas, indústria e outros usos econômicos. Os cinco maiores reservatórios do Estado estão, no mês de janeiro de 2018, com armazenamentos muito baixos: Orós (5,3%), Castanhão (2,33%), Banabuiú (0,46%), Figueiredo (0,0%) e Araras (7,11%). O armazenamento total do Ceará é de 6,7%. Este fato demonstra que todo o esforço realizado na construção da infraestrutura hídrica e na gestão dos recursos hídricos podem não evitar o colapso em áreas sensíveis como a Região Metropolitana de Fortaleza em seca um pouco mais prolongadas ou severas que a atual. A necessidade de incorporação de novos mananciais faz-se presente. A utilização do reuso das águas nos centros urbanos transformando o esgoto de resíduo em recurso e a utilização de água de chuva são soluções que devem ser operacionalizadas. Neste sentido mecanismos de comando e controle como a mudança do código de postura das cidades e incentivos econômicos devem ser construídos para o uso destes mananciais. Observa-se, no entanto, que estudos de viabilidade econômica e ambiental necessitam ser realizados para a avaliação da viabilidade destas ações. O reuso da água pressupõe o seu uso inicial. A água de chuva pressupõe a ocorrência das chuvas. Estes mananciais estão altamente correlacionados com a disponibilidade hídrica superficial, o que se traduz na permanência de elevada vulnerabilidade a uma seca prolongada e severa. A construção de portfólio de mananciais que reduzam o risco as grandes secas requer a incorporação de águas oriundas de bacias hidrográficas com regime hidrológico diverso dos rios cearenses ou que tenham reservas hídricas altas com relação as demandas do Ceará; ou a incorporação de mananciais completamente independes, como ás águas do mar. A CAGECE está realizando iniciativas importantes para viabilizar o reuso da água coletadas e tratadas por ela e dessalinização de água do mar. O Plano Fortaleza 2040 propôs estratégias para o reuso de águas cinzas em residências individuais e condomínios assim como a utilização de águas de chuva em ambiente urbano. O Projeto de Integração do São Francisco as bacias do Nordeste Setentrional (PISF) é parte relevante do portfólio de mananciais que reduzam o risco hidrológico para diversos hidrossistemas estaduais. Como toda transposição, ela apresentou conflitos intensos para a sua construção e deverá apresentar conflitos no processo de alocação entre bacia doadora e receptora e entre os Estados receptores pela água 34 transposta. Este segundo conflito pode ser mitigado frente a potencial associação entre custos e a água alocada para cada um dos Estados. Como reguladora do uso de recursos hídricos, a ANA emitiu outorga de direito de uso ao Ministério da Integração Nacional (construtor da obra) no rio São Francisco para a execução do PISF, com garantia de uma vazão de 26,4 m³/s para consumo humano e dessedentação animal, mesmo em caso de secas na região. Essa vazão pode chegar a alcançar a máxima instantânea de 127 m³/s quando a situação hídrica na bacia do São Francisco estiver em melhores condições. A Figura 13 mostra o traçado do PISF. O Eixo Norte é o que abastecerá o Ceará. A entrada das águas do PISF no Ceará será pela bacia do Rio Salgado afluente do Jaguaribe. Tendo ponto de entrega mais próximo ao Castanhão próximo ao município de Aurora. O reservatório Castanhão armazenará as águas da transposição. O Ceará espera receber de 8-10 m3/s das águas traspostas. Esta vazão é menor do que a vazão ofertada para a Região Metropolitana de Fortaleza e Pecém que em 2012 chegou a 12 m3/s. Figura 13. Transposição do São Francisco. Fonte: Adaptado da ANA (2010). O PISF aumenta a capacidade de suprir as regiões que tenham acesso ao Rio Salgado, Rio Jaguaribe em seu curso médio e baixo de forma direta ou através de 35 transposições como foi proposto pelo Governo do Estado do Ceará no Cinturão das Águas. O conjunto de canais, tuneis, estações de bombeamento do Cinturão das Águas disponibilizaria água para regiões das bacias hidrográficas do Alto Jaguaribe, Acaraú e Curu entre outras. O custo estimado da obra é de oito bilhões de reais. O primeiro trecho dela está em curso e transporta a água desde a chegada da transposição em Jati até aproximadamente o divisor de água da Bacia do Salgado e do Alto Jaguaribe. A viabilidade técnica, econômica e ambiental em seu conjunto e de cada trecho necessita ser analisada em profundidade com vistas a definição de sua prioridade frente a recursos financeiros escassos. A Secretariade Recursos Hídricos está desenvolvendo projeto de infraestrutura denominado de Malha D’Água. Este projeto objetiva suprir água para todas as sedes municipais e principais distritos de todos os municípios cearenses através da construção de uma ampla rede de adutoras. Os mananciais que suprirão esta rede são os que consigam proporcionar maior segurança hídrica aos sistemas de abastecimento. Esta rede terá capilaridade que permitirá abastecer praticamente todos os distritos do estado com adutoras complementares a rede principal. Economias de escala importantes na rede de estações de tratamento de água serão alcançadas com este projeto. Redução nas perdas de transporte em rios serão alcançadas por transportar-se água em ductos e não em rios, esta água não perdida transforma-se em maior segurança hídrica para as populações. Este projeto tem como grande desafio a operação deste sistema e o aumento do custo da água de suprimento das populações. Demanda As demandas para recursos hídricos cresceram de forma importante nas últimas décadas. Este crescimento está associado ao aumento das populações humanas e ao desenvolvimento econômico, notadamente da irrigação e da indústria. A população do Ceará cresceu de 4,36 milhões de habitantes no ano de 1970 para 8,45 milhões de habitantes no ano de 2010 (IBGE) e 9,02 estimado para 2017. A distribuição espacial desta população é muito concentrada aproximadamente 45% estão na Região Metropolitana de Fortaleza (19 municípios), estando 30% na Capital. O suprimento de água desta população e economia requer a construção de complexo sistema de abastecimento de água com contribuição importante do abastecimento vindo de águas de transposição de bacias. Esta região realiza pressão sobre os recursos 36 hídricos de outras regiões impondo externalidade negativa as econômicas destas outras regiões como comentado anteriormente. Duas novas regiões metropolitanas do estado foram criadas recentemente: Cariri (9 municípios) e Sobral (18 municípios). Estas regiões metropolitas configuram-se em centros de demandas que necessitam de análise especial no que tange ao abastecimento de água e disposição final de esgotos (ex. Rio Batateiras no Cariri). A migração das populações para os centros urbanos está associada ao crescimento do setor de serviços, que aumenta o consumo per capita dos centros urbanos e, em algumas cidades o turismo impõe demandas de águas sazonais expressivas. A industrialização de algumas áreas metropolitanas é outro fator relevante no crescimento da demanda dos centros urbanos e respectivos consumos por habitante. Atualmente 81% da população urbana e 64% da população total possuem serviço de abastecimento de água. Constata-se aqui a dimensão do problema do saneamento rural onde grande número de comunidades rurais não possuem sistema de abastecimento de água regular. A universalização do abastecimento de água persiste como desafio. A construção de organizações e políticas para o saneamento rural deve ser perseguida, experiências importantes como o SISAR devem ser aprofundadas no sentido da construção de estratégia de gestão sustentável para o Saneamento Rural (ver ANEXO sobre o SISAR). Experiência como o do Plano de Águas específico para o abastecimento das populações rurais como o realizado em Milhã devem ser considerados como instrumento de operacionalização das diferentes políticas públicas de construção de infraestruturas para as populações rurais (cisternas, poço com chafariz, pequenos sistemas de distribuição de água...) e adequado modelo de gestão. A Agência Nacional de Águas elaborou o Atlas de Abastecimento do Brasil (ANA, 2010) que avaliou o sistema de abastecimento de todas as localidades com população superior a cinco mil habitantes. A avaliação da relação oferta e demanda deste trabalho é apresentada no Anexo Atlas de Abastecimento da ANA. Este estudo propôs a ação em 56 sistemas de abastecimento com orçamento estimada de R$ 441.782.179,00 (valores de 2005). Dados sobre o atendimento urbano são apresentadas na Figura 14. As perdas nos sistemas de tratamento e distribuição de água em regiões urbanas ainda são significativas, o balanço hídrico da CAGECE (ANEXO Balanço Hídrico CAGECE 2016) apresenta uma perda de 42% (considerando perdas físicas, valores não faturados, retiradas não autorizadas), a perda real é de 20%. 37 O coleta e tratamento de esgoto é outro problema relevante. Atualmente 33% do Esgoto Urbano é coletado no Ceará. Há municípios onde coleta-se e não se realiza tratamento adequado do efluente. A comparação do nível de tratamento de esgoto no Ceará com relação a outros Estados brasileiros é apresentada na Figura 15. O Estado do Ceará tem cerca de 71.000 hectares com infraestrutura de irrigação, sendo a maior demanda por água no Estado. O Ceará apresenta algumas vantagens comparativas com relação a irrigação em função das características climáticas, como o maior número de horas de sol, e baixa umidade relativa do ar, que auxilia no controle fitossanitário; estes fatores estimulam o acréscimo da demanda para irrigação e a chegada de grandes empresas, voltadas ao agronegócio. Figura 14. Representação do índice de Atendimento Urbano. Fonte: SNIS, 2015. Os perímetros de irrigação públicos foram instalados no Ceará a partir da década de 1970. O perímetro de Morada Nova (instalado em 1970) com área de 4.300 hectares, o Icó-Lima Campos (instalado em 1973) com 4.260 hectares e Curu-Paraipaba 38 (instalado em 1975) com 8.000 hectares são perímetros do construídos pelo DNOCS que representam esta primeira fase da irrigação. Figura 15. Representação do índice de Coletada de Esgoto. Fonte: SNIS, 2015. Os perímetros de irrigação da década de 1980 que podem ser representados pelo Jaguaribe-Apodi (instalado em 1989) com 5.400 hectares irrigação solos de chapada requerendo a superação de desníveis topográficos (desnível geométrico de mais de 100 metros no Jaguaribe-Apodi) demandando energia para bombeamento de água que eleva o custo da mesma. Os perímetros da década de 2000 representados pelo Baixo-Acaraú (2001) e Tabuleiro de Russas (2003) apresentaram mudanças importante na estruturação do perímetro permitindo a presença de lotes empresariais nos perímetros públicos, nos outros perímetros as grandes empresas entravam através de arrendamento de terras de pequenos colonos, estes dois perímetros têm aproximadamente 45% da área dos perímetros federais. Todos estes perímetros citados foram construídos pelo DNOCS e são denominados de perímetros públicos. 