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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA ....................... 4 1.1 A educação no século XX ............................................................................... 10 1.2 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) .......................... 17 2 A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA LDB ................................................................. 19 2.1 As Leis de Diretrizes e Bases (LDB) ............................................................... 20 2.2 A LDB atual: Lei nº 9.394, de 1996 ................................................................. 21 3 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) ................................................... 28 3.1 PNE: breve histórico ....................................................................................... 31 3.2 O PNE atual .................................................................................................... 32 4 REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 39 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA A sociedade moderna começa com a Revolução Francesa de 1789. Se, por um lado, a "Revolução" extinguiu os privilégios de nascimento e riqueza do clero e da nobreza, uma classe social que não beneficiava o âmbito produtivo, por outro, o programa triunfante burguês não atendia a todos, mas apenas à uma minoria dominante dos meios de produção privilegiados e à própria burguesia. Dessa forma, os pensamentos democráticos que acabaram levando a burguesia a se manter no poder por mais de dois séculos – liberdade, igualdade e fraternidade – ainda são perseguidos pela maioria do povo, trazendo o controle político do tecido social para o centro do debate. A história mostrou que, através da mencionada revolução burguesa, é mais importante do que a tomada do poder esclarecer quais princípios serão a base da futura reconstrução social. Nessa perspectiva de reorganização social, o Estado moderno é construído a partir da busca de compreender a inter-relação de forças presentes na sociedade e o antagonismo de interesses de diferentes classes sociais. Um jogo de poder a partir do qual se estabelece um pacto de convivência e consubstancia-se no direito instituído, do qual surge a Constituição como Carta Magna, lei suprema do Estado e principal elemento de ordem da vida social. Sendo assim, podemos dizer que a Constituição é como o contrato maior de um país. Alguns juristas a denominam como a certidão de nascimento de um país. De uma maneira geral, nem tudo que consta escrito se pode considerar como garantido. O direito geralmente está relacionado a um desejo, uma vontade de superar um determinado contexto ou prática social que seria inadequado para uma sociedade que se diz democrática. A eficácia da lei depende da mobilização social sobre as aspirações, do permanente engajamento e vigilância na salvaguarda dos direitos já consagrados na legislação. 5 O difícil surgimento da França republicana provocou um acalorado debate sobre a ampliação dos direitos à sociedade como um todo. Um dos direitos que gerou polêmica e foi objeto de debate quando da criação da constituição francesa foi o direito à educação, pois os intelectuais liberais se dividiam quanto à universalização da educação. Por exemplo, Locke e Voltaire não defendiam a extensão da escolaridade às massas. No pensamento desses filósofos, todos tinham a liberdade de ser educados, mas essa liberdade não precisava ser acompanhada de igualdade de condições, pois as diferenças no âmbito econômico e social das diferentes classes dentro da sociedade burguesa levavam à existência de diferentes escolas e diretrizes. Diderot, Condorcet, Le Pelletier e Horace Mann eram todos ardentes defensores da educação como obrigação do Estado. Para esses intelectuais, a educação nacional deve garantir que todos tenham a oportunidade de frequentar a escola, que todas as pessoas, independentemente de sua origem social, tenham acesso à educação igual, alcançando assim, a verdadeira igualdade de possibilidades. No decorrer do século XIX, não só na França, mas na maioria dos países europeus, devido à pressão popular e à necessidade de modernização tecnológica, foram criados sistemas educacionais que garantiam educação a todos os cidadãos. Na prática, as diferenças sociais contínuas levam à existência de escolas e currículos diferentes, dependendo da origem do indivíduo. Os filhos da classe burguesa ficavam destinados a se prepararem para cargos gerenciais no Estado e na sociedade; para o proletariado, com poucas exceções, preservam-se tanto os trabalhos técnicos quanto os manuais. Essas são as contradições que existiam na sociedade ocidental no século 19, em países sob o capitalismo. Adentramos agora em como as diversas constituições do Brasil trataram sobre a educação ao longo dos anos. Ao contrário dos movimentos de independência nas outras colônias europeias da América, que tiveram a participação decisiva do povo, nossa libertação da 6 metrópole foi negociada. Os interesses da elite lusitana que vivia nas ex-colônias, bem como dos grandes proprietários de terras, foram protegidos. No Brasil manteve-se o sistema monárquico, através de um imperador que era filho do rei de Portugal. Assim, predominava uma estrutura social oligárquica sustentada pelo trabalho escravo e latifúndio. Como extensão desse movimento de independência, os eleitores de 1823 responsáveis pela redação da primeira Constituição do Brasil, vivenciaram uma disputa de poder no Brasil independente. Por um lado, os monarquistas, os defensores do poder imperial supremo e os constituintes paralelos, mantinham relações coloniais com Portugal de acordo com seus interesses pessoais. Por outro lado, embora não oficialmente assim declarados, haviam os republicanos ostensivos, aqueles que desejavam limitar os poderes e privilégios imperiais que os lusitanos tinham em solo brasileiro por meio de uma constituição. Ideais liberais e positivistas alimentaram o debate eleitoral, impulsionando pequenas mudanças no curso das coisas, especialmente na educação, com o retorno de estudantes brasileiros da Europa, especialmente da França, ao Brasil. A disputa entre monarquistas e republicanos foi decidida pela dissolução da Assembleia Constituinte pelo imperador após cerca de seis meses de trabalho, enquanto a constituição outorgada em 1824 foi redigida por uma comissão de juristas de confiança de D. Pedro I. No entanto, existem influências filosóficas e políticas da Europa continental. A Constituição de 1824 fez alguns avanços nos direitos civis e foi considerada uma legislação avançada na época. Os liberais defendem a educação pública como fator de desenvolvimento nacional, influenciando a definição do ensino primário gratuito, direito de todos os cidadãos, um avanço social sem paralelo. As forças conservadoras, ao contrário, restringiam a cidadania a homens livres e excluíam mulheres e escravos do direito à educação. Eles organizam a educação uniformemente sob o controle central do Estado. 