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RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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Os Recursos Hídricos no Brasil 
Existem diversos dispositivos sobre recursos hídricos na atual Constituição brasileira. Há também dis-
posições sobre o domínio das águas, seu aproveitamento e competências legislativas e administrativas 
das três esferas do poder. Pela lei, não existem águas particulares ou privadas com domínio ligado à 
propriedade da terra. E também não existem recursos hídricos de domínio dos municípios. Todas as 
águas pertencem à União e aos estados. 
Dessa mesma forma, é estabelecido que os potenciais de energia hidráulica são de posse da União. 
Visto que eles constituem propriedade distinta da do solo para efeitos de exploração ou aproveitamento. 
Código de Águas 
O código de águas foi promulgado em 10 de julho de 1934 na forma do Decreto nº 10.643. Ele está 
estruturado em três livros: 
• Águas em Geral e sua Propriedade; 
• Aproveitamento das Águas; 
• Forças Hidráulicas e Regulamentação da Indústria Hidroelétrica. 
Esse código foi pioneiro e serviu de base para diversas legislações, inclusive de outros países. Ele 
prevê a cobrança do uso dos recursos hídricos públicos e enuncia o princípio poluidor-pagador. Dessa 
maneira, aquele que causar danos ou perdas às águas responde criminalmente de acordo com as 
legislações vigentes. 
O decreto possui grande relevância para as leis brasileiras. Ainda em vigor, o código visa sobretudo, 
garantir a preservação e a qualidade das águas do Brasil. 
Lei das Águas 
A Lei nº 9.433 de 08 de janeiro de 1997 ficou conhecida como “Lei das águas”. Ela institui a Política 
Nacional dos Recursos Hídricos, define infrações e penalidades e cria o Singerh – Sistema Nacional 
dos Recursos Hídricos. 
Tem-se como diretrizes a gestão sistemática desses recursos, levando em consideração a qualidade, 
quantidade disponível e às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais 
do país. A lei também prevê a integração da gestão com os setores usuários e os planejamentos regi-
onais, estaduais e nacionais. 
Essa legislação determina também que a gestão dos recursos hídricos deve ser baseada em usos 
múltiplos e descentralizada. Ou seja, considera os diversos usos da água e a participação da sociedade 
e governo nas decisões sobre os recursos. 
Ressalta-se que o Plano Nacional dos Recursos Hídricos é um instrumento de gestão. Ele objetiva 
estabelecer diretrizes e políticas públicas para melhoria de oferta de água de acordo com as demandas 
exigidas. 
Lei nº 9.984, de 17 de Julho de 2000 
Essa lei cria e regulamenta a Agência Nacional das Águas (ANA). Ela é a entidade responsável pela 
implementação da Política Nacional dos Recursos Hídricos e pelo gerenciamento do Singerh. 
À ANA compete atuar na elaboração e implementação de planos de recursos hídricos em bacias hidro-
gráficas de domínio federal e oferecer apoio técnico para elaboração desses planos em outras esferas. 
Para explicar melhor, funciona assim: existem agências de bacias que são responsáveis pela elabora-
ção dos planos de sua respectiva bacia hidrográfica e que podem pedir apoio da ANA na elaboração. 
Quando essas agências não existem, é de responsabilidade da ANA elaborar o plano. 
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Atualmente, existem oito planos de bacias elaborados: Margem Direita do Amazonas, Tocantins-Ara-
guaia, São Francisco, Paranaíba, Verde Grande, Doce, PCJ e Paraíba do Sul. Essas bacias corres-
pondem a 51% do território nacional. 
Além disso, cabe à Agência Nacional das Águas enquadrar os corpos hídricos em classes. Ela estabe-
lece o nível de qualidade (classe) a ser alcançado ou mantido em determinado trecho de corpo d’água 
ao longo do tempo. Essa classificação objetiva assegurar a qualidade da água com seu respectivo uso 
e diminuir os custos direcionados ao combate à poluição. 
Mas como tudo isso é aplicado? 
No geral, as legislações apresentadas acima são as mais relevantes e as que tratam especificamente 
das águas e recursos hídricos brasileiros. O quadro abaixo apresenta todos os órgãos responsáveis 
pela gestão dos recursos hídricos do país. 
O quadro mostra os organismos em âmbito nacional e estadual, os colegiados, os responsáveis pela 
administração, o poder outorgante e a entidade da bacia. 
Assim, existe o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), instância mais elevada do Singerh, 
no qual compete analisar propostas, deliberar projetos, arbitrar conflitos e articular para a promoção 
dos recursos hídricos em todos os âmbitos federais. 
Paralelamente, existe a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU), órgão do Minis-
tério do Meio Ambiente (MMA), que gerencia os recursos hídricos conforme a estrutura regimental es-
tabelecida pelo Decreto nº 6.101, de 26 de abril de 2007. 
Por fim, tem-se a ANA, agência reguladora das águas brasileiras, seguida dos comitês e agências de 
bacia, já apresentados anteriormente. 
Da mesma forma ocorre no eixo estadual. Há o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH), 
órgão deliberativo, seguido da Secretaria e Entidades Estaduais, responsáveis pelo gerenciamento das 
bacias e recursos hídricos dos estados da União. 
Recursos Hídricos x Saneamento Básico 
Um conceito bastante importante e que não deve ser confundido é o de recursos hídricos e saneamento 
básico. A gestão dos recursos hídricos objetiva garantir a disponibilidade e qualidade da água para 
seus mais diversos usos, incluindo o abastecimento público e a preservação do meio ambiente. 
Para isso, exigem diversas ações como preservação e reconstituição de matas ciliares, preservação 
de nascentes, técnicas de manejo dos solos agrícolas e pastagens, implementação de redes coletoras 
e estações de tratamento de esgotos sanitários, coleta e tratamento do lixo urbano e efluentes indus-
triais, dentre muitas outras. 
Como já discutimos aqui no blog, o saneamento básico se refere ao conjunto de quatro serviços (abas-
tecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e a drenagem 
e manejo dos resíduos industriais). Assim, o saneamento se insere dentro do contexto da gestão dos 
recursos hídricos. 
Outro ponto importante é que os serviços de saneamento geralmente são prestados por empresas 
(estaduais ou privadas), enquanto a gestão dos recursos hídricos é competência do governo dos esta-
dos e da União, dependendo do domínio. 
De acordo com a consultoria legislativa, na grande maioria das regiões brasileiras, não há correlação 
entre a baixa disponibilidade de recursos hídricos e a situação dos serviços de saneamento. O que 
ocorre no geral, são deficiências no planejamento, na operação e nos investimentos desses sistemas. 
No que cerne ao saneamento básico no Brasil ainda há muito o que se evoluir para a universalização 
dos serviços. Em questões de gestão, as políticas dos recursos hídricos brasileiras e o modelo de 
gerenciamento atual são bastante consolidados e chama a atenção de governos de outros países. 
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Ainda existem deficiências e pontos a serem melhorados. Porém, não se deve deixar de ressaltar que 
o Brasil está bem encaminhado quando se trata de legislação para preservação de sua abundância de 
águas. 
Recursos Hídricos no Brasil 
 Brasil 
Aspectos gerais, demográficos, econômicos, físicos e ambientais 
2. Arcabouço legal do meio ambiente e dos recursos hídricos 
Política nacional do meio ambiente; política nacional de recursos hídricos e sistema nacional de geren-
ciamento; legislação em nível estadual e política nacional de saneamento. 
3. Avaliação dos recursos hídricos 
Rede nacional de quantidade e de qualidade de água; Programa monitore e macromonitoramento am-
biental. 
4. Uso múltiplo da água 
Saneamento básico; agricultura e irrigação; energia elétrica; transporte hidroviário; uso industrial; pesca 
e aquicultura. 
5. Programas e projetos 
Principais iniciativas dodecreto presidencial foi criado o atual Comitê para Integração 
da Bacia do Rio Paraíba do Sul, CEIVAP que substitui o antigo CEEIVAP (Comitê Executivo de Estudos 
Integrados da Bacia do Rio Paraíba do Sul). 
No que se refere ao Rio São Francisco, foi criado no final da década de 70, o Comitê Executivo de 
Estudos Integrados da Bacia do Rio São Francisco (CEEIVASF), composto por órgãos federais e es-
taduais envolvidos com a bacia. Na década de 80, esse Comitê promoveu diversos estudos como o 
Projeto Gerencial do São Francisco no qual foi proposto o enquadramento dos rios federais da referida 
bacia hidrográfica. Essa proposta foi a base de resolução do CONAMA que enquadra os referidos rios. 
Em 1997, o Comitê ampliou a participação à associação de irrigantes e a organizações não-governa-
mentais. 
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A criação dos Comitês dos rios Gravataí e dos Sinos, no Rio Grande do Sul, constitui um exemplo de 
experiência de um sistema estadual de gestão. Ambos os comitês surgiram em meados da década de 
80, a partir da confluência dos esforços de técnicos de órgãos públicos com movimentos sociais locais. 
As bacias dos rios Gravataí e dos Sinos abrangem áreas de grande população e desenvolvimento 
industrial, integrantes da Região Metropolitana de Porto Alegre. Os dois rios, altamente poluídos em 
seus trechos inferiores, são importantes para vários usos, a começar pelo abastecimento das popula-
ções. Tanto o COMITESINOS quanto o Comitê Gravataí mantiveram, ao longo de quase 10 anos, uma 
atuação sem interrupções, com reuniões mensais e discussão de várias questões relativas aos usos e 
à proteção desses mananciais. 
Paralelamente à criação dos Comitês, o Governo Federal tem incentivado iniciativas locais, tais como 
a formação de Consórcios Intermunicipais de Bacias Hidrográficas. Estas são iniciativas onde os go-
vernos locais e os usuários estabelecem prioridades para o desenvolvimento da bacia com base nos 
princípios do desenvolvimento sustentável. A seguir são descritos alguns exemplos de Consórcios: 
O Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari, no Estado de São Paulo, cons-
titui um exemplo de experiência de gestão intermunicipal de recursos hídricos. As bacias dos rios Pira-
cicaba e Capivari ocupam uma área de 14.400 km2, abrangendo total ou parcialmente 51 municípios 
no Estado de São Paulo e 4 municípios no Estado de Minas Gerais. A população é de cerca de 3 
milhões de habitantes, incluindo as cidades de Campinas, Piracicaba, Limeira, Americana, Rio Claro, 
Bragança Paulista e outras. Estima-se que 6% do PIB brasileiro são produzidos nessa região, que sedia 
o maior distrito petroquímico do Brasil (Paulínia), um grande parque sucro-alcooleiro e uma agricultura 
moderna. No que concerne ao abastecimento público, estima-se que a produção de água, em 1997, 
atingiu o patamar de cerca de 14 m3/s. Adicionalmente a esse valor, há a expressiva transferência de 
31 m3/s, revertidos pelo Sistema Cantareira (parcela de água para abastecimento), em favor do aten-
dimento de aproximadamente 57% da população consumidora da região metropolitana da cidade São 
Paulo. Em 1989, 12 prefeitos reuniramse e criaram o referido Consórcio Intermunicipal, com objetivo 
de promover a recuperação e proteção dos mananciais. Essa organização, na forma jurídica de asso-
ciação civil de direito privado, reúne, hoje, 38 municípios e 20 empresas privadas, sendo a mais bem 
estruturada associação de usuários de bacias hidrográficas no Brasil. 
O Consórcio Santa Maria/Jucú é outro exemplo de gestão intermunicipal dos recursos hídricos no Es-
tado do Espírito Santo. Trata-se de uma associação de direito civil e jurídico sem fins lucrativos, criada 
em 1987, ano em que o Estado passou por uma longa estiagem, que provocou o acirramento dos 
conflitos de uso das águas. O Consórcio é formado por a) um Conselho de prefeitos e sócios instância 
máxima de decisão; b) um Conselho Fiscal composto por um vereador de cada município associado 
incumbido de fiscalizar as contas da associação; c) um Grupo Municipal de Trabalho (GMT) por muni-
cípio composto por lideranças comunitárias, técnicos do município ou representantes de instituições 
presentes nos municípios ligados às áreas de interesse, e d) um corpo técnico coordenado pela Secre-
taria Executiva, situado na sede do Consórcio, com a responsabilidade de apontar as soluções dos 
problemas levantados pelos GMTs. assim como discutir critérios de priorização e elegibilidade. 
Experiências De Gestão Em Regiões Metropolitanas 
No que se refere a programas de gestão de recursos hídricos em bacias de regiões metropolitanas, 
destacam-se quatro, a saber: o Pró-Guaíba, no Rio Grande do Sul, o Programa de Despoluição das 
Águas da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, em São Paulo, o Programa de Despoluição da Baía da 
Guanabara, no Rio de Janeiro e o Programa Bahia Azul. na Bahia. 
O programa PRÓ-GUAíBA, desenvolvido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da 
Secretaria de Coordenação e Planejamento, visa a melhorar as condições ambientais da Bacia Hidro-
gráfica do Guaíba, a mais importante das três regiões hidrográficas do Estado. Sua área de abrangên-
cia é de 85.950 km2 e está dividida em oito sub-bacias, Alto, Médio e Baixo Jacuí, Vacacaí, Caí, Sinos, 
Gravataí e Guaíba, equivalendo a 30% da área total do Estado. O PRÓ-GUAíBA alcançará mais de 
251 municípios responsáveis pela geração de 86% do PIB gaúcho e onde vivem 2/3 da população do 
Rio Grande do Sul. O objetivo geral do Programa é criar as condições necessárias para o desenvolvi-
mento racional dos recursos naturais, recuperação da qualidade ambiental nas áreas urbanas e rurais, 
bem como executar o manejo ambiental sustentável da produção agrícola, pecuária, florestal e indus-
trial. O PRÓ-GUAíBA levará de 15 a 20 anos para atingir suas metas, processo esse orientado por um 
Plano Diretor de Controle e Administração da Bacia, com finalidade de apoiar as estratégias de manejo 
estabelecidas conforme diagnóstico apresentado pelos técnicos responsáveis pelos estudos iniciais. O 
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investimento estimado para intervenção em toda bacia é de US$ 1 bilhão. O primeiro módulo, com 
previsão de término em julho de 1998, perfaz o montante de US$ 220,50 milhões, contando com o 
financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID (60% do total dos custos) com con-
trapartida do Governo do Estado e de Governos Municipais (40%). 
No primeiro módulo estão sendo executados os seguintes projetos: Informatização do Pró- Guaíba - 
Sistematização de Geoinformações; Treinamento de Recursos Humanos; Plano de Comunicação; 
Plano Diretor de Controle e Administração da Bacia Hidrográfica do Guaíba; Rede de Monitoramento 
Ambiental; Plano de Ações para Controle da Poluição Industrial da Bacia do Guaíba; Coleta e Trata-
mento de Esgotos Domésticos em Cachoeirinha, Gravataí e Porto Alegre; Plano Diretor de Resíduos 
Sólidos para a Região Metropolitana de Porto Alegre; Sistema de Resíduos Sólidos em Porto Alegre; 
Sistema de Manejo do Solo e Controle da Contaminação por Agrotóxicos; Sistema de Parques e Re-
servas Naturais; Estudos para Consolidação do Sistema de Parques e Reservas; 
Educação Ambiental. 
O Programa de Despoluição das Águas da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê constituiu a primeira etapa 
do Programa de Despoluição Industrial, desenvolvido pela CETESB, em São Paulo. Remonta ao início 
da década de 90, quando a CETESB efetuou o diagnóstico das fontes de poluição das águas do Alto 
Tietê, tendo sido estimado que os rios da bacia recebiam, aproximadamente, uma carga orgânica de 
1.100 toneladas de DBO/dia e 5 toneladas/ dia de carga inorgânica, sendo esta responsável pela polu-
ição por metais, cianetos e fluoretos. As indústrias são responsáveis pelo lançamento da carga inorgâ-
nica, e de um terço da carga orgânica nos rios da bacia, sendo os dois terços restante dacarga orgâ-
nica, originada pelos esgotos domésticos lançados pelos 34 municípios da Região Metropolitana de 
São Paulo. O programa, com previsão de término para dezembro/98, perfaz o montante de US$ 900,00 
milhões, sendo 50% financiados pelo BID e 50% pelo Governo do Brasil. 
O Programa de Despoluição da Baía da Guanabara (PDBG) foi estabelecido pelo Governo do Estado 
do Rio de Janeiro, com o apoio financeiro do BID e da agência japonesa The Overseas Economic 
Cooperation Fund -OECF, com o objetivo principal de atender necessidades prioritárias nas áreas de 
saneamento básico, abastecimento de água, coleta e destinação final de resíduos sólidos, drenagem 
e controle e monitoramento do meio ambiente. A filosofia básica do Programa é dar início a um pro-
cesso de recuperação do meio ambiente da região. O Programa é constituído por um conjunto de ações 
multidisciplinares compreendendo obras, bens e serviços, que abrangem os seguintes componentes e 
órgãos envolvidos: a) Saneamento; b) Macrodrenagem; c) Resíduos Sólidos; d) Programas Ambientais 
Complementares e e) Mapeamento Digital. 