39 Os perímetros construídos pelo DNOCS no Ceará são 14 e pelo governo do estado em número de 16. O Anexo Áreas Irrigadas apresenta uma lista destes perímetros de irrigação. Estas áreas de irrigação tiveram sua infraestrutura de uso comum financiada pelo poder público federal ou estadual. Áreas de irrigação privada tiveram expansão a partir da década de 1980 apoiada por programas governamentais como o Programa Nacional para Aproveitamento Racional de Várzeas Irrigáveis (PROVÁRZEAS), Programa de Financiamento de Equipamentos de Irrigação (PROFIR) e o PROINE (administrado pelo Banco de Brasil e Banco do Nordeste). A indústria tem sua demanda de água suprida através das redes de distribuição de água dos centros urbanos. Os distritos industriais têm sistema de oferta de água bruta separada da de água tratada. O Distrito Industrial de Maracanaú primeiro do Ceará planejado no Governo Virgílio Távora em 1964 e que teve sua primeira indústria em 1967 é um exemplo desta configuração. A ocorrência de duas redes de distribuição (água bruta e água tratada) permitiu arranjo institucional em que a COGERH assumisse a operação da rede de água bruta e a CAGECE a rede de água tratada. Esta configuração teve impactos relevantes na viabilização financeira nosprimeiros anos da COGERH. As demandas industriais nos distritos industriais e na região do complexo portuário do Pecém, assim como, de industrias com captação de água própria (industrias isoladas) cresceram significativamente nas duas últimas décadas. A aquicultura associada principalmente ao camarão e tilápia é uma demanda expressiva no baixo vale dos rios e em lagos dos reservatórios. O camarão é produzido em cinco polos localizado em 23 municípios cearenses. A tilápia é produzida em 6 pólos em 55 municípios. Estudo recente realizado pela consultora IBI para a Secretaria de recursos apresentou uma síntese dos usuários de água utilizando a base as informações fornecidas pela SRH/COGERH. Neste estudo identificou que o Ceará tem 17.921 usuários de água bruta conforme apresentado na Tabela 4. Observa-se na Tabela 5 que o setor de irrigação concentra 56,6% (8.820) dos usuários de água do Estado. Em termos de Bacia, é na do rio Salgado que está a maior concentração de usuários (22,92%), seguida pela Metropolitana (14,34%) e a do Baixo Jaguaribe (12,93%). A Figura 16 apresenta a evolução do consumo de água bruta (m3) do Estado do Ceará entre 2011 e 2015. Observa-se um crescimento nos 4 primeiros anos e uma 40 redução da ordem de 11,60% em 2015 quando comparado a 2014, fruto da menor disponibilidade de água para irrigação e das políticas adotadas pelo Estado para redução do consumo. Observa-se que a demanda máxima registrada na Base de Dados da COGERH foi de 900 milhões de metros cúbicos em 2014. Tabela 4 – Número de Usuários de Água por Bacia Hidrográfica. Bacia N° de Usuários % Salgado 3.571 19,93% Metropolitana 2.233 12,46% Baixo Jaguaribe 2.014 11,24% Parnaíba 1.845 10,30% Alto Jaguaribe 1.587 8,86% Banabuiú 1.363 7,61% Coreaú 1.332 7,43% Médio Jaguaribe 1.055 5,89% Acaraú 1.442 8,05% Sertões de Crateús 161 0,90% Curu 818 4,56% Litorânea 500 2,79% TOTAL 17.921 100,00% Fonte: SISCAD - Sistema de Cadastro de Usuário de Água e CNARH – Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos. Tabela 5. Número de Usuários pelos Principais Usos da Água Uso Número de Usuários % Irrigação 8.981 57,66% Empresa Concessionária de Água Bruta 6.357* 40,81% Indústria 190 1,22% Aquicultura e Carcinicultura 10 0,06% Turismo e Lazer 39 0,25% TOTAL 15.577 100% Fonte: SISCAD - Sistema de Cadastro de Usuário de Água. Nota: * Correspondentes as concessionárias de água bruta de cidades, distritos, povoados, fazendas e sítios. Figura 16. Evolução do consumo de água bruta (m3) do Estado do Ceará (2011 a 2015). 41 1.000.000.000,00 900.000.000,00 800.000.000,00 700.000.000,00 600.000.000,00 500.000.000,00 400.000.000,00 300.000.000,00 200.000.000,00 100.000.000,00 0,00 2011 2012 2013 2014 2015 Consumo (m3) 543.375.322,31 684.441.332,36 849.085.250,21 913.950.159,05 807.892.017,22 Balanço Hídrico A análise do balanço hídrico concentrado em cada uma das doze regiões hidrográficas do Ceará é realizada nesta seção. Os dados utilizados foram os dos Cadernos das Bacias Hidrográficas do Pacto das Águas. O Balanço concentrado por regiões hidrográficas apresenta problemas por desprezar as variações espaciais e temporais da oferta hídrica. Este é um grave inconveniente. Resolveu-se apresentá-lo como um indicador global que permitisse uma primeira aproximação da relação entre oferta e demanda de água. O balanço hídrico das regiões hidrográficas e do Ceará é apresentado na Tabela 6. A quantificação das demandas hídricas para os diversos usos foi compilada pelo na Tabela 4. A demanda total por água no Ceará é estimada em 49 m3/s (1,55 bilhões de metros cúbicos por ano), sendo 57% da demanda para a irrigação, 24% demanda urbana e 19% demanda industrial. O valor desta demanda é maior que o valor máximo registrado em 2014 pela COGERH (0,9 bilhões de metros cúbicos por ano). Isto ocorre devido ao fato do valor desta demanda já está incorporada toda a demanda dos perímetros de irrigação em fase de implantação (Tabuleiros de Russas e Baixo Acaraú), assim como, outras demandas consideradas plenas. A oferta de água superficial com garantia de 90% é de 128 m3/s (4,02 bilhões de metros cúbicos por ano) e a de água subterrânea é de 12 m3/s (0,37 bilhões de metros cúbicos por ano). A garantia de 90% em frequência significa que em 9 de cada 10 anos é possível retirar a vazão garantida, no outro ano a vazão é menor que a garantida 42 podendo ser zero, ou seja, colapso do sistema. O cálculo desta garantia é feito simulando o reservatório em uma série temporal com aproximadamente 100 anos de afluências, nestas simulações observa-se usualmente que as falhas de abastecimento se concentram em durações de secas maiores que um ano. Esta disponibilidade funciona como número de referência, pois o operador do sistema para evitar o potencial colapso impõe restrições mais severas que as que definiram a regra de operação para o cálculo da vazão com garantia de 90%. Observa-se então que 128 m3/s seria a demanda que poderia ser suprida em anos regulares, em períodos de seca prolongada a demanda seria bem menor que está podendo haver colapso do sistema. Faz-se está observação para evitar um falso otimismo que os números da oferta poderiam produzir. As Regiões Hidrográficas Metropolitanas e Baixo Jaguaribe aparecem em situação de maior estresse hídrico. Estas bacias, assim como, Banabuiú recebem águas do Médio Jaguaribe. A bacia do Acaraú também está em situação de estresse. Observa a bacia do Alto Jaguaribe em situação confortável, no entanto este conforto é aparente já que a parcela significativa da oferta localiza-se no Reservatório Orós, no exutório desta região hidrográfica. Outra situação é da bacia do Curu que necessita ter seu balanço hídrico melhor detalhado espacialmente em função da escassez prolongada que tem observado em seu vale perenizado. 43 Tabela 6: Balanço Hídrico Concentrado das Regiões Hidrográficas do Ceará utilizando as informações do Pacto das Águas. 44 5 Evolução das políticas, instituições e marcos regulatórios para o Setor A Secretária dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH) foi criada em abril de 1987 pela Lei nº11.306, no mesmo ano foi criada a Superintendência de Obras Hídricas (SOHIDRA) como órgão executor das obras hidráulicas vinculada a SRH. Estas duas novas instituições somou-se a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) fundada em 1972 e anteriormente vinculada à Secretaria de Agricultura, responsável pelo monitoramento climático e por estudos aplicados em recursos hídricos e meio ambiente. Em 1993 foi criada a Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (COGERH) responsável pela implementação do sistema de gerenciamento da água, que executa a manutenção, monitoramento, e operação dos sistemas hídricos e vitaliza o processo de constituição e funcionamento de organismos de bacia. O Ceará instituiu através da Lei nº11.996/1992, a Política de Gestão dos Recursos e o Sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos Este documento legal é anterior a Lei Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº9433/1997), sendo o Ceará o segundo Estado brasileiro a promulgar uma lei específica no tema de recursos hídricos. O Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SIGERH) gerencia os recursos hídricos de forma integrada ao Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH). O SINGREH tem sua existência prevista na Constituição Federal de 1988 e foi constituído juntamente com a Política Nacional de Recursos Hídricos por meio da Lei nº9433 de 1997. A Agência Nacional de Água (ANA) foi criada pela Lei Federal nº9.984 de 17 de julho de 2000. A ANA tem funções de regulaçãoe de operação do sistema. A estas organizações responsáveis pela gestão dos recursos hídricos junta-se o DNOCS. A relevância do DNOCS neste contexto localiza-se no fato de que é patrimônio desta instituição os principais reservatórios no Ceará (Castanhão, Orós, Banabuiu, Figueredo, Araras, General Sampaio, Pentecoste, Caxitoré, Frios, Arneiroz, entre outros). O poder de outorga das águas destes reservatórios é da ANA, não obstante este fato a muito grande a relevância da instituição e opera e mantem está infraestrutura. O DNOCS possui