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DESCRIÇÃO A visão didática da Economia do Meio Ambiente e seus métodos como parte das estratégias de desenvolvimento sustentável. PROPÓSITO O entendimento das complexas relações entre meio ambiente, variáveis econômicas e sociedades modernas é essencial para economistas e cientistas ambientais. A Economia do Meio Ambiente é a ciência da sustentabilidade ambiental que trata de seus impactos na formação de preços e no comportamento de agentes econômicos, e mostra como esses dois aspectos se relacionam com o mercado. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar fundamentos que orientam a Economia do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais MÓDULO 2 Analisar métodos de valoração econômica de recursos ambientais MÓDULO 3 Descrever conceitos gerais e instrumentos econômicos relacionados à Economia da Poluição INTRODUÇÃO A abordagem econômica do meio ambiente trata de questões fundamentais relacionadas à eficiência econômica, aos direitos de propriedade e à intervenção do governo na economia em determinadas circunstâncias. Ao reconhecer que a economia está dentro de um ecossistema, busca-se definir o valor dos recursos naturais, que são finitos, como forma de maximizar o bem-estar da sociedade e garantir a sustentabilidade. A dimensão temporal ganha importância, tendo em vista que decisões econômicas, hoje, impactam gerações futuras. O esgotamento de recursos naturais, como o petróleo e o carvão mineral, e o aquecimento global são exemplos de degradação ambiental. Veremos que há também uma diferença importante entre esses exemplos: recursos naturais são precificados e negociados. Portanto, o uso excessivo de alguns desses recursos pode se autocorrigir à medida que tais mercadorias se tornam escassas e seus preços aumentam. Por sua vez, os efeitos ambientais externos e negativos são geralmente corrigidos apenas por meio de uma política coordenada regional ou internacional, o que é mais difícil de se alcançar. MÓDULO 1 Identificar fundamentos que orientam a Economia do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais FUNDAMENTOS DA ECONOMIA DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS Imagem: Shutterstock.com O ponto de partida para o estudo da economia ambiental é compreender que a atividade econômica, isto é, a produção e a distribuição de bens e serviços, é dada dentro de um sistema biológico e físico. A economia está inserida na sociedade, mas também no ecossistema. Na teoria econômica convencional, o diagrama do fluxo circular (imagem a seguir) compreende fluxos reais (produtos e insumos) e fluxos nominais (dinheiro) entre os agentes econômicos (firmas ou empresas, famílias e governo). As firmas produzem bens e serviços usando insumos classificados como trabalho, capital e recursos, os chamados fatores de produção. As famílias consomem todos os bens e serviços produzidos pelas empresas, os quais são comprados nos mercados também de bens e serviços. Nos mercados de fatores, são vendidos insumos necessários à produção pelas empresas. Além disso, o meio ambiente fornece recursos naturais para famílias e empresas, recebendo resíduos do consumo ou da produção de bens e serviços. Resíduos, como emissões de dióxido de carbono (CO₂) ou esgoto tóxico produzido por empresas e residências, voltam para a natureza – principalmente, para a atmosfera e para o oceano. A evidência científica sugere que o planeta possui capacidade limitada de absorver os poluentes que as atividades humanas geram. Nesse sentido, o papel do governo é regular e garantir a sustentabilidade do uso ou do consumo dos recursos naturais. Imagem: Elaborado por Francielle Mello de Carvalho. Diagrama do fluxo circular e o papel do meio ambiente. A teoria econômica convencional busca explicar as leis que governam a economia com base no mecanismo de mercado e seu sistema de preços. O mercado é uma abstração (não o local físico em si) na qual são encontradas duas forças antagônicas: a oferta e a demanda. A função do mercado é organizar a atividade econômica, isto é, quais bens produzir, como produzi-los, quanto produzir e para quem produzir. Preços são expressões monetárias de valor, definidas pelo benefício e custo de determinado bem ou serviço. O sistema de preços é resultado de relações de troca que equilibram os interesses envolvidos, em que a quantidade de uma mercadoria que os consumidores estão dispostos a pagar tende a se igualar à quantidade que os produtores estão dispostos a ofertar, dando origem ao preço de mercado ou preço de equilíbrio (Gráfico: O mecanismo de mercado – equilíbrio entre a quantidade ofertada e a quantidade demandada). Gráfico: O mecanismo de mercado – equilíbrio entre a quantidade ofertada e a quantidade demandada. Elaborado por Francielle Mello de Carvalho. Em geral, economistas tendem a observar o comportamento humano como resultado de otimizações sujeitas a restrições, isto é: os agentes econômicos (consumidores, produtores e governo) possuem motivações e preferências sobre o que consumir e o que produzir, porém existem restrições – tais quais: renda disponível, disponibilidade de recursos, tecnologias etc. – que influenciam a tomada de decisão. A eficiência econômica, portanto, é a eficiência alocativa dada pela escolha ótima da produção de bens e serviços, de modo a garantir a satisfação máxima das necessidades dos consumidores e o lucro também máximo dos produtores, o chamado bem-estar social. A lógica da famosa afirmação de Adam Smith, de que o empresário em busca de seus próprios interesses é “conduzido por uma mão invisível” para promover os interesses da sociedade, é a base do modelo econômico de um mercado perfeitamente competitivo. Os preços enviam mensagens sobre a escassez real de bens e serviços, motivando as pessoas a produzir, a consumir, a investir e a inovar, de forma a fazer o melhor uso do potencial produtivo de uma economia. É esse processo que permite ao sistema de mercado – muitos mercados interligados – coordenar a divisão do trabalho por meio da troca de mercadorias entre consumidores dos quatro cantos do mundo, sem a necessidade de um gerenciamento centralizado. Podemos pensar no mercado como uma máquina gigante de processamento de informações que produz preços, os quais fornecem informações que orientam a economia, geralmente, em direções desejáveis. O notável sobre esse enorme dispositivo computacional é que ele não é javascript:void(0) realmente uma máquina. Ninguém o projetou e ninguém está no controle. Quando funciona bem, usamos frases como “a magia do mercado”, no entanto, há situações em que o mercado não consegue atingir a eficiência econômica. Falhas de mercado existem porque violam premissas de um mercado perfeito, que nada mais é do que um modelo – muito útil para inúmeros propósitos –, mas nem sempre descreve como os mercados reais funcionam. Portanto, pode não ser um bom guia para políticas públicas. Sendo assim, os problemas ambientais persistem em diversas situações, pois os preços enviam mensagens erradas caso não haja a adequada criação de regulamentos e incentivos para o bom funcionamento do mercado. No módulo 2, serão melhor explorados os principais conceitos por trás das falhas de mercado no âmbito ambiental. BEM-ESTAR SOCIAL O conceito de bem-estar social está ligado ao conceito de equilíbrio geral da economia, em que os preços de todos os bens e serviços em todos os mercados são tais que estes se encontram em equilíbrio, não havendo incentivos para que os agentes econômicos, tanto do lado da oferta como da demanda, alterem os seus comportamentos, pois estão em uma situação de máximo bem-estar. FALHAS DE MERCADO Situação em que o mercado, por si só, fracassa ao alocar os recursos de forma eficiente. Na maioria dos casos, essa situação irá conceder vantagens para alguns e causar prejuízos para a maioria, ou seja, levando a uma perda líquida de bem-estar social. javascript:void(0) TEORIA DOS RECURSOS RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS No surgimento da teoria econômica, os recursos naturaisexerceram um papel central como explicação de fonte material de riqueza. No entanto, ao longo de praticamente todo o século XIX e grande parte do século XX, o progresso tecnológico e o alargamento das fronteiras geográficas diminuíram a importância dos recursos naturais no âmbito da análise econômica. A abundância da maioria dos recursos naturais era tamanha que esses eram considerados economicamente gratuitos, sem representar, a longo prazo, um limite à expansão da economia. Nos últimos 200 anos, os preços de muitos recursos naturais permaneceram relativamente constantes, ainda que a extração tenha aumentado dramaticamente. Embora os preços oscilem de ano para ano, a tendência geral é estável (Gráfico: Evolução do preço global de commodities energéticas e não energéticas), o que indica o vasto fornecimento de matérias- primas (recursos naturais). Somente a partir da década de 1970 é que os recursos naturais foram