Prévia do material em texto
1 CBI of Miami 2 CBI of Miami DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o mesmo estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. 3 CBI of Miami Nossa Relação com o Ambiente: Uma Tarefa Científica Lucelmo Lacerda Tudo o que os seres humanos fazem é comportamento e há muitas formas de falar sobre as inúmeras possibilidades de agir no mundo, mas a perspectiva mais consolidada e útil é pensar em termos de Comportamento Respondente e Comportamento Operante, cujo conhecimento vai permitir que sigamos aprendendo sobre as possibilidades de modificação do comportamento das pessoas para melhorar sua qualidade de vida. Não vamos fugir da ordem clássica de apresentação, tratando primeiramente do Comportamento Respondente, ou reflexo, ou inato, que constituem a base dos comportamentos mais fundamentais e de nossas emoções. O Comportamento Respondente é aquele que é eliciado por estímulos do ambiente, ou seja, o Respondente ou Reflexo é uma relação específica estabelecida entre um evento físico do ambiente que afeta o organismo, através de seus sentidos (estímulo), provocando um certo comportamento (eliciação) de maneira automática. Quando falamos sobre este tipo de comportamento, usamos um esquema visual para comunicarmos do que estamos falando, neste caso, é usual se usar o S para cumprir o papel do estímulo (do inglês Stimulus) e o R para cumprir o papel da ação propriamente do organismo, sua Resposta (no inglês também começa com a mesma letra, Response) entre um e outro, a relação estabelecida não é óbvia, é uma eliciação, uma relação direta e automática, por isso usamos uma seta, ficamos então desta forma: S R Sim, é a famosa formulazinha que todo mundo confunde com a Análise do Comportamento, o Estímulo-Resposta, que é parte do conhecimento desta ciência gigantesca, mas não se confunde com ela. Uma pergunta muito pertinente aqui é a seguinte: por que este estímulo específico elicia esta resposta específica? O Comportamento Respondente foi selecionado na história de algo muito maior do que eu ou você, mas sim de nossa espécie. Vamos dar alguns exemplos de comportamento respondente: 4 CBI of Miami Diante de mais luz Contraímos as pupilas Permite ver mais rápidos em mudanças de luz e se proteger rapidamente em situações de perigo Diante da visão da carne Salivamos A comida é digerida muito melhor no estômago Diante de um predador Ficamos pálidos Uma ferida superficial sangrará menos em curto prazo (enquanto fugimos) Diante da visão de um parceiro Ficamos excitados Possibilidade de reprodução Veja, não se trata da “mãe natureza” criando regras e benefícios para equilibrar as coisas ou “caprichar” em nosso corpo, é uma questão evolutiva, todos nós temos diferenças mútuas, elas vêm tanto de nossa coleção única de genes, nossa história e seu impacto na expressão dos genes que possuímos e especialmente, das mutações genéticas que possuímos, cada um de nós. Na maior parte das vezes, essas mutações não possuem impacto positivo ou negativo, são simplesmente diferenças que, não trazendo nenhum benefício específico, não devem prosperar expressivamente, quando esta alteração traz um prejuízo, então ela provavelmente cria as circunstâncias em que eu portador dificilmente passa à frente seus genes. Então imagine, no Paleolítico, algum ser humano que empalidecia sempre que era perseguido por um animal selvagem, por uma mutação ou por herança genética dos pais. Em ambos os casos, ele sangraria muito menos do que outros membros do mesmo grupo que não possuíssem esta genética, de modo que tinham muito mais possibilidades de sobrevivência, deixando mais filhos com suas características genéticas, que acabam se tornando praticamente universais na nossa espécie. Esses estímulos que eliciam em nós comportamentos respondentes não têm nenhuma relação com nossa história particular e sim com a história da nossa espécie. Chamamos estes estímulos de ESTÍMULOS INCONDICIONADOS, ou seja, não aprendidos, eles eliciam essas respostas porque herdamos esta 5 CBI of Miami sensibilidade já em nosso organismo. A palavra Incondicionado que dizer não aprendido, enquanto condicionado quer dizer aprendido. Uma resposta respondente não pode ser ensinada, uma pessoa não passa a apresentar uma resposta respondente porque aprendeu em sua história de vida, ou seja, a resposta em si é sempre incondicionada, mas o estímulo que a elicia não, ele pode ser aprendido. Podemos ter, portanto, ESTÍMULOS CONDICIONADOS, ou seja, aprendidos, estímulos que em princípio não eliciam nada, mas passam a eliciar. Mas na história da humanidade, aqueles nossos antecessores também se movimentavam em diversos ambientes distintos e nossa história biológica, a Filogenética também selecionou aqueles que em princípio não tinham nenhum comportamento eliciado por um certo estímulo, mas aprendiam esta relação por meio do pareamento de estímulos, isto é, da apresentação contínua de um estímulo eliciador incondicionado (ou seja, um estímulo do ambiente que elicia uma certa resposta “naturalmente”) com um outro estímulo que não elicia nada, aquilo que chamamos de estímulo neutro. Esta relação foi muito bem demonstrada pelo médico Ivan Pavlov, em um experimento clássico, em que o pesquisador expôs cachorros a dois estímulos diferentes, a visão da carne e o som de uma sineta. A visão da carne eliciou a salivação e o som da sineta era neutro, não eliciou resposta alguma. Estímulo Resposta eliciada Conclusão Visão da carne Salivação Visão da carne é estímulo eliciador incondicionado da salivação Som da sineta Nenhuma Som da sineta é estímulo neutro 6 CBI of Miami Após esta testagem, Pavlov expôs os cães aos dois estímulos de maneira simultânea: Estímulo Resposta eliciada Conclusão