um outro papel no sistema de recursos hídricos, usuário de água. Esta instituição continua a ter papel na administração dos perímetros de irrigação pública federais por ele construídos, muitos perímetros ainda não foram emancipados. Esta 45 dupla função de ofertar água e ser demandador de água coloca algumas vezes esta instituição em posição delicada para arbitrar conflitos de água em que participe outros usuários. A descrição da Política Nacional de Recursos Hídricos e da Política Estadual de Recursos Hídricos é realizada me maiores detalhes a seguir. Em função de sua relevância dedicou-se um item ao Financiamento da Política Estadual de Recursos Hídricos. Política e Sistema Nacional de Recursos Hídricos O Código das Águas de 1934 foi o primeiro marco normativo e regulatório dos recursos hídricos no Brasil. Surge no contexto histórico marcado pelo viés “progressista”, “moderno” e autoritário do Estado Novo com o objetivo de promover o “aproveitamento racional da energia hidráulica, visando ampliação dos domínios público e Federal sobre as águas, bem como a regulamentação da indústria hidroelétrica” (Código de Águas, 1934). Ou seja, o referido Código preocupa-se com a água no corpo d’água enquanto PRODUTORA de hidroeletricidade e com a desprivatização e construção do espaço público, totalmente privatizado na primeira república. É importante lembrar, que a partir da promulgação do Código de Águas há um aumento significativo nas infraestruturas hídricas do país, a outorga de direitos de uso da água fica no Departamento de Águas e Energia Elétrica, situação só modificada com a criação da ANA. A gestão dos recursos hídricos é uma política de construção de infraestrutura física, onde o Estado agia de forma centralizada. Esta situação persiste até os anos 1980. A partir do final dos anos 1970, o Estado vai perdendo, gradativamente, sua capacidade de investimento em função da crise econômica. Trata-se do momento de democratização do país, onde o Estado passa a assumir um viés regulador-mediador de conflitos. Afloram questões de cunho ambiental presente nas agendas políticas e nas reivindicações dos movimentos sociais, que clamam por um estado menos centralizador e processos democráticos de tomada de decisão. A Constituição de 1988 é fruto das lutas e conquistas dos setores sociais que se mobilizaram para a redemocratização do país. 46 Esta constituição aprofunda o domínio público nas águas. As águas passam a ser bens da União ou dos Estados. O regime da dupla dominialidade. São águas da União conforme o Artigo 20 em seu parágrafo III: “os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais” O Artigo 26 em seu parágrafo I define como bens dos estados “as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União” O Ceará por sua configuração geográfica tem todos os rios exceto o Poti-Longar com nascente e foz no Estado. O que possibilitaria uma gestão exclusivamente estadual das águas superficiais e subterrâneas no Estado se não fosse o comando constitucional “ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União”. Este comando constitui impõe que as águas nos lagos dos reservatórios construídos pelo DNOCS são de domínio da União, cabendo a União sua gestão e outorga. Tendo atualmente a ANA como responsável pela outorga desta água. Produziu-se desta forma situação complexa onde a água no rio a montante de um reservatório do DNOCS é de domínio estadual, a água no lago do reservatório é de domínio da União e a água a jusante do reservatório é novamente de domínio estadual. A Agência Nacional de Águas delegou para a Secretaria de Recursos Hídricos a outorga das águas da União no Estado do Ceará resolvendo as dificuldades operacionais oriundas da dupla dominialidade sobre águas de um mesmo curso fluvial. A Constituição Federal definiu em seu Artigo 21 Parágrafo XIX que compete a União “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso”. Nasce neste dispositivo constitucional o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos que será regulamentado pela Lei Federal 9433 de 8 de janeiro de 1997. A Lei 9433 é composta de três títulos: (i) Política Nacional de Recursos Hídricos, (ii) Sistema Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos e (iii)Infrações e Penalidades. Os objetivos e fundamentos da política nacional de recursos hídricos com grifo nosso é apresentado no Quadro 2. Nos termos da Lei a água é definida como um bem 47 público do ponto de vista jurídico dotado de valor econômico que deve satisfazer aos múltiplos usos da água, não obstante ter o uso humano e a dessedentação animal como prioritário; o processo de gerenciamento deve ser descentralizado e participativo e utilizar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento. Os instrumentos de gestão dos recursos hídricos são: (i) Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; (iii) a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Todos estes instrumentos de gestão excetuando o (ii) vem sendo aplicado no Ceará. O enquadramento de águas de rios intermitentes e de reservatórios localizados nestes rios é um problema teórico e prático em aberto. A Lei do Ceará como posteriormente descrita adota estes instrumentos e adiciona outros como a Fiscalização do uso da água. O Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos hídricos (SINGREH) foi criado tendo como função entre outras coordenar a política nacional de recursos hídricos e arbitrar administrativamente os conflitos relativos aos recursos hídricos. O planejamento, regulação, controle e cobrança pelo uso da água fazer parte das atribuições do sistema. O SINGREH é constituído instâncias de participação e organismos responsáveis pela regulação e operação do sistema, compõem-no: (i) Conselho Nacional de Recursos Hídricos; (ii) a Agência Nacional de Águas; (iii) os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; (iv) Comitês de Bacia Hidrográfica; (v) os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; (vi) as Agências de Água. As Agências de Água a que se refere a lei são organismos que apoiam o gerenciamento de recursos hídricos em uma ou mais bacias hidrográficas, são propriamente Agências de Bacia ou Regiões Hidrográfica, estando o seu domínio operacional associado a um ou mais comitês de bacia. 48 QUADRO 2: LEI nº 9.433 DE 1997: FUNDAMENTOS E OBJETIVOS Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: I - a água é um bem de domínio público; II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentaçãode animais; IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos: I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais. (Incluído pela Lei nº 13.501, de 2017) A Agência Nacional de Água foi criada pela Lei Federal 9.984 foi criada com finalidades regulatórias e operacionais na implementação, em sua esfera de atribuições, da Política Nacional de Recursos Hídricos. Esta forte característica operacional diferencia esta agência de suas congêneres, tais como, ANATEL e ANEEL. Entre as XXII atribuições da ANA definidas no Artigo 4 de sua lei de criação encontra-se a outorga de uso das águas de domínio da união. Os reservatórios construídos pelo DNOCS no Ceará têm sua água outorgada pela ANA, por exemplo. As resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos e as resoluções da Diretoria Colegiada da ANA constituem parte relevante do aparato normativo infralegal. 49 A Política de Recursos Hídricos dialoga com outras Políticas Públicas Setoriais e consequentemente com outros diplomas legais em adição a Lei nº9433-97, algumas destas políticas e instrumento normativo encontra-se na Tabela 6. Tabela 6. Políticas públicas e seus respectivos instrumentos normativos. Política Pública Instrumento Normativo Meio Ambiente Lei no6.938/81 Recursos Hídricos Lei no 9.433/97 Saneamento Lei no11.445/07 Irrigação Lei no 12.787/13 Mudança do Clima Lei no 12.187/09 Segurança de Barragens Lei no 12.334/10 Proteção e Defesa Civil Lei no 12.608/12 Política e Sistema Estadual de Recursos Hídricos Em 1987, o Governo do Estado do Ceará, com o objetivo de coordenar a tarefa de aumentar a oferta d’água e assumir o controle da política de recursos hídricos, criou a Secretaria de Recursos Hídricos – SRH e a Superintendência de Obras Hidráulicas – SOHIDRA, havendo também reestruturado a Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais – FUNCEME, que tinha atribuições nas áreas de estudos, pesquisas e treinamento em recursos hídricos, passando a chamar-se Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos. Apesar da criação da SRH, em 1987, ainda não existia dentro do aparato estatal uma visão clara da necessidade de uma gestão integrada da água, ficando restrita a ações de ampliação da oferta de água, através de açudes, poços, adutoras e principalmente na implantação de perímetros públicos estaduais de irrigação, tendo quase nenhuma ação de gestão integrada de água propriamente dita. Naquele momento a SRH se volta fortemente para um uso setorial: a irrigação. Essa característica só vai mudar no início da década de 90, após a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos e da Lei Estadual de Recursos Hídricos. Um dos marcos na estruturação de um sistema de gestão de água no Ceará, foi a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos - PLANERH. Este estudo foi realizado no período de janeiro de 1988 a fevereiro de 1991 e teve como um os principais resultados e Política Estadual de Recursos Hídricos, que foi instituída através 50 da Lei n.