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CEARÁ 2050 
 
 
Estudo Setorial Especial 
 
Recursos Hídricos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza-CE, julho de 2018 
 
 
 
 
 
CEARÁ 2050 
 
 
Estudo Setorial Especial 
 
 
 
Recursos Hídricos 
 
 
 
 
 
 
 
Com o objetivo de enriquecer o diagnóstico da Plataforma Ceará 2050 foram realizados estudos setoriais em temas específicos. 
Os trabalhos, elaborados por estudiosos e pesquisadores em cada assunto, têm cunho autoral. O diagnóstico do Ceará 2050 foi 
coordenado pelo Prof. PHD Jair do Amaral Filho e analisou os últimos 30 anos de desenvolvimento do estado. O estudo setorial 
especial de Recursos Hídricos complementa a análise qualitativa desta temática a partir da visão do autor Francisco de Assis 
Souza Filho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autor 
 
Francisco de Asssis Souza Filho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CEARÁ 2050 
DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS HÍDRICOS 
RESUMO EXECUTIVO 
 
1. A Segurança Hídrica é imperativa para promoção do desenvolvimento sustentável. A garantia 
de água em quantidade e qualidade adequadas para os usos– humanos, econômicos e ecossistêmico - e 
a prevenção e a resposta a eventos hidrológicos extremos - secas e cheias - são condições básicas para 
o desenvolvimento da sociedade, sendo as mesmas, também, dimensões intrínsecas à segurança 
hídrica. 
2. As crises devido à escassez hídrica associada as secas marcaram os ciclos de desenvolvimento 
do Ceará, estas produziram colapsos na produção econômica, nos sistemas urbanos, na saúde entre 
outros setores, produzindo migrações e grande sofrimento para as populações. Estes fatos encontram-se 
amplamente documentado nos relatos de secas como as de 1877-78, 1887-90, 1915, 1919, 1932, 1958, 
1970, 1981-83, 1998, 2012-2017. Estes impactos tornaram o Risco Hidrológico em Risco Sistêmico 
por sua abrangência multisetorial, por sua severidade potencialmente catastrófica para a qualidade de 
vida e o desenvolvimento econômico das populações humanas. 
3. Mitigar os impactos destes eventos tem sido um desafio intergeracional aos cearenses. A 
redução destes impactos requer o reconhecimento que os processos associados aos recursos hídricos 
têm características sócio-naturais. Compreender a ocorrência da água na natureza em sua 
variabilidade espacial e temporal, reconhecer os riscos oriundos destes padrões de ocorrência para 
reduzir as vulnerabilidades sociais advindas destes riscos deve ser o caminho a ser trilhado. Grosso 
modo, esta tem sido a trajetória do último século. 
4. O Ceará é um estado com baixa disponibilidade hídrica, devido à combinação de uma série 
de fatores, sobretudo: baixos índices de precipitação (inferiores a 900 mm); altas taxas de evaporação 
(superiores a 2.000mm); irregularidade do regime de precipitação (secas frequentes e por vezes 
plurianuais); e um contexto hidrogeológico desfavorável (80% do território sobre rocha cristalina, com 
camada de solo raso e poucos recursos hídricos subterrâneos). Por isso a maior parte dos rios são 
naturalmente intermitentes, ou seja, são corpos d’água que secam durante a estação seca. 
5. Os eventos de secas plurianuais impõem aos reservatórios a necessidade de transportem a água 
dos anos chuvosos para anos secos subsequentes, este processo caracteriza a regularização plurianual 
dos reservatórios estratégicos no Estado. A evaporação dos lagos dos reservatórios impõe perdas de 
água relevantes neste transporte temporal de água realizados pelos reservatórios, limitando na prática o 
horizonte da capacidade de regularização. 
6. Infraestrutura física de armazenamento e transferência hídrica, sistema de gestão dos 
 
 
recursos hídricos e proteção aos mais vulneráveis através de políticas de assistência social (segurança 
alimentar) tem aumentado a resiliência da sociedade às secas. 
7. A segurança hídrica da população do Estado (8,95 milhões de habitantes) e das atividades 
econômicas durante os períodos de escassez são, portanto, fortemente dependentes de sofisticada 
infraestrutura hídrica, com reservatórios, interligação de bacias, canais e adutoras, estações de 
bombeamento entre outros. No Ceará, além de milhares de reservatórios de menor porte (mais de 
28.000), 155 reservatórios são considerados estratégicos por concentrarem a capacidade de reservação 
plurianual (18,63 bilhões de m³), distribuídos nas 12 regiões hidrográficas do Estado. A infraestrutura 
hídrica compreende ainda 408 km de canais, 1.784 km de adutoras e redes de distribuição e 32 estações 
de bombeamento. No total, são 2.582 km de rios perenizados, envolvendo 81 corpos d’água. 
8. O problema da água no Ceará não se encerra em ser tão pouca nas secas; há a poluição que 
degradam a qualidade da água notadamente em anos secos onde eutrofização e salinidade 
comprometem mananciais; há o problema das cheias urbanas e nos baixos vales dos grandes rios 
intermitentes; há o problema do elevado custo econômico e financeiro de disponibilização; e há os 
conflitos associados a apropriação deste recurso escasso, conflitos estes entre regiões, entre usos da 
água e entre visões sociais e interesses contraditórios. 
9. Sistema especializado na gestão dos recursos hídricos com arcabouço político- jurídico-
institucional bem definido foi criado no Estado do Ceará integrado e autônomo ao Sistema Nacional de 
Recursos Hídricos. 
10. Até os anos 1990, a política e gestão de recursos hídricos no território do Ceará– e no Nordeste 
semiárido em geral – eram essencialmente federais, conduzidas por instituições do governo federal que 
tinham como missão principal o combate contra as secas. Destaca-se aqui o papel do DNOCS. Este 
contexto político-institucional foi fortemente modificado com a implementação do Sistema de Gestão 
de Recursos Hídricos em nível estadual, no contexto das reformas da área de águas no Brasil iniciado 
na Constituição de 1988 e plasmado na Lei Federal das Águas (Lei 9433-97). 
11. O Sistema Nacional de Recursos Hídricos que surge da reforma da água no Brasil possui 
instâncias de participação social (Conselho Nacional de Recursos Hídricos e Comitês de Bacia de Rios 
Federais) e organização executiva e regulatória na Agência Nacional de Água (ANA). Este sistema tem 
como objeto primário de ação as águas de domínio da União (rios que cruzam fronteiras dos Estados, 
fazem fronteira com outros países ou águas oriundas de obras da união). As águas nos lagos dos 
reservatórios construídos pelo DNOCS e as bacia hidrográfica dos rios Poti e Longar no oeste do Ceará 
estão sob o domínio da União. Requerendo que o sistema estadual se articule com o Federal para a 
gestão destas águas. As demais regiões hidrográficas são de domínio estadual, assim como, as águas 
subterrâneas. 
12. O Sistema Estadual de Recursos Hídricos, criado em 1987, de forma similar ao Nacional 
possui organizações de caráter executiva e instâncias de participação social e prevê a articulação com 
 
 
outros setores e sistemas. As instâncias de participação social são o Conselho Estadual de Recursos 
Hídricos, Comitês de Bacia Hidrográfica, Comissões de Alocação de Água dos Vales Perenizados e 
Comissão Gestora de Sistemas Hídricos. As organizações de caráter executivo são a Secretária dos 
Recursos Hídricos (SRH), Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), Superintendência 
de Obras Hídricas (SOHIDRA) e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos 
(FUNCEME). 
13. A capacidade tecnológica e de pesquisa no Estado do Ceará é fator relevante na construção 
de soluções inovadoras empreendidas pelo sistema cearense e na capacitação do corpo técnico do 
sistema de recursos hídricos. Destacando-se o papel exercido pela Pós-Graduação em Recursos 
Hídricos da Universidade Federal do Ceará criada no início da década de 1970. 
14. A formulação e coordenação política, articulação com outras políticas públicas e entre as 
instituições do Sistema, assim como, o planejamentoda política estadual e outorga de uso da água cabe 
a SRH. A COGERH tem como foco a operação da complexa infraestrutura de gestão e toda a 
operacionalização da gestão da demanda e da gestão de conflitos pelo uso da agua. A alocação de água 
realizada pelas instâncias de participação social é intensamente apoiada pela COGERH, assim como, é 
esta instituição que desenvolve os planos de bacia hidrográfica. 
15. As ações de gestão dos recursos hídricos podem ocorrer em três dimensões: Gestão da oferta 
(ex. construção, operação e manutenção da infraestrutura de oferta de água superficial e subterrâneas, 
assim como, de mananciais não convencionais), Gestão da Demanda (ex. outorga de uso água e 
cobrança pelo uso da água) e Gestão de Conflitos (mediação de conflitos na alocação de água). 
16. O sistema de gerenciamento de recursos hídricos construiu instâncias que procuram realizar a 
mediação de conflitos de forma administrativa. Os conflitos têm as mais diversas fontes, destaca-se os 
conflitos associados a alocação de água que definem quem (uso, usuário ou região) se apropriará da 
água para a produção de benefícios de caráter público ou privado. O debate sobre acesso e 
democratização do uso da água tem neste ponto um de seus focos. Aqui a questão não é 
exclusivamente quais usos (abastecimento urbano, industrial, irrigação...) irão se apropriar da água mas 
quem (pequeno, médio ou grande irrigante, que tipo de indústria...) se apropriará e se esta apropriação 
produzirá equidade e justiça social. Frequentemente este debate tratará do tema de equidade e 
eficiência do ponto de vista econômico e social. Estes conflitos têm nas alocações entre usos de 
transposições de bacia momentos de grande intensidade devido ao fato de disputas envolvendo 
desenvolvimento regionais e olhar patrimonialista sobre os recursos naturais e hídricos constituírem o 
contexto simbólico e de disputa por recursos escassos que constituem o processo de alocação de água 
de transposição de bacia. Exemplo desta assertiva pode ser encontrado na transposição de bacia do Rio 
Jaguaribe para a Região Metropolitana de Fortaleza e o complexo portuário do Pecém. 
17. Como anteriormente observado, foram relevantes os avanços na direção de tornar a sociedade 
mais resiliente as secas, mecanismos de mediação de conflitos construídos assim como mecanismos de 
 
 
financiamento da gestão do sistema formam desenvolvidos. A cobrança pelo uso da água é 
instrumento essencial da política de águas no Ceará possuindo função econômica (incentivar a 
conservação de água através do sinal do preço) e função financeira (mecanismo de arrecadação de 
recursos extrafiscais para financiar o sistema de recursos hídricos). 
18. O sistema de recursos hídricos possui, no entanto, desafios e fragilidades que necessitam ser 
superados. Estas são oriundas de problemas que necessitam de abordagem intersetorial como é o caso, 
por exemplo: 
• Abastecimento de populações rurais que vivem em pequenas comunidades – que requer ações 
de planejamento, construção de infraestrutura e gestão, coordenação do setor de recursos e 
saneamento para tornar possível a universalização do acesso a água; 
• Gestão da qualidade da água - que demanda ações de controle de fontes poluidoras e ações do 
setor de recursos hídricos, meio ambiente e do setor específico a cada uso poluidor; 
• Melhoria da eficiência no uso da água - que demanda ações do setor de recursos hídricos e do 
setor específico que deseja promover maior eficiência (ex. irrigação, cidades). 
• Elaboração de modelo de gestão de águas urbanas - que requer a articulação entre diversos 
setores e diversas esferas de poder. 
19. Assim como fragilidades inerentes ao setor de recursos hídricos: 
• Elevadas perdas no transporte de água bruta em calha dos rios; 
• Gestão de Secas que requer planejamento mais proativas 
• A não incorporação de estratégias adaptativas as mudanças climáticas no planejamento dos 
recursos hídricos estaduais; 
• Elaboração de mecanismos de compensação financeira e seguro para as secas. 
20. A Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará desenvolveu recentemente planejamento que 
procura responder a estas questões, entre as medidas destaca-se o projeto Malha D’água que procura 
ampliar a segurança hídrica para as populações humanas no Ceará. 
21. Os modelos de gerenciamento e de tecnologias desenvolvidas na construção do modelo de 
gestão de águas do Ceará são inovadoras e são consideradas com experiência de sucesso no Brasil 
por órgãos gestores de água no Brasil e por organismos multilaterais. O Ceará tornou-se uma marca 
reconhecida em Gestão de Recursos Hídricos recendo delegações de diversos estados brasileiros e 
delegações internacionais para conhecer o modelo. Esta marca pode tornar-se oportunidade de 
produção de riqueza para o Ceará se o mesmo possuir a capacidade de construir infraestrutura de 
Ciência e Tecnologia e de consultoria que possibilite exportar os desenvolvimentos e produtos atuais e 
futuros do Sistema Estadual de Recursos Hídricos. 
22. A democratização do acesso a água e o processo participativo na gestão necessitam ser 
fortalecidos e aprofundados. 
1 
 
 
 
Sumário 
1 Introdução ...................................................................................................... 2 
2 Breve recuperação da história ........................................................................ 9 
3 Contexto: Geografia Física, Clima e Recursos Hídricos .............................. 13 
4 Análise da Evolução do Setor ...................................................................... 22 
 Oferta .................................................................................................... 22 
 Demanda ............................................................................................... 35 
 Balanço Hídrico .................................................................................... 41 
5 Evolução das políticas, instituições e marcos regulatórios para o Setor ...... 44 
 Política e Sistema Nacional de Recursos Hídricos ............................... 45 
 Política e Sistema Estadual de Recursos Hídricos ................................ 49 
 Financiamento do Sistema de Recursos Hídricos ................................. 56 
6 Planejamento de Recursos Hídricos do Estado ............................................ 59 
APENDICE I: Análise SWOT dos Recursos Hídricos do Ceará........................ 61 
APÊNDICE II: “Linha do Tempo” marcando principais eventos, reformas, 
políticas e inovações ....................................................................................................... 64 
ANEXO I: Mapas ............................................................................................... 74 
ANEXO II: Sistema Integrado de Saneamento Rural (SISAR) .......................... 79 
ANEXO III: Balanço Hídrico da Cagece para o Ceará em 2016........................ 81 
ANEXO IV: Atlas de Abastecimento da ANA. .............................................. 82 
ANEXO V: Áreas Irrigadas no Ceará ................................................................. 84 
2 
 
 
 
1 Introdução 
A Segurança Hídrica é imperativa para promoção do desenvolvimento 
sustentável. A garantia de água em quantidade e qualidade adequadas para os usos– 
humanos, econômicos e ecossistêmico - e a prevenção e a resposta a eventos 
hidrológicos extremos - secas e cheias - são condições básicas para o desenvolvimento 
da sociedade, sendo as mesmas, também, dimensões intrínsecas à segurança hídrica. 
As crises devido à escassez hídrica associada as secas marcaram os ciclos de 
desenvolvimento do Ceará, estas produziram colapsos na produção econômica, nos 
sistemas urbanos, na saúde entre outros setores, produzindo migrações e grande 
sofrimento para as populações. Estes fatos encontram-se amplamente documentado nos 
relatos de secas como as de 1877-78, 1887-90, 1915, 1919,1932, 1958, 1970, 1981-83, 
1998, 2012-2017. Estes impactos tornaram o Risco Hidrológico em Risco Sistêmico por 
sua abrangência multisetorial, por sua severidade potencialmente catastrófica para a 
qualidade de vida e o desenvolvimento econômico das populações humanas. 
Mitigar os impactos destes eventos tem sido um desafio intergeracional aos 
cearenses. A redução destes impactos requer o reconhecimento que os processos 
associados aos recursos hídricos têm características sócio-naturais. Compreender a 
ocorrência da água na natureza em sua variabilidade espacial e temporal, reconhecer os 
riscos oriundos destes padrões de ocorrência para reduzir as vulnerabilidades sociais 
advindas destes riscos deve ser o caminho a ser trilhado. Grosso modo, esta tem sido a 
trajetória do último século. 
O Ceará é um estado com baixa disponibilidade hídrica, devido à combinação de 
uma série de fatores, sobretudo: baixos índices de precipitação (inferiores a 900 mm); 
altas taxas de evaporação (superiores a 2.000mm); irregularidade do regime de 
precipitação (secas frequentes e por vezes plurianuais); e um contexto hidrogeológico 
desfavorável (80% do território sobre rocha cristalina, com camada de solo raso e 
poucos recursos hídricos subterrâneos). Por isso a maior parte dos rios são naturalmente 
intermitentes, ou seja, são corpos d’água que secam durante a estação seca. As vazões 
que possam vir a serem encontradas neste período tem como origem a liberação de água 
dos reservatórios (perenização). Os eventos de secas plurianuais impõem que estes 
reservatórios transportem a água dos anos chuvosos para anos secos subsequentes, este 
processo caracteriza a regularização plurianual dos reservatórios estratégicos no Estado. 
A evaporação dos lagos dos reservatórios impõe perdas de água 
3 
 
 
 
relevantes neste transporte temporal de água realizados pelos reservatórios, limitando na 
prática o horizonte da capacidade de regularização. 
Infraestrutura física de armazenamento e transferência hídrica, sistema de gestão 
dos recursos hídricos e proteção aos mais vulneráveis através de políticas de assistência 
social (segurança alimentar) tem aumentado a resiliência da sociedade às secas. 
A segurança hídrica da população do Estado (8,95 milhões de habitantes) e das 
atividades econômicas durante os períodos de escassez são, portanto, fortemente 
dependentes de sofisticada infraestrutura hídrica, com reservatórios, interligação de 
bacias, canais e adutoras, estações de bombeamento entre outros. No Ceará, além de 
milhares de reservatórios de menor porte (mais de 28.000), 155 reservatórios são 
considerados estratégicos por concentrarem a capacidade de reservação plurianual 
(18,63 bilhões de m³), distribuídos nas 12 regiões hidrográficas do Estado. A 
infraestrutura hídrica compreende ainda 408 km de canais, 1.784 km de adutoras e redes 
de distribuição e 32 estações de bombeamento. No total, são 2.582 km de rios 
perenizados, envolvendo 81 corpos d’água. 
O problema da água no Ceará não se encerra em ser tão pouca nas secas; há a 
poluição que degradam a qualidade da água notadamente em anos secos onde 
eutrofização e salinidade comprometem mananciais; há o problema das cheias urbanas e 
nos baixos vales dos grandes rios intermitentes; há o problema do elevado custo 
econômico e financeiro de disponibilização; e há os conflitos associados a apropriação 
deste recurso escasso, conflitos estes entre regiões, entre usos da água e entre visões 
sociais e interesses contraditórios. 
Sistema especializado na questão dos recursos hídricos com arcabouço político- 
jurídico-institucional bem definido foi criado no Estado do Ceará integrado e autônomo 
ao Sistema Nacional de Recursos Hídricos. 
Até os anos 1990, a política e gestão de recursos hídricos no território do Ceará 
– e no Nordeste semiárido em geral – eram essencialmente federais, conduzidas por 
instituições do governo federal que tinham como missão principal o combate contra as 
secas. Destaca-se aqui o papel do DNOCS. Este contexto político-institucional foi 
fortemente modificado com a implementação do Sistema de Gestão de Recursos 
Hídricos em nível estadual, no contexto das reformas da área de águas no Brasil iniciado 
na Constituição de 1988 e plasmado na Lei Federal das Águas (Lei 9433-97). 
O Sistema Nacional de Recursos Hídricos que surge da reforma da água no 
Brasil possui instâncias de participação social (Conselho Nacional de Recursos Hídricos 
e Comitês de Bacia de Rios Federais) e organização executiva e regulatória na Agência 
Nacional de Água (ANA). Este sistema tem como objeto primário de ação as águas de 
4 
 