Visão da carne + Som da sineta Salivação Cão saliva em função da visão da carne. Ou seja, a visão da carne elicia a salivação. Após um certo tempo (60 exposições), ocorreu um aprendizado interessante: Estímulo Resposta eliciada Conclusão Som da sineta Salivação Cão saliva em função do som da sineta. Ou seja, o som da sineta passou a eliciar a salivação. Som da sineta se tornou, portanto, um Estímulo Eliciador CONDICIONADO (ou seja, aprendido) Muita atenção a este ponto em particular, que vou colocar em tópicos aqui para fixação: • Não se aprende uma nova resposta respondente, a resposta é sempre uma daquelas já instalada em nossa biologia, mas aprende-se um novo contexto em que esta resposta aparece; • Portanto, temos novos comportamentos respondentes, não porque a resposta seja diferente, mas porque “comportamento” diz respeito à relação entre estímulo e resposta e não somente a resposta; • Ou seja, o comportamento respondente original do caso exemplificado é Visão da carne elicia salivação e o comportamento respondente aprendido é Som da sineta elicia a salivação; • A visão da carne era, portanto, um estímulo eliciador incondicionado; • O som da sineta se tornou, portanto, um estímulo eliciador condicionado; • O comportamento de salivar diante da carne era, portanto, um comportamento respondente incondicionado; 7 CBI of Miami • O comportamento de salivar diante do som da sineta era, portanto, um comportamento respondente condicionado. Se algo foi aprendido, chamamos de Condicionamento, neste caso, um médico realizou um experimentoem que isto ocorreu, mas este Condicionamento ocorre a todo momento em nossa vida, independentemente de alguém ter feito isso de maneira planejada. Nós, por exemplo, passamos a salivar, quando estamos privados de comida, ao ouvir o som de talher batendo no prato. É claro que nenhum de nós come pratos, mas durante nossa vida, o barulho dos talheres batendo nos pratos ocorreu não 60, mas milhares de vezes, enquanto nós ou outras pessoas comem com esses talheres. Existem algumas “regras” importantes para compreender como e quando esses condicionamentos respondentes acontecem em maior frequência ou velocidade e vou aqui sumarizar esses elementos importantes: Lei da Magnitude-Intensidade Quanto maior a magnitude do estímulo, tanto maior será a intensidade do comportamento eliciado. Ou seja, há uma relação de proporcionalidade entre o comportamento que será eliciado, que pode ser medido em termos de distensão da perna no reflexo patelar, em milímetros de líquido no comportamento de suar, ou de saliva no comportamento salivar, na proporção da contração da pupila em relação à magnitude do estímulo a que o organismo é exposto, à pressão no joelho, ao calor, à quantidade de luz, que são os fatores eliciadores. Lei da Latência Além de aumentar a intensidade do comportamento respondente, a magnitude do estímulo eliciador também impacta do tempo decorrido entre sua apresentação e o comportamento eliciado, a este intervalo chamamos de “latência”, de modo que o reflexo patelar é mais imediato tanto maior for a pancada no joelho, assim como o suor ou a contração da pupila quanto maior também a magnitude dos estímulos que os eliciam. 8 CBI of Miami Lei do Limiar, Somação Subliminar e Fadiga Respondente Um estímulo, no entanto, precisa ocorrer com um mínimo de magnitude para que seja capaz de eliciar uma resposta. Por exemplo, um único fóton a mais (exagerando para ficar bem claro) não seria capaz de eliciar uma resposta de contração da pupila, assim como um toque suave no joelho não elicia o reflexo patelar e assim por diante, é preciso que haja um mínimo de magnitude para que a resposta ocorra. No entanto, há muito mais a se saber sobre isso, a primeira coisa é que este nível que é o limiar a partir do qual o comportamento é eliciado não é um valor fixo, ele pode variar entre diferentes contextos do organismo. Em um determinado dia ou situação, podemos estar mais sensíveis ao frio e nos arrepiarmos mais, a um estímulo sexual e termos mais probabilidade de uma ereção ou lubrificação, assim como a qualquer outro estímulo. Estimulações subliminares, isto é, de magnitude inferior ao mínimo necessário para a eliciação de um comportamento respondente podem, no entanto, se acumularem, produzindo o que é chamado de Somação Temporal Subliminar, eliciando também o comportamento respondente por este processo de muitas estimulações consecutivas. Também ocorre de um respondente ser eliciado continuamente por um estímulo acima do limiar e após um certo tempo de eliciação consecutiva, então haver uma fadiga do organismo, um cansaço que faz com que aquele mesmo estímulo não elicie o comportamento respondente, ele só será eliciado, neste caso, com uma maior intensidade do estímulo, é a chamada Fadiga Respondente. Basta imaginar que fiquemos dando pequenas marteladas no joelho de uma pessoa para assistir a sua perna se distendendo e que façamos isso dezenas ou até centenas de vezes de maneira consecutiva, depois de certo tempo será necessária uma pressão muito maior para que o comportamento aconteça, ao menos na mesma intensidade. Habituação e Potenciação Também é possível que o organismo se transforme, no decorrer do tempo de sua relação com o ambiente e na relação entre a magnitude do estímulo e a 9 CBI of Miami intensidade da resposta através dos fenômenos da habituação e da potenciação, que indicam uma maior ou menor sensibilidade aos estímulos eliciadores. No fenômeno da habituação, o organismo se torna mais insensível ao estímulo eliciador, isto quer dizer que diante de um certo estímulo, com uma magnitude constante, o organismo pode passar a não apresentar mais o mesmo comportamento ou apresentá-lo em menor intensidade, pois com o