º 11.996, de 24 de julho de 1992, instituindo o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos – SIGERH. O SIGERH organiza as instituições estaduais, federais e municipais, em três subsistemas: Sistema de Gestão (instituições com atribuições de planejamento, administração e regulamentação dos recursos hídricos); Sistemas Afins (responsáveis pelas obras e serviços de oferta, utilização e preservação dos recursos hídricos); e Sistemas Correlatos (instituições ligadas a serviços de planejamento e coordenação geral, incentivos econômicos e fiscais, ciência e tecnologia defesa civil e meio ambiente). Além das instituições públicas executoras, existem os órgãos colegiados: I - Conselho de Recursos Hídricos do Ceará - CONERH; II – Comitê Estadual de Recursos Hídricos - COMIRH; III - Secretaria dos Recursos Hídricos - Órgão Gestor; IV - Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FUNERH; V - Comitê de Bacias Hidrográficas – CBH. Nos seus princípios fundamentais a Lei de Recursos Hídricos do Ceará, estabelece que o gerenciamento dos recursos hídricos deve ser integrado, descentralizado e participativo; a unidade básica de gerenciamento é a bacia hidrográfica; a água é um recurso limitado e dotado de valor econômico; os recursos hídricos são bens de uso múltiplos e competitivo. O Estado do Ceará, implementou a sua Política Estadual de Recursos Hídricos, através da Lei nº11.996 de 24 de julho de 1992, antes mesmo da Lei Federal, lhe conferindo destaque e pioneirismo nesse setor, porém só a partir da criação da COGERH em 1994, que tem início a operacionalização dos seus instrumentos, e principalmente a materialização dos princípios de descentralização e participação. Espelhada no modelo francês de gerenciamento da água por bacia hidrográfica e fundamentada em princípios básicos de descentralização, integração e participação dos usuários na gestão dos recursos hídricos, a Lei Nº 11.996 prevê instrumentos legais, como a outorga de direito de uso dos recursos hídricos, o licenciamento para obras hídricas e a cobrança pelo uso da água bruta. A partir de 1992, a SRH adotou como prioridade a ampliação da infraestrutura hídrica, baseada na construção de açudes de médio porte e de adutoras, de forma a reduzir o déficit hídrico, principalmente para o abastecimento humano e para a pequena irrigação. Ao mesmo tempo, eram estruturadas na FUNCEME as bases de um sistema de monitoramento hidrológico estadual, medindo-se periodicamente os níveis d’água de alguns açudes estratégicos e a vazão de perenização em alguns trechos dos rios Jaguaribe e Banabuiú. 51 Desta forma a partir de 1992 a infraestrutura hídrica do Estado foi diagnosticada, ampliada e tecnicamente adaptada às novas condições de demanda e oferta para a sociedade cearense, através do Plano Estadual de Recursos Hídricos, de forma a se estabelecer um princípio de segurança hídrica para o Estado, isto pode ser comprovado pela construção do açude Pacajus em 1992, do Canal do Trabalhador em 1993 e da construção de um substancial número de outros reservatórios nos anos subsequentes No mesmo período foi criado o DEGERH - Departamento de Gestão dos Recursos Hídricos da SRH, tendo como atribuição planejar, administrar e controlar a oferta, o uso e a preservação dos recursos hídricos. Iniciava-se, deste modo, a elaboração de uma base institucional para a implementação do SIGERH, que culminou com a criação da COGERH – Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos, em 1993. A COGERH – Companhia de Gestão de Recursos Hídricos, criada em 1993, é uma empresa da Administração Pública Indireta, dotada de personalidade jurídica própria, organizada em forma de sociedade anônima. Tem a finalidade de gerenciar a oferta dos recursos hídricos constantes dos corpos d’água superficiais e subterrâneos de domínio do Estado, visando equacionar as questões referentes ao seu aproveitamento e controle. É também responsável pela gestão da água bruta em todo o Ceará. Entreas ações que a COGERH desenvolve, podemos citar: monitoramento dos recursos hídricos; formação e assessoramento dos comitês de bacia hidrográfica; operação e manutenção dos açudes estaduais; estudos relacionados à gestão de recursos hídricos; cobrança pelo uso dos recursos hídricos. No estado do Ceará, a criação da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará no ano de 1987 e da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos - COGERH em 1993, possibilitou mudanças na gestão de recursos hídricos do estado, através do PROURB – Programa de Desenvolvimento Urbano e Gestão dos Recursos Hídricos. O PROURB – RH (Projeto de Desenvolvimento Urbano e Gestão dos Recursos Hídricos), criado em 1993, o PROGERIRH (Projeto de Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos), criado em 1997, ambos com financiamentos do Banco Mundial junto ao Governo Estadual, conferiram as condições financeiras necessárias para a implementação do SIGERH - Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos. O PROURB, se propunha a desenvolver ações que visavam o fortalecimento institucional das Prefeituras Municipais e Órgãos Estaduais envolvidos e a capacitação de seus recursos humanos, como forma de obter eficácia no Poder Público; a urbanização de áreas periféricas das sedes dos municípios do interior do Estado; a 52 implantação de saneamento básico (água e esgoto); o gerenciamento dos recursos hídricos do Estado; e oferta de água para os centros urbanos com necessidade crítica. Em dezembro de 2010, é editada a nova lei sobre a política de recursos hídricos do Ceará, a Lei nº 14.844. Esta Lei propugna que a gestão dos recursos hídricos no Ceará deva ocorre de forma integrada, descentralizada e participativa. Uma nova relação se configura entre Estado e Sociedade Civil na construção de um processo de gestão participativa. Adotando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento dos recursos hídricos. O processo de participação pública é essencial no processo de mediação de conflitos em torno da alocação de água e demais conflitos associados a questão da água no Ceará. Diversas organizações que viabilizam o processo de participação pública foram criadas no Ceará. Desde 1994, a SRH e a COGERH vêm desenvolvendo o trabalho de mobilização, organização e capacitação dos usuários para a gestão das águas, no âmbito dos açudes de médio e pequeno porte, dos municípios, dos vales perenizados e das bacias hidrográficas. Este processo tem início em julho de 1994 com a realização do I Seminário de Operação dos Reservatórios do Vale do Jaguaribe e Banabuiú realizado na Cidade de Jaguaribe. O processo de mobilização e participação social ocorre em três escalas: • A organização dos usuários no âmbito dos médios e pequenos açudes; • A organização dos usuários no âmbito dos vales perenizados: O vale perenizado é uma área mais complexa de atuação, pois envolve em geral um sistema hídrico composto por açudes estratégicos e longos trechos de aquedutos ou de rios perenizados. É nesse nível onde geralmente estão localizados os grandes perímetros públicos irrigados, grandes irrigantes privados, agroindústrias e várias cidades, o que implica muitos conflitos. • A organização dos usuários no âmbito das bacias hidrográficas: comitês de bacias são colegiados consultivos e deliberativos, com atuação nas áreas de abrangência das bacias, sub-bacias ou regiões hidrográficas. A partir de 1994, teve início o trabalho de formação dos comitês de bacias e das comissões de operação de açudes e de vales perenizados. Paralelamente a essas ações, foram desenvolvidas, pela SRH, outras ações no sentido de constituir organizações locais, permanente ou temporárias para atender a estratégia de descentralização e atender alguns critérios definidos no Programa de Desenvolvimento Urbano e Recursos 53 Hídricos – PROURB, financiado pelo Banco Mundial, que incluía a construção de açudes e adutoras, desenvolvido entre os anos de 1994 e 2002. Nesse sentido foram criadas instâncias de descentralização, mobilização, participação e promoção social com áreas de atuação locais, com o objetivo de atrair a participação dos diversos setores com interesse em recursos hídricos ou numa obra hídrica específica, incluindo a sociedade civil, irrigantes, pescadores, vazanteiros, representantes do poder público municipal e representantes de entidades de saneamento e instituições públicas. Estes organismos locais foram denominados de Associação dos Usuários de Açude – ASSUSA; Comitês de Apoio ao Reassentamento e a Preservação Ambiental do Açude – CARPA; e Instituições Sócio Comunitária da Agrovila – ISCA. O primeiro Comitê de Bacia Hidrográfica foi o da Bacia do Curu em 1997. Atualmente todas as Regiões Hidrográficas possuem comitê de bacia. A Tabela 7 apresenta os comitês com suas datas de criação e número de membros. Tabela 7 - Comitês de Bacia do Estado do Ceará. Bacia Ano de Instalação Nº de Membros Nº de Municípios que compõem a bacia Curu 1997 50 15 Baixo Jaguaribe 1999 46 09 Médio Jaguaribe 1999 30 13 Alto Jaguaribe 2002 40 24 Banabuiú 2002 48 12 Salgado 2002 50 23 Metropolitanas 2003 60 31 Acaraú 2004 40 27 Coreaú 2006 30 21 itoral 2006 40 11 Serra da Ibiapaba 2011 30 10 Sertões de Crateús 2011 30 09 Fonte: COGERH, 2013. A primeira Comissão de Usuários de Água a ser instalada foi a do Vale Perenizado do Jaguaribe em 1994. Esta comissão foi muito ativa. Após esta comissão de usuários outras foram criadas em outras bacias hidrográficas. Estas comissões tinham como objetivo de sua existência a decisão sobre a alocação de água. Em função da relevância desta tomada de decisão o comitê de bacia chamou para si a decisão de alocação, esvaziando em certa medida as funções da comissão de usuários dos vales perenizados. 