Buscar

LEGISLAÇÃO-EDUCACIONAL

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA ....................... 4 
1.1 A educação no século XX ............................................................................... 10 
1.2 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) .......................... 17 
2 A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA LDB ................................................................. 19 
2.1 As Leis de Diretrizes e Bases (LDB) ............................................................... 20 
2.2 A LDB atual: Lei nº 9.394, de 1996 ................................................................. 21 
3 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) ................................................... 28 
3.1 PNE: breve histórico ....................................................................................... 31 
3.2 O PNE atual .................................................................................................... 32 
4 REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as 
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
4 
 
 
1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA 
 
A sociedade moderna começa com a Revolução Francesa de 1789. Se, por um 
lado, a "Revolução" extinguiu os privilégios de nascimento e riqueza do clero e da 
nobreza, uma classe social que não beneficiava o âmbito produtivo, por outro, o 
programa triunfante burguês não atendia a todos, mas apenas à uma minoria 
dominante dos meios de produção privilegiados e à própria burguesia. 
Dessa forma, os pensamentos democráticos que acabaram levando a 
burguesia a se manter no poder por mais de dois séculos – liberdade, igualdade e 
fraternidade – ainda são perseguidos pela maioria do povo, trazendo o controle 
político do tecido social para o centro do debate. A história mostrou que, através da 
mencionada revolução burguesa, é mais importante do que a tomada do poder 
esclarecer quais princípios serão a base da futura reconstrução social. 
Nessa perspectiva de reorganização social, o Estado moderno é construído a 
partir da busca de compreender a inter-relação de forças presentes na sociedade e o 
antagonismo de interesses de diferentes classes sociais. Um jogo de poder a partir do 
qual se estabelece um pacto de convivência e consubstancia-se no direito instituído, 
do qual surge a Constituição como Carta Magna, lei suprema do Estado e principal 
elemento de ordem da vida social. 
Sendo assim, podemos dizer que a Constituição é como o contrato maior de 
um país. Alguns juristas a denominam como a certidão de nascimento de um país. 
De uma maneira geral, nem tudo que consta escrito se pode considerar como 
garantido. O direito geralmente está relacionado a um desejo, uma vontade de superar 
um determinado contexto ou prática social que seria inadequado para uma sociedade 
que se diz democrática. A eficácia da lei depende da mobilização social sobre as 
aspirações, do permanente engajamento e vigilância na salvaguarda dos direitos já 
consagrados na legislação. 
 
5 
 
 
O difícil surgimento da França republicana provocou um acalorado debate 
sobre a ampliação dos direitos à sociedade como um todo. Um dos direitos que gerou 
polêmica e foi objeto de debate quando da criação da constituição francesa foi o direito 
à educação, pois os intelectuais liberais se dividiam quanto à universalização da 
educação. Por exemplo, Locke e Voltaire não defendiam a extensão da escolaridade 
às massas. No pensamento desses filósofos, todos tinham a liberdade de ser 
educados, mas essa liberdade não precisava ser acompanhada de igualdade de 
condições, pois as diferenças no âmbito econômico e social das diferentes classes 
dentro da sociedade burguesa levavam à existência de diferentes escolas e diretrizes. 
Diderot, Condorcet, Le Pelletier e Horace Mann eram todos ardentes 
defensores da educação como obrigação do Estado. Para esses intelectuais, a 
educação nacional deve garantir que todos tenham a oportunidade de frequentar a 
escola, que todas as pessoas, independentemente de sua origem social, tenham 
acesso à educação igual, alcançando assim, a verdadeira igualdade de 
possibilidades. 
No decorrer do século XIX, não só na França, mas na maioria dos países 
europeus, devido à pressão popular e à necessidade de modernização tecnológica, 
foram criados sistemas educacionais que garantiam educação a todos os cidadãos. 
Na prática, as diferenças sociais contínuas levam à existência de escolas e currículos 
diferentes, dependendo da origem do indivíduo. 
Os filhos da classe burguesa ficavam destinados a se prepararem para cargos 
gerenciais no Estado e na sociedade; para o proletariado, com poucas exceções, 
preservam-se tanto os trabalhos técnicos quanto os manuais. Essas são as 
contradições que existiam na sociedade ocidental no século 19, em países sob o 
capitalismo. 
Adentramos agora em como as diversas constituições do Brasil trataram sobre 
a educação ao longo dos anos. 
Ao contrário dos movimentos de independência nas outras colônias europeias 
da América, que tiveram a participação decisiva do povo, nossa libertação da 
 
6 
 
 
metrópole foi negociada. Os interesses da elite lusitana que vivia nas ex-colônias, bem 
como dos grandes proprietários de terras, foram protegidos. No Brasil manteve-se o 
sistema monárquico, através de um imperador que era filho do rei de Portugal. Assim, 
predominava uma estrutura social oligárquica sustentada pelo trabalho escravo e 
latifúndio. 
Como extensão desse movimento de independência, os eleitores de 1823 
responsáveis pela redação da primeira Constituição do Brasil, vivenciaram uma 
disputa de poder no Brasil independente. Por um lado, os monarquistas, os 
defensores do poder imperial supremo e os constituintes paralelos, mantinham 
relações coloniais com Portugal de acordo com seus interesses pessoais. Por outro 
lado, embora não oficialmente assim declarados, haviam os republicanos ostensivos, 
aqueles que desejavam limitar os poderes e privilégios imperiais que os lusitanos 
tinham em solo brasileiro por meio de uma constituição. 
Ideais liberais e positivistas alimentaram o debate eleitoral, impulsionando 
pequenas mudanças no curso das coisas, especialmente na educação, com o retorno 
de estudantes brasileiros da Europa, especialmente da França, ao Brasil. A disputa 
entre monarquistas e republicanos foi decidida pela dissolução da Assembleia 
Constituinte pelo imperador após cerca de seis meses de trabalho, enquanto a 
constituição outorgada em 1824 foi redigida por uma comissão de juristas de 
confiança de D. Pedro I. 
No entanto, existem influências filosóficas e políticas da Europa continental. A 
Constituição de 1824 fez alguns avanços nos direitos civis e foi considerada uma 
legislação avançada na época. Os liberais
defendem a educação pública como fator 
de desenvolvimento nacional, influenciando a definição do ensino primário gratuito, 
direito de todos os cidadãos, um avanço social sem paralelo. As forças conservadoras, 
ao contrário, restringiam a cidadania a homens livres e excluíam mulheres e escravos 
do direito à educação. Eles organizam a educação uniformemente sob o controle 
central do Estado. 
 
7 
 
 
A Constituição Política do Império Brasileiro, promulgada em março de 1824, 
definiu o Brasil como uma monarquia centralizada e hereditária e estabeleceu os 
poderes legislativo, executivo (imperador e seus ministros), judiciário (juízes e jurados) 
e moderador (imperador). Com a aprovação do imperador, o poder legislativo era 
delegado à Assembleia Geral (composta pelo Senado e pela Câmara dos 
Representantes). 
A discussão sobre a oferta de educação escolar e controle legal no Brasil não 
se encerrou com a promulgação da Constituição de 1824. Ao contrário, pode-se dizer 
que as discussões da Comissão Constitucional, embora presas pelo poder imperial, 
eram apenas o começo. 
Apesar das dificuldades na implementação da educação nacional, 
especialmente a falta de professores capacitados e espaço suficiente para a educação 
básica, em 1826 a educação era dividida em quatro níveis: pedagogia, que se refere 
ao ensino primário; os liceus, onde se desenvolvia o ensino secundário; os ginásios, 
também de ensino secundário, porém com maior aprofundamento científico; e as 
academias, voltadas ao ensino superior. 
No ano de 1827, a Comissão de Instrução Pública aprovou projeto de lei que 
ampliou de maneira significativa a carta constitucional. Foram criadas Escolas de 
primeiras letras em “todas as cidades, vilas e lugares mais populosos”; os castigos 
físicos praticados nas escolas foram abolidos, e os professores passaram a ser 
contratados por meio de um exame com caráter vitalício. Sob a lei de 15 de outubro, 
a educação foi estendida às meninas e as professoras foram recrutadas pelo mesmo 
salário que os professores. (FÁVERO, 2005, p.88). 
Além de outras diversas coisas, esta legislação tratou de detalhes referentes 
ao conteúdo a ser ministrado pelas escolas. Daí o currículo centralizado, que vigora 
até hoje. 
 