7 A Constituição Política do Império Brasileiro, promulgada em março de 1824, definiu o Brasil como uma monarquia centralizada e hereditária e estabeleceu os poderes legislativo, executivo (imperador e seus ministros), judiciário (juízes e jurados) e moderador (imperador). Com a aprovação do imperador, o poder legislativo era delegado à Assembleia Geral (composta pelo Senado e pela Câmara dos Representantes). A discussão sobre a oferta de educação escolar e controle legal no Brasil não se encerrou com a promulgação da Constituição de 1824. Ao contrário, pode-se dizer que as discussões da Comissão Constitucional, embora presas pelo poder imperial, eram apenas o começo. Apesar das dificuldades na implementação da educação nacional, especialmente a falta de professores capacitados e espaço suficiente para a educação básica, em 1826 a educação era dividida em quatro níveis: pedagogia, que se refere ao ensino primário; os liceus, onde se desenvolvia o ensino secundário; os ginásios, também de ensino secundário, porém com maior aprofundamento científico; e as academias, voltadas ao ensino superior. No ano de 1827, a Comissão de Instrução Pública aprovou projeto de lei que ampliou de maneira significativa a carta constitucional. Foram criadas Escolas de primeiras letras em “todas as cidades, vilas e lugares mais populosos”; os castigos físicos praticados nas escolas foram abolidos, e os professores passaram a ser contratados por meio de um exame com caráter vitalício. Sob a lei de 15 de outubro, a educação foi estendida às meninas e as professoras foram recrutadas pelo mesmo salário que os professores. (FÁVERO, 2005, p.88). Além de outras diversas coisas, esta legislação tratou de detalhes referentes ao conteúdo a ser ministrado pelas escolas. Daí o currículo centralizado, que vigora até hoje. Nelas os professores ensinariam a ler e escrever, as quatro operações de aritmética, práticas de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua 8 nacional e os princípios da moral cristã e da doutrina da religião católica romana, proporcionadas à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a constituição do império e a história do Brasil (Art. 6) (FÁVERO, 2005, p. 58). A abdicação de D. Pedro I em 1831 abriu caminho para propostas de cunho liberal, em oposição à centralização estabelecida em 1824, que propunha a reforma imediata da constituição brasileira. A proposta submetida à Câmara teve clara influência norte-americana e efetivamente criou uma "república sob a presidência do imperador" porque não reconhecia os poderes moderadores exercidos pelo monarca e dava à assembleia o poder de vetar o poder executivo, entre outras medidas de natureza republicana. Após intensos debates no Senado, no qual as propostas de reforma constitucional foram fortemente criticadas, as modificações foram finalmente promulgadas através do Ato Adicional de 1834. Concedeu-se maior autonomia às províncias, aboliu-se o Conselho de Estado e criou-se em cada província uma Assembleia Legislativa, com competência para rever as instruções públicas, assim também descentralizou o ensino primário, incluindo o seu financiamento. Embora os liberais tenham levantado diversas discussões visando ampliar o escopo da educação, esta ainda se limitava a setores economicamente privilegiados. No final do império, menos de 30% das crianças eram educadas em escolas públicas de ensino médio e secundário, e os ateneus públicos não passavam de 20 em todo o território brasileiro. Para a educação, a proclamação da república significou a consolidação dos ideais liberais do eleitorado de 1823, a ampliação do papel do setor privado na educação e o poder da aristocracia rural. Mesmo sem respaldo constitucional, a educação é objeto de deliberações governamentais. Nessa mesma época, foram criadas a Secretaria de Educação Pública e o Instituto Nacional como espécies de ministério; o Pedagógium, que tinha funções semelhantes aos centros de pesquisa, e o Conselho de Instrução Superior. A 9 instrução pública acabou descentralizada e, como poder do Estado, as escolas religiosas privadas podiam funcionar. Mesmo que não explicitada, a obrigação do Estado com a educação estava explícita nas a atitudes da União, bem como na influência da luta pelo controle político entre positivistas e liberais, estes últimos claramente em vantagem. Certos aspectos da Constituição Republicana de 1891 centralizam a legislação da educação básica no governo federal, mas descentralizam sua implementação para os estados, ambiguidade que caracteriza a legislação educacional brasileira até os dias atuais. Suas raízes e interpretação estão enraizadas em um sistema centralizado do movimento republicano, que culminou no golpe militar da Declaração da República, assimilou os ideais liberais de redução do poder do Estado, e vieram a calhar na defesa dos interesses das oligarquias regionais. (FÁVERO, 2005). Nesse contexto, não se pode dizer que a Carta Constitucional de 1891 tenha negligenciado a educação. No entanto, diante do aprofundamento das práticas e ideais liberais de concessão de autonomia às unidades federativas (na verdade, estendendo a autonomia das oligarquias locais), não podemos ter certeza de que o avanço do ensino fundamental seja uma obrigação estatal. De fato, mesmo em condições temporárias, o governo republicano estabeleceu a educação pública como competência dos entes federativos, o que efetivamente tirou o governo federal da educação pública e causou um certo atraso na organização da educação nacional, pois embora tenha sido reconhecida como direito, não se garantia ainda que fosse gratuita, e nem a tentativa de implantação de uma rede escolar mínima nos estados. Cenários como estes deixavam a tarefa da educação à mercê dos interesses e jogos políticos locais, nos quais as classes populares não tinham representação nem poder para debater e fazer valer seus direitos. Os efeitos do liberalismo não se limitam a aliviar as obrigações estatais relacionadas à educação. Na constituição de 1891, abriram caminho para a iniciativa 10 privada no setor educacional e sinalizaram de forma sutil a possibilidade de outros agentes educacionais além do Estado. 1.1 A educação no século XX O Brasil do século XX, pelo menos em seus primórdios, pode ser entendido como um período de fortalecimento do Estado segundo princípios liberais, como preconizam os positivistas e o setor privado. E, nesse tom caracterizado pela ambiguidade de princípios, o governo central assume a propriedade da organização estatal no âmbito jurídico, adota uma postura centralista e expressa sua própria descentralização ao ceder espaço pessoal nesses âmbitos, que antes, eram exclusivos do Estado. No caso da educação, esta ambiguidade se revela quando: (...) iniciativas mostram ações indicadoras de descentralização, embora com direção oficial (não obrigatória) advinda do regulamento do Pedro II e outros institutos oficiais da União e no Distrito Federal. Mantinha-se o ensino oficial, mas também indicava-se a manutenção do ensino livre, com liberdade para abertura de escolas particulares religiosas. Quanto ao ensino religioso, desde logo o Estado procurou promover a laicização no âmbito das escolas públicas. Mas não há, em âmbito nacional, a imposição da obrigatoriedade ou da gratuidade nas escolas oficiais (CURY, 2005, p. 73). De fato, os cenários políticos e sociais vinham mudando. Os ideais comunistas e a participação política da classe trabalhadora culminaram na formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1922, estabelecendo uma antítese política e econômica internacional às propostas liberais de um programa de Estado. Internamente, os brasileiros têm lutado por melhores salários e condições de trabalho, além de afirmação cultural. Como exemplo dessas lutas, podemos citar a mobilização marcada pela greve dos trabalhadores paulistas de 1917, que, apesar de uma luta árdua, resultou em um acordo para aumentar os salários; e a guerra do Contestado, que envolveu tropas federais que perderam seus empregos e terras nos 11 estados do Paraná e Santa Catarina e trabalhadores rurais. Além disso, em 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, que entrou para a história como o maior evento