54 A gestão operacional dos recursos hídricos ocorre em três dimensões: Gerenciamento da Oferta, Gerenciamento da Demanda e Gerenciamento de Conflitos. O gerenciamento da oferta consiste nas ações de planejamento, projeto, construção, operação, manutenção e recuperação da infraestrutura de oferta de água. A SRH lidera o processo de planejamento e de projeto de novas infraestruturas hídricas. A SOHIDRA executa a construção e cabe a COGERH a operação, manutenção e recuperação desta infraestrutura. O DNOCS tem papel importante no projeto, operação e manutenção e recuperação da infraestrutura hidráulica. A FUNCEME apoia com conhecimento e informações este processo de decisão. A operação do sistema de oferta de água é definida no processo de decisão de alocação de água. Neste processo a comissão de usuários de água e os comitês de bacia são atores relevantes, assim como, a COGERH. O planejamento de longo prazo que identifica demandas e oportunidades de intervenções contempla os planos de bacia e região hidrográfica operacionalizados pela COGERH e construídos pelos comitês de bacia. O Plano Estadual de Recursos Hídricos e as hierarquizações das obras prioritárias (reservatórios, canais e obras de transposição) para ingressarem em programas de financiamento do Estado é decisão da SRH. A gestão da demanda consiste em medidas de comando, controle e incentivos econômicos e extra-econômicos que buscam promover o uso eficiente e equitativo dos recursos hídricos. A outorga, fiscalização e a cobrança pelo uso da água são os principais instrumentos de gestão da demanda. A SRH tem a responsabilidade formal pela outorga e fiscalização atribuições inalienáveis ao aparelho de Estado. A COGERH na qualidade de Empresa de Economia Mista apoia todas os estudos, análises e ações operacionais necessárias para que a SRH cumpra com sua função de outorga e fiscalização. A cobrança pelo uso da água tem função econômica e financeira, em sua dimensão econômica a cobrança incentiva os agentes econômicos a promoverem o uso eficiente da água.Os valores cobrados pelo sistema de recursos hídricos do Ceará algumas vezes foram menores que os necessários para promover o uso racional. Cabendo, no entanto, o papel financeiro da cobrança pelo uso da água, essencial para a sustentabilidade do sistema de recursos hídricos. A COGERH é a instituição responsável pela cobrança pelo uso da água. A gestão de conflitos é requerida na construção da infraestrutura e na apropriação dos recursos hídricos por agentes sociais. As instâncias de participação 55 pública existentes no sistema de recursos hídricos (Conselho Estadual, Comitês de Bacia e Comissão de Usuários de Água) são os fóruns de mediação do conflito. No Ceará os Comitês de Bacia e as Comissões de Usuários são instâncias fundamentais para a administração de conflitos cabendo a COGERH o relevante papel de prover informação e mediar os conflitos associados a apropriação da água no processo de Alocação Negociada de Água. A COGERH ocupa lugar de destaque no SIGERH, é nela que se localiza o centro operacional da gestão dos recursos hídricos tendo atribuições no serviço de operação do sistema hidráulico-hidrológico de oferta hídrica, na cobrança pelo uso da água, na alocação de água e no processo de participação pública. Neste contexto a COGERH deve funcionar como provedora de água sustentável financeiramente e como promotora da democratização do espaço público por meio da participação social, estas funções guardam em si complementariedades e contradições. A manutenção do equilíbrio organizacional neste campo de força de dupla polaridade é o desafio para esta instituição. Este equilíbrio é ameaçado quando uma visão simplista e ingênua quer pensar a Companhia como mera provedora de água bruta e não como instrumento de integração e construção de paz social. Os conflitos sociais pela água não podem se resolver no frio cálculo contábil por serem filhos das chamas de disputas entre visões de mundo e desenvolvimento, entre regiões, entre setores econômicos e entre agentes econômicos. A Política de Recursos Hídricos é espaço de confluência das questões do desenvolvimento econômico e social e do meio ambiente podendo vir a ser espaço privilegiado de integração de políticas públicas. Esta é uma oportunidade que cabe ser capturada. Nesta construção a Secretaria de Recursos Hídricos como instância política e coordenadora do SIGERH pode ocupar papel de relevo. A gestão dos recursos hídricos compreende ações que impactam significativamente o ambiente natural, por exemplo, a construção e operação de barragens e obras de transposição. Este fato requer que a política e o sistema de recursos hídricos se individualizem em relação à política e sistema ambiental como também o fez o setor de energia. A relação entre o Sistema de Recursos Hídricos e o Sistema Ambiental deve ser coordenada. Observa-se que o Sistema Ambiental Brasileiro é fundado em mecanismos de comando e controle, enquanto o Sistema de Recursos Hídricos é fundado em mecanismos de incentivo econômico e mediação de conflito por meio da participação pública. 56 Financiamento do Sistema de Recursos Hídricos A gestão dos recursos hídricos requer financiamento para a construção, operação e manutenção da infraestrutura de oferta e para a gestão participativa dos recursos hídricos. Os recursos hídricos possuem algumas características que a tornam um bem econômico especial: (i) água é móvel, (ii) suprimento tem frequentemente alta variabilidade; (iii) água é um solvente universal; (iv) apresenta externalidades difusas; (v) a infraestrutura tem “economia de escala” (custo total médio de longo prazo diminui quando a produção aumenta); (vi) tem-se elevados custos iniciais de investimento e (vi) água é um monopólio natural. Estas características distanciaram as soluções para o financiamento do setor de água bruta de soluções de mercado. O financiamento da construção da infraestrutura de recursos hídricos no Estado foi público com intervenção da União ou dos cofres do Estado. Estudo realizado por Fontenele (2013) e atualizado recentemente pela própria autora calcularam que foi gasto no período 1995 a 2016 em intervenções do Estado do Ceará o valor de 7,016 bilhões de reais em obras de infraestrutura hídrica. A Figura 17 apresenta a evolução destes gastos por fonte de financiamento: (i) Tesouro do Estado; (ii) Recursos oriundos de empréstimos externos (BIRD e BNDES) e (iii) recursos do Governo Federal. Observa-se a relevância relativa de financiamento externo na primeira fase entre 1995 e 2006 e a relevância do financiamento federal em uma segunda fase entre 2006-2016. O investimento médio nestas duas décadas foi de aproximadamente 0,35 bilhões de Reais por ano. O financiamento da operação, manutenção e gestão participativa se dá através da cobrança pela água bruta instituída pelo Decreto nº 24.264 de 12 de novembro de 1996. A Figura 18 apresenta a evolução do valor arredado (R$) com a cobrança de água bruta do Estado do Ceará entre 2011 e 2015. Observa-se um crescimento médio anual da ordem de 21,1% (em função de elevação de tarifas), mesmo com a queda no consumo no último ano da série em função da seca. Durante a seca os custos operacionais com energia e outras atividades de gestão crescem significativamente enquanto a receita cai. Em função disto foi realizado ajuste tarifário para fazer frente a esta situação. 57 550.000.000 500.000.000 450.000.000 400.000.000 350.000.000 300.000.000 250.000.000 200.000.000 150.000.000 100.000.000 50.000.000 0 Grupo Tesouro Recursos Externos (BIRD e BNDES) Ano Governo Federal Os usos da água com maior participação na arrecadação da COGERH são o Abastecimento Urbano com 51% e a Industria com 45%. A Figura 19 apresenta a participação de cada um dos setores usuários de água na arrecadação. Os recursos oriundos da cobrança necessitam ser protegido de desvios de finalidade como o financiamento de obras de infraestruturas hídricas. Pode como já ocorreu no passado ocorrer valores arrecadados maiores que o total das despesas em dado ano. Estes valores devem servir de provisão de recursos financeiros para as secas que estão associadas a custos de operação (ex. bombeamento e tratamento de água) e fiscalização dos usuários mais elevados, evitando aumento substancial dos preços nestes períodos. Discussão neste mesmo contexto é a utilização destes recursos da cobrança para ser transferidos para o DNOCS. Recomenda-se avaliar esta discussão no âmbito da relação entre Estados Federados e União. Os gastos do DNOCS na infraestrutura hídrica são subsídios que o Governo Federal proporciona aos Estados do Nordeste. A transferência de recursos financeiros do Estado do Ceará para a União produziria uma assimetria do tratamento recebido por este Estado com relação aos demais Estados do Nordeste, assim como, produziria vantagem comparativa locacional para os outros Estados em relação ao Ceará: porque irei para o Ceará se posso pagar água mais barata no Estado vizinho? Este problema deve ser analisado na perpectiva financeira, econômica, federativa e de desenvolvimento regional, não sendo tão simples e imediata como parece a primeira vista. Figura 17. Evolução dos gastos das intervenções públicas por fonte de financiamento: (i) Tesouro do Estado; (ii) Recursos oriundos de empréstimos externos (BIRD e BNDES) e (iii) recursos do Governo Federal. Dados: Karine Machado Campos Fontenele (Dissertação de mestrado, 2013, atualizados pela autora para 2016). V al o r Em p en h ad o ( R $) 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 58 100000000 9000000080000000 70000000 60000000 50000000 40000000 30000000 20000000 10000000 0 2011 2012 2013 2014 2015 Arrecadação (R$) 42016264 56593916 69677720 81045596 90502013 Figura 18. Evolução do valor arrecadado (R$) com a cobrança de água bruta no Estado do Ceará (2011 a 2015). Figura 19. Participação dos setores usuários no total arrecadado pela COGERH (ano base 2014). V al or A rr ec ad ad o ( R $) 59 6 Planejamento de Recursos Hídricos do Estado O Setor de Recursos Hídricos do Ceará tem mantido ao longo das últimas três décadas tradição de planejamento e esta ação tem oportunizado acesso a recursos importantes para o seu desenvolvimento. O planejamento tem ocorrido em nível estratégico onde se definem as principais intervenções do sistema (Plano Estadual, Plano de Bacia, Estudos de Hierarquização) e operacional como é o caso da operação de reservatórios e alocação negociada de água. Os principais documentos de planejamento do Estado são: • Planos de Recursos Hídricos na Escala do Estado o Plano Estadual de Recursos Hídricos (1991 e 2005) o Pacto das Águas (2009) • Plano de Bacia Hidrográfica • Banco de projetos de obras hídricas • Alocação Negociada de Água O planejamento proativo de secas ainda não foi incorporado ao processo de planejamento do Estado. Atualmente as decisões sobre as ações a serem tomadas em uma seca ocorrem no curso das mesmas. Experiência pioneira que necessita ser aprofundada sobre gestão proativa de secas foi realizada em projeto financiado pelo Banco Mundial para Fortaleza e o Sistema Jucazinho no agreste pernambucano. Avalia- se como desejável que a política de águas incorpore o planejamento proativo de secas. Atualmente está em fase de conclusão na Secretaria de Recursos Hídricos o Plano de Ações Estratégicas de Recursos Hídricos (PAERH) com horizonte de planejamento 