Nelas os professores ensinariam a ler e escrever, as quatro operações 
de aritmética, práticas de quebrados, decimais e proporções, as 
noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua 
 
8 
 
 
nacional e os princípios da moral cristã e da doutrina da religião católica 
romana, proporcionadas à compreensão dos meninos; preferindo para 
as leituras a constituição do império e a história do Brasil (Art. 6) 
(FÁVERO, 2005, p. 58). 
 
A abdicação de D. Pedro I em 1831 abriu caminho para propostas de cunho 
liberal, em oposição à centralização estabelecida em 1824, que propunha a reforma 
imediata da constituição brasileira. A proposta submetida à Câmara teve clara 
influência norte-americana e efetivamente criou uma "república sob a presidência do 
imperador" porque não reconhecia os poderes moderadores exercidos pelo monarca 
e dava à assembleia o poder de vetar o poder executivo, entre outras medidas de 
natureza republicana. 
Após intensos debates no Senado, no qual as propostas de reforma 
constitucional foram fortemente criticadas, as modificações foram finalmente 
promulgadas através do Ato Adicional de 1834. Concedeu-se maior autonomia às 
províncias, aboliu-se o Conselho de Estado e criou-se em cada província uma 
Assembleia Legislativa, com competência para rever as instruções públicas, assim 
também descentralizou o ensino primário, incluindo o seu financiamento. 
Embora os liberais tenham levantado diversas discussões visando ampliar o 
escopo da educação, esta ainda se limitava a setores economicamente privilegiados. 
No final do império, menos de 30% das crianças eram educadas em escolas públicas 
de ensino médio e secundário, e os ateneus públicos não passavam de 20 em todo o 
território brasileiro. 
Para a educação, a proclamação da república significou a consolidação dos 
ideais liberais do eleitorado de 1823, a ampliação do papel do setor privado na 
educação e o poder da aristocracia rural. Mesmo sem respaldo constitucional, a 
educação é objeto de deliberações governamentais. 
Nessa mesma época, foram criadas a Secretaria de Educação Pública e o 
Instituto Nacional como espécies de ministério; o Pedagógium, que tinha funções 
semelhantes aos centros de pesquisa, e o Conselho de Instrução Superior. A 
 
9 
 
 
instrução pública acabou descentralizada e, como poder do Estado, as escolas 
religiosas privadas podiam funcionar. 
Mesmo que não explicitada, a obrigação do Estado com a educação estava 
explícita nas a atitudes da União, bem como na influência da luta pelo controle político 
entre positivistas e liberais, estes últimos claramente em vantagem. 
Certos aspectos da Constituição Republicana de 1891 centralizam a legislação 
da educação básica no governo federal, mas descentralizam sua implementação para 
os estados, ambiguidade que caracteriza a legislação educacional brasileira até os 
dias atuais. Suas raízes e interpretação estão enraizadas em um sistema centralizado 
do movimento republicano, que culminou no golpe militar da Declaração da República, 
assimilou os ideais liberais de redução do poder do Estado, e vieram a calhar na 
defesa dos interesses das oligarquias regionais. (FÁVERO, 2005). 
Nesse contexto, não se pode dizer que a Carta Constitucional de 1891 tenha 
negligenciado a educação. No entanto, diante do aprofundamento das práticas e 
ideais liberais de concessão de autonomia às unidades federativas (na verdade, 
estendendo a autonomia das oligarquias locais), não podemos ter certeza de que o 
avanço do ensino fundamental seja uma obrigação estatal. 
De fato, mesmo em condições temporárias, o governo republicano estabeleceu 
a educação pública como competência dos entes federativos, o que efetivamente tirou 
o governo federal da educação pública e causou um certo atraso na organização da 
educação nacional, pois embora tenha sido reconhecida como direito, não se garantia 
ainda que fosse gratuita, e nem a tentativa de implantação de uma rede escolar 
mínima nos estados. 
Cenários como estes deixavam a tarefa da educação à mercê dos interesses e 
jogos políticos locais, nos quais as classes populares não tinham representação nem 
poder para debater e fazer valer seus direitos. 
Os efeitos do liberalismo não se limitam a aliviar as obrigações estatais 
relacionadas à educação. Na constituição de 1891, abriram caminho para a iniciativa 
 
10 
 
 
privada no setor educacional e sinalizaram de forma sutil a possibilidade de outros 
agentes educacionais além do Estado. 
1.1 A educação no século XX 
O Brasil do século XX, pelo menos em seus primórdios, pode ser entendido 
como um período de fortalecimento do Estado segundo princípios liberais, como 
preconizam os positivistas e o setor privado. E, nesse tom caracterizado pela 
ambiguidade de princípios, o governo central assume a propriedade da organização 
estatal no âmbito jurídico, adota uma postura centralista e expressa sua própria 
descentralização ao ceder espaço pessoal nesses âmbitos, que antes, eram 
exclusivos do Estado. 
No caso da educação, esta ambiguidade se revela quando: 
 
(...) iniciativas mostram ações indicadoras de descentralização, 
embora com direção oficial (não obrigatória) advinda do regulamento 
do Pedro II e outros institutos oficiais da União e no Distrito Federal. 
Mantinha-se o ensino oficial, mas também indicava-se a manutenção 
do ensino livre, com liberdade para abertura de escolas particulares 
religiosas. Quanto ao ensino religioso, desde logo o Estado procurou 
promover a laicização no âmbito das escolas públicas. Mas não há, em 
âmbito nacional, a imposição da obrigatoriedade ou da gratuidade nas 
escolas oficiais (CURY, 2005, p. 73).
De fato, os cenários políticos e sociais vinham mudando. Os ideais comunistas 
e a participação política da classe trabalhadora culminaram na formação da União das 
Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1922, estabelecendo uma antítese política e 
econômica internacional às propostas liberais de um programa de Estado. 
Internamente, os brasileiros têm lutado por melhores salários e condições de 
trabalho, além de afirmação cultural. Como exemplo dessas lutas, podemos citar a 
mobilização marcada pela greve dos trabalhadores paulistas de 1917, que, apesar de 
uma luta árdua, resultou em um acordo para aumentar os salários; e a guerra do 
Contestado, que envolveu tropas federais que perderam seus empregos e terras nos 
 
11 
 
 
estados do Paraná e Santa Catarina e trabalhadores rurais. Além disso, em 1922, 
aconteceu a Semana de Arte Moderna, que entrou para a história como o maior evento 
de arte do país, como um grito de independência cultural do Brasil. 
No entanto, o país era politicamente e economicamente liderado por oligarcas 
do café e da pecuária dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Acordos políticos de 
apoio mútuo entre esses fazendeiros (os controladores do voto em seus distritos) e 
candidatos ao governo, conhecidos como políticas governamentais, garantiram a 
rotação do presidente da república. Às vezes havia um representante presidencial 
paulista, às vezes Mineiros. 
Então o suporte foi trocado. A posse de candidatos eleitos patrocinados pelos 
latifundiários não foi obstruída e esses latifundiários garantiram, através das mais 
diversas formas de manipulação, votos para candidatos ao governo estadual e à 
Presidência da República. 
Essas "manobras" ficaram conhecidas como política do café, e não agradou 
aos oligarcas de outros estados como Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e 
Pernambuco, gerando reações negativas. 
As relações com os militares também sofreram durante este período. Oficiais 
militares mais jovens exigiram mais engajamento político e questionaram o controle 
civil sobre os proprietários de terras e o uso das forças armadas para manter uma 
ordem constitucional baseada em fraude e corrupção. O tenentismo, como ficou 
conhecida a campanha militar, desdobrou-se na Coluna Prestes, desfile liderado por 
Luiz Carlos Prestes, que percorreu o país para combater a oligarquia. 
No campo da educação, em 1926, a recém-criada Associação Brasileira de 
Educação (ABE) promoveu um congresso que suscitou em um animado debate sobre 
os rumos da educação no Brasil. Lá, intelectuais, de liberais a positivistas, discutiram 
temas antigos sobre o papel do Estado na educação. No entanto, essas pequenas 
lutas tiveram um novo componente: a forma como o ensino foi desenvolvido, para o 
qual se propunha a modernização. 
 