 
domínio da União (rios que cruzam fronteiras dos Estados, fazem fronteira com outros 
países ou águas oriundas de obras da união). As águas nos lagos dos reservatórios 
construídos pelo DNOCS e as bacia hidrográfica dos rios Poti e Longar no oeste do 
Ceará estão sob o domínio da União. Requerendo que o sistema estadual se articule com 
o Federal para a gestão destas águas. As demais regiões hidrográficas são de domínio 
estadual, assim como, as águas subterrâneas. 
O Sistema Estadual de Recursos Hídricos, criado em 1987, de forma similar ao 
Nacional possui organizações de caráter executiva e instâncias de participação social e 
prevê a articulação com outros setores e sistemas. As instâncias de participação social 
são o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Comitês de Bacia Hidrográfica, 
Comissões de Alocação de Água dos Vales Perenizados e Comissão Gestora de 
Sistemas Hídricos. As organizações de caráter executivo são a Secretária dos Recursos 
Hídricos (SRH), Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), 
Superintendência de Obras Hídricas (SOHIDRA) e a Fundação Cearense de 
Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME). O Quadro 1 apresenta estas 
organizações. 
A capacidade tecnológica e de pesquisa no Estado do Ceará é fator relevante na 
construção de soluções inovadoras empreendidas pelo sistema cearense e na capacitação 
do corpo técnico do sistema de recursos hídricos. Destacando-se o papel exercido pela 
Pós-Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Ceará criada no 
início da década de 1970. 
A formulação e coordenação política, articulação com outras políticas públicas e 
entre as instituições do Sistema, assim como, o planejamento da política estadual e 
outorga de uso da água cabe a SRH. A COGERH tem como foco a operação da 
complexa infraestrutura de gestão e toda a operacionalização da gestão da demanda e da 
gestão de conflitos pelo uso da agua. A alocação de água realizada pelas instâncias de 
participação social é intensamente apoiada pela COGERH, assim como, é esta 
instituição que desenvolve os planos de bacia hidrográfica. 
As ações de gestão dos recursos hídricos podem ocorrer em três dimensões: 
Gestão da oferta (ex. construção, operação e manutenção da infraestrutura de oferta de 
água superficial e subterrâneas, assim como, de mananciais não convencionais), Gestão 
da Demanda (ex. outorga de uso água e cobrança pelo uso da água) e Gestão de 
Conflitos (mediação de conflitos na alocação de água). 
O sistema de gerenciamento de recursos hídricos construiu instâncias que 
procuram realizar a mediação de conflitos de forma administrativa. Os conflitos têm as 
mais diversas fontes, destaca-se os conflitos associados a alocação de água que definem 
quem (uso, usuário ou região) se apropriará da água para a produção de benefícios de 
5 
 
 
caráter público ou privado. O debate sobre acesso e democratização do uso da água tem 
neste ponto um de seus focos. Aqui a questão não é exclusivamente quais usos 
(abastecimento urbano, industrial, irrigação...) irão se apropriar da água mas quem 
(pequeno, médio ou grande irrigante, que tipo de indústria...) se apropriará e se esta 
apropriação produzirá equidade e justiça social. Frequentemente este debate tratará do 
tema de equidadee eficiência do ponto de vista econômico e social. Estes conflitos têm 
nas alocações entre usos de transposições de bacia momentos de grande intensidade 
devido ao fato de disputas envolvendo desenvolvimento regionais e olhar 
patrimonialista sobre os recursos naturais e hídricos constituírem o contexto simbólico e 
de disputa por recursos escassos que constituem o processo de alocação de água de 
transposição de bacia. Exemplo desta assertiva pode ser encontrado na transposição de 
bacia do Rio Jaguaribe para a Região Metropolitana de Fortaleza e o complexo 
portuário do Pecém. 
Como anteriormente observado, foram relevantes os avanços na direção de 
tornar a sociedade mais resiliente as secas, mecanismos de mediação de conflitos 
construídos assim como mecanismos de financiamento da gestão do sistema formam 
desenvolvidos. A cobrança pelo uso da água é instrumento essencial da política de 
águas no Ceará possuindo função econômica (incentivar a conservação de água através 
do sinal do preço) e função financeira (mecanismo de arrecadação de recursos 
extrafiscais para financiar o sistema de recursos hídricos). 
O sistema de recursos hídricos possui, no entanto, desafios e fragilidades que 
necessitam ser superados. Estas são oriundas de problemas que necessitam de 
abordagem intersetorial como é o caso, por exemplo: 
i. Abastecimento de populações rurais que vivem em pequenas 
comunidades – que requer ações de planejamento, construção de 
infraestrutura e gestão, coordenação do setor de recursos e 
saneamento para tornar possível a universalização do acesso a 
água; 
ii. Gestão da qualidade da água - que demanda ações de controle de 
fontes poluidoras e ações do setor de recursos hídricos, meio 
ambiente e do setor específico a cada uso poluidor; 
iii. Melhoria da eficiência no uso da água - que demanda ações do 
setor de recursos hídricos e do setor específico que deseja 
promover maior eficiência (ex. irrigação, cidades). 
6 
 
 
 
iv. Elaboração de modelo de gestão de águas urbanas - que requer a 
articulação entre diversos setores e diversas esferas de poder. 
Assim como fragilidades inerentes ao setor de recursos hídricos: 
i. Elevadas perdas no transporte de água bruta em calha dos rios; 
ii. Gestão de Secas que requer planejamento mais proativas 
iii. A não incorporação de estratégias adaptativas as mudanças 
climáticas no planejamento dos recursos hídricos estaduais; 
iv. Elaboração de mecanismos de compensação financeira e seguro 
para as secas. 
Os modelos de gerenciamento e de tecnologias desenvolvidas na construção do 
modelo de gestão de águas do Ceará são inovadoras e são consideradas com experiência 
de sucesso no Brasil por órgãos gestores de água no Brasil e por organismos 
multilaterais. O Ceará tornou-se uma marca reconhecida em Gestão de Recursos 
Hídricos recendo delegações de diversos estados brasileiros e delegações internacionais 
para conhecer o modelo. Esta marca pode tornar-se oportunidade de produção de 
riqueza para o Ceará se o mesmo possuir a capacidade de construir infraestrutura de 
Ciência e Tecnologia e de consultoria que possibilite exportar os desenvolvimentos e 
produtos atuais e futuros do Sistema Estadual de Recursos Hídricos. 
A democratização do acesso a água e o processo participativo na gestão 
necessitam ser fortalecidos e aprofundados. 
O presente relatório tem por objetivo apresentar diagnóstico dos Recursos 
Hídricos no Ceará e do Sistema de Gestão. 
7 
 
 
 
 
QUADRO 1: ORGANIZAÇÕES DO SISTEMA ESTADUAL DE RECURSOS 
HÍDRICOS 
 
1. Secretária dos Recursos Hídricos (SRH), criada em 1987, responsável pela formulação da Política 
Estadual de Recursos Hídricos. Cabe à SRH promover o aproveitamento racional e integrado das águas; 
coordenar, gerenciar e operacionalizar estudos, pesquisas, programas, projetos, obras, produtos e serviços 
referentes a recursos hídricos, e promover a articulação dos órgãos e entidades estaduais do setor com os 
órgãos e entidades federais e municipais. A SRH compõe e coordena o Sistema Integrado de Gestão de 
Recursos Hídricos - SIGERH, que visa implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos, bem como 
planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos. São vinculadas à 
SRH: a Cogerh, a Sohidra e a Funceme. Mais informações: www.srh.ce.gov.br/ . 
 
2. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) foi criada em 1993 com o objetivo de 
gerenciar a oferta dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos de domínio do Estado e da União por 
delegação. É o único órgão gestor do Brasil que é uma companhia pública, com sede em Fortaleza e oito 
gerências regionais. Atualmente, a COGERH tem como modelo a gestão por resultados, orientados por 
objetivos estratégicos, que podem ser monitorados, em torno de seis principais eixos de atuação: i) 
operação e manutenção da infraestrutura hídrica; ii) Monitoramento quantitativo e qualitativo dos 
recursos hídricos; iii) Estudos e projetos; iv) Gestão participativa (com destaque para a alocação 
negociada de água, através dos comitês de bacia); v) Implementação dos instrumentos de gestão; e iv) 
Desenvolvimento institucional. O Ceará foi o primeiro a implementar a cobrança pelo uso da água bruta 
no Brasil, em 1996, que constitui a principal receita para o funcionamento da COGERH e para financiar 
os custos de monitoramento e operação e manutenção da infraestrutura hídrica; a cobrança aumentou 
substancialmente ao longo do tempo, indo de R$ 268 mil em 1996 a R$ 104 milhões em 2016. Até o 
início da cobrança pelo uso da água bruta, foram recursos do BIRD que possibilitaram o 
desenvolvimento institucional da COGERH (PROURB e PROGERIRH). Mais informações: 
https://portal.cogerh.com.br/ 
 
3. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), criada em 1972 com o 
nome de Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais e transformada em 1987 em Fundação 
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, exerce um importante papel na gestão das águas em 
função das características marcantes do clima e da hidrologia no semiárido. Sua finalidade básica é 
realizar pesquisas científicas e tecnológicas, estudos no campo dos recursos hídricos superficiais e 
subterrâneos e a prestação de serviços especializados nas áreas de Meteorologia e Recursos Hídricos, 
incluindo o monitoramento climatológico e hidrológico. Recentemente, a Funceme voltou a fazer parte 
do Sistema de Recursos Hídricos e atua em quatro áreas afins: Meteorologia, Monitoramento, Recursos 
Ambientais e Recursos Hídricos, com a finalidade de planejar, implantar e desenvolver políticas públicas 
ou de ações da iniciativa privada que necessitem de suporte nas informações sobre clima, hidrologia e 
meio ambiente. Mais informações: http://www.funceme.br/ 
http://www.srh.ce.gov.br/%20.
https://portal.cogerh.com.br/
http://www.funceme.br/
8 
 
 
 
 
 
QUADRO 1: ORGANIZAÇÕES DO SISTEMA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS 
 
 
4. A Superintendência de Obras Hidráulicas (SOHIDRA), é uma autarquia criada em 1987 que 
tem como finalidade planejar, executar e acompanhar a fiscalização de obras e serviços de 
interferência hídrica, no âmbito da Política Estadual de Recursos Hídricos, a exemplo do 
Cinturão das Águas atualmente em construção. Mais informações: 
http://www.sohidra.ce.gov.br/ 
 
5. Os comitês de bacia e comissões gestoras no Ceará são organismos colegiados que tem 
como atribuição principal a alocação negociada de água, descrita adiante. Os comitês são 
criados por bacias hidrográficas, enquanto as comissões gestoras atuam em unidades 
hidrológicas locais, tais como um vale perenizado e açudes. Esses organismos, juntamente 
com o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, têm praticado o compartilhamento de 
decisões sobre alocação de água, sobretudo em situações de escassez, com os organismos 
governamentais responsáveis pela gestão de recursos hídricos.http://www.sohidra.ce.gov.br/
9 
 
 
 
2 Breve recuperação da história 
A partir do século XVIII iniciou-se um crescimento mais significativo das 
populações humanas no semiárido, devido aos diferentes ciclos econômicos (gado, 
algodão...). Estes ciclos econômicos e suas populações foram marcados pelas secas. 
Na segunda metade do século XVIII, desenvolvia-se o criatório bovino 
associado à indústria do charque que tinha como mercado consumidor a zona da mata 
do Nordeste. Em 1777, pela falta de pastos e de água devido a uma seca, sete oitavos do 
rebanho bovino do semiárido foi dizimado. Esta seca combinada com a de 1793 levou à 
falência ou transferência das charqueadas para outras regiões (Rio Grande do Sul 
principalmente). 
Após algumas décadas de chuvas regulares no período de 1844 a 1877 e uma 
conjuntura econômica internacional favorável, as populações humanas cresceram nos 
sertões associadas à produção de algodão e ao criatório de gado, quando se dá um 
significativo aumento da densidade demográfica e, neste período, por iniciativa do 
Imperador Dom Pedro II, foi enviada uma expedição ao Ceará (“Comissão Científica de 
Exploração” (1859-1861), da qual participaram figuras notáveis como Guilherme 
Capanema e Raja Gabaglia, com o objetivo de estudar a natureza e aspectos culturais. 
Esta comissão sugeriu o desenvolvimento de uma política de convivência à seca. Em 
linhas gerais, propôs como medidas: (i)construção de estruturas de armazenamento de 
água (açudes, grandes cisternas, etc.); (ii) aproveitamento dos períodos de bonança, para 
fazer reservas alimentares (humana e animal); e (iii) a necessidade de implantação de 
políticas permanentes, com recursos a tempo. Esta última, não verificada nem mesmo na 
construção do Açude Cedro, marco inicial da chamada solução hidráulica. 
Em 1877, inicia-se um período de secas extremamente severas, que encontrou 
uma população grande e vulnerável. O evento climático, associado à forma da sociedade 
produzir e organizar-se, impõe uma catástrofe com perdas de vidas humanas e no 
colapso do sistema produtivo. Segundo alguns autores, foram quinhentas mil pessoas 
mortas no Ceará e seus arredores. Este evento coloca o problema das secas como 
questão de Estado, o qual teve repercussão em fóruns nacionais, passando a ser 
visualizado como problema nacional, dando origem a movimentos sociais e a políticas 
governamentais sobre o tema, tornando as secas um fato sócio-natural. 
A política de águas tem assim seu nascimento associado à escassez quantitativa 
dos recursos hídricos. A proposta inicial de solução ao problema da escassez foi a
10 
 
 
 
construção de infraestrutura de armazenamento que possibilitasse a transferência de 
água no tempo (da estação seca para a úmida e de anos úmidos para anos secos). Essa 
iniciativa foi batizada de “solução hidráulica”, contemplando o programa de açudagem 
que tem como marco inicial a construção do açude do Cedro e que incluía a 
implementação da irrigação como fator de desenvolvimento da região, sendo a primeira 
investida neste sentido, a implantação a partir do começo do século XX (1911) de 
Hortos Florestais às margens dos reservatórios. Neste mesmo intuito, outras investidas 
foram implementadas até a década de 50 e, já no final da década de 60, inicia-se a 
Política de Perímetros Públicos Irrigados. No desencadear desta política, gradualmente, 
deu-se a inclusão de ações/programas estaduais, e hoje está construída uma ampla rede 
de reservatórios de regularização sazonal (atualmente são cerca de 28.000 micros e 
pequenos reservatórios) e regularização plurianual. A regularização plurianual tem a 
capacidade de estocar 18,67 bilhões de m³ e regularizar aproximadamente 128 m
3
/s. 
Em 1906 foi finalizada a construção do Açude Cedro, na cidade de Quixadá; em 
1918, o Riacho do Sangue, em Solonópole e, em 1927, o açude Santo Antônio de 
Russas, na cidade de Russas, por exemplo. 
O DNOCS teve papel essencial na construção da infraestrutura hídrica no 
Estado. É criado, em 1909, a IOCS, Inspetoria de Obras Contra as Secas. Essa 
instituição mudou de nomenclatura ao longo do tempo, adotando, em 1945, a sigla 
DNOCS, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. As ações do órgão tinham 
como características a construção de obras de infraestrutura hídrica, como barragens, 
açudes e poços, para estocagem de água a ser utilizada nos períodos de crise hídrica, 
bem como a formação de rede de estradas e mesmo de núcleos populacionais inteiros 
para acolher os técnicos e suas famílias e os projetos de irrigação. O acúmulo de água 
aparecia, nas ações iniciais, como um objetivo em si mesmo, sem considerar as formas 
de apropriação do recurso. 
Além disso, a problemática das secas ganhou um corpo técnico de estudiosos 
concentrados no Instituto Politécnico do Rio de Janeiro, cujas propostas apresentadas no 
contexto da grande seca de 1877, já indicavam a solução hidráulica para o Nordeste 
brasileiro. 
Na década de 1950, com o surgimento da Superintendência de Desenvolvimento 
do Nordeste (SUDENE), inicia-se uma nova fase, mais associada ao planejamento 
regional, baseada nos Estudos Integrados de Base, que tiveram a colaboração de 
11 
 
 
 
missões estrangeiras. Tais estudos contribuíram para a elaboração dos Planos Diretores 
de Bacias, os quais, no caso cearense, deram suporte ao Plano Diretor do Vale do Rio 
Jaguaribe, sob assistência da Missão Francesa, e do Vale do Rio Curu, com apoio da 
Missão de Israel (SILVA, 2004). 
Em 1961 é inaugurado o Açude Orós, na cidade de mesmo nome, com a 
perspectiva de acumular água para os períodos de seca. Contudo, este reservatório só 
passa a contribuir com a perenização do Vale do Jaguaribe nos anos 1980 quando foi 
instalada o dispositivo de liberação de água. Dessa forma, torna-se possível a instalação, 
já no contexto da ditadura iniciada em 1964, dos primeiros perímetros públicos 
irrigados. Os perímetros atendiam à necessidade de conter as tensões no campo, que se 
acirravam com a organização dos trabalhadores em torno da luta pela terra e com a 
migração para a capital do Estado, como também visavam o desenvolvimento da 
agricultura irrigada, dadas as dificuldades da produção agrícola frente à escassez de 
água. 
Nas últimas décadas tem sido executada, com custos de implantação e operação 
elevados, a ampliação das infraestruturas de transferência hídrica entre diferentes 
regiões do território através de adutoras e canais. Atualmente, essa infraestrutura é 
complementar aos leitos naturais, levando água onde a rede natural não leva. Observa-se 
perdas significativas no transporte em leitos de rios (30 a 80% em alguns rios no 
período seco), utiliza-se água para transportar água. 
Além disso, a capacidade de regularização plurianual em diversas bacias 
hidrográficas cearenses encontra-se próxima de seu limite máximo (Ex: Bacias 
Metropolitanas, Curu, Médio e Baixo, Médio e Alto Jaguaribe, Salgado e Banabuiu, 
Acarau). 
A disponibilidade de água subterrânea no Ceará é relativamente modesta 
excetuando-se a região do Araripe, Apodi, faixa costeira e formação Serra Grande na 
Ibiapaba. A disponibilidade em fraturas de rochas no cristalino é pequena não obstante 
sua relevância para o abastecimento de populações rurais difusas e o abastecimento 
emergência em períodos secos. A SOHIDRA tem desempenhado papel relevante na 
construção de poços. 
A deterioração da qualidade das águas em reservatórios, principalmente no 
período seco, tem aderido este tema na agenda da política de água na última década. 
Esta deterioração tem levado a impactos importantes no abastecimento urbano 
associados a eutrofização, por exemplo. A COGERH vem monitorando a qualidade de 
12 
 
 
 
água dos reservatórios, no entanto um modelo de gestão de qualidade da água ainda é 
um desafio a ser superado. 
Esta recuperação história centra-se no período anterior a implantação do sistemainicial de recursos hídricos, que ocorre em meados dos anos 1980, que será 
posteriormente discutido. 
13 
 
 
 
3 Contexto: Geografia Física, Clima e Recursos Hídricos 
A escassez hídrica no Ceará está associada a semiaridez do clima e a grande 
variabilidade a ele associada. Os fatores que condicionam estas características 
climáticas são geofísicos de escala planetária não sendo definidos por processos na 
escala local. 
O clima no estado não pode ser modicado localmente como se pretendeu nos 
anos 1970 e início dos anos 1980 com o programa de Chuvas Artificiais da FUNCEME. 
Cabe entender e procurar prever a dinâmica climática para reconhecer os seus padrões 
de ocorrência com vistas a avaliar os riscos e mitigar vulnerabilidades da sociedade. A 
estratégia atual é gerenciar o risco climático nos recursos hídricos. O Estado tem 
atualmente na FUNCEME uma instituição de excelência responsável em liderar este 
processo tanto no monitoramento do tempo e do clima, como em estudos de 
meteorologia, recursos hídricos e meios ambiente, em articulação com a UFC e UECE, 
e centros de pesquisa Nacionais e Interncaionais. 
A relação do Cearense com a seca é profunda. Os relatos históricos dos efeitos 
deste fenômeno, em épocas de populações com baixa densidade demográfica e de 
reduzidas demandas hídricas, demonstram a vulnerabilidade da região ao seu clima. 
Segundo o IBGE (Resolução nº 05, de 2002) o Ceará tem 148.826 Km2 de 
território, sendo que 86,82% se caracteriza como semiárido, isto, conforme a atualização 
do mapa geográfico e social do semiárido brasileiro, efetuada através da Portaria de 10 
de março de 2005, do Ministério da Integração Nacional, que deu nova delimitação ao 
semiárido. Por esta delimitação, 150 municípios cearenses (81,5% dos seus 184 
municípios) estão na região semiárida. 
Os semiáridos cearenses são regiões onde predomina o bioma caatinga. A 
precipitação média anual no estado é de 806 milímetros e a evaporação média anual é de 
2.000 a 2.500 mm/ano. A relação entre a precipitação e a elevada evaporação é que 
caracteriza a semiaridez. A elevada evaporação impõe adicionalmente grande 
ineficiência a regularização plurianual dos reservatórios. 
O regime de precipitações apresenta uma grande variabilidade espacial em sua 
ocorrência como mostrado nas Figura 1a e 1b. A região dos sertões dos Inhamuns 
apresenta precipitação de 500mm de média anual enquanto a região litorânea tem total 
de chuva de até 1.800mm. 
Os semiáridos ocorrem no Ceará de forma heterogênea, constituindo-se de um 
grande número de paisagens com diferenças na ocorrência de sua fauna, flora e tipos de 
solo. A diversidade das paisagens é traduzida em aptidões e vulnerabilidades diferentes. 
14 
 
 
 
A utilização sustentável dos recursos naturais exige o reconhecimento da diversidade 
dos geoambientes do Ceará. Entre estas paisagens encontra-se a depressão sertaneja; 
feição mais frequente que se caracteriza em suas diferentes ocorrências por solos rasos, 
altitude em torno de 200m e pertencentes ao domínio geológico cristalino. 
 
Figura 1. Distribuição Espacial das Precipitações no Ceará. (a) médias dos totais anuais 
no período 1981-2010 e (b) distribuição de 1990 a 2009. 
 
Fonte: FUNCEME. 
 