2017-2026. O PAERH contempla seis programas de ação: • Planejamento dos recursos hídricos • Água, tempo e clima • Infraestrutura hídrica • Gerenciamento das águas • Governança das águas • Água e outras políticas públicas Cada um destes programas compostos pelos subprogramas conforme apresentado esquematicamente na Figura 20. O Quadro 3 apresenta o quadro de investimentos previstos que totalizam 6,67 bilhões de reais até 2026. Parcela importante 60 QUADRO 3: PLANO DE INVESTIMENTOS DO PAERH Eixo Infraestrutura Hídrica: Ações de Responsabilidade do Governo Federal Barragem Fronteiras - DNOCS (R$ 500.355 mil) Ramais Salgado e Apodi (R$ 1.040.000 mi) Total investimento de responsabilidade do Governo Federal - R$ 1.540.355 mil) . Eixo - Infraestrutura Hídrica: Ação de responsabilidade da Secretaria das Cidades: Primeira fase do Sisar - responsabilidade da Sec. das Cidades para 126 municípios (R$ 6.000 mil) Eixo - Gerenciamento das Águas: Ação de responsabilidade da Cagece Diversificação da Matriz Hídrica (R$ 711.933 mil) destes recursos será destinada para o projeto Malha d’água que tem por objetivo garantira água para todas as sedes municipais e maiores distritos de água do Ceará. Este deverá ser o principal projeto de infraestrutura de recursos hídricos no Ceará na próxima década. Figura 20. Programas e Subprogramas CUSTO MIL R$ EIXOS ESTRATÉGICOS 2018 - 2019 2020 - 2021 2022 - 2023 2024 - 2025 2026 - 2027 Total 2018 - 2027 A partir de 2028 Total Plano PLANEJAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS 620,00 2.131,00 431,00 3.266,00 431,00 6.879,00 - 6.879,00 ÁGUA TEMPO E CLIMA 5.840,00 11.840,00 4.140,00 4.040,00 1.740,00 27.600,00 - 27.600,00 INFRA ESTRUTURA HÍDRICA 884.720 2.324.111 1.218.897 1.327.341 424.536 6.179.604,00 5.031.522,24 11.211.126,1 5 GERENCIAMENTO DAS ÁGUAS 223.384,29 557.676,00 48.304,00 47.848,50 55.504,00 932.716,79 - 932.716,79 GOVERNANÇA DAS ÁGUAS 3.378,00 1.263,00 1.395,00 1.263,00 1.395,00 8.694,00 - 9.414,00 Total 1.117.942,06 2.897.021,08 1.273.166,53 1.383.758,53 483.605,50 7.155.493,71 5.031.522,24 12.187.015,94 PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS • Planos de Bacias Hidrográficas • Inventários Ambientais dos Reservatórios • Metodologia de Enquadramento dos Corpos d’Água no Semiárido ÁGUA, TEMPO E CLIMA • Sistema de Previsão Climática e Suporte à Decisão para Gestão de Recursos Hídricos • Gestão Proativa das Secas • Sistema de Alerta de Eventos Extremos para Defesa Civil do Ceará INFRAESTRUTURA HÍDRICA • Barragens – Projetos e Obras • Eixos de Transferência das Águas de Múltiplos Usos • Duplicação do Eixão das Águas • Ramais Salgado e Apodi do Projeto de Integração do São Francisco • Programa Malha D’Água • Abastecimento da População Rural Difusa GERENCIAMENTO DAS ÁGUAS • Monitoramento Quali-Quantitativo da Oferta da Água • Monitoramento Quantitativo da Demanda de Água • Regulação de Usos da Água • Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos • Programa de Segurança, Recuperação e Manutenção de Barragens Estaduais e Federais • Gestão das Águas Subterrâneas • Aprimoramento do Processo de Alocação Negociada de Água • Diversificaçãoda Matriz Hídrica do Ceará GOVERNANÇA DAS ÁGUAS • Fortalecimento Institucional do Sigerh • Sustentabilidade Financeira do Sigerh • Fortalecimento dos Organismos Colegiados do Sigerh • Programa Educativo “ Cidadão do Semiárido” ÁGUA E OUTRAS POLÍTICAS PÚBLICAS • Água e Saneamento Básico • Água e o Setor Industrial • Água e o Setor Agropecuário • Água e Meio Ambiente 61 APENDICE I: Análise SWOT dos Recursos Hídricos do Ceará. • Forças o Capacidade de financiamento das ações de operação do sistema através da cobrança pelo uso da água o Planejamento do sistema, não obstante ter ocorrido um lapso temporal significativo de fragilidade do mesmo o Gestão participativa nos organismos de bacia consolidado o Processo de Alocação de Água Negociada o Relação entre órgão de gestão Estadual (SRH e COGERH) e o órgão Federal (ANA) que mitigam o conflito da dupla dominialidade o Infraestrutura de estocagem de água (reservatórios) o Capacidade organizacional da COGERH na operação do sistema hidráulico o Sistema de monitoramento da COGERH o Sistema de Segurança de Barragens da COGERH o Descentralização operacional da gestão dos recursos Hídricos (gerencias regionais da COGERH) o Capacidade técnica da FUNCEME em fornecer conhecimentos e informações sobre o clima (previsão climática probabilística), meio ambiente e recursos hídricos o Capacidade técnica da SOHIDRA na construção de infraestrutura hidráulica • Fraquezas o Altas perdas no transporte de água bruta em calhas do rio o Baixa qualidade da água nos reservatórios principalmente em períodos secos (eutrofização e salinização) o Ausência de Planejamento proativo de secas o Ausência de Planejamento de Cheias o Muito baixa eficiência do uso da água em diversos perímetros irrigados o Baixa eficiência do uso da água em cidades o Envelhecimento do quadro técnico da SOHIDRA e FUNCEME o Insuficiência de quadros técnicos na SRH o Relação com o DNOCS (detentor do patrimônio das infraestruturas) que flua entre momentos de ampla colaboração e momentos de tensão notadamente em torno do tema da cobrança • Oportunidades o Reconhecimento nacional e internacional das conquistas do Sistema Estadual de Recursos Hídricos o Utilização da marca que o Ceará tem no tema água para promover negócios e riqueza para o Estado o Inovações tecnológicas disruptivas associadas a quarta revolução industrial que possibilitara ciclo de desenvolvimento que o Ceará poderá ser produtor de tecnologias da água • Ameaças 62o Aumento das incertezas na oferta hídrica devido as mudanças do clima (tendência de redução da disponibilidade hídricas) o Empresas intensivas no uso da água vulneráveis a secas mais prolongadas o Mudanças institucionais que tentam a entender que a COGERH deva ser uma comercializadora de água levando o sistema de gestão de conflito e a equidade a ruina o Mudanças políticas de caráter tecnocrática que procurem retornar a gestão de água a mecanismos de comando e controle o Processo de urbanização que requer gestão de água em ambiente urbano com vistas ao controle de cheia, maior eficiência no uso de águas locais (intra urbis) e serviço de água e esgoto. o Ampliação dos conflitos sociais relativos a água em função do aumento da escassez. A análise SWOT também pode ser visualizada na Figura 21. 63 Figura 21. Análise SWOT. 64 APÊNDICE II: “Linha do Tempo” marcando principais eventos, reformas, políticas e inovações A linha do tempo com alguns dos principais eventos do século XX e XXI no Ceará pode ser visualizada na Figura 22. Passa-se a seguir enunciar estes eventos: • 1906: Inauguração do Açude Cedro marco da política de açudagem no Ceará • 1909: Criação do IOCS que após diversas mudanças de denominação passa a se chamar DNOCS em 1945 • 1915: Grande Seca • 1919: Grande Seca • 1924: Grande Cheia • 1932: Grande Seca • 1954: Criação da Universidade Federal do Ceará • 1958: Grande Seca • 1961: Conclusão do Reservatório Orós • 1970: Grande Seca • 1971: Fundação a Empresa SIRAC, primeira empresa de consultoria na área de recursos hídricos no Ceará. • 1972: Fundação da FUNCEME ▪ Criação da Primeira Pós-Graduação em Recurcos Hídricos no Ceará (Departamento de Hidráulica da UFC) • 1974:Grande Cheia • 1983:Grane Seca • 1985:Grande Cheia • 1987: Fundação da SRH e SOHIDRA • 1988: Constituição Federal • 1991: Plano Estadual de Recursos Hídricos • 1992: Promulgação da Lei Estadual de Recursos Hídricos • 1993: Seca ▪ Construção do Canal do Trabalhador ▪ Início da Negociação do PROURB com o Banco Mundial (assinado de 1994) ▪ Criação da COGERH • 1994: Implantação operacional da COGERH 65 ▪ Primeira Reunião de Alocação de Água • 1995: Início da Cobrança por água bruta • 1996: Implantação do Primeiro Comitê de Bacia no Curu ▪ Inauguração da Barragem do Jerimum primeira financiada pelo PROURB • 1997: Promulgação da Lei das Águas (Lei 9433-97) • 1998: Grande Seca • 2000: Criação da Agência Nacional de Águas ▪ Plano de Gerenciamento de Recursos Hídricos da Bacia do Jaguaribe e das Bacias Metropolitanas • 2001: Programa Águas do Vale: compensação financeira entre usuários de água com vistas a realocação de água • 2002: Conclusão do Reservatório Castanhão ▪ Primeira Previsão Climática Sazonal da FUNCEME realizada com modelagem regional • 2004: Inauguração do Primeiro Trecho do Canal da Integração (Eixão das Águas) Primeiro vez que o Castanhao Verte • 2005: Plano Estadual de Recursos Hídricos • 2009: Cheia ▪ Realização do Pacto das Águas pela Assembléia Legislativa do Ceará • 2012: Início da Seca que perdura até 2017 (atual) • 2016: Pós-Graduação em Recursos Hídricos da UFC alcança Nível 7 em avaliação da CAPES considerada como de excelência internacional Os principais marcos referentes ao arcabouço legal e institucional para a gestão dos recursos hídricos no Estado para o período 1987 até os dias de hoje são apresentados na Tabela 8. A sistematização dos marcos possibilita perceber que as ações e o planejamento da política de recursos hídricos, em especial a alocação de água, apresentam alta sensibilidade às mudanças na disponibilidade hídrica. Nos anos de escassez hídrica intensificam-se as ações de forma a se buscar atender às demandas existentes e os conflitos associados aos diversos usos; o mesmo não ocorre nos anos em 66 que há elevada disponibilidade hídrica, como a década de 2000, quando diminuem não apenas os conflitos, mas a intensidade das ações do estado. 67 Figura 22. Linha do Tempo dos principais Eventos assoiciados a Gestão de Recursos Hídricos no Ceará. 68 Tabela 8. Síntese dos Marcos Legal e Institucional da Gestão de Recursos Hídricos – CEARÁ. Ano Marco Governamental, Legal e Institucional Características relevantes 1987 José Sarney: Presidente (1985- 1990) Tasso Jereissati – Governador (1987-1991) José Liberato Barroso – Secretário de Recursos Hídricos (1987-1991) Vicente Cavalcante Fialho – Ministro da Irrigação (1986-1989) Novo campo político ascende ao poder, com uma abordagem técnico-científica na condução das questões políticas, especialmente da política de recursos hídricos do estado. Criação da SRH – Lei estadual nº 11.306 Criada para avaliar a infraestrutura existente, planejar e executar a política estadual de recursos hídricos. A princípio demonstra um perfil vinculado à irrigação. Criação da SOHIDRA 1988 Constituição Federal Dominialidade pública da água. Início da elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos – PLANERH O plano foi elaborado entre 1988 – 1991. 