de arte do país, como um grito de independência cultural do Brasil. No entanto, o país era politicamente e economicamente liderado por oligarcas do café e da pecuária dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Acordos políticos de apoio mútuo entre esses fazendeiros (os controladores do voto em seus distritos) e candidatos ao governo, conhecidos como políticas governamentais, garantiram a rotação do presidente da república. Às vezes havia um representante presidencial paulista, às vezes Mineiros. Então o suporte foi trocado. A posse de candidatos eleitos patrocinados pelos latifundiários não foi obstruída e esses latifundiários garantiram, através das mais diversas formas de manipulação, votos para candidatos ao governo estadual e à Presidência da República. Essas "manobras" ficaram conhecidas como política do café, e não agradou aos oligarcas de outros estados como Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco, gerando reações negativas. As relações com os militares também sofreram durante este período. Oficiais militares mais jovens exigiram mais engajamento político e questionaram o controle civil sobre os proprietários de terras e o uso das forças armadas para manter uma ordem constitucional baseada em fraude e corrupção. O tenentismo, como ficou conhecida a campanha militar, desdobrou-se na Coluna Prestes, desfile liderado por Luiz Carlos Prestes, que percorreu o país para combater a oligarquia. No campo da educação, em 1926, a recém-criada Associação Brasileira de Educação (ABE) promoveu um congresso que suscitou em um animado debate sobre os rumos da educação no Brasil. Lá, intelectuais, de liberais a positivistas, discutiram temas antigos sobre o papel do Estado na educação. No entanto, essas pequenas lutas tiveram um novo componente: a forma como o ensino foi desenvolvido, para o qual se propunha a modernização. 12 A década de 1920 terminou com uma mudança na conjuntura econômica internacional que acabou beneficiando as modificações pelas quais passou a sociedade brasileira. O colapso da Bolsa de Valores de Nova York expôs a fragilidade do então atual sistema econômico exportador agrícola, tornando impraticáveis as políticas protecionistas que apoiavam abertamente os oligarcas do café no Brasil. Os liberais tiveram ainda outra chance de enfatizar a necessidade de modernizar e industrializar o país. Foi quando ressaltaram a importância da implantação de um sistema de ensino moderno, mais adequado para proporcionar a preparação da mão de obra necessária para o país brasileiro ingressar no mundo industrializado. Dessa forma, em 1932, foi lançado o "Manifesto dos Pioneiros", um conjunto de princípios e fundamentos para uma educação mais moderna, destinada a fomentar o debate, a descoberta e uma maior interação entre a escola e a sociedade. Foi o movimento da Escola Nova de influência norte-americana e francamente liberal que chegou ao Brasil para colocar a escolarização na pauta das discussões sociais, políticas e econômicas. Mesmo antes do início dos trabalhos constituintes de 1933/1934, os planos educacionais já estavam em alta. No ano de 1930 foi criado o Ministério da Educação e da Saúde, que promovera a reforma do ensino e a criação do Conselho Nacional da Educação, a Reforma Francisco Campos. Em 1931, a Carta Universitária Brasileira estabeleceu as metas do ensino superior no país. Promoveu-se a reforma do ensino secundário e do ensino empresarial, e formou-se pessoal técnico nas áreas de administração e contabilidade. E, em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo – USP. A queda da oligarquia rural – a revolução de 1930 – não foi suficiente para promulgar leis que reduzissem drasticamente o poder do grupo, mas contribuiu significativamente para o fortalecimento do poder central, pelo menos na educação. Os poderes acumulados pelo governo central sobre os entes federativos (estados) e municípios estavam claros na Carta Constitucional de 1934. 13 A União passou a ficar responsável por desenvolver as diretrizes para o Plano Nacional de Educação, que seria organizado pelo Conselho Nacional de Educação. Os Estados seriam responsáveis apenas pelo acréscimo de leis necessárias para satisfazer suas peculiaridades, que escaparam à regra geral por estarem vinculadas às suas circunstâncias locais. Todavia, em um momento em que a oligarquia estava em colapso, os liberais com suas ideologias privadas faziam o possível para defender o enfraquecimento do poder estatal em favor da iniciativa privada na educação. Além das escolas confessionais já mandatadas pela legislação anterior, uma forma de existência no setor privado é que as empresas com mais de 50 funcionários eram obrigadas a oferecer ensino primário gratuito para seus funcionários e seus filhos. Ainda em relação ao avanço dos interesses privatistas na educação, devemos tomar atenção sobre o que diz a letra da lei. A redação do Art. 150, no item “d”, da expressão “estabelecimentos particulares”, propõe interpretações a favor da legalidade da ação de instituições não estatais no âmbito do setor educacional, uma vez que pressupõe a existência de pelo menos dois tipos de instituições educacionais, quais sejam as particulares e as não particulares, sendo essa última, as mantidas pelo Estado, as públicas. O texto da constituição de 1934 propunha uma autoridade central para orientar a descentralização. Dessa forma, ao mesmo tempo em que ficava garantido a União a exclusividade em poder “traçar as diretrizes da educação nacional”, o § 3º desse mesmo artigo admitia uma “legislação estadual supletiva ou complementar sobre as mesmas matérias”. Essa legislação também facilitava a organização da educação estadual, permitindo que elas tivessem suas próprias diretorias de ensino e organizassem seus sistemas, além de propor cotas para a educação financiada pelo estado. Outro aspecto da ambiguidade dos detalhes relacionados à questão da educação e ao texto da Constituição de 1934 é a garantia da liberdade de ensino definida nos artigos 155. Esta liberdade é, sem dúvida, importante quando os 14 professores assumem poderes exagerados fora da alçada da regulação estatal, mas podem colocar em risco a qualidade. Essa fragilidade regulatória, aliada às prerrogativas que os órgãos estaduais passaram a gozar nos textos constitucionais, torna a qualidade educacional mais dependente de atitudes e compromissos locais do que programas baseados nos princípios estabelecidos em âmbito nacional. Nos debates sobre a organização da educação brasileira na constituinte de 1934, aponta-nos algo novo e importante sobre a democratização das relações na educação que, a muitos, passa despercebido. O autor cita um parecer de Celso Kelly sobre a criação e as funções de um Conselho Nacional para a Educação, onde ele propunha que, em razão da abrangência que deve ter um órgão que vise organizar a educação em plano nacional, sua composição contemplasse membros da sociedade civil, além dos especialistas em educação - o que não apenas ampliava como democratizava o Conselho. (HORTA, 2005) Pela amplitude e detalhamento da matéria educacional abrangida pela Constituição de 1934, as cartas subsequentes limitam-se a embelezá-la com um ou outro detalhe vinculante ou restritivo de direitos. A carta de 1937, foi elaborada sob o viés do estado Novo, com supressão de direitos civis que haviam sido garantidos na carta de 1934. Em relação à educação, a única inovação foi a determinação da cobrança da caixa escolar para àqueles que não conseguissem comprovar estado de pobreza. Ainda no Estado Novo, o contexto em que foi construída a Constituição de 1946 é fortemente contraditório. O mundo passou