passar do tempo de exposição frequente, ele se habituou a ele. O fenômeno da potenciação é o contrário, trata-se das situações em que, pelo mesmo motivo, o da exposição frequente, o organismo não se tornou mais insensível ao estímulo, pelo contrário, passou a ser mais sensível a ele, de modo que um estímulo com a mesma magnitude provoque um comportamento mais intenso. Agora vamos apresentar também brevemente alguns aspectos que interferem na efetividade da aprendizagem respondente, isto é, no processo por meio do qual um indivíduo passa a se comportar diante de um estímulo neutro de modo que ele passa a ser um estímulo eliciador condicionado. Frequência e Magnitude do Estímulo Se eu ou você formos expostos a um estímulo neutro ao mesmo tempo que a um estímulo que é eliciador de algum respondente em nós, isto ocorrerá em um certo tempo, mas qual tempo? Isto varia, mas pode-se dizer que quanto maior a frequência em que ocorre a apresentação, tanto mais provável dela ocorrer (no caso dos cachorros de Plavlov, a relação se completou com 60 exposições, por exemplo) e quanto maior a magnitude do estímulo, tanto mais rápido isto deve ocorrer, até o ápice em que este condicionamento respondente acontece com uma única exposição com uma magnitude extraordinariamente grande, como nos exemplos que se seguem: 10 CBI of Miami Estímulo neutro Respondente Situação de pareamento Visão do carro Dor Após uma batida violenta, uma pessoa pode passar a apresentar respondentes da dor ao “ver” o carro. Visão de espaços abertos Coração acelerado, fôlego curto Após sofrer um assalto violento, uma pessoa pode apresentar esses comportamentos em quaisquer espaços abertos Contiguidade do Estímulo Eliciador para com o Estímulo Neutro e Sua Permanência no Ambiente Quando o organismo é exposto ao estímulo neutro antes do estímulo eliciador e este é apresentado depois, então a probabilidade de aprendizagem respondente é maior. Especialmente se após a apresentação do estímulo eliciador, o estímulo neutro permanecer no ambiente. Vamos dar o exemplo dos cães de Pavlov, se a sineta era tocada ANTES da carne ser apresentada, então é maior a probabilidade de ocorrer a aprendizagem respondente e se a sineta continuava a ser tocada ao mesmo tempo em que os cães viam a carne, então era ainda maior a efetividade deste pareamento respondente. Vamos dar outro exemplo, vamos imaginar que uma criança com autismo fique “muito animada” com a Galinha Pintadinha, isto é, que ela sinta coisas extraordinárias, emoções maravilhosas diante deste desenho, então eu desejo produzir uma relação de aprendizagem respondente entre o desenho e o Aplicador em ABA, ou seja, quero que esta criança sinta o que ela sente diante da Galinha Pintadinha também diante deste aplicador, o que chamaríamos usualmente de “vínculo”. Então se este aplicador aparecer AO MESMO TEMPO que a Galinha Pintadinha, teremos este pareamento respondente e isto será mais efetivo quanto mais bacana for o episódio que estiver passando, quanto mais vezes esta concomitância ocorrer e especialmente se o Aplicador já estiver 11 CBI of Miami presente antes do episódio começar e permanecer no ambiente ao mesmo tempo que o episódio estiver passando. Predictibilidade Na Relação Entre Estímulo Neutro E Eliciador. Ok, mas vamos continuar com o exemplo citado acima e está criança assistir a 60 episódios por dia e o aplicador só estiver presente em 6 deles? Então este pareamento será mais lento. Também ocorre o mesmo se o Aplicador estiver durante 6 horas diárias com estacriança e só por uma hora houver a Galinha Pintadinha e ainda assim em dias aleatórios. Ou seja, a visão do episódio não é capaz de prever a presença do Aplicador, assim como a presença dele nada nos diz sobre a disponibilidade do episódio da Galinha Pintadinha, mas quando um for “sinônimo” do outro, isto é, mesmo que o indivíduo assista menos à Galinha Pintadinha, mas se todas as vezes que isto ocorrer, o Aplicador esteja presente ou o contrário, ainda que o Aplicador não fique tanto com esta criança, mas sempre que ela esteja presente, a Galinha Presente também estiver, então podemos dizer que estes estímulos possuem relação preditiva entre si, SE o Aplicador está presente, ENTÃO a Galinha Pintadinha também estará ou o inverso, SE a Galinha Pintadinha está no ambiente, ENTÃO o Aplicador também estará e neste caso, tão maior é a efetividade da aprendizagem respondente. Comportamento Operante, o Império das Consequências No caso do Comportamento Respondente, há um esquema bem simples em que um comportamento é eliciado por um estímulo do ambiente, o que é selecionado na história de evolução da espécie. No caso do Comportamento Operante, não estamos falando de um comportamento selecionado na história da espécie, mas na história do indivíduo, trata-se de um comportamento que não é simplesmente eliciado por um estímulo do ambiente, mas sim de um comportamento que deve ser emitido pelo organismo. Em princípio, Skinner usava a palavra espontâneo para adjetivar o comportamento operante, o que entrou em desuso depois, pelas possibilidades de confusão que a palavra indicava, mas o fato é que não se trata de uma relação automática em que o comportamento ocorre pela simples presença do estímulo, mas uma 12 CBI of Miami relação muito mais complexa, em que o comportamento ocorre se ele tiver sido vantajoso para o organismo no passado. Anteriormente, já trabalhamos o conceito de Comportamento Operante, mas aqui vamos nos aprofundar um pouco mais em sua análise em uma unidade mínima, que é a Contingência, este conceito fundamental que trata da relação de dependência entre eventos, em geral visualizado sob o esquema de uma relação tríplice, entre Antecedentes (Antecedent - A), Resposta (Behavior - B) e Consequência (Consequence - C), que também pode ser representada por S – R – C, em que o S vem do inglês, Stimulus e o R de Response. Eu vou usar o A – B – C por motivos didáticos, mas é importante lembrar que em outros textos é possível encontrar a outra nomenclatura descrita. Neste campo se encontram todos os aspectos do ambiente que antecedem e exercem influência sobre o comportamento, incluindo os estímulos que sinalizam a possibilidade de Reforço (e Estímulo Discriminativo, que será explicado depois) e as Operações Motivadoras (também trabalhadas mais à frente) É a ação do organismo em si, isto é, que NÃO é eliciada pelo estímulo, mas ativamente emitida pelo organismo São os efeitos no ambiente produzidos pela resposta que exercem efeitos sobre a probabilidade de emissão desta resposta no futuro. A B C Para que esta relação seja uma contingência, é preciso que haja uma relação de dependência entre eventos, eles precisam estar realmente relacionados, um aspecto do ambiente que em nada influencie a emissão de um certo comportamento não é um antecedente de fato e nem mesmo uma consequência, não tem relação com o comportamento e não faz parte da contingência, ainda que esteja no ambiente em que o comportamento ocorre. Tudo aquilo que não é a resposta, é ambiente para que ela ocorra. Se eu estou analisando a resposta de uma pessoa de tomar água em meio a uma 13 CBI of Miami corrida, minha tarefa como Analista do Comportamento é colocar esta resposta em uma contingência, que é a unidade mínima de análise do comportamento dos organismos, então eu teria que dizer que “correr” é ambiente no qual esta pessoa bebe água. Mas se eu estou analisando o comportamento de correr do atleta, então eu diria que “tomar água” é parte do ambiente deste comportamento. Deste modo, é preciso dizer que tudo o que se apresenta no contexto de ocorrência de um comportamento, exceto ele mesmo, é ambiente para sua existência, inclusive o comportamento de outras pessoas, da própria pessoa que se comporta, além de seu corpo, o ambiente químico e orgânico do organismo. Seu dormi bem à noite, se acabei de brigar com a namorada, se estou bêbado ou com dor de cabeça, tudo isto interfere diretamente em como me comporto, daí que todos os estímulos de meu corpo que incidam sobre meu comportamento sejam estímulos antecedentes desta contingência, assim como a privação de água, comida, sexo, exposição ao sol, à dor ou outros processos ambientais que alterem o valor de outros estímulos (Operações Motivadoras). A resposta é a ação do organismo, mas neste caso, não há nenhum mecanismo biológico que recepciona o estímulo e produz automaticamente a resposta, ela NÃO É ELICIADA, É EMITIDA, ou seja, é preciso um processo ativo do organismo para que ela ocorra. Em princípio, na constituição inicial da coleção de comportamentos do organismo, o que chamamos de Repertório, as respostas são aleatórias ou ocorrem somente como respondentes ou derivações dele, mas certas destas respostas são selecionadas pelo ambiente por meio das consequências, é a operação das contingências de reforçamento. Algumas respostas operam mudanças no ambiente que opera sobre o organismo uma modificação, este organismo se torna um organismo modificado, alterado, com maior probabilidade de emitir aquela mesma resposta ou, ao contrário, com menor probabilidade de emiti-la, daí que o repertório dos organismos seja algo dinâmico, mutável, e sejamos transformados, dia após dia por nosso ambiente. Vamos a um exemplo simples, imagine uma criança brincando em um cômodo qualquer, explorando o ambiente, ela emite respostas de tocar com a 14 CBI of Miami mão, dedo, pés, língua todas aquelas superfícies novas, exploração que já foi reforçada no passado, mas há um novo estímulo neste ambiente, uma tomada, e ela se dirige a ela com o dedo em riste. Esta resposta, a depender do ambiente em que ocorre, pode não produzir consequência alguma, pode ser uma estimulação proprioceptiva sem graça e pronto, acabou-se, não se realizou uma contingência. Mas pode acontecer duas outras coisas interessantes para nossa análise, é possível que o ambiente em que o comportamento ocorre, a tomada, esteja molhado e uma poderosa corrente de 110v corra pelo corpo do bebê, estimulando gravemente os receptores de dor de seu corpo e esta estimulação transforme o bebê no sentido de que ele se torna menos provável de emitir o mesmo comportamento, esta consequência foi provocada pelo comportamento em si, mas diminuiu a probabilidade de que ele volte a ocorrer no futuro. Também pode ocorrer de a mãe ver este bebê se arriscando e imediatamente pegá-lo no toco e tascar-lhe um beijinho e mudá-lo de ambiente, isto é uma consequência vantajosa para o bebê e pode, portanto, modificá-lo no sentido oposto e ele se tornar um bebê com maior probabilidade de pegar na tomada, mas aqui alguém poderia dizer que não foi uma consequência provocada pelo comportamento dele e sim por outra pessoa. Atenção a este ponto, com exceção da resposta em si, tudo é ambiente e a mãe e o comportamento da mãe É AMBIENTE para o comportamento deste indivíduo e foi o comportamento dele que produziu aquela alteração no ambiente, a mãe não o teria pegado e mudado de lugar se ele não tivesse colocado o dedo na tomada, de modo que foi sim, seu comportamento, o produtor daquelas consequências, ainda que elas tenham sido SOCIALMENTE MEDIADAS. Podemos aplicar a fórmula SE...ENTÃO, para avaliar se estamos de fato falando de uma contingência. Em uma situação, SE o bebê colocao dedo na tomada, ENTÃO ele toma um choque (contingência de punição) ou SE o bebê coloca o dedo na tomada, ENTÃO a mãe o pega e retira do local (contingência de reforçamento). Mas também poderia acontecer uma coisa