 
O domínio cristalino constitui 75% do território cearense (PERH, 1992), sendo o 
maior condicionante para a ocorrência das águas subterrâneas no Estado. Sob este 
domínio, elas acumulam-se em fraturas das rochas com aquíferos de baixa 
produtividade e de qualidade da água limitante a certos usos, embora que, para algumas 
populações difusas, tornam-se alternativas de atender suas demandas. 
Quanto ao domínio sedimentar existem três ocorrências principais: no Cariri 
cearense, no Apodi e na Faixa Costeira (Aquíferos Barreiras e Dunas) e na Ibiapaba 
(formação Serra grande). Neste domínio os aquíferos apresentam maior potencial de 
exploração, no entanto há carência de uma quantificação precisa deste potencial. 
Embora contribuam significativamente para o abastecimento de sedes e distritos, 
notadamente a bacia sedimentar do Araripe, que apresenta sobre si considerável 
densidade demográfica. 
 
 
15 
 
 
FIGURA QUADRO 2. Distribuição Espacial das Precipitações no Ceará. (a) médias dos totais anuais no período 1981-2010 e (b) distribuição de 
1990 a 2009. 
(b) 
 
 
 
 
Fonte: FUNCEME. 
16 
 
 
 
A reduzida profundidade do solo cristalino leva a uma pequena capacidade de 
armazenamento subterrâneo, favorecendo o escoamento superficial o que justificou uma 
política de açudagem. Contudo a alta evaporação é uma das principais perdas físicas das 
águas estocadas em reservatórios, assim como, influencia a qualidade da água 
armazenada ao concentrar sais e nutrientes promovendo salinização e eutrofização dos 
lagos. 
Ao comportamento médio do clima, caracterizado pela semiaridez, superpõe-se 
a significativa variabilidade climática, uma das maiores do planeta. A amplitude do total 
anual médio precipitação no Ceará para o período de 1911-2017 foi de 249 mm em 
1919 a 1708 mm em 1985. A precipitação total anual no Estado do Ceará tem sua 
estatística básica apresentada na Tabela 1. A evolução temporal dos totais 
pluviométricos anuais no Estado do Ceará de 1911-2017 encontra-se na Figura 2. 
 
Tabela 1. Estatísticas da precipitação total anual no Estado do Ceará, em mm. 
Parâmetros estatísticos Precipitação (mm) 
Média 807 
Máximo 1708 
Mínimo 247 
Mediana 786 
Desvio Padrão 276 
Coeficiente de Variação 0,34 
 
Figura 2. Precipitação no Estado do Ceará no período de 1911-2017: total anual 
precipitado na linha contínua em azul e média móvel de 12 anos na linha em preto 
pontilhada (em mm). 
1800 
1700 
1600 
1500 
1400 
1300 
1200 
1100 
1000 
900 
800 
700 
600 
500 
400 
300 
200 
100 
0 
1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 
Anos 
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17 
 
 
 
Observa-se então, que uma característica marcante dos semiáridos Cearense e de 
seus enclaves úmidos, é a grande variabilidade climática. Esta se traduz em uma grande 
dispersão em torno da média da ocorrência anual das precipitações e vazões, isto é, os 
valores observados em um dado ano podem ser bastante diferentes (para mais ou para 
menos) das médias de longo prazo destas variáveis climáticas. Esta variabilidade ocorre 
no espaço e no tempo, visto que, os três principais sistemas meteorológicos indutores de 
chuvas no estado apresentam alta irregularidade temporal e espacial. 
O clima no Ceará possui modos de variação em múltiplas escalas temporais 
(sazonal, interanual, multidedecadal, centenária). Observa-se na Figura 2 que a média 
móvel de 12 anos de precipitação varia de 650 mm a 950 mm, período mais úmido com 
precipitação 50% maior que o período mais seco demonstrando a grande variabilidade 
entre décadas. 
Os riscos de extremos hidrológicos (cheias e secas) para um local ou região 
estão associados a estes modos de variação. Identificar e entender os modos de variação 
do clima torna-se decisivo para quantificar os riscos hidrológicos e consequentemente a 
definição dos mecanismos de gerenciá-los. 
 
 
As precipitações ocorridas na cidade de Fortaleza ilustram estes modos de 
variação. Observa-se na Figura 3 que a variação interanual dos totais de precipitação 
anual varia de 500 mm a 2800 mm, ou seja, o máximo é mais de cinco vezes o mínimo 
anual no período de 1849 a 2006. Esta variabilidade superpõe-se a uma pronunciada 
variabilidade sazonal onde 70% dos totais das precipitações ocorrem em três meses 
(fevereiro, março e abril) e 90% no primeiro semestre do ano. E é sobreposta por uma 
QUADRO 2: PRINCIPAIS SISTEMAS PRODUTORES DE CHUVA NO CEARÁ 
Os vórtices ciclônicos de ar superior, indutor de chuvas na denominada pré-estação 
(dezembro e janeiro), normalmente iniciam-se no Cariri, chegando à Ibiapaba e demais serras 
úmidas. Quando existentes,manifestam-se cedo, se alargados atingem o setor Sul do Sertão Central, 
porém, muito raramente seu Norte, fazendo com que nesta área e nas demais, as precipitações 
aconteçam posteriormente. 
A zona de convergência intertropical, principal sistema indutor de precipitações, está 
relacionada à quadra chuvosa (fevereiro a maio), originando-se com a formação de nuvens no 
Oceano Atlântico, deslocadas pelos ventos alísios em direção ao Ceará. Ocorrem com maior 
frequência em março, justificando o registro de chuvas mais intensas para este mês. Sua frequência 
irregular é fator da variabilidade pluviométrica, contudo é o sistema de maior previsibilidade. 
Já as ondas de leste, embora pouco influentes, também contribuem para a variabilidade, são 
eventuais e concentradas na zona litorânea. 
Estes sistemas climáticos são condicionados por condicionantes climáticos de larga escala 
como as temperaturas da superfície do mar (TSM) do Oceano Pacífico na região do El Nino e da 
TSM do Atlântico Tropical norte e sul (Dipolo do Atlântico). A relação destas variáveis climática e 
do regime de precipitação no Ceará é mostrada na Figura QUADRO 2. 
Sistema orográfico de precipitação localizado a barlavento das terras úmidas do Baturité e 
Meruoca. 
18 
 
 
 
variabilidade multidecadal que pode ser observada na Figura 3 onde a precipitação 
média em uma década pode variar de entorno de 1000 mm a 1800 mm. Estes modos de 
variação traduziram-se em impactos sócio-econômicos de grande vulto que 
condicionaram os ciclos econômicos e marcaram a cultura da região. 
 
Figura 3. Precipitações na Cidade de Fortaleza no período de 1849 a 2017 (proxy 
construída com múltiplos postos pluviométricos): totais anuais em azul e média móvel 
de 10 anos em preto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os modos de variação do regime de chuvas são amplificados na vazão, fato 
associado ao sinal da precipitação se superpor ao da evapotranspitação, de forma que 
anos secos tem baixa precipitação e alta evaporação e o inverso ocorrendo em anos 
úmidos. 
A Figura 4 apresenta as vazões na seção fluviométrica de Iguatu no rio Jaguaribe 
no Estado do Ceará com área de drenagem de 20.000 km2. Este é um rio intermitente 
(caracterizando pronunciada variabilidade sazonal) que teve vazões médias anuais 
variando de zero a 220 m3/s, assinalando a significativa variabilidade Interanual. 
A gestão da oferta de água através da construção de infraestrutura de estocagem 
de água é uma estratégia eficiente para mitigar o impacto destes padrões de variação. 
Pequenos reservatórios podem reduzir a variabilidade sazonal e reservatórios grandes 
podem reduzir a severidade média dos eventos de extremos de secas ou cheias. 
A variabilidade decadal é também relevante neste contexto, observa-se na 
referida figura que a média móvel de 10 anos varia entre 20 m3/s (década anterior a 
1945) e 70m3/s (década anterior a 1925). Apenas por hipótese, suponha que poder-se-ia 
utilizar integralmente este recurso par irrigar e que o consumo da irrigação seria de 1,0 
3000 
 
2500 
 
2000 
 
1500 
 
1000 
 
500 
 
0 
 
 
Ano 
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1
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1
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0 
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1
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8
9
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1
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0
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1
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1
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1
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9
0 
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0
0
0 
2
0
1
0 
2
0
2
0 
19 
 
 
 
l/s.ha. Sob esta hipótese poder-se-ia irrigar 70 mil hectares na década mais úmida e 20 
mil hectares na década seca. A possibilidade de irrigar 3,5 vezes mais área é um 
exemplo da relevância econômica da variabilidade decadal. 
 
Figura 4. Vazões no Posto Fluviométrico de Iguatu (Ceará): médias anuais em pontos 
azuis e média móvel de 10 anos na linha preta cheia. 
240 
 
220 
 
200 
 
180 
 
160 
 
140 
 
120 
 
100 
 
80 
 
60 
 
40 
 
20 
 
0 
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 
 
 
Diferentemente da variabilidade interanual, os estoques de água não conseguem 
mitigar este tipo de variação devido ao longo período de exposição das superfícies de 
lagos com grande volume de água expostas ao efeito da evaporação, isto é, a evaporação 
secaria os lagos antes que a década seca termine. Para a variabilidade decadal a 
infraestrutura hídrica de transposições de bacias que associem sistemas com diferente 
padrão de ocorrência climática (se disponíveis e viáveis), a gestão da demanda e dos 
conflitos são frequentemente as ferramentas mais relevantes para lidar com este modo 
de variação, capazes de mitigar o seu efeito. 
A gestão da oferta se realizando através do dimensionamento, operação e 
manutenção da infraestrutura hídrica, sendo a segurança (hidrológica, hidráulica, 
estrutural, geotécnica...) desta infraestrutura aspecto essencial. Gestão da demanda 
consistindo em todas as ações relacionadas aos usos econômicos e sociais da água e a 
sustentabilidade ambiental. Aspectos como conservação da água (uso racional) e 
flexibilidade dos usos são dimensões relevantes, a gestão da demanda é realizada 
através de instrumentos como outorga, cobrança entre outros. A Gestão de Conflito tem 
sua necessidade em decorrência da escassez relativa dos recursos hídricos. Esta escassez 
impõe a necessidade de alocar a água entre os diferentes usos potenciais ou efetivos, 
este fato está associado a disputas de interesses conflitantes que necessitam ser 
Afluências Iguatu 
Média Movel (10 anos) 
Polinômio 
V
a
z
ã
o
 (
m
3
/s
) 
20 
 
 
 
administrados; para tanto faz-se necessário arcabouço político/jurídico/institucional 
adequado. 
O reconhecimento dos padrões de variação climáticos em cada região 
hidrográfica, bacia ou localidade é decisivo para escolha e configuração dos 
instrumentos de gestão dos recursos hídricos. 
Quanto maior for a variabilidade climática (que pode ser medida em uma 
primeira aproximação pelo coeficiente de variação das séries temporais) maior será o 
desvio das condições médias associado a um evento extremo para uma mesma 
probabilidade de ocorrência. Isto é, maior variabilidade pode estar associada a maior 
severidade dos extremos de secas e cheias. Isto imporá a necessidade de uma melhor 
gestão de risco nas três dimensões da gestão dos recursos hídricos. 
A mudança climática para o setor de recursos hídricos tem sua relevância na 
medida de quanto pode modificar o padrão médio de ocorrência dos processos 
hidrológicos (precipitação, vazão, evaporação...) e de seus modos de variação. Desafio 
atual é quantificar o impacto das potenciais mudanças do clima no regime de 
precipitação e vazão de uma bacia hidrográfica, amplificando-se esta dificuldade na 
razão inversa ao tamanho da bacia. 
Os modelos de cenarização da mudança do clima convergem consistentemente 
na indicação de aumento de temperatura e de sua amplitude para todas as regiões do 
planeta. Este fato não se reproduz quando avaliada as precipitações produzidas pelos 
diferentes modelos. Havendo neste caso discrepância não apenas na intensidade da 
mudança como em sua direção. Isso amplifica-se quando se analisam as vazões. 
Exemplificando a afirmação supracitada a Figura 5 apresenta o cenário de 
afluências para o reservatório Pacoti-Riachão no Estado do Ceará para dez modelos de 
mudança climática para o RCP 4.5 no CMIP5 utilizados no IPCC. Observa-se que 
quatro modelos apresentam sinal de aumento de vazões e seis de redução de vazões. 
Resultado similar é observado para as afluências aos reservatórios Orós, Banabuiú e 
Castanhão. 
Os modelos de mudança climática com algumas poucas exceções traduzem 
futuros possíveis, futuros verossímeis. Desta forma não considerar estes futuros no 
gerenciamento de recursos hídricos é desconsiderar as incertezas associadas ao clima e 
consequente as variáveis de oferta (ex. vazões) e demanda (evapotranspiração de 
culturas irrigadas, temperatura nas demandas urbanas) associadas a ele. Isso pode nos 
21levar a se investir em ações que se mostrarão inadequadas no futuro e associadas a alto 
nível de arrependimento. 
 
Figura 5. Desvios percentuais das vazões com relação as vazões médias do Século XX 
para as afluências aos reservatórios: (a) Castanhão, (b) Orós, (c) Bananuiú e (d) Pacoti- 
Riachão. 
 
22 
 
 
 
4 Análise da Evolução do Setor 
4.1 Oferta 
A disponibilidade hídrica natural no Ceará está associada a água meteórica, 
superficial e subterrânea. 
A água meteórica tem aproveitamento direto em escala local associado a 
agricultura de sequeiro e as cisternas rurais. Sua ocorrência apresenta grande 
variabilidade espacial e temporal associada a ocorrência das chuvas. O risco da oferta 
associado a este manancial é elevado. 
A disponibilidade de água devido ao escoamento superficial é a maior 
responsável pelo abastecimento dos diversos usos da água. A ocorrência natural dos 
escoamentos superficiais apresenta grande variabilidade sazonal. Os rios são 
intermitentes, escoam durante o primeiro semestre do ano civil e são secos no segundo 
semestre. Como narrado anteriormente os escoamentos fluviais apresentam grande 
variabilidade interanual e interdecadal. 
As principais bacias hidrográficas do estado e os seus principais rios são 
apresentados na Tabela 2. Observa-se que 49,5% do território cearense drena suas águas 
para o Rio Jaguaribe. 
A construção de reservatórios foi a estratégia utilizada para reduzir a 
variabilidade sazonal e interanual característica do regime fluvial dos rios intermitentes 
do Ceará. A evolução temporal dos estoques é mostrada na Figura 6. 
Atualmente o Ceará tem uma capacidade de armazenamento de 18,6 bilhões de 
metros cúbicos. Os cinco maiores reservatórios Castanhão (6,7 bilhões de m3), Orós 
(1,9 bilhões de m3), Banabuiú (1,6 bilhões de m3), Araras (0,89 bilhões de m3) e 
Figueiredo (0,52 bilhões de m3) armazenam juntos 61% da capacidade de estocagem e 
quatro deles encontram-se no Vale Perenizado do Rio Jaguaribe. 
Observa-se na Figura 7 um aumento significativo dos estoques nos períodos: (i) 
após a seca de 1958 no Governo Juscelino onde foram construídos os reservatórios: 
Ararás (1958), Orós (1961), parcialmente Banabuiú (1966); (ii) no período de 1985- 
2015 em função da construção do Castanhão (2003) e Figueiredo (2013) construído 
pelo DNOCS e o programa de açudagem regional do Governo do Estado nos programas 
PROURB (15 reservatórios) e PROGERH (10 reservatórios). 
 
 
23 
 
 
 
Tabela 2. Principais Bacias Hidrográficas e Rios no Ceará. 
Bacias Hidrográficas Área 
(Km²) 
Área (%) 
Alto Jaguaribe 24.636 16,78 
Salgado 12.865 8,76 
Médio Jaguaribe 10.376 7,07 
Banabuiú 19.316 13,15 
Baixo Jaguaribe 5.452 3,71 
Bacias Metropolitanas 15.085 10,27 
Acaraú 14.423 9,82 
Coreaú 10.657 7,26 
Curu 8.528 5,81 
Bacias Litorâneas 8.619 5,87 
Bacia dos Sertões de Crateús 10.821 7,37 
Bacia da Serra da Ibiapaba 5.988 4,13 
Estado do Ceará 146.858 100,00 
Fonte: COGERH. 
24 
 
 
 
Figura 6. Evolução Temporal da capacidade de armazenamento de águas superficiais do 
Ceará em milhões de metros cúbicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A capacidade de estocar água não representa em si a disponibilidade hídrica 
efetiva. A sua importância encontra-se na possibilidade de controlar os extremos de 
cheias ao armazenar água e os de seca ao liberar água. Parcela relevante do estoque de 
água é perdida pela evaporação em função de ter que se transportar água por vários 
anos. A disponibilidade efetiva para uma garantia de 90% (consegue suprir a vazão 
declarada em nove de cada dez anos) para os diversos reservatórios encontra-se na 
Tabela 3. A vazão regularizada total apresentada nesta Tabela é de 130,21 m3/s, este 
valor não incorpora a contribuição do Castanhão. 
A construção desta rede de açudagem permitiu a perenização de um total de 
2.582 km de rios perenizados, envolvendo 81 corpos d’água no ano de 2012. A 
distribuição espacial destes rios perenizados pode ser observada no mapa da Figura 7. 
A utilização da rede fluvial para realizar o transporte da vazão regularizada tem 
a grande vantagem do baixo custo de transporte (não há necessidade de construir ou 
manter infraestrutura de transferência, assim como, não se paga energia) no entanto, 
apresenta elevadas perdas de transporte (utiliza-se água para transportar água). A baixa 
eficiência no transporte se traduz em custos elevados associado a perda de água 
regularizada e a parcela do impacto das secas que poderiam ter sido mitigada se não 
houvesse as referidas perdas de transporte. 
20.000 
18.000 
16.000 
14.000 
12.000 
10.000 
8.000 
6.000 
4.000 
2.000 
0 
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 
Ano 
C
ap
ac
id
ad
e 
d
e 
A
rm
az
en
am
e
nt
o
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m
3)
 
25 
 
 
 
Tabela 3. Vazão Regularizada dos Reservatórios. 
Reservatório 
Q90 
(m³/s) 
Reservatório 
Q90 
(m³/s) 
Reservatório Q90 (m³/s) 
Acaraú 
Mirim 
0.73 Favelas 0.51 Prazeres 0.12 
Adauto 
Bezerra 
0.05 
Flor do 
Campo 
0.12 Premuoca 0.09 
Amanary 0.28 Fogareiro 3.42 Quandú 0.04 
Angicos 0.66 Forquilha 1.24 Quincoé 0.20 
Aracoiaba 5.03 Frios 1.26 Quixabinha 0.04 
Araras 12.56 Gangorra 0.70 Quixeramobim 1.26 
Arneiroz II 3.03 Gavião 0.42 Realejo * 
Arrebita 0.46 
General 
Sampaio 
4.17 Riachão 0.10 
Atalho 0.63 Gomes 0.04 
Riacho do 
Sangue 
3.49 
Ayres de 
Souza 
3.93 Itaúna 0.56 
Rivaldo de 
Carvalho 
0.19 
Banabuiú 13.56 Jaburu II 0.70 Rosário 0.34 
Barra Velha 0.38 Jatobá * 
S. Ant. de 
Aracat. 
0.14 
Benguê 0.31 Jenipapeiro 0.19 
S. Ant. de 
Russas 
0.91 
Bonito 0.04 Jerimum 0.09 
S. Maria de 
Aracat. 
0.02 
Cachoeira 0.35 
Joaquim 
Távora 
0.25 
S. Pedro 
Timbaúba 
0.92 
Canafístula * Lima Campos 0.29 Salão 0.15 
Canoas 0.39 Madeiro * Santo Antônio * 
Capitão Mor * Malcozinhado 0.43 São Domingos 0.10 
Caracas 0.19 
Manoel 
Balbino 
0.11 São José II 0.73 
Carão * Martinópole 0.39 São Mateus 0.26 
Carmina * Mons. Tabosa 0.04 São Vicente 0.19 
Carnaubal 0.67 Muquém 0.69 Serafim Dias 0.28 
Castanhão * Nova Floresta 0.17 Sitios Novos 1.73 
Castro 2.72 Olho dÁgua 0.13 Sobral * 
Catucinzenta 0.15 Orós 10.43 Souza 0.68 
Cauhipe 0.19 Pacajus 7.05 Sucesso 0.18 
Caxitoré 0.81 Pacoti 5.33 Tatajuba 0.01 
Cedro 0.01 Parambu 0.03 Tejuçuoca 0.90 
Cipoada 3.42 Patos 0.15 Thomás Osterne 0.11 
Cupim 0.07 Pau Preto 0.02 Trapiá III 0,26 
Colina 0.05 Patu 0.82 Trapiá II 0.12 
26 
 
 
 
Tabela 4. Vazão Regularizada dos Reservatórios. (Continuação) 
Reservatório 
Q90 
(m³/s) 
Reservatório 
Q90 
(m³/s) 
Reservatório Q90 (m³/s) 
Desterro 0.15 
Pedras 
Brancas 
4.05 Trici 0.46 
Diamante 0.09 Pentecoste 10.25 Trussu 1.62 
Do Coronel 0.01 Pirabibu 0.96 Tucunduba 1.64 
Edson 
Queiroz 
2.39 Poço da Pedra 0.09 Ubaldinho 0.26 
Ema * Poço do Barro 2.51 Valério 0.01 
Estrema 0.19 Poço Verde 0.11 Várzea do Boi 0.31 
Faé 0.99 
Pompeu 
Sobrinho 
* Vieirão 0.01 
Farias de 
Sousa 
0.05 Potiretama 0.08 
 
 
Figura 7. Rede de açudagem e Rios Perenizados. 
 