12 
 
 
A década de 1920 terminou com uma mudança na conjuntura econômica 
internacional que acabou beneficiando as modificações pelas quais passou a 
sociedade brasileira. O colapso da Bolsa de Valores de Nova York expôs a fragilidade 
do então atual sistema econômico exportador agrícola, tornando impraticáveis as 
políticas protecionistas que apoiavam abertamente os oligarcas do café no Brasil. 
Os liberais tiveram ainda outra chance de enfatizar a necessidade de 
modernizar e industrializar o país. Foi quando ressaltaram a importância da 
implantação de um sistema de ensino moderno, mais adequado para proporcionar a 
preparação da mão de obra necessária para o país brasileiro ingressar no mundo 
industrializado. 
Dessa forma, em 1932, foi lançado o "Manifesto dos Pioneiros", um conjunto 
de princípios e fundamentos para uma educação mais moderna, destinada a fomentar 
o debate, a descoberta e uma maior interação entre a escola e a sociedade. Foi o 
movimento da Escola Nova de influência norte-americana e francamente liberal que 
chegou ao Brasil para colocar a escolarização na pauta das discussões sociais, 
políticas e econômicas. 
Mesmo antes do início dos trabalhos constituintes de 1933/1934, os planos 
educacionais já estavam em alta. No ano de 1930 foi criado o Ministério da Educação 
e da Saúde, que promovera a reforma do ensino e a criação do Conselho Nacional da 
Educação, a Reforma Francisco Campos. Em 1931, a Carta Universitária Brasileira 
estabeleceu as metas do ensino superior no país. Promoveu-se a reforma do ensino 
secundário e do ensino empresarial, e formou-se pessoal técnico nas áreas de 
administração e contabilidade. E, em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo – 
USP. 
A queda da oligarquia rural – a revolução de 1930 – não foi suficiente para 
promulgar leis que reduzissem drasticamente o poder do grupo, mas contribuiu 
significativamente para o fortalecimento do poder central, pelo menos na educação. 
Os poderes acumulados pelo governo central sobre os entes federativos (estados) e 
municípios estavam claros na Carta Constitucional de 1934. 
 
13 
 
 
A União passou a ficar responsável por desenvolver as diretrizes para o Plano 
Nacional de Educação, que seria organizado pelo Conselho Nacional de Educação. 
Os Estados seriam responsáveis apenas pelo acréscimo de leis necessárias para 
satisfazer suas peculiaridades, que escaparam à regra geral por estarem vinculadas 
às suas circunstâncias locais. 
Todavia, em um momento em que a oligarquia estava em colapso, os liberais 
com suas ideologias privadas faziam o possível para defender o enfraquecimento do 
poder estatal em favor da iniciativa privada na educação. Além das escolas 
confessionais já mandatadas pela legislação anterior, uma forma de existência no 
setor privado é que as empresas com mais de 50 funcionários eram obrigadas a 
oferecer ensino primário gratuito para seus funcionários e seus filhos. 
Ainda em relação ao avanço dos interesses privatistas na educação, devemos 
tomar atenção sobre o que diz a letra da lei. A redação do Art. 150, no item “d”, da 
expressão “estabelecimentos particulares”, propõe interpretações a favor da 
legalidade da ação de instituições não estatais no âmbito do setor educacional, uma 
vez que pressupõe a existência de pelo menos dois tipos de instituições educacionais, 
quais sejam as particulares e as não particulares, sendo essa última, as mantidas pelo 
Estado, as públicas. 
O texto da constituição de 1934 propunha uma autoridade central para orientar 
a descentralização. Dessa forma, ao mesmo tempo em que ficava garantido a União 
a exclusividade em poder “traçar as diretrizes da educação nacional”, o § 3º desse 
mesmo artigo admitia uma “legislação estadual supletiva ou complementar sobre as 
mesmas matérias”. Essa legislação também facilitava a organização da educação 
estadual, permitindo que elas tivessem suas próprias diretorias de ensino e 
organizassem seus sistemas, além de propor cotas para a educação financiada pelo 
estado. 
Outro aspecto da ambiguidade dos detalhes relacionados à questão da 
educação e ao texto da Constituição de 1934 é a garantia da liberdade de ensino 
definida nos artigos 155. Esta liberdade é, sem dúvida, importante quando os 
 
14 
 
 
professores assumem poderes exagerados fora da alçada da regulação estatal, mas 
podem colocar em risco a qualidade. 
Essa fragilidade regulatória, aliada às prerrogativas que os órgãos estaduais 
passaram a gozar nos textos constitucionais, torna a qualidade educacional mais 
dependente de atitudes e compromissos locais do que programas baseados nos 
princípios estabelecidos em âmbito nacional. 
Nos debates sobre a organização da educação brasileira na constituinte de 
1934, aponta-nos algo novo e importante sobre a democratização das relações na 
educação que, a muitos, passa despercebido. O autor cita um parecer de Celso Kelly 
sobre a criação e as funções de um Conselho Nacional para a Educação, onde ele 
propunha que, em razão da abrangência que deve ter um órgão que vise organizar a 
educação em plano nacional, sua composição contemplasse membros
da sociedade 
civil, além dos especialistas em educação - o que não apenas ampliava como 
democratizava o Conselho. (HORTA, 2005) 
Pela amplitude e detalhamento da matéria educacional abrangida pela 
Constituição de 1934, as cartas subsequentes limitam-se a embelezá-la com um ou 
outro detalhe vinculante ou restritivo de direitos. A carta de 1937, foi elaborada sob o 
viés do estado Novo, com supressão de direitos civis que haviam sido garantidos na 
carta de 1934. Em relação à educação, a única inovação foi a determinação da 
cobrança da caixa escolar para àqueles que não conseguissem comprovar estado de 
pobreza. 
Ainda no Estado Novo, o contexto em que foi construída a Constituição de 1946 
é fortemente contraditório. O mundo passou de uma guerra para um processo de 
polarização do poder econômico e político, conhecido como Guerra Fria. Por um lado, 
estão os países capitalistas liderados pelos Estados Unidos da América e, por outro 
lado, um grupo de repúblicas comunistas da Europa Oriental lideradas pela União 
Soviética. 
Por conta da aliança com os vencedores da Primeira Guerra Mundial, a 
sociedade brasileira - acreditamos que qualquer outra sociedade da época - não 
 
15 
 
 
deveria adotar um discurso contrário à liberdade política e social, uma oposição 
internacional à ditadura do proletariado implantada na União Soviética. Isso coloca o 
governo brasileiro em uma posição politicamente paradoxal: internamente, uma 
ditadura; externamente, um defensor das liberdades democráticas. 
Mesmo com tantos obstáculos, a carta de 1946 se manteve firme em seus 
ideais liberais. Resgatou os direitos civis que haviam sido perdidos na carta de 1937, 
e conseguiu manter os avanços da Constituição de 1934, descentralizando a 
organização escolar, ao institucionalizar os sistemas de educação e recriar os 
Conselhos de Educação com funções normativas (COSTA, 2002). 
Anos depois veio a Constituição de 1967, que, embora elaborada durante a 
ditadura militar e caracterizada pela centralização da tomada de decisões e pelo 
aprofundamento dos princípios técnicos, pouco mudou em relação ao estabelecido 
em 1934 e 1946. 
No final da década de 1970, o Brasil embarcou em um processo de 
redemocratização e abertura política, tendência já observada em outras partes da 
América Latina. A Constituição de 1988 pode ser considerada o marco final desse 
processo. Uma vez promulgada, a constituição foi considerada um dos textos jurídicos 
mais modernos do mundo, devido ao acirrado conflito entre representantes de 
organizações de esquerda da sociedade civil e representantes de elites 
conservadoras. 
A Carta Constitucional brasileira foi pioneira em uma visão democrática, 
envolvendo direitos civis, diferente das visões democráticas anteriores, sob a capa 
liberal da socialdemocracia. A sociedade civil organizada quis garantir em seus textos 
direitos civis, ferramentas de inclusão social, igualdade de oportunidades para o pleno 
exercício dos direitos civis e modernização das relações sociais. 
O artigo 211 da CF/1988 estabelece as bases para o mecanismo de 
cooperação entre a União, os estados, os municípios e o Distrito Federal na oferta da 
educação básica. Na prática, principalmente a partir de 1997, com a implantação do 
 