de uma guerra para um processo de polarização do poder econômico e político, conhecido como Guerra Fria. Por um lado, estão os países capitalistas liderados pelos Estados Unidos da América e, por outro lado, um grupo de repúblicas comunistas da Europa Oriental lideradas pela União Soviética. Por conta da aliança com os vencedores da Primeira Guerra Mundial, a sociedade brasileira - acreditamos que qualquer outra sociedade da época - não 15 deveria adotar um discurso contrário à liberdade política e social, uma oposição internacional à ditadura do proletariado implantada na União Soviética. Isso coloca o governo brasileiro em uma posição politicamente paradoxal: internamente, uma ditadura; externamente, um defensor das liberdades democráticas. Mesmo com tantos obstáculos, a carta de 1946 se manteve firme em seus ideais liberais. Resgatou os direitos civis que haviam sido perdidos na carta de 1937, e conseguiu manter os avanços da Constituição de 1934, descentralizando a organização escolar, ao institucionalizar os sistemas de educação e recriar os Conselhos de Educação com funções normativas (COSTA, 2002). Anos depois veio a Constituição de 1967, que, embora elaborada durante a ditadura militar e caracterizada pela centralização da tomada de decisões e pelo aprofundamento dos princípios técnicos, pouco mudou em relação ao estabelecido em 1934 e 1946. No final da década de 1970, o Brasil embarcou em um processo de redemocratização e abertura política, tendência já observada em outras partes da América Latina. A Constituição de 1988 pode ser considerada o marco final desse processo. Uma vez promulgada, a constituição foi considerada um dos textos jurídicos mais modernos do mundo, devido ao acirrado conflito entre representantes de organizações de esquerda da sociedade civil e representantes de elites conservadoras. A Carta Constitucional brasileira foi pioneira em uma visão democrática, envolvendo direitos civis, diferente das visões democráticas anteriores, sob a capa liberal da socialdemocracia. A sociedade civil organizada quis garantir em seus textos direitos civis, ferramentas de inclusão social, igualdade de oportunidades para o pleno exercício dos direitos civis e modernização das relações sociais. O artigo 211 da CF/1988 estabelece as bases para o mecanismo de cooperação entre a União, os estados, os municípios e o Distrito Federal na oferta da educação básica. Na prática, principalmente a partir de 1997, com a implantação do 16 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e do Valor do Ensino (FUNDEF), desencadeou-se um movimento de urbanização da educação básica. As garantias federais e estaduais de serviço universal gratuito e qualidade da rede pública de ensino superior para a educação básica, acabou gerando um aumento para 18% nos impostos federais relacionados à manutenção e desenvolvimento da educação. De acordo com o mesmo artigo, os percentuais vinculados aos estados e municípios são de pelo menos 25% – mas a LDB vai afirmar que as constituições estaduais e as leis organizadoras municipais podem aumentá-los – tanto na legislação quanto na prática, o que já aconteceu. O artigo 213 § 1º da CF/88 trata da previsão de ocorrer uma impossibilidade de atendimento nas escolas públicas, autorizando assim matrícula em espaços escolares não públicos – comunitários confessionais ou filantrópicos. Essa prática é demonstrada tanto na educação básica (financiada pelo Fundeb) quanto na educação superior – por meio do Programa Universidade para Todos (PROUNI). O artigo 211, além da responsabilidade pela definição das diferentes instâncias (federal, estadual, municipal e distrito federal), também confere ao federal a obrigação de equalizar as oportunidades educacionais em todo o país, por meio do apoio técnico e financeiro às unidades federativas. Quanto à permanência e continuidade do aprendizado na escola, o inciso VII do artigo 208 aponta ações complementares de apoio aos estudantes, que são geridas por programas governamentais vinculados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O acesso gratuito às escolas públicas do ensino básico é direito de todo o cidadão. Portanto, não haverá distinção entre os indivíduos e nenhum impedimento às suas propostas. A educação obrigatória, mesmo para quem não a recebeu na idade adequada, passa a ser entendida como um direito subjetivo, um direito civil. Entenda que isso 17 significa garantir a matrícula e permanência do aluno na escola. Desafios que o Estado deve enfrentar por meio da implementação de programas sociais eficazes. 1.2 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) foi criado em 1968 no âmbito do Ministério da Educação para arrecadar fundos para projetos educacionais, cuja principal fonte é o Salário Educação. Os principais programas do FNDE, decorrem dos artigos 208 e 212 da CF/88, sendo eles: a) Programa Nacional do Livro Didático – PNLD - Viabiliza livros didáticos aos alunos do Ensino Fundamental e Médio, incluindo a Educação de Jovens e Adultos. b) Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE – assegura aos alunos da educação básica das escolas públicas e comunitárias ao menos uma refeição diária, e, para as de jornada integral, três refeições. c) Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE – destina recursos para conservação e manutenção das instalações, para obtenção de materiais permanentes e formação de pessoal às escolas de todas as etapas e modalidades da educação básica. d) Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE – elaborado para equipar as bibliotecas das escolas com enciclopédias, obras literárias e dicionários. e) Programa Nacional Saúde na Escola – PNSE – destina recursos para as escolas desenvolverem projetos que sanem as questões de saúde que comprometem o aproveitamento escolar dos alunos. f) Programa Nacional de Transporte do Escolar – PNTE – repassa recursos aos municípios para colaborar no custeio do transporte dos alunos da educação básica que moram em zonas rurais. Adicionalmente, pelo “Caminho da Escola”, o FNDE 18 financia a compra de ônibus e embarcações para transportar esses mesmos estudantes. Em relação ao Fundeb, embora seja um programa estruturado e não complementar, também é administrado pelo FNDE. A maior diferença entre essas políticas (reveladas sob diferentes denominações) é que, por meio do Fundeb, todas as disciplinas que têm direito à educação básica, da creche ao ensino médio, passando pela educação profissional e modelos de educação de jovens e adultos, são de responsabilidade compartilhada do governo. O financiamento é assegurado pelo Fundo. No caso dos estados e municípios, por 20% dos principais impostos e transferências constitucionais; no caso da União, por uma complementação de no mínimo 10% da receita total dos Fundos estaduais, oriunda 30% dos impostos vinculados à MDE, e 70% de outras fontes orçamentárias. Isso significa que nenhum prefeito ou governador pode negar a qualquer cidadão brasileiro a educação básica por falta de recursos. Em termos de formação e qualificação de educadores, as ações do novo fundo não se limitam aos professores. O termo “profissional da educação” é utilizado para se referir a todos os profissionais que exercem atividades de longa duração no desempenho de tarefas educacionais. Nesse sentido, o FUNDEB destina recursos para remuneração, treinamento e aperfeiçoamento de profissionais da educação não docente, celebra convênios com instituições de formação profissional e desenvolve recomendações para cursos de formação profissional. Percebe-se que a qualidade contemplada pela Lei não se limita às atividades escolares relacionadas ao ensino e à educação. Define os valores de todos os profissionais da educação e a organização de escolas democráticas e pluralistas. 