 
 
O Ceará possui dois domínios de águas subterrâneas: a) o das rochas sedi- 
mentares, que ocupam somente vinte e sete por cento (27%) da área do Estado; b) o das 
27 
 
 
 
rochas cristalinas, que ocupam setenta e três por cento (73%) da área do Estado. O 
domínio sedimentar apresenta água em maior e melhor qualidade que a disponível no 
domínio cristalino. A Figura 8 apresenta os principais aquíferos do Estado com os 
valores percentuais de suas áreas de ocorrência conforme apresentado no Pacto da 
Águas. 
Figura 8. Mapa geológico esquemático do Ceará com a indicação dos principais 
sistemas aquíferos e os percentuais das áreas de ocorrência. 
 
Fonte: CPRM, 2003. 
28 
 
 
 
 
 
QUADRO 3: DESCRIÇÃO DOS AQUIFEROS DO CEARÁ 
 
(Aluviões – 2,9%) 
Os Aluviões são aquíferos livres, com espessuras de até 5 metros. São representados por 
sedimentos de granulometriamuito fina, frequentemente intercalados com níveis argilosos e 
orgânicos, derivados de uma ação erosiva sobre rochas sedimentares e migração de partículas das 
zonas de mangue. Eles são, ainda hoje, os aquíferos mais utilizados pela população no interior 
cearense.Eles podem ser de pequeno, médio e grande porte. Os poços que são implantados nas 
aluviões de pequeno porte atingem vazões superiores a 10m³/h, na sua maioria. Enquanto que, as 
aluviões de médio e grande porte geram vazões superiores a 50m³/h. 
 
(Dunas/Barreiras – 10,0%) 
Dunas/paleodunas se constituem os melhores potenciais hidrogeológicos ao longo do litoral 
contribuindo substancialmente para o abastecimento de agua dessa região. São compostos por areias 
pouco consolidadas e extremamente homogêneas, finas a médias, com diâmetro efetivo 
predominando entre 0,15 a 0,25 mm e espessuras entre 10 - 25 metros. 
A captação nesse tipo de aquífero é realizada por poços tubulares rasos, com profundidades 
inferiores a 20 metros, que produzem vazão média de 6,0 m³/h, podendo alcançar até 16,0 m³/h. 
Outro tipo de domínio hidrogeológico que ocorre ao longo do litoral é o Barreiras. Ele 
possui uma espessura média entre 40 e 50 metros, representada por intercalações de níveis arenosos a 
síltico-argilosos que condicionam a diferentes permeabilidades, tanto vertical quanto 
horizontalmente. Com isso, sua potencialidade é baixa com vazão média de 2,8 m³/h. 
 
(Apodi – 1,8%) 
São um aquífero livre no qual a recarga se procede pela infiltração de aguas pluviais em 
áreas de afloramento e pela transferência do Grupo Barreiras. A captação nesse tipo de domínio é 
realizada por poços tubulares, com profundidades médias de 60 metros, que produzem vazões medias 
superiores a 50,0m³/h, podendo alcançar até 200,0 m³/h. Vale ressaltar que: 
a) As condições de solo, clima e topografia favorecem a agricultura irrigada o que leva ao 
crescimento desordenado da irrigação. Isso pode levar a exaustão do aquífero como ocorreu em 
Baraúnas-RN; 
b) Existe o risco de contaminação devido ao uso indiscriminado de agrotóxicos; 
c) É um aquífero extremamente vulnerável na área aflorante; 
d) Verificou-se a existência de poços acima 300m (na área da Chapada do Apodi). 
 
(Araripe – 4,2%) 
É um domínio com uma diversificação litológica que se caracteriza por sequencias 
alternadas de arenitos, siltitos, calcarios, argilitos e folhelhos, podendo alcançar uma espessura total 
da ordem de 1.600m. Destaca-se o aquífero do Rio Batateira, Mauriti e o Missão Velha, cujas vazões, 
em geral elevadas, podem atingir valores superiores a 250 m³/h. Tem-se, também, o Exu que libera 
cerca de 140.000 m³/dia. Esses aquíferos são estudados por diversas instituições no Estado como: a 
Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM); a COGERH; a FUNCEME; e a 
Universidade Federal do Ceará. 
 
(Parnaíba – 5,8%) 
A Bacia Sedimentar do Parnaíba é a terceira maior do Brasil, contudo, no Ceará localiza-se apenas os 
arenitos da formação Serra Grande. Estes podem alcançar uma espessura da ordem de 300 m. 
Possuem um comportamento de aquífero fissural cujos poços tem profundidade de 67 m e vazões de 
3,7m³/h. Nesse aquífero tem-se a preocupação com o: (i) O intenso desmatamento que reduz a 
infiltração; e, (ii) O uso indiscriminado de agrotóxicos que aumenta o risco de contaminação. 
 
(Cristalino – 72,9%) 
O domínio do Cristalino tem fraca vocação aquífera, condicionada pela existência de zonas 
fraturadas, abertas, interconectadas e associadas a fonte de recarga. Os poços têm profundidade 
média de 50 a 60 metros, nível estático oscilando entre 10 e 20 metros, vazão média de 2 e 3 m³/h e 
capacidade específica inferior a 1,0(m³/h)/m. A alimentação se dá pela infiltração pluviométrica, 
drenagens influentes, lagoas, açudes e contribuição dos sistemas aquíferos sobrepostas. 
Sua principal vantagem e a distribuição espacial, que possibilita o abastecimento da população 
29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANO 
 
 
 
A exploração dos mananciais subterrâneas é realizada através da perfuração de 
poços. A SOHIDRA perfurou no período 1987-2017 um total de 10.743 poços, a 
evolução temporal da perfuração de poços encontra-se apresentada na Figura 9. A 
análise deste gráfico indica que há um aumento da quantidade de poços perfurados no 
segundo ano de seca. 
A relação entre perfuração de poços e secas no Ceará é longa. Os primeiros 
poços tubulares do Brasil foram perfurados na seca 1945-1846 em Fortaleza pela 
empresa Armstrong and Sons Drillers Co., do Texas (EUA), contratada pela Ceará 
Water Supply Co., concessionária do abastecimento daquela cidade. A empresa norte 
americana trouxe três máquinas percussoras a vapor e pessoal técnico especializado. Os 
poços com 150 metros de profundidade não foram recebidos pela contratante por não 
serem artesianos (Leal, 1999). Encontram-se cadastrados no SIAGAS 
(http://siagasweb.cprm.gov.br/) da CPRM mais de 23.000 poços no Ceará. 
 
Figura 9. Evolução Temporal da perfuração de poços da SOHIDRA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: SOIDRA. 
 
 
Rede de adutoras para o abastecimento de cidades foi construída no Ceará. A 
infraestrutura hídrica compreende 1.784 km de adução com capacidade de transportar 
uma vazão total de 4.807 l/s. A Figura 10 apresenta a evolução temporal das adutoras 
identificadas na base de dados da SRH. Observa-se um crescimento significativo em 
meados dos anos 1990 associada aos Programas Adutora do Sertão, PROURB e 
PROÁGUA. A distribuição espacial destas adutoras encontra-se na Figura 11. 
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2
0
1
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2
0
1
7 
 
http://siagasweb.cprm.gov.br/)
30 
 
 
 
Figura 10. Evolução Temporal do comprimento das adutoras em operação no Ceará 
(Base de SRH-Ce) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 11. Rede de Adutoras do Estado do Ceará. 
 
Vale ressaltar que a distribuição espacial das populações humanas e atividades 
econômicas não corresponde a distribuição espacial da disponibilidade hídrica. A 
equalização da oferta e demanda entre regiões requer em algumas situações a 
2000 
1800 
1600 
1400 
1200 
1000 
800 
600 
400 
200 
0 
1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 
ANO 
A
d
u
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s 
(k
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) 
31 
 
 
 
transposições de volumes de água significativas entre bacias hidrográficas, 
configurando-se nas Transferência de Bacias Hidrográficas. 
A principal transposição de bacia no Ceará (Figura 12) é a que transporta água 
da bacia do Jaguaribe para as Bacias Metropolitanas composto por adutoras, estações 
elevatórias, reservatórios, aquedutos e canais com extensão total de 256 km. O projeto 
do Eixo da Integração Jaguaribe-Metropolitano (denominação desta transposição) foi 
dimensionado para uma vazão máxima de 22 m3/s para ser construído em duas fases. O 
custo total dessa infraestrutura foi de aproximadamente um bilhão de reais. A primeira 
fase, já concluída, comtempla a construção de todos os canais em sua capacidade 
máxima e com metade da capacidade máxima os sifões construídos de travessia de 
talvegs fluviais e estações de bombeamento. A segunda etapa, ainda não construída, 
concluiria as obras dos sifões e estações de bombeamento. 
 
Figura 12. Transposiçãode Bacias do Rio Jaguaribe para as Bacias Metropolitanas. 
 
Esta transferência de bacia é complexa tecnicamente e politicamente. A 
complexidade técnica advém da operação de sistema de reservatórios estratégicos de 
duas regiões hidrográficas (reservatórios Orós, Castanhão, Banabuiu, Aracoiaba, 
Pacajus, Pacoti, Riachão, Gavião e Sítios Novos) e da operação da infraestrutura 
hidráulica que realiza a transposição. Corpo técnico especializado é requerido para tratar 
deste tema. A operação desta infraestrutura impõe custos elevados de energia elétrica 
32 
 
 
 
nas estações de bombeamento e recursos de custeio para a manutenção e reposição de 
máquinas, equipamentos e infraestrutura civil. Atualmente a cobrança pelo uso da água 
bruta financia a operação, manutenção e recuperação desta infraestrutura. 
A complexidade política da transposição reside no fato da água ser um recurso 
escasso principalmente no semiárido e transpor água de uma bacia para outra pode 
restringir o desenvolvimento e produzir impactos negativos na região doadora de água. 
A bacia receptora requer água para resolver problemas crônicos de desenvolvimento 
econômico e qualidade de vida para suas populações. Esta escassez hídrica traduz-se em 
conflitos sociais pela apropriação deste bem. Estratégia de mediação de conflito e 
compensação as bacias doadoras necessitam ser implementadas. Mediação de conflitos 
entre a Bacia do Jaguaribe e Metropolitanas vem sendo realizada pela COGERH nas 
reuniões de Alocação Negociada de Água, de fato a COGERH nasce para a sociedade 
em julho de 1994 na I Reunião de Operação dos Reservatórios do Vale do Jaguaribe 
(“Seminário dos Usuários dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú”). A gestão de conflitos 
na alocação de água é dimensão essencial a gestão dos recursos hídricos. 
O aprimoramento da gestão das águas nas Cidades principalmente nas regiões 
metropolitanas localizadas em bacias hidrográficas em que a demanda superou a oferta 
hídrica deve ser realizado. Esta gestão deve procurar a maior eficiência do uso da água 
local, o desenvolvimento de uma economia que seja menos intensiva na utilização da 
água e que utilize ao máximo mananciais locais convencionais e não convencionais (ex. 
reuso da água). Estas ações são necessárias para reduzir as externalidades negativas que 
a bacia receptora impõe a bacia doadora. 
Cabe observar que a água é pública e como tal ela não pertence as atividades 
econômicas ou populações residentes na bacia onde ela origina-se. A União e os 
Estados federados é quem possuem o domínio da água e podem alocar a mesma 
observando interesses mais amplos que aqueles localizados entre as fronteiras 
topográficas da bacia hidrográfica. Deve-se considerar os interesses de todas as 
populações residentes no Território nacional (entendido como o espaço geográfico de 
realização do poder). Aqui reside uma dimensão importante da política de águas: 
recursos hídricos como desenvolvimento social e econômico. Esta dimensão política de 
desenvolvimento da água, sua intersetorialidade, por ser bem público do ponto de vista 
econômico exigem que a mesma não tenha sua alocação realizada por mercados como 
as commodities. 
33 
 
 
 
Os impactos da Seca 2012-2017 (momento que se escreve este relatório) 
demostraram a vulnerabilidade de diversos sistemas de abastecimento de cidades, áreas 
irrigadas, indústria e outros usos econômicos. 
Os cinco maiores reservatórios do Estado estão, no mês de janeiro de 2018, com 
armazenamentos muito baixos: Orós (5,3%), Castanhão (2,33%), Banabuiú (0,46%), 
Figueiredo (0,0%) e Araras (7,11%). O armazenamento total do Ceará é de 6,7%. Este 
fato demonstra que todo o esforço realizado na construção da infraestrutura hídrica e na 
gestão dos recursos hídricos podem não evitar o colapso em áreas sensíveis como a 
Região Metropolitana de Fortaleza em seca um pouco mais prolongadas ou severas que 
a atual. 
A necessidade de incorporação de novos mananciais faz-se presente. A 
utilização do reuso das águas nos centros urbanos transformando o esgoto de resíduo em 
recurso e a utilização de água de chuva são soluções que devem ser operacionalizadas. 
Neste sentido mecanismos de comando e controle como a mudança do código de 
postura das cidades e incentivos econômicos devem ser construídos para o uso destes 
mananciais. Observa-se, no entanto, que estudos de viabilidade econômica e ambiental 
necessitam ser realizados para a avaliação da viabilidade destas ações. 
O reuso da água pressupõe o seu uso inicial. A água de chuva pressupõe a 
ocorrência das chuvas. Estes mananciais estão altamente correlacionados com a 
disponibilidade hídrica superficial, o que se traduz na permanência de elevada 
vulnerabilidade a uma seca prolongada e severa. A construção de portfólio de 
mananciais que reduzam o risco as grandes secas requer a incorporação de águas 
oriundas de bacias hidrográficas com regime hidrológico diverso dos rios cearenses ou 
que tenham reservas hídricas altas com relação as demandas do Ceará; ou a 
incorporação de mananciais completamente independes, como ás águas do mar. 
A CAGECE está realizando iniciativas importantes para viabilizar o reuso da 
água coletadas e tratadas por ela e dessalinização de água do mar. O Plano Fortaleza 
2040 propôs estratégias para o reuso de águas cinzas em residências individuais e 
condomínios assim como a utilização de águas de chuva em ambiente urbano. 
O Projeto de Integração do São Francisco as bacias do Nordeste Setentrional 
(PISF) é parte relevante do portfólio de mananciais que reduzam o risco hidrológico 
para diversos hidrossistemas estaduais. Como toda transposição, ela apresentou 
conflitos intensos para a sua construção e deverá apresentar conflitos no processo de 
alocação entre bacia doadora e receptora e entre os Estados receptores pela água 
34 
 
 
 
transposta. Este segundo conflito pode ser mitigado frente a potencial associação entre 
custos e a água alocada para cada um dos Estados. 
Como reguladora do uso de recursos hídricos, a ANA emitiu outorga de direito 
de uso ao Ministério da Integração Nacional (construtor da obra) no rio São Francisco 
para a execução do PISF, com garantia de uma vazão de 26,4 m³/s para consumo 
humano e dessedentação animal, mesmo em caso de secas na região. Essa vazão pode 
chegar a alcançar a máxima instantânea de 127 m³/s quando a situação hídrica na bacia 
do São Francisco estiver em melhores condições. 
A Figura 13 mostra o traçado do PISF. O Eixo Norte é o que abastecerá o Ceará. 
A entrada das águas do PISF no Ceará será pela bacia do Rio Salgado afluente do 
Jaguaribe. Tendo ponto de entrega mais próximo ao Castanhão próximo ao município 
de Aurora. O reservatório Castanhão armazenará as águas da transposição. O Ceará 
espera receber de 8-10 m3/s das águas traspostas. Esta vazão é menor do que a vazão 
ofertada para a Região Metropolitana de Fortaleza e Pecém que em 2012 chegou a 12 
m3/s. 
 
Figura 13. Transposição do São Francisco. 
 
Fonte: Adaptado da ANA (2010). 
 
 
O PISF aumenta a capacidade de suprir as regiões que tenham acesso ao Rio 
Salgado, Rio Jaguaribe em seu curso médio e baixo de forma direta ou através de 
35 
 
 
 
transposições como foi proposto pelo Governo do Estado do Ceará no Cinturão das 
Águas. 
O conjunto de canais, tuneis, estações de bombeamento do Cinturão das Águas 
disponibilizaria água para regiões das bacias hidrográficas do Alto Jaguaribe, Acaraú e 
Curu entre outras. O custo estimado da obra é de oito bilhões de reais. O primeiro 
trecho dela está em curso e transporta a água desde a chegada da transposição em Jati 
até aproximadamente o divisor de água da Bacia do Salgado e do Alto Jaguaribe. A 
viabilidade técnica, econômica e ambiental em seu conjunto e de cada trecho necessita 
ser analisada em profundidade com vistas a definição de sua prioridade frente a recursos 
financeiros escassos. 
A Secretariade Recursos Hídricos está desenvolvendo projeto de infraestrutura 
denominado de Malha D’Água. Este projeto objetiva suprir água para todas as sedes 
municipais e principais distritos de todos os municípios cearenses através da construção 
de uma ampla rede de adutoras. Os mananciais que suprirão esta rede são os que 
consigam proporcionar maior segurança hídrica aos sistemas de abastecimento. Esta 
rede terá capilaridade que permitirá abastecer praticamente todos os distritos do estado 
com adutoras complementares a rede principal. Economias de escala importantes na 
rede de estações de tratamento de água serão alcançadas com este projeto. Redução nas 
perdas de transporte em rios serão alcançadas por transportar-se água em ductos e não 
em rios, esta água não perdida transforma-se em maior segurança hídrica para as 
populações. Este projeto tem como grande desafio a operação deste sistema e o aumento 
do custo da água de suprimento das populações. 
 
Demanda 
As demandas para recursos hídricos cresceram de forma importante nas últimas 
décadas. Este crescimento está associado ao aumento das populações humanas e ao 
desenvolvimento econômico, notadamente da irrigação e da indústria. 
A população do Ceará cresceu de 4,36 milhões de habitantes no ano de 1970 
para 8,45 milhões de habitantes no ano de 2010 (IBGE) e 9,02 estimado para 2017. A 
distribuição espacial desta população é muito concentrada aproximadamente 45% estão 
na Região Metropolitana de Fortaleza (19 municípios), estando 30% na Capital. O 
suprimento de água desta população e economia requer a construção de complexo 
sistema de abastecimento de água com contribuição importante do abastecimento vindo 
de águas de transposição de bacias. Esta região realiza pressão sobre os recursos 
36 
 
 
 
hídricos de outras regiões impondo externalidade negativa as econômicas destas outras 
regiões como comentado anteriormente. Duas novas regiões metropolitanas do estado 
foram criadas recentemente: Cariri (9 municípios) e Sobral (18 municípios). Estas 
regiões metropolitas configuram-se em centros de demandas que necessitam de análise 
especial no que tange ao abastecimento de água e disposição final de esgotos (ex. Rio 
Batateiras no Cariri). 
A migração das populações para os centros urbanos está associada ao 
crescimento do setor de serviços, que aumenta o consumo per capita dos centros 
urbanos e, em algumas cidades o turismo impõe demandas de águas sazonais 
expressivas. A industrialização de algumas áreas metropolitanas é outro fator relevante 
no crescimento da demanda dos centros urbanos e respectivos consumos por habitante. 
Atualmente 81% da população urbana e 64% da população total possuem 
serviço de abastecimento de água. Constata-se aqui a dimensão do problema do 
saneamento rural onde grande número de comunidades rurais não possuem sistema de 
abastecimento de água regular. A universalização do abastecimento de água persiste 
como desafio. A construção de organizações e políticas para o saneamento rural deve 
ser perseguida, experiências importantes como o SISAR devem ser aprofundadas no 
sentido da construção de estratégia de gestão sustentável para o Saneamento Rural (ver 
ANEXO sobre o SISAR). Experiência como o do Plano de Águas específico para o 
abastecimento das populações rurais como o realizado em Milhã devem ser 
considerados como instrumento de operacionalização das diferentes políticas públicas 
de construção de infraestruturas para as populações rurais (cisternas, poço com chafariz, 
pequenos sistemas de distribuição de água...) e adequado modelo de gestão. 
A Agência Nacional de Águas elaborou o Atlas de Abastecimento do Brasil 
(ANA, 2010) que avaliou o sistema de abastecimento de todas as localidades com 
população superior a cinco mil habitantes. A avaliação da relação oferta e demanda 
deste trabalho é apresentada no Anexo Atlas de Abastecimento da ANA. Este estudo 
propôs a ação em 56 sistemas de abastecimento com orçamento estimada de R$ 
441.782.179,00 (valores de 2005). Dados sobre o atendimento urbano são apresentadas 
na Figura 14. 
As perdas nos sistemas de tratamento e distribuição de água em regiões urbanas 
ainda são significativas, o balanço hídrico da CAGECE (ANEXO Balanço Hídrico 
CAGECE 2016) apresenta uma perda de 42% (considerando perdas físicas, valores não 
faturados, retiradas não autorizadas), a perda real é de 20%. 
37 
 
 
 
O coleta e tratamento de esgoto é outro problema relevante. Atualmente 33% do 
Esgoto Urbano é coletado no Ceará. Há municípios onde coleta-se e não se realiza 
tratamento adequado do efluente. A comparação do nível de tratamento de esgoto no 
Ceará com relação a outros Estados brasileiros é apresentada na Figura 15. 
O Estado do Ceará tem cerca de 71.000 hectares com infraestrutura de irrigação, 
sendo a maior demanda por água no Estado. O Ceará apresenta algumas vantagens 
comparativas com relação a irrigação em função das características climáticas, como o 
maior número de horas de sol, e baixa umidade relativa do ar, que auxilia no controle 
fitossanitário; estes fatores estimulam o acréscimo da demanda para irrigação e a 
chegada de grandes empresas, voltadas ao agronegócio. 
 