16 
 
 
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e do Valor do Ensino 
(FUNDEF), desencadeou-se um movimento de urbanização da educação básica. 
As garantias federais e estaduais de serviço universal gratuito e qualidade da 
rede pública de ensino superior para a educação básica, acabou gerando um aumento 
para 18% nos impostos federais relacionados à manutenção e desenvolvimento da 
educação. 
De acordo com o mesmo artigo, os percentuais vinculados aos estados e 
municípios são de pelo menos 25% – mas a LDB vai afirmar que as constituições 
estaduais e as leis organizadoras municipais podem aumentá-los – tanto na legislação 
quanto na prática, o que já aconteceu. 
O artigo 213 § 1º da CF/88 trata da previsão de ocorrer uma impossibilidade de 
atendimento nas escolas públicas, autorizando assim matrícula em espaços escolares 
não públicos – comunitários confessionais ou filantrópicos. Essa prática é 
demonstrada tanto na educação básica (financiada pelo Fundeb) quanto na educação 
superior – por meio do Programa Universidade para Todos (PROUNI). 
O artigo 211, além da responsabilidade pela definição das diferentes instâncias 
(federal, estadual, municipal e distrito federal), também confere ao federal a obrigação 
de equalizar as oportunidades educacionais em todo o país, por meio do apoio técnico 
e financeiro às unidades federativas. 
Quanto à permanência e continuidade do aprendizado na escola, o inciso VII 
do artigo 208 aponta ações complementares de apoio aos estudantes, que são 
geridas por programas governamentais vinculados ao Fundo Nacional de 
Desenvolvimento da Educação (FNDE). 
O acesso gratuito às escolas públicas do ensino básico é direito de todo o 
cidadão. Portanto, não haverá distinção entre os indivíduos e nenhum impedimento 
às suas propostas. 
A educação obrigatória, mesmo para quem não a recebeu na idade adequada, 
passa a ser entendida como um direito subjetivo, um direito civil. Entenda que isso 
 
17 
 
 
significa garantir a matrícula e permanência do aluno na escola. Desafios que o Estado 
deve enfrentar por meio da implementação de programas sociais eficazes. 
1.2 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) 
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) foi criado em 
1968 no âmbito do Ministério da Educação para arrecadar fundos para projetos 
educacionais, cuja principal fonte é o Salário Educação. 
Os principais programas do FNDE, decorrem dos artigos 208 e 212 da CF/88, 
sendo eles: 
a) Programa Nacional do Livro Didático – PNLD - Viabiliza livros didáticos 
aos alunos do Ensino Fundamental e Médio, incluindo a Educação de Jovens e 
Adultos. 
b) Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE – assegura aos 
alunos da educação básica das escolas públicas e comunitárias ao menos uma 
refeição diária, e, para as de jornada integral, três refeições. 
c) Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE – destina recursos para 
conservação e manutenção das instalações, para obtenção de materiais permanentes 
e formação de pessoal às escolas de todas as etapas e modalidades da educação 
básica. 
d) Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE – elaborado para 
equipar as bibliotecas das escolas com enciclopédias, obras literárias e dicionários. 
e) Programa Nacional Saúde na Escola – PNSE – destina recursos para as 
escolas desenvolverem projetos que sanem as questões de saúde que comprometem 
o aproveitamento escolar dos alunos. 
f) Programa Nacional de Transporte do Escolar – PNTE – repassa recursos aos 
municípios para colaborar no custeio do transporte dos alunos da educação básica 
que moram em zonas rurais. Adicionalmente, pelo “Caminho da Escola”, o FNDE 
 
18 
 
 
financia a compra de ônibus e embarcações para transportar esses mesmos 
estudantes. 
Em relação ao Fundeb, embora seja um programa estruturado e não 
complementar, também é administrado pelo FNDE. A maior diferença entre essas 
políticas (reveladas sob diferentes denominações) é que, por meio do Fundeb, todas 
as disciplinas que têm direito à educação básica, da creche ao ensino médio, 
passando pela educação profissional e modelos de educação de jovens e adultos, são 
de responsabilidade compartilhada do governo. 
O financiamento é assegurado pelo Fundo. No caso dos estados e municípios, 
por 20% dos principais impostos e transferências constitucionais; no caso da União, 
por uma complementação de no mínimo 10% da receita total dos Fundos estaduais, 
oriunda 30% dos impostos vinculados à MDE, e 70% de outras fontes orçamentárias. 
Isso significa que nenhum prefeito ou governador pode negar a qualquer 
cidadão brasileiro a educação básica
por falta de recursos. 
Em termos de formação e qualificação de educadores, as ações do novo fundo 
não se limitam aos professores. O termo “profissional da educação” é utilizado para 
se referir a todos os profissionais que exercem atividades de longa duração no 
desempenho de tarefas educacionais. Nesse sentido, o FUNDEB destina recursos 
para remuneração, treinamento e aperfeiçoamento de profissionais da educação não 
docente, celebra convênios com instituições de formação profissional e desenvolve 
recomendações para cursos de formação profissional. 
Percebe-se que a qualidade contemplada pela Lei não se limita às atividades 
escolares relacionadas ao ensino e à educação. Define os valores de todos os 
profissionais da educação e a organização de escolas democráticas e pluralistas. 
 
 
 
 
 
19 
 
 
2 A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA LDB 
Antes de adentrar na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), devemos falar um pouco 
dos ideais que os envolvem. O objetivo de estabelecer diretrizes e fundamentos 
educacionais foi configurar um conjunto coeso de normas para a educação brasileira, 
antes mesmo de se tornar a ferramenta de controle e o ordenamento jurídico da 
educação brasileira. Buscando um ordenamento jurídico que possa configurar nossa 
educação de acordo com as necessidades da sociedade brasileira, acreditamos que 
isso foi alcançado. 
Precisamente para isso, ainda em 1932, golpeado pelas ondas de mudança 
nacionalista e liberal nos meios intelectuais e sociais brasileiros das décadas de 1920 
e 1930, os pioneiros clamavam por diretrizes para o programa educacional nacional. 
O projeto atenderia às necessidades da sociedade brasileira e garantiria o 
papel da educação escolar na modernização social, política e econômica da 
sociedade brasileira. Utopia Educacional e Social, incorporando os preceitos 
constitucionais relativos à educação nas Constituições de 1934 e 1946 e nos 
dispositivos de nossa Primeira Diretriz e Lei Básica (LDB) – Lei nº 4.024 de 1961. 
Esse movimento via a educação e a sociedade sob a ótica republicana, 
implicando a compreensão da ação educativa como alavanca para a modernização 
social. Exige que a sociedade desempenhe um papel na promoção das condições 
para o desenvolvimento da educação cívica sob a orientação do Estado. 
Nesse sentido, as leis de diretrizes da educação que foram promulgadas no 
Brasil, se posicionaram para regulamentar a educação preconizada pela constituição, 
às vezes até mesmo reeditando seu texto. De modo geral, elas possuem 
características por marcos de avanços na organização da educação nacional. 
Maior ênfase será dada à atual LDB, que sofreu mais de uma centena de 
alterações no texto desde 1996, tornando-se a legislação de maior impacto no dia a 
dia dos profissionais administrativos escolares. Portanto, para uma melhor 
 
20 
 
 
compreensão acerca do assunto, recomendamos a leitura do texto atualizado da Lei 
nº 9.394 de 1996. 
2.1 As Leis de Diretrizes e Bases (LDB) 
No ano de 1.961, a LDB era composta mediante os seguintes níveis: pré-
primário; primário; ensino secundário de primeiro e segundo ciclos e ensino superior. 
O ensino secundário, para além do ensino preparatório, é adequado à formação 
contínua a outros níveis, formação profissional e cursos de formação de professores 
nas áreas da agricultura, indústria e comércio, educação pré-escolar e formação no 
ensino primário. 
Liderada pela onda de liberdade e descentralização, a LDB 4024/61 trouxe 
mudanças significativas para as organizações educacionais no Brasil. Dando maior 
autonomia aos órgãos estaduais, descentralizava a gestão da educação e 
regulamentava os Conselhos Estaduais de Educação, e o Conselho Federal de 
Educação. 
De acordo com a mencionada lei, a carreira docente ingressava na rede pública 
de ensino por meio de exames e concursos para títulos profissionais. Respeitando 
sempre as normas de formação por ela estabelecidas: aos cursos do ensino 
secundário e em licenciaturas de nível superior. 
As mudanças previstas pela LDB em 1971 foram um pouco mais intensas. Todo 
o ensino básico foi reconfigurado, instituiu-se o 1º grau com oito séries, sendo as 4 
primeiras equivalentes ao antigo ensino primário e as 4 últimas equivalentes ao 1.º 
ciclo do ensino secundário - retirando-se a exigência do "Exame de admissão ao 
ginásio". 
O segundo ciclo do ensino secundário passou a denominar-se de Ensino de 2º 
grau, vocacional obrigatório, com duração de 2 a 5 anos. Haviam ainda outras opções 
de qualificação técnica, maior carga de trabalho profissional e assistentes. 
 