O custo total previsto para o Programa é de US$ 933 milhões, dos quais US$ 350 milhões financiados 
pelo BID, e US$ 237 milhões pela agencia japonesa -The Overseas Economic Cooperation Fund -
OECF e US$ 306 milhões como contrapartida nacional. 
Com sua implantação, espera-se uma significativa recuperação da pesca comercial, melhoria dos pa-
drões de balneabilidade em praias do interior da Baía, atenuação da interrupção das atividades socio-
econômicas decorrentes da incidência de enchentes, redução da ocorrência dos casos de doenças de 
veiculação hídrica e diminuição do processo de assoreamento das calhas dos rios e do fundo da Baía. 
Propiciará, entre outros benefícios, a coleta e tratamento de 6,9 m3/s de efluentes sanitários, com a 
construção de cinco novas estações de tratamento de esgotos e assentamento de cerca de 1.200 km 
de redes coletoras, além de 6,8 km de emissários terrestres e submarinos, 28 estações elevatórias e 
139.000 ligações domiciliares. 
Será melhorada a oferta de água na Baixada Fluminense e São Gonçalo, com a construção de 10 
reservatórios, 452 km de redes distribuidoras, 16 km de adutoras e 45.900 ligações domiciliares, além 
da aquisição de 525.000 hidrômetros. Além disso, sete municípios serão contemplados com melhorias 
nos sistemas de coleta e destinação final para 700 t/dia de lixo, através da implantação de usinas de 
reciclagem e compostagem, aquisição de veículos e equipamentos de coleta, além do controle e trata-
mento de chorume através da recuperação de aterros sanitários existentes. Prevê-se, ainda, a atenu-
ação de enchentes. através de obras de drenagem e retificação de cursos d'água. No que se refere 
aos programas ambientais associados, ressalta-se a recuperação e aprimoramento da qualidade am-
biental da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, através de vários projetos de controle de poluição 
industrial, monitoramento da qualidade ambiental, programa de educação ambiental e melhoria da ca-
pacitação das instituições envolvidas, reduzindo a carga poluidora gerada pelas indústrias em 90% 
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(carga orgânica), 97% (carga tóxica) e 70% (óleos e graxas de terminais petrolíferos e postos de ser-
viço). 
O Programa Bahia Azul beneficia diretamente a cidade de Salvador, na Bahia, e onze municípios que 
se encontram em seu entorno, ao longo da Baía de Todos os Santos. Envolve cinco componentes a 
saber: a) abastecimento de água; b) esgotamento sanitário; c) resíduos sólidos; d) desenvolvimento 
institucional e e) educação ambiental. Envolve projetos de engenharia e de articulação institucional nas 
áreas referidas e terá benefícios que atingirão uma população superior a 2 milhões de habitantes. Entre 
esses benefícios destacam-se: geração de emprego e renda; aumento da arrecadação tributária; me-
lhoria das condições sanitárias; redução do número de doenças de veiculação hídrica; melhoria das 
condições de vida da população etc. , além dos seguintes benefícios ambientais: recuperação ambien-
tal dos corpos d'água receptores, incluindo rios e praias urbanas; coleta e disposição adequada dos 
resíduos sólidos; fortalecimento institucional do órgão ambiental estadual; ampliação de estação de 
redução de carga orgânica de esgotos; complementação do interceptor de Camurugipe, entre outros. 
O Programa envolve, no período 1996/2000, recursos da ordem de US$600 milhões, financiados pelo 
Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Overseas Economic Cooperation 
Fund. Acontrapartida nacional é garantida por recursos provenientes do Governo do Estado daBahia, 
da Caixa Econômica Federal, por meio de três outros programas, alguns deles já referidos anterior-
mente: Programa de Saneamento Ambiental da Baía de Todos os Santos; Programa de Modernização 
do Setor de Saneamento; e Projeto Metropolitano de Resíduos Sólidos. 
Participação Social 
Apesar da existência de instrumentos legais e órgãos governamentais fortalecidos para coordenar a 
gestão dos recursos hídricos, estes não são suficientes para solucionar os problemas que ocorrem 
nessa área hoje no Brasil. A sociedade, ao buscar alternativas para resolução de suas próprias ques-
tões, exerce um papel fundamental no gerenciamento dos recursos hídricos, compartilhando, com o 
governo, o mesmo objetivo: garantir, para as gerações presentes e futuras, a disponibilidade para todos 
os tipos de uso. O conceito preconizado pela Lei 9433/97, a "Lei das Águas", é o envolvimento dos 
cidadãos nos trabalhos de gestão de recursos hídricos como uma necessidade, tendo em vista as 
dimensões continentais do Brasil e as próprias características do setor, que impossibilitam qualquer 
iniciativa centralizada ou apenas governamental para o trato com a água. Não só no gerenciamento 
das águas, como também em outras iniciativas de conservação e proteção ambiental, os movimentos 
sociais brasileiros têm sido responsáveis por boa parte dos avanços observados, embora falte uma 
maior articulação e o reconhecimento de uma série de fatores que venham a contribuir para aumentar 
a eficácia e a abrangência desses movimentos. 
Para dar visibilidade às ações em prol da água, a Secretaria de Recursos Hídricos lançou o Movimento 
de Cidadania pelas Águas, no Dia Mundial da Água (22 de março) de 1996. O Movimento tem por 
objetivo convidar os cidadãos para agir em torno da preservação e recuperação dos recursos hídricos. 
O Movimento organiza-se de forma descentralizada, por intermédio dos Centros de Referência instala-
dos em estados e municípios do Brasil. O que diferencia o Movimento de Cidadania pelas Águas dos 
demais já criados por todo Brasil é que, apesar de ter sido concebido por um órgão de governo, ele 
não dita normas ou regras para os seus integrantes. Cada pessoa, em seu espaço e de forma voluntá-
ria, define qual é a melhor maneira de solucionar os problemas hídricos da sua localidade, buscando 
parcerias e mobilizando outros cidadãos para o trabalho em defesa da água. Nesses dois anos de 
existência, o Movimento já instalou oito Centros de Referência estaduais e inúmeros municipais. Além 
desses, o Movimento também criou o Centro de Referência Nacional, sediado na Secretaria de Recur-
sos Hídricos, que é responsável por distribuir as publicações do Movimento para todos os Centros já 
instalados, além de divulgar e participar das ações realizadas em todo País. Para o ano de 1998, a 
previsão é de que o número de Centros de Referência em nível estadual ultrapasse a marca dos 16 e 
o municipal a dos 50 em todo Brasil. 
Cooperação Internacional 
No plano mais amplo da cooperação internacional, o Brasil desenvolve com outros parceiros bilaterais 
e multilaterais um grande número de iniciativas através da elaboração e implementação de diversos 
projetos. Do ponto de vista bilateral, as ações mais relevantes no contexto dos recursos hídricos são 
levadas a efeito sobretudocom a colaboração da Alemanha, França e Japão, envolvendo, de nosso 
lado, não apenas o Governo Federal, mas também governos estaduais e municipais. 
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Dentre os projetos bilaterais ora em andamento podem ser citados: Irrigação Jaíba II; Despoluição da 
Bacia do Tietê; Programas de Saneamento de Salvador e seu entorno; Saneamento Ambiental do Pa-
raná; Plano de Recursos Hídricos do Rio de Janeiro; Gerenciamento de Bacias Hidrográficas; Planeja-
mento e Gerenciamento Ambiental da Bacia do Rio Pirapama; Plano de Recursos Hídricos do Paraná; 
Abastecimento de Água em Santa Catarina, e Saneamento Básico em Pernambuco. 
De um modo geral, as iniciativas processam-se através das agências de cooperação das citadas fontes, 
sendo que o objetivo básico se refere à cooperação técnica. Alguns problemas são detectados nesse 
segmento da colaboração externa. Em determinados casos, algumas mudanças no cenário institucional 
brasileiro têm apresentado impacto negativo com reflexos no andamento dos projetos. De outro lado, 
igualmente têm sido observados, em algumas dessas fontes externas, uma certa deficiência nas tarefas 
de acompanhamento, o que traz inconvenientes ao bom andamento dos projetos. O balanço, de todo 
modo, tem sido positivo, e o Brasil tem interesse em ampliar os vínculos de cooperação externa com 
parceiros tradicionais e não tradicionais. 
A vertente multilateral da cooperação externa é significativa se levarmos em conta instituições de 
grande porte como entidades de financiamento, a exemplo do BID e do BIRD. Esses dois bancos res-
pondem por uma grande carteira de empréstimos ao Brasil na área dos recursos hídricos. O GEF tem, 
também, emprestado sua colaboração nesse contexto embora através de financiamentos para peque-
nos projetos -"small grants" de até 25 mil dólares. A OEA, IICA e o PNUD desenvolvem ainda iniciativas 
com fundos não reembolsáveis. 
Dentre os projetos financiados pelo BID e BIRD podem ser ressaltados: Despoluição do Rio Tietê; 
Despoluição da Baía de Guanabara; Microdrenagem etapa II; Modernização das Companhias de Sa-
neamento; Controle de Qualidade de Águas; Controle de Qualidade das Águas/SP; Saneamento Bá-
sico de Fortaleza; Saneamento da Baía de Todos os Santos/Ba e Despoluição dos Ecossistemas Lito-
râneos/ES. 
Os volumes de recursos envolvidos nestes projetos multilaterais indicam empréstimos num total de 
US$ 3,6 bilhões, os empréstimos bilaterais da ordem de US$ 1 bilhão, totalizando US$ 4, 7 bilhões de 
financiamentos externos e US$ 3,6 bilhões de contrapartida nacional para saneamento e recursos hí-
dricos, que somados totalizam US$ 8,3 bilhões. 
De forma feral, o Brasil tem tido experiência positiva no tocante à negociação desses recursos, embora 
se observe um certo exagero com respeito às exigências burocráticas tanto do agente financiador, 
como do Governo brasileiro. É necessário que estes procedimentos seja revistos, de modo a agilizar 
os processos de solicitação de empréstimos. Além das iniciativas de Cooperação Técnica e Financeira, 
o Governo brasileiro vem participando de iniciativas internacionais, dentre as quais destacamos a Rede 
Interamericana de Recursos Hídricos -IWRN, apoiada pela OEA, a Rede Internacional de Organismos 
de Bacia -RIOB, apoiada pelo Governo francês, o Programa Hidrológico Internacional da UNESCO, o 
Programa Hidrológico Operacional e o Programa HOMS, ambos coordenados pela OMM e o Programa 
GEMS da OMS. O Brasil também tem tido uma participação ativa nos foros internacionais que tratam 
da questão de recursos hídricos de forma geral. 
O Tratado Da Bacia Do Prata 
O Tratado da Bacia do Prata, que entrou em vigor na década de 70, funciona como um canal técnico 
político entre os países do cone sul, e foi assinado pela Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. 
Foi o primeiro passo no sentido de transformar os limites divisórios em "fronteira de cooperação". O 
avanço no processo de integração regional, que resultou na concretização do MERCOSUL, bem como, 
a solução dos litígios pendentes diminuíram o caráter essencialmente político do Tratado e transforma-
ram-no num instrumento de cooperação técnica para a gestão transnacional de recursos hídricos. Den-
tre seus objetivos destacam-se: a utilização racional do recurso água, o desenvolvimento regional com 
a preservação da fauna e da flora, a integração física, fluvial e terrestre, além da promoção de maior 
conhecimento da bacia, de seus recursos e potenciais. 
Para a implementação desses objetivos institucionalizou-se, ao longo dos anos, um sistema, composto 
de três órgãos principais: o Comitê Intergovernamental Coordenador da Bacia do Prata (CIC), o Fundo 
Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA) e o Comitê Intergovernamental da 
Hidrovia Paraguai-Paraná (CIH). Para dar maior agilidade e sentido prático às atividades prioritárias, o 
CIC elaborou o Programa de Ações Concretas (PAC) em 1987. Ele abrange 10 projetos, distribuídos 
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nas seguintes áreas: intercâmbio de dados hidrológicos, controle de qualidade das águas da Bacia, 
conservação de solos, navegação e transportes fluvial e terrestre e cooperação fronteiriça. Vários gru-
pos de contrapartes técnicas foram constituídos para tratar dos temas da PAC. 
Dentre os resultados obtidos, destacam-se, na área de monitoramento, avaliação e aproveitamento dos 
recursos hídricos na Bacia do Prata, os programas de informação sobre qualidade da água e alerta 
hidrológico. Estes funcionam basicamente por intermédio da troca de dados coletados pelas partes. O 
Brasil é o que conta com o mais sofisticado sistema de monitoramento da bacia, com dados e informa-
ções atualizados diariamente e disponibilizadas via Internet. As negociações estão em estado avan-
çado e o programa conta com recursos do BID. 
No que se refere à integração física, registram-se intenso debate e estudos em andamento sobre a 
viabilidade de uma grande hidrovia que conectará as principais regiões econômicas dos países envol-
vidos (Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil e Bolívia). Esse projeto seria concretizado pela interligação 
das bacias dos rios Tietê, Paraná, Paraguai, Uruguai e, finalmente, do rio da Prata. O objetivo do projeto 
é garantir a navegação com confiabilidade e segurança, uma vez que, a hidrovia em si, já é um fato. 
Não se trata, portanto, de construir algo propriamente novo, mas de torná-la uma atividade eficiente e 
ambientalmente adequada. A esse respeito, cabe mencionar que existe especial preocupação em se 
medirem os impactos ambientais do empreendimento, principalmente na região do Pantanal, com vis-
tas ao desenho de ações de mitigação. Espera-se, ainda, que a hidrovia possa harmonizar as regras 
de navegação entre os diversos países e permitir a interconexão multimodal dos meios de transporte. 
O Tratado De Cooperação Amazônica 
O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) foi assinado em 1978 pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equa-
dor, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, tendo entrado em vigor, no Brasil, em 1980. Estabelece 
como órgão de decisão superior o Conselho de Cooperação Amazônica, e como órgão auxiliar uma 
Secretaria Pro- Tempore, atualmente em Caracas. 
Recentemente foi decidida sua transformação em Secretaria Permanente, com sede a ser estabelecida 
em Brasília O Tratado, verdadeiro embrião de consciência ecológica, surgiu como resposta dos países 
da região a uma série de necessidades advindas das peculiares características da região amazônica. 
Em todos os países, percebia-se a porção amazônica do território como uma área isolada: os entraves 
impostos pela selva às comunicações e aos transportes dificultavam o desenvolvimento econômico 
integrado com as demais regiões. As características fisiográficas desfavoráveis impunham severas pro-
vações aos povos da floresta, condenando-os a atividades econômicas primitivas e a viver como mise-
ráveis dentro do ambientemais rico em vida do planeta. 
O escopo central do TCA pode ser assim definido: promover o desenvolvimento harmônico da Amazô-
nia, afim de permitir uma distribuição equitativa dos benefícios desse desenvolvimento entre as partes 
contratantes, elevando o nível de vida de seus povos e logrando a plena incorporação de seus territórios 
amazônicos às respectivas economias nacionais. 
O TCA constitui, nesse cenário, um amplo acordo quadro, o qual estabelece coordenadas gerais ao 
mesmo tempo em que permite aos países signatários considerável flexibilidade de ações. Ressalta-se 
que, no âmbito do Tratado, as decisões devem ser unânimes e há total igualdade entre os membros. 
O financiamento dos projetos no âmbito do TCA provém principalmente da União Européia (que finan-
cia projetos como o de "Planificação e Manejo de Águas Protegidas da Região Amazônica"), do PNUD 
(que, com recursos do GEF, custeia o projeto de zoneamento ecológico-econômico da Amazônia), do 
Banco Mundial e, em menor grau, do BID ("Projeto de Apoio ao Zoneamento Amazônico"), OEA, Go-
vernos e de outras fontes. 
O TCA revelou-se altamente inovador em muitos de seus artigos, dispondo sobre matérias que só 
recentemente foram incluídas na agenda internacional. Em seus 28 artigos, estabelece variados ins-
trumentos que permitem a eficiente gestão transfronteiriça do potencial existente nos rios amazônicos. 
 Outros Acordos 
Os países amazônicos e platinos oferecem ampla gama de exemplos em gestão transfronteiriça bila-
teral de recursos hídricos. Dentre esses, destacam-se: a) Acordo de Pesca entre o Brasil e a Argentina; 
b) Acordo de Pesca e Preservação de Recursos Vivos entre o Brasil e Uruguai; c) Acordo entre o 
Governo do Brasil e o Governo do Paraguai para Conservação da Fauna Aquática nos Cursos dos Rios 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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Limítrofes; d) Acordo de Cooperação Amazônica entre o Governo da República Federativa do Brasil e 
o Governo da República da Colômbia; e) Acordo de Cooperação entre o Governo do Brasil e o Governo 
do Uruguai para o Aproveitamento dos Recursos Naturais e o Desenvolvimento da Bacia do Rio Quaraí; 
f) Tratado para o Aproveitamento dos Recursos Hídricos Compartilhados dos Trechos Limítrofes do Rio 
Uruguai e de seu Afluente, o Rio Pepiri-Guaçu, entre o Brasil e Argentina; g) Tratado para o Desenvol-
vimento das Lagoas Mirim entre Uruguai e Brasil. 
