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Port Market Planning Logística: Domínio da Produção pelo Cliente A concorrência nos mercados é realizada, cada vez mais, a nível global e implica estratégias de marketing mais orientadas para nichos e tipologias de clientes com necessidades específicas, conduzindo a produtos personalizados, de elevada qualidade, produzidos e distribuídos a baixo custo, com componentes de várias origens a nível global, com reduzidos ciclos de vida (Chlomoudis, Karalis e Pallis, 2002), com complexas gamas de variedade e prazos de entrega reduzidos e fiáveis. Num mercado mais exigente e concorrencial, com os efeitos drásticos do confronto com os produtos oriundos da China, a baixo custo, os departamentos de marketing das empresas passaram a dominar a produção e o produto, ou seja, o cliente e as suas necessidades e desejos, espontâneos ou gerados pela comunicação comercial, passaram a dominar por completo o modelo de produção. As unidades industriais já não podem apenas produzir os seus “chouriços” sempre iguais, por isso a baixo custo, depois distribuídos por todo o lado, com vantagens de preço. Os Chineses fazem isso melhor. Hoje, as unidades industriais tornaram-se unidades flexíveis, móveis, adaptáveis “on-line” aos pedidos da procura e à imaginação do Marketing e das suas campanhas. Os produtos estão em constante inovação, mudando de forma, de imagem e de qualidade. Os stocks não existem e as cadeias logísticas são puxadas ao extremo para que reduzam custos, sejam mais fiáveis e rápidas. Os produtos devem chegar quando os clientes querem, à medida das suas necessidades e com reduzido custo. O transporte, a gestão dos materiais e a distribuição física tiveram que se adaptar, surgindo, nos anos 90, a logística transformada em gestão da cadeia de abastecimento – SCM – Supply Chain Management - (Hesse e Rodrigue,2004), que consiste num compromisso entre as necessidades do marketing (Chlomoudis, Karalis e Pallis, 2002), da produção e da globalização, materializados fisicamente com meios de transporte, terminais, armazéns e sistemas de informação especializados, sincronizados e optimizados, trabalhando de forma flexível e adaptativa, quase que como uma rede de organismos vivos, em muitos dos casos. Existem diversos tipos de redes de relações entre empresas no domínio da SCM, onde se inserem obviamente os portos, como são os casos descritos por Chlomoudis, Karalis e Pallis, 2002: Tipo de Rede Lógica Operacional Estável Elementos de negócio de diversas empresas, em número limitado, criam ligações, com diferentes funções. Interna Elementos de negócio detidos pela empresa são afectados à cadeia de valor, usando os mecanismos de mercado. Dinâmica Elementos de negócio independentes criam alianças temporárias ao longo da cadeia de valor, enquanto parceiros escolhidos dentro da variada oferta do mercado. As redes de abastecimento dinâmicas, que são actualmente a maioria na vertente logística SCM, deverão ser consideradas como Sistemas Adaptativos Complexos - CAS (Choi, Dooley e Rungtusanatham, 2000), obedecendo aos princípios dinâmicos: Mecanismos Internos, Co-evolução e ambiente. No que respeita aos mecanismos internos, os CAS podem ser descritos como um conjunto de agentes ligados, auto-organizados, com um conjunto de valores ou regras comuns, com maior ou menor grau de conectividade e um valor crítico máximo admissível. Possuem um maior ou menor controlo central e estão sujeitos à propriedade da emergência, ou seja, à nova emergência natural de agentes, ligações e propriedades, sem intervenção exterior (Choi, Dooley e Rungtusanatham, 2000). Em termos de ambiente e co-evolução, os CAS estão sujeitos a dinamismo constante, encontrando-se no limiar do caos, actuando num ambiente “enrugado” em constante alteração, numa “paisagem” montanhosa em que existem vários topos possíveis para maximizar as suas funções objectivo, sendo necessário escolher de forma complexa (Choi, Dooley e Rungtusanatham, 2000). Apesar de as mudanças não serem lineares, isto é, nem sempre o mesmo grau ou sentido de mudança de uma variável afecta as outras da mesma forma, intensidade ou sentido, tal não quer dizer que o futuro é