21 
 
 
Contudo, as mudanças da Lei 5692/71 não se limitaram à estrutura da 
educação escolar. Foram organizadas atividades, áreas de estudo e disciplinas, 
estabelecidas pelos aportes da psicologia evolutiva. Além disso, por meio do artigo. 
7º, ficou estabelecido a obrigatoriedade da Educação Moral e Cívica, uma disciplina 
de natureza vinculada aos ideais que fundamentavam o golpe civil-militar de 1964. 
O viés da especialização foi mitigado pela resposta dos acadêmicos e da 
burguesia, que enviaram seus filhos para escolas particulares para prestar vestibular 
para cursos de prestígio (direito, engenharia e medicina). A "reforma da reforma" 
estabeleceu "competências básicas" no lugar dos terminais técnicos. 
Embora a década de 1990 tenha sido marcada por ideias neoliberais 
relacionadas à educação, desde a Conferência Educação para Todos de 1990 em 
Jontien, na Tailândia, houve o desejo de ampliar o alcance da política educacional e 
o clima de inclusão social envolvendo as sociedades ocidentais. 
Esses acontecimentos no Brasil afetaram a LDB 9.394/96, alinhando-a com a 
Constituição de 1988, que havia orientado o Estado brasileiro a partir de uma 
perspectiva mais voltada para as necessidades da sociedade civil. 
Essa fusão entre a LDB 9.394/96, os fundamentos filosóficos da época e a 
Carta Magna de 1988 deu à educação brasileira o caráter típico de uma prática 
centrada no processo de modernização social, implicando em uma grande mudança 
na organização da educação no Brasil. Em todos os níveis, começando pela 
amplitude. 
2.2 A LDB atual: Lei nº 9.394, de 1996 
Logo no primeiro artigo, a LDB 9.394/96 define o alcance da educação para o 
Estado brasileiro, afirmando que ela engloba os “processos formativos que se 
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições 
de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e 
nas manifestações culturais. ” 
 
22 
 
 
No artigo 5º temos um direito a educação pautado em um direito público 
subjetivo. Essa caracterização permite que o cidadão ou qualquer entidade da 
sociedade civil acione legalmente o Estado para cobrar esse direito em caso de “oferta 
irregular”, responsabilizando assim as autoridades competentes. 
A LDB defende uma concepção de educação que não apenas ilumine as 
complexidades da ação educativa, mas também identifique os limites dos 
compromissos nela envolvidos. Esse compromisso não se limita aos muros das 
escolas, nem aos profissionais da educação que ensinam, pois aponta para diferentes 
espaços educativos e engaja todos os envolvidos na defesa dos princípios da 
liberdade e da solidariedade humana. (BRASIL, 1996) 
A atual LDB parte da perspectiva da construção de uma "sociedade de 
aprendizagem", onde todos participem da educação e depois da transformação social. 
Sendo assim, o artigo 2º da lei em estudo expõe como meta, educativa “o pleno 
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho”. 
 
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte e o saber; 
 
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; 
 
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 
 
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
 
VII - valorização do profissional da educação escolar; 
 
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da 
legislação dos sistemas de ensino; 
 
IX - garantia de padrão de qualidade; 
 
X - valorização da experiência extra-escolar; 
 
 
23 
 
 
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas 
sociais. 
 
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. 
 
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da 
vida. 
 
XIV - respeito à diversidade humana, linguística, cultural e identitária 
das pessoas surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva. 
 
 
 
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado 
mediante a garantia de: 
 
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 
(dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: 
 
a) pré-escola; 
 
b) ensino fundamental; 
 
c) ensino médio; 
 
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade; 
 
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos 
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas 
habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e 
modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino; 
 
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para 
todos os que não os concluíram na idade própria; 
 
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da 
criação artística, segundo a capacidade de cada um; 
 
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do 
educando; 
 
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com 
características e modalidades adequadas às suas necessidades e 
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as 
condições de acesso e permanência na escola; 
 
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação 
básica, por meio de programas suplementares de material didático-
escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; 
 
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a 
variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos 
indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem. 
 
24 
 
 
 
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino 
fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do 
dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. (BRASIL, 1996). 
 
 
De acordo com a referida lei em comento, a educação brasileira se organiza 
em dois níveis, sendo eles o básico e o superior. A educação básica compreende a 
educação infantil, atendendo crianças de 0 a 3 anos em creches e pré-escolas, até 
crianças de 4 e 5 anos. 
O ensino fundamental, com nove anos de duração, atende às crianças a partir 
de 6 anos. E o ensino médio, última etapa da educação básica, com três anos de 
duração – em que a idade certa de matrícula varia de 14 a 18 anos. 
Em termos de estrutura, o ensino médio passou por grandes mudanças com a 
promulgação do Decreto nº 2.208/97, que regulamenta o ensino profissionalizante, e 
do Decreto nº 5.154/04, que criou um modelo de articulação do ensino médio com o 
ensino médio técnico profissional. 
O decreto 2.208/97 estabelece no seu artigo 2º que: 
 
A educação profissional será desenvolvida em articulação com o 
ensino regular ou em modalidades que contemplem estratégias de 
educação continuada, podendo ser realizada em escolas do ensino 
regular, em instituições especializadas ou nos ambientes de trabalho 
(Brasil, 1997). 
 
 
Sem dúvida, uma das inovações mais radicais da LDB é a variedade de 
possibilidades organizacionais oferecidas às escolas de ensino fundamental. Pelo art. 
23, elas poderão ser estruturadas em séries anuais; em semestres; ciclos; períodos 
de estudos alternados; grupos não seriados; enturmados por faixa etária; por 
competências demonstradas pelos alunos; ou por outros critérios. 
No entanto, os parâmetros organizacionais serão sempre "recomendados pelos 
interesses do processo de aprendizagem". Essa observação, que antes se aplicava 
 
25 
 
 
ao ensino de artes e línguas estrangeiras, deve agora ser levada em conta para todas 
as etapas, modalidades e componentes curriculares da educação básica. 
No que diz respeito ao currículo do ensino fundamental, também merece 
destaque a obrigatoriedade da inclusão de conteúdos relacionados aos direitos da 
criança e do adolescente (artigo 5º, IV, ponto 32). Sendo uma ação concreta para 
estabelecer uma atitude cívica, é também um dos objetivos fundamentais da 
educação básica. 
Hoje, os alunos que concluem o ensino fundamental têm uma ampla gama de 
oportunidades, desde o tradicional ensino médio comum – preparatório à educação 
superior – até cursos profissionais a ele concomitantes ou subsequentes e os de 
currículo integrado, que são oferecidos principalmente por redes estaduais e pelos 
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, presentes em diversas 
cidades brasileiras. 
O “cardápio” de cursos da educação superior é estruturado em graduações 
(licenciatura, bacharelado e tecnológico) e pós-graduações, lato sensu 
(aperfeiçoamento e especialização) e stricto sensu (mestrado e doutorado), bem como 
em cursos de extensão e sequenciais, tendo esses últimos como pré-requisito a 
certificação do ensino médio. (BRASIL, 1996) 
 A matrícula na educação básica, na educação infantil faz-se em creches para 
crianças de até 3 anos de idade (art. 30, inciso I) e é obrigatória na pré-escola para 
aquelas entre 4 e 5 anos (art.30, inciso II). 
No ensino fundamental, a idade de entrada é de 6 anos. Alguns sistemas 
estabeleceram 31 de março como o prazo para as crianças ingressarem na primeira 
série do ensino fundamental, de acordo com uma resolução do Conselho Nacional de 
Educação. As crianças que não completaram seis anos antes desta data ainda devem 
frequentar a pré-escola. Já para o ensino médio, a legislação não estabelece uma 
idade limite mínima para ingresso. 
 