Figura 14. Representação do índice de Atendimento Urbano. 
 
Fonte: SNIS, 2015. 
 
 
Os perímetros de irrigação públicos foram instalados no Ceará a partir da década 
de 1970. O perímetro de Morada Nova (instalado em 1970) com área de 4.300 hectares, 
o Icó-Lima Campos (instalado em 1973) com 4.260 hectares e Curu-Paraipaba 
38 
 
 
 
(instalado em 1975) com 8.000 hectares são perímetros do construídos pelo DNOCS 
que representam esta primeira fase da irrigação. 
 
Figura 15. Representação do índice de Coletada de Esgoto. 
 
Fonte: SNIS, 2015. 
 
 
Os perímetros de irrigação da década de 1980 que podem ser representados pelo 
Jaguaribe-Apodi (instalado em 1989) com 5.400 hectares irrigação solos de chapada 
requerendo a superação de desníveis topográficos (desnível geométrico de mais de 100 
metros no Jaguaribe-Apodi) demandando energia para bombeamento de água que eleva 
o custo da mesma. Os perímetros da década de 2000 representados pelo Baixo-Acaraú 
(2001) e Tabuleiro de Russas (2003) apresentaram mudanças importante na estruturação 
do perímetro permitindo a presença de lotes empresariais nos perímetros públicos, nos 
outros perímetros as grandes empresas entravam através de arrendamento de terras de 
pequenos colonos, estes dois perímetros têm aproximadamente 45% da área dos 
perímetros federais. Todos estes perímetros citados foram construídos pelo DNOCS e 
são denominados de perímetros públicos. 
39 
 
 
 
Os perímetros construídos pelo DNOCS no Ceará são 14 e pelo governo do 
estado em número de 16. O Anexo Áreas Irrigadas apresenta uma lista destes perímetros 
de irrigação. Estas áreas de irrigação tiveram sua infraestrutura de uso comum 
financiada pelo poder público federal ou estadual. 
Áreas de irrigação privada tiveram expansão a partir da década de 1980 apoiada 
por programas governamentais como o Programa Nacional para Aproveitamento 
Racional de Várzeas Irrigáveis (PROVÁRZEAS), Programa de Financiamento de 
Equipamentos de Irrigação (PROFIR) e o PROINE (administrado pelo Banco de Brasil 
e Banco do Nordeste). 
A indústria tem sua demanda de água suprida através das redes de distribuição 
de água dos centros urbanos. Os distritos industriais têm sistema de oferta de água bruta 
separada da de água tratada. O Distrito Industrial de Maracanaú primeiro do Ceará 
planejado no Governo Virgílio Távora em 1964 e que teve sua primeira indústria em 
1967 é um exemplo desta configuração. A ocorrência de duas redes de distribuição 
(água bruta e água tratada) permitiu arranjo institucional em que a COGERH assumisse 
a operação da rede de água bruta e a CAGECE a rede de água tratada. Esta configuração 
teve impactos relevantes na viabilização financeira nosprimeiros anos da COGERH. 
As demandas industriais nos distritos industriais e na região do complexo 
portuário do Pecém, assim como, de industrias com captação de água própria (industrias 
isoladas) cresceram significativamente nas duas últimas décadas. 
A aquicultura associada principalmente ao camarão e tilápia é uma demanda 
expressiva no baixo vale dos rios e em lagos dos reservatórios. O camarão é produzido 
em cinco polos localizado em 23 municípios cearenses. A tilápia é produzida em 6 
pólos em 55 municípios. 
Estudo recente realizado pela consultora IBI para a Secretaria de recursos 
apresentou uma síntese dos usuários de água utilizando a base as informações 
fornecidas pela SRH/COGERH. Neste estudo identificou que o Ceará tem 17.921 
usuários de água bruta conforme apresentado na Tabela 4. 
Observa-se na Tabela 5 que o setor de irrigação concentra 56,6% (8.820) dos 
usuários de água do Estado. Em termos de Bacia, é na do rio Salgado que está a maior 
concentração de usuários (22,92%), seguida pela Metropolitana (14,34%) e a do Baixo 
Jaguaribe (12,93%). 
A Figura 16 apresenta a evolução do consumo de água bruta (m3) do Estado do 
Ceará entre 2011 e 2015. Observa-se um crescimento nos 4 primeiros anos e uma 
40 
 
 
 
redução da ordem de 11,60% em 2015 quando comparado a 2014, fruto da menor 
disponibilidade de água para irrigação e das políticas adotadas pelo Estado para redução 
do consumo. Observa-se que a demanda máxima registrada na Base de Dados da 
COGERH foi de 900 milhões de metros cúbicos em 2014. 
 
Tabela 4 – Número de Usuários de Água por Bacia Hidrográfica. 
Bacia N° de Usuários % 
Salgado 3.571 19,93% 
Metropolitana 2.233 12,46% 
Baixo Jaguaribe 2.014 11,24% 
Parnaíba 1.845 10,30% 
Alto Jaguaribe 1.587 8,86% 
Banabuiú 1.363 7,61% 
Coreaú 1.332 7,43% 
Médio Jaguaribe 1.055 5,89% 
Acaraú 1.442 8,05% 
Sertões de Crateús 161 0,90% 
Curu 818 4,56% 
Litorânea 500 2,79% 
TOTAL 17.921 100,00% 
Fonte: SISCAD - Sistema de Cadastro de Usuário de Água e CNARH – Cadastro Nacional de Usuários de 
Recursos Hídricos. 
 
Tabela 5. Número de Usuários pelos Principais Usos da Água 
Uso Número de Usuários % 
Irrigação 8.981 57,66% 
Empresa Concessionária de Água Bruta 6.357* 40,81% 
Indústria 190 1,22% 
Aquicultura e Carcinicultura 10 0,06% 
Turismo e Lazer 39 0,25% 
TOTAL 15.577 100% 
Fonte: SISCAD - Sistema de Cadastro de Usuário de Água. 
Nota: * Correspondentes as concessionárias de água bruta de cidades, distritos, povoados, fazendas e 
sítios. 
 
Figura 16. Evolução do consumo de água bruta (m3) do Estado do Ceará (2011 a 2015). 
41 
 
 
 
 
1.000.000.000,00 
 
900.000.000,00 
 
800.000.000,00 
 
700.000.000,00 
 
600.000.000,00 
 
500.000.000,00 
 
400.000.000,00 
 
300.000.000,00 
 
200.000.000,00 
 
100.000.000,00 
 
0,00 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2011 2012 2013 2014 2015 
Consumo (m3) 543.375.322,31 684.441.332,36 849.085.250,21 913.950.159,05 807.892.017,22 
 
 
Balanço Hídrico 
A análise do balanço hídrico concentrado em cada uma das doze regiões 
hidrográficas do Ceará é realizada nesta seção. Os dados utilizados foram os dos 
Cadernos das Bacias Hidrográficas do Pacto das Águas. 
O Balanço concentrado por regiões hidrográficas apresenta problemas por 
desprezar as variações espaciais e temporais da oferta hídrica. Este é um grave 
inconveniente. Resolveu-se apresentá-lo como um indicador global que permitisse uma 
primeira aproximação da relação entre oferta e demanda de água. 
O balanço hídrico das regiões hidrográficas e do Ceará é apresentado na Tabela 
6. 
A quantificação das demandas hídricas para os diversos usos foi compilada pelo 
na Tabela 4. A demanda total por água no Ceará é estimada em 49 m3/s (1,55 bilhões de 
metros cúbicos por ano), sendo 57% da demanda para a irrigação, 24% demanda urbana 
e 19% demanda industrial. O valor desta demanda é maior que o valor máximo 
registrado em 2014 pela COGERH (0,9 bilhões de metros cúbicos por ano). Isto ocorre 
devido ao fato do valor desta demanda já está incorporada toda a demanda dos 
perímetros de irrigação em fase de implantação (Tabuleiros de Russas e Baixo Acaraú), 
assim como, outras demandas consideradas plenas. 
A oferta de água superficial com garantia de 90% é de 128 m3/s (4,02 bilhões de 
metros cúbicos por ano) e a de água subterrânea é de 12 m3/s (0,37 bilhões de metros 
cúbicos por ano). A garantia de 90% em frequência significa que em 9 de cada 10 anos 
é possível retirar a vazão garantida, no outro ano a vazão é menor que a garantida 
42 
 
 
 
podendo ser zero, ou seja, colapso do sistema. O cálculo desta garantia é feito 
simulando o reservatório em uma série temporal com aproximadamente 100 anos de 
afluências, nestas simulações observa-se usualmente que as falhas de abastecimento se 
concentram em durações de secas maiores que um ano. Esta disponibilidade funciona 
como número de referência, pois o operador do sistema para evitar o potencial colapso 
impõe restrições mais severas que as que definiram a regra de operação para o cálculo 
da vazão com garantia de 90%. Observa-se então que 128 m3/s seria a demanda que 
poderia ser suprida em anos regulares, em períodos de seca prolongada a demanda seria 
bem menor que está podendo haver colapso do sistema. Faz-se está observação para 
evitar um falso otimismo que os números da oferta poderiam produzir. 
As Regiões Hidrográficas Metropolitanas e Baixo Jaguaribe aparecem em 
situação de maior estresse hídrico. Estas bacias, assim como, Banabuiú recebem águas 
do Médio Jaguaribe. A bacia do Acaraú também está em situação de estresse. Observa a 
bacia do Alto Jaguaribe em situação confortável, no entanto este conforto é aparente já 
que a parcela significativa da oferta localiza-se no Reservatório Orós, no exutório desta 
região hidrográfica. Outra situação é da bacia do Curu que necessita ter seu balanço 
hídrico melhor detalhado espacialmente em função da escassez prolongada que tem 
observado em seu vale perenizado. 
 
 
43 
 
 
 
Tabela 6: Balanço Hídrico Concentrado das Regiões Hidrográficas do Ceará utilizando as informações do Pacto das Águas. 
 
44 
 
 
 
 
5 Evolução das políticas, instituições e marcos regulatórios para o 
Setor 
A Secretária dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH) foi criada em 
abril de 1987 pela Lei nº11.306, no mesmo ano foi criada a Superintendência de Obras 
Hídricas (SOHIDRA) como órgão executor das obras hidráulicas vinculada a SRH. 
Estas duas novas instituições somou-se a Fundação Cearense de Meteorologia e 
Recursos Hídricos (FUNCEME) fundada em 1972 e anteriormente vinculada à 
Secretaria de Agricultura, responsável pelo monitoramento climático e por estudos 
aplicados em recursos hídricos e meio ambiente. 
Em 1993 foi criada a Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos 
(COGERH) responsável pela implementação do sistema de gerenciamento da água, que 
executa a manutenção, monitoramento, e operação dos sistemas hídricos e vitaliza o 
processo de constituição e funcionamento de organismos de bacia. 
O Ceará instituiu através da Lei nº11.996/1992, a Política de Gestão dos 
Recursos e o Sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos Este documento legal 
é anterior a Lei Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº9433/1997), sendo o Ceará o 
segundo Estado brasileiro a promulgar uma lei específica no tema de recursos hídricos. 
O Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SIGERH) gerencia os recursos 
hídricos de forma integrada ao Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos 
Hídricos (SINGREH). O SINGREH tem sua existência prevista na Constituição Federal 
de 1988 e foi constituído juntamente com a Política Nacional de Recursos Hídricos por 
meio da Lei nº9433 de 1997. 
A Agência Nacional de Água (ANA) foi criada pela Lei Federal nº9.984 de 17 
de julho de 2000. A ANA tem funções de regulaçãoe de operação do sistema. 
A estas organizações responsáveis pela gestão dos recursos hídricos junta-se o 
DNOCS. A relevância do DNOCS neste contexto localiza-se no fato de que é 
patrimônio desta instituição os principais reservatórios no Ceará (Castanhão, Orós, 
Banabuiu, Figueredo, Araras, General Sampaio, Pentecoste, Caxitoré, Frios, Arneiroz, 
entre outros). O poder de outorga das águas destes reservatórios é da ANA, não obstante 
este fato a muito grande a relevância da instituição e opera e mantem está infraestrutura. 
O DNOCS possui um outro papel no sistema de recursos hídricos, usuário de água. Esta 
instituição continua a ter papel na administração dos perímetros de irrigação pública 
federais por ele construídos, muitos perímetros ainda não foram emancipados. Esta 
45 
 
 
 
dupla função de ofertar água e ser demandador de água coloca algumas vezes esta 
instituição em posição delicada para arbitrar conflitos de água em que participe outros 
usuários. 
A descrição da Política Nacional de Recursos Hídricos e da Política Estadual de 
Recursos Hídricos é realizada me maiores detalhes a seguir. Em função de sua 
relevância dedicou-se um item ao Financiamento da Política Estadual de Recursos 
Hídricos. 
 
Política e Sistema Nacional de Recursos Hídricos 
O Código das Águas de 1934 foi o primeiro marco normativo e regulatório dos 
recursos hídricos no Brasil. Surge no contexto histórico marcado pelo viés 
“progressista”, “moderno” e autoritário do Estado Novo com o objetivo de promover o 
“aproveitamento racional da energia hidráulica, visando ampliação dos domínios 
público e Federal sobre as águas, bem como a regulamentação da indústria 
hidroelétrica” (Código de Águas, 1934). Ou seja, o referido Código preocupa-se com a 
água no corpo d’água enquanto PRODUTORA de hidroeletricidade e com a 
desprivatização e construção do espaço público, totalmente privatizado na primeira 
república. 
É importante lembrar, que a partir da promulgação do Código de Águas há um 
aumento significativo nas infraestruturas hídricas do país, a outorga de direitos de uso 
da água fica no Departamento de Águas e Energia Elétrica, situação só modificada com 
a criação da ANA. 
A gestão dos recursos hídricos é uma política de construção de infraestrutura 
física, onde o Estado agia de forma centralizada. Esta situação persiste até os anos 1980. 
A partir do final dos anos 1970, o Estado vai perdendo, gradativamente, sua capacidade 
de investimento em função da crise econômica. Trata-se do momento de 
democratização do país, onde o Estado passa a assumir um viés regulador-mediador de 
conflitos. Afloram questões de cunho ambiental presente nas agendas políticas e nas 
reivindicações dos movimentos sociais, que clamam por um estado menos centralizador 
e processos democráticos de tomada de decisão. 
A Constituição de 1988 é fruto das lutas e conquistas dos setores sociais que se 
mobilizaram para a redemocratização do país. 
46 
 
 
 
Esta constituição aprofunda o domínio público nas águas. As águas passam a ser 
bens da União ou dos Estados. O regime da dupla dominialidade. São águas da União 
conforme o Artigo 20 em seu parágrafo III: 
“os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de 
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de 
limites com outros países, ou se estendam a território 
estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos 
marginais e as praias fluviais” 
O Artigo 26 em seu parágrafo I define como bens dos estados 
“as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e 
em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as 
decorrentes de obras da União” 
O Ceará por sua configuração geográfica tem todos os rios exceto o Poti-Longar 
com nascente e foz no Estado. O que possibilitaria uma gestão exclusivamente estadual 
das águas superficiais e subterrâneas no Estado se não fosse o comando constitucional 
“ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União”. Este 
comando constitui impõe que as águas nos lagos dos reservatórios construídos pelo 
DNOCS são de domínio da União, cabendo a União sua gestão e outorga. Tendo 
atualmente a ANA como responsável pela outorga desta água. 
Produziu-se desta forma situação complexa onde a água no rio a montante de um 
reservatório do DNOCS é de domínio estadual, a água no lago do reservatório é de 
domínio da União e a água a jusante do reservatório é novamente de domínio estadual. 
A Agência Nacional de Águas delegou para a Secretaria de Recursos Hídricos a outorga 
das águas da União no Estado do Ceará resolvendo as dificuldades operacionais 
oriundas da dupla dominialidade sobre águas de um mesmo curso fluvial. 
A Constituição Federal definiu em seu Artigo 21 Parágrafo XIX que compete a 
União “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir 
critérios de outorga de direitos de seu uso”. Nasce neste dispositivo constitucional o 
Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos que será regulamentado 
pela Lei Federal 9433 de 8 de janeiro de 1997. A Lei 9433 é composta de três títulos: (i) 
Política Nacional de Recursos Hídricos, (ii) Sistema Nacional de Gestão dos Recursos 
Hídricos e (iii)Infrações e Penalidades. 
Os objetivos e fundamentos da política nacional de recursos hídricos com grifo 
nosso é apresentado no Quadro 2. Nos termos da Lei a água é definida como um bem 
47 
 
 
 
público do ponto de vista jurídico dotado de valor econômico que deve satisfazer aos 
múltiplos usos da água, não obstante ter o uso humano e a dessedentação animal como 
prioritário; o processo de gerenciamento deve ser descentralizado e participativo e 
utilizar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento. 
Os instrumentos de gestão dos recursos hídricos são: (i) Planos de Recursos 
Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos 
preponderantes da água; (iii) a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; (iv) a 
cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) o Sistema de Informações sobre Recursos 
Hídricos. Todos estes instrumentos de gestão excetuando o (ii) vem sendo aplicado no 
Ceará. O enquadramento de águas de rios intermitentes e de reservatórios localizados 
nestes rios é um problema teórico e prático em aberto. A Lei do Ceará como 
posteriormente descrita adota estes instrumentos e adiciona outros como a Fiscalização 
do uso da água. 
O Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos hídricos (SINGREH) foi 
criado tendo como função entre outras coordenar a política nacional de recursos hídricos 
e arbitrar administrativamente os conflitos relativos aos recursos hídricos. O 
planejamento, regulação, controle e cobrança pelo uso da água fazer parte das 
atribuições do sistema. 
O SINGREH é constituído instâncias de participação e organismos responsáveis 
pela regulação e operação do sistema, compõem-no: (i) Conselho Nacional de Recursos 
Hídricos; (ii) a Agência Nacional de Águas; (iii) os Conselhos de Recursos Hídricos dos 
Estados e do Distrito Federal; (iv) Comitês de Bacia Hidrográfica; (v) os órgãos dos 
poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências 
se relacionem com a gestão de recursos hídricos; (vi) as Agências de Água. 
As Agências de Água a que se refere a lei são organismos que apoiam o 
gerenciamento de recursos hídricos em uma ou mais bacias hidrográficas, são 
propriamente Agências de Bacia ou Regiões Hidrográfica, estando o seu domínio 
operacional associado a um ou mais comitês de bacia. 
48 
 
 
 
 
 
 
QUADRO 2: LEI nº 9.433 DE 1997: FUNDAMENTOS E OBJETIVOS 
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: 
I - a água é um bem de domínio público; 
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; 
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano 
e a dessedentaçãode animais; 
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; 
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional 
de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; 
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação 
do Poder Público, dos usuários e das comunidades. 
 
Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos: 
I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões 
de qualidade adequados aos respectivos usos; 
II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte 
aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; 
III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou 
decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. 
IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais. 
(Incluído pela Lei nº 13.501, de 2017) 
 
 
 
A Agência Nacional de Água foi criada pela Lei Federal 9.984 foi criada com 
finalidades regulatórias e operacionais na implementação, em sua esfera de atribuições, 
da Política Nacional de Recursos Hídricos. Esta forte característica operacional 
diferencia esta agência de suas congêneres, tais como, ANATEL e ANEEL. 
Entre as XXII atribuições da ANA definidas no Artigo 4 de sua lei de criação 
encontra-se a outorga de uso das águas de domínio da união. Os reservatórios 
construídos pelo DNOCS no Ceará têm sua água outorgada pela ANA, por exemplo. 
As resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos e as resoluções da 
Diretoria Colegiada da ANA constituem parte relevante do aparato normativo 
infralegal. 
49 
 
 
 
A Política de Recursos Hídricos dialoga com outras Políticas Públicas Setoriais e 
consequentemente com outros diplomas legais em adição a Lei nº9433-97, algumas 
destas políticas e instrumento normativo encontra-se na Tabela 6. 
 
Tabela 6. Políticas públicas e seus respectivos instrumentos normativos. 
 
Política Pública Instrumento Normativo 
Meio Ambiente Lei no6.938/81 
Recursos Hídricos Lei no 9.433/97 
Saneamento Lei no11.445/07 
Irrigação Lei no 12.787/13 
Mudança do Clima Lei no 12.187/09 
Segurança de Barragens Lei no 12.334/10 
Proteção e Defesa Civil Lei no 12.608/12 
 
Política e Sistema Estadual de Recursos Hídricos 
Em 1987, o Governo do Estado do Ceará, com o objetivo de coordenar a tarefa 
de aumentar a oferta d’água e assumir o controle da política de recursos hídricos, criou a 
Secretaria de Recursos Hídricos – SRH e a Superintendência de Obras Hidráulicas – 
SOHIDRA, havendo também reestruturado a Fundação Cearense de Meteorologia e 
Chuvas Artificiais – FUNCEME, que tinha atribuições nas áreas de estudos, pesquisas e 
treinamento em recursos hídricos, passando a chamar-se Fundação Cearense de 
Meteorologia e Recursos Hídricos. 
Apesar da criação da SRH, em 1987, ainda não existia dentro do aparato estatal 
uma visão clara da necessidade de uma gestão integrada da água, ficando restrita a 
ações de ampliação da oferta de água, através de açudes, poços, adutoras e 
principalmente na implantação de perímetros públicos estaduais de irrigação, tendo 
quase nenhuma ação de gestão integrada de água propriamente dita. Naquele momento 
a SRH se volta fortemente para um uso setorial: a irrigação. Essa característica só vai 
mudar no início da década de 90, após a elaboração do Plano Estadual de Recursos 
Hídricos e da Lei Estadual de Recursos Hídricos. 
Um dos marcos na estruturação de um sistema de gestão de água no Ceará, foi a 
elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos - PLANERH. Este estudo foi 
realizado no período de janeiro de 1988 a fevereiro de 1991 e teve como um os 
principais resultados e Política Estadual de Recursos Hídricos, que foi instituída através 
50 
 
 
 
da Lei n.º 11.996, de 24 de julho de 1992, instituindo o Sistema Integrado de Gestão de 
Recursos Hídricos – SIGERH. 
O SIGERH organiza as instituições estaduais, federais e municipais, em três 
subsistemas: Sistema de Gestão (instituições com atribuições de planejamento, 
administração e regulamentação dos recursos hídricos); Sistemas Afins (responsáveis 
pelas obras e serviços de oferta, utilização e preservação dos recursos hídricos); e 
Sistemas Correlatos (instituições ligadas a serviços de planejamento e coordenação 
geral, incentivos econômicos e fiscais, ciência e tecnologia defesa civil e meio 
ambiente). Além das instituições públicas executoras, existem os órgãos colegiados: I - 
Conselho de Recursos Hídricos do Ceará - CONERH; II – Comitê Estadual de Recursos 
Hídricos - COMIRH; III - Secretaria dos Recursos Hídricos - Órgão Gestor; IV - Fundo 
Estadual de Recursos Hídricos - FUNERH; V - Comitê de Bacias Hidrográficas – CBH. 
Nos seus princípios fundamentais a Lei de Recursos Hídricos do Ceará, estabelece
 que o gerenciamento dos recursos hídricos deve ser integrado, 
descentralizado e participativo; a unidade básica de gerenciamento é a bacia 
hidrográfica; a água é um recurso limitado e dotado de valor econômico; os recursos 
hídricos são bens de uso múltiplos e competitivo. 
O Estado do Ceará, implementou a sua Política Estadual de Recursos Hídricos, 
através da Lei nº11.996 de 24 de julho de 1992, antes mesmo da Lei Federal, lhe 
conferindo destaque e pioneirismo nesse setor, porém só a partir da criação da 
COGERH em 1994, que tem início a operacionalização dos seus instrumentos, e 
principalmente a materialização dos princípios de descentralização e participação. 
Espelhada no modelo francês de gerenciamento da água por bacia hidrográfica e 
fundamentada em princípios básicos de descentralização, integração e participação dos 
usuários na gestão dos recursos hídricos, a Lei Nº 11.996 prevê instrumentos legais, 
como a outorga de direito de uso dos recursos hídricos, o licenciamento para obras 
hídricas e a cobrança pelo uso da água bruta. 
A partir de 1992, a SRH adotou como prioridade a ampliação da infraestrutura 
hídrica, baseada na construção de açudes de médio porte e de adutoras, de forma a 
reduzir o déficit hídrico, principalmente para o abastecimento humano e para a pequena 
irrigação. Ao mesmo tempo, eram estruturadas na FUNCEME as bases de um sistema 
de monitoramento hidrológico estadual, medindo-se periodicamente os níveis d’água de 
alguns açudes estratégicos e a vazão de perenização em alguns trechos dos rios 
Jaguaribe e Banabuiú. 
51 
 
 
 
Desta forma a partir de 1992 a infraestrutura hídrica do Estado foi diagnosticada, 
ampliada e tecnicamente adaptada às novas condições de demanda e oferta para a 
sociedade cearense, através do Plano Estadual de Recursos Hídricos, de forma a se 
estabelecer um princípio de segurança hídrica para o Estado, isto pode ser comprovado 
pela construção do açude Pacajus em 1992, do Canal do Trabalhador em 1993 e da 
construção de um substancial número de outros reservatórios nos anos subsequentes 
No mesmo período foi criado o DEGERH - Departamento de Gestão dos 
Recursos Hídricos da SRH, tendo como atribuição planejar, administrar e controlar a 
oferta, o uso e a preservação dos recursos hídricos. Iniciava-se, deste modo, a 
elaboração de uma base institucional para a implementação do SIGERH, que culminou 
com a criação da COGERH – Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos, em 1993. 
A COGERH – Companhia de Gestão de Recursos Hídricos, criada em 1993, é 
uma empresa da Administração Pública Indireta, dotada de personalidade jurídica 
própria, organizada em forma de sociedade anônima. Tem a finalidade de gerenciar a 
oferta dos recursos hídricos constantes dos corpos d’água superficiais e subterrâneos de 
domínio do Estado, visando equacionar as questões referentes ao seu aproveitamento e 
controle. É também responsável pela gestão da água bruta em todo o Ceará. Entreas 
ações que a COGERH desenvolve, podemos citar: monitoramento dos recursos 
hídricos; formação e assessoramento dos comitês de bacia hidrográfica; operação e 
manutenção dos açudes estaduais; estudos relacionados à gestão de recursos hídricos; 
cobrança pelo uso dos recursos hídricos. 
No estado do Ceará, a criação da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do 
Ceará no ano de 1987 e da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos - COGERH em 
1993, possibilitou mudanças na gestão de recursos hídricos do estado, através do 
PROURB – Programa de Desenvolvimento Urbano e Gestão dos Recursos Hídricos. O 
PROURB – RH (Projeto de Desenvolvimento Urbano e Gestão dos Recursos Hídricos), 
criado em 1993, o PROGERIRH (Projeto de Gerenciamento e Integração dos Recursos 
Hídricos), criado em 1997, ambos com financiamentos do Banco Mundial junto ao 
Governo Estadual, conferiram as condições financeiras necessárias para a 
implementação do SIGERH - Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos. 
O PROURB, se propunha a desenvolver ações que visavam o fortalecimento 
institucional das Prefeituras Municipais e Órgãos Estaduais envolvidos e a capacitação 
de seus recursos humanos, como forma de obter eficácia no Poder Público; a 
urbanização de áreas periféricas das sedes dos municípios do interior do Estado; a 
52 
 
 
 
implantação de saneamento básico (água e esgoto); o gerenciamento dos recursos 
hídricos do Estado; e oferta de água para os centros urbanos com necessidade crítica. 
Em dezembro de 2010, é editada a nova lei sobre a política de recursos hídricos 
do Ceará, a Lei nº 14.844. Esta Lei propugna que a gestão dos recursos hídricos no 
Ceará deva ocorre de forma integrada, descentralizada e participativa. Uma nova 
relação se configura entre Estado e Sociedade Civil na construção de um processo de 
gestão participativa. Adotando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento dos 
recursos hídricos. 
O processo de participação pública é essencial no processo de mediação de 
conflitos em torno da alocação de água e demais conflitos associados a questão da água 
no Ceará. Diversas organizações que viabilizam o processo de participação pública 
foram criadas no Ceará. 
Desde 1994, a SRH e a COGERH vêm desenvolvendo o trabalho de 
mobilização, organização e capacitação dos usuários para a gestão das águas, no âmbito 
dos açudes de médio e pequeno porte, dos municípios, dos vales perenizados e das 
bacias hidrográficas. Este processo tem início em julho de 1994 com a realização do I 
Seminário de Operação dos Reservatórios do Vale do Jaguaribe e Banabuiú realizado na 
Cidade de Jaguaribe. 
O processo de mobilização e participação social ocorre em três escalas: 
• A organização dos usuários no âmbito dos médios e pequenos açudes; 
• A organização dos usuários no âmbito dos vales perenizados: O vale 
perenizado é uma área mais complexa de atuação, pois envolve em geral um sistema 
hídrico composto por açudes estratégicos e longos trechos de aquedutos ou de rios 
perenizados. É nesse nível onde geralmente estão localizados os grandes perímetros 
públicos irrigados, grandes irrigantes privados, agroindústrias e várias cidades, o que 
implica muitos conflitos. 
• A organização dos usuários no âmbito das bacias hidrográficas: comitês de 
bacias são colegiados consultivos e deliberativos, com atuação nas áreas de abrangência 
das bacias, sub-bacias ou regiões hidrográficas. 
A partir de 1994, teve início o trabalho de formação dos comitês de bacias e das 
comissões de operação de açudes e de vales perenizados. Paralelamente a essas ações, 
foram desenvolvidas, pela SRH, outras ações no sentido de constituir organizações 
locais, permanente ou temporárias para atender a estratégia de descentralização e 
atender alguns critérios definidos no Programa de Desenvolvimento Urbano e Recursos 
53 
 
 
 
Hídricos – PROURB, financiado pelo Banco Mundial, que incluía a construção de 
açudes e adutoras, desenvolvido entre os anos de 1994 e 2002. 
Nesse sentido foram criadas instâncias de descentralização, mobilização, 
participação e promoção social com áreas de atuação locais, com o objetivo de atrair a 
participação dos diversos setores com interesse em recursos hídricos ou numa obra 
hídrica específica, incluindo a sociedade civil, irrigantes, pescadores, vazanteiros, 
representantes do poder público municipal e representantes de entidades de saneamento 
e instituições públicas. Estes organismos locais foram denominados de Associação dos 
Usuários de Açude – ASSUSA; Comitês de Apoio ao Reassentamento e a Preservação 
Ambiental do Açude – CARPA; e Instituições Sócio Comunitária da Agrovila – ISCA. 
O primeiro Comitê de Bacia Hidrográfica foi o da Bacia do Curu em 1997. 
Atualmente todas as Regiões Hidrográficas possuem comitê de bacia. A Tabela 7 
apresenta os comitês com suas datas de criação e número de membros. 
 
Tabela 7 - Comitês de Bacia do Estado do Ceará. 
 
Bacia 
Ano de 
Instalação 
Nº de 
Membros 
Nº de Municípios que 
compõem a bacia 
Curu 1997 50 15 
Baixo Jaguaribe 1999 46 09 
Médio Jaguaribe 1999 30 13 
Alto Jaguaribe 2002 40 24 
Banabuiú 2002 48 12 
Salgado 2002 50 23 
Metropolitanas 2003 60 31 
Acaraú 2004 40 27 
Coreaú 2006 30 21 
itoral 2006 40 11 
Serra da Ibiapaba 2011 30 10 
Sertões de Crateús 2011 30 09 
Fonte: COGERH, 2013. 
 
A primeira Comissão de Usuários de Água a ser instalada foi a do Vale 
Perenizado do Jaguaribe em 1994. Esta comissão foi muito ativa. Após esta comissão de 
usuários outras foram criadas em outras bacias hidrográficas. Estas comissões tinham 
como objetivo de sua existência a decisão sobre a alocação de água. Em função da 
relevância desta tomada de decisão o comitê de bacia chamou para si a decisão de 
alocação, esvaziando em certa medida as funções da comissão de usuários dos vales 
perenizados. 
54 
 
 
 
A gestão operacional dos recursos hídricos ocorre em três dimensões: 
Gerenciamento da Oferta, Gerenciamento da Demanda e Gerenciamento de Conflitos. 
O gerenciamento da oferta consiste nas ações de planejamento, projeto, 
construção, operação, manutenção e recuperação da infraestrutura de oferta de água. A 
SRH lidera o processo de planejamento e de projeto de novas infraestruturas hídricas. A 
SOHIDRA executa a construção e cabe a COGERH a operação, manutenção e 
recuperação desta infraestrutura. O DNOCS tem papel importante no projeto, operação 
e manutenção e recuperação da infraestrutura hidráulica. A FUNCEME apoia com 
conhecimento e informações este processo de decisão. 
A operação do sistema de oferta de água é definida no processo de decisão de 
alocação de água. Neste processo a comissão de usuários de água e os comitês de bacia 
são atores relevantes, assim como, a COGERH. 
O planejamento de longo prazo que identifica demandas e oportunidades de 
intervenções contempla os planos de bacia e região hidrográfica operacionalizados pela 
COGERH e construídos pelos comitês de bacia. O Plano Estadual de Recursos Hídricos 
e as hierarquizações das obras prioritárias (reservatórios, canais e obras de transposição) 
para ingressarem em programas de financiamento do Estado é decisão da SRH. 
A gestão da demanda consiste em medidas de comando, controle e incentivos 
econômicos e extra-econômicos que buscam promover o uso eficiente e equitativo dos 
recursos hídricos. A outorga, fiscalização e a cobrança pelo uso da água são os 
principais instrumentos de gestão da demanda. A SRH tem a responsabilidade formal 
pela outorga e fiscalização atribuições inalienáveis ao aparelho de Estado. A COGERH 
na qualidade de Empresa de Economia Mista apoia todas os estudos, análises e ações 
operacionais necessárias para que a SRH cumpra com sua função de outorga e 
fiscalização. 
A cobrança pelo uso da água tem função econômica e financeira, em sua 
dimensão econômica a cobrança incentiva os agentes econômicos a promoverem o uso 
eficiente da água.Os valores cobrados pelo sistema de recursos hídricos do Ceará 
algumas vezes foram menores que os necessários para promover o uso racional. 
Cabendo, no entanto, o papel financeiro da cobrança pelo uso da água, essencial para a 
sustentabilidade do sistema de recursos hídricos. A COGERH é a instituição 
responsável pela cobrança pelo uso da água. 
A gestão de conflitos é requerida na construção da infraestrutura e na 
apropriação dos recursos hídricos por agentes sociais. As instâncias de participação 
55 
 
 
 
pública existentes no sistema de recursos hídricos (Conselho Estadual, Comitês de 
Bacia e Comissão de Usuários de Água) são os fóruns de mediação do conflito. No 
Ceará os Comitês de Bacia e as Comissões de Usuários são instâncias fundamentais 
para a administração de conflitos cabendo a COGERH o relevante papel de prover 
informação e mediar os conflitos associados a apropriação da água no processo de 
Alocação Negociada de Água. 
A COGERH ocupa lugar de destaque no SIGERH, é nela que se localiza o 
centro operacional da gestão dos recursos hídricos tendo atribuições no serviço de 
operação do sistema hidráulico-hidrológico de oferta hídrica, na cobrança pelo uso da 
água, na alocação de água e no processo de participação pública. Neste contexto a 
COGERH deve funcionar como provedora de água sustentável financeiramente e como 
promotora da democratização do espaço público por meio da participação social, estas 
funções guardam em si complementariedades e contradições. A manutenção do 
equilíbrio organizacional neste campo de força de dupla polaridade é o desafio para esta 
instituição. Este equilíbrio é ameaçado quando uma visão simplista e ingênua quer 
pensar a Companhia como mera provedora de água bruta e não como instrumento de 
integração e construção de paz social. Os conflitos sociais pela água não podem se 
resolver no frio cálculo contábil por serem filhos das chamas de disputas entre visões de 
mundo e desenvolvimento, entre regiões, entre setores econômicos e entre agentes 
econômicos. 
A Política de Recursos Hídricos é espaço de confluência das questões do 
desenvolvimento econômico e social e do meio ambiente podendo vir a ser espaço 
privilegiado de integração de políticas públicas. Esta é uma oportunidade que cabe ser 
capturada. Nesta construção a Secretaria de Recursos Hídricos como instância política e 
coordenadora do SIGERH pode ocupar papel de relevo. 
A gestão dos recursos hídricos compreende ações que impactam 
significativamente o ambiente natural, por exemplo, a construção e operação de 
barragens e obras de transposição. Este fato requer que a política e o sistema de recursos 
hídricos se individualizem em relação à política e sistema ambiental como também o fez 
o setor de energia. A relação entre o Sistema de Recursos Hídricos e o Sistema 
Ambiental deve ser coordenada. Observa-se que o Sistema Ambiental Brasileiro é 
fundado em mecanismos de comando e controle, enquanto o Sistema de Recursos 
Hídricos é fundado em mecanismos de incentivo econômico e mediação de conflito por 
meio da participação pública. 
56 
 
 
 
 
 
Financiamento do Sistema de Recursos Hídricos 
A gestão dos recursos hídricos requer financiamento para a construção, operação 
e manutenção da infraestrutura de oferta e para a gestão participativa dos recursos 
hídricos. 
Os recursos hídricos possuem algumas características que a tornam um bem 
econômico especial: (i) água é móvel, (ii) suprimento tem frequentemente alta 
variabilidade; (iii) água é um solvente universal; (iv) apresenta externalidades difusas; 
(v) a infraestrutura tem “economia de escala” (custo total médio de longo prazo diminui 
quando a produção aumenta); (vi) tem-se elevados custos iniciais de investimento e (vi) 
água é um monopólio natural. 
Estas características distanciaram as soluções para o financiamento do setor de 
água bruta de soluções de mercado. O financiamento da construção da infraestrutura de 
recursos hídricos no Estado foi público com intervenção da União ou dos cofres do 
Estado. 
Estudo realizado por Fontenele (2013) e atualizado recentemente pela própria 
autora calcularam que foi gasto no período 1995 a 2016 em intervenções do Estado do 
Ceará o valor de 7,016 bilhões de reais em obras de infraestrutura hídrica. A Figura 17 
apresenta a evolução destes gastos por fonte de financiamento: (i) Tesouro do Estado; 
(ii) Recursos oriundos de empréstimos externos (BIRD e BNDES) e (iii) recursos do 
Governo Federal. Observa-se a relevância relativa de financiamento externo na primeira 
fase entre 1995 e 2006 e a relevância do financiamento federal em uma segunda fase 
entre 2006-2016. O investimento médio nestas duas décadas foi de aproximadamente 
0,35 bilhões de Reais por ano. 
O financiamento da operação, manutenção e gestão participativa se dá através da 
cobrança pela água bruta instituída pelo Decreto nº 24.264 de 12 de novembro de 1996. 
A Figura 18 apresenta a evolução do valor arredado (R$) com a cobrança de água bruta 
do Estado do Ceará entre 2011 e 2015. Observa-se um crescimento médio anual da 
ordem de 21,1% (em função de elevação de tarifas), mesmo com a queda no consumo 
no último ano da série em função da seca. Durante a seca os custos operacionais com 
energia e outras atividades de gestão crescem significativamente enquanto a receita cai. 
Em função disto foi realizado ajuste tarifário para fazer frente a esta situação. 
57 
 
 
550.000.000 
500.000.000 
450.000.000 
400.000.000 
350.000.000 
300.000.000 
250.000.000 
200.000.000 
150.000.000 
100.000.000 
50.000.000 
0 
Grupo Tesouro 
Recursos Externos (BIRD e BNDES) 
Ano 
Governo Federal 
 
Os usos da água com maior participação na arrecadação da COGERH são o 
Abastecimento Urbano com 51% e a Industria com 45%. A Figura 19 apresenta a 
participação de cada um dos setores usuários de água na arrecadação. 
Os recursos oriundos da cobrança necessitam ser protegido de desvios de 
finalidade como o financiamento de obras de infraestruturas hídricas. Pode como já 
ocorreu no passado ocorrer valores arrecadados maiores que o total das despesas em 
dado ano. Estes valores devem servir de provisão de recursos financeiros para as secas 
que estão associadas a custos de operação (ex. bombeamento e tratamento de água) e 
fiscalização dos usuários mais elevados, evitando aumento substancial dos preços nestes 
períodos. 
Discussão neste mesmo contexto é a utilização destes recursos da cobrança para 
ser transferidos para o DNOCS. Recomenda-se avaliar esta discussão no âmbito da 
relação entre Estados Federados e União. Os gastos do DNOCS na infraestrutura hídrica 
são subsídios que o Governo Federal proporciona aos Estados do Nordeste. A 
transferência de recursos financeiros do Estado do Ceará para a União produziria uma 
assimetria do tratamento recebido por este Estado com relação aos demais Estados do 
Nordeste, assim como, produziria vantagem comparativa locacional para os outros 
Estados em relação ao Ceará: porque irei para o Ceará se posso pagar água mais barata 
no Estado vizinho? Este problema deve ser analisado na perpectiva financeira, 
econômica, federativa e de desenvolvimento regional, não sendo tão simples e imediata 
como parece a primeira vista. 
Figura 17. Evolução dos gastos das intervenções públicas por fonte de financiamento: 
(i) Tesouro do Estado; (ii) Recursos oriundos de empréstimos externos (BIRD e 
BNDES) e (iii) recursos do Governo Federal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados: Karine Machado Campos Fontenele (Dissertação de mestrado, 2013, atualizados 
pela autora para 2016). 
V
al
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Em
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 (
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1
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4 
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5 
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0
1
6 
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100000000 
9000000080000000 
70000000 
60000000 
50000000 
40000000 
30000000 
20000000 
10000000 
0 
2011 2012 2013 2014 2015 
Arrecadação (R$) 42016264 56593916 69677720 81045596 90502013 
 
Figura 18. Evolução do valor arrecadado (R$) com a cobrança de água bruta no Estado 
do Ceará (2011 a 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 19. Participação dos setores usuários no total arrecadado pela COGERH (ano 
base 2014). 
 