imprevisível, sendo antes sujeito a padrões de mudança típicos para casos, previsíveis através de sistemas matemáticos não lineares (Choi, Dooley e Rungtusanatham, 2000). É neste contexto que os portos se devem integrar em termos logísticos, olhando para as necessidades, requisitos e parceiros das diversas redes de abastecimento e procurando criar ligações e adaptar constantemente a sua oferta. Os portos deverão também ser, eles próprios, sistemas dinâmicos de unidades – empresas portuárias, por forma possuirem condições para serem escolhidos e a integrarem as redes CAS logísticas. Marketing Portuário Estas mudanças ao nível do marketing e da logística originaram fortes alterações nos portos a nível mundial. Até então orientados para a operação e a criação de infraestruturas multiusos para utentes desconhecidos, cujas cargas ali chegam nos navios, passaram a ter que conhecer não só as suas quantidades de carga, mas os tipos de mercadorias, a sua localização, as suas unidades produtivas, as suas redes logísticas, as suas necessidades específicas. O tempo passou a ser um requisito fundamental, a comprimir desde a encomenda, a sincronizar na cadeia intermodal, a fiabilizar até às entregas e a tornar frequente (Sommar e Woxenius, 2007) nos serviços do transporte marítimo. No mar, os contentores e as linhas regulares de grandes navios porta-contentores semanais ou bissemanais assumiram este papel. Mas só os portos que respondem aos requisitos das CAS podem ser escolhidos por estas. Os portos possuem um papel que vai muito além dos tradicionais objectivos de curto prazo, operacionais, de simples prestação de serviços básicos ao navio e à carga, como interface entre a terra e o mar, sendo hoje locais ideais para a localização de funções que acrescentem valor à carga no âmbito da logística/produção industrial, mas igualmente nas vertentes do lazer e do turismo (Bichou e Gray, 2004). Também no longo prazo a missão dos portos tem evoluído significativamente, deixando de ser apenas um tradicional pólo de desenvolvimento, gerador de emprego e facilitador do comércio internacional das empresas (Bichou e Gray, 2004), para passar a ser um elemento essencial da política económica e da política dos transportes, nomeadamente intermodal, objectivando-se desenvolver “hubs” logísticos catalisadores de ligações a muitas redes de abastecimento com sucesso, com actividades a nível global, contribuindo para a competitividade das empresas e das pessoas, ou seja, serem factores competitivos das regiões em que se inserem. Anteriormente, os portos possuíam hinterlands cativos bem definidos e existiam porque as empresas e as pessoas da região tinham que ser servidas. Hoje, por efeito das estratégias de marketing das empresas, da logística SCM, da globalização e da melhoria das acessibilidades terrestres (UNCTAD 1990), os portos também passaram a concorrer de forma mais agressiva pela participação nas redes logísticas mais importantes, que competem entre si, atingindo hinterlands distantes e difusos (Meersman, Van de Voorde e Vanelslander, 2002). Por outro lado, se actualmente os portos de uma mesma região estão cada vez mais em competição entre si, também existem “clusters” de portos com o mesmo tipo de oferta e localizados numa mesma região, que concorrem com outros “clusters” de portos de outras regiões e, existem “ranges” de portos de uma mesma região, neste caso, cada porto com diferentes ofertas que podem ou não ser coordenadas (Hoste, loyene Vanfraechem, 2006). Hoje são exigidas aos portos novas funções e competências, como é o caso da fiabilidade, colaboração, transparência, competitividade e especialização, procurando ser escolhidos pelas redes logísticas, em detrimento de outros portos (Dekker, 2005). Neste contexto, surgiram recentemente as novas funções de marketing dos próprios portos e dos seus terminais portuários, que possuem como horizonte o médio prazo e estão associadas à satisfação das especificações e dos requisitos dos clientes representantes das redes de abastecimento que dominam a componente portuária e marítima, e que se traduzem em novos objectivos de procura de tráfegos intermodais de contentores, maior movimento em volume e