Gerenciamento de recursos hídricos no Brasil e no Estado de São Paulo: um novo modelo de política 
pública 
A temática ambiental se tornou uma preocupação central, por diversas razões. Os principais motivos 
são a constatação de que são insustentáveis os padrões correntes de uso dos recursos naturais, a 
descoberta da vulnerabilidade do ser humano diante das suas próprias ações e a maior politização em 
torno da questão ambiental. Entre as questões ambientais mais polêmicas se destaca a gestão da água 
doce, um bem vital para todos os seres vivos e um dos principais recursos para o desenvolvimento dos 
países. Entretanto, esse bem é escasso ou está em grande estado de degradação em muitas regiões 
do planeta, até mesmo no Brasil, onde sua regulamentação começou no início da década de 1930, 
baseada num modelo centralizado e sob forte influência do setor de energia elétrica. Com a atual Cons-
tituição Federal começa a ser criado um novo modelo de gestão dos recursos hídricos, de modo inte-
grado e ao mesmo tempo descentralizado, tendo a bacia hidrográfica como unidade administrativa e 
órgãos colegiados, em diferentes níveis, como instâncias decisórias. Esse artigo irá abordar os princi-
pais problemas quanto aos recursos hídricos no Brasil e no estado de São Paulo e, em seguida, mostrar 
as principais características dos atuais modelos nacional e paulista de gerenciamento desses recursos, 
ressaltando as diferenças em relação ao modelo anterior. 
O objetivo deste artigo é discutir esse tema, do ponto de vista das soluções adotadas no estado de São 
Paulo, com a implementação da Lei nº 7.663, de 30 de dezembro de 1991, que instituiu a Política 
Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SI-
GRH). Inicialmente, será apresentado um resumo da atual situação dos recursos hídricos, no mundo e 
no Brasil, e como essa situação é tratada no âmbito global. Depois, serão discutidos os principais as-
pectos da política pública no estado de São Paulo, tendo como foco central o SIGRH. Os principais 
componentes desse sistema serão analisados, com destaque para os comitês de bacias hidrográficas. 
Finalmente, serão discutidos os conflitos socioambientais na condução desses comitês e os problemas 
de interface com o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), instituído pela 
Lei nº, de 9.433, de 08 de janeiro de 1997. 
Água Doce e Recursos Hídricos 
Segundo Rebouças (2002), "água" é o elemento natural desvinculado de qualquer utilização e "recurso 
hídrico" a parte da água passível de utilização, portanto, dotada de valor econômico. O planeta Terra 
tem dois terços de sua superfície cobertos por água (360 milhões Km2 de um total de 510 milhões 
Km2). Contudo, mais de 98% da água disponível é salgada, e dos 2% de água doce - considerada de 
baixa salinidade - restantes, mais de 68,9% estão dispostos em geleiras, 29,9% estão em reservatórios 
subterrâneos profundos - consequentemente, de difícil acesso - e apenas 1,2% está disponível em rios 
e lagos (SENRA, 2001, p.133). No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) classifica 
a água em três categorias: a água doce é a que apresenta uma concentração de sal inferior a 0,5%, a 
água salobra apresenta uma concentração de sal que varia de 0,5% a 30% e a água salgada apresenta 
uma concentração superior a 30% (CONAMA, 1986). 
Simultaneamente ao aquecimento terrestre, a escassez de água doce tem sido considerada um dos 
problemas ambientais mais graves e complexos. O uso de água cresce continuamente em todo mundo, 
em particular na agricultura irrigada (UICN, PNUMA e WWF, 1991, p.148), e no Brasil a idéia de abun-
dância reforçou a cultura do desperdício (REBOUÇAS, 1999, p.201). A maneira como os recursos hí-
dricos são utilizados e a degradação desses recursos vem provocando uma crise de grandes propor-
ções em muitos países, especialmente nos grandes centros urbanos. Esses problemas poderão se 
intensificar com a mudança climática decorrente do aumento da concentração de gases de efeito es-
tufa. Particularmente nas regiões áridas e semiáridas, o aumento da temperatura do planeta entre 1ºC 
e 2ºC, combinado com uma redução de 10% no índice pluviométrico, poderá reduzir o escoamento 
anual em até 70% (UICN, PNUMA, WWF, 1991, p.149). 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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A água doce é um recurso material limitado e com múltiplas funções; portanto, com diferentes tipos de 
usos. Para o abastecimento humano, a água é matéria-prima; para a atividade industrial e de irrigação, 
a água pode ser insumo e matéria-prima; para a navegação, a água é leito navegável; para atividades 
de recreação e lazer, a água é parte da beleza cênica; para as atividades de pesca, a água é o meio 
onde vivem as espécies; para o esgotamento de efluentes urbanos e industriais, a água é corpo diluidor 
e para a produção de energia é necessário explorar os movimentos da água transformando energia 
cinética em elétrica (GARRIDO, 2000, p.58). Como equacionar os conflitos inerentes aos diversos tipos 
de uso dos recursos hídricos, muitas vezes envolvendo interesses contraditórios? 
Essa pergunta tem levado à reflexão, governantes, empresários, ativistas de entidades civis e de insti-
tuições supranacionais. Os problemas relacionados com a água doce têm sido objeto de diversas con-
ferências multilaterais, como as que estão citadas no quadro 1. É necessário ressaltar que a Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) considera que para uma vida saudável é necessário um mínimo de 
1.500m3 de água por habitante/ano.Isso significa mais 9 trilhões m3/ano apenas para consumo hu-
mano, fora as necessidades de água para as demais espécies e para outros tipos de uso humano como 
irrigação, navegação, processos industriais, limpeza pública, geração de energia etc. 
De acordo com um diagnóstico apresentado na Conferência Internacional sobre Água Doce, em Bonn, 
em 2001, cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem sem acesso à água em quantidade e qualidade neces-
sárias para uma vida saudável e digna; 2,5 bilhões carecem de saneamento adequado e 4 milhões, 
principalmente crianças, morrem todos os anos de disenteria, amebíase e outras doenças associadas 
à água de má qualidade. Dessa forma, mantido o padrão atual de uso e degradação da água, esse 
quadro tende a se agravar, pois, estima-se que por volta de 2030 a Terra contará com 2 bilhões de 
pessoas a mais, a maioria vivendo nas grandes cidades situadas em países pobres, principalmente, na 
Ásia, na África, no Oriente Médio e na América Latina (PETRELLA, 2002). 
Esses fatos colocam a água no centro dos principais conflitos humanos, seja no âmbito internacional - 
uma vez que muitas bacias hidrográficas e aquíferos são compartilhados por diversos países - , seja 
em níveis nacionais, subnacionais e locais. Segundo Petrella (2002), estudos realizados em 1990 por 
Walter H. Corson identificaram 155 bacias compartilhadas por dois países; 36 por três países e 23 
bacias por um número de até 12 países. O quadro 2 apresenta uma visão sintetizada de algumas das 
principais zonas de conflito envolvendo o uso de recursos hídricos no mundo. 
Os recursos hídricos não são as únicas causas dos conflitos listados nesse quadro. Algumas vezes 
são a principal causa dos conflitos; em outras, consequência de conflitos que se originam de disputas 
quase sempre envolvendo a luta por hegemonia política, econômica ou cultural; quando não estão 
relacionados com tensões causadas por uma certa irresponsabilidade de lideranças políticas, econô-
micas e religiosas em buscar a paz de forma consistente, reconhecendo interesses e necessidades 
das diversas partes envolvidas. 
Como exemplo, pode-se destacar os conflitos entre os países árabes (Síria, Jordânia, Palestina e Lí-
bano) e Israel, envolvendo o rio Jordão. Em grande parte, a principal causa do problema remonta ao 
fim da II Guerra Mundial, quando os líderes dos países aliados, vencedores, atenderam a uma justa 
reivindicação do povo judeu, criando o estado de Israel, sem, contudo, atender às também justas rei-
vindicações do povo árabe, principalmente dos palestinos (PETRELLA, 2002). 
Conflitos internacionais são complexos, especialmente, quando envolvem a apropriação de um recurso 
para o qual não existem substitutos. Requerem ações coordenadas no plano internacional, que adotem 
o princípio da solidariedade no lugar da competição, estabelecendo um novo padrão de utilização dos 
recursos hídricos, baseado no uso justo. Entretanto, também podem existir conflitos no âmbito interno 
dos países, principalmente, quando o uso dos recursos hídricos adquire um caráter competitivo e, por-
tanto, mutuamente excludente, tais como: entre uso urbano ou rural, abastecimento humano ou indus-
trial, satisfação das necessidades de regiões altamente desenvolvidas ou das necessidades de desen-
volvimento de regiões periféricas. 
Água Doce no Brasil 
A oferta de recursos hídricos no Brasil pode ser considerada generosa, embora caracterizada por al-
gumas assimetrias entre a disponibilidade e a necessidade. Segundo Senra (2001, p.133), o Brasil 
possui 12% das reservas de água do planeta, enquanto abriga 2,8% da população mundial (167 mi-
lhões de habitantes). A China com 25% da população, possui 10% das reservas de água, e o Japão, 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
25 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
com 2,5% da população mundial, possui o equivalente a 1% das reservas. Essa condição, segundo 
Rebouças (1999, p.200), situa o Brasil entre as nações mais ricas em água doce do planeta, com 54% 
(5.600km3/ano) do deflúvio total dos rios da América do Sul (10.377km3/ano) ou 14% do mundo 
(40.673km3/ano). 
A produção hídrica superficial em território brasileiro é de 168.790m3/s, chegando a 257.790m3/s 
quando se considera a vazão da bacia amazônica procedente de território estrangeiro (NOVAES, 2000, 
p.59). Contudo, existem grandes disparidades entre a produção hídrica e a concentração demográfica. 
A região amazônica, com um adensamento demográfico de 2 a 5 habitantes/km2, responde por 78% 
da produção hídrica nacional; a bacia do rio São Francisco (densidade de 5 a 25 habitantes/km2) cor-
responde a apenas 1,7% da descarga hídrica total, enquanto a bacia do rio Paraná (densidade de 25 
a mais de 100 habitantes/km2) corresponde a 6% da produção hídrica total (REBOUÇAS, 1999, p.201). 
Esses dados mostram que menos de 20% da descarga hídrica nacional abastece cerca de 95% da 
população, enquanto 80% dessa produção é originada de regiões ocupadas por apenas 5% da popu-
lação. Isso quer dizer que embora o Brasil tenha uma das maiores reservas de água doce do planeta, 
existem regiões situadas abaixo dos padrões mínimos, em decorrência das disparidades entre a pro-
dução hídrica e o adensamento demográfico. 
O crescimento demográfico urbano dos últimos 30 anos é um fator importante de pressão sobre os 
recursos hídricos. No período 1970-2000, a taxa de urbanização passou de menos de 56% para mais 
de 81% (IBGE, 2000). São 25 aglomerados urbanos com população superior a 500 mil habitantes e 12 
com mais de 1 milhão. Essa mudança na distribuição espacial da população brasileira se tornou um 
fator relevante para a agenda ambiental do país, sobretudo a partir da década de 1990, quando se 
pode considerar que o novo padrão de distribuição da população passou a ser mais importante que o 
crescimento demográfico em si (NEDER, 2002). A tabela 1 mostra a situação dos recursos hídricos nas 
unidades federativas brasileiras, comparativamente aos países europeus. Um índice de disponibilidade 
acima de 20.000m3 habitante/ano revela uma situação de abundância e, no outro extremo, é conside-
rado situação crítica de escassez um índice de disponibilidade abaixo de 1.500m3/habitante/ano. 
Como mostra a tabela, das 27 unidades federativas brasileiras, 11 apresentam uma oferta de água 
abundante, com disponibilidade hídrica oscilando entre 39 mil e 1.747.010m3/habitante/ano. Em com-
paração com os países europeus, os que possuem maior disponibilidade hídrica apresentam uma re-
lação que varia de 21.800m3 a 22.600m3/habitante/ano. No Brasil, quatro unidades federativas apre-
sentam uma situação considerada muito rica, duas ricas e duas em condição de equilíbrio em relação 
ao que a OMS considera adequado para a satisfação da vida em comunidade e para o exercício das 
atividades humanas e sociais. Seis unidades federativas apresentam situação pobre (disponibilidade 
inferior a 2.500m3/habitante/ano) e duas possuem situação crítica de escassez (abaixo de 1.500m3/ha-
bitante/ano). O estado de São Paulo apresenta uma situação de equilíbrio, mas isso apenas quando 
se considera a disponibilidade agregada de água. 
A Água Doce no Estado de São Paulo 
Segundo dados da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, cerca de 86% do território 
do estado está localizado na bacia do rio Paraná. A quantidade de água é considerada boa, em grande 
parte por causa dos aquíferos situados principalmente na região oeste. A intensa utilização desses 
aquíferos, tanto para o abastecimento urbano, quanto para uso industrial, é fonte de grande preocupa-
ção por parte dos órgãos gestores estaduais que buscam disciplinar o seu uso. Quanto ao uso da água, 
podem ser constatadas grandes assimetrias entre as diversas bacias hidrográficas. Das 22 bacias exis-
tentes, 12 apresentam um consumo de água inferior a 10% da disponibilidade, três apresentam con-
sumo que varia entre 10% e 30% da disponibilidade, três consomem entre 30% e 50%, e em outras 
três, entre 50% e 99%. 
Na bacia do AltoTietê, onde está localizada a Grande São Paulo, já se constata vazão superior à 
disponibilidade hídrica. Isso significa que para suprir as necessidades de água da região é necessário 
transportá-la por meio de dutos de outras regiões do estado. Nesse caso, a água transportada é cole-
tada na bacia hidrográfica formada pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, captada nas proximidades 
de Bragança Paulista e despejada na bacia do Rio Tietê pelo Sistema Cantareira. 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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Entre as causas da necessidade de captar água em outra bacia estão, entre outras, o elevado índice 
demográfico da bacia do Alto Tietê, a poluição das águas da região da Grande São Paulo e também a 
baixa disponibilidade hídrica natural da região, uma vez que se trata de uma região formadora de rios. 
Thame (2000, p.12) considera que no estado de São Paulo quatro bacias hidrográficas apresentam 
uma situação crítica. Na bacia do Alto Tietê, a disponibilidade hídrica é de 200m3/habitante/ano; na 
bacia dos rios Piracicaba/Capivari/Jundiaí, é de 400m3/habitante/ano; na bacia do rio Turvo/Grande, 
900m3 e na bacia do Mogi-Guaçu, 1.500m3. Contudo, especialistas consideram elevado qualquer ín-
dice de uso que se aproxime dos 50% da disponibilidade. 
A coluna "principal uso" indica a atividade que mais consome recursos hídricos na bacia hidrográfica 
em questão. Contudo, essa informação não define nem o tipo, nem o perfil da bacia hidrográfica. Em 
uma região altamente industrializada, como por exemplo, a Região Metropolitana de São Paulo, o prin-
cipal uso é o abastecimento humano. Em contraste, a região do Vale do Ribeira (bacia de conservação), 
muito pouco industrializada, tem como principal consumo, exatamente, a indústria. Isso ocorre porque 
a região é pouco habitada e os sistemas públicos de abastecimento são ainda incipientes. Desse modo, 
a pouca atividade industrial existente nessa bacia consome mais água que a população servida pelos 
sistemas públicos de abastecimento. As bacias de conservação recebem essa designação por estarem 
situadas em áreas de proteção ou preservação ambiental. São exemplos as bacias do rio Ribeira de 
Iguape, litoral norte, Mantiqueira e Alto Paranapanema. Bacias industriais são aquelas que estão situ-
adas em áreas de elevada industrialização. Bacias em industrialização estão situadas em áreas onde 
há um equilíbrio entre o consumo de água em atividades industriais e para o abastecimento humano, 
com tendência ao crescimento industrial, como por exemplo, a bacia do Mogi-Guaçu. 
A irrigação constitui o principal uso dos recursos hídricos em São Paulo. O que era de se esperar, pois 
o estado tem na agricultura irrigada uma das suas principais riquezas. De acordo com cálculos elabo-
rados (a pedido dos autores) por Antônio Carlos Macedo, ex-presidente da Cetesb, hoje fruticultor, uma 
área de 200 hectares com um único pivô central de irrigação consome 5 litros de água/m2 ou 
10.000m2/dia, correspondendo a uma retirada de 1 milhão de litros de água/dia. Técnicos da Secretaria 
do Meio Ambiente do Estado de São Paulo entrevistados apontam a produção de açúcar e de bebidas 
como duas outras atividades econômicas responsáveis por elevado consumo de água. 