19 2 A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA LDB Antes de adentrar na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), devemos falar um pouco dos ideais que os envolvem. O objetivo de estabelecer diretrizes e fundamentos educacionais foi configurar um conjunto coeso de normas para a educação brasileira, antes mesmo de se tornar a ferramenta de controle e o ordenamento jurídico da educação brasileira. Buscando um ordenamento jurídico que possa configurar nossa educação de acordo com as necessidades da sociedade brasileira, acreditamos que isso foi alcançado. Precisamente para isso, ainda em 1932, golpeado pelas ondas de mudança nacionalista e liberal nos meios intelectuais e sociais brasileiros das décadas de 1920 e 1930, os pioneiros clamavam por diretrizes para o programa educacional nacional. O projeto atenderia às necessidades da sociedade brasileira e garantiria o papel da educação escolar na modernização social, política e econômica da sociedade brasileira. Utopia Educacional e Social, incorporando os preceitos constitucionais relativos à educação nas Constituições de 1934 e 1946 e nos dispositivos de nossa Primeira Diretriz e Lei Básica (LDB) – Lei nº 4.024 de 1961. Esse movimento via a educação e a sociedade sob a ótica republicana, implicando a compreensão da ação educativa como alavanca para a modernização social. Exige que a sociedade desempenhe um papel na promoção das condições para o desenvolvimento da educação cívica sob a orientação do Estado. Nesse sentido, as leis de diretrizes da educação que foram promulgadas no Brasil, se posicionaram para regulamentar a educação preconizada pela constituição, às vezes até mesmo reeditando seu texto. De modo geral, elas possuem características por marcos de avanços na organização da educação nacional. Maior ênfase será dada à atual LDB, que sofreu mais de uma centena de alterações no texto desde 1996, tornando-se a legislação de maior impacto no dia a dia dos profissionais administrativos escolares. Portanto, para uma melhor 20 compreensão acerca do assunto, recomendamos a leitura do texto atualizado da Lei nº 9.394 de 1996. 2.1 As Leis de Diretrizes e Bases (LDB) No ano de 1.961, a LDB era composta mediante os seguintes níveis: pré- primário; primário; ensino secundário de primeiro e segundo ciclos e ensino superior. O ensino secundário, para além do ensino preparatório, é adequado à formação contínua a outros níveis, formação profissional e cursos de formação de professores nas áreas da agricultura, indústria e comércio, educação pré-escolar e formação no ensino primário. Liderada pela onda de liberdade e descentralização, a LDB 4024/61 trouxe mudanças significativas para as organizações educacionais no Brasil. Dando maior autonomia aos órgãos estaduais, descentralizava a gestão da educação e regulamentava os Conselhos Estaduais de Educação, e o Conselho Federal de Educação. De acordo com a mencionada lei, a carreira docente ingressava na rede pública de ensino por meio de exames e concursos para títulos profissionais. Respeitando sempre as normas de formação por ela estabelecidas: aos cursos do ensino secundário e em licenciaturas de nível superior. As mudanças previstas pela LDB em 1971 foram um pouco mais intensas. Todo o ensino básico foi reconfigurado, instituiu-se o 1º grau com oito séries, sendo as 4 primeiras equivalentes ao antigo ensino primário e as 4 últimas equivalentes ao 1.º ciclo do ensino secundário - retirando-se a exigência do "Exame de admissão ao ginásio". O segundo ciclo do ensino secundário passou a denominar-se de Ensino de 2º grau, vocacional obrigatório, com duração de 2 a 5 anos. Haviam ainda outras opções de qualificação técnica, maior carga de trabalho profissional e assistentes. 21 Contudo, as mudanças da Lei 5692/71 não se limitaram à estrutura da educação escolar. Foram organizadas atividades, áreas de estudo e disciplinas, estabelecidas pelos aportes da psicologia evolutiva. Além disso, por meio do artigo. 7º, ficou estabelecido a obrigatoriedade da Educação Moral e Cívica, uma disciplina de natureza vinculada aos ideais que fundamentavam o golpe civil-militar de 1964. O viés da especialização foi mitigado pela resposta dos acadêmicos e da burguesia, que enviaram seus filhos para escolas particulares para prestar vestibular para cursos de prestígio (direito, engenharia e medicina). A "reforma da reforma" estabeleceu "competências básicas" no lugar dos terminais técnicos. Embora a década de 1990 tenha sido marcada por ideias neoliberais relacionadas à educação, desde a Conferência Educação para Todos de 1990 em Jontien, na Tailândia, houve o desejo de ampliar o alcance da política educacional e o clima de inclusão social envolvendo as sociedades ocidentais. Esses acontecimentos no Brasil afetaram a LDB 9.394/96, alinhando-a com a Constituição de 1988, que havia orientado o Estado brasileiro a partir de uma perspectiva mais voltada para as necessidades da sociedade civil. Essa fusão entre a LDB 9.394/96, os fundamentos filosóficos da época e a Carta Magna de 1988 deu à educação brasileira o caráter típico de uma prática centrada no processo de modernização social, implicando em uma grande mudança na organização da educação no Brasil. Em todos os níveis, começando pela amplitude. 2.2 A LDB atual: Lei nº 9.394, de 1996 Logo no primeiro artigo, a LDB 9.394/96 define o alcance da educação para o Estado brasileiro, afirmando que ela engloba os “processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. ” 22 No artigo 5º temos um direito a educação pautado em um direito público subjetivo. Essa caracterização permite que o cidadão ou qualquer entidade da sociedade civil acione legalmente o Estado para cobrar esse direito em caso de “oferta irregular”, responsabilizando assim as autoridades competentes. A LDB defende uma concepção de educação que não apenas ilumine as complexidades da ação educativa, mas também identifique os limites dos compromissos nela envolvidos. Esse compromisso não se limita aos muros das escolas, nem aos profissionais da educação que ensinam, pois aponta para diferentes espaços educativos e engaja todos os envolvidos na defesa dos princípios da liberdade e da solidariedade humana. (BRASIL, 1996) A atual LDB parte da perspectiva da construção de uma "sociedade de aprendizagem", onde todos participem da educação e depois da transformação social. Sendo assim, o artigo 2º da lei em estudo expõe como meta, educativa “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; 23 XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. XII - consideração com a diversidade étnico-racial. XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. XIV - respeito à diversidade humana, linguística, cultural e identitária das pessoas surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva. Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio; II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade; III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que não os concluíram na idade própria; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático- escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem. 24 X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. (BRASIL, 1996). De acordo com a referida lei em comento, a educação brasileira se organiza em dois níveis, sendo eles o básico e o superior. A educação básica compreende a educação infantil, atendendo crianças de 0 a 3 anos em creches e pré-escolas, até crianças de 4 e 5 anos. O ensino fundamental, com nove anos de duração, atende às crianças a partir de 6 anos. E o ensino médio, última etapa da educação básica, com três anos de duração – em que a idade certa de matrícula varia de 14 a 18 anos. Em termos de estrutura, o ensino médio passou por grandes mudanças com a promulgação do Decreto nº 2.208/97, que regulamenta o ensino profissionalizante, e do Decreto nº 5.154/04, que criou um modelo de articulação do ensino médio com o ensino médio técnico profissional. O decreto 2.208/97 estabelece no seu artigo 2º que: A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou em modalidades que contemplem estratégias de educação continuada, podendo ser realizada em escolas do ensino regular, em instituições especializadas ou nos ambientes de trabalho (Brasil, 1997). Sem dúvida, uma das inovações mais radicais da LDB é a variedade de possibilidades organizacionais oferecidas às escolas de ensino fundamental. Pelo art. 23, elas poderão ser estruturadas em séries anuais; em semestres; ciclos; períodos de estudos alternados; grupos não seriados; enturmados por faixa etária; por competências demonstradas pelos alunos; ou por outros critérios. No entanto, os parâmetros organizacionais serão sempre "recomendados pelos interesses do processo de aprendizagem". Essa observação, que antes se aplicava 25 ao ensino de artes e línguas estrangeiras, deve agora ser levada em conta para todas as etapas, modalidades e componentes curriculares da educação básica. No que diz respeito ao currículo do ensino fundamental, também merece destaque a obrigatoriedade da inclusão de conteúdos relacionados aos direitos da criança e do adolescente (artigo 5º, IV, ponto 32). Sendo uma ação concreta para estabelecer uma atitude cívica, é também um dos objetivos fundamentais da educação básica. Hoje, os alunos que concluem o ensino fundamental têm uma ampla gama de oportunidades, desde o tradicional ensino médio comum – preparatório à educação superior – até cursos profissionais a ele concomitantes ou subsequentes e os de currículo integrado, que são oferecidos principalmente por redes estaduais e pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, presentes em diversas cidades brasileiras. O “cardápio” de cursos da educação superior é estruturado em graduações (licenciatura, bacharelado e tecnológico) e pós-graduações, lato sensu (aperfeiçoamento e especialização) e stricto sensu (mestrado e doutorado), bem como em cursos de extensão e sequenciais, tendo esses últimos como pré-requisito a certificação do ensino médio. (BRASIL, 1996) A matrícula na educação básica, na educação infantil faz-se em creches para crianças de até 3 anos de idade (art. 30, inciso I) e é obrigatória na pré-escola para aquelas entre 4 e 5 anos (art.30, inciso II). No ensino fundamental, a idade de entrada é de 6 anos. Alguns sistemas estabeleceram 31 de março como o prazo para as crianças ingressarem na primeira série do ensino fundamental, de acordo com uma resolução do Conselho Nacional de Educação. As crianças que não completaram seis anos antes desta data ainda devem frequentar a pré-escola. Já para o ensino médio, a legislação não estabelece uma idade limite mínima para ingresso. 26 Os legisladores da educação trazem para a LDB em seu art. 24. Inciso II, alínea b, a possibilidade de matricular-se em qualquer ano ou série do ensino básico por promoção ou transferência, mesmo sem comprovação de escolaridade anterior. Nesses casos de possibilidade de acolhimento de um aluno na escola, será feita uma avaliação para verificar "o nível de desenvolvimento e experiência do candidato" antes de ser alojado. Tais avaliações podem até mesmo levar à "aceleração do aprendizado" ou ao "avanço de cursos e notas". Podemos vincular a busca precoce de emprego à essas imigrações, fator que afeta a frequência normal e até mesmo a matrícula dos jovens em escolas, em uma idade considerada ideal. Diante de tal cenário, a LDB, nos artigos 37 e 38, estabelecendo a educação como política social, alavanca do desenvolvimento social e econômico, assegura a gratuidade dos cursos fundamentais e médios da EJA e a gratuidade dos exames de suplência para os jovens e adultos que não frequentaram a educação básica na idade certa. Mais ainda: alia aos currículos da EJA os componentes da educação profissional. Em relação aos exames de suplência, é garantido que maiores de 15 anos podem fazer o exame do ensino fundamental e os maiores de 18 anos podem fazer o exame de conclusão do ensino médio. Nesses exames, o sistema educacional poderá manter uma forma de mensurar e utilizar os conhecimentos que os alunos adquirem informalmente. Uma das últimas novidades quanto à formalização dos conhecimentos como política pública é a instituição pelo governo federal do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que antes de 2017, certificava a conclusão do ensino médio para os aprovados com mais de 18 anos e os habilita. Nos dias atuais, o exame acontece para a obtenção de uma classificação, para que o estudante possa se beneficiar com milhares de vagas em cursos superiores de graduação de instituições públicas e privadas. 27 Com uma semelhança do conhecido 2º grau da LDB anterior, o ensino médio da LDB vigente também possui uma instância de formação profissional, porém, não tem caráter obrigatório, e nem a celeridade dos conteúdos científicos e humanísticos da lei anterior. As escolas devem orientar os alunos a tomar uma decisão ao fim do ensino fundamental, como por exemplo a escolha por um curso profissional. Um diferencial dessa forma de organização da educação profissional é o alinhamento com o mercado de trabalho da região e as parcerias com instituições de formação profissional de outras redes de ensino. A formação profissional está sempre aliada à educação geral, podendo também atender às necessidades de educação continuada, programas especiais voltados aos interesses da comunidade, sem a necessidade de comprovação de determinado nível de escolaridade. A Lei 11.741/08 introduziu na LDB os artigos 36-A, B, C e D. Nos dois primeiros, diz-se que a formação profissional pode ser integrada ao ensino médio de duas formas: articulada ou subsequente, sempre aproveitando os espaços e tempos disponíveis do aluno. A educação de alunos entendidos como portadores de "necessidades educacionais especiais" (pessoas com deficiência, com transtornos globais de desenvolvimento ou superdotados) tem recebido considerável atenção nas propostas de inclusão social apresentadas pela sociedade brasileira no final do século XX e início do século XXI. A LDB 9394/96 avança nesse aspecto em relação às anteriores, ao estabelecer o atendimento a estes estudantes preferencialmente dentro da rede regular de ensino, prevendo o suporte de profissionais especializados às turmas comuns e salas para atenção específica quando for necessário (BRASIL, 1996) O artigo 59 da LDB prevê uma adequação curricular e metodológica para atender o desenvolvimento educacional e pessoal dos alunos de acordo com suas 28 necessidades. O mesmo artigo prevê formação geral e especial para profissionais comprometidos com a educação especial, inclusiva e profissional. Depois da Lei nº 12.014, que reconheceu os funcionários de escolas como a Categoria III dos profissionais de educação (art. 61 da LDB), desde que em exercício permanente nas redes públicas e formados em cursos reconhecidos de nível médio e superior, “em área pedagógica ou afim”, dois avanços muito importantes foram trazidos pela Lei 12.796/13, que introduziu o art. 62-A na LDB. O primeiro é que confirma a formação profissional da Categoria III por meio de “cursos de conteúdo técnico-pedagógico”, descartando a possibilidade de aproveitamento de diplomas sem ligação direta com a essência da identidade dos funcionários: técnicos e educadores. O segundo é que se garante a formação continuada dos funcionários em cursos de graduação e pós-graduação, o que fundamenta a reivindicação por horário de trabalho dedicado à capacitação permanente. Para encerrar este tópico, é importante lembrar que a legislação é uma síntese de acordos, um contrato social e uma garantia legal de direitos. Sua efetivação, no entanto, requer uma mobilização social, uma intensa fiscalização sobre conselhos e organizações sociais. 