26 
 
 
Os legisladores da educação trazem para a LDB em seu art. 24. Inciso II, alínea 
b, a possibilidade de matricular-se em qualquer ano ou série do ensino básico por 
promoção ou transferência, mesmo sem comprovação de escolaridade anterior. 
Nesses casos de possibilidade de acolhimento de um aluno na escola, será 
feita uma avaliação para verificar "o nível de desenvolvimento e experiência do 
candidato" antes de ser alojado. Tais avaliações podem até mesmo levar à 
"aceleração do aprendizado" ou ao "avanço de cursos e notas". 
Podemos vincular a busca precoce de emprego à essas imigrações, fator que 
afeta a frequência normal e até mesmo a matrícula dos jovens em escolas, em uma 
idade considerada ideal. 
Diante de tal cenário, a LDB, nos artigos 37 e 38, estabelecendo a educação 
como política social, alavanca do desenvolvimento social e econômico, assegura a 
gratuidade dos cursos fundamentais e médios da EJA e a gratuidade dos exames de 
suplência para os jovens e adultos que não frequentaram a educação básica na idade 
certa. Mais ainda: alia aos currículos da EJA os componentes da educação 
profissional. 
Em relação aos exames de suplência, é garantido que maiores de 15 anos 
podem fazer o exame do ensino fundamental e os maiores de 18 anos podem fazer o 
exame de conclusão do ensino médio. Nesses exames, o sistema educacional poderá 
manter uma forma de mensurar e utilizar os conhecimentos que os alunos adquirem 
informalmente. 
Uma das últimas novidades quanto à formalização dos conhecimentos como 
política pública é a instituição pelo governo federal do Exame Nacional do Ensino 
Médio (ENEM), que antes de 2017, certificava a conclusão do ensino médio para os 
aprovados com mais de 18 anos e os habilita.
Nos dias atuais, o exame acontece para 
a obtenção de uma classificação, para que o estudante possa se beneficiar com 
milhares de vagas em cursos superiores de graduação de instituições públicas e 
privadas. 
 
 
27 
 
 
Com uma semelhança do conhecido 2º grau da LDB anterior, o ensino médio 
da LDB vigente também possui uma instância de formação profissional, porém, não 
tem caráter obrigatório, e nem a celeridade dos conteúdos científicos e humanísticos 
da lei anterior. 
As escolas devem orientar os alunos a tomar uma decisão ao fim do ensino 
fundamental, como por exemplo a escolha por um curso profissional. Um diferencial 
dessa forma de organização da educação profissional é o alinhamento com o mercado 
de trabalho da região e as parcerias com instituições de formação profissional de 
outras redes de ensino. 
A formação profissional está sempre aliada à educação geral, podendo também 
atender às necessidades de educação continuada, programas especiais voltados aos 
interesses da comunidade, sem a necessidade de comprovação de determinado nível 
de escolaridade. 
A Lei 11.741/08 introduziu na LDB os artigos 36-A, B, C e D. Nos dois primeiros, 
diz-se que a formação profissional pode ser integrada ao ensino médio de duas 
formas: articulada ou subsequente, sempre aproveitando os espaços e tempos 
disponíveis do aluno. 
A educação de alunos entendidos como portadores de "necessidades 
educacionais especiais" (pessoas com deficiência, com transtornos globais de 
desenvolvimento ou superdotados) tem recebido considerável atenção nas propostas 
de inclusão social apresentadas pela sociedade brasileira no final do século XX e início 
do século XXI. 
A LDB 9394/96 avança nesse aspecto em relação às anteriores, ao estabelecer 
o atendimento a estes estudantes preferencialmente dentro da rede regular de ensino, 
prevendo o suporte de profissionais especializados às turmas comuns e salas para 
atenção específica quando for necessário (BRASIL, 1996) 
O artigo 59 da LDB prevê uma adequação curricular e metodológica para 
atender o desenvolvimento educacional e pessoal dos alunos de acordo com suas 
 
28 
 
 
necessidades. O mesmo artigo prevê formação geral e especial para profissionais 
comprometidos com a educação especial, inclusiva e profissional. 
Depois da Lei nº 12.014, que reconheceu os funcionários de escolas como a 
Categoria III dos profissionais de educação (art. 61 da LDB), desde que em exercício 
permanente nas redes públicas e formados em cursos reconhecidos de nível médio e 
superior, “em área pedagógica ou afim”, dois avanços muito importantes foram 
trazidos pela Lei 12.796/13, que introduziu o art. 62-A na LDB. O primeiro é que 
confirma a formação profissional da Categoria III por meio de “cursos de conteúdo 
técnico-pedagógico”, descartando a possibilidade de aproveitamento de diplomas 
sem ligação direta com a essência da identidade dos funcionários: técnicos e 
educadores. O segundo é que se garante a formação continuada dos funcionários em 
cursos de graduação e pós-graduação, o que fundamenta a reivindicação por horário 
de trabalho dedicado à capacitação permanente. 
Para encerrar este tópico, é importante lembrar que a legislação é uma síntese 
de acordos, um contrato social e uma garantia legal de direitos. Sua efetivação, no 
entanto, requer uma mobilização social, uma intensa fiscalização sobre conselhos e 
organizações sociais. 
 
3 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) 
 
Neste tópico, trataremos de um instrumento importante que faz parte da 
legislação educacional: o Plano Nacional de Educação. 
O Plano Nacional de Educação – PNE – tem como objetivo a organização 
racional, consequente e eficaz do universo de ações educativas que devem ser 
executadas num determinado país. 
 
 
29 
 
 
O instrumento legal de sustentação do PNE é a Constituição Federal. De 
acordo com o artigo 214 da Carta Magna, o PNE deve abranger todos os aspectos 
relacionados à organização da educação nacional de forma a unir os diferentes níveis 
de ensino para integrar a ação governamental na tentativa de suprir as deficiências 
históricas no campo da educação. (BRASIL, 1988) 
Portanto, o plano deve ter como objetivo a erradicação do analfabetismo, a 
universalização da escolarização, a melhoria da qualidade da educação, a 
qualificação profissional e o desenvolvimento das humanidades e da ciência e 
tecnologia do país. 
De acordo com o disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 
o PNE constitui um mecanismo intermediário entre as principais leis de educação, 
cumprindo os objetivos necessários à construção do sistema nacional de ensino, a fim 
de garantir qualidade na educação para todos os brasileiros. 
Apesar dessa função intermediária, devemos lembrar que o PNE é subordinado 
à LDB. Esta é a mais alta lei de educação que estabelece diretrizes para sua 
organização nacional. Portanto, todas as ações educativas implementadas nas 
esferas federal, estadual e municipal, mesmo aquelas mandatadas por legislação 
estadual e municipal específicas, referem-se à LDB. 
Para se ter um PNE com qualidade, é necessário ter um bom entendimento dos 
problemas da educação nacional para planejar efetivamente as medidas necessárias 
para enfrentá-los. É preciso saber o número de analfabetos, quantas crianças de 0 a 
5 anos não têm acesso a creches e pré-escolas, quão difundido é o ensino 
fundamental, quantos jovens são excluídos do ensino médio, a proporção da 
população de jovens e adultos que não estudam e precisam de educação na idade 
adequada, quantas crianças com necessidades especiais precisam ser incluídas na 
educação especial, quantos professores existem no país e seus requisitos curriculares 
para treinamento prático e educação continuada. A partir desses dados, é possível se 
ter um diagnóstico mais preciso da situação, e elaborar um PNE de acordo com a 
necessidade de cada caso em específico. 
 
