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Complexo Sporothrix Mestrando: Daniel Paiva Barros de Abreu São fungos dimórficos. Podem possuir tanto a forma filamentosa quanto a forma de levedura. Dependendo da temperatura e do substrato que o fungo se encontra. Histórico 1896 – Benkamin Schenck: Primeiro relato de esporotricose ocorreu no final do século XIX. Nos EUA onde o Benkamin Schenck obteve um isolado a partir de um inddivíduo do sexo masculino, com 36 anos. Esse homem apresentava lesões ascendentes do braço, desde o dedo indicador da mão direita e não respondia a nenhum tratamento. 1899 – Hektoen & Perkins: Segundo caso, onde uma criança estava brincando em casa com um martelo se feriu e posteriormente os pais tiveram os mesos sinais observados por Benkamin, lesões nos dígitos que ascenderam no braço, tinha nódulos e posteriormente ulceravam. 1907 – Lutz & Splendore: primeiro caso identificado no Brasil. Estava com um surto de peste na época e foram obrigados a coletar diversos roedores das ruas para fazer pesquisa. Alguns roedores apresentaram lesões, conseguiram isolar e identificar como Sporothrix. Na época, já observaram tanto a forma de levedura, quanto a forma filamentosa. Fazendo a microscopia direta dos roedores que foram pegos da rua, observava as leveduras, unicelulares. Ao cultivar, observavam fungos filamentosos. Percebendo que esse grupo podia assumir as 2 formas. E identificaram que inoculando em animais saudáveis, eles iriam vir a apresentar esporotricose. 2001 – Barros et al. Emitiam um alerta que o número de casos no Rio de Janeiro estava aumentando consideravelmente. Da década de 80 até 98, tinham apenas 13 casos de esporotricose humana discritos. E de 98 até 2001, já tinham passados de 100 casos. Tanto a casoística humana quanto a veterinária aumentou. No histórico desses humanos, tinha muitos casos de humanos com contato prévio com felinos que tinham lesões. Começaram a correlacionar a transmissão zoonótica. Reflexo do observado até hoje no Rio de Janeiro. Taxonomia Reino: Fungi (eucariota, nao possui motilidade, possui quitina na parede celular, capaz de promover reprodução sexuada – maior variabilidade genética e/ou assexuada (conídeos germinam levando a formação de novas colônias com a mesma característica genética da cepa de origem) Divisão: Ascomycota Classe: Pyrenomycetes Ordem: Ophistomales Família: Ophistomaceae Gênero: Sporothrix Espécie: Sporothrix brasiliensis Sporothrix globosa Sporothrix luriei Sporothrix mexicana Sporothrix schenckii Sporothrix pallida 2 Forma sexuada: Ceratocystes stenoceras (Ophistoma stenoceras) Até pouco tempo, acreditava-se que só a Sporothrix schenckii era responsável pela esporotricose. Começaram a perceber que algumas sepas apresentavam características distintas de outras. A esporotricose da Colombia era diferente da esporotricose da China. Começaram a correlacionar, com estudos filogenéticos, como apresentada morfologicamente e geneticamente que pelo menos 6 espécies estavam dentro desse grupo. Agentes diferentes podem promover processos infecciosos diferentes e podem ter um perfil de susceptibilidade diferente. Uma esporotricose causada pelo Sporothrix brasiliensis pode ser diferente de uma esporotricose causada pela S. globosa e o tratamento que é usado para tratar a S. brasiliensis pode não ser eficaz para tratar uma S. mexicana. Espécies estão dentro de um completo, são muito próxima, semelhantes uma das outras. Na rotina de diagnóstico, semear e observar, faz uma lâmina, só isso não é capaz de diferenciar as cepas. Precisa de testes fenotípicos, que mostra a morfologia, bioquímica e fisiologia desses agentes e genotípicos (sequenciamento genético) Complexo Sporothrix Espécies crípticas Características fenotípicas e filogenéticas o Grupos com elevada variabilidade genotípica Testes: - Pigmentação de conídeos: a partir de um meio específico, faz a coloração e verifica se esses conídeos apresentam pigmentação, melanina na sua parede celular ou não. O processo de produção de melanina é um fator de virulência. Facilita a vida do fungo, quando ele está no meio ambiente, protege o fungo de raios UV e quando está no animal, dificulta a ação de fármacoa anti-fúngicos. Alguns produzem melanina e outros não. Lembrando que a infecção é uma soma de vários fatores de virulência. Sporothrix brasiliensis – conídeos sésseis pigmentados - Diâmetro de colônia Distinto entre as espécies 3 A 37ºC a S. globosa não é capaz de se desenvolver bem. Logo, não vai conseguir produzir um quadro infeccioso com grande eficácia. Produzindo quadros mais brandos de patogenicidade. - Prova de assimilação de fontes carbonadas Só para ver se o fungo é capaz de assimilar sacarose. Epidemiologia: S. brasiliensis – todas as cepas oriundas do rio de janeiro