V
al
or
 A
rr
ec
ad
ad
o
 (
R
$)
 
59 
 
 
 
 
6 Planejamento de Recursos Hídricos do Estado 
O Setor de Recursos Hídricos do Ceará tem mantido ao longo das últimas três 
décadas tradição de planejamento e esta ação tem oportunizado acesso a recursos 
importantes para o seu desenvolvimento. 
O planejamento tem ocorrido em nível estratégico onde se definem as principais 
intervenções do sistema (Plano Estadual, Plano de Bacia, Estudos de Hierarquização) e 
operacional como é o caso da operação de reservatórios e alocação negociada de água. 
Os principais documentos de planejamento do Estado são: 
• Planos de Recursos Hídricos na Escala do Estado 
o Plano Estadual de Recursos Hídricos (1991 e 2005) 
o Pacto das Águas (2009) 
• Plano de Bacia Hidrográfica 
• Banco de projetos de obras hídricas 
• Alocação Negociada de Água 
O planejamento proativo de secas ainda não foi incorporado ao processo de 
planejamento do Estado. Atualmente as decisões sobre as ações a serem tomadas em 
uma seca ocorrem no curso das mesmas. Experiência pioneira que necessita ser 
aprofundada sobre gestão proativa de secas foi realizada em projeto financiado pelo 
Banco Mundial para Fortaleza e o Sistema Jucazinho no agreste pernambucano. Avalia- 
se como desejável que a política de águas incorpore o planejamento proativo de secas. 
Atualmente está em fase de conclusão na Secretaria de Recursos Hídricos o 
Plano de Ações Estratégicas de Recursos Hídricos (PAERH) com horizonte de 
planejamento 2017-2026. O PAERH contempla seis programas de ação: 
• Planejamento dos recursos hídricos 
• Água, tempo e clima 
• Infraestrutura hídrica 
• Gerenciamento das águas 
• Governança das águas 
• Água e outras políticas públicas 
Cada um destes programas compostos pelos subprogramas conforme 
apresentado esquematicamente na Figura 20. O Quadro 3 apresenta o quadro de 
investimentos previstos que totalizam 6,67 bilhões de reais até 2026. Parcela importante 
60 
 
 
QUADRO 3: PLANO DE INVESTIMENTOS DO PAERH 
Eixo Infraestrutura Hídrica: Ações de Responsabilidade do Governo Federal 
Barragem Fronteiras - DNOCS (R$ 500.355 mil) 
Ramais Salgado e Apodi (R$ 1.040.000 mi) 
Total investimento de responsabilidade do Governo Federal - R$ 1.540.355 mil) 
. 
Eixo - Infraestrutura Hídrica: Ação de responsabilidade da Secretaria das Cidades: 
Primeira fase do Sisar - responsabilidade da Sec. das Cidades para 126 municípios (R$ 6.000 mil) 
 
Eixo - Gerenciamento das Águas: Ação de responsabilidade da Cagece 
Diversificação da Matriz Hídrica (R$ 711.933 mil) 
 
destes recursos será destinada para o projeto Malha d’água que tem por objetivo 
garantira água para todas as sedes municipais e maiores distritos de água do Ceará. Este 
deverá ser o principal projeto de infraestrutura de recursos hídricos no Ceará na próxima 
década. 
 
Figura 20. Programas e Subprogramas 
 
 
 
 
 
 
 
 CUSTO MIL R$ 
EIXOS 
ESTRATÉGICOS 
 
2018 - 2019 
 
2020 - 2021 
 
2022 - 2023 
 
2024 - 2025 
2026 - 
2027 
Total 
2018 - 2027 
A partir de 
2028 
 
Total Plano 
PLANEJAMENTO DE 
RECURSOS 
HÍDRICOS 
 
620,00 
 
2.131,00 
 
431,00 
 
3.266,00 
 
431,00 
 
6.879,00 
 
- 
 
6.879,00 
ÁGUA TEMPO E 
CLIMA 
 
5.840,00 
 
11.840,00 
 
4.140,00 
 
4.040,00 
 
1.740,00 
 
27.600,00 
 
- 
 
27.600,00 
INFRA ESTRUTURA 
HÍDRICA 
 
 
884.720 
 
 
2.324.111 
 
 
1.218.897 
 
 
1.327.341 
 
 
424.536 
 
 
6.179.604,00 
 
5.031.522,24 
 
11.211.126,1 
5 
GERENCIAMENTO 
DAS ÁGUAS 
 
223.384,29 
 
557.676,00 
 
48.304,00 
 
47.848,50 
 
55.504,00 
 
932.716,79 
 
- 
 
932.716,79 
GOVERNANÇA DAS 
ÁGUAS 
 
3.378,00 
 
1.263,00 
 
1.395,00 
 
1.263,00 
 
1.395,00 
 
8.694,00 
 
- 
 
9.414,00 
 
Total 
 
1.117.942,06 
 
2.897.021,08 
 
1.273.166,53 
 
1.383.758,53 
 
483.605,50 
 
7.155.493,71 
 
5.031.522,24 
 
12.187.015,94 
PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS 
• Planos de Bacias Hidrográficas 
• Inventários Ambientais dos Reservatórios 
• Metodologia de Enquadramento dos Corpos d’Água no 
Semiárido 
ÁGUA, TEMPO E CLIMA 
• Sistema de Previsão Climática e Suporte à Decisão para 
Gestão de Recursos Hídricos 
• Gestão Proativa das Secas 
• Sistema de Alerta de Eventos Extremos para Defesa Civil do 
Ceará 
INFRAESTRUTURA HÍDRICA 
• Barragens – Projetos e Obras 
• Eixos de Transferência das Águas de Múltiplos Usos 
• Duplicação do Eixão das Águas 
• Ramais Salgado e Apodi do Projeto de Integração do São 
Francisco 
• Programa Malha D’Água 
• Abastecimento da População Rural Difusa 
GERENCIAMENTO DAS ÁGUAS 
• Monitoramento Quali-Quantitativo da Oferta da Água 
• Monitoramento Quantitativo da Demanda de Água 
• Regulação de Usos da Água 
• Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos 
• Programa de Segurança, Recuperação e Manutenção de 
Barragens Estaduais e Federais 
• Gestão das Águas Subterrâneas 
• Aprimoramento do Processo de Alocação Negociada de Água 
• Diversificaçãoda Matriz Hídrica do Ceará 
GOVERNANÇA DAS ÁGUAS 
• Fortalecimento Institucional do Sigerh 
• Sustentabilidade Financeira do Sigerh 
• Fortalecimento dos Organismos Colegiados do Sigerh 
• Programa Educativo “ Cidadão do Semiárido” 
ÁGUA E OUTRAS POLÍTICAS PÚBLICAS 
• Água e Saneamento Básico 
• Água e o Setor Industrial 
• Água e o Setor Agropecuário 
• Água e Meio Ambiente 
61 
 
 
 
 
APENDICE I: Análise SWOT dos Recursos Hídricos do Ceará. 
 
• Forças 
o Capacidade de financiamento das ações de operação do sistema através 
da cobrança pelo uso da água 
o Planejamento do sistema, não obstante ter ocorrido um lapso temporal 
significativo de fragilidade do mesmo 
o Gestão participativa nos organismos de bacia consolidado 
o Processo de Alocação de Água Negociada 
o Relação entre órgão de gestão Estadual (SRH e COGERH) e o órgão 
Federal (ANA) que mitigam o conflito da dupla dominialidade 
o Infraestrutura de estocagem de água (reservatórios) 
o Capacidade organizacional da COGERH na operação do sistema 
hidráulico 
o Sistema de monitoramento da COGERH 
o Sistema de Segurança de Barragens da COGERH 
o Descentralização operacional da gestão dos recursos Hídricos (gerencias 
regionais da COGERH) 
o Capacidade técnica da FUNCEME em fornecer conhecimentos e 
informações sobre o clima (previsão climática probabilística), meio 
ambiente e recursos hídricos 
o Capacidade técnica da SOHIDRA na construção de infraestrutura 
hidráulica 
• Fraquezas 
o Altas perdas no transporte de água bruta em calhas do rio 
o Baixa qualidade da água nos reservatórios principalmente em períodos 
secos (eutrofização e salinização) 
o Ausência de Planejamento proativo de secas 
o Ausência de Planejamento de Cheias 
o Muito baixa eficiência do uso da água em diversos perímetros irrigados 
o Baixa eficiência do uso da água em cidades 
o Envelhecimento do quadro técnico da SOHIDRA e FUNCEME 
o Insuficiência de quadros técnicos na SRH 
o Relação com o DNOCS (detentor do patrimônio das infraestruturas) que 
flua entre momentos de ampla colaboração e momentos de tensão 
notadamente em torno do tema da cobrança 
• Oportunidades 
o Reconhecimento nacional e internacional das conquistas do Sistema 
Estadual de Recursos Hídricos 
o Utilização da marca que o Ceará tem no tema água para promover 
negócios e riqueza para o Estado 
o Inovações tecnológicas disruptivas associadas a quarta revolução 
industrial que possibilitara ciclo de desenvolvimento que o Ceará poderá 
ser produtor de tecnologias da água 
• Ameaças 
62o Aumento das incertezas na oferta hídrica devido as mudanças do clima 
(tendência de redução da disponibilidade hídricas) 
o Empresas intensivas no uso da água vulneráveis a secas mais 
prolongadas 
o Mudanças institucionais que tentam a entender que a COGERH deva ser 
uma comercializadora de água levando o sistema de gestão de conflito e 
a equidade a ruina 
o Mudanças políticas de caráter tecnocrática que procurem retornar a 
gestão de água a mecanismos de comando e controle 
o Processo de urbanização que requer gestão de água em ambiente urbano 
com vistas ao controle de cheia, maior eficiência no uso de águas locais 
(intra urbis) e serviço de água e esgoto. 
o Ampliação dos conflitos sociais relativos a água em função do aumento 
da escassez. 
A análise SWOT também pode ser visualizada na Figura 21. 
 
 
63 
 
 
 
 
 
Figura 21. Análise SWOT. 
64 
 
 
 
 
APÊNDICE II: “Linha do Tempo” marcando principais eventos, 
reformas, políticas e inovações 
A linha do tempo com alguns dos principais eventos do século XX e XXI no 
Ceará pode ser visualizada na Figura 22. Passa-se a seguir enunciar estes eventos: 
• 1906: Inauguração do Açude Cedro marco da política de açudagem no Ceará 
• 1909: Criação do IOCS que após diversas mudanças de denominação passa a se 
chamar DNOCS em 1945 
• 1915: Grande Seca 
• 1919: Grande Seca 
• 1924: Grande Cheia 
• 1932: Grande Seca 
• 1954: Criação da Universidade Federal do Ceará 
• 1958: Grande Seca 
• 1961: Conclusão do Reservatório Orós 
• 1970: Grande Seca 
• 1971: Fundação a Empresa SIRAC, primeira empresa de consultoria na área de 
recursos hídricos no Ceará. 
• 1972: Fundação da FUNCEME 
▪ Criação da Primeira Pós-Graduação em Recurcos Hídricos no 
Ceará (Departamento de Hidráulica da UFC) 
• 1974:Grande Cheia 
• 1983:Grane Seca 
• 1985:Grande Cheia 
• 1987: Fundação da SRH e SOHIDRA 
• 1988: Constituição Federal 
• 1991: Plano Estadual de Recursos Hídricos 
• 1992: Promulgação da Lei Estadual de Recursos Hídricos 
• 1993: Seca 
▪ Construção do Canal do Trabalhador 
▪ Início da Negociação do PROURB com o Banco Mundial 
(assinado de 1994) 
▪ Criação da COGERH 
• 1994: Implantação operacional da COGERH 
65 
 
 
 
▪ Primeira Reunião de Alocação de Água 
• 1995: Início da Cobrança por água bruta 
• 1996: Implantação do Primeiro Comitê de Bacia no Curu 
▪ Inauguração da Barragem do Jerimum primeira financiada pelo 
PROURB 
• 1997: Promulgação da Lei das Águas (Lei 9433-97) 
• 1998: Grande Seca 
• 2000: Criação da Agência Nacional de Águas 
▪ Plano de Gerenciamento de Recursos Hídricos da Bacia do 
Jaguaribe e das Bacias Metropolitanas 
• 2001: Programa Águas do Vale: compensação financeira entre usuários de água 
com vistas a realocação de água 
• 2002: Conclusão do Reservatório Castanhão 
▪ Primeira Previsão Climática Sazonal da FUNCEME realizada 
com modelagem regional 
• 2004: Inauguração do Primeiro Trecho do Canal da Integração (Eixão das 
Águas) 
 Primeiro vez que o Castanhao Verte 
• 2005: Plano Estadual de Recursos Hídricos 
• 2009: Cheia 
▪ Realização do Pacto das Águas pela Assembléia Legislativa do 
Ceará 
• 2012: Início da Seca que perdura até 2017 (atual) 
• 2016: Pós-Graduação em Recursos Hídricos da UFC alcança Nível 7 em 
avaliação da CAPES considerada como de excelência internacional 
Os principais marcos referentes ao arcabouço legal e institucional para a gestão 
dos recursos hídricos no Estado para o período 1987 até os dias de hoje são 
apresentados na Tabela 8. A sistematização dos marcos possibilita perceber que as 
ações e o planejamento da política de recursos hídricos, em especial a alocação de água, 
apresentam alta sensibilidade às mudanças na disponibilidade hídrica. Nos anos de 
escassez hídrica intensificam-se as ações de forma a se buscar atender às demandas 
existentes e os conflitos associados aos diversos usos; o mesmo não ocorre nos anos em 
66 
 
 
 
que há elevada disponibilidade hídrica, como a década de 2000, quando diminuem não 
apenas os conflitos, mas a intensidade das ações do estado. 
 
 
67 
 
 
 
Figura 22. Linha do Tempo dos principais Eventos assoiciados a Gestão de Recursos Hídricos no Ceará. 
 
68 
 
 
 
 
 
Tabela 8. Síntese dos Marcos Legal e Institucional da Gestão de Recursos Hídricos – 
CEARÁ. 
Ano Marco Governamental, Legal e 
Institucional 
Características relevantes 
1987 José Sarney: Presidente (1985- 
1990) 
Tasso Jereissati – Governador 
(1987-1991) 
José Liberato Barroso – 
Secretário de Recursos Hídricos 
(1987-1991) 
Vicente Cavalcante Fialho – 
Ministro da Irrigação (1986-1989) 
 
 
Novo campo político ascende ao poder, 
com uma abordagem técnico-científica na 
condução das questões políticas, 
especialmente da política de recursos 
hídricos do estado. 
 
Criação da SRH – Lei estadual nº 
11.306 
Criada para avaliar a infraestrutura 
existente, planejar e executar a política 
estadual de recursos hídricos. A princípio 
demonstra um perfil vinculado à 
irrigação. 
Criação da SOHIDRA 
1988 Constituição Federal Dominialidade pública da água. 
Início da elaboração do Plano 
Estadual de Recursos Hídricos – 
PLANERH 
 
O plano foi elaborado entre 1988 – 1991. 
1989 Promulgada a Constituição do 
Estado do Ceará 
 
Açude Orós sangrou 
1990 Fernando Collor: Presidente 
(1990-1992) 
 
1991 Ciro Gomes – Governador (1991- 
1994) 
Hypérides Pereira de Macedo: 
Secretário de Recursos Hídricos 
(1991-1992) 
 
1992 Itamar Franco: Presidente (1992- 
1995) 
José Moreira de Andrade – 
Secretário de Recursos Hídricos 
(1992-1994) 
 
Lei estadual Nº 11.996 Instituiu a Política Estadual de Recursos 
Hídricos e o Sistema Integrado de Gestão 
de Recursos Hídricos – SIGERH. 
Conferência Eco 92 Conferência das Nações Unidas sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento, 
realizada no Rio de Janeiro, e que veio a 
influir em muitas das políticas públicas 
que viriam a ser elaboradas no país. 
1993 Criação da COGERH – Lei 
Estadual nº 12.217/93 
 
69 
 
 
 
 
Ano Marco Governamental, Legal e 
Institucional 
Características relevantes 
 Crise hídrica Reservatórios estratégicos com volumes 
abaixo de 30% (Vales do Jaguaribe e 
Curu). 
Construção do Canal do 
Trabalhador 
Transferência hídrica de parte das águas 
do Orós e Banabuiú para Fortaleza. 
Construído em regime de urgência (90 
dias), o Canal representou uma solução 
emergencial para o problema de 
abastecimento da Região Metropolitana 
de Fortaleza, gerando conflitos entre 
usuários de água no Vale do Jaguaribe. 
1994 Fco. Adalberto de O. Barros L.: 
Governador (set/out) 
Chico Aguiar: Governador (1994- 
1995) 
Luiz Alexandre Albuquerque F. 
de Paula Pessoa – Secretário de 
Recursos Hídricos (jan/out) 
Fco. Xavier Andrade Girão: 
Secretário de Recursos Hídricos 
(out/dez) 
Luiz Carlos Pontes: Presidente 
COGERH (1993 – 1995) 
 
Concurso público COGERH 
(início das ações: Jul/94) 
 
1º Seminário dos Usuários das 
Águas dos Vales do Jaguaribe e 
Banabuiú (180 participantes, 63 
instituições) 
Início do processo de gestão negociada da 
água; 
Formada Comissão Permanente dos 
Usuários de Água dos Vales do Jaguaribe 
e Banabuiú, com 26 membros; 
Definida metodologia de ação da 
COGERH; 
Mapeamento e Diagnóstico Institucional 
dos 19 municípios do Vale 
Jaguaribe/Banabuiú. 
1º Seminário Institucional da 
Bacia do Curu 
Número de participantes abaixo do 
esperado – 31 instituições. 
Início da implantação da outorga – 
Decreto 23.067 
 
PROURB – Financiado pelo 
Banco Mundial 
Decreto 23.047/94 – FUNORH 
Financiamento de infraestrutura urbana e 
hídrica; demanda por participação pública 
na gestão da água. 
O contrato foi assinado em 1995. 
1995 FHC: Presidente (1995-2003) 
Tasso Jereissati: Governador 
(1995-2002) 
Hypérides Pereira de Macedo: 
Secretário de Recursos Hídricos 
 
70 
 
 
 
 
Ano Marco Governamental, Legal e 
InstitucionalCaracterísticas relevantes 
 (1995-2002) 
Francisco Lopes Viana: 
Presidente COGERH (1995 – 
2002) 
 
1ª Seminário dos Usuários de 
Água do Vale do Curu 
85 instituições, 154 representantes 
Criada Comissão dos Usuários de 
Água do Vale do Curu 
 
Reunião das Entidades de Usuários 
das Águas do Jaguaribe e 
Banabuiú 
 
COMISA (Comissão de Integração 
Social dos Açudes) – ASSUSA 
(Associação dos Usuários de 
Açude – formalizada) 
CARPA (Comitê de Apoio ao 
Reassentamento e a Preservação 
Ambiental do Açude) 
ISCA (Instituições Sócio- 
comunitárias da Agrovila – 
formalizadas) 
 
 
Entidades de descentralização e 
promoção social, criadas pela SRH para 
trabalhar com as comunidades do entorno 
de reservatórios isolados. As ASSUSAs 
foram constituídas entre 1995 e 1998. 
 