Uma usina de açúcar consome cerca de 3m3 de água/s. Essa água é usada, sobretudo, para lavar o 
bagaço da cana e extrair o açúcar que nele fica retido. Desse processo resulta a vinhaça, uma água 
altamente tóxica que tem sido usada como um fertilizante, o que minimiza a degradação ambiental em 
comparação com a prática anterior de jogar esse resíduo nos corpos d'água próximos às usinas. O 
consumo de uma única usina de açúcar, conforme seu porte, pode corresponder ao abastecimento 
humano de uma cidade com 100 mil habitantes. Fortaleza, por exemplo, com cerca de 300 mil habitan-
tes, consome 3m3 de água/s. 
No setor industrial, ainda segundo técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 
a indústria de cerveja é a principal responsável pela captação de águas subterrâneas. Do total captado, 
apenas 20% seriam utilizados na produção de cerveja e refrigerantes. Os outros 80% dessa água ex-
tremamente pura são utilizados em processos de limpeza. 
O consumo previsto para aquele ano corresponde à utilização de 31,8% da disponibilidade hídrica do 
estado. Em princípio, a quantidade de água disponível se mantém constante. Porém, os especialistas 
apontam riscos de redução do volume de água em circulação em decorrência de diversos fatores, 
principalmente relacionados à elevação da temperatura da Terra. A disponibilidade de água é afetada 
também pela poluição dos mananciais. A crescente e descontrolada exploração dos aquíferos têm sido 
motivo especial de preocupação. A superexploração pode levar à redução da disponibilidade dessas 
fontes de água, pois, uma parte desses mananciais são fósseis e levam anos para se renovarem. Tam-
bém há riscos de contaminação dessas reservas, para as quais, atualmente, não se conhece nenhuma 
tecnologia de despoluição disponível, principalmente, por causa da ausência de movimento das águas 
desses mananciais. 
O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH) 
O marco legal que instituiu o gerenciamento integrado dos recursos hídricos foi claramente fixado no 
inciso XIX do artigo 21 da Constituição Federal de 1988. A Política Nacional de Recursos Hídricos 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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(PNRH), instituída pela Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que regulamenta o artigo citado, está 
baseada nos seguintes fundamentos: 
 a água é um bem de domínio público; 
 a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; 
 em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o de atender ao consumo humano 
e dessedentar os animais; 
 a gestão dos recursos hídricos deve sempre garantir o uso múltiplo das águas; 
 a bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implementação da PNRH e a atuação do SNGRH; e 
 a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público, 
dos usuários e da comunidade (art. 1º). 
Para implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos e coordenar a gestão integrada desses 
recursos é que foi criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cujos compo-
nentes são mostrados na figura 1. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) faz parte da 
estrutura do Ministério do Meio Ambiente (MMA) sendo, no tocante aos recursos hídricos, a sua instân-
cia decisória mais elevada. A presidência do conselho é reservada ao ministro do Meio Ambiente e a 
secretaria-executiva à Secretaria de Recursos Hídricos do mesmo ministério. O número de represen-
tantes da União é de, no máximo, metade mais um do total de membros do conselho. As principais 
atribuições do CNRH são: 
 planejar e coordenar o uso de recursos hídricos, considerando os planos estaduais; 
 arbitrar conflitos como última instância administrativa; 
 deliberar sobre projetos que geram impacto em mais de um estado; 
 aprovar a implantação de comitês de bacias em regiões de domínio federal; e 
 estabelecer diretrizes para outorga e cobrança pelo uso de recursos hídricos. 
Os comitês de bacias hidrográficas em áreas de domínio federal possuem a seguinte composição: 
representantes da União, representantes das unidades federativas banhadas pela bacia hidrográfica 
(estados, Distrito Federal e municípios localizados na bacia) e representantes de organizações civis de 
recursos hídricos com atuação comprovada na bacia hidrográfica em questão. 
Em comitês de fronteira com outros países, é incluído, obrigatoriamente, um representante do Ministé-
rio das Relações Exteriores. Em comitês situados em áreas indígenas é obrigatória a inclusão de um 
representante da Fundação Nacional do Índio. Nos comitês de bacias em áreas de domínio federal, o 
número total de representantes do poder público (União, estados, Distrito Federale municípios) é de, 
no máximo, metade do total. A outra metade é composta por representantes de entidades civis e de 
usuários. 
Futuramente, cada comitê deverá contar com uma agência de bacia, a qual exercerá as funções de 
secretaria executiva e cujas principais atribuições são: 
 manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos na bacia, contemplando aspectos 
quantitativos e qualitativos; 
 manter cadastro de usuários e, por delegação do órgão outorgante, no caso a Agência Nacional de 
Águas (ANA), cobrar pelo uso de recursos hídricos; 
 analisar e emitir pareceres sobre projetos a serem financiados com recursos oriundos da cobrança; 
 gerir o sistema nacional de informações sobre recursos hídricos em sua área de atuação; 
 elaborar e propor ao plenário do comitê de bacia o plano de recursos hídricos da bacia; 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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 enquadrar os corpos de água em classes de uso; e 
 propor ao plenário do comitê de bacia um plano para aplicação dos recursos arrecadados com a co-
brança pelo uso dos recursos hídricos. 
A Agência Nacional de Águas (ANA), criada pela Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, é uma autarquia 
vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), com a finalidade de implementar a PNRH em sua 
esfera de atribuições (art. 3º). Entre outras atribuições, cabe à ANA: 
 outorgar o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União; 
 fiscalizar o uso desses recursos; 
 elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição (pelo CNRH) dos valores a serem cobradas pelo 
uso de recursos hídricos de domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos 
pelos comitês de bacias hidrográficas; 
 arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso de recursos hídri-
cos (art. 3º). 
Alguns exemplos mostram como a ANA tem operado com respeito à cobrança pelo uso da água. Na 
bacia do rio Jaguaribe, no Ceará, como o volume de água somente poderia atender metade da de-
manda dos agricultores, os produtores do Baixo Jaguaribe passaram a pagar R$0,01 por mil litros de 
água, e essa arrecadação foi usada para indenizar os agricultores que ficaram sem água e trocaram 
suas culturas tradicionais - arroz e feijão, por exemplo - , que consomem muita água, por outras que 
consomem menos. 
A Agência Nacional de Águas definiu os valores a serem cobrados pelo uso da água da bacia do rio 
Paraíba do Sul (Resolução nº 19, de 2002), considerando os valores propostos pelo Comitê para a 
Integração da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul (Deliberação Ceivap nº 8, de 2001). Os recursos 
serão aplicados na própria bacia, em projetos de despoluição das águas da bacia do Paraíba do Sul. 
Como se vê, trata-se de um modo completamente novo de gerir um recurso natural, rompendo uma 
tradição de centralismo burocrático que vem desde as ordenações portuguesas e que continuou, no 
caso da água, com o Código de Águas de 1934 (Decreto nº 24.643/34). Com a PNRH, as decisões 
sobre os recursos hídricos passam a ser descentralizadas, compartilhadas entre os usuários e os re-
presentantes do poder público, e os recursos gerados serão aplicados prioritariamente na bacia em 
que foram gerados (art. 22). Em grande parte, o sistema implantado pela União baseou-se no modelo 
paulista. O sistema paulista, por sua vez, baseou-se no modelo francês, que tem nos comitês de bacias 
suas instâncias decisórias básicas, ou seja, as principais decisões são tomadas pelos que estão sen-
tindo os problemas e envolvidos em conflitos decorrentes do uso dos recursos da bacia. No modelo 
anterior, os conflitos eram resolvidos no âmbito dos órgãos especializados do Executivo federal, como 
o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica, atendendo prioridades estabelecidas pelo poder 
central, onde a resolução de conflitos se dava conforme as forças locais e regionais e os interesses 
políticos em jogo. 
O Conselho de Recursos Hídricos (CRH) 
Os colegiados de gestão são instâncias políticas, estratégicas e deliberativas, formadas em nível cen-
tral pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH) e, regionalmente, pelos comitês de bacias 
hidrográficas (CBHs). Os colegiados são compostos de forma paritária por representantes dos órgãos 
do governo do estado de São Paulo, governos municipais e representantes da sociedade civil. Nos 
comitês, o número de representantes varia segundo as características regionais e as decisões de cada 
bacia, também mantendo paridade entre os três segmentos. 
O CRH é instância estratégica e deliberativa do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos 
Hídricos. Basicamente, sua função é formular e acompanhar a implantação das políticas de recursos 
hídricos no estado. É composto por 33 membros com direito à voz e voto - representantes dos órgãos 
estaduais, dos municípios e da sociedade civil - , sendo 11 de cada segmento. Também integram o 
conselho, sem direito a voz e voto, três representantes das universidades estaduais oficiais (USP, 
Unesp e Unicamp), um representante do Ministério Público, sete de entidades e órgãos estaduais e os 
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presidentes dos comitês de bacias hidrográficas. O quadro 3mostra a composição do CRH. A presi-
dência do conselho é exercida pelo secretário estadual de Recursos Hídricos. A vice-presidência é 
ocupada pela secretária de Meio Ambiente. A representação dos municípios é alterada a cada dois 
anos. Os representantes da sociedade civil são escolhidos entre os membros das entidades cadastra-
das no conselho. Quando há mais de uma entidade cadastrada em um mesmo segmento, é escolhida 
uma para representar o segmento pelo período de um ano, podendo ser reconduzida uma vez. 
O Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (CORHI) 
O Corhi elabora o Plano Estadual de Recursos Hídricos, baseando-se no relatório de situação e nos 
planos de bacia, elaborados nas bacias hidrográficas. É constituído pelos órgãos estaduais responsá-
veis pelo gerenciamento de recursos hídricos; sendo que nos aspectos quantitativos, o órgão respon-
sável é o DAEE, e nos aspectos qualitativos, a Cetesb. O comitê é o braço de apoio técnico dos cole-
giados de gestão. No plano descentralizado, ele elabora e propõe anualmente ao plenário do comitê 
de bacia o relatório de situação dos recursos hídricos e o plano de bacias - com diretrizes de uso, 
recuperação e proteção dos recursos hídricos em cada uma das 22 bacias hidrográficas de São Paulo. 
No plano central, o Corhi elabora e propõe ao conselho estadual o Plano Estadual de Recursos Hídri-
cos, a partir da consolidação dos 22 planos de bacias. O plano estadual contém as diretrizes de uso 
dos recursos hídricos no estado para um período de quatro anos. O comitê coordenador é composto 
por uma secretaria-executiva, que lhe presta apoio administrativo, e grupos técnicos responsáveis pelo 
aprofundamento de estudos específicos e de 12 programas de caráter permanente. No âmbito dos 
comitês de bacias, técnicos dos municípios podem participar dos grupos técnicos. No plano central, 
podem participar os técnicos de outras secretarias de estado e órgãos a elas vinculados, além daquelas 
que integram o conselho permanente. 
Como uma instância de apoio técnico, as propostas do Corhi são discutidas e decididas pelas instâncias 
políticas deliberativas. No plano descentralizado, essa instância política é o plenário do comitê de bacia 
e, no plano central, o Conselho de Recursos Hídricos. O processo se desenvolve nas seguintes etapas: 
 o Corhi elabora o relatório de situação e propõe os planos de bacias nas 22 unidades de planejamento 
e gerenciamento; 
 os plenários dos comitês de bacias deliberam sobre os planos apresentados pelo Corhi; 
 o Corhi elabora e propõe o Plano Estadual de Recursos Hídricos a partir da consolidação e compati-
bilização dos 22 planos de bacias hidrográficas; 
 o Conselho Estadual de Recursos Hídricosdelibera sobre o plano em primeira instância; 
 o plano é submetido à aprovação da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo; e, finalmente, 
 os comitês de bacias hidrográficas, baseados nas diretrizes aprovadas no plano estadual, definem 
prioridades regionais. 
O Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO) 
O Fehidro é a instância que dá suporte financeiro ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos 
Hídricos, formado com recursos dos orçamentos dos governos do estado de São Paulo e dos municí-
pios e também pela compensação financeira que a União paga ao estado pelo aproveitamento do po-
tencial energético. Os empréstimos obtidos de instituições nacionais e internacionais podem integrar o 
fundo. Futuramente, também receberá os recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos 
hídricos no estado. O seu comitê técnico é formado pelo Corhi, constituído pelos órgãos estaduais 
responsáveis pelos recursos hídricos nos aspectos quantitativos (DAEE e SRHSO) e qualitativo (Ce-
tesb e SMA). O fundo é supervisionado por um conselho de oito membros, eleitos de forma paritária 
entre os representantes do estado e dos municípios que integram o Conselho Estadual de Recursos 
Hídricos. O fundo está estruturado em subcontas de forma que cada comitê de bacia pode gerenciar 
os seus próprios recursos. Essa é outra inovação importante e radical em termos de administração 
pública, pois, rompe com o secular princípio da unicidade do tesouro. 
Os Comitês De Bacias Hidrográficas 
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Os comitês de bacias hidrográficas são colegiados de decisão compostos por representantes do es-
tado, dos municípios e de entidades da sociedade civil sediadas e com atuação comprovada na bacia 
hidrográfica. O número de membros de cada comitê é definido pelo seu plenário. Por isso, são obser-
vadas assimetrias entre os diferentes comitês. Bacias com um grande número de municípios e elevada 
densidade demográfica podem ter um número menor de membros do que um comitê de bacia com 
menor quantidade de municípios e menor densidade populacional. No Comitê da Baixada Santista foi 
verificado o menor número de votos por segmento (nove), enquanto no Comitê do Turvo/Grande veri-
ficou-se o maior (18 por segmento). No Comitê do Alto Tietê, onde estão representados os municípios 
da Grande São Paulo, são 16 votos por segmento. Qualquer que seja o número de membros, para 
determiná-lo deve ser observado o caráter paritário entre os três segmentos: estado, municípios e so-
ciedade civil. 
O plenário do comitê de bacia é a mais elevada instância política e decisória, exercendo funções es-
tratégicas e deliberativas. É assessorado por uma secretaria-executiva e duas unidades descendentes, 
uma para a formação de comitês de sub-bacias e outra para a formação de grupos técnicos especiali-
zados. Com a aprovação da Lei Estadual nº 10.020/98, que autoriza a criação das agências de bacias 
hidrográficas, as atuais secretarias executivas deverão ser substituídas pelas agências. Os comitês de 
sub-bacias são formados quando um determinado corpo de água apresenta condições específicas que 
requerem tratamento especial, como poluição, assoreamento, enchentes etc. 
É o caso do Comitê do Alto Tietê, desmembrado em cinco subcomitês. A atuação dos grupos técnicos 
pode ser exemplificada com a elaboração do Projeto de Lei nº 20/1998, posteriormente substituído pelo 
Projeto de Lei nº 676/2000 que propõe a instituição de cobrança pelo uso de recursos hídricos. Foram 
formados dois grupos técnicos, sendo que um estudou e propôs os critérios para a cobrança, fazendo 
simulações nas diferentes bacias hidrográficas; enquanto o outro cuidou da redação do projeto de lei. 
As secretarias executivas ou agências de bacias têm importância capital para os comitês de bacias. No 
âmbito da bacia hidrográfica são elas que gerenciam os 12 programas permanentes de uso, conserva-
ção e proteção dos recursos hídricos estabelecidos no plano estadual quadrienal. Esses são os pro-
gramas: 
 planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos; 
 aproveitamento múltiplo e controle dos recursos hídricos; 
 serviços e obras de conservação, proteção e recuperação da qualidade dos recursos hídricos; 
 controle da perfuração de poços profundos e da exploração das águas subterrâneas; 
 conservação e proteção dos mananciais superficiais de abastecimento urbano; 
 desenvolvimento racional da irrigação; 
 conservação de recursos hídricos na indústria; 
 prevenção e defesa contra inundações; 
 prevenção e defesa contra a erosão do solo e o assoreamento dos corpos de água; 
 desenvolvimento dos municípios afetados por reservatórios e leis de proteção de mananciais; 
 articulação interestadual e com a União; 
 participação do setor privado. 
Quando o Projeto de Lei nº 676/00 for aprovado, as secretarias executivas e agências de bacias deve-
rão propor mecanismos e valores de cobrança pelo uso de recursos hídricos na sua área de atuação, 
uma atribuição da Lei Federal nº 9.433/1997 (art. 38, inciso VI). No Conselho Estadual algumas funções 
são reservadas a determinados membros permanentes. A presidência é reservada à Secretaria de 
Recursos Hídricos e a vicepresidência à Secretaria de Meio Ambiente. Diferentemente, nos comitês de 
bacias não existem funções reservadas com exclusividade para nenhum segmento. Apesar dessa li-
berdade que permite aos representantes dos três segmentos assumirem qualquer função, existe uma 
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tendência que se mantém na ampla maioria dos comitês. A presidência do comitê tem sido ocupada 
por um representante dos municípios, ou seja, por um prefeito. A vice-presidência tem sido ocupada 
por um representante da sociedade civil e a secretaria-executiva, por um representante do estado, 
principalmente do DAEE. 