eram compostas por componentes da S. brasiliensis. A espécie predominantemente relacionada com quadros de esporotricose no rio é devido a S. brasiliensis. S. globosa e schenckii – se apresenta mais disseminada em todo mundo. OBS: Itraconazol é o fármaco de eleição para o tratamento de esporotricose no mundo. Concentração inibitório mínima para esses fungos concentração necessária para ter uma resposta terapêutica. OBS: A espécie S. brasiliensis é mais sensível ao itraconazol do que o S. mexicana. Agente infeccioso (membros do complexo Sporothrix), meio ambiente e o hospedeiro susceptível. Ecologia: Ampla distribuição (distribuídos no solo, terra, vegetais, gostam de ambientes) Regiões tropicais e subtropicais (gostam de ambientes mais quentes e com alta umidade) o Elevadas temperaturas o Elevada umidade relativa Saprófita na natureza (no ambiente vai estar degradando matéria orgânica, material em decomposição) Reservatórios naturais o Vegetais o Solo rico em matéria orgânica Dimorfismo: é capaz de estar na forma de levedura e mudar para a filamentosa ou estar na forma filamentosa e mudar para a forma de levedura. 4 Basicamente, a temperatura do meio vai promover essa mudança. São termodimórficos, dupla morfologia em função da temperatura. Porém não é o único componente que define isso. Na meio ambiente espera-se que esteja em 25ºC e o fungo esteja na forma filamentosa – no meio ambiente, onde o fungo quer produzir conídeos e se dispersar, a forma de filamento é mais interessante porque produz muito mais estruturas de reprodução e se dispersar com mais facilidade. Além de produzir muito mais melanina na forma filamentosa e consegue se proteger dos raios UV. Fungo em indivíduos, no gato estará na sua forma de levedura - é mais interessante essa forma porque consegue passar pelo sistema imune de forma mais imperceptível na forma de levedura. É uma condição fundamental conseguir fazer essa transição. Se ele não conseguir fazer isso, não vai conseguir instalar o quadro infeccioso. Fatores ambientais predisponentes – 572 humanos (predispõe a manutenção do agente) o Presença de plantas diversas (83,5%) o Material de construção em entulho (43,8%) o Áreas de terra (59,9%) o Presença de ratos (54,8%) Epidemiologia Real prevalência desconhecida (não é de notificação obrigatória) Comportamento diferenciado (reservatórios: solo, material rico em matéria orgânica, plantas) Caráter ocupacional o “Doença do jardineiro” – indivíduos que trabalhavam com jardinagem acabavam se ferindo e contraindo a esporotricose. Predominante em vários países o indivíduo ir ao reservatório e se ferir. No Brasil, a epidemiologia é diferente, principalmente no Rio. Mas de 80% de casos recebidos na fiocruz era de humanos infectados pelo contato prévio com felinos. No Brasil, o felino é o disseminador da doença. Forma isolada Raros episódios epidêmicos Principais reservatórios: plantas, solo, etc. América latina: Relacionada a baixa situação socioeconômica (gatos que tem contato com a rua), atividades ao ar livre, rurais e de caça ao tatu (funciona como reservatório). Surto epidêmico em uma mineiração: o reservatório estava na madeira, que úmida favorecia o desenvolvimento dos fungos e os mineradores ao esbarrar e se lesionar naquela madeira adquiriamesporotricose. Surto na Austrália: devido ao feno. China: reservatório é a lenha. Aumenta o contato do humano com o reservatório. Também é uma fonte ambiental. Brasil: mais restrita a região sul e sudeste. Atividades rurais e de caça. América latina: Relacionada a baixa situação socioeconômica (gatos que tem contato com a rua), atividades ao ar livre, rurais e de caça ao tatu (funciona como reservatório). 5 Rio de janeiro: transmissão zoonótica do felino. Transmissão zoonótica o 1982 – Read & Sperling o Estado do RJ ▪ 2001 – 80,3% dos casos humanos o Manejo do paciente o Interrupção no tratamento – é um problema de saúde pública o Disseminação Donas de casa com contato mais íntimo com o gato são mais susceptíveis. Aumenta a exposição ao agente. Descarte inadequado de carcaças. Um animal morto com esporotricose e enterrado no jardim, forma-se um reservatório por um longo período naquele local. Estado do Rio de Janeiro Transmissão através de arranhadura ou mordedura o 1987-1997: 13 humanos o 1998-2004: 1.503 felinos e 759 humanos o Até 2009: 3244 felinos e 2.200 humanos Região metropolitana o Rio de janeiro o Nilópolis o Duque de Caxias o São João de Meriti 6 Patogenia Hospedeiro X Patógeno (interação que vai culminar ou não no processo infeccioso) Porta de entrada - Via traumática (lesões perfuro-cortantes: arranhadura do gato, machucado na jardinagem). Micose de implantação, implantada no tecido subcutâneo. Pode ocorrer por via respiratória – esporotricose pulmonar (conídeos). Período