1989 Promulgada a Constituição do Estado do Ceará Açude Orós sangrou 1990 Fernando Collor: Presidente (1990-1992) 1991 Ciro Gomes – Governador (1991- 1994) Hypérides Pereira de Macedo: Secretário de Recursos Hídricos (1991-1992) 1992 Itamar Franco: Presidente (1992- 1995) José Moreira de Andrade – Secretário de Recursos Hídricos (1992-1994) Lei estadual Nº 11.996 Instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos – SIGERH. Conferência Eco 92 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, e que veio a influir em muitas das políticas públicas que viriam a ser elaboradas no país. 1993 Criação da COGERH – Lei Estadual nº 12.217/93 69 Ano Marco Governamental, Legal e Institucional Características relevantes Crise hídrica Reservatórios estratégicos com volumes abaixo de 30% (Vales do Jaguaribe e Curu). Construção do Canal do Trabalhador Transferência hídrica de parte das águas do Orós e Banabuiú para Fortaleza. Construído em regime de urgência (90 dias), o Canal representou uma solução emergencial para o problema de abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza, gerando conflitos entre usuários de água no Vale do Jaguaribe. 1994 Fco. Adalberto de O. Barros L.: Governador (set/out) Chico Aguiar: Governador (1994- 1995) Luiz Alexandre Albuquerque F. de Paula Pessoa – Secretário de Recursos Hídricos (jan/out) Fco. Xavier Andrade Girão: Secretário de Recursos Hídricos (out/dez) Luiz Carlos Pontes: Presidente COGERH (1993 – 1995) Concurso público COGERH (início das ações: Jul/94) 1º Seminário dos Usuários das Águas dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú (180 participantes, 63 instituições) Início do processo de gestão negociada da água; Formada Comissão Permanente dos Usuários de Água dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú, com 26 membros; Definida metodologia de ação da COGERH; Mapeamento e Diagnóstico Institucional dos 19 municípios do Vale Jaguaribe/Banabuiú. 1º Seminário Institucional da Bacia do Curu Número de participantes abaixo do esperado – 31 instituições. Início da implantação da outorga – Decreto 23.067 PROURB – Financiado pelo Banco Mundial Decreto 23.047/94 – FUNORH Financiamento de infraestrutura urbana e hídrica; demanda por participação pública na gestão da água. O contrato foi assinado em 1995. 1995 FHC: Presidente (1995-2003) Tasso Jereissati: Governador (1995-2002) Hypérides Pereira de Macedo: Secretário de Recursos Hídricos 70 Ano Marco Governamental, Legal e InstitucionalCaracterísticas relevantes (1995-2002) Francisco Lopes Viana: Presidente COGERH (1995 – 2002) 1ª Seminário dos Usuários de Água do Vale do Curu 85 instituições, 154 representantes Criada Comissão dos Usuários de Água do Vale do Curu Reunião das Entidades de Usuários das Águas do Jaguaribe e Banabuiú COMISA (Comissão de Integração Social dos Açudes) – ASSUSA (Associação dos Usuários de Açude – formalizada) CARPA (Comitê de Apoio ao Reassentamento e a Preservação Ambiental do Açude) ISCA (Instituições Sócio- comunitárias da Agrovila – formalizadas) Entidades de descentralização e promoção social, criadas pela SRH para trabalhar com as comunidades do entorno de reservatórios isolados. As ASSUSAs foram constituídas entre 1995 e 1998. Início da alocação dos açudes isolados, sob a perspectiva metodológica implementada pelos técnicos da COGERH junto aos usuários de água. COGERH forma as primeiras comissões de usuários nos açudes isolados. A nomenclatura varia: comissão de usuários, conselhos gestores de sistemas hídricos, comissão de operação, comissão de acompanhamento da operação, grupo gestor de açude, comissão gestora de açudes federais. 1996 1º Seminário dos Usuários de Água da Bacia do Curu Encontros municipais nos vales do Jaguaribe e Banabuiú Base para a renovação da comissão de usuários de águas dos vales do Jaguaribe e Banabuiú (103 membros); Elaborado relatório compatibilizado das demandas municipais. Implantação da Cobrança – Decreto nº 24.264 Setores de saneamento e indústria 1997 Lei federal 9.433 Política Nacional de Recursos Hídricos CBH Curu Formação do 1º comitê de bacia do estado e 2º do país, com 60 membros. Instalação das primeiras Gerências Regionais (GR) da COGERH GR de Limoeiro (1ª) GR Curu (2ª) Projeto de Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos do Estado do Ceará – PROGERIRH Piloto (1997 – 2002) Financiado pelo BM, teve o objetivo de dar suporte técnico e institucional à interligação de bacias do estado. I Seminário das Águas da Sub- 71 Ano Marco Governamental, Legal e Institucional Características relevantes Bacia Hidrográfica do Rio Banabuiú (nov, Quixeramobim) 1998 Estudos sobre cobrança pelo uso da água na Bacia do Curu 1999 Instalação CBH Médio Jaguaribe Instalação CBH Baixo Jaguaribe Muda estatuto do CBH Curu 50 membros 2000 1ª renovação CBH Curu Metodologia adotada: encontros municipais Criação da ANA – Lei federal 9.984 Crise hídrica Reservatórios estratégicos com volume abaixo de 30%: Banabuiú, General Sampaio, Caxitoré, Pentecoste. 2001 Programa Águas do Vale Experiência piloto de realocação de água de culturais com mais demanda hídrica para outras com menor demanda hídrica, cuja área escolhida para implantação foi Perímetro Irrigado de Morada Nova (PIMN) e Distrito Irrigado Jaguaribe- Apodi (DIJA). Resolução CONERH Nº 03, 24 de julho de 2001. Instituições envolvidas: COGERH, ANA, SEAGRI Decreto nº 26.462 Regulamenta a formação, atuação, composição e atribuições dos CBHs; amplia as atribuições estabelecidas na lei 11.996; estabelece as atribuições da Secretaria Executiva dos CBHs. 2002 Beni Veras: Governador (2002- 2003) José Yarley de Brito Gonçalves: Presidente COGERH: (2002 - 2003) 2ª renovação CBH Curu Metodologia: encontros regionais Instalação CBH Banabuiú Instalação CBH Alto Jaguaribe Instalação CBH Salgado 2003 Lula: Presidente (2003-2011) Lúcio Alcântara: Governador (2003-2007)) Edinardo Ximenes Rodrigues: Secretário de Recursos Hídricos (2003-2006) Maria Izelda Rocha Almeida: Presidente COGERH (2003 – 2007) Cobrança para outros usos – Decreto nº 27.271 Irrigação, piscicultura, carcinicultura, água mineral e outros. 72 Ano Marco Governamental, Legal e Institucional Características relevantes Comissões Gestoras – DNOCS Foram criadas 19 comissões gestoras entre 2003-2007 Criação da Gerência de Gestão Participativa da COGERH Resolução nº 01/03 do CONERH Regulamenta a eleição de membros dos CBHs e de suas diretorias executivas Início da operação do Castanhão (Construção: 1999–2002) Altera a dinâmica do sistema hídrico do vale do Jaguaribe 2004 Situação hídrica favorável Inaugurado trecho I do Eixão Liga os Açudes Castanhão (Alto Santo) e Curral Velho (Morada Nova). Convênio ANA. 2005 Situação hídrica favorável 2006 Situação hídrica favorável 2007 Cid Gomes – Governador (2007- atual) Cesar Augusto Pinheiro: Secretário de Recursos Hídricos (2007-2013) Francisco José Coelho Teixeira: Presidente COGERH (2007 – 2012) Resolução CONERH Nº 002 Regulamenta as Comissões Gestoras Definição de faixas de vazões pelos Comitês Os CBHs passam a definir os parâmetros de vazão para a alocação dos açudes isolados. Reunião Técnica de Avaliação Metodológica da Alocação de Água dos Vales do Jaguaribe Banabuiú Avaliação do processo de alocação nos vales, com sugestões de mudanças metodológicas e de arranjos institucionais. Iniciam-se reuniões prévias com o DNOCS para discutir os cenários de simulação Inovação no processo de alocação. 2008 Decreto Estadual Nº 29.373, de 08 de agosto de 2008. Regulamenta a Lei 11.996/92 no tocante à cobrança pelo uso de recursos superficiais e subterrâneos e dá outras providências 2009 Cheias Dos 131 açudes monitorados em todo estado, 117 sangraram. Reunião técnica de avaliação metodológica da alocação de água dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú Avaliação do processo de alocação nos vales, com sugestões de mudanças metodológicas e de arranjos institucionais 2010 Lei Estadual 14.844 Revoga a lei 11.996/92 2011 Dilma: Presidente Início do “treinamento” dos técnicos da COGERH – Acquanet O treinamento ocorreu entre 2011-2012 2012 Francisco Rennys Aguiar Frota: Convênio COGERH, UFC, FCPC 73 Ano Marco Governamental, Legal e Institucional Características relevantes Presidente COGERH (2012 – atual) Decreto Estadual nº 31.076/2012 Regulamentação da lei 14.844/2010 sobre outorga Chuvas abaixo da média Formação do Comitê Integrado de Combate à Seca; Formado o Fórum Cearense de Comitês de Bacia Hidrográficas 2013 Crise hídrica Reservatórios estratégicos com volumes reduzidos; Início da utilização de adutoras de montagem rápida Congresso da Rede Internacional dos Organismos de Bacia - RIOB Ocorrido em Fortaleza, discutiu experiências de gestão de vários países. 74 ANEXO I: Mapas 75 FIGURA A1: Mapa dos domínios geológicos do Ceará. 76 Figura A2: Mapa das Regiões Hidrográficas do Ceará. 77 Figura A3: Mapa Índice de Aridez e Classificação Climática do Ceará. 78 Figura A4: Mapa das Áreas Susceptíveis de Desertificação. 