reinseridos no escopo principal da teoria econômica, a partir de análises sobre o uso eficiente desses recursos. Gráfico: Evolução do preço global de commodities. Extraído de World Bank, 2021. A transformação dos padrões de vida desde a Revolução Industrial foi possível devido à combinação de engenhosidade humana e recursos disponíveis em forma de ar, água, solo, metais, combustíveis fósseis (como carvão e petróleo), estoques de peixes e assim por diante. Tudo isso já foi abundante e gratuito, exceto pelos custos de extração. Alguns, como os combustíveis fósseis e os recursos minerais, ainda são abundantes; outros, como o ar não poluído, a biodiversidade (incluindo recifes de coral e muitas espécies terrestres e marinhas), as florestas (devido ao desmatamento e à desertificação) e a água limpa, estão tornando-se escassos. A capacidade de recomposição de um recurso natural no horizonte do tempo humano tem sido o principal critério para a classificação dos recursos naturais: RECURSOS RENOVÁVEIS São aqueles em que o ciclo de recomposição é compatível com o horizonte de vida do ser humano. RECURSOS NÃO RENOVÁVEIS Também conhecidos como exauríveis, são aqueles em que a sua recomposição ou a sua formação tem duração de eras geológicas muito além do horizonte de vida do ser humano. Para diferenciar os recursos economicamente aproveitáveis dos que estão apenas dispersos pelo planeta, utilizam-se os conceitos de: reservas, recursos condicionais e recursos hipotéticos. Recursos, em termos gerais, representam a quantidade total existente, porém a sua exploração nem sempre é viável tampouco a quantidade total é necessariamente conhecida. Assim, recursos podem ser hipotéticos, ou seja, existentes, mas com quantidade total desconhecida, ou condicionais, que são recursos existentes, cuja quantidade total é conhecida. A definição de reservas está relacionada à viabilidade desses recursos. Portanto, uma reserva é um recurso cuja extração é viável do ponto de vista técnico e econômico a determinado preço. Do ponto de vista econômico, a quantidade de reservas não é constante ao longo do tempo, pois depende do desenvolvimento tecnológico, das condições econômicas e novas descobertas. Nesse sentido, a questão colocada pela teoria econômica é entender qual a lógica que o ritmo dos preços dos recursos naturais deve seguir para que possa ser assegurada a sua utilização ótima. Recursos naturais possuem valor econômico, pois podem ser vendidos para obtenção de renda, porém o retorno desse ativo só ocorre quando se extrai o recurso, sendo assim, uma reserva de valor. Do ponto de vista econômico, o recurso natural exaurível pode ser caracterizado como investimento em estoque. Sua extração no presente representa uma não extração no futuro, o que se reflete em um custo de oportunidade, seja na comparação com outros ativos econômicos seja relacionado a aspectos intertemporais. Recursos exauríveis, portanto, são uma reserva de valor que não gera dividendos ou juros. Logo, o proprietário do recurso será estimulado a conservá-lo enquanto o valor do recurso crescer à taxa igual ou superior à taxa de juros do mercado; caso contrário, estará propenso a intensificar o ritmo de exploração. A análise econômica dos recursos exauríveis está estruturada no clássico artigo de Hotelling, de 1931, The economics of exhaustible resources, que traz à tona o problema de se estabelecer o ritmo de extração que maximiza o retorno da exploração de um recurso exaurível. O modelo proposto por Hotelling (1931) baseia-se nas premissas da economia clássica, tais como: existência de propriedade privada dos recursos, mercado funcionando em concorrência perfeita, informação perfeita ao longo de toda a extração e volume do recurso inalterado ao longo do tempo. Trata-se de um problema intertemporal que envolve maximizar o valor presente líquido (VPL) da extração, sujeito à quantidade de recursos existentes. O resultado final da regra de Hotelling indica que, para seguir uma trajetória ótima, os preços dos recursos exauríveis devem evoluir ao ritmo da taxa de desconto, que é igual à taxa de juros do mercado, em uma situação de equilíbrio. Para determinação do critério ótimo de esgotamento do recurso exaurível, é necessário que antes se defina o seu custo de oportunidade, também chamado de royalty. Em seguida, é preciso comparar as trajetórias dos preços dos recursos exauríveis e o valor dos royalties no tempo. Em resumo, royalty representa a renda de escassez da extração de um recurso natural, ou seja, é a renda obtida pelo fato de o recurso natural se tornar mais escasso ao longo do tempo. O royalty também pode ser interpretado como o custo de oportunidade que as gerações presentes devem pagar (ou reduzir da renda) para compensar as gerações futuras pelo esgotamento dos recursos. Ou seja, é uma compensação por exploração e uso de recursos naturais. Para Hotelling (1931), quanto mais escasso o recurso, maior deverá ser sua renda de escassez, portanto, maior o valor do royalty, para que o preço se eleve o suficiente a fim de restringir o consumo ou induzir o aparecimento de substitutos, garantindo assim sua conservação. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) CONCORRÊNCIA PERFEITA Situação ideal de mercado no qual nenhum agente econômico tem capacidade para influenciar os preços, ou seja, não existe poder de mercado e há equilíbrio natural nos preços pela relação entre a oferta e a demanda. Cada empresa age individualmente, sem precisar de ter em conta as decisões das outras. INFORMAÇÃO PERFEITA Situação em que todos os agentes econômicos conhecem todas as informações reais e completas a respeito dos preços e da qualidade dos produtos transacionados. PROBLEMA INTERTEMPORAL A questão da escolha intertemporal trata sobre a decisão de usar a renda no consumo presente ou adiar a decisão de consumir optando pelo consumo futuro. TEOREMA DE HOTELLING Neste vídeo, contextualizaremos a importância da regra de Hotelling para a Economia dos Recursos Naturais. Recursos renováveis, por outro lado, têm capacidade de reprodução e são governados por fenômenos biológicos, como crescimento de árvores, multiplicação dos animais e das plantas, desenvolvimento das populações de peixes. Entretanto, os recursos renováveis podem se esgotar e se tornar não renováveis, principalmente, quando localizados em espaços de uso comum, sujeitos ao livre acesso e, portanto, suscetíveis à apropriação privada. É possível diferenciar recursos renováveis de estoque e de fluxo. Os recursos de estoque representam uma quantidade existente em determinado instante, ou seja, a quantidade depende do nível de extração versus o nível de reprodução. Por exemplo, recursos biológicos (animais e plantas), processos físico/químicos (atmosfera, recursos hídricos) e terras (fertilidade). Já os recursos de fluxo representam variações em um estoque ao longo do tempo, de modo que a exploração não afeta a quantidade disponível futuramente, como as energias solar e eólica. O aspectocrucial que responde em grande parte pelo desaparecimento dos recursos renováveis é a incompatibilidade entre as dinâmicas biológica – que determina a sua reprodução e evolução – e econômica – que determina o ritmo da sua exploração. O principal desafio da teoria econômica é identificar qual a trajetória de exploração de uma população animal ou vegetal submetida a dado nível de extração. A teoria econômica dos recursos renováveis apresenta enfoques especiais para a gestão dos recursos pesqueiros (modelos de Gordon-Schafer e Beverton-Holt), dos recursos florestais (modelos de Fisher e Faustman) e dos recursos da biodiversidade (modelos de Gordon-Schafer-Clark). MODELOS ESTÁTICOS DE GESTÃO DE RECURSOS RENOVÁVEIS TÊM FOCO EM ESTADOS DE EQUILÍBRIO (ESTÁTICA COMPARATIVA) E PODEM SER DIVIDIDOS EM MODELOS DE ACESSO LIVRE E ACESSO PRIVADO. Em geral, a exaustão do recurso é mais provável no acesso livre, pois os incentivos a fim de manter o estoque para o futuro são pequenos. Intuitivamente, ocorre que, com acesso livre, os produtores não possuem incentivos a manter determinado nível de estoque para garantir uma taxa de reprodução que maximize seu lucro, uma vez que outro produtor pode explorar o recurso e se apropriar desse lucro. Portanto, todos os produtores irão explorar o máximo que for possível, isto é: o estoque de recursos renováveis tenderá a ser menor com acesso livre do que com acesso privado. EXEMPLO A ausência de preços não é a única razão pela qual a gestão dos recursos naturais renováveis é tão difícil. Outros fatores que influenciam o ritmo de extração de recursos renováveis são o preço do recurso, o custo de extração, a taxa de reprodução do recurso e a taxa de desconto no tempo. Além disso, a maioria dos recursos renováveis é passível de apropriação privada e, portanto, está sujeita ao esgotamento. Uma das causas principais do esgotamento é a pouca competitividade desses recursos como reserva de valor (ativo). Desse modo, basta que o recurso seja um bom negócio para a empresa que o explora (ou mesmo para a sociedade) extraí-lo acima de sua capacidade de regeneração. Em alguns casos, a fragilidade do meio ambiente sob pressão do crescimento da atividade econômica pode levar não apenas à degradação progressiva, mas também ao colapso acelerado e retroalimentado. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SÓ EXISTE PROBLEMA ECONÔMICO QUANDO EXISTE NECESSIDADE DE TOMAR UMA DECISÃO. ESSA NECESSIDADE SÓ APARECE QUANDO EXISTE A) escassez. B) escolha. C) inovação. D) desejo. E) custo. 2. UM IMPORTANTE CONCEITO NA TEORIA DOS RECURSOS NÃO RENOVÁVEIS É A RENDA ORIUNDA DA EXTRAÇÃO DE UM RECURSO NATURAL PELO FATO DE ESSE RECURSO SE TORNAR MAIS ESCASSO AO LONGO DO TEMPO. QUAL É O TERMO ECONÔMICO QUE DESIGNA TAL CONCEITO? A) Renda da terra. B) Royalty. C) Direito de propriedade. D) Receita marginal. E) Excedente do produtor. GABARITO 1. Só existe problema econômico quando existe necessidade de tomar uma decisão. Essa necessidade só aparece quando existe A alternativa "A " está correta. Escassez é o termo que descreve a disparidade entre a quantidade demandada de um bem ou serviço e o total ofertado no mercado. Escassez econômica está fortemente relacionada ao preço de um bem ou serviço, pois ela incentiva empresas a aumentar o preço de seus produtos até que ele atinja o equilíbrio de mercado. 2. Um importante conceito na teoria dos recursos não renováveis é a renda oriunda da extração de um recurso natural pelo fato de esse recurso se tornar mais escasso ao longo do tempo. Qual é o termo econômico que designa tal conceito? A alternativa "B " está correta. O royalty também pode ser interpretado como o custo de oportunidade que as gerações presentes devem pagar (ou reduzir da renda) para compensar as gerações futuras pelo esgotamento dos recursos, ou seja, uma compensação por exploração e uso. MÓDULO 2 Analisar métodos de valoração econômica de recursos ambientais VALORAÇÃO ECONÔMICA DE RECURSOS AMBIENTAIS Imagem: Shutterstock.com É indiscutível que a natureza tenha um valor intrínseco (um valor em si mesma), que independe de qualquer uso ou função que possa ter. Contudo, essa definição de valor não é apropriada para resolver questões relacionadas a políticas econômicas e ambientais. A abordagem de valor instrumental, no sentido de valorar algo em termos de um fim ou um propósito distinto, é mais apropriada para responder questões como: QUAL O NÍVEL DE POLUIÇÃO ACEITÁVEL QUE CONCILIE O CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS COM OS EFEITOS NEGATIVOS DOS REJEITOS DE PRODUÇÃO? QUANTO, EM TERMOS DE RECURSOS, DEVE SER DIRECIONADO PARA A PROTEÇÃO DE RESERVAS AMBIENTAIS? COMO ESCOLHER ENTRE DIFERENTES USOS ALTERNATIVOS E EXCLUDENTES PARA OS RECURSOS NATURAIS? Tal conceito instrumental foi fundado na teoria econômica do bem-estar, em que o objetivo da atividade econômica é promover melhoria no bem-estar humano. Recursos ambientais não são transacionados em mercados e, portanto, não há um valor (preço) associado a eles. Contudo, isso não significa que eles não tenham valor econômico. O conceito econômico de valor de recursos ambientais diz respeito às contribuições que esses recursos podem ter para o bem-estar humano – o que não exclui o bem-estar de outras espécies. A preservação do ecossistema de todos os seres vivos também impacta o bem-estar humano. Usando bem-estar humano como medida última de valor, o uso eficiente dos recursos ambientais deve comparar os ganhos e/ou as perdas de bem-estar resultantes dos diferentes usos (ou não usos) desses recursos. Recursos naturais e qualidade ambiental são ativos com valor econômico positivo, uma vez que geram serviços diretos e/ou indiretos que afetam o bem-estar. Provêm serviços necessários à manutenção da vida, como fornecimento de alimento, matéria-prima e energia, atmosfera respirável, regimes climáticos apropriados à existência de espécies, polinização e serviços estéticos-culturais via amenidades. É importante salientar que as ações dos agentes econômicos podem gerar variações nos fluxos desses serviços, criando custos e benefícios. Em geral, existem trade-offs (termo em inglês que, em português, significa ter que escolher uma opção em detrimento de outra) entre os diferentes serviços ambientais, ao passo que, aumentando o fluxo de um serviço, pode-se também afetar o fluxo de outro. Além disso, variações nos fluxos desses serviços podem ser percebidas por meio de problemas de saúde e expectativa de vida das populações afetadas. Valor monetário é apenas uma unidade de medida. Embora incompleta, por não incorporar diversos valores que vão além do bem-estar humano, pode servir para auxiliar a análise de políticas ambientais ao comparar perdas e ganhos usando uma mesma medida. Essa medida pode ser considerada útil, uma vez que a utilizamos para expressar nossas preferências no dia a dia em análises de custo-benefício. O valor monetário de recursos ambientais será, portanto, o valor presente de todos os fluxos de todos os serviços providos, ou seja, uma quantidade equivalente em termos monetários (ou de bens e serviços) que gera um efeito semelhante sobre o bem-estar dos indivíduos. O mercado não é eficiente na alocação de recursos ambientais, nem na determinação de preços que reflitam o seu verdadeiro valor social. Contudo, mesmo não precificados, seus valores econômicos existem porque a disponibilidade de recursos ambientais altera o nível de produção e o bem-estar da sociedade. Sendo assim, o valor econômico total do recurso ambiental compreende a soma dos seguintes valores (SEROA DA MOTTA, 1997): VALOR DE USO DIRETO Bens e serviços ambientais utilizados diretamente pelos indivíduos, no momento presente, pela exploração direta de um recurso. Ex.: extração de madeira de uma floresta. VALOR DE USO INDIRETO Bens e serviços ambientais que seus benefícios, no momento presente, são gerados por funções ecossistêmicas de um determinado recurso em relação a outros recursos ambientais.Ex.: a preservação de florestas em regiões de nascentes de rio tem o papel de preservar o fluxo de água desses mananciais. VALOR DE OPÇÃO Bens e serviços ambientais de usos diretos e indiretos a serem consumidos e apropriados no futuro, ou seja, a disposição para garantir a possibilidade de consumo futuro (que pode ou não ocorrer). VALOR DE EXISTÊNCIA Valor não associado ao uso atual ou futuro e que reflete questões morais, éticas ou culturais. Como não há mercados para os serviços ambientais, alguns métodos utilizam mercados de bens relacionados (substitutos ou complementares) como forma de alcançar o valor econômico desses serviços (no caso, apenas valor de uso). Os métodos de valoração podem ser classificados em dois grandes grupos: os métodos de função de produção e os métodos de função de demanda. Os métodos de função de produção compreendem métodos de produtividade marginal e se baseiam no mercado de bens substitutos. Já os métodos de função de demanda compreendem métodos de valoração contingente e métodos que se baseiam no mercado de bens complementares (preferência revelada). MÉTODOS DE FUNÇÃO DE PRODUÇÃO Observa-se o valor de um recurso ambiental ( E ) por meio de sua contribuição como insumo na produção de determinado produto ( Z ) , para o qual existe um valor de mercado. A função de produção indica a quantidade de produto gerado por determinada combinação de fatores de produção (trabalho, capital, energia, tecnologia, recursos ambientais etc.). Portanto, variações em E podem ser valoradas por variações em Z, para o qual tem-se valores. Z = F ( X , E ) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Onde: X = Fatores de proFaturação privados (preço de mercado) E = Bem ou serviço ambiental (preço = 0) O produto marginal PMgE representará o acréscimo de produção resultante da adição de uma unidade a mais de um fator de produção, mantendo os demais fatores constantes: PMGE = ∂ F X , E / ∂ E Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal De acordo com a teoria microeconômica, a remuneração de um fator deve ser igual ao valor do produto marginal: ( ) ( ) PE = PZ*PMGE Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal PRODUTIVIDADE MARGINAL Aplicável quando o recurso natural é fator de produção ou insumo na produção de algum bem ou serviço comercializado no mercado, ou seja, este método visa a achar uma ligação entre uma mudança no provimento de um recurso natural e a variação na produção de um bem ou serviço de mercado. Para valorar impactos ambientais por meio do método de produtividade marginal, utiliza-se uma função dose-resposta, que relaciona a variação no recurso ambiental (quantidade ou qualidade) com o nível de danos físicos ambientais (emissões, por exemplo): E = DR Q , X1 , X2 , . . . , XN Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Onde: Q = Quantidade ou qualidade do recurso ambiental xi = Outras variáveis que afetam E Portanto, a variação em E causada por Q é igual a: ∂ E / ∂ Q = ∂ DR / ∂ Q Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Por