Início da alocação dos açudes 
isolados, sob a perspectiva 
metodológica implementada pelos 
técnicos da COGERH junto aos 
usuários de água. 
COGERH forma as primeiras comissões 
de usuários nos açudes isolados. A 
nomenclatura varia: comissão de 
usuários, conselhos gestores de sistemas 
hídricos, comissão de operação, comissão 
de acompanhamento da operação, grupo 
gestor de açude, comissão gestora de 
açudes federais. 
1996 1º Seminário dos Usuários de 
Água da Bacia do Curu 
 
Encontros municipais nos vales do 
Jaguaribe e Banabuiú 
Base para a renovação da comissão de 
usuários de águas dos vales do Jaguaribe 
e Banabuiú (103 membros); 
Elaborado relatório compatibilizado das 
demandas municipais. 
Implantação da Cobrança – 
Decreto nº 24.264 
Setores de saneamento e indústria 
1997 Lei federal 9.433 Política Nacional de Recursos Hídricos 
CBH Curu Formação do 1º comitê de bacia do estado 
e 2º do país, com 60 membros. 
Instalação das primeiras Gerências 
Regionais (GR) da COGERH 
GR de Limoeiro (1ª) 
GR Curu (2ª) 
Projeto de Gerenciamento 
Integrado de Recursos Hídricos do 
Estado do Ceará – PROGERIRH 
Piloto (1997 – 2002) 
Financiado pelo BM, teve o objetivo de 
dar suporte técnico e institucional à 
interligação de bacias do estado. 
I Seminário das Águas da Sub- 
71 
 
 
 
 
Ano Marco Governamental, Legal e 
Institucional 
Características relevantes 
 Bacia Hidrográfica do Rio 
Banabuiú (nov, Quixeramobim) 
 
1998 Estudos sobre cobrança pelo uso 
da água na Bacia do Curu 
 
1999 Instalação CBH Médio Jaguaribe 
Instalação CBH Baixo Jaguaribe 
Muda estatuto do CBH Curu 50 membros 
2000 1ª renovação CBH Curu Metodologia adotada: encontros 
municipais 
Criação da ANA – Lei federal 
9.984 
 
Crise hídrica Reservatórios estratégicos com volume 
abaixo de 30%: Banabuiú, General 
Sampaio, Caxitoré, Pentecoste. 
2001 Programa Águas do Vale Experiência piloto de realocação de água 
de culturais com mais demanda hídrica 
para outras com menor demanda hídrica, 
cuja área escolhida para implantação foi 
Perímetro Irrigado de Morada Nova 
(PIMN) e Distrito Irrigado Jaguaribe- 
Apodi (DIJA). Resolução CONERH Nº 
03, 24 de julho de 2001. Instituições 
envolvidas: COGERH, ANA, SEAGRI 
Decreto nº 26.462 Regulamenta a formação, atuação, 
composição e atribuições dos CBHs; 
amplia as atribuições estabelecidas na lei 
11.996; estabelece as atribuições da 
Secretaria Executiva dos CBHs. 
2002 Beni Veras: Governador (2002- 
2003) 
José Yarley de Brito Gonçalves: 
Presidente COGERH: (2002 - 
2003) 
 
2ª renovação CBH Curu Metodologia: encontros regionais 
Instalação CBH Banabuiú 
Instalação CBH Alto Jaguaribe 
Instalação CBH Salgado 
2003 Lula: Presidente (2003-2011) 
Lúcio Alcântara: Governador 
(2003-2007)) 
Edinardo Ximenes Rodrigues: 
Secretário de Recursos Hídricos 
(2003-2006) 
Maria Izelda Rocha Almeida: 
Presidente COGERH (2003 – 
2007) 
 
Cobrança para outros usos – 
Decreto nº 27.271 
Irrigação, piscicultura, carcinicultura, 
água mineral e outros. 
72 
 
 
 
 
Ano Marco Governamental, Legal e 
Institucional 
Características relevantes 
 Comissões Gestoras – DNOCS Foram criadas 19 comissões gestoras 
entre 2003-2007 
Criação da Gerência de Gestão 
Participativa da COGERH 
 
Resolução nº 01/03 do CONERH Regulamenta a eleição de membros dos 
CBHs e de suas diretorias executivas 
Início da operação do Castanhão 
(Construção: 1999–2002) 
Altera a dinâmica do sistema hídrico do 
vale do Jaguaribe 
2004 Situação hídrica favorável 
Inaugurado trecho I do Eixão Liga os Açudes Castanhão (Alto Santo) e 
Curral Velho (Morada Nova). Convênio 
ANA. 
2005 Situação hídrica favorável 
2006 Situação hídrica favorável 
2007 Cid Gomes – Governador (2007- 
atual) 
Cesar Augusto Pinheiro: 
Secretário de Recursos Hídricos 
(2007-2013) 
Francisco José Coelho Teixeira: 
Presidente COGERH (2007 – 
2012) 
 
Resolução CONERH Nº 002 Regulamenta as Comissões Gestoras 
Definição de faixas de vazões 
pelos Comitês 
Os CBHs passam a definir os parâmetros 
de vazão para a alocação dos açudes 
isolados. 
Reunião Técnica de Avaliação 
Metodológica da Alocação de 
Água dos Vales do Jaguaribe 
Banabuiú 
Avaliação do processo de alocação nos 
vales, com sugestões de mudanças 
metodológicas e de arranjos 
institucionais. 
Iniciam-se reuniões prévias com o 
DNOCS para discutir os cenários 
de simulação 
Inovação no processo de alocação. 
2008 Decreto Estadual Nº 29.373, de 08 
de agosto de 2008. 
Regulamenta a Lei 11.996/92 no tocante à 
cobrança pelo uso de recursos superficiais 
e subterrâneos e dá outras providências 
2009 Cheias Dos 131 açudes monitorados em todo 
estado, 117 sangraram. 
Reunião técnica de avaliação 
metodológica da alocação de água 
dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú 
Avaliação do processo de alocação nos 
vales, com sugestões de mudanças 
metodológicas e de arranjos institucionais 
2010 Lei Estadual 14.844 Revoga a lei 11.996/92 
2011 Dilma: Presidente 
Início do “treinamento” dos 
técnicos da COGERH – Acquanet 
O treinamento ocorreu entre 2011-2012 
2012 Francisco Rennys Aguiar Frota: Convênio COGERH, UFC, FCPC 
73 
 
 
 
 
Ano Marco Governamental, Legal e 
Institucional 
Características relevantes 
 Presidente COGERH (2012 – 
atual) 
 
Decreto Estadual nº 31.076/2012 Regulamentação da lei 14.844/2010 sobre 
outorga 
Chuvas abaixo da média Formação do Comitê Integrado de 
Combate à Seca; 
Formado o Fórum Cearense de 
Comitês de Bacia Hidrográficas 
 
2013 Crise hídrica Reservatórios estratégicos com volumes 
reduzidos; 
Início da utilização de adutoras de 
montagem rápida 
Congresso da Rede Internacional 
dos Organismos de Bacia - RIOB 
Ocorrido em Fortaleza, discutiu 
experiências de gestão de vários países. 
74 
 
 
 
 
ANEXO I: Mapas 
75 
 
 
 
 
 
 
FIGURA A1: Mapa dos domínios geológicos do Ceará. 
 
76 
 
 
 
Figura A2: Mapa das Regiões Hidrográficas do Ceará. 
 
77 
 
 
 
 
 
 
 
Figura A3: Mapa Índice de Aridez e Classificação Climática do Ceará. 
 
78 
 
 
 
 
 
 
 
Figura A4: Mapa das Áreas Susceptíveis de Desertificação. 
 
79 
 
 
 
 
ANEXO II: Sistema Integrado de Saneamento Rural (SISAR) 
Apresenta-se a seguir um texto sobre o Sistema Integrado de Saneamento Rural 
(SISAR) retirado de https://www.cagece.com.br/2013-01-28-19-25-06/sisar 
A maioria dos sistemas de água rurais executados pela Cagece, através do 
programa São José, são gerenciados pelo Sistema Integrado de Saneamento Rural 
(Sisar). O Sisar começou a ser implantado no Ceará em 1996, na Bacia do Acaraú e 
Coreaú. Atualmente, existem oito unidades do Sisar no Ceará (uma em cada bacia 
hidrográfica do Estado), segundo o levantamento realizado em abril de 2017, são 1.419 
localidades atendidas e aproximadamente 552 mil pessoas beneficiadas com sistemas de 
abastecimento de água, gerenciados pelos próprios moradores. 
O Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) faz gestão compartilhada das 
1.419 comunidades e visa garantir, a longo prazo, o desenvolvimento e manutenção dos 
sistemas implantados pela Cagece de formaautossustentável. Cada um desses sistemas 
constitui uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos, formada pelas 
associações comunitárias representando as populações atendidas, com a participação e 
orientação da Cagece. 
Entre as atribuições dessas oito OSCs, está a prestação de assistência técnica, o 
controle da qualidade da água, o cálculo de tarifas, a emissão de contas, trabalho social 
nas comunidades e o repasse de informações para a Cagece. A estrutura organizacional 
do Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) consta de um conselho de 
administração com 11 membros (6 das associações e 5 de órgãos governamentais) e um 
conselho fiscal com 6 membros (todos representantes das comunidades), além de 
considerar a voz dos moradores em Assembleia Geral. 
Um dos destaques do Sisar é o valor da conta paga, que é muito abaixo do valor 
normal cobrado por uma conta de água. Isso se deve, porque a comunidade divide as 
despesas com energia elétrica e gratificação do operador do sistema. 
O Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) sensibiliza e capacita as 
comunidades, além de orientar a manutenção nos sistemas de tratamento e distribuição 
de água, porém, são os próprios moradores que operam o sistema. Atualmente, a 
Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) existe uma gerência responsável por 
todas as ações de saneamento na zona rural do estado, e foi através desta, que o modelo 
de gestão foi replicado. 
http://www.cagece.com.br/2013-01-28-19-25-06/sisar
80 
 
 
 
A Gerência de Saneamento Rural (GESAR) conta com uma equipe constituída 
de: engenheiros, fiscais de campo, assistentes sociais, pedagogas, administradores; 
contadores; além de outros profissionais de apoio. Nessa gerência, são lotados 
funcionários que trabalham diretamente no Sistema Integrado de Saneamento Rural 
(Sisar). Também são disponibilizados veículos e estrutura física (salas, telefone, rede de 
computadores e internet) subsidiando assim a estrutura inicial necessária para a gestão 
dos sistemas e desenvolvimento do modelo SISAR. 
O Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) transforma, então, a realidade 
atual de uma postura paternalista/assistencialista e deficitária, para uma solução simples 
e viável, permitindo ao estado e aos Municípios agilizarem a expansão dos serviços 
públicos a outras comunidades, trazendo com isso, melhoria da saúde da população, 
redução das migrações das áreas rurais, propiciando infraestrutura para o 
desenvolvimento do interior pela melhoria das condições de vida da população e 
fortalecendo a comunidade local. 
81 
 
 
 
 
ANEXO III: Balanço Hídrico da Cagece para o Ceará em 2016 
 
 
82 
 
 
 
ANEXO IV: Atlas de Abastecimento da ANA. 
 
83 
 
 
 
Figura A5: Sistema de Abastecimento dos Munícipios. 
 
84 
 
 
 
 
 
 
ANEXO V: Áreas Irrigadas no Ceará 
Tabela A1. Perímetros de Irrigação em Operação. 
 
Projeto Bacia Hidrográfica Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas 
 
CACHOEIRINHA 
 
Alto Jaguaribe 
 
Tauá 
 
31 
Acude 
Cachoeirinha 
 
Feijão e milho 
 
JUCAS I E II 
 
Alto Jaguaribe 
 
Jucás 
 
56 
 
Rio Jucas 
Milho, feijao, algodao, arroz, 
capim elefante 
 
VÁRZEA DO BOI 
 
Alto Jaguaribe 
 
Tauá 
 
326 
Acude Varzea 
do Boi 
 
Banana, algodao, feijao e uva 
 
CHAPADA DO APODI - 1a 
ETAPA 
 
 
Baixo Jaguaribe 
 
Limoeiro do 
Norte 
 
 
2893 
 
 
Rio Jaguaribe 
Uva, Acerola, Manga, Cajueiro 
Anao, Maracuja, Abacaxi, 
Melao, Tom 
 
QUIXERÉ 
 
Baixo Jaguaribe 
 
Quixeré 
 
199 
 
Açude de Orós 
Milho. Feijao, algodao, banana, 
capim e limao 
ST. ANTONIO DE RUSSAS - 1a 
ETAPA 
 
Baixo Jaguaribe 
 
Russas 
 
189 
 
 
BANABUIU 
 
Banabuiú 
 
Banabuiú 
 
94 
 
Rio Banabuiu 
Milho, feijão, algodão, tomate, 
melão e melancia 
CALIFORNIA Banabuiú Choró 69 Rio Choro Feijão e algodão 
 
MORADA NOVA 
 
Banabuiú 
 
Morada Nova 
 
3737 
Acude 
Banabuiu 
 
Arroz, feijao, milho, banana 
 
PATU 
 
Banabuiú 
Senador 
Pompeu 
 
69 
 
Açude Patu 
 
Milho, feijao, hortalicas 
 
SENADOR POMPEU 
 
Banabuiú 
Senador 
Pompeu 
 
164 
 
Acude Patu 
Algodao, feijao, melao, 
melancia e tomate 
 
FORQUILHA 
 
Coreaú 
 
Forquilha 
 
218 
Acude 
Forquilha 
Milho, feijao, banana e Capim 
de ocrte 
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=39
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=40
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=41
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=54
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=42
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=43
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=52
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=44
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=45
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=37
85 
 
 
 
 
 
Tabela A1. Perímetros de Irrigação em Operação (Continua). 
 
Projeto 
Bacia 
Hidrográfica 
Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas 
JAIBARAS Coreaú Sobral 615 Aç. Aires de Sousa 
Feijão, algodão, melancia, arroz, tomate, citurs 
bana 
TUCUNDUBA - 1a 
ETAPA 
Coreaú Martinópole 75 Acude Tucunduba Feijao, milho, etc. 
CURU 
RECUPERACAO 
Curu Pentecoste 1068 
Acude Pereira de 
Miranda, Gen. 
Banana, Coco, Mamao, Feijao Vigna 
CURU-PARAIPABA Curu Paraipaba 3357 Rio Curu 
Coco,cana de açúcar,mamão, 
citrus,acerola,feijão,capim, milho 
EMA Médio Jaguaribe Iracema 42 Acude Ema Feijao, milho, capim, algodao e arroz 
JAGUARUANA Médio Jaguaribe Jaguaruana 202 Rio Jaguaribe 
Feijao, tomate, abobora, melancia, algodao, 
arroz e capim 
NITEROI Médio Jaguaribe Solonópole 30 Acude Sao Jose Feijao, milho, arroz, algodao e banana 
XIQUE-XIQUE - 1a 
ETAPA 
Médio Jaguaribe Alto Santo 125 Rio Jaguaribe Algodao, feijao, milho, castanha de caju e sorgo 
GRACA - 1a ETAPA Parnaíba Crateús 82 Rio Paranaiba Algodao, feijao e tomate 
JABURU I Parnaíba Tianguá 100 Acude Jaburu Feijao carioca, milho e hortalicas 
JABURU II Parnaíba Crateús 95 Acude Jaburu II Milho, feijao, algodao, alem de rizicultura 
REALEJO Parnaíba Crateús 400 Acude Realejo Algodao, melao e tomate 
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=38
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=48
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=50
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=51
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=53
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=58
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=59
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=60
86 
 
 
 
 
 
 
Tabela A1. Perímetros de Irrigação em Operação (Continua). 
 
Projeto 
Bacia 
Hidrográfica 
Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas 
LIMA 
CAMPOS 
Salgado Icó 2712 
Acudes Lima Campos e 
Oros 
Arroz, milho, banana, feijao, algodao e capim 
QUIXABINHA Salgado Mauriti 293 Acude Quixabinha 
Algodao, Banana, Capim do Corte, Feijao, Milho e 
Tomate 
 
Tabela A2. Perímetros de Irrigação em Operação. 
 
Projeto 
Bacia 
Hidrográfica 
Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas 
ALTINHO Baixo Jaguaribe 
Tabuleiro do 
Norte 
204 Rio Jaguaribe 
 
ARARAS NORTE - 1a 
ETAPA 
Coreaú Reriutaba 1600 
Aç. Paulo 
Sarasate 
Uva, banana, melão, melancia, cenoura, 
tomate e feijão 
BAIXO ACARAU Coreaú Marco 8440 Rio Acarau 
Algodão, feijão, tomate, Maracujá, 
amendoim, manga, melão, citrus 
CHAPADA DO APODI - 2a 
ETAPA 
Médio JaguaribeLimoeiro do 
Norte 
2500 Rio Jaguaribe 
Uva, Acerola, Manga, Cajueiro Anao, 
Maracuja, Abacaxi, Melao, Tom 
CHAPADAO DE RUSSAS Baixo Jaguaribe Russas 10460 Rio Banabuiu 
Milho, Feijão, Algodão, Melão, Abóbora, 
Abacaxi, Citrus, Uva, Mar 
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=61
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=61
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=62
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=34
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=33
87 
 
 
 
 
 
Tabela A3. Perímetros de Irrigação em estudo. 
 
Projeto 
Bacia 
Hidrográfica 
Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas 
 
ARARAS NORTE - 2a ETAPA 
 
Coreaú 
 
Reriutaba 
 
1600 
 
Araras (Rio Acaraú) 
Uva, Banana, Melão, 
Melancia, Cenoura, 
Tomate e Feijão. 
CAMOCIM Coreaú Camocim 860 
CANAA Médio Jaguaribe Russas 5000 Rio Jaguaribe 
CARAO Coreaú Tamboril 16 Acude Carao Policultura 
CARIRI ORIENTAL I Salgado Brejo Santo 2140 Acude Atalho 
CARIRI ORIENTAL II Salgado Brejo Santo 2200 
CHAPADA DO MOURA/BARRO 
ALTO/GADELHA 
Alto Jaguaribe Iguatu 5000 
Rio 
Jaguaribe/Carius/Trussu 
 
CHORO-LIMAO Metropolitana Choró 36 
Acude Pompeu 
Sobrinho 
Feijao, milho e algodao 
CURU - 3a ETAPA Curu Paraipaba 4587 Rio Curu 
FRECHEIRINHA Coreaú Frecheirinha 2475 
GRACA - 2a ETAPA Parnaíba Crateús 400 Acude Carnaubal Algodao, feijao e tomate 
GRANJA Coreaú Graça 3273 
LAGOA QUEIMADA/VARZEA 
REDONDA 
Coreaú Sobral 230 Rio Acaraú 
 
MEDIO ACARAU Coreaú Morrinhos 200 Araras (Rio Acaraú) 
MUNDAU Litoral Uruburetama 100 Rio Mundaú 
NUTRIR Metropolitana Itaiçaba 273 
PARAZINHO Coreaú Graça 4488 
PIQUET CARNEIRO Banabuiú Piquet Carneiro 118 Açude São José 
PLATO DO POTI - AREA 1 Parnaíba Crateús 2800 Rio Poti 
PLATO DO POTI - AREA 2 Parnaíba Crateús 600 Rio Poti 
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=18
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=13
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=17
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=23
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=14
88 
 
 
 
 
 
Tabela A3. Perímetros de Irrigação em estudo (Continua). 
 
Projeto 
Bacia 
Hidrográfica 
Município Área(ha) Fonte Hídrica Culturas 
POTI II -CANTO Parnaíba Crateús 144 Rio Poti 
POTI I - ARVOREDO Parnaíba Crateús 173 Rio Poti 
POTI III - QUIRINO Parnaíba Crateús 117 Rio Poti 
QUIXELO Alto Jaguaribe Quixelô 420 Açude Orós 
RIACHO DO SANGUE Médio Jaguaribe Solonópole 279 
Açude Riacho do 
Sangue 
 
SAO BRAZ Médio Jaguaribe 
São João do 
Jaguaribe 
5000 Rio Jaguaribe 
 
ST. ANTONIO DE RUSSAS - 2a 
ETAPA 
Baixo Jaguaribe Russas 1094 
 
TUCUNDUBA - 2a ETAPA Coreaú Martinópole 330 Acude Tucunduba Feijao, milho, etc. 
VAL PARAISO Coreaú Tianguá 50 Açude Jaburu I 
 
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=12
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=19
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=20
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=21
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=21
http://atlas.srh.ce.gov.br/gestao/projeto-irrigacao/resumo.php?cd_projetoirrigacao=15

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