totalmente diferente, exatamente quando o bebê tocasse na tomada, o seu papai, que não estava em casa, chega no ambiente e corre para fazer carinho em seu filhote. Neste caso, o papai não chegou EM FUNÇÃO de o bebê estar 15 CBI of Miami com o dedo na tomada, foi somente uma coincidência, não foi colocar o dedo na tomada que provocou a mudança no ambiente CHEGADA DO PAPAI. Mas ainda assim, é possível que o organismo passe a se comportar com um aumento de probabilidade deste comportamento, colocar o dedo na tomada, devido a um evento do ambiente que aconteceu logo após a ele, mas não provocado por ele, esse é o chamado Comportamento Supersticioso. Comportamento Supersticioso é aquele aprendido por meio da modificação do organismo por um evento do ambiente que foi contíguo a uma resposta, isto é, seguiu imediatamente uma resposta no tempo, mas não foi produzida por ela. Talvez você mesmo conheça pessoas que usem uma mesma camisa em dias de jogo de seu time, porque em algum dia no passado o time ganhou após ele colocar a camisa, use uma cueca em dia de prova, porque foi muito bem em alguma prova no passado usando aquela mesma cueca e assim por diante. Este mesmo comportamento foi observado em pombos, colocados em Caixas de Skinner programadas para liberar comida a cada 10 segundos, o que coincidia com comportamentos como girar ou dar uma cabeçada, fazendo com que estes comportamentos se estabelecessem como comportamentos supersticiosos. Reforço Positivo e Reforço Negativo Uma contingência não é considerada Reforçadora ou Punidora se ela é boa ou ruim, se é agradável ou desagradável, isto tem nenhum papel nesta definição. Uma contingência de reforçamento é uma outra coisa completamente diferente, trata-se de números, de matemática, uma contingência é reforçadora se ela aumenta a probabilidade de uma resposta voltar a ocorrer no futuro. Vamos falar um pouco desta história. Thorndike realizou as pesquisas que são consideradas como antecessoras diretas do trabalho sobre comportamento operante de Skinner. O equipamento utilizado por Thorndike foi o que ele chamou de Caixa Quebra- Cabeças, em que trabalhou especialmente com gatos. Nestas caixas, havia um mecanismo de destravar a porta, o que daria acesso ao ambiente externo, que 16 CBI of Miami tinha comida. Em princípio, os gatos faziam inúmeras coisas dentro da caixa, basicamente todos os movimentos que já faziam em sua vida, mas aleatoriamente, em algum momento, pressionavam o mecanismo e ele abria. A grande questão colocada é que ao serem novamente inseridos na caixa, eles demoravam menos tempo para fazer o mesmo movimento para sua abertura e isto ocorria progressivamente, até que o gato entrava na caixa e imediatamente se comportava abrindo o mecanismo. Thorndike opôs os sentimentos de agradável a desagradável e interpretou que comportamentos que levavam a condições mais agradáveis aumentavam de probabilidade, o que ele chamou de Lei do Efeito, que influenciou decisivamente Skinner no conceito de reforçamento. A oposição entre agradável e desagradável estabelecia um julgamento subjetivo que não tinha papel no processo objetivo do comportamento, além de uma série de outras inferências antropomorfizastes dos animais presentes em seu trabalho (e na maior parte também dos outros pesquisadores da época), mas lançou as bases do trabalho de Skinner, que em 1931 publicou sua tese sobre o Comportamento Respondente e se preparava para ampliar enormemente a compreensão teórica do comportamento dos organismos com o conceito de Comportamento Operante. Imagine uma situação clássica, um rato jovem, ingênuo, sem história de vida pregressa com nenhuma caixa, nenhuma barra, nada, só comida à vontade até esse momento. Agora ele foi deixado privado de comida e colocado em uma caixa jamais vista, jamais sentida, tudo é novo para ele, o jovem ratinho está na Caixa de Skinner. O rato, em sua breve história de vida, aprendeu a fazer algumas coisas simples, ele sabe cheirar os lugares, arrastar a pata no chão e em superfícies laterais e é exatamente isto que ele faz nesta caixa, tudo o que sabe, ele está com fome e o tempo está passando. A caixa é pequena, mas imagine quantos desses movimentos é possível de se fazer lá dentro, vamos chutar que seja possível fazer 100 movimentos, incluindo arrastar as patinhas ou o focinho em todos os lugares. Se não há qualquer história prévia do rato naquela caixa e em nada parecido, então podemos dizer a probabilidade de cada um desses 17 CBI of Miami movimentos ocorrer é de 1/100, mas quando ele faz um deles, aleatoriamente e ele não produz consequência alguma, este mesmo movimento se torna mais improvável, talvez 1/300 e os outros movimentos ainda não testados se tornam cada vez mais prováveis de acontecer, porque as possibilidades vão diminuindo. Desses 100 movimentos possíveis, imaginemos que o ratinho já fez 60 e nenhuma consequência foi dada a nenhum deles, este dia não está fácil. Mas o que o rato não tinha como saber, é que o Tio Skinner programou aquela caixa com uma barra, cuja pressão é um dos 100 comportamentos possíveis, para disparar um impulso elétrico que faz um registro em uma folha e, ao mesmo tempo, aciona um mecanismo que libera uma pelota de comida para o rato. O movimento de número 61 do ratinho é justamente pressionar a barra e quando a comida sai, ele a come imediatamente. A partir de agora, o rato tem 60 movimentos sem consequência, 39 movimentos ainda não realizados e 1 movimento que produziu uma consequência poderosa, comida. Este comportamento (pressão à barra) se torna mais provável de ocorrer, porque a consequência gerada pelo comportamento no ambiente operou uma mudança sobre este organismo, uma consequência reforçadora. Se o rato fosse o Mickey, um