exemplo, os custos e os níveis de produção de alguns produtos agrícolas podem ser afetados pela redução da qualidade do solo, o qual é afetado pelo aumento da poluição atmosférica. Entre as limitações deste método, destaca-se o fato de captar apenas valores de ( ) uso direto e indireto, podendo causar algum tipo de viés, em geral, subestimando o valor correto dos bens ou serviços ambientais nos casos em que os valores de opção e de existência, como a preservação das espécies, são positivos. A premissa de que variações na oferta do recurso ambiental não alteram os preços de mercado também é outra limitação do método, tendo em vista a existência de possíveis distorções nos preços de mercado, o que não corresponde ao preço de eficiência econômica, tornando o valor da produtividade marginal de E incorreto mesmo para captar valores de uso. MERCADO DE BENS SUBSTITUTOS Bens substitutos são representados por aqueles que, havendo aumento no preço de um bem, acarretam aumento na demanda de outro bem dito substituto. A analogia com essa definição facilita a estimação de forma simples e objetiva do preço do ativo ambiental, pois é entendido que, ao se consumir o bem substituto, o consumidor não perde o bem-estar em relação ao bem consumido anteriormente. Sendo assim, quando determinado produto ( Z ) não tem mercado, isto é, não é precificado, substitui-se o serviço ecológico por uma tecnologia existente ( S ) , para a qual existe preço ou custo (valor de mercado). Z = F ( X , E + S ) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Onde: X = Fatores de produção privados E = Bem ou serviço ambiental S = Substituto perfeito para o bem ou serviço ambiental O método adota preços ou custos de bens substitutos na ausência de valores de mercado, assumindo substituição perfeita. O fato de utilizar custos como medida de benefícios pode levar a um viés, e representa também uma limitação. Entre os principais métodos de bens substitutos, destacam-se os métodos: custo de controle, gastos defensivos (custos evitados), custo de reposição e produção sacrificada. Custo de controle Custos de controle são aqueles incorridos pelos usuários, a priori, para evitar alterações nos recursos ambientais (manter E). É o custo do investimento, cuja finalidade é melhorar a capacidade de resposta dos ativos naturais em decorrência dos efeitos da degradação, refletindo em investimento que deve ser feito no presente, de modo a garantir o bem-estar das próximas gerações. COMO ISSO FUNCIONA NA PRÁTICA? RESPOSTA Quanto custa para reduzir emissões de gases e efluentes? Qual é o custo do tratamento de esgoto (saneamento básico)? Gastos com controle da poluição em uma praia podem ser uma boa aproximação do valor social dessa praia para a comunidade. Gastos defensivos Trata-se dos gastos que seriam incorridos em bens substitutos para não se alterar a quantidade consumida ou a qualidade do recurso ambiental (substituir E). O bem de mercado, substituto do recurso ambiental, não deve gerar outros benefícios aos indivíduos, além de substituir perfeitamente o recurso ambiental, ou seja, o recurso ambiental vale, pelo menos, os gastos defensivos, o máximo valor monetário que poderia ser gasto para evitar que o dano ambiental ocorresse ou que suas consequências pudessem afetar o bem-estar. COMO ISSO FUNCIONA NA PRÁTICA? RESPOSTA O custo da compra de água potável quando o consumo de água de um estuário é prejudicado por poluição (por exemplo, o Rio Guandu, no Rio de Janeiro). Outros exemplos são os gastos com fertilizantes que evitam perdas agrícolas e os gastos com tratamento de água para uso em processo produtivo. javascript:void(0) javascript:void(0) Este método não estabelece uma preferência, mas uma simples metáfora que pode suprir a necessidade de caracterizar o valor de bens ambientais na tomada de decisão. Custos de reposição Consiste em estimar o custo de repor ou restaurar o recurso ambiental danificado, de maneira a restabelecer a qualidade ambiental inicial (substituir Z). Trata-se de uma aproximação da variação da medida de bem-estar relacionada ao recurso ambiental. COMO ISSO FUNCIONA NA PRÁTICA? RESPOSTA O gasto na recuperação da qualidade ambiental de um solo degradado a partir do reflorestamento. O valor gasto com o reflorestamento pode ser encarado como uma aproximação, em termos monetários, de uma parcela do custo social imposto pela degradação do solo. Outros exemplos são o custo de fertilizantes para recompor o solo, os custos de despoluição da Baía de Guanabara, os investimentos em piscinas públicas (por exemplo, o Piscinão de Ramos, no Rio de Janeiro) dada a poluição das praias. Produção sacrificada Uma vida perdida representa para a população um custode oportunidade que equivale ao valor presente da capacidade de gerar renda desse indivíduo. Ou seja, em caso de morte prematura, esse valor presente representaria a renda ou a produção perdida. COMO ISSO FUNCIONA NA PRÁTICA? RESPOSTA Quando indivíduos afetados pela poluição do ar ou da água adoecem, estima-se uma aproximação de preços desses danos à saúde por meio de sua produção sacrificada no javascript:void(0) javascript:void(0) mercado de trabalho. Este método é criticado, pois apresenta alta sensibilidade na taxa de desconto (preferência pelo presente), desconsidera distorções salariais e questões éticas relacionadas às preferências das pessoas e de suas percepções de risco ambiental. MÉTODOS DE FUNÇÃO DE DEMANDA A partir do momento que um indivíduo está disposto a pagar por um bem ou um serviço, significa que aquele bem/serviço o proporciona bem-estar. Assume-se, portanto, que os indivíduos revelam ou declaram suas preferências por bens e serviços a partir de sua disposição a pagar (DAP) ou disposição a aceitar (DAA): disposição a pagar por um benefício, disposição a aceitar para abrir mão de um benefício, disposição a pagar para evitar um custo, disposição a aceitar um custo. Assim, uma variação na disponibilidade do recurso ambiental altera o bem-estar das pessoas, sendo possível medir essas alterações a partir de DAP ou DAA. Tais métodos estimam, a partir de uma função de demanda, a DAP ou a DAA dos indivíduos com relação a variações na disponibilidade do recurso ambiental. A partir da estimativa da função de demanda, variações no bem-estar do consumidor são medidas por variações no excedente do consumidor, que é a diferença entre o que ele está disposto a pagar e o que, de fato, paga – sendo que o consumidor pode não estar pagando pelo serviço. Essas funções de demanda são estimadas para mercados de bens complementares (custo de viagem e preços hedônicos) e mercados hipotéticos (valoração contingente). MERCADOS DE BENS COMPLEMENTARES Também conhecidos como métodos de preferência revelada, baseiam-se na teoria do comportamento do consumidor, a qual fundamenta as escolhas dos consumidores no mercado. Podem ser classificados em dois métodos distintos: o método do custo de viagem e o método de preço hedônico. Custo de viagem O método de custo de viagem estima o preço de uso de um ativo ambiental por meio da análise dos gastos incorridos pelos visitantes ao local da visita, ou seja, a DAP é estimada por meio das atividades recreacionais complementares a um sítio natural (E). Cada visita ao lugar de recreação envolve uma transação implícita, na qual o custo total de viajar a esse lugar é o preço que se paga para a utilização dos serviços recreativos do parque, da praia, do lago etc. A abordagem por zona caracteriza-se pela hipótese de homogeneidade entre os indivíduos moradores de uma mesma região, ou seja, os visitantes de um lugar de recreação apresentam as mesmas características socioeconômicas que um visitante padrão ou médio oriundo da mesma zona. A inclusão de variáveis socioeconômicas serve para reduzir o efeito de outros fatores que explicam a visita ao sítio natural. Contudo, há necessidade de se controlar pela proximidade, já que se espera que aqueles que moram mais perto irão visitar o sítio mais frequentemente. Este método baseia-se em questionários realizados no próprio sítio natural a fim de levantar informações para uma amostra de visitantes sobre: número de visitas, custo de viagem, zona residencial onde mora, informações socioeconômicas etc. Quais as limitações deste método? RESPOSTA Não consideração dos custos de opção e existência; valor de uso direto associado a um local específico, não podendo ser extrapolado; assume preferências idênticas para cada zona residencial; hipóteses para determinação do custo de viagem têm forte efeito sobre resultados, como o valor do tempo e o consumo de outros serviços não associados ao local (por exemplo, viagens com outros propósitos). Preço hedônico O método do preço hedônico busca identificar atributos ou características de bem ou bens comercializados no mercado, cujos atributos sejam complementares a bens ou serviços ambientais. Os dois principais mercados hedônicos são o mercado imobiliário e o mercado de trabalho. É importante ressaltar que diferentes propriedades terão