79 ANEXO II: Sistema Integrado de Saneamento Rural (SISAR) Apresenta-se a seguir um texto sobre o Sistema Integrado de Saneamento Rural (SISAR) retirado de https://www.cagece.com.br/2013-01-28-19-25-06/sisar A maioria dos sistemas de água rurais executados pela Cagece, através do programa São José, são gerenciados pelo Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar). O Sisar começou a ser implantado no Ceará em 1996, na Bacia do Acaraú e Coreaú. Atualmente, existem oito unidades do Sisar no Ceará (uma em cada bacia hidrográfica do Estado), segundo o levantamento realizado em abril de 2017, são 1.419 localidades atendidas e aproximadamente 552 mil pessoas beneficiadas com sistemas de abastecimento de água, gerenciados pelos próprios moradores. O Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) faz gestão compartilhada das 1.419 comunidades e visa garantir, a longo prazo, o desenvolvimento e manutenção dos sistemas implantados pela Cagece de formaautossustentável. Cada um desses sistemas constitui uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos, formada pelas associações comunitárias representando as populações atendidas, com a participação e orientação da Cagece. Entre as atribuições dessas oito OSCs, está a prestação de assistência técnica, o controle da qualidade da água, o cálculo de tarifas, a emissão de contas, trabalho social nas comunidades e o repasse de informações para a Cagece. A estrutura organizacional do Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) consta de um conselho de administração com 11 membros (6 das associações e 5 de órgãos governamentais) e um conselho fiscal com 6 membros (todos representantes das comunidades), além de considerar a voz dos moradores em Assembleia Geral. Um dos destaques do Sisar é o valor da conta paga, que é muito abaixo do valor normal cobrado por uma conta de água. Isso se deve, porque a comunidade divide as despesas com energia elétrica e gratificação do operador do sistema. O Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) sensibiliza e capacita as comunidades, além de orientar a manutenção nos sistemas de tratamento e distribuição de água, porém, são os próprios moradores que operam o sistema. Atualmente, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) existe uma gerência responsável por todas as ações de saneamento na zona rural do estado, e foi através desta, que o modelo de gestão foi replicado. http://www.cagece.com.br/2013-01-28-19-25-06/sisar 80 A Gerência de Saneamento Rural (GESAR) conta com uma equipe constituída de: engenheiros, fiscais de campo, assistentes sociais, pedagogas, administradores; contadores; além de outros profissionais de apoio. Nessa gerência, são lotados funcionários que trabalham diretamente no Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar). Também são disponibilizados veículos e estrutura física (salas, telefone, rede de computadores e internet) subsidiando assim a estrutura inicial necessária para a gestão dos sistemas e desenvolvimento do modelo SISAR. O Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) transforma, então, a realidade atual de uma postura paternalista/assistencialista e deficitária, para uma solução simples e viável, permitindo ao estado e aos Municípios agilizarem a expansão dos serviços públicos a outras comunidades, trazendo com isso, melhoria da saúde da população, redução das migrações das áreas rurais, propiciando infraestrutura para o desenvolvimento do interior pela melhoria das condições de vida da população e fortalecendo a comunidade local. 81 ANEXO III: Balanço Hídrico da Cagece para o Ceará em 2016 82 ANEXO IV: Atlas de Abastecimento da ANA. 83 Figura A5: Sistema de Abastecimento dos Munícipios. 84 ANEXO V: Áreas Irrigadas no Ceará Tabela A1. Perímetros de Irrigação em Operação. Projeto Bacia Hidrográfica Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas CACHOEIRINHA Alto Jaguaribe Tauá 31 Acude Cachoeirinha Feijão e milho JUCAS I E II Alto Jaguaribe Jucás 56 Rio Jucas Milho, feijao, algodao, arroz, capim elefante VÁRZEA DO BOI Alto Jaguaribe Tauá 326 Acude Varzea do Boi Banana, algodao, feijao e uva CHAPADA DO APODI - 1a ETAPA Baixo Jaguaribe Limoeiro do Norte 2893 Rio Jaguaribe Uva, Acerola, Manga, Cajueiro Anao, Maracuja, Abacaxi, Melao, Tom QUIXERÉ Baixo Jaguaribe Quixeré 199 Açude de Orós Milho. Feijao, algodao, banana, capim e limao ST. ANTONIO DE RUSSAS - 1a ETAPA Baixo Jaguaribe Russas 189 BANABUIU Banabuiú Banabuiú 94 Rio Banabuiu Milho, feijão, algodão, tomate, melão e melancia CALIFORNIA Banabuiú Choró 69 Rio Choro Feijão e algodão MORADA NOVA Banabuiú Morada Nova 3737 Acude Banabuiu Arroz, feijao, milho, banana PATU Banabuiú Senador Pompeu 69 Açude Patu Milho, feijao, hortalicas SENADOR POMPEU Banabuiú Senador Pompeu 164 Acude Patu Algodao, feijao, melao, melancia e tomate FORQUILHA Coreaú Forquilha 218 Acude Forquilha Milho, feijao, banana e Capim de ocrte http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=39 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=40 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=41 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=54 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=42 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=43 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=52 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=44 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=45 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=37 85 Tabela A1. Perímetros de Irrigação em Operação (Continua). Projeto Bacia Hidrográfica Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas JAIBARAS Coreaú Sobral 615 Aç. Aires de Sousa Feijão, algodão, melancia, arroz, tomate, citurs bana TUCUNDUBA - 1a ETAPA Coreaú Martinópole 75 Acude Tucunduba Feijao, milho, etc. CURU RECUPERACAO Curu Pentecoste 1068 Acude Pereira de Miranda, Gen. Banana, Coco, Mamao, Feijao Vigna CURU-PARAIPABA Curu Paraipaba 3357 Rio Curu Coco,cana de açúcar,mamão, citrus,acerola,feijão,capim, milho EMA Médio Jaguaribe Iracema 42 Acude Ema Feijao, milho, capim, algodao e arroz JAGUARUANA Médio Jaguaribe Jaguaruana 202 Rio Jaguaribe Feijao, tomate, abobora, melancia, algodao, arroz e capim NITEROI Médio Jaguaribe Solonópole 30 Acude Sao Jose Feijao, milho, arroz, algodao e banana XIQUE-XIQUE - 1a ETAPA Médio Jaguaribe Alto Santo 125 Rio Jaguaribe Algodao, feijao, milho, castanha de caju e sorgo GRACA - 1a ETAPA Parnaíba Crateús 82 Rio Paranaiba Algodao, feijao e tomate JABURU I Parnaíba Tianguá 100 Acude Jaburu Feijao carioca, milho e hortalicas JABURU II Parnaíba Crateús 95 Acude Jaburu II Milho, feijao, algodao, alem de rizicultura REALEJO Parnaíba Crateús 400 Acude Realejo Algodao, melao e tomate http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=38 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=48 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=50 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=51 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=53 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=58 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=59 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=60 86 Tabela A1. Perímetros de Irrigação em Operação (Continua). Projeto Bacia Hidrográfica Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas LIMA CAMPOS Salgado Icó 2712 Acudes Lima Campos e Oros Arroz, milho, banana, feijao, algodao e capim QUIXABINHA Salgado Mauriti 293 Acude Quixabinha Algodao, Banana, Capim do Corte, Feijao, Milho e Tomate Tabela A2. Perímetros de Irrigação em Operação. Projeto Bacia Hidrográfica Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas ALTINHO Baixo Jaguaribe Tabuleiro do Norte 204 Rio Jaguaribe ARARAS NORTE - 1a ETAPA Coreaú Reriutaba 1600 Aç. Paulo Sarasate Uva, banana, melão, melancia, cenoura, tomate e feijão BAIXO ACARAU Coreaú Marco 8440 Rio Acarau Algodão, feijão, tomate, Maracujá, amendoim, manga, melão, citrus CHAPADA DO APODI - 2a ETAPA Médio JaguaribeLimoeiro do Norte 2500 Rio Jaguaribe Uva, Acerola, Manga, Cajueiro Anao, Maracuja, Abacaxi, Melao, Tom CHAPADAO DE RUSSAS Baixo Jaguaribe Russas 10460 Rio Banabuiu Milho, Feijão, Algodão, Melão, Abóbora, Abacaxi, Citrus, Uva, Mar http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=61 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=61 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=62 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=34 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=33 87 Tabela A3. Perímetros de Irrigação em estudo. Projeto Bacia Hidrográfica Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas ARARAS NORTE - 2a ETAPA Coreaú Reriutaba 1600 Araras (Rio Acaraú) Uva, Banana, Melão, Melancia, Cenoura, Tomate e Feijão. CAMOCIM Coreaú Camocim 860 CANAA Médio Jaguaribe Russas 5000 Rio Jaguaribe CARAO Coreaú Tamboril 16 Acude Carao Policultura CARIRI ORIENTAL I Salgado Brejo Santo 2140 Acude Atalho CARIRI ORIENTAL II Salgado Brejo Santo 2200 CHAPADA DO MOURA/BARRO ALTO/GADELHA Alto Jaguaribe Iguatu 5000 Rio Jaguaribe/Carius/Trussu CHORO-LIMAO Metropolitana Choró 36 Acude Pompeu Sobrinho Feijao, milho e algodao CURU - 3a ETAPA Curu Paraipaba 4587 Rio Curu FRECHEIRINHA Coreaú Frecheirinha 2475 GRACA - 2a ETAPA Parnaíba Crateús 400 Acude Carnaubal Algodao, feijao e tomate GRANJA Coreaú Graça 3273 LAGOA QUEIMADA/VARZEA REDONDA Coreaú Sobral 230 Rio Acaraú MEDIO ACARAU Coreaú Morrinhos 200 Araras (Rio Acaraú) MUNDAU Litoral Uruburetama 100 Rio Mundaú NUTRIR Metropolitana Itaiçaba 273 PARAZINHO Coreaú Graça 4488 PIQUET CARNEIRO Banabuiú Piquet Carneiro 118 Açude São José PLATO DO POTI - AREA 1 Parnaíba Crateús 2800 Rio Poti PLATO DO POTI - AREA 2 Parnaíba Crateús 600 Rio Poti http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=18 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=13 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=17 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=23 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=14 88 Tabela A3. Perímetros de Irrigação em estudo (Continua). Projeto Bacia Hidrográfica Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas POTI II -CANTO Parnaíba Crateús 144 Rio Poti POTI I - ARVOREDO Parnaíba Crateús 173 Rio Poti POTI III - QUIRINO Parnaíba Crateús 117 Rio Poti QUIXELO Alto Jaguaribe Quixelô 420 Açude Orós RIACHO DO SANGUE Médio Jaguaribe Solonópole 279 Açude Riacho do Sangue SAO BRAZ Médio Jaguaribe São João do Jaguaribe 5000 Rio Jaguaribe ST. ANTONIO DE RUSSAS - 2a ETAPA Baixo Jaguaribe Russas 1094 TUCUNDUBA - 2a ETAPA Coreaú Martinópole 330 Acude Tucunduba Feijao, milho, etc. VAL PARAISO Coreaú Tianguá 50 Açude Jaburu I http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=12 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=19 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=20 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=21 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=21 http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=15