baita bichinho inteligente e falastrão, com uma história de aprendizado pela observação e por regras (que vão aprender mais à frente), ele provavelmente só iria pressionar a barra daqui por diante, mas não é este o caso do rato e nem do pombo e nem de um ser humano como um bebê, sem história de aprendizagem por regras e observação. O rato continua fazendo vários comportamentos, mas como o comportamento de pressão à barra aumentou de probabilidade, não demora muito a ele voltar a esta resposta. Quando o ratinho volta a pressionar a barra, novamente isto produz a consequência “comida” e o comportamento aumenta de probabilidade, enquanto todas as outras respostas emitidas na caixa não produzem resposta alguma e diminuem progressivamente de probabilidade. Depois de um certo tempo o rato simplesmente pressiona a barra, come, volta a pressionar a barra, come e assim por diante. É simples assim, o comportamento de pressionar a barra foi reforçado, os demais não. 18 CBI of Miami É claro que aqui eu estou dando um exemplo bem simples para efeito didático, mas a mesma coisa acontece conosco, os seres humanos também aprendem por contingências de reforçamento, é assim que aprendemos a comer à mesa, a falar, a fazer carinho nos animais, a assistir filmes e assim por diante. É verdade que no caso dos seres humanos, o estabelecimento da linguagem leva ao comportamento governado por regras e à aprendizagem por observação, que são formas mais complexas de aprendizagem, mas que também partem das contingências de reforçamento, em princípio (isso será tratado à frente), mas a base de tudo são as contingências diretas de reforço. Este reforçamento, isto é, a consequência do ambiente que seleciona um certo comportamento, fazendo-o aumentar de probabilidade no futuro, pode ocorrer por meio da retirada deum estímulo do ambiente, um estímulo aversivo, isto é, que é vantajoso para o organismo se livrar dele, neste caso chamamos este processo de Reforço Negativo, como nos exemplos abaixo: A B C Probabilidade do comportamento no futuro Dor no dedão do pé, andando de tênis Para e tira uma pedrinha de dentro do tênis A dor é eliminada Da próxima vez que estiver na mesma situação, tem maior probabilidade de novamente parar e retirar uma pedrinha que esteja incomodando Dor forte de cabeça Toma um remédio Dor é eliminada Da próxima vez que estiver na mesma situação, tem maior probabilidade de tomar o mesmo remédio Entra no carro e começa a ouvir um apito cada Coloca o cinto de segurança O apito é silenciado Da próxima vez que entrar no carro, tem maior probabilidade de colocar o cinto 19 CBI of Miami vez mais forte Vizinho coloca o som altíssimo, doendo seus tímpanos Pede ao vizinho para baixar a música Vizinho baixa a música, que fica inaudível em sua casa Maior probabilidade de pedir ao vizinho para baixar a música quando estiver muito alta Privação de água Vai ao bebedouro pegar água e tomar Sede é eliminada Maior probabilidade de ir ao bebedouro e tomar água na próxima vez que estiver com sede Observe no caso acima que a questão NÃO é de reforço de comportamentos negativos, comportamentos ruins, nem nada disso, uma análise científica do processo não faz este tipo de julgamento, se algo é bom ou ruim, isto é um julgamento valorativo e não científico. Também não se trata de dizer que a consequência é ruim, ou “negativa”, aqui as palavras Positivo e Negativo não tem qualquer relação com Bom ou Ruim e sim com Adição e Subtração, é uma questão matemática, de retirar ou adicionar um estímulo ao ambiente. Há também outro aspecto matemático que é o fato de a consequência ser reforçadora, isto é, que aumenta a probabilidade de o comportamento voltar a acontecer no futuro, ou punidora, em que se diminui a probabilidade de ele ocorrer no futuro. Mas como aqui estamos falando de Reforço Positivo e Reforço Negativo, estamos nos limitando aqui a consequências que aumentam a probabilidade de um comportamento ocorrer no futuro, embora isso possa ocorrer como decorrência da adição de um estímulo ao ambiente ou a subtração de um estímulo ao ambiente. 20 CBI of Miami Mas quando a consequência no ambiente não é a retirada de um estímulo, mas a adição de um, então chamamos este processo de Reforço Positivo: A B C Probabilidade do comportamento no futuro Na praça, à noite Toma um sorvete O gosto é adicionado ao paladar Da próxima vez que estiver na mesma situação, tem maior probabilidade de novamente tomar um sorvete Junto aos amigos Utiliza cocaína Sensações alteradas Da próxima vez que estiver na mesma situação, tem maior probabilidade de novamente cheirar cocaína Privado de atenção Posta uma foto no Instagram Dezenas de likes e comentários (atenção) Da próxima vez que estiver na mesma situação, tem maior probabilidade de publicar outra foto Durante o mês Trabalha em uma empresa Recebe o salário que troca por aluguel, luz, água, roupas... Aumenta a probabilidade de me manter me comportamento trabalhando. De manhã, acabando de acordar Vai à academia Sente-se bem disposto OU encontra amigos OU o corpo malhado permite tirar fotos que gerem atenção OU oportunidades Maior probabilidade de voltar à academia 21 CBI of Miami sexuais OU mais saúde... Em sala de aula, em privação de atenção Bagunça Professora dá bronca (atenção) Maior probabilidade de “bagunçar” em sala na próxima aula Observe que nem todas as consequências descritas podem ser consideradas como “boas” ou “agradáveis” e nem todas elas aumentaram comportamentos “adequados”, mas para compreendermos esta operação não é isto que importa e sim a probabilidade aumentada desses comportamentos no futuro e que isso se dê por meio da adição de um estímulo ao ambiente. Também é importante destacar alguns outros aspectos fundamentais da