3 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) Neste tópico, trataremos de um instrumento importante que faz parte da legislação educacional: o Plano Nacional de Educação. O Plano Nacional de Educação – PNE – tem como objetivo a organização racional, consequente e eficaz do universo de ações educativas que devem ser executadas num determinado país. 29 O instrumento legal de sustentação do PNE é a Constituição Federal. De acordo com o artigo 214 da Carta Magna, o PNE deve abranger todos os aspectos relacionados à organização da educação nacional de forma a unir os diferentes níveis de ensino para integrar a ação governamental na tentativa de suprir as deficiências históricas no campo da educação. (BRASIL, 1988) Portanto, o plano deve ter como objetivo a erradicação do analfabetismo, a universalização da escolarização, a melhoria da qualidade da educação, a qualificação profissional e o desenvolvimento das humanidades e da ciência e tecnologia do país. De acordo com o disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o PNE constitui um mecanismo intermediário entre as principais leis de educação, cumprindo os objetivos necessários à construção do sistema nacional de ensino, a fim de garantir qualidade na educação para todos os brasileiros. Apesar dessa função intermediária, devemos lembrar que o PNE é subordinado à LDB. Esta é a mais alta lei de educação que estabelece diretrizes para sua organização nacional. Portanto, todas as ações educativas implementadas nas esferas federal, estadual e municipal, mesmo aquelas mandatadas por legislação estadual e municipal específicas, referem-se à LDB. Para se ter um PNE com qualidade, é necessário ter um bom entendimento dos problemas da educação nacional para planejar efetivamente as medidas necessárias para enfrentá-los. É preciso saber o número de analfabetos, quantas crianças de 0 a 5 anos não têm acesso a creches e pré-escolas, quão difundido é o ensino fundamental, quantos jovens são excluídos do ensino médio, a proporção da população de jovens e adultos que não estudam e precisam de educação na idade adequada, quantas crianças com necessidades especiais precisam ser incluídas na educação especial, quantos professores existem no país e seus requisitos curriculares para treinamento prático e educação continuada. A partir desses dados, é possível se ter um diagnóstico mais preciso da situação, e elaborar um PNE de acordo com a necessidade de cada caso em específico. 30 No processo de desenvolvimento de um PNE, a definição de metas também é essencial. As metas demonstrarão a velocidade esperada com que as necessidades educacionais são atendidas, uma vez que as autoridades governamentais estabelecem prazos para a resolução dos problemas diagnosticados. Sendo assim, do PNE constam os prazos estabelecidos para: erradicar o analfabetismo; universalizar a educação básica; equiparar a oferta de ensino superior público aos níveis dos países desenvolvidos; ampliar a oferta da educação de jovens e adultos; ter um corpo docente com formação superior atuando em todos os níveis da educação básica. Por mais que seja importante priorizar a educação básica, até para não condenar as gerações futuras às defasagens educacionais que são vivenciadas no presente, não se pode esquecer da educação superior, da educação de jovens e adultos, da educação especial, entre outras. Portanto, o PNE deve ter essa capacidade de articular simultaneamente a oferta e o desenvolvimento dos diversos níveis, etapas e modalidades da educação. As diretrizes e metas do Programa Nacional de Educação estão diretamente relacionadas aos programas políticos e de desenvolvimento do país. Por exemplo, se os líderes de uma nação querem reduzir sua dependência tecnológica das nações industrializadas, os governos devem investir em pesquisa para dotar nossas universidades de maior capacidade de produção científica. Portanto, o PNE não pode se limitar ao repasse de recursos, mas deve estar subordinado a uma estratégia nacional de desenvolvimento que estenda o direito à autoeducação a todas as pessoas, levando em conta a luta por maior soberania para o país e a resolução de problemas sociais. Em um país como o Brasil, que apresenta diversas deficiências no campo da educação, a quantidade de recursos destinados ao ensino deve ser muito maior do que em países com sistemas educacionais estabelecidos. Isso porque, enquanto precisamos de recursos para completar a organização da educação nacional e mantê- la, nos países desenvolvidos, os recursos são utilizados apenas para manutenção. 31 3.1 PNE: breve histórico O manifesto dos pioneiros em 1932 que desejam uma Educação Nova, propôs a organização de um programa educacional nacional para universalizar a educação e garantir que ela fosse pública e de qualidade. Esta foi a primeira iniciativa de modernização da sociedade brasileira por meio da educação. Na Constituição de 1934 foram estabelecidas importantes diretrizes para se organizar a educação nacional. A fixação de um plano nacional de educação e a coordenação de sua fiscalização e execução ficou a cargo da União. Também houve a criação de um Conselho Nacional de Educação que ficaria responsável pela construção do PNE. Mais tarde, em 1964, os militares tomaram o poder em um golpe que derrubou João Goulart da presidência da república. Uma característica desse período foi a subordinação do Ministério da Educação ao Ministério do Planejamento, sugerindo que os tecnocratas substituíssem os educadores na elaboração dos planos educacionais. Segundo os ensinamentos de Saviani “os planos para a área de educação decorriam diretamente dos Planos Nacionais de Desenvolvimentos (PNDs), recebendo, por isso mesmo, a denominação de “Planos Setoriais de Educação e Cultura (PSECs)” (SAVIANI, 2004), Em 1985, a Nova República manteve mecanismos autoritários no planejamento das políticas educacionais. O centralismo da formulação dos planos educacionais, verificado na cúpula governamental durante o regime militar, foi substituído pela descentralização em que a fragmentação e o descontrole são as marcas das ações na área de educação. Em 1993, sob a liderança de Itamar Franco, foi lançado o Plano Decenal de Educação para Todos. O programa se concentra na oferta de educação primária e infantil, especialmente a faixa etária de 4 a 6 anos. Esse enfoque revelava as limitações do plano, que não se destina a abordar a educação como um todo ou a 32 construir um sistema nacional de educação que possa atender às múltiplas necessidades de qualidade da educação no Brasil. Ao longo dos anos, o processo de elaboração da legislação educacional no Brasil foi marcado por um confronto entre conservadores e progressistas. Com o PNE não é diferente, pois observamos forças conservadoras defendendo um Estado autoritário, centralizando a tomada de decisões, mas com pouco gasto social. Por outro lado, o setor da sociedade civil, que representa forças progressistas, pressiona pela democratização do país e seu compromisso com o financiamento da educação pública. 