pré-patente - intervalo entre a infecção do patógeno e o início dos sinais clínicos. É variável de 5 a 90 dias. Por causa do dimorfismo. Adquirindo de uma fonte ambiental, o PPP é maior, pois o fungo precisa fazer essa transição morfológica. Se o gato arranha, já é inoculado o fungo na forma de levedura, só precisa se adaptar e multiplicar, diminuindo o PPP. A forma de levedura é mais agressiva. Sintomatologia clínica Esporotricose humana Inoculação traumática Lesões cutâneas e subcutâneas o Cutâneo fixa (normalmente S. globosa) o Linfocutânea o Mucocutânea (principalmente na mucosa ocular) o Extracutânea ▪ Osteoarticular ▪ Pulmonar o Disseminadas (principalmente indivíduos imunossuprimidos) Esporotricose animal Em alguns países, a esporotricose equina é relevante. Esporotricose felina o Espécie altamente suscetível o Predisposição sexual* (machos: ir na rua, disputar fêmeas/território; SRD) o Apresentação clínica o Pacientes imunossupremidos (FIV e FELV doenças que baixam a imunidade) ▪ Correlação não confirmada o Carga microbiana (swab: muitas leveduras no felino, visualiza com mais facilidade) o Cutânea: em disparada e pode ocorrer extracutânea: pulmonar mais frequente. o O tratamento da esporotricose, mesmo com a cicatrização das lesões, deve-se manter o tratamente pelo menos por mais um período. Esporotricose canina o Enfermidade benigna. o Lesões cutâneas, não se disseminam com tanta facilidade como ocorre na espécie felina. o Carga microbiana (grande maioria das vezes faz-se uma lâmina, microscopia direta e não vê nada, porém não se pode descartar esporotricose, apresenta lesões com baixa carga microbiana, baixa capacidade de transmitir esporotricose em mordedura, por exemplo) 7 o Predisposição de aparecimento de lesões no plano nasal (ponto mais exposto para arranhaduras de gatos) Diagnóstico Avaliação clínica Diagnósticos diferenciais Coleta de amostra o Swab de lesões exsudativas (lesões cutâneas) o Aspirados (linfonodo, planos nasal) o Fragmentos teciduais (biópsia para histopatologia e para cultura) o Outros sítios Amostras para o laboratório de microbiologia: Acondicionados em solução salina, mantendo em refrigeração. Para histopatologia: formal a 10%. Urina, sangue periférico podem isolar o fungo Microscopia direta o Citologia (cora e olha no microscópio: pode ser rotacionando o swab na lâmina ou fazendo o imprint) o Imprint Coloração ▪ Gram ▪ Giemsa ▪ Panótico ▪ Fucsina Diferença entre as espécies (no cão, pela microscopia direta pode dar um falso negativo) Leveduras apresentam halo mais claro entre o citoplasma e a parede celular, conteúdo do citoplasma fica retraído e a parede celular fica evidente. É um artefato de técnica. Isolamento fúngico (padrão ouro de diagnóstico) o Meio seletivo para fungos patogênicos – 25ºC (inicialmente) ▪ Acrescido de cloranfenicol e cicloheximida OBS: O meio seletivo para fungos patogênicos é o Agar Sabouraud + Cloranfenicol (antibacteriano) + Cicloheximida (inibe o crescimento de outros fungos) o Ágar Infuso de Cérebro e Coração – 37ºC (meio mais rico e temperatura próxima a temperatura corporal. O fungo vai fazer a transição para levedura – confirmando o diagnóstico) Morfologia Termodimorfismo : - 25°C – colônia escura, forma de filamento: produz hifas, conidióforos, conídeos (quando quer se dispersar pelo ar/ambiente, no isolamento) - 37°C – colônia pequena, branca, observa forma de levedura (quando quer se dispersar no organismo, na microscopia direta) 8 Tratamento Fármacos o Iodeto de potássio (acredita-se que promove a fagocitose do fungo ou atrase o desenvolvimento fúngico, porém na veterinária, causa diversos efeitos adversos) o Azólicos ▪ Itraconazol (fármaco de eleição) A Anfotericina B pode ser um outro recurso terapêutico se o Itraconazol não fazer efeito. Duração prolongada (em alguns casos pode chegar a 2 anos) Outras metodologias terapêuticas o Termoterapia: esses fungos não resistem bem a 40°C, bolsa de água quente por 15min a cada 12hs pode controlar, gestantes com esporotricose que não podem usar antifúngico, devem tentar a termoterapia. o Criocirurgia - método de congelamento de tecidos animais e fúngicos. Se o fungo está disseminado no organismo, não é uma boa opção) o Cirurgia – cuidado com as recidivas Suscetibilidade à antifúngicos (não é comum, mas pode ocorrer. Caso suspeite, fazer um teste antifúngico) Efeitos adversos com antifúngicos é muito mais evidenciado do que com o antibiótico. Curativos diários e cuidado com miíase. Proprietário com luvas e evitar o estresse no animal. Fatores relacionados ao abandono do tratamento o Baixo poder aquisitivo dos proprietários o Dificuldade no transporte de animais o Administração oral para felinos Atenção no descarte de carcaças
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