relação de reforçamento: 1. Um estímulo ser ou não reforçador não constitui uma propriedade particular do estímulo em si, mas uma relação estabelecida entre ele e um comportamento em um certo contexto. Veja, um estímulo pode seguir um comportamento e aumentá-lo de probabilidade no caso de uma pessoa, mas não de outra. Uma pessoa se comporta por drogas, outras as rejeitam completamente, algumas vão à academia todos os dias às seis da manhã para sentirem as estimulações corporais do exercício outros ficam de mau humor só em pensar nisso (ok, isso foi um testemunho) e assim por diante, então não existe uma coisa que é um reforçador e outra que não é, o que existe são estímulos do mundo que exercem a função de reforçamento ou não em certas condições específicas; 2. Um estímulo pode inclusive ser reforçador agora, para uma certa pessoa e não ser amanhã ou não ser daqui a meia hora, isto porque nós variamos nossa sensibilidade ao ambiente, seja porque deixamos de apreciar algo, seja porque estamos momentaneamente saciados daquela coisa, como a comida, a água ou de dormir, por exemplo. 3. Existem fatores que exercem influência em quanto uma consequência é capaz de reforçar um comportamento como: privação do organismo daquele estímulo ou exposição a um estímulo aversivo (Operação Motivadora Estabelecedora); 22 CBI of Miami Imediaticidade da consequência (consequências atrasadas têm efeito diminuído ou eliminado); Magnitude do reforçador (sua quantidade ou intensidade); O esquema de reforçamento (ou seja, se produz as consequências reforçadoras todas as vezes ou às vezes, em que proporcionalidade), entre outros; 4. Mesmo quando um comportamento é abundantemente reforçado e mesmo que o ambiente seja exatamente o mesmo, nunca é possível garantir, com 100% de certeza, que o indivíduo irá se comportar da mesma forma naquela situação, isto porque o comportamento não é eliciado pelo estímulo, ele deve ser ativamente emitido pelo organismo. Assim, nós podemos dizer com certeza que se um comportamento foi reforçado, ele irá ocorrer na maior parte das vezes em que aquele mesmo contexto se repetir, mas não que ele irá ocorrer todas as vezes em que o contexto se repetir. Respostas, Estímulos E Suas Classes Digamos que uma pessoa esteja na escola, na posição de estudante, seu nome é “Alane” e tenha uma dúvida durante a aula de matemática, ela levanta a mão e a Professora diz “Pois não, Alane, qual sua dúvida?”, a Alane pergunta algo referente ao conteúdo e a Professora responde com um sorriso no rosto e uma explicação que tornou tudo mais fácil daqui por diante. Vejamos que contingência foi essa: A B C Probabilidade do comportamento no futuro Na sala, com uma dúvida sobre adição de 2 algarismos Levantou a mão e perguntou à Professora A Professora respondeu Da próxima vez que estiver na mesma situação, tem maior probabilidade de novamente perguntar Ocorre o seguinte, da próxima vez que esta ocasião se repetir, os estímulos que compõem o antecedente não serão exatamente os mesmos, ela pode estar na aula de matemática, bem-disposta, diante de certa professora, com uma dúvida, mas esta dúvida não será exatamente a mesma. A Professora 23 CBI of Miami pode dar a mesma consequência, isto é, responder à pergunta, com um sorriso no rosto, explicar direitinho, mas usará outras palavras, talvez esteja em outra posição, com um tom de voz com outra oscilação e com o sorriso com uma ligeira diferença de envergadura. Da mesma forma que a própria Alane vai levantar seu braço talvez um milímetro abaixo ou acima da vez anteriore formular de maneira diferente esta nova dúvida. Se há assim tantas diferenças, como podemos dizer que esses casos tratam do mesmo comportamento? Aí é que entra a noção de classe. Os estímulos não são avaliados por sua forma exata, mas pela relação funcional que estabelecem com o organismo, assim como as respostas não são classificados por sua forma, sua topografia, como chamamos, que é o percurso físico em que ocorre, mas pela relação funcional com os estímulos do ambiente. Imaginemos uma certa contingência que segue abaixo: A B C Probabilidade do comportamento no futuro No escuro Usa o dedo indicador para mover o interruptor e acender a luz A luz se espalha pelo ambiente, possibilitando que o indivíduo veja o que o cerca Da próxima vez que estiver no escuro neste ambiente, tem maior probabilidade de novamente pressionar o interruptor 24 CBI of Miami Ocorre que esta mesma resposta pode ocorrer de muitas diferentes formas, como por exemplo as que seguem: A B C Probabilidade do comportamento no futuro No escuro Usa o dedo indicador para mover o interruptor e acender a luz A luz se espalha pelo ambiente, possibilitando que o indivíduo veja o que o cerca Da próxima vez que estiver no escuro neste ambiente, tem maior probabilidade de novamente pressionar o interruptor Pressionar o interruptor com o polegar Pressionar o interruptor com o anelar Pressionar o interruptor com o mindinho Dizer “Alexa, acender a luz” Dizer “Ok Google, acenda a luz” Pressionar a pera-interruptor (só os mais velhos vão entender essa) Girar a lâmpada mal encaixada 25 CBI of Miami Nesse caso descrito acima, estamos tratando de uma mesma contingência, mas a forma do comportamento é o que varia, o que chamamos de Topografia da resposta. No entanto, quando temos uma mesma contingência, essas variações de forma são naturais, são variações topográficas e não variações de função, em todos os casos a resposta exerce a mesma relação com o ambiente, daí que todas essas respostas sejam o que chamamos de uma Classe de Respostas, variações topográficas com a mesma função. Neste caso, o conceito pode até não estranhar ao leitor, mas outro exemplo pode colocá-los a pensar mais seriamente a respeito: A B C Probabilidade do comportamento no futuro Em qualquer lugar, diante da mãe, em privação da mamadeira Pega um cartão com uma pessoa com a mão levantada com a escrita “Eu quero” e cola em uma faixa de velcro, depois pega outro cartão escrito “Leite” e com a imagem de uma garrafa de leite e cola logo à frente na mesma faixa e entrega à mãe Mãe dá a mamadeira e a fome é afastada Da próxima vez que está em privação do leite, faz o mesmo comportamento Fala “Mamãe, quero leite” 26 CBI of Miami Se joga no não e grita Neste caso acima a criança emite respostas completamente diferentes uma da outra, na primeira oportunidade ela entrega cartões de comunicação alternativa, na segunda ela pede por meio da fala e na terceira ela simplesmente se joga no chão e grita, mas nos 3 casos o comportamento ocorre diante de um antecedente específico que é a privação de leite – sentindo fome (Operação Motivacional) e diante da mãe (Estímulo Discriminativo) e tem uma consequência específica que é o leite. Nos 3 casos, o que vemos é uma criança pedindo por leite, ainda que o faça de 3 formas completamente distintas, este é um casos também de uma Classe de Respostas, porque a resposta não é compreendida por sua forma, sua topografia, isto é, pelas instâncias físicas em que ocorre, seja movimentando os braços e cartões, pela produção da vibração do som pelas pregas vocais e modulada pela boca ou friccionando o corpo contra o chão enquanto produz sons agudos e indistinguíveis de choro, nada disso é o fundamental para esta classificação e sim a relação da resposta com os antecedentes e os consequentes. A mesma coisa se pode dizer dos estímulos. É claro que eles podem ser classificados, a depender do objetivo que os estamos tratando, a partir de sua forma física, sua topografia, como, por exemplo a classificação em termos de estímulos auditivos, visuais, proprioceptivos, olfativos, entre outros, mas quando estamos falando em análise de contingências, então o que é fundamental é a função exercida por esses estímulos e não sua topografia. Digamos que uma professora deu atenção a um aluno na forma de um elogio, ou uma esculhambação ou um toque e que esta atenção reforçou um comportamento que ele tenha emitido, não importa que julguemos esta consequência de boa ou ruim ou qualquer outra avaliação, o que importa para fins de análise do comportamento é que a Professora deu atenção a este comportamento e que esta consequência operou sobre este comportamento uma transformação específica que foi o aumento de probabilidade. Esta 27 CBI of Miami “atenção”, em geral, nas variadas formas que pode ocorrer, também participa, portanto, de uma Classe de Estímulos. Reforçadores Naturais e Arbitrários Na vida real, em uma situação não controlada em que as coisas acontecem fora de um processo específico e controlado de ensino, os comportamentos acontecem e produzem certas consequências, que podem ser diferentes daquelas que utilizamos de maneira “artificial” para favorecer a aprendizagem e esta constitui a diferença fundamental entre reforçadores naturais e arbitrários. Qual é o reforçador natural de um xaveco bem dado? Uma relação de intimidade. No entanto, eu posso arranjar um ambiente de um Grupo de Habilidades Sociais em que as pessoas simulam situações de xavecos, a partir de certos pressupostos fundamentados no respeito aos Direitos Humanos do xavecado e receber outras consequências, como feedback descritivo das habilidades demonstradas, elogio dos parceiros de grupo, talvez palmas até, são reforçadores arbitrários, isto é, que não ocorrerão em uma situação natural de ocorrência do comportamento. Qual é o reforçador natural de discriminar cores? Atender a um pedido dos pais para pegar um objeto ou roupa ou ainda um brinquedo No entanto, eu posso arranjar um ambiente em que um indivíduo aponta para a cor que nomeei e recebe um elogio, um comestível, uma estrelinha, que não é a consequência que ocorrerá no dia a dia. Mais à frente este tópico será muito mais trabalhado, mas o que é importante dizer neste contexto é que na maior parte das vezes nós usamos o reforçamento arbitrário e não há qualquer problema nisso, mas é preciso que haja o planejamento do que chamamos de transferência de função de estímulo, por meio do qual um comportamento que ocorre em função de um reforço arbitrário vai sendo modificado de modo a ocorrer em função do reforço natural ao fim do processo de ensino. 28 CBI of Miami Vamos de um exemplo bem corriqueiro, a mãe entre no elevador com o filho e lá tem um homem ou uma mulher, ela diz ao filho “Dá bom dia para a moça!” e uma leve cotovelada, o filho diz “Bom dia!” e a mãe diz “Isso mesmo, tem que ser educado”. Este menino do exemplo está aprendendo um comportamento sob controle (expressão muito usual em Análise do Comportamento para designar as relações funcionais do comportamento com o ambiente) da mãe, sua cotovelada, instrução e elogio. Este elogio da mãe é uma consequência arbitrária e quando damos “Bom dia” para as pessoas no elevador, elas não nos elogiam, elas simplesmente respondem “Bom dia”, de modo que este é o reforçador natural do comportamento de dar “Bom dia” e é o que deve, ao final, controlar nosso comportamento e é por isso que aos poucos as mães reduzem as cotoveladas, instruções e elogios e o comportamento passa a ocorrer sob controle das contingências naturais. Da mesma formanão lemos textos para tirar nota azul na realidade, não fazemos um desenho para não sermos tirados de sala, não jogamos futebol para ficar com presença e assim por diante, a escola é um grande arranjo de contingências arbitrárias com o objetivo de transformar quem por lá passa, de modo que essas pessoas se comportem de certa maneira em sua vida social cotidiana.