diferentes atributos ambientais. EXEMPLO Qualidade do ar, poluição sonora, proximidade a um sítio natural etc. Se esses atributos são valorados por indivíduos, as diferenças de preços das propriedades devido às diferenças nos atributos ambientais devem refletir a DAP por esses atributos. Sendo assim, a estimação de variações de bem-estar é dada por mudanças na quantidade de atributos ambientais por meio de variações nos preços dos imóveis. Primeiramente, estima-se a função de preço hedônico, em que o valor do bem de mercado é a variável dependente e as variáveis explicativas são as características que determinam esse preço, incluindo-se a característica ambiental. Em seguida, calculam-se os preços implícitos para a variável ambiental de interesse. Finalmente, estima-se a curva de demanda pelo recurso ambiental, empregando os preços marginais calculados a partir da função hedônica, em uma estimativa da função de disposição marginal a pagar. RESUMINDO O preço implícito do atributo ambiental representa a DAP por variação no nível de atributo ambiental (E). Contudo, o preço estimado com base em observações de preços de equilíbrio de mercado não necessariamente reflete a verdadeira DAP dos consumidores. Além disso, tal método captura somente valores de uso direto, indireto e de opção. VALORAÇÃO CONTINGENTE Também conhecido como método de preferência declarada, baseia-se nas preferências dos consumidores ou usuários de recursos naturais, e utiliza mecanismos de eliciar ou afastar escolhas por meio de técnicas de questionários. São criados mercados hipotéticos do recurso ambiental – ou cenários envolvendo mudanças no recurso –, e as pessoas expressam suas preferências de DAP para evitar a alteração na qualidade ou na quantidade do recurso ambiental. Este é o único método capaz de captar os valores existenciais dos recursos naturais, portanto, é o mais adequado para avaliar monetariamente os valores de ecossistemas conforme a preferência dos indivíduos. O valor de existência não pode ser revelado por complementaridade ou substituição a um bem privado, uma vez que não está associado a um uso do recurso ambiental. Para que a valoração contingente produza resultados confiáveis, é necessária a formulação criteriosa da metodologia de pesquisa e dos questionários a serem aplicados. O primeiro estágio é definir a pesquisa e o questionário, o que passa por: I Determinação e especificação do recurso a ser valorado. Determinação da medida de valoração, isto é, DAP ou DAA. II III Forma de eliciação via lances livres (quanto você está disposto a pagar?), referendo (você está disposto a pagar R$ X?) ou referendo com acompanhamento, acrescendo ou diminuindo o valor informado incialmente. O instrumento ou veículo de pagamento, isto é, impostos, tarifas, taxas, cobranças diretas, subsídios, compensações financeiras etc. IV V A forma da entrevista, seja ela pessoal, por telefone, e-mail etc. O nível de informação com o intuito de transferir realisticamente a magnitude das alterações na disponibilidade do recurso ambiental. VI VII O desenho da amostra para garantir a representatividade da população afetada pela variação na disponibilidade do recurso ambiental. O segundo estágio é o cálculo e a estimação que se dá via pesquisa-piloto e pesquisa final, em que se testam o questionário desenvolvido e o auxílio no treinamento dos entrevistadores para garantir homogeneidade. O cálculo da medida monetária se dá pela agregação dos resultados via extrapolação da amostra para a população, ou seja, trata-se da média DAA ou DAP multiplicada pela população afetada pela variaçãona disponibilidade do recurso ambiental. HÁ VÁRIOS PROBLEMAS METODOLÓGICOS RELACIONADOS A ESTE MÉTODO. Primeiramente, o viés estratégico está relacionado à percepção dos entrevistados com relação à obrigação de pagamento e perspectivas quanto à provisão do bem, o que pode enviesar a DAP revelada para garantir benefício extra. Já o viés hipotético está relacionado ao comportamento dos indivíduos, pois, como o mercado é hipotético, indivíduos tendem a não revelar suas verdadeiras DAA e DAP porque sabem que se trata de simulações. O viés da informação se dá pela quantidade e qualidade da informação dada que pode afetar a resposta dos entrevistados. O viés do entrevistador se dá pelo seu comportamento de poder afetar as respostas via descrição parcial (moral) do bem ambiental. O viés do instrumento de pagamento se dá ao passo que os indivíduos não são indiferentes com relação a diferentes meios de pagamento. Além disso, há o viés do ponto inicial, em que o lance inicial dado pelo entrevistador pode influenciar o lance final. Nesse sentido, há diversas limitações no método de valoração contingente, como custos elevados para realização das pesquisas, dificuldade em captar valores ambientais que indivíduos desconhecem, dificuldade de separação de valores de uso e valores de existência, bem como a real representatividade da amostra. O PAPEL DA VALORAÇÃO ECONÔMICA DE RECURSOS AMBIENTAIS Neste vídeo, apresentaremos uma exposição sintética dos métodos mais utilizados em torno da valoração ambiental. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SUPONHA QUE UM RECURSO AMBIENTAL SEJA UM INSUMO PARA A PRODUÇÃO DE UM BEM OU DE UM SERVIÇO PRIVADO, COM UM PREÇO DE MERCADO CONHECIDO. QUAL TIPO DE PROCEDIMENTO DE VALORAÇÃO VOCÊ CONSIDERA ADEQUADO PARA ESSE CASO? A) Mercado de bens substitutos. B) Preços hedônicos. C) Valoração contingente. D) Produtividade marginal. E) Custo de viagem. 2. A CAPACIDADE DE GERAR RENDA PELOS INDIVÍDUOS É O CUSTO DE OPORTUNIDADE ESTIMADO POR QUAL MÉTODO DE VALORAÇÃO ECONÔMICA? A) Gastos defensivos. B) Produção sacrificada. C) Custo de controle. D) Custo de reposição. E) Valoração contingente. GABARITO 1. Suponha que um recurso ambiental seja um insumo para a produção de um bem ou de um serviço privado, com um preço de mercado conhecido. Qual tipo de procedimento de valoração você considera adequado para esse caso? A alternativa "D " está correta. Os métodos de função de produção são ideais para valorações de recursos ambientais cuja disponibilidade do recurso afeta o nível do produto da economia, por serem importantes insumos de produção. Se o preço de mercado é conhecido, é possível valorar impactos ambientais através da produtividade marginal, por meio de uma função dose-resposta, que relaciona a variação no recurso ambiental (quantidade ou qualidade) com o nível de danos físicos ambientais. 2. A capacidade de gerar renda pelos indivíduos é o custo de oportunidade estimado por qual método de valoração econômica? A alternativa "B " está correta. A preservação da vida é um direito fundamental. Contudo, a teoria econômica busca estimar de modo pragmático o custo de oportunidade da produção sacrificada. Esse custo de oportunidade é estimado pela capacidade de uma pessoa, de forma individual, gerar renda na economia. Em outras palavras, estamos falando da capacidade produtiva dos indivíduos, que pode se perder em caso de morte prematura. MÓDULO 3 Descrever conceitos gerais e instrumentos econômicos relacionados à Economia da Poluição CONCEITOS BÁSICOS DA ECONOMIA DA POLUIÇÃO Imagem: Shutterstock.com Vimos no módulo 1 que o mercado fornece sinal de preço para agentes econômicos por meio da relação de equilíbrio entre oferta e demanda. De acordo com a teoria econômica, esse equilíbrio é eficiente em condições de concorrência perfeita quando: I Existe um elevado número de compradores e vendedores de reduzida dimensão que não conseguem influenciar individualmente esse equilíbrio. Todos os bens e serviços produzidos e consumidos são transacionados em mercados. II III Todos os mercados são perfeitamente competitivos. Todos os agentes têm informação perfeita, ou seja, livre acesso às informações do mercado, a seus preços e à qualidade de bens. IV V Os direitos de propriedade privados são integralmente atribuídos para todos os produtos e recursos. Todos os bens e serviços são privados. VI VII Os agentes econômicos são racionais com funções de utilidade e produção bem-comportadas. AGENTES ECONÔMICOS RACIONAIS Supõe-se que agentes econômicos tenham habilidades cognitivas e informações suficientes para construir critérios para escolher entre diferentes opções possíveis e identificar restrições sobre essas escolhas. FUNÇÕES DE UTILIDADE E PRODUÇÃO BEM- COMPORTADAS Função de utilidade é uma função matemática utilizada na microeconomia, que mostra o nível de utilidade obtida por um consumidor em função do consumo das quantidades de bens e serviços. A função de produção indica a quantidade máxima de produto que pode ser produzida dada determinada quantidade de fatores produtivos e determinada tecnologia. Funções bem- comportadas não dão saltos bruscos e crescem (ou decrescem) de forma proporcional, pelo menos, dentro de faixas bem definidas. Na ausência dessas condições, o mercado não opera livremente e surgem ineficiências, ou falhas de mercado. Para entender por que os mercados falham, é importante reconhecer