maiores receitas, que permitam recuperar os cada vez mais pesados investimentos que é necessário realizar em grandes e especializadas infraestruturas e acessibilidades marítimas e terrestres (Dekker, 2005). Este novos objectivos vieram também provocar mudanças profundas na operação portuária, no planeamento portuário e no sistema de organização e posicionamento do porto face à restante economia (Dekker, 2005). O crescente domínio das funções do marketing nas indústrias implicou mudanças nas redes logísticas e processos complexos e agressivos de escolha dos parceiros nas redes, nomeadamente no que se refere aos portos, obrigando ao desenvolvimento das estratégias de marketing portuário, enquanto instrumentos de adaptação dos portos às necessidades das redes, procurando-se contrariar o efeito de inércia das infraestruturas portuárias naturalmente pesadas no longo prazo. Esta mudança levou à especialização dos terminais portuários e, por vezes, à adaptação extrema às exigências das cadeias logísticas modernas (Chlomoudis, Karalis e Pallis, 2002) e do transporte marítimo, implicando fortes alterações nas operações portuárias do dia-a-dia, com a imposição de ritmos crescentes, formação intensiva, colaboração com os clientes, enfoque na qualidade e introdução da iniciativa privada nos portos, através do mecanismo das concessões de terminais portuários de serviço público e dedicados e do fornecimento de novos serviços de valor acrescentado nos portos. Níveis da Gest Prazo Longo Médio Port Market Planning O mesmo aconteceu ao planeamento portuário e macrologístico do hinterland dos portos, com a introdução dos novos conceitos dos terminais de contentores de águas profundas, a intermodalidade, as áreas de actividades logísticas adjacentes, sistemas de informação de fluxos, segurança na cadeia de abastecimento, acessibilidades fluidas e extensos terraplenos. O planeamento portuário é um processo lento devido à grande dimensão dos investimentos, ao tempo necessário para a sua concretização, à sua longa vida útil e inflexibilidade das infraestruturas. Mas actualmente implica uma crescente adaptação ao novo paradigma do mercado em mudança e às necessidades logísticas das redes, das cargas e dos navios e à flexibilidade e modernidade necessárias às funções do marketing das empresas, a que se adicionam as novas necessidades de reconversão das frentes ribeirinhas devolutas de antigas funções portuárias, com fundos, terraplenos e acesso inadequados aos portos modernos, localizados no interior de cidades, que passam a ter funções relacionadas com o lazer, a náutica de recreio, a cultura, o turismo e a restauração. O planeamento portuário tem ainda que ter em conta os modelos de relacionamento cidade-porto (Lopez, 2004) e de crescimento normal dos grandes portos a nível mundial, procurando imitar as estratégias vencedoras. O Planeamento portuário passou a ter que olhar também para o cliente, que não é actualmente apenas a carga e o navio propriamente, mas as redes logísticas destes, em terra e no mar, ou os seus representantes a cada momento, com os quais os portos devem estabelecer parcerias, que são sempre temporárias, para determinados negócios, durante um certo tempo, num contexto de turbulência dos mercados e de aceleração das mudanças nas redes logísticas, incluindo a concorrência de outros modos de transporte e portos, por vezes a maiores distâncias ou com viagens adicionais que, á primeira vista, pareceriam não viáveis. É neste âmbito que o planeamento director a 10 e 20 anos, se transformou num planeamento estratégico a 3/5 anos, que procura identificar oportunidades, pontos fortes e fracos, redefinindo o produto portuário na sua base infra-estrutural e de localização e características geográficas, procurando que os atributos físicos, a logística e os preços sejam adequados a captar as redes logísticas pretendidas e assim os clientes - cargas e navios -, identificados como alvo, ou seja, trata-se de um novo conceito de Port Market Planning, muito próximo do Planeamento Estratégico, não baseado em grandes planos directores, mas em planos flexíveis de negócios orientados para o mercado.
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