3.2 O PNE atual Para alcançar melhorias nos diversos aspectos que envolvem a educação nacional, é necessário utilizar uma ferramenta capaz de prever, organizar, recomendar e monitorar ações no campo da educação básica, incluindo: A educação infantil; O ensino fundamental; O ensino médio e todas as modalidades educacionais envolvidas; A educação superior em nível de graduação e pós-graduação. O instrumento elaborado para atingir essa finalidade é o PNE 2014–2024. É importante ressaltar que o PNE, desde a Emenda Constitucional nº. 59, de 11 de novembro de 2009, deixa de ser uma disposição transitória da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), para ser uma exigência constitucional, de caráter decenal e que articula o Sistema Nacional de Educação, apresentando inclusive o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) para o financiamento de suas ações em busca do atendimento das metas (BRASIL, 2014). 33 O PNE 2014-2024 é composto por 20 metas, e podemos dividi-las da seguinte forma: Um primeiro bloco que trata da garantia do direito à educação básica de qualidade; Um segundo bloco sobre redução das desigualdades e da valorização da diversidade; Um terceiro bloco sobre a valorização dos profissionais da educação; E por fim, um quarto bloco contendo metas sobre a educação superior. As metas que compõem o primeiro bloco, que busca a garantia do direito à educação básica de qualidade são as seguintes: META 1 Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o final da vigência desse PNE. META 2 Universalizar o ensino fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a 14 anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência desse PNE. META 3 Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%. META 5 Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental. 34 META 6 Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da educação básica. META 7 Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nos anos iniciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; 5,2 no ensino médio. META 9 Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. META 10 Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. META 11 Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público. As metas da educação básica dizem respeito às atribuições de todos os entes federativos. Por exemplo, no campo da educação infantil, os municípios são os principais responsáveis pelo atendimento universal, visando alcançar e qualificar esse nível de ensino. Da mesma forma, é um grande desafio nacional “[...] assegurar o acesso pleno de crianças e jovens de 6 a 17 anos ao ensino fundamental e médio, inclusive com ampliação da oferta de educação profissional. Se trata de um trabalho que exige 35 colaboração contínua entre redes estaduais e municipais e acompanhamento da trajetória educacional de cada estudante” (BRASIL, 2018). Em outras palavras, o PNE só pode produzir resultados se houver um mecanismo de cooperação realmente efetivo entre os entes federativos, quais sejam, a União, estados, Distrito Federal e municípios - desde que integrado e articulado. Conforme determinado pelo PNE, estados e municípios também desenvolverão seus próprios planos para levar em conta as necessidades de sua população, trabalhando em conjunto para alcançar os resultados desejados. Abaixo estão as metas que compõem o bloco da redução das desigualdades e valorização da diversidade: META 4 Universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. META 8 Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência deste plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As metas 4 e 8 visam estender os cuidados relacionados às questões de inclusão escolar a todas as instituições de ensino. Isso inclui tanto os alunos com 36 deficiências diversas, como também aos grupos citados ne meta 8, que de forma geral, tendem a ser desfavorecidos. O terceiro bloco que trata da valorização dos profissionais da educação é composto pelas seguintes metas: META 15 Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, no prazo de 1 ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. META 16 Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. META 17 Valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica, de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE. META 18 Assegurar, no prazo de 2 anos, a existência de planos de carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o 37 piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal. O estabelecimento de metas destinadas a valorizar os profissionais do ensino pode contribuir diretamente para todos os grandes objetivos do atual PNE. Essas metas incluem o desenvolvimento de planos de carreira, políticas de remuneração mais atrativas, condições de trabalho adequadas e programas eficazes de educação inicial e continuada. Para atingir esses objetivos, todas as redes educacionais devem estar envolvidas para fortalecer o sistema educacional brasileiro. As metas referentes ao nível da educação superior são: META 12 Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público. META 13 Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores. META 14 Elevar gradualmente o número de matrículas na pós- graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores. 38 De acordo com as metas relacionadas a expansão do ensino superior, é nessa instância que os professores da educação básica e do ensino superior passam por uma formação inicial e, além disso, quanto maior a oportunidade de receber educação superior de qualidade, maior a probabilidade de desenvolvimento geral para o país. Da mesma forma, ao aumentar a cada ano o número de mestres e doutores concluintes, pretende-se aumentar a participação na pesquisa e na produção científica nacional e internacional. Além desse grupo de metas, existe a necessidade de que se estipule a origem dos recursos necessários ao estabelecimento das estratégias do PNE 2014–2024, bem como que se propiciem espaços democráticos nas escolas para a participação da comunidade, como dispõe as metas abaixo: META 19 Assegurar condições, no prazo de 2 anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto. META 20 Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do PIB do País no 5º ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio. Como vimos, a governança democrática estabelecida na Constituição Federal de 1988 é fortalecida a partir da meta 19 do PNE, de proporcionar a participação social nas questões educacionais. A meta 20 é importante porque mostra um aumento significativo do PIB da educação, que fornecerá os recursos necessários para atingir todas as metas. 39 4 REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, N. C. PEC 241/55: a “morte” do PNE (2014–2024) e o poder de diminuição dos recursos educacionais. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 32, nº. 3: p. 653-673, 2016. AZEVEDO, J. M. L. Plano Nacional de Educação e planejamento: a questão da qualidade da educação básica. Retratos da Escola, v. 8, n. 15, p. 265-280, 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2 º do art. 36 e os arts. 39 a 42 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Revogado pelo Decreto nº 5.154, de 2004. BRASIL. Lei I 11.741, de 2008 de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica. BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. BRASIL. Lei nº 12.014 de 6 de agosto de 2009. Altera o art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com a finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que se devem considerar profissionais da educação. 40 BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1. 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