a propriedade privada como um requisito fundamental para o funcionamento de um sistema de mercado. Se algo deve ser comprado e vendido, então, deve ser possível reivindicar o direito de possuí-lo. UMA COMPRA É SIMPLESMENTE UMA TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS DE PROPRIEDADE DO VENDEDOR PARA O COMPRADOR. Nós teríamos dúvidas em pagar por algum bem ou serviço, a menos que entendêssemos que outros reconheceriam nosso direito de tê-lo. Assim, os direitos de propriedade privada atribuem aos indivíduos ou às organizações os direitos de controlar o acesso a certos recursos, incluindo o direito de cobrar pelo seu uso. A ausência de definição dos direitos de propriedade pode levar a falhas de mercado, de modo que as principais falhas de mercado associadas aos problemas ambientais advêm da presença de bens públicos e de externalidades – dois importantes conceitos que serão explicados a seguir. Bens públicos são bens cujos direitos de propriedade não estão completamente definidos e assegurados. Suas trocas com outros bens não se realizam eficientemente por meio de um mercado e o sistema de preços é incapaz de valorá-los adequadamente. Por definição, bens públicos são não rivais – ou seja, podem ser aproveitados por diversos agentes ao mesmo tempo –, isto é: o seu consumo por pessoa ou organização não reduz sua disponibilidade para outros consumidores. Portanto, bens não rivais estão associados à produção de um bem ou serviço para mais de um cliente e, em geral, envolvem processos produtivos com custos fixos elevados, como os custos de se construir uma estrada ou um farol. Além disso, bens públicos são considerados não excludentes – ou seja, não é possível negar acesso de um consumidor a esse bem. O custo de excluir determinados agentes seria alto demais, inviável. Cabe destacar que os bens não exclusivos estão associados ao momento da troca, em situações nas quais o custo de cobrar pelo consumo do bem é proibitivo. Isso porque a identificação dos consumidores necessária para a cobrança implicaria custos superiores às receitas. Essas características dos bens públicos impedem a identificação da disposição a pagar pelo bem (preferências) e, consequentemente, de sua curva de demanda. Excludente Não excludente Rival Maioria dos bens Ar e água Não rival Engarrafamentos Bens públicos Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Sem exclusividade e direito de uso ou de propriedade, é difícil atribuir-se um preço, mas direitos comunitários de propriedade podem ser desenvolvidospor meio de critérios de uso, como cotas e licenças. Sem rivalidade de uso, será possível obter o preço do bem somente pela valoração de cada indivíduo e não pelo mercado. Como a provisão do bem apresenta custos elevados, o custo marginal de fornecimento para um consumidor adicional é zero, embora o custo de produção de uma unidade adicional possa ser maior do que zero. Mesmo nos casos em que os consumidores revelam sua disposição a pagar, é provável que o preço resultante não reflita o valor do bem. Dessa forma, define-se o mercado para qualidade ambiental como bem público com o intuito de se fazer ajustes para restabelecer suas condições de funcionamento e deixá-lo agir para encontrar soluções ótimas. AS EXTERNALIDADES, POR SUA VEZ, SÃO FALHAS DE MERCADO QUE OCORREM QUANDO O PREÇO DEIXA DE CAPTURAR TODOS OS CUSTOS E OS BENEFÍCIOS DE UMA TRANSAÇÃO. Mais precisamente, externalidades ocorrem quando a atividade de um agente econômico causa variações de bem-estar (benefícios ou custos externos) a outros agentes que não são compensados. As externalidades podem ser geradas a partir do consumo de vários tipos de bens. As externalidades positivas são aquelas que causam ganhos de bem-estar a outros agentes que não são compensados, por exemplo: vacinas, educação, pesquisa em novas tecnologias (transbordamento tecnológico: inovação tecnológica de uma firma beneficiando a sociedade). Já as externalidades negativas são aquelas que causam perdas de bem-estar a outros agentes que não são compensados, por exemplo: fumaça de cigarro, poluição sonora, como cães latindo na rua e som alto do vizinho, e poluição atmosférica. Na presença de externalidades, sejam elas positivas ou negativas, verifica-se um descolamento entre custos/benefícios sociais e privados, prevalecendo custos/benefícios sociais mais altos em relação aos custos/benefícios privados (Gráfico: Ilustrações gráficas da externalidade positiva e da externalidade negativa.). Destaca-se ainda que as externalidades positivas causam insuficiência de oferta, enquanto as externalidades negativas causam excesso de oferta. Tal ineficiência alocativa exige a definição de mercado para o bem cuja produção ou consumo gera perda de qualidade ambiental, com o objetivo de compensar ou internalizar a externalidade. Gráfico: Ilustrações gráficas da externalidade positiva e da externalidade negativa. Elaborado por Francielle Mello de Carvalho. A Economia da Poluição considera apenas a poluição oriunda do processo produtivo. Atividades econômicas geram resíduos, por exemplo, emissões que são eliminadas no meio ambiente. Parte do fluxo dessas emissões é assimilada pelo meio ambiente, enquanto que a outra parte gera danos à sociedade, mas também pode se acumular na atmosfera (estoque). Inclusive, é importante sabermos que a acumulação de poluentes na atmosfera, igualmente, causa danos à sociedade (Imagem: fluxo e estoque de poluição). O custo de oportunidade da atividade econômica em termos de serviços ambientais não é percebido pelos agentes atuando no mercado, porque o preço do serviço ambiental é usualmente igual a zero e, ainda que fosse diferente, não refletiria seus benefícios totais. Dessa forma, problemas ambientais relacionados à poluição (externalidade negativa) podem ser interpretados como um mal público, quando afetam um amplo segmento da sociedade e seus efeitos se tornam não rivais e não excludentes. Imagem: Perman et al., 2006, p. 169. Adaptada por Allan Gadelha. Fluxo e estoque de poluição. Este módulo, portanto, tem como objetivo ajudar a responder a três principais questões: QUANTO QUEREMOS DE POLUIÇÃO? COMO FAZER PARA ALCANÇAR O QUANTO QUEREMOS DE POLUIÇÃO E COM O MENOR CUSTO PARA A SOCIEDADE? O quanto queremos está associado ao bem-estar da sociedade, mas pode haver outras motivações, como sustentabilidade, capacidade de assimilação do meio ambiente, risco à saúde, opinião pública, motivações políticas etc. POLUIÇÃO COMO EXTERNALIDADE O conceito científico de poluição é o efeito físico de rejeitos sobre o meio ambiente. Poluição é uma consequência inevitável do processo produtivo devido à Segunda Lei da Termodinâmica – capacidade de transformar matéria e energia é limitada. Isto é, todo e qualquer recurso transformado pela atividade econômica termina como resíduo (fluxo de materiais). A poluição pode advir do processo produtivo, como os rejeitos de uma fábrica, ou do consumo, como emissões de poluentes ao andar de carro ou o esgoto eliminado das nossas casas. É necessário compreendermos que o efeito físico da poluição pode ser biológico (deterioração da saúde), químico (chuva ácida nas superfícies) ou audível (barulho). Contudo, o conceito econômico de poluição é a reação humana, manifestada pela perda de bem-estar (utilidade, satisfação), aos seus efeitos físicos. Portanto, o fato de haver poluição física não necessariamente implica poluição econômica. Para haver externalidade, a poluição deve causar alguma alteração de bem-estar nos agentes econômicos, o que depende da capacidade de assimilação do meio ambiente, do estoque de resíduos já existente, da localização das emissões, do tipo de ecossistema, do número de pessoas expostas e das suas preferências. POLUIÇÃO COMO EXTERNALIDADE Neste vídeo, iremos definir o conceito econômico de externalidade sob a ótica da poluição. O processo produtivo gera bem-estar via oferta de bens e serviços para a sociedade. Por outro lado, a produção de bens e serviços gera custo externo, de modo que a poluição zero implica também produção zero, a não ser que haja capacidade de assimilação ou seja possível dissociar produção de poluição, porém, dificilmente, ela será eliminada na sua totalidade. A Economia da Poluição enfrenta um problema de maximização da soma dos benefícios menos a soma dos custos (privados e externos). Portanto, a alocação de mercado de determinado bem é improvável que seja eficiente se as decisões dos produtores e consumidores afetarem outros de maneiras que eles não levem em consideração de forma adequada. A solução para esse problema é o nível ótimo de poluição econômica. O benefício marginal privado líquido (BMgL) representa o benefício adicional de se produzir uma unidade adicional de determinado bem ou serviço. Já o custo marginal externo (CMgE) trata-se do valor do dano extra causado por uma unidade adicional de produto. Dito isso, assumindo um mercado em concorrência perfeita, o BMgL é a diferença entre a receita e o custo de produção de uma unidade