30 
 
 
No processo de desenvolvimento de um PNE, a definição de metas também é 
essencial. As metas demonstrarão a velocidade esperada com que as necessidades 
educacionais são atendidas, uma vez que as autoridades governamentais 
estabelecem prazos para a resolução dos problemas diagnosticados. 
Sendo assim, do PNE constam os prazos estabelecidos para: erradicar o 
analfabetismo; universalizar a educação básica; equiparar a oferta de ensino superior 
público aos níveis dos países desenvolvidos; ampliar a oferta da educação de jovens 
e adultos; ter um corpo docente com formação superior atuando em todos os níveis 
da educação básica. 
Por mais que seja importante priorizar a educação básica, até para não 
condenar as gerações futuras às defasagens educacionais que são vivenciadas no 
presente, não se pode esquecer da educação superior, da educação de jovens e 
adultos, da educação especial, entre outras. Portanto, o PNE deve ter essa 
capacidade de articular simultaneamente a oferta e o desenvolvimento dos diversos 
níveis, etapas e modalidades da educação. 
As diretrizes e metas do Programa Nacional de Educação estão diretamente 
relacionadas aos programas políticos e de desenvolvimento do país. Por exemplo, se 
os líderes de uma nação querem reduzir sua dependência tecnológica das nações 
industrializadas, os governos devem investir em pesquisa para dotar nossas 
universidades de maior capacidade de produção científica. 
Portanto, o PNE não pode se limitar ao repasse de recursos, mas deve estar 
subordinado a uma estratégia nacional de desenvolvimento que estenda o direito à 
autoeducação a todas as pessoas, levando em conta a luta por maior soberania para 
o país e a resolução de problemas sociais. 
Em um país como o Brasil, que apresenta diversas deficiências no campo da 
educação, a quantidade de recursos destinados ao ensino deve ser muito maior do 
que em países com sistemas educacionais estabelecidos. Isso porque, enquanto 
precisamos de recursos para
completar a organização da educação nacional e mantê-
la, nos países desenvolvidos, os recursos são utilizados apenas para manutenção. 
 
31 
 
 
3.1 PNE: breve histórico 
O manifesto dos pioneiros em 1932 que desejam uma Educação Nova, propôs 
a organização de um programa educacional nacional para universalizar a educação e 
garantir que ela fosse pública e de qualidade. Esta foi a primeira iniciativa de 
modernização da sociedade brasileira por meio da educação. 
Na Constituição de 1934 foram estabelecidas importantes diretrizes para se 
organizar a educação nacional. A fixação de um plano nacional de educação e a 
coordenação de sua fiscalização e execução ficou a cargo da União. Também houve 
a criação de um Conselho Nacional de Educação que ficaria responsável pela 
construção do PNE. 
Mais tarde, em 1964, os militares tomaram o poder em um golpe que derrubou 
João Goulart da presidência da república. Uma característica desse período foi a 
subordinação do Ministério da Educação ao Ministério do Planejamento, sugerindo 
que os tecnocratas substituíssem os educadores na elaboração dos planos 
educacionais. 
Segundo os ensinamentos de Saviani “os planos para a área de educação 
decorriam diretamente dos Planos Nacionais de Desenvolvimentos (PNDs), 
recebendo, por isso mesmo, a denominação de “Planos Setoriais de Educação e 
Cultura (PSECs)” (SAVIANI, 2004), 
Em 1985, a Nova República manteve mecanismos autoritários no planejamento 
das políticas educacionais. O centralismo da formulação dos planos educacionais, 
verificado na cúpula governamental durante o regime militar, foi substituído pela 
descentralização em que a fragmentação e o descontrole são as marcas das ações 
na área de educação. 
Em 1993, sob a liderança de Itamar Franco, foi lançado o Plano Decenal de 
Educação para Todos. O programa se concentra na oferta de educação primária e 
infantil, especialmente a faixa etária de 4 a 6 anos. Esse enfoque revelava as 
limitações do plano, que não se destina a abordar a educação como um todo ou a 
 
32 
 
 
construir um sistema nacional de educação que possa atender às múltiplas 
necessidades de qualidade da educação no Brasil. 
Ao longo dos anos, o processo de elaboração da legislação educacional no 
Brasil foi marcado por um confronto entre conservadores e progressistas. Com o PNE 
não é diferente, pois observamos forças conservadoras defendendo um Estado 
autoritário, centralizando a tomada de decisões, mas com pouco gasto social. Por 
outro lado, o setor da sociedade civil, que representa forças progressistas, pressiona 
pela democratização do país e seu compromisso com o financiamento da educação 
pública. 
3.2 O PNE atual 
Para alcançar melhorias nos diversos aspectos que envolvem a educação 
nacional, é necessário utilizar uma ferramenta capaz de prever, organizar, 
recomendar e monitorar ações no campo da educação básica, incluindo: 
 
 A educação infantil; 
 O ensino fundamental; 
 O ensino médio e todas as modalidades educacionais envolvidas; 
 A educação superior em nível de graduação e pós-graduação. 
 
O instrumento elaborado para atingir essa finalidade é o PNE 2014–2024. 
É importante ressaltar que o PNE, desde a Emenda Constitucional nº. 59, de 
11 de novembro de 2009, deixa de ser uma disposição transitória da Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação Nacional (LDBEN), para ser uma exigência constitucional, de 
caráter decenal e que articula o Sistema Nacional de Educação, apresentando 
inclusive o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) para o financiamento de suas 
ações em busca do atendimento das metas (BRASIL, 2014). 
 
33 
 
 
O PNE 2014-2024 é composto por 20 metas, e podemos dividi-las da seguinte 
forma: 
 Um primeiro bloco que trata da garantia do direito à educação básica de 
qualidade; 
 Um segundo bloco sobre redução das desigualdades e da valorização 
da diversidade; 
 Um terceiro bloco sobre a valorização dos profissionais da educação; 
 E por fim, um quarto bloco contendo metas sobre a educação superior. 
 
As metas que compõem o primeiro bloco, que busca a garantia do direito à 
educação básica de qualidade são as seguintes: 
 
META 1 Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as 
crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil 
em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 
anos até o final da vigência desse PNE. 
META 2 Universalizar o ensino fundamental de 9 anos para toda a população de 
6 a 14 anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa 
etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência desse PNE. 
META 3 Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população 
de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, 
a taxa líquida 
de matrículas no ensino médio para 85%. 
META 5 Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º ano do ensino 
fundamental. 
 
34 
 
 
META 6 Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas 
públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da 
educação básica. 
META 7 Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e 
modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de 
modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nos anos 
iniciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino 
fundamental; 5,2 no ensino médio. 
META 9 Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 
93,5% até 2015 e, até o final da 
vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 
50% a taxa de analfabetismo funcional. 
META 10 Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e 
adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à 
educação profissional. 
META 11 Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, 
assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no 
segmento público. 
 
As metas da educação básica dizem respeito às atribuições de todos os entes 
federativos. Por exemplo, no campo da educação infantil, os municípios são os 
principais responsáveis pelo atendimento universal, visando alcançar e qualificar esse 
nível de ensino. 
Da mesma forma, é um grande desafio nacional “[...] assegurar o acesso pleno 
de crianças e jovens de 6 a 17 anos ao ensino fundamental e médio, inclusive com 
ampliação da oferta de educação profissional. Se trata de um trabalho que exige 
 
35 
 
 
colaboração contínua entre redes estaduais e municipais e acompanhamento da 
trajetória educacional de cada estudante” (BRASIL, 2018). 
Em outras palavras, o PNE só pode produzir resultados se houver um 
mecanismo de cooperação realmente efetivo entre os entes federativos, quais sejam, 
a União, estados, Distrito Federal e municípios - desde que integrado e articulado. 
Conforme determinado pelo PNE, estados e municípios também desenvolverão 
seus próprios planos para levar em conta as necessidades de sua população, 
trabalhando em conjunto para alcançar os resultados desejados. 
Abaixo estão as metas que compõem o bloco da redução das desigualdades e 
valorização da diversidade: 
 
META 4 Universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, 
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou 
superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento 
educacional especializado, preferencialmente na rede regular de 
ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de 
recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços 
especializados, públicos ou conveniados. 
META 8 Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo 
a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência 
deste plano, para as populações do campo, da região de menor 
escolaridade no País e dos 25% mais pobres, e igualar 
a escolaridade média entre negros e não negros
declarados à 
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
 