Esse critério foi estabelecido como um modelo desde a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica dos 
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, o primeiro a ser instalado em São Paulo. A composição adotada 
na eleição desse primeiro comitê procurou estabelecer equidade de espaços para a participação dos 
três segmentos no colegiado de gestão. Os prefeitos representantes dos municípios que integram a 
bacia indicaram o presidente do colegiado, demarcando o caráter descentralizador da política estadual 
de recursos hídricos. 
Aos representantes das entidades da sociedade civil coube a indicação do vice-presidente do colegi-
ado, sinalizando participação democrática e transparência nas ações. Já os representantes do poder 
público estadual indicaram o secretário executivo do colegiado, por tratar-se da instância política e 
administrativa detentora de mais informações e maior capacidade para a mobilização de recursos hu-
manos, materiais e financeiros. Conforme Neder (2002), não é pacífico esse critério de divisão de car-
gos entre segmentos, conhecido como o "critério PCJ". Mesmo assim, esse critério foi seguido pela 
maioria dos outros comitês de bacias, embora a sua aplicação seja de caráter voluntário (p.191). 
O critério PCJ e a composição dos colegiados de gestão dos comitês de bacias são alvos de diversos 
questionamentos críticos. O critério PCJ seria uma manobra sutil dos representantes do estado. Con-
forme depoimento de um membro do Comitê do Alto Tietê concedido a Neder (2002), é uma preocu-
pação dos representantes do estado garantir politicamente os cargos para cada uma das três partes 
com assento no colegiado, implicando riscos de se colocar as disputas por cargos acima das discus-
sões sobre políticas e estratégias de ação. Membros do Comitê do Alto Tietê entrevistados por Neder 
(2002) revelaram preferir que houvesse a formação de chapas em vez de disputas individuais para 
preenchimento dos cargos de presidente, vice e secretário. 
Ainda quanto aos comitês de bacias, há diversos questionamentos no que diz respeito não somente à 
sua composição, mas também em relação à eficiência e legitimidade.Quanto à composição, a principal 
questão que se levanta diz respeito ao caráter tripartite. Os críticos consideram que estado e municípios 
são, em essência, poder público governamental e que, assim, o setor público estaria super-represen-
tado em detrimento da sociedade civil, que estaria sub-representada. Esse argumento pode estar con-
dicionado por uma visão dicotômica do tipo nós e eles, que; 
 enxerga as relações entre os entes públicos (estado e poder local) como necessariamente harmônicas 
e 
 as relações entre estes e a sociedade civil como antagônicas. 
Por esse motivo o modelo adotado em Minas Gerais aparece como contraponto ao de São Paulo, na 
visão dos críticos do modelo paulista. Em Minas Gerais, o sistema procurou contemplar a paridade 
entre o poder público e a sociedade civil. Cada um desses dois segmentos detém 50% dos membros 
representantes nos comitês. Por sua vez, o sistema paulista se fundamentou no entendimento de que: 
 os interesses dos três segmentos representados no colegiado não são necessariamente nem harmô-
nicos, nem conflitantes; 
 o poder estadual e o poder local nem sempre pensam as mesmas coisas sobre os problemas ambien-
tais, em especial sobre as questões relacionadas ao uso de recursos hídricos; e 
 o caráter tripartite abriria espaço para se apreciar um mesmo problema sob diferentes pontos de vista, 
além de estimular uma discussão baseada em conflitos moderados, estimulando a construção de acor-
dos móveis e provisórios, estabelecendo processos criativos de negociações e composições e evitando 
o maniqueísmo e a dicotomização política. Desse modo, a forma e a abrangência da atuação de cada 
segmento representado no comitê foram considerados mais importantes do que seu caráter público ou 
privado. 
No estado de São Paulo, a busca de soluções para os conflitos internos nos comitês de bacias hidro-
gráficas está fundamentada numa estratégia de longo prazo. Essa estratégia apresenta resultados que 
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podem ser considerados positivos em vários aspectos, principalmente, por instituir um sistema regula-
dor multidimensional, envolvendo critérios de utilidade pública, de mercado, social e de sustentabilidade 
ambiental. Embora limitações possam ser apontadas no funcionamento do sistema e na efetiva partici-
pação da sociedade civil, ele ampliou o escopo das decisões sobre recursos hídricos, ao adotar, com 
pesos semelhantes, dimensões antes esquecidas ou subordinadas ao interesse econômico, quer do 
Estado ou das grandes empresas de algum modo vinculadas ao setor energético. 
Essa linha de pensamento está baseada no fato de que o estado detém uma visão macro dos proces-
sos relativos aos recursos hídricos; os municípios, uma visão circunscrita aos interesses locais e regi-
onais; e as entidades da sociedade civil, uma visão pulverizada e fragmentada, por vezes, represen-
tando interesses e necessidades específicos. De certo modo, o histórico da atuação dos comitês mostra 
acerto nessa estratégia. Os representantes da sociedade civil agem a partir de acordos - ora com o 
poder local, ora, e principalmente, com o poder estadual - , sem estabelecerem alinhamentos automá-
ticos. Um exemplo recente ocorreu na reunião de 10 de dezembro de 2003, do comitê do Piracicaba, 
realizada na cidade de Extrema (MG), quando as entidades da sociedade civil se juntaram aos municí-
pios para derrotar a proposta do estado de reter 25% dos recursos obtidos com a cobrança pelo uso 
da água, para promover uma redistribuição entre as bacias com menor possibilidade de arrecadação. 
Aliás, o resultado da votação nesse comitê, foi exceção à regra, uma vez que os demais comitês apro-
varam a proposta do estado, a qual, contudo, não deverá ser implementada por falta de consenso. 
A eficiência dos comitês é questionada pelas pessoas de fora do sistema e pelas que se opõem a ele. 
As críticas têm adotado um viés "produtivista", como se os comitês fossem empresas privadas. Geral-
mente, tomam como referência as bacias onde os problemas e os conflitos envolvendo o uso de recur-
sos hídricos são inexistentes ou de menor dimensão. Nessas bacias, não é raro que, com exceção das 
reuniões que ocorrem em torno de uma pauta mais ampla, os encontros dos membros do comitê ad-
quiram um tom menos formal, encaminhando-se para um espaço de convivência social. Entretanto, é 
preciso deixar claro que esse não é o clima que marca as reuniões dos comitês de bacias nas quais o 
uso dos recursos hídricos está próximo da saturação e a sua degradação em estágio acelerado. 
Nesses comitês - caso do Alto Tietê, Baixada Santista, Mogi e Piracicaba - , as controvérsias, as dis-
putas e os conflitos quase sempre elevam a temperatura das discussões, ultrapassando os polidos tons 
político e diplomático. Seguramente, esse clima de discussão e conflito é a regra e não a exceção, na 
maioria dos comitês de bacias de São Paulo. Como se sabe, para decisões tomadas por grupos com 
autonomia não se pode esperar agilidade ou eficiência, como ocorreria nas empresas. Porém, as deci-
sões desses comitês costumam ser mais eficazes, por levaram em conta diferentes pontos de vistas e 
por considerarem os interesses das diversas partes envolvidas. Nesse sentido, qualquer medida dos 
comitês deve considerar esses aspectos, por serem inerentes ao processo de construção coletiva a 
que se propõem. 
Alguns críticos (também situados fora do sistema) vêem falta de legitimidade política nos colegiados, 
porque seus membros não foram escolhidos em processo eleitoral. De fato, os colegiados que dirigem 
os comitês podem assumir diferentes papéis, inclusive o de instância política decisória. Considerando 
a experiência do Comitê do Alto Tietê, Neder (2002), identifica duas linhas centrais na atuação dos 
comitês: uma, como instância de coordenação técnica, e outra, como colegiado máximo de decisão. 
Nessa segunda linha de atuação, as decisões do colegiado são desdobradas para subcomitês que 
devem implementá-las. 
Por não terem capacidade "governativa", esses comitês têm que buscar a construção, ad hoc, de uma 
base de representatividade entre os poderes Executivo e Legislativo. Especialmente entre os membros 
do poder local, são constatadas certas resistências para aceitar a corresponsabilidade dos comitês e 
subcomitês de bacias, uma vez que determinados dirigentes locais não reconhecem a sua legitimidade 
e representatividade. Contudo, é conveniente lembrar que desde a década de 1930 até muito recente-
mente, as políticas de uso dos recursos hídricos eram definidas, fundamentalmente, pelo setor de ge-
ração de energia elétrica, com alguma participação do setor de saneamento básico, o qual também não 
tinha legitimidade ou representatividade política. 
Finalmente, a capacitação dos técnicos que atuam nos comitês e a falta de estrutura das entidades que 
representam a sociedade civil são desafios importantes a serem enfrentados. A transferência de co-
nhecimentos vem sendo estimulada, mas isso é um processo lento, principalmente pela complexidade 
envolvida na questão dos recursos hídricos, em face da amplitude de outros temas e interesses agre-
gados. Quanto às entidades civis, por vezes seus representantes não dispõem de condições mínimas 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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para acompanhar as discussões e as reuniões dos comitês. Além disso, verifica-se que algumas enti-
dades civis ainda não dispõem de estrutura física mínima apropriada e, não raramente, de recurso 
financeiro para cobrir as despesas dos seus representantes. 
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6. Experiências brasileiras em gestão de bacias 
Os comitês de bacias; gestão em regiões metropolitanas. 
7. Participação social 
8. Cooperação internacional 
Investimento multilaterais e bilaterais em projetos de saneamento e recursos hídricos; Tratado da Bacia 
do Prata; Tratado de Cooperação diversos acordos bilaterais. 
Brasil: Aspectos Gerais 
Demografia E Economia 
A população brasileira em 1995 registrou cerca de 156 milhões de habitantes. No ano 2000 chegará a 
166, 7 milhões e em 2020 a 202, 1 milhões de habitantes. Em 1991 75% da população foi registrada 
em áreas urbanas. 
O padrão de crescimento econômico adotado ao longo das últimas décadas, baseado no desenvolvi-
mento industrial, propiciou o surgimento de uma economia urbano-industrial diversificada e complexa 
de consumo de massa. Esse padrão de crescimento não foi capaz de eliminar a pobreza, muito embora 
tenha contribuído para reduzi-Ia nos momentos mais dinâmicos de seu ciclo. O esgotamento desse 
padrão acentuou-se ao longo dos anos 80, período marcado: pela crise fiscal e da dívida externa; pela 
perda de dinamismo nas atividades produtivas; pelo elevado déficit público; pela inflação recorrente e 
pelas tentativas mal sucedidas de estabilização. Naquele período agravaram-se os problemas sociais 
no País. 
A experiência bem sucedida de estabilização econômica - o Plano Real - iniciado em 1994, vem apre-
sentando efeitos positivos, especialmente para os segmentos mais pobres da população, acarretando 
uma significativa redistribuição de renda. Além disso, o profundo processo de reestruturação da eco-
nomia brasileira, caracterizado pela modernização tecnológica e gerencial, abertura comercial, compe-
tição mais acirrada, e diminuição da presença do Estado na economia, entre outros, vem afetando 
alguns segmentos ocupacionais. 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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Têm importância decisiva no plano econômico os recursos naturais de que dispõe o país. O setor da 
agroindústria responde por cerca de 40% do Produto Interno Bruto brasileiro -PIB. O setor florestal, por 
4% do PIB. E o setor pesqueiro, por 1 %. Produtos da biodiversidade - principalmente café, soja e 
laranja - respondem por 31% das exportações brasileiras. O extrativismo vegetal e a pesca empregam 
mais de 3 milhões de pessoas. A biomassa vegetal -aí incluídos o álcool da cana-de-açúcar, a lenha e 
o carvão derivados de florestas plantadas e nativas -participam com 17% na matriz energética nacional, 
sobretudo na região nordeste. Atualmente 92% da energia elétrica consumida provêm da geração hí-
drica. 
Aspectos Físicos E Ambientais 
O Brasil é um país de dimensões continentais com uma área de mais de 8.5 milhões de Km2 , com 
uma costa de cerca de 8.500 Km de extensão, onde se concentra a maior parte da população. O país 
possui uma diversidade biológica rica nos três seguintes aspectos: genético, variedade de espécies e 
de ecossistemas - como consequência de uma grande variedade climática e geomorfológica. 
O relevo brasileiro apresenta grande variedade de aspectos geomorfológicos, decorrentes de sucessi-
vas mudanças climáticas, das características litológicas e estruturais e dos fatores biológicos, que ori-
ginaram sua compartimentação geomorfológica atual. O território possui uma diversificação climática 
muito ampla. 
O País é dotado de uma vasta e densa rede hidrográfica, sendo que muitos de seus rios destacam-se 
pela extensão, largura e profundidade. Em decorrência da natureza do relevo, predominam os rios de 
planalto, que possuem um alto potencial para a geração de energia elétrica. Dentre os grandes rios em 
território nacional, o Amazonas e o Paraguai são os principais rios de planície enquanto que o São 
Francisco e o Paraná são os principais rios de planalto. 
A vegetação está compreendida quase que inteiramente dentro da Zona Neotropical, e para fins geo-
gráficos pode ser dividida em dois territórios: o amazônico e o extra-amazônico. 
A fauna brasileira é bastante rica em espécies, que comportam um número de indivíduos relativamente 
pequeno, sendo muitas delas endêmicos. Esses fatos indicam que se trata de uma fauna frágil. Se-
gundo pesquisadores, ocorrem no Brasil 524 espécies de mamíferos entre as quais 77 primatas, 27% 
do total mundial; 1622 espécies de aves, 400 espécies de répteis; das 3.131 espécies de vertebrados, 
excluindo peixes, há 259 ameaçadas e vulneráveis: mais de 3.000 espécies de peixes de água doce. 
Estima-se que existam pelo menos 5 a 10 milhões de insetos (a maior parte ainda não descrita pela 
ciência). 
O país possui uma flora bastante diversa, com 50 a 56 mil espécies descritas de plantas superiores, 20 
a 22% do total mundial. O grupo das angiospermas (plantas com flores) é o principal e economicamente 
mais importante grupo de planta terrestres. O número de angiospermas está próximo de 250 mil espé-
cies no mundo, e no Brasil estima-se entre 40 a 70 mil espécies, sobretudo nas regiões da Mata Ama-
zônica, Bacia Amazônica e Cerrado. As coletas mais recentes da flora brasileiras estão depositadas 
em cerca de 70 herbários no país. 
Os Biomas 
São nove os biomas brasileiro, segundo condições ecológicas refletidas pela vegetação original pre-
ponderante e a posição geográfica que ocupam. 
O Bioma Amazônico, dominado pela floresta tropical perenifolia ou pluvial, onde a porção brasileira 
representa o maior corpo florestal do planeta. Este se encontra condicionado ao clima equatorial quente 
superúmido e úmido, onde a precipitação pluviométrica é bem superior à evapotranspiração potencial. 
O Ecossistema Amazônico ocupa uma superfície de 4.005.082 Km2 . As águas e a vegetação nativa 
recobrem aproximadamente 92% de sua área. O uso e a ocupação das terras são caracterizados pre-
ponderantemente polo extrativismo animal e vegetal. 
O Bioma de Cerrado ocupa uma superfície de 1.890.278 Km2 , com vegetação de fisionomia variada. 
O Cerradão é uma formação arbórea densa, sendo Cerrado constituído por árvores tortuosas, relativa-
mente baixas, entremeadas por arbustos. Os Campos Cerrados, são constituídos de árvores e arbustos 
que encontra-se espaçados, predominando na fisionomia o extrato gramíneo. O uso e a ocupação das 
terras são determinadas pela agropecuária. 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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O Bioma do Pantanal ocupa uma superfície de 154.884 km2, em território brasileiro. A vegetação nativa 
recobre 97% da área, alterada em parte pelo pastoreio e pelos tratos agronômicos que visam à melhoria 
das condições das pastagens nativas. A Depressão Pantaneira é uma extensa superfície de acumula-
ção de águas e sedimentos, com terrenos predominantemente planos e suavemente ondulados, ala-
gados periodicamente. 
O Bioma de Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste caracteriza-se pela paisagem cálida, espi-
nhosa e seca. As temperaturas são muito elevadas, a umidade do ar é baixa. Esses biomas ocupam 
uma superfície de 939.391 km2. As caatingas são classificadas em Caatinga Arbórea, Caatinga Arbus-
tivo Arbórea e Caatinga Arbustiva. São compostas por arvoretas e arbustos, muito ramificados e fre-
quentemente armados de espinhos. O "sertão", como é dominando, constitui a vegetação mais rala do 
semi-árido. O uso e a ocupação das terras são essencialmente agrícolas de ciclo curto e precário. 
No Bioma do Meio Norte, a interpenetração das floras amazônica, central e da caatinga, dá lugar a um 
complexo ecossistema de transição. O clima varia entre tropical quente subúmido, característico dos 
limites do cerrado com a pré-amazônia, e o semi-árido, característico das caatingas. A estação seca 
varia entre 4 e 7 meses. O bioma do Meio Norte ocupa uma superfície de164.205 Km2 . O uso e a 
ocupação das terras são definidos pelo extrativismo, pelo pastoreio e pela agricultura de curto e médio 
ciclo. 
O Bioma de Florestas Estacionais Semideciduais é eminentemente complexo e de ocupação antiga, 
onde o urbano-industrial, o agrícola e opecuário se mesclam. 
Compreende uma grande faixa que corre de nordeste a sudeste entre a Floresta Atlântica, Pinheirais e 
os Cerrados. O clima, que de uma maneira geral caracteriza essas áreas, é tropical quente e subquente 
subúmido com 4 a 5 meses de estação seca. Ocupa uma superfície de 518.834 km2. As áreas flores-
tadas remanescentes representam cerca de 4% da cobertura natural original. A atividade mineradora 
é intensa. 
O Bioma dos Pinheirais coincide com o Planalto Meridional Brasileiro e nesta área coexistem represen-
tantes da flora tropical, afro-brasileira, temperada e austro-brasileira. É a área de dispersão do pinheiro-
doparaná, espécie de alto valor econômico e paisagístico, encontrando-se hoje praticamente erradi-
cada de seu local de origem. A vegetação natural era dominada pela Floresta de Araucária, que hoje 
não atinge os 10% da área originalmente 
coberta por ela. O uso e a ocupação das terras são principalmente agrícolas. O Bioma da Região dos 
Pinheirais ocupa uma superfície de 220.363 km2 . 
O Bioma do Extremo Sul compreende o Sul do Planalto Meridional, outrora recoberta pelos campos e 
algumas florestas, sendo limitado a leste pelas áreas costeiras da Planície Gaúcha. O clima é tempe-
rado mesotérmico brando, superúmido sem estação seca. Ocupa uma superfície de 203.875 km2. O 
uso e a ocupação das terras são de natureza agrícola e pecuária. A vegetação pioneira e as florestas 
foram erradicadas e devido ao pastoreio os campos naturais encontram-se substancialmente alterados. 
A infra-estrutura em torno dos maiores centros urbanos, ocupa uma área significativa. 
No Bioma Costeiro e da Floresta Atlântica, as correntes marinhas, a temperatura das águas e do ar 
sobre o oceano, o efeito orográfico das cadeias de montanhas, a latitude e a altitude originam tipologias 
climáticas variáveis que, atuando sobre as diversas estruturas geológicas, deram lugar a morfogêneses 
específicas, que por sua vez viabilizaram adaptações biológicas com estratificação vertical e comparti-
mentação horizontal. Ocupa um superfície de 415.088 km2. O uso e a ocupação das terras são carac-
terizados, de uma maneira geral, pelo extrativismo animal e vegetal, pela infra-estrutura urbana portu-
ária, de turismo e lazer e, de forma localizada, pela agricultura pelas pastagens e pela silvicultura. 
As Grandes Bacias Hidrográficas 
O território brasileiro é constituído de três grandes bacias e de dois complexos de bacias hidrográficas. 
As três bacias são: a do rio Amazonas, a do rio Tocantins e a do São Francisco, e os dois complexos 
de Bacias são o do Prata e do Atlântico. O complexo da Bacia do Prata é constituído de três bacias: 
Alto Paraguai, Paraná e Uruguai e o complexo atlântico é subdividido nos seguintes conplexos: Atlân-
tico Norte, Atlântico Nordeste, Atlântico Leste 1, Atlântico Leste 2 e Sudeste. 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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A produção hídrica, entendida como o escoamento anual afluente ao Oceano Atlântico, é, em território 
brasileiro, de 168.790 m3/s. Levando-se em consideração também a vazão produzida na área da bacia 
Amazônica que se encontra em território estrangeiro, estimada em 89.000 m3/s. A disponibilidade hí-
drica total do País atinge 257.790 m3/s. 
Os dados do balanço hídrico mostram a grande variação hidrológica do território brasileiro. De fato, os 
escoamentos superficiais específicos variam desde 48,2 l/s/km2 no Atlântico Norte e 34,2 I/s/ km2 na 
bacia Amazônica até 2,8 l/s/km2 na região semi-árida do Atlântico Leste 1 e 4,5 l/s/km2 na bacia do rio 
São Francisco. 
As informações básicas sobre essas bacias hidrográficas constam do quadro a seguir, em especial a 
disponibilidade hídrica "per capita", em m3/ano/habitante, parâmetro que permite avaliação da abun-
dância e da escassez hídrica em bacias, Observe-se que há abundância de água no Brasil se conside-
rarmos o valor médio de 36.317 m3/ano/hab. , mas há bacias no limiar da escassez hídrica como as 
do Atlântico Leste (5 A) 
Os Problemas De Poluição E De Qualidade Das Águas 
A concentração da população em determinadas regiões, cidades e áreas metropolitanas é um dos 
principais aspectos a ser considerado na gestão integrada de recursos hídricos, uma vez que implica 
em demanda tanto por disponibilidade de água para o abastecimento público quanto para dissolução 
de cargas poluidoras urbanas. 
A situação de poluição hídrica tem-se agravado no País, considerando-se o aumento das cargas polui-
doras urbana e industrial, uso inadequado do solo, erosão, desmatamento, uso inadequado de insumos 
agrícolas e mineração. 
Estes fatores, associados à distribuição anual de chuvas e às características climáticas, levam a danos 
ambientais dos recursos hídricos, dentre os quais se destacam o aumento do transporte de sedimento 
e a contaminação orgânica e química das águas. Os impactos ambientais decorrentes da poluição de 
águas fluviais provocada pelos pólos agro-industriais (principalmente suinocultura e avicultura), no sul 
do Brasil, e os relacionados à agroindústria sucroalcooleira do Nordeste e do Estado de São Paulo, 
exemplificam alterações significativas dos recursos hídricos no Brasil. 
Destaca-se, ainda, o alto grau de comprometimento ambiental dos recursos hídricos da região carbo-
nífera no sul do país e da região de garimpo e de mineração no norte do pais onde não há tecnologia 
ambientalmente adequada para a explotação e o processamento desses recursos minerais. 
Outras atividades causadoras de poluição das águas são as termelétricas e os complexos siderúrgicos 
que ainda operam com processos industriais mais antigos e não contam com a instalação de equipa-
mentos de controle da poluição ambiental adequados. Os conflitos de interesses com relação ao uso 
da água representados pelo setor hidrelétrico, pelos complexos industriais, pelas necessidades de 
abastecimento urbano, irrigação e adensamento urbano industrial, evidenciam a necessidade de arti-
culação interinstitucional para a adoção de política de gestão integrada de recursos hídricos. 
A Água Subterrânea 
A explotação da água subterrânea vem, atualmente, registrando um expressivo incremento. Vários nú-
cleos urbanos abastecem-se de água subterrânea de forma exclusiva ou complementar. Indústrias, 
propriedades rurais, escolas, hospitais e outros estabelecimentos utilizam água de poços artesianos. 
No Brasil, o volume de água subterrânea amenos de 1.000m de profundidade e de boa qualidade para 
o consumo humano, está estimado em 112.000 km3. Há cerca de 200.000 poços tubulares em explo-
tação, sendo perfurados cerca de 10.000 poços por ano. Cerca de 61% da população brasileira se 
abastece de mananciais de subsuperfície, tais como poços rasos (6%), nascentes/fontes (12%) e poços 
profundos (43%). 
A despeito dessa expressiva utilização, na região Nordeste, onde a escassez hídrica é pronunciada, a 
potencialidade da água subterrânea permite uma explotação 40 vezes maior do que o volume total 
explotado atualmente. No Estado do Maranhão, 76,6% das cidades são abastecidas por água subter-
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
7 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
rânea, e no Estado do Piauí, 84,3% das cidades consomem águas de subsuperfície. A região metro-
politana de Recife consome o correspondente a 20% do volume total fornecido à população. No Estado 
de São Paulo 50% das indústrias usam água subterrânea. 
Arcabouço Legal E Institucional Do Meio Ambiente Dos Recursos Hídricos No País 
A Política Nacional Do Meio Ambiente 
Entre os princípios adotados pela citada lei podem ser destacados: a consideração do meio ambiente 
como patrimônio público, a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo 
e sustentável da água, assim como de outros recursos ambientais; o planejamento e a fiscalização do 
uso de recursos ambientais; o controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente polui-
doras; os incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso sustentávele à pro-
teção dos recursos ambientais; o acompanhamento do estado da qualidade ambiental; a recuperação 
de áreas degradadas; a proteção de áreas ameaçadas de degradação; e a educação ambiental em 
todos os níveis de ensino. inclusive a educação da comunidade. 
Quanto aos objetivos, vale mencionar: a compatibilização do desenvolvimento econômico e social com 
a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; a definição de áreas prioritárias 
de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; o estabelecimento de critérios e padrões de 
qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo dos recursos ambientais; o desenvolvi-
mento de pesquisas e tecnologias nacionais orientadas para o uso sustentável dos recursos ambien-
tais; a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente e a divulgação de dados e informações 
ambientais; e a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar ou indenizar os danos 
causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. 
O Sistema Nacional Do Meio Ambiente –SISNAMA 
O Sistema Nacional do Meio Ambiente -SISNAMA, foi regulamentado pelo Decreto n.º 99.274, de 06 
de junho de 1990, e é constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal 
e dos Municípios, e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e me-
lhoria da qualidade ambiental. 
O Conselho Nacional Do Meio Ambiente –CONAMA 
O Conselho Nacional do Meio Ambiente -CONAMA, é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema 
Nacional do Meio Ambiente SISNAMA. É presidido pelo Ministro de Meio Ambiente e sua Secretaria 
Executiva é o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. O CO-
NAMA, composto pelo Plenário e por Câmaras Técnicas, é um colegiado. A plenária é composta por 
representes dos mais diversos setores do governo e da sociedade civil que lidam direta ou indireta-
mente com o meio ambiente. São membros do plenário: um representante de cada Ministério e das 
demais Secretarias da Presidência da República e do IBAMA; um representante de cada um dos Go-
vernos Estaduais e do Distrito Federal, e representantes das seguintes entidades; Confederações Na-
cionais da Indústria, do Comércio e da Agricultura; Instituto Brasileiro de Siderurgia; Associação Brasi-
leira de Engenharia Sanitária -ABES; Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza -FBCN; e 
Associação Nacional dos Municípios e Meio Ambiente -ANAMMA; além de representantes de associa-
ções legalmente constituídas para a defesa dos recursos naturais e do combate à poluição, de livre 
escolha do Presidente da República; e representantes de sociedades civis, legalmente constituídas, de 
cada região geográfica do País, cuja atuação esteja diretamente ligada à preservação da qualidade 
ambiental e cadastradas no Cadastro Nacional das Entidades Ambientalistas – CNEA. 
O CONAMA é composto ainda de dez Câmaras Técnicas permanentes e oito Câmaras Técnicas Tem-
porárias. Cada Câmara Técnica é composta de sete Conselheiros, que elegem um Presidente e um 
Relator. As Câmaras Técnicas Temporárias são criadas por determinação do Plenário por prazo defi-
nido, para cumprir objetivo predeterminado. 
Os Preceitos Constitucionais 
A Constituição Federal de 1988 estabelece que "são bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes 
em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado da federação, sirvam de limite com 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
8 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos mar-
ginais e as praias fluviais". Estabelece, ainda, como "bens dos Estados, as águas superficiais ou sub-
terrâneas, fluentes, emergentes ou em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decor-
rentes de obras da União. 
Compete privativamente à União legislar sobre águas. É de competência da União explorar, direta-
mente ou mediante autorização, concessão ou permissão, o aproveitamento energético dos cursos de 
água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; os serviços de 
transporte aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais ou que transponham os limites de 
Estado ou Território; e definir critérios de outorga de direito de uso das águas. 
Constituem competência comum da União, dos Estados e dos Municípios proteger o meio ambiente e 
combater a poluição em qualquer de suas formas; promover a melhoria das condições e fiscalizar as 
concessões de direitos de exploração de recursos hídricos em seus territórios; e legislar concorrente-
mente sobre defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição, 
responsabilidade por dano ao meio ambiente e proteção e defesa da saúde. 
Para fins administrativos, a União poderá articular ações em um mesmo complexo geoeconômico e 
social, visando ao desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais, através da priorização 
do aproveitamento econômico e social dos rios e das massas representadas ou represáveis nas regiões 
de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. 
O Código De Águas 
A Política Nacional De Recursos Hídricos 
O referido Código assegura o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente de água para as primeiras 
necessidades da vida e permite a todos usar as águas públicas, conformando-se com os regulamentos 
administrativos. Impede a derivação das águas públicas para aplicação na agricultura, indústria e higi-
ene, sem a existência de concessão, no caso de utilidade pública, e de autorização nos outros casos; 
em qualquer hipótese, dá preferência à derivação para abastecimento das populações. 
O Código de Águas estabelece que a concessão ou a autorização deve ser feita sem prejuízo da na-
vegação, salvo nos casos de uso para as primeiras necessidades da vida ou previstos em lei especial. 
Estabelece, também, que a ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, 
com prejuízo a terceiros. 
Ressalta ainda, que os trabalhos para a salubridade das águas serão realizados à custa dos infratores 
que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem 
e por multas que Ihes forem impostas pelos regulamentos administrativos. Também esse dispositivo é 
visto como precursor do princípio usuáriopagador, no que diz respeito ao uso para assimilação e trans-
porte de poluentes. 
O Código de Águas, estabelecido pelo Decreto Federal n.º 24.643, de 10/7/34, consubstancia a legis-
lação básica brasileira de águas. Considerando avançado pelos juristas, haja vista a época em que foi 
promulgado, necessita de atualização, principalmente para ser ajustado à Constituição Federal de 
1988, à Lei n.º 9.433, de 8/1/97, e de regulamentação de muitos de seus aspectos. 
 A Lei Federal n.º 9.433, de 8/1/97, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema 
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição 
Federal. Essa Lei estabelece que a Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes 
fundamentos: a água é um bem de domínio público; a água é um recurso natural limitado, dotado de 
valor econômico; em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é para o consumo 
humano e de animais; a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das 
águas; a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos 
Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; a gestão dos recur-
sos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e 
das comunidades. 
O Conselho Nacional De Recursos Hídricos 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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Estabelece aindaas seguintes diretrizes gerais: a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dis-
sociação dos aspectos de quantidade e qualidade; a adequação da gestão de recursos hídricos às 
diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do 
País; a Integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental; a articulação do planeja-
mento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e 
nacional; a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo; a integração da gestão 
das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras. 
Essa Lei define o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos que tem como objetivos 
assegurar o controle quantitativo e qualitativo do uso da água e o efetivo exercício dos direitos de 
acesso à água, estando sujeitos à outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recur-
sos hídricos: derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo 
final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; extração de água de aquífero 
subterrâneo para final ou insumo de processo produtivo; lançamento em corpo de água de esgotos e 
demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou dispo-
sição final; aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; e outros usos que alterem o regime, a quanti-
dade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. 
Estabelece a Lei, ainda, que a outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Exe-
cutivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal, e o Poder Executivo Federal poderá delegar aos 
Estados e ao Distrito Federal competência para conceder outorga de direito de uso de recurso hídrico 
de domínio da União. 
Além disso determina que o Poder Executivo Federal se articula previamente com o dos Estados e o 
do Distrito Federal para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos em bacias hidrográficas com 
águas de domínio federal e estadual. 
O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos tem os seguintes objetivos: coordenar a 
gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos 
hídricos; implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a 
preservação e a recuperação dos recursos hídricos; e promover a cobrança pelo uso de recursos hí-
dricos. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o Conselho Nacional de 
Recursos Hídricos; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; os Comitês 
de Bacia Hidrográfica; os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais cujas compe-
tências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; e as Agências de Água. 
Os Comitês De Bacias Hidrográficas 
Comporão os Comitês: representantes públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Muni-
cípios e representantes da sociedade, tais como, usuários das águas de sua área de atuação, e das 
entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia. A representação dos poderes 
executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios está limitada à metade do total de membros 
de cada Comitê de rios federais. 
Cada Estado deverá fazer a respectiva regulamentação. O Sistema de Informações sobre Recursos 
Hídricos é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre 
recursos hídricos, bem como sobre fatores intervenientes em sua gestão, com dados gerados pelos 
órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos -SINGREH. São prin-
cípios básicos para a sua organização: descentralização da obtenção e produção de dados e informa-
ções; coordenação unificada do sistema; acesso garantido a toda a sociedade aos dados e informa-
ções. Seus objetivos estão assim definidos: reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações 
sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil; atualizar permanentemente 
as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo território nacional, e 
fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos. 
Nos Comitês de Bacias de rios fronteiriços e transfronteiriços a representação da União deverá incluir 
o Ministério das Relações Exteriores e naqueles cujos territórios abranjam terras indígenas, represen-
tantes da Fundação Nacional do Índio – FUNAI e das respectivas comunidades indígenas. 
A Agência De Água E Sua Criação 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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As principais competências da Agência de Água são: manter balanço hídrico da bacia atualizado; man-
ter o cadastro de usuários e efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recur-
sos hídricos; analisar e emitir pareceres sobre os projetos e as obras a serem financiados com recursos 
gerados pela cobrança pelo uso dos recursos hídricos e encaminhá-los à instituição financeira respon-
sável pela administração desses recursos; acompanhar a administração financeira dos recursos arre-
cadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos em sua área de atuação; gerir o Sistema de 
Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação; celebrar convênios e contratar financi-
amentos e serviços para a execução de suas competências; promover os estudos necessários para a 
gestão de recursos hídricos em sua área de atuação; elaborar o Plano de Recursos Hídricos para 
apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica; propor ao respectivo Comitê de Bacia Hidro-
gráfica o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, os valores a serem cobrados pelo 
uso dos recursos hídricos, o plano de aplicação de recursos, e o rateio de custos das obras de uso 
múltiplo. 
Os Instrumentos De Gerenciamento De Recursos Hídricos 
Os Planos de Recursos Hídricos visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional 
de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos, de longo prazo, com horizonte de pla-
nejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos. O seu conteúdo 
deve incluir o diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos, análises e estudos prospectivos da 
dinâmica sócio-econômica, identificação de conflitos potenciais, metas de racionalização de uso, pro-
jetos a serem implantados, diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, entre 
outras, além de medidas que visem à proteção dos recursos hídricos. Serão elaborados por bacia hi-
drográfica, por Estado e para o País e se constituirão em elementos do Plano Nacional de Recursos 
Hídricos, a ser regulamentado. 
O enquadramento dos cursos d'água em objetivos de qualidade visa a: assegurar às águas qualidade 
compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas; diminuir os custos de combate à po-
luição das águas, mediante ações preventivas permanentes. As classes de corpos de água estão defi-
nidas pela legislação ambiental. Os objetivos da outorga são: assegurar o controle quantitativo e qua-
litativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Estão sujeitos a outorga 
as diferentes derivações, captações, lançamentos, aproveitamentos e outros usos que alterem o regime 
das águas superficiais e subterrâneas. A outorga para fins hidrelétricos estará subordinada ao Plano 
Nacional de Recursos Hídricos, e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado 
e a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso. A outorga de 
uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes. 
Os objetivos da cobrança são: reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação 
de seu real valor; incentivar o uso sustentável da água; obter recursos financeiros para o financiamento 
dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursoshídricos. Serão cobrados os usos 
de recursos hídricos sujeitos a outorga. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos 
hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados. 
Os principais instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos são: os Planos de Recursos Hídri-
cos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a 
outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compen-
sação a Municípios; e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.A Agência de Água cuja 
criação dependerá da autorização do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, ou dos Conselhos Es-
taduais de Recursos Hídricos, mediante solicitação de um ou mais Comitê de Bacia Hidrográfica, po-
derá atuar na área do Comitê solicitante, ou mais e outros Comitês que assim o desejarem. 
As Agências de Água deverão ser responsáveis pela cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua 
jurisdição e exercerão a função de Secretaria Executiva do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica. A 
criação das Agências está condicionada, em cada bacia, à prévia existência do respectivo Comitê de 
Bacia Hidrográfica e à viabilidade financeira, que poderá ser assegurada pela cobrança pelo uso de 
recursos hídricos.Os Comitês de Bacias Hidrográficas têm, dentre outras, as atribuições de: promover 
o debate das questões relacionadas aos recursos hídricos da bacia e articular a atuação das entidades 
intervenientes; arbitrar, em primeira instância, os conflitos relacionados a recursos hídricos; aprovar e 
acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia; estabelecer os mecanismos de co-
brança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; estabelecer critérios e 
promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.O Conselho 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, a ser oportunamente criado, será o órgão máximo normativo 
e deliberativo com atribuições de promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os 
planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários; deliberar sobre os projetos de 
aproveitamentos de recursos; acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos; esta-
belecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos e para cobrança pelo 
seu uso. 
 A Legislação Em Nível Estadual Projeto Macromonitoramento Ambiental 
Por ser estrita competência da União legislar sobre água, os Estados deverão estabelecer disposições 
sobre a administração de águas de seu domínio, subordinadas à legislação federal sobre águas e meio 
ambiente. Atualmente, 14 Estados dispõem de leis estaduais sobre gerenciamento de recursos, com 
fundamentos semelhantes à lei nacional. 
Todas essas leis prevêem Comitês de Bacia Hidrográfica, com composição variável, sendo a participa-
ção dos usuários denominador comum a todas. Somente em seis Estados prevêse a constituição de 
Agências de Bacias. A articulação entre a estrutura federal e as estaduais segue as seguintes diretrizes: 
a) articulação entre o Comitê de Bacia de rio de domínio federal com os Comitês estaduais da mesma 
bacia será feita caso a caso; b) articulação entre a Agência de Água, prevista na Lei n.º 9.433/97, e as 
Agências de Bacias previstas nas leis estaduais, também a ser definida caso a caso mediante negoci-
ação entre a União e os Estados intervenientes; e c) articulação entre a Secretaria Executiva do SIN-
GREH e os órgãos gestores estaduais. 
As soluções institucionais adotadas pelos Estados para o gerenciamento de recursos hídricos são ex-
tremamente variadas, principalmente no que se refere à existência de órgão ou entidades específicas 
de recursos hídricos, responsáveis pela outorga de direitos de uso dos recursos hídricos. 
Avaliação Dos Recursos Hídricos 
Rede Nacional De Quantidade E De Qualidade De Água 
Com o intuito de ampliar o conhecimento sobre a disponibilidade e a natureza dos recursos hídricos, a 
Secretaria de Recursos Hídricos do MMA está-se engajando no processo de recuperação, adensa-
mento e modernização da rede nacional de hidrometeorologia e de qualidade de água. 
A rede hidrometeorológica nacional, atualmente é composta por 5.138 estações, das quais 2.234 plu-
viométricas, 1.874 fluviométricas e 1.030 de outros tipos: sedimentométricas, telemétricas, de quali-
dade das águas, evaporimétricas e climatológicas. Além da rede hidrométrica nacional básica, outras 
instituições operam rede de interesse específico. Todos os dados destas redes, entretanto, são inseri-
dos em um banco nacional. Atualmente este banco de dados está sendo avaliado para definir sua 
modernização. 
Programa Nacional De Monitoramento E Avaliação Ambiental – MONITORE 
Está em estágio de implementação o Programa Nacional de Monitoramento e avaliação Ambiental - 
MONITORE que tem como objetivo principal a implementação de um sistema de monitoramento que 
gere e disponibilize, de forma permanente, a informação sobre a situação ambiental brasileira em áreas 
consideradas prioritárias, viabilizando a avaliação tanto das diferentes políticas setoriais do governo 
quanto do processo de ocupação e exploração do território. 
O Programa, que não substituirá nem pretende suplantar outros programas de monitoramento existen-
tes em níveis federal, estaduais e municipais, buscará integrar e agregar as diversas iniciativas exis-
tentes, otimizando recursos, evitando a duplicação de esforços e melhorando e complementando a 
qualidade da informação gerada. O Programa está estruturado com base em cinco componentes que 
formam o quadro ambiental brasileiro: ambiente costeiro e marinho, aquático continental, terrestre, at-
mosférico e urbano. Para avaliar o estado ou a qualidade ambiental estão sendo selecionados indica-
dores que permitirão uma visão geral da condição do ambiente analisado. 
A metodologia a ser adotada pelo Programa está baseada no modelo Pressão-Estado- Resposta (PER) 
adotado pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável -CDS das Nações Unidas -ONU. Esse mo-
delo sugere a utilização de indicadores das atividades humanas que causam pressão ao meio ambi-
ente, indicadores do estado do meio ambiente e recursos naturais e indicadores das respostas em 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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termos de políticas, programas e ações para proteção ambiental ou uso sustentável dos recursos na-
turais. 
Agricultura E Irrigação 
Atualmente 2,8 milhões de ha estão sendo utilizados com agricultura irrigada, dos 145 milhões de ha 
de área potencial a ser utilizada para agricultura, dos quais 45 milhões são potencialmente utilizáveis 
para agricultura irrigável. 16% da colheita de 1996/1997 são provenientes de áreas irrigadas. No âmbito 
do Programa Brasil em Ação pretende-se incorporar, nos próximos 4 anos, mais 490 mil ha à área de 
produção irrigável. No âmbito do programa "Novo Modelo de Irrigação". 
Energia Hidrelétrica 
A energia elétrica atende acerca de 92% dos domicílios no País. O consumo em 1996 atingiu cerca de 
258 TWh, comparável ao da Itália. A capacidade de geração instalada é de 57.640 MW, sendo 53.029 
MW (92%) em usinas hidroelétricas e 4.611 MW (8%) em usinas termoelétricas. A contribuição percen-
tual das usinas hidroelétricas para geração de energia (97%) é maior do que o percentual da potência 
instalada (92%) porque as usinas termoeléctricas ficam por muito tempo sem operar, só sendo aciona-
das em períodos secos, quando os reservatórios ficam perigosamente vazios. 
Novas usinas hidroelétricas podem ser construídas nas próximas décadas, em diversos locais já inven-
tariados, perfazendo um total de 107.307 MW de parque gerador instalado. O potencial hidroelétrico 
brasileiro é de cerca de 258.686 MW, dos quais apenas 20% já foram explorados. 
 Outro projeto em execução pelo IBAMA, intitulado “Macromonitoramento Ambiental”,foi elaborado vi-
sando dar suporte técnico e operacional ao órgão na atuação em quatro temas considerados prioritários 
para a gestão ambiental no país: recursos atmosféricos, recursos hídricos, energia e licenciamento 
ambiental. Prevê-se que as informações contidas nas bases de dados a serem desenvolvidas subsi-
diem os processos de licenciamento, controle e fiscalização ambiental, além da outorga de direito de 
uso e do enquadramento dos corpos hídricos. A utilização dessas informações permitirá que esses 
processos sejam interligados de forma mais eficiente. Uma vez consolidado o Projeto, a elaboração de 
relatórios de qualidade do meio ambiente poderá processar-se de forma automática e contínua. forta-
lecendo as atividades de licenciamento ambiental. 
Uso Múltiplo Da Água 
São inúmeros os setores que se utilizam dos recursos hídricos como insumo básico para suas ativida-
des. Há, no entanto, empenho governamental para que os critérios e normas setoriais sejam consis-
tentes com a legislação de recursos hídricos, de forma a permitir o disciplinamento desses diferentes 
usos. Dentre esses usos, destacam-se os seguintes: 
Saneamento Básico 
A análise da evolução dos níveis de cobertura dos serviços de saneamento no Brasil revela que houve 
melhorias sensíveis no atendimento à população, sobretudo urbana (IBGE, 1996). Por outro lado, cons-
tatam-se, ainda, déficits significativos, que refletem o padrão desigual de crescimento do País nas últi-
mas décadas. 
É notável, por exemplo, que um país cuja população urbana tenha aumentado 137% em 26 anos, 
passando de 52 milhões de pessoas em 1970 para 123 milhões em 1996, tenha conseguido elevar, 
nesse período, o nível de abastecimento de água dos domicílios ligados à rede geral, de 60% para 91,1 
%. Por outro lado mais de 11 milhões de pessoas que residem em cidades ainda não têm acesso à 
água através de rede canalizada. 
Atualmente, o principal déficit do Setor Saneamento está na área de esgotamento sanitário, mais es-
pecificamente no que tange ao tratamento de esgotos sanitários. Segundo dados do PNAD/96, 48,9% 
do esgoto gerado no Brasil é coletado em rede pública, sendo que apenas 32% é tratado, ou seja, 
somente 15,6 do total de esgoto gerado no Brasil é tratado. 
Outro aspecto a ser considerado refere-se ao desperdício de água nos sistemas públicos de abasteci-
mento. Estima-se que no Brasil esse desperdício (perdas físicas acrescidas das perdas de faturamento) 
pode chegar a 45% do volume ofertado à população, o que representa cerca de 4,68 bilhões de m3 de 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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água produzidos por ano. Adotando-se uma meta de 25% de perdas que representaria cerca de 2,08 
bilhões de m3 de água ao ano, poder-se-ia economizar algo em torno de R$ 1 ,02 bilhão por ano. 
Agricultura E Irrigação 
Atualmente 2,8 milhões de ha estão sendo utilizados com agricultura irrigada, dos 145 milhões de ha 
de área potencial a ser utilizada para agricultura, dos quais 45 milhões são potencialmente utilizáveis 
para agricultura irrigável. 
16% da colheita de 1996/1997 são provenientes de áreas irrigadas. No âmbito do Programa Brasil em 
Ação pretende-se incorporar, nos próximos 4 anos, mais 490 mil ha à área de produção irrigável. no 
âmbito do programa "Novo Modelo de Irrigação". 
 Energia Hidrelétrica 
A energia elétrica atende acerca de 92% dos domicílios no País. O consumo em 1996 atingiu cerca de 
258 TWh, comparável ao da Itália. A capacidade de geração instalada é de 57.640 MW, sendo 53.029 
MW (92%) em usinas hidroelétricas e 4.611 MW (8%) em usinas termoelétricas. A contribuição percen-
tual das usinas hidroelétricas para geração de energia (97%) é maior do que o percentual da potência 
instalada (92%) porque as usinas termoeléctricas ficam por muito tempo sem operar, só sendo aciona-
das em períodos secos, quando os reservatórios ficam perigosamente vazios. 
Novas usinas hidroelétricas podem ser construídas nas próximas décadas, em diversos locais já inven-
tariados, perfazendo um total de 107.307 MW de parque gerador instalado. O potencial hidroelétrico 
brasileiro é de cerca de 258.686 MW, dos quais apenas 20% já foram explorados. 
Transporte Hidroviário 
 
O Brasil conta com cerca de 40.000 km de rede hidroviária, da qual 26.000 km é precariamente nave-
gável. As principais hidrovias encontram-se nas bacias: Amazônica (18.300 km), Nordeste (3.000km), 
Tocantins/Araguaia (3.500 km), São Francisco (4.100 km) Leste (1.000 km), Tietê/Paraná (4.800 km), 
Paraguai (2.800 km) Sudeste (1.300 km) e Uruguai (1.200 km). 
Uma singularidade natural condicionou o desenvolvimento do transporte aquaviário interno no Brasil: 
as regiões mais desenvolvidas não são servidas por rios que possam levar a navegação diretamente 
aos portos marítimos. É o que ocorre, por exemplo, nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e Belo 
Horizonte, dentre outras. Essa situação inibiu o desenvolvimento da navegação interior e, de certa 
forma, contribuiu para a implantação da política rodoviária, que tem prevalecido nas últimas décadas. 
Por outro lado, na Bacia Amazônica, é essencial o papel exercido pela navegação, que é assegurada 
naturalmente pelas condições hidrográficas peculiares da região, onde se encontram cerca de 18.300 
km de hidrovias, destacando-se os rios Amazonas, Solimões, Negro, Branco, Madeira, Purus, Juruá e 
Tapajós. Dados do Ministério do Transporte, referentes a 1996, mostram que do total de 1,2 bilhões de 
toneladas de cargas transportadas naquele ano no Brasil, apenas 14 milhões de 20 toneladas/ano 
(cerca de 1,5% do total) foram transportados pela navegação fluvial, o que comprova, em termos glo-
bais, uma participação pouco expressiva no contexto do transporte de cargas do País. 
O Programa Brasil em Ação, do Governo Federal, prioriza desenvolver quatro hidrovias no biênio 98/99, 
a saber: Madeira, Araguaia-Tocantins, São Francisco e Tietê-Paraná. No contexto do Programa Brasi-
leiro de Desestatização, abrem-se possibilidades de participação da iniciativa privada no desenvolvi-
mento do setor hidroviário brasileiro. 
Uso Industrial 
Uma iniciativa para quantificar as demandas dos usos consuntivos (saneamento, indústrias e irrigação) 
foi realizada em 1980, partindo-se de critérios indiretos. Naquele trabalho, a estimativa de demanda 
industrial em 1980 foi de 247 m3/s, o que correspondeu a 23% da demanda consuntiva total no Brasil, 
estimada em 1.065 m3/s. Para 1990 a estimativa do consumo foi calculada em 1.156 m3/s para o Brasil 
e de 139 m3/s para a indústria, o que demonstra possível redução sensível no consumo industrial, 
inclusive na participação da indústria no consumo total no País (que passou de 23% para 12%). 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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Acredita-se que esta redução foi motivada por: i) internalização das exigências ambientais para as 
indústrias que de alguma forma participam do mercado externo com seus produtos ou pelo controle 
acionário ii) aumento dos custos da água nas áreas metropolitanas onde se situa a maioria das indús-
trias iii) aumento nos custos de energia para captação, tratamento e bombeamento de água iv) intro-
dução de programas de redução de custos, melhoria operacional e controle interno dos processos com 
vistas à redução de consumo de energia e insumos. 
Pesca E Aquicultura 
A captura comercial de pescado no Brasil é estimada em 700 mi toneladas anuais. Desse total, cerca 
de 220 mil toneladas são provenientes das pescarias em águas continentais (IBAMA, 1996). A pesca 
de água doce tem contribuído significativamente para a economia informal, constituindo para muitos a 
principal fonte de renda. É também a partir da venda do pescado excedente que os ribeirinhos, que se 
dedicam à pesca e à agricultura de subsistência, adquirem seus bens de consumo. Em algumas regi-
ões, o pescado representa a principal fonte de proteínas para as populações ribeirinhas. Na Amazônia, 
por exemplo, 70% do pescado capturado é provenienteda pesca de subsistência. 
Além das espécies comerciais importantes para o abastecimento do público, o Brasil possui uma 
grande diversidade de peixes ornamentais que sustenta uma atividade voltada principalmente para o 
mercado externo. Estima-se que existam 1.200 espécies de peixes ornamentais na Amazônia, das 
quais o IBAMA permite que 180 sejam comercializadas e exportadas. O estado do Amazonas exporta 
de 12 a 15 milhões de unidades por ano, número que pode chegar a 43 milhões/ano. 
O Brasil também apresenta condições favoráveis ao desenvolvimento da aquicultura, devido, ao grande 
potencial hídrico (rios, lagos e reservatórios), à diversidade de espécies de peixes nativas e espécies 
exóticas aclimatadas, às condições ambientais do país, ao mercado com demanda interna e externa 
insatisfeita e à infra-estrutura de apoio disponível (centros de pesquisa e estações de aquicultura). 
De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq, em 1995 a 
produção brasileira de pescado proveniente da aquicultura foi de cerca de 40.000 t. distribuídas na 
Região Norte (2.000 t.); Região Nordeste (6.000 t.); Centro-Oeste (6.000 t.); Região Sudeste (11.000 
t.); e Região Sul (15.000 t.). Esta produção é responsável por 10% da produção de pescado proveniente 
da aquicultura na América Latina e 5% da produção total de pescado no Brasil. 
Turismo E Lazer 
Destaca-se também o crescimento acelerado da atividade de turismo e lazer vinculada a recursos hí-
dricos. O setor privado vem fazendo investimentos significativos. Destaca-se o setor agropecuário que, 
para aumentar a renda e diversificar suas atividades, explora a riqueza paisagística, implementando o 
turismo rural. Os reservatórios construídos também se constituem em um importante potencial para o 
lazer da população. 
Programas E Projetos 
Principais Iniciativas Do Governo Federal 
Presentemente vários programas/projetos já estão implementados, outros em implementação ou em 
formulação, na área de gestão dos recursos hídricos no Brasil. Boa parte se desenvolve sob coorde-
nação dos Estados interessados. Neste documento será dada ênfase à apresentação dos programas 
e projetos mais importantes, desenvolvidos sob coordenação do Governo Federal que, por princípio, 
são as intervenções de natureza mais abrangente. Destaca-se, também, a apresentação das interven-
ções financiadas pelos organismos multilaterais de cooperação. 
Sob à coordenação da Secretaria de Recursos Hídricos seguintes os programas atualmente em de-
senvolvimento: 
O Programa PROÁGUA SEMI-ÁRIDO, visa a ampliação da oferta de água de boa qualidade para o 
abastecimento humano no semi-árido brasileiro. Em 1997, concluíram-se as atividades de estruturação 
do Programa, bem como sua viabilização junto a alguns organismos financeiros. Ainda em 1998, esta-
rão concluídas as negociações com o Banco Mundial, o que permitirá a assinatura de acordos com os 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
15 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
governos estaduais para o início da operacionalização do Programa. No momento procede-se à con-
solidação dos instrumentos de implementação e à preparação de projetos para a implantação de oito 
obras prioritárias. 
O Programa PROÁGUA NACIONAL tem características semelhantes, porém com áreas de atuação 
distinta. O Programa começou a ser formulado em 1996 e hoje se encontra inserido no conjunto de 
programas do Brasil em Ação. Sua programação inclui trabalhos na área de prevenção e controle de 
enchentes. Ao longo de 1997, foram realizados investimentos que deverão beneficiar cerca de 3 mi-
lhões de pessoas nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Santa Catarina. O 
programa inclui também obras de dragagem e retificação e canalização de cursos d’água. 
O Projeto Água Boa, que busca aumentar a disponibilidade de água potável, principalmente, para o 
atendimento das comunidades da Região Semi-Árida do Brasil, tem por base técnica a dessalinização 
de águas salobras dos poços profundos com a utilização do processo de osmose inversa. 
O Programa de Conservação e revitalização dos Recursos Hídricos, visa contribuir para com o controle 
da poluição dos recursos hídricos e, consequentemente, aumentar a disponibilidade de água em quan-
tidade e qualidade em várias bacias no Brasil. O objetivo geral desse Programa é de proporcionar a 
revitalização, onde se fizer necessária, e à conservação onde ainda for possível, dos recursos hídricos 
como um todo, sob a ótica do ciclo hidrológico, através do manejo dos elementos do meio físico e 
biótico, tendo a bacia hidrográfica, prioritariamente as áreas de nascentes, como unidade de planeja-
mento e trabalho. 
O Programa Fortalecimento Institucional: este programa tem por objetivo principal o fortalecimento da 
Secretaria de Recursos Hídricos e das Secretarias Estaduais de Recursos Hídricos. No âmbito deste 
programa, que tem o apoio direto do Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola - IICA, está sendo 
desenvolvido a maioria das atividades da Secretaria. 
O Programa Rede Universitária de Cooperação em Recursos Hídricos, tem por objetivo estabelecer 
um elo entre os professores e estudantes de Universidades, facilitando o intercâmbio de conhecimento 
e promovendo a gestão descentralizada dos Recursos Hídricos. Atualmente cerca de trinta instituições 
com aproximadamente 180 projetos participam da rede. 
Planos Municipais de Recursos Hídricos, têm por objetivo dar apoio a prefeituras para prepararem seus 
planos de gerenciamento de recursos hídricos, de acordo com a legislação vigente. Este programa tem 
um forte envolvimento da sociedade. Atualmente cerca de 50 municípios estão envolvidos nesta ativi-
dade. 
Estudos Básicos de Recursos Hídricos: este programa tem por objetivo tornar disponíveis metodologi-
camente e tecnologias, dando e informações cartográficas georeferenciadas, programas de computa-
ção e outros instrumentos para o apoio ao gerenciamento de Recursos Hídricos. 
Gestão Integrada das Bacias do Alto Paraguai e do São Francisco: O Fundo para o Meio Ambiente 
Mundial -GEF está analisando ambas as propostas, que já foram aprovadas nas instâncias nacionais 
e no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA. Ambos os projetos visam imple-
mentar um sistema de gestão integrada dos recursos hídricos. visando a inserção econômica no pro-
cesso. 
Processamento de dados hidrometeorológicos: a consistência de dados é fundamental para a implan-
tação de um sistema de informação hidrometeorológica e de qualidade de água. Por este motivo estão 
sendo concluídas as negociações para que se tenha um sistema centralizado, coordenado pela Secre-
taria e disponível a todos os usuários. 
Programa de Qualidade de Água - PRONAGUA: visa implementar um modelo de gestão e monitora-
mento da qualidade de água. Este programa baseia-se numa rede de laboratórios de referência em 
todo o País para apoio ao processo de decisão das autoridades locais e dos Comitês de Bacia. Com 
os dados a serem obtidos serão desenvolvidos programas de simulação. Outros instrumentos como 
Sistema de Informação Geográfica - SIG serão usados para apoio a este projeto. Assim sendo, as 
informações sobre qualidade de água deverão ser disponibilizados para o público, facultando sua par-
ticipação no processo de gestão. 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
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No Âmbito da Secretaria de Política Urbana, do Ministério do Planejamento e Orçamento, destacam-
se: 
O PRO-SANEAMENTO tem como objetivo o aumento da cobertura de serviços de abastecimento de 
água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e resíduos sólidos urbanos, além da ampliação dos 
níveis de eficiência dos prestadores de serviço. Dentro desse programa, a modalidade Esgotamento 
Sanitário destina-se ao aumento da cobertura ou ao tratamento e destinação final adequados dos eflu-
entes. A modalidade Resíduos Sólidos destina-se ao financiamento de obras para aumento da cober-
tura dos serviços de tratamento e disposiçãofinal adequada de resíduos sólidos urbanos. Ainda dentro 
deste programa, existe uma medida de incentivo à modalidade Esgotamento Sanitário, onde a taxa de 
juro é inferior às das demais modalidades do programa. 
O PQA – Projeto Qualidade das Águas e Controle da Poluição Hídrica – tem por objetivo geral apoiar 
técnica e financeiramente a preparação de programas de investimento destinados ao saneamento am-
biental em bacias hidrográficas que apresentem elevado nível de comprometimento, destacadamente 
em áreas de grande densidade urbana e intensa dinâmica produtiva. Trata-se de uma iniciativa de 
caráter inovador, pautada pela conjugação de esforços simultâneos, na busca de soluções que levam 
em consideração: intervenções físicas, desenhadas sob uma perspectiva sistêmica e multidisciplinar, 
capazes de promover a recuperação e a proteção da qualidade do meio ambiente e, consequente-
mente, a melhoria da qualidade de vida das populações que habitam regiões metropolitanas ou aglo-
merações urbanas importantes no contexto nacional, segundo equações de menor custo e máximo 
benefício ambiental; e ii) arranjos institucionais, capazes de propiciar uma gestão sustentável nas ba-
cias hidrográficas, inclusive mediante o desenvolvimento de instrumentos econômicos de gestão do 
meio ambiente e dos recursos naturais. 
O PROGEST -Programa de Apoio à Gestão dos Sistemas de Coleta e Disposição de Resíduos Sólidos 
-objetiva apoiar a implantação de uma política de âmbito nacional para o setor de resíduos sólidos 
urbanos, voltada ao equacionamento dos problemas de coleta e disposição final. Suas ações benefi-
ciam, entre outros, os municípios situados nas áreas de proteção de mananciais, contribuindo, dessa 
forma, na prevenção da poluição ambiental e,portanto, indiretamente, auxiliam na conservação dos 
corpos d'água e no aumento da oferta de água em qualidade e quantidade adequadas à utilização. 
O PMSS -Projeto de Modernização do Setor Saneamento –constitui-se em um instrumento da Política 
Nacional de Saneamento visando ao reordenamento, à eficiência e à eficácia dos serviços de sanea-
mento, adotando uma estratégia que consiste sobretudo em induzir a eficiência dos operadores públi-
cos, e estabelecer e induzir a participação de empreendedores e operadores privados. Essas ações de 
reordenamento seriam basicamente representadas pela assistência técnica do Governo Federal vi-
sando à criação de marcos regulatórios, modelos de gestão e para a melhoria da eficiência da presta-
ção de serviços. Os marcos regulatórios vão estabelecer padrões de qualidade para a prestação de 
serviços englobando a adequada utilização dos recursos hídricos para o abastecimento de água, assim 
como a qualidade dos efluentes lançados nos corpos receptores. O componente Investimento atua 
através de ações diretas de reabilitação, otimização e ampliação de sistemas de coleta e tratamento 
de esgotos sanitários. 
O PASS -Programa de Ação Social em Saneamento -está voltado para a implementação de projetos 
de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta e destinação de resíduos sólidos nas áreas 
de maior concentração de pobreza nas grandes cidades e nos municípios de pequeno e médio portes 
visando à melhoria da saúde e das condições de vida da população. Através das ações de esgotamento 
sanitário e coleta e destinação de resíduos sólidos, o programa atua diretamente no controle da polui-
ção hídrica e indiretamente, na conservação dos corpos d'água. 
O PROSEGE -Programa de Ação Social em Saneamento foi concebido e estruturado para gerar duplo 
benefício aos segmentos mais vulneráveis da população dos grandes e médios centros urbanos do 
país. Ao mesmo tempo em que viabilizou soluções temporárias de problemas críticos de desemprego, 
especialmente no setor de construção civil, com a execução de projetos de implantação/ampliação de 
sistemas de esgotamento sanitário, incrementou a cobertura de serviços de saneamento, com os con-
sequentes efeitos favoráveis à saúde e à qualidade de vida das populações beneficiárias. O programa 
se desenvolveu no sentido de proporcionar a melhoria das condições de vida de populações de baixa 
renda, mediante investimentos em saneamento básico, preferencialmente em projetos com garantidas 
viabilidade ambiental e viabilidade técnica, financeira e sócio-econômica. 
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 
 
17 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
O Programa PROSANEAR prevê ações integradas em saneamento, envolvendo, entre outras, implan-
tação e melhoria dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, afastamento de resí-
duos sólidos e microdrenagem, em áreas urbanas degradadas ocupadas por população de baixa renda, 
em cidades com mais de 50.000 habitantes. A prevenção da poluição, e, consequentemente, a conser-
vação e aumento da oferta de água nos mananciais da região, é um dos efeitos do programa ao se dar 
um destino final apropriado tanto para os esgotos como para os resíduos sólidos. 
O Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água, tem como objetivo geral promover o uso 
racional da água para abastecimento público, em benefício da saúde pública, do saneamento ambiental 
e da eficiência dos serviços. A estratégia do programa consiste em identificar e implantar um conjunto 
de medidas que revertam o quadro de desperdício identificado, a partir de ações e instrumentos tecno-
lógicos, normativos, econômicos e institucionais, concorrentes para uma efetiva economia de água. 
Experiências Brasileiras Em Gestão De Bacias 
As primeiras experiências brasileiras de gestão de bacia hidrográfica datam dos anos 30, com a imple-
mentação, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, de sistemas que propiciavam, além da 
produção de energia outros usos da água, a regularização da vazão de cursos de água e o controle de 
inundações. Essas experiências se intensificaram a partir do fim da década de 70, com a criação do já 
extinto CEEIBH (Comitê Especial de Estudos integrados de Bacias Hidrográficas), de abrangência na-
cional, e de vários comitês de rios federais. 
Em face da demora na regulamentação do processo de gerenciamento das águas no País, várias ini-
ciativas de gestão foram iniciadas desde então, o que permite dispor, hoje, de uma variada gama de 
sistemas implantados, o que certamente irá contribuir para auxiliar um processo mais estruturado e 
formalizado na implementação do gerenciamento integrado dos recursos hídricos. Destacam-se a se-
guir, dentre várias, algumas dessas experiências em curso. 
Comitês De Bacias 
No âmbito de um Acordo de Cooperação Técnica Brasil-França estabeleceram-se dois projetos para o 
gerenciamento integrado de bacia hidrográfica, que vêm sendo desenvolvidos nas bacias do rio Para-
íba do Sul e do rio Doce. Respectivamente. 
O Projeto Rio Doce, iniciado em maio de 1989, teve sua primeira etapa concluída em maio de 1992. 
Foi a primeira simulação no Brasil da implantação de um sistema baseado na gestão integrada por 
bacia, como base concreta de desenvolvimento sustentável. A partir do diagnóstico da bacia, foi elabo-
rado um primeiro plano de ação e simulado um sistema de cobrança pelos usos da água (quantidade, 
qualidade), usos dos solos e financiamento de obras por um sistema de Agência e Comitê de Bacia. 
O termo de referência do Projeto Paraíba do Sul definia, como objetivo, adquirir experiência sobre o 
sistema de Gestão Integrada de Bacia Hidrográfica, baseado nos princípios usuário-pagador e "polui-
dor-pagador". Desde 1992, o Projeto Paraíba do Sul vem reunindo um importante acervo de estudos 
sobre a bacia, operando redes de medição de campo permanentes. A primeira meta técnica do projeto 
foi atingida, em novembro de 1993, com a implantação, no Rio de Janeiro, de um Centro de Gestão 
Integrada da Bacia. 
Ainda com relação a essa bacia, deve-se ressaltar que, em 1996, após intensas discussões entre es-
tados que integram a Bacia e os ministérios envolvidos na Bacia, chegou-se a um consenso sobre a 
reformulação do Comitê de Bacia. Por

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