adicional. O benefício privado máximo é obtido quando se maximiza o lucro do produtor, isto é, em um mercado livre, a produção será Qπ, enquanto o nível de poluição será Wπ (Gráfico: Ilustração gráfica do nível ótimo de poluição). Quando CMgE > BMgPL, produzir menos aumenta o bem-estar total, pois a redução do custo e do nível de poluição compensa a perda de benefício. Por outro lado, quando BMgPL > CMgE, produzir mais aumenta o bem-estar total, pois o aumento do benefício compensa o aumento de custo e do nível de poluição. Sendo assim, o nível de bem-estar é maximizado em Q*, quando BMgPL = CMgE, em que se define o nível ótimo de poluição W*. No mesmo nível ótimo de poluição, há custos externos, porém o benefício social líquido (benefício privado menos o custo externo) é máximo. Gráfico: Ilustração gráfica do nível ótimo de poluição. Elaborado por Francielle Mello de Carvalho. Em geral, há duas formas de se alcançar o nível ótimo de poluição: I) Solução sem a intervenção do governo II) Solução com a intervenção do governo A solução sem intervenção governamental pode ser alcançada em situações em que, uma vez definidos os direitos de propriedade sobre o recurso natural, o processo de negociação entre poluidores e aqueles que sofrem com a poluição leva automaticamente ao nível ótimo de poluição (independentemente de quem detém os direitos de propriedade). Segundo o Teorema de Coase (1960), custos da poluição poderiam ser mitigados por meioda definição precisa dos direitos de propriedade ou direito de uso do recurso natural. Suponha uma fábrica que produza roupas e, após o processo de tingimento, elimine os resíduos em um rio. Próximo a esse rio, vive uma comunidade de pescadores tradicionais. As roupas comercializadas no mercado trazem benefícios para aqueles que decidem usá-las, mas, ao danificar o meio ambiente – recursos hídricos, neste caso – elas impõem custos externos a outras empresas e famílias que dependem de recursos ambientais. Para a sociedade como um todo, isso é uma falha de mercado: em comparação com a alocação eficiente, o poluente é usado em demasia e muito do bem associado (roupas, em nosso exemplo) é produzido. Uma forma de solucionar esse problema ambiental se dá via negociação. Isto é, no caso em que o poluidor (fábrica) tem o direito de propriedade, aqueles que sofrem com a externalidade (pescadores) podem compensar o poluidor para não poluir. Quando aqueles que sofrem a externalidade têm o direito de propriedade, os poluidores podem compensá-los para aceitar algum nível de poluição, em geral, até o nível ótimo. Algumas das limitações à aplicação do Teorema de Coase estão relacionadas à presença de custos de transação, como a dificuldade de se reunir todos os agentes (muitas vezes dispersos), de modo que, se os custos da negociação forem maiores que os benefícios da redução da poluição, não haverá barganha. A barganha do poluidor (o quanto ele deve pagar ou receber de compensação) não existirá na ausência de concorrência perfeita. Inclusive, identificar os lados da barganha também é um desafio devido ao possível elevado número de agentes, dificultando a organização, à ausência de informação sobre os danos da poluição (danos de curto, médio ou longo prazo?), à ausência de informação sobre a fonte poluidora e ao acesso a essas informações somadas ao custo de transação. Em situações de propriedade comum, benefícios e custos pertencem aos mesmos agentes econômicos, de modo que cada agente restringe seu uso do recurso comum para que haja sustentabilidade, porém há tendência à quebra de acordo para se ter ganhos individuais de curto prazo. Compensações podem incentivar outros poluidores a produzir (e poluir) mais a fim de exigirem compensação. Por fim, há situações em que quem sofre a externalidade não tem recursos para a negociação. Se o Teorema de Coase fosse válido, o mercado se autoajustaria, porém tal solução privada para o problema das externalidades não ocorre na maioria dos casos reais. Portanto, para que um mercado funcione efetivamente (ou até mesmo exista), outras instituições e normas sociais são necessárias. As normas sociais determinam que você respeite os direitos de propriedade de terceiros, mesmo quando a aplicação for improvável ou impossível; já os governos fornecem um sistema de leis e aplicação da lei que garante os direitos de propriedade e faz cumprir os contratos. NA TEORIA ECONÔMICA, O GOVERNO É ENTENDIDO COMO UM AGENTE ÉTICO, INTERVINDO APENAS POR INTERESSE PÚBLICO. Seu papel é assegurar os direitos de propriedade e estabelecer instrumentos (regulamentos, políticas de incentivo, impostos etc.) para o bom funcionamento do mercado, procurando solucionar suas falhas. Segundo a abordagem pigouviana (PIGOU, 1920), o dano causado pela poluição da fábrica de roupas do exemplo anterior é um custo social, uma externalidade negativa, resultante do fato de um agente econômico, pela sua atividade, gerar um custo pelo qual outro agente tem de pagar. A correção dessa externalidade negativa pode ser feita pelo governo mediante a imposição de uma taxa pigouviana, uma forma de taxação por unidade de produto, de acordo com o dano estimado. Gráfico: Ilustração gráfica da taxa pigouviana. Elaborado por Francielle Mello de Carvalho. A taxa ótima é dada por t * = CMgE Q * , ou seja, no nível ótimo social de poluição (Figura 7). A maximização de lucro do produtor deixa de ser em Q_π e passa a ser em Q^* com a cobrança da taxa. De certo modo, imitam o mercado, já que a taxa acrescenta o custo do serviço ambiental que, caso contrário, não seria precificado, podendo variar, para refletir a escassez crescente. Apesar dessas vantagens, taxas são menos utilizadas como política de controle de poluição. Entre as limitações da taxa pigouviana, destaca-se a incerteza sobre a função de dano (CMgE), a qual apresenta uma dificuldade de se estimar, normalmente, via valoração econômica. Tais estimativas podem ser imprecisas, levantando apenas ordens de grandeza, o que, dificilmente, levará ao ótimo social. Incertezas sobre a taxa ser ou não justa pode gerar questionamentos sobre o valor dessa taxa, resultando em resistência por parte dos agentes econômicos (indústria, por exemplo). Como as falhas de mercado acima, as mudanças climáticas surgem devido à falta de mercados. No entanto, ao contrário das questões ambientais locais, a mudança climática é global. Envolve pessoas com interesses muito diferentes, desde aquelas cuja nação inteira pode estar submersa pelo aumento do nível do mar até aquelas que lucram com a produção e com o uso de combustíveis fósseis que contribuem para a mudança climática global. O problema da mudança climática combina a inexistência de mercados, a incerteza sobre seus efeitos na economia, a necessidade de cooperação internacional e questões intergeracionais. Para problemas ambientais transfronteiriços, como a mudança climática, a negociação pode ser a única solução, uma vez que não há governo supranacional. Nesse cenário, a intervenção ( ) governamental induz os agentes econômicos a internalizar as externalidades, porém é preciso avaliar que tipos de instrumentos são apropriados para casos específicos de poluição. Em se tratando do maior desafio do nosso tempo, é preciso usar todo o nosso kit de ferramentas (e muito mais) para enfrentá-lo. INSTRUMENTOS DE REGULAÇÃO AMBIENTAL Do ponto de vista econômico, há um nível ótimo de poluição que equilibra os custos e os benefícios da produção, maximizando o bem-estar. Contudo, as informações necessárias para alcançar o nível ótimo de poluição dificilmente estarão disponíveis e o mercado sozinho não alcançará um nível de produção que maximize o bem-estar social. O balanço entre o nível de poluição aceitável e os custos de controle da poluição é um problema econômico, e a quantidade socialmente aceita pode ser estimada pela equalização dos custos de controle com os custos dos danos. Dentre os instrumentos para alcançar o nível ótimo de poluição, destacam-se as abordagens coercitivas de comando-controle, em que o governo define obrigações ou restrições mandatórias, para o comportamento dos agentes, e abordagens de mercado, a partir da criação de incentivos para os agentes, voluntariamente, alterarem seu comportamento em relação às externalidades, seja por meio de preços ou da criação de mercados para encontrar soluções. Dentre os instrumentos de comando-controle, os padrões ambientais tendem a ser os mais usados e podem ser divididos em: PADRÃO TECNOLÓGICO Estipula o tipo de equipamento ou método a ser utilizado para reduzir poluição, restringindo as possibilidades do poluidor entre as melhores tecnologias disponíveis. Por exemplo, catalisadores de carros, precipitadores eletrostáticos e especificação de combustíveis. PADRÕES DE LOCALIZAÇÃO Zoneamento das atividades poluidoras, em geral, é realizado apenas para poluidores locais. PADRÕES AMBIENTAIS Determinação de algum nível máximo de concentração de poluentes, o que depende de outros instrumentos. Por exemplo, a qualidade do ar