As metas 4 e 8 visam estender os cuidados relacionados às questões de 
inclusão escolar a todas as instituições de ensino. Isso inclui tanto os alunos com 
 
36 
 
 
deficiências diversas, como também aos grupos citados ne meta 8, que de forma 
geral, tendem a ser desfavorecidos. 
O terceiro bloco que trata da valorização dos profissionais da educação é 
composto pelas seguintes metas: 
 
META 15 Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o 
Distrito Federal e os municípios, no prazo de 1 ano de vigência deste 
PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de 
que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº. 9.394, de 
20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as 
professoras da educação básica possuam formação específica de 
nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de 
conhecimento em que atuam. 
META 16 Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da 
educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir 
a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação 
continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, 
demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. 
META 17 Valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de 
educação básica, de forma a equiparar seu rendimento médio ao 
dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o 
final do sexto ano de vigência deste PNE. 
META 18 Assegurar, no prazo de 2 anos, a existência de planos de carreira 
para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de 
todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos(as) 
profissionais da educação básica pública, tomar como referência o 
 
37 
 
 
piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos 
do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal. 
 
O estabelecimento de metas destinadas a valorizar os profissionais do ensino 
pode contribuir diretamente para todos os grandes objetivos do atual PNE. Essas 
metas incluem o desenvolvimento de planos de carreira, políticas de remuneração 
mais atrativas, condições de trabalho adequadas e programas eficazes de educação 
inicial e continuada. 
Para atingir esses objetivos, todas as redes educacionais devem estar 
envolvidas para fortalecer o sistema educacional brasileiro. 
As metas referentes ao nível da educação superior são: 
 
META 12 Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e 
a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada 
a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas 
matrículas, no segmento público. 
META 13 Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de 
mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no 
conjunto do sistema de educação superior para 75%, sendo, do 
total, no mínimo, 35% doutores. 
META 14 Elevar gradualmente o número de matrículas na pós- graduação 
stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres 
e 25.000 doutores. 
 
 
 
38 
 
 
De acordo com as metas relacionadas a expansão do ensino superior, é nessa 
instância que os professores da educação básica e do ensino superior passam por 
uma formação inicial e, além disso, quanto maior a oportunidade de receber educação 
superior de qualidade, maior a probabilidade de desenvolvimento geral para o país. 
Da mesma forma, ao aumentar a cada ano o número de mestres e doutores 
concluintes, pretende-se aumentar a participação na pesquisa e na produção científica 
nacional e internacional. 
Além desse grupo de metas, existe a necessidade de que se estipule a origem 
dos recursos necessários ao estabelecimento das estratégias do PNE 2014–2024, 
bem como que se propiciem espaços democráticos nas escolas para a participação 
da comunidade, como dispõe as metas abaixo: 
 
META 19 Assegurar condições, no prazo de 2 anos, para a efetivação da 
gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de 
mérito e desempenho e à consulta pública 
à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo 
recursos e apoio técnico da União para tanto. 
META 20 Ampliar o investimento público em educação pública de forma a 
atingir, no mínimo, o patamar de 7% do PIB do País no 5º ano de 
vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao 
final do decênio. 
 
Como vimos, a governança democrática estabelecida na Constituição Federal 
de 1988 é fortalecida a partir da meta 19 do PNE, de proporcionar a participação social 
nas questões educacionais. A meta 20 é importante porque mostra um aumento 
significativo do PIB da educação, que fornecerá os recursos necessários para atingir 
todas as metas. 
 
39 
 
 
4 REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
AMARAL, N. C. PEC 241/55: a “morte” do PNE (2014–2024) e o poder de 
diminuição dos recursos educacionais. Revista Brasileira de Política e 
Administração da Educação, v. 32, nº. 3: p. 653-673, 2016. 
 
AZEVEDO, J. M. L. Plano Nacional de Educação e planejamento: a questão da 
qualidade da educação básica. Retratos da Escola, v. 8, n. 15, p. 265-280, 2015. 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 
 
BRASIL. Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2 º do art. 36 e 
os arts. 39 a 42 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as 
diretrizes e bases da educação nacional. Revogado pelo Decreto nº 5.154, de 2004. 
 
BRASIL. Lei I 11.741, de 2008 de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no 
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação 
nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação 
profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação 
profissional e tecnológica. 
 
BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de 
Educação e dá outras providências. 
 
BRASIL. Lei nº 12.014 de 6 de agosto de 2009. Altera o art. 61 da Lei no 9.394, de 
20 de dezembro de 1996, com a finalidade de discriminar as categorias de 
trabalhadores que se devem considerar profissionais da educação. 
 
40 
 
 
 
BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de 
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para 
dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. 
 
BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino 
de 1. E 2 graus, e das outras providencias. Revogada pela Lei nº 9.394, de 20 de 
dezembro de 1996. 
 
BRASIL. Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995. Altera dispositivos da Lei nº 
4.024, de 20 de dezembro de 1961, e dá outras providências. 
 
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases 
da educação nacional. 
 
BRASIL. Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de 
Educação e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 2014. 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 
Educacionais Anísio Teixeira. Relatório do 1º Ciclo de Monitoramento das Metas 
do PNE: Biênio 2014–2016. Brasília, DF, 2016. 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Articulação com os Sistemas de 
Ensino. Planejando a próxima década: conhecendo as 20 metas do Plano 
Nacional de Educação. Brasília, DF, 2014. 
 
 
41 
 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Situação das metas dos planos. Brasília, DF, 
2018. 
 
BRASIL. Plano Nacional de Educação. Brasília: Câmara dos Deputados, 
Coordenação de Publicações. 2002. 
 
CARNAÚBA, M. C. P. Riscos do descumprimento das metas do PNE. In: CONSELHO 
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Revista do
7º Congresso Brasileiro de 
Gestão do CNMP. Brasília: CNMP, 2017. 
 
COSTA, Messias. Educação nas constituições do Brasil: dados e direções. Rio 
de Janeiro: DP& A Editora, 2002. 
 
CURY, Carlos Roberto Jamil. Gestão democrática da educação: exigências e 
desafios. São Paulo: RBPAE, 2005. 
 
FAUSTINI, Loyde A. Estrutura administrativa da educação básica. In: MENESES, 
João Gualberto de Carvalho et al. Estrutura e Funcionamento da Educação Básica. 3. 
ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. 
 
FÁVERO, Osmar. (org). A educação nas constituintes brasileiras: 1823-1988. Autores 
associados, 2005. 
 
FRANCISCO FILHO, Geraldo. A educação brasileira no contexto histórico. São 
Paulo: Alínea, 2001. 
 
 
42 
 
 
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSITCA. Indicadores IBGE: 
pesquisa nacional por amostra de domicílios contínua (mensal). Rio de Janeiro, 
2015. 
 
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 29. ed. (Atualizada por 
Eurico de Andrade Azevedo, Délcio Balestero Aleixo e José Ammanuel Burle Filho). 
São Paulo: PC Editorial Ltda., 2004. 
 
MENDONÇA, Erasto Fortes. A regra e o jogo: democracia e patrimonialismo na 
educação brasileira. Campinas, SP: FE/ UNICAMP; R. Vieira, 2000. 
 
PACHECO, Ricardo G.; MENDONÇA, Erasto Fortes. Educação, sociedade e 
trabalho: abordagem sociológica da educação. Brasília: Universidade de Brasília. 
Centro de Educação a Distância, 2006 
 
SAVIANI, Dermev. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 
8.ed.rev.– Campinas, SP: Autores Associados, 2003. 
 
SAVIANI, Dermeval. Da nova LDB ao novo plano nacional de educação: por uma 
outra política educacional. 5. ed. São Paulo: Autores Associados, 2004. 
 
VALENTE, Ivan; ROMANO, Roberto. PNE: Plano Nacional de Educação ou carta 
de intenção. In: Educação & Sociedade: Revista de Ciência da Educação/Centro de 
Estudos Educação e Sociedade, 80 v., n. 23 (número especial), São Paulo: Cortez, 
2002.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando

Outros materiais