e a qualidade da água nas grandes cidades. PADRÕES DE DESEMPENHO Determinação de um limite de emissões para os poluidores via cotas de emissão não transmissíveis. Para todos esses instrumentos, há necessidade de monitoramento e coerção. Duas são as condições para que os padrões sejam ótimos: I) O padrão estipulado do governo ser igual ao nível ótimo de poluição. II) A probabilidadede ser autuado deve ser maior do que o benefício de poluir. Muitas vezes, o padrão é estipulado com base apenas em benefícios (sem considerar os custos). Contudo, padrões podem ser definidos com base em riscos para a saúde humana ou arbitrariamente (opinião pública) por falta de conhecimento sobre os verdadeiros impactos. Em geral, economistas defendem o princípio do poluidor-pagador, que se caracteriza pelo uso de instrumentos custo-efetivos e que possuem maior eficiência dinâmica. Custo-efetividade é uma medida econômica que permite comparar custos e benefícios, no sentido de menor uso de recursos, de uma intervenção no mercado. Já eficiência dinâmica é uma situação em que há incentivo a inovações. As taxas acrescentam o custo do serviço ambiental, isto é, o depositório de resíduos da produção, que, caso contrário, não seria precificado. A busca por melhorias tecnológicas e redução de custos de abatimento, portanto, é incentivada pela cobrança de taxas que refletem o dano da poluição. Inclusive, as taxas propiciam maior grau de certeza a respeito do custo e menor grau de certeza com relação às emissões. QUANTO AOS INSTRUMENTOS DE COMANDO E CONTROLE, ELES NEM SEMPRE SÃO TÃO CUSTO- EFETIVOS E DINÂMICOS COMO AS TAXAS. No caso de elevada poluição atmosférica local, por exemplo, o uso de instrumentos de comando e controle é recomendável, pois costumam ser mais proibitivos. No entanto, há necessidade constante de monitoramento e coerção, elevando os custos administrativos dos instrumentos de comando e controle. Já a aplicação de uma taxa, neste caso, não seria custo- efetiva porque poderia não levar à proibição do elevado nível de poluição local. Além de padrões ambientais e taxas, subsídios podem ser utilizados para alcançar o nível ótimo de poluição. Subsídios são pagamentos a empresas para que reduzam o nível de poluição (abatimento), tratando-se de um pagamento por unidade de poluição abatida, ou seja, equivalente a uma taxa, porém com mudança na direção das transferências. Enquanto taxas cobram por unidade de poluição emitida, subsídios pagam por unidade de poluição reduzida. O governo recebe uma receita das taxas, enquanto tem uma despesa com subsídios, assim, taxas reduzem o lucro das empresas, o que tende a reduzir também o tamanho da indústria. Por outro lado, no curto prazo, os subsídios podem reduzir o nível de poluição de firmas individualmente, mas aumentar o lucro das empresas, o que pode atrair novas empresas para o setor, aumentando a poluição total a longo prazo. Foto: Shutterstock.com Outro instrumento importante para regulação ambiental são os certificados negociáveis de emissão. Também chamados de cap and trade, trata-se de uma política que combina um limite legal sobre a quantidade de emissões com uma abordagem baseada em incentivos a fim de atribuir a redução necessária para atender a esse limite legal entre empresas e outros atores. O governo ou os governos definem o nível total de redução necessário, o que é chamado de teto (cap) e constitui o lado da “quantidade” da política. Além disso, o governo cria um número de permissões ou certificados que, quando emitidos no mercado, limitam as emissões totais. A partir disso, o governo aloca os cerificados, concedendo ou leiloando permissões às empresas que operam em setores que emitem o poluente. As permissões, então, são trocadas ou negociadas (trade) entre empresas. Para algumas empresas, poluir é muito lucrativo e custoso para abater emissões, fazendo com que comprem certificados de outras empresas que produzem pouca poluição ou que têm baixos custos de redução e podem ter certificados excedentes. O comércio ocorre até que os ganhos do comércio sejam eliminados. As empresas enviam certificados ao governo para cobrir suas emissões, de modo que, para cada tonelada de emissões produzida, as empresas são obrigadas a fornecer uma licença ao governo. Idealmente, o monitoramento do governo garante que as empresas não possam trapacear, ao passo que quaisquer empresas que sejam flagradas violando a lei são penalizadas com multas pesadas. O sistema cap and trade apresenta como vantagem a custo-efetividade, pois as empresas vão igualar os seus custos marginais de abatimento. Mas a facilidade para novos entrantes, flexibilidade para definir o padrão pelo governo, garante oportunidades para não poluidores, incorpora a inflação e os custos de ajustamento via comércio de certificados, e apresenta eficiência dinâmica por estimular que se invista em tecnologias de abatimento. Um dos principais exemplos reais de utilização desse instrumento trata-se do Esquema de Comércio de Emissões da União Europeia (EU ETS), lançado em 2005, que é o maior sistema cap and trade de emissões de CO₂ do mundo e cobre cerca de 11.000 empresas poluentes em toda a União Europeia. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EM TERMOS CIENTÍFICOS, A POLUIÇÃO É O EFEITO FÍSICO DE REJEITOS ORIUNDOS DE ATIVIDADES HUMANAS SOBRE O MEIO AMBIENTE. A POLUIÇÃO ECONÔMICA A) não pode ser internalizada aos custos das empresas poluidoras via sistema de mercado. B) independe da capacidade de assimilação do meio ambiente. C) é o efeito biológico, químico ou audível sobre os ecossistemas. D) é uma externalidade positiva. E) é a reação humana aos efeitos físicos, manifestada pela perda de bem-estar. 2. DE ACORDO COM A ECONOMIA DA POLUIÇÃO, QUAL DAS AFIRMAÇÕES A SEGUIR É A CORRETA? A) A negociação entre as partes afetadas é sempre eficaz para reduzir as ineficiências causadas por externalidades. B) É improvável que o preço de mercado de pesticidas reflita o custo social total de seu uso. C) Todas as externalidades resultam no uso excessivo do bem que produz o efeito externo. D) A redução de viagens aéreas é um subproduto infeliz e ineficiente da tributação dos voos devido a suas altas emissões de gases de efeito estufa. E) Poluição é um bem público, pois é não rival e não excludente. GABARITO 1. Em termos científicos, a poluição é o efeito físico de rejeitos oriundos de atividades humanas sobre o meio ambiente. A poluição econômica A alternativa "E " está correta. A poluição deve causar alguma alteração de bem-estar nos agentes econômicos, o que depende da capacidade de assimilação do meio ambiente, do estoque de resíduos existente, da localização das emissões, do tipo de ecossistema, do número de pessoas expostas e das suas preferências. 2. De acordo com a Economia da Poluição, qual das afirmações a seguir é a correta? A alternativa "B " está correta. O preço de mercado não refletirá os custos adicionais impostos aos agentes impactados pelos efeitos externos do uso de pesticidas, pois não há uma definição clara sobre os direitos de propriedade dos recursos ambientais afetados (ar, água ou solo). CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS A produção e a distribuição de bens e serviços influenciam inevitavelmente a vida no planeta. Como vimos, a teoria econômica reconhece a existência de falhas de mercado e se preocupa em entender qual é a lógica que o ritmo dos preços dos recursos naturais deve seguir para que possa ser assegurado o seu uso mais eficiente. Portanto, diversos métodos de valoração de recursos ambientais foram apresentados, mostrando o quanto contribuem para definir o preço que não é informado pelo mercado. Observamos a existência de um nível ótimo de poluição, que equilibra os custos e os benefícios oriundos das atividades econômicas, ao passo que o mercado sozinho não alcançará um nível de produção que maximize o bem-estar social na presença de bens públicos e externalidades. Vimos que a mudança climática resultante da atividade econômica é uma grande ameaça ao bem-estar humano futuro e ilustra muitos dos desafios de se conceber e de se implementar políticas ambientais adequadas. Por fim, entendemos que políticas ambientais bem elaboradas implementam as formas de menor custo para reduzir os danos ambientais e equilibram o custo da redução dos danos com os benefícios. Algumas políticas usamimpostos ou subsídios para alterar preços, de modo que as pessoas internalizem os efeitos ambientais externos de suas decisões de produção e consumo; outras políticas proíbem ou limitam diretamente o uso de materiais e práticas prejudiciais ao meio ambiente. Logo, a avaliação de políticas ambientais levanta questões desafiadoras sobre como valorizar nosso ambiente natural e o bem-estar das gerações futuras. REFERÊNCIAS COASE, R. H. Classic papers in natural resource economics. Londres: Palgrave Macmillan, 1960. p. 87-137. HOTELLING, H. The economics of exhaustible resources. Journal of Political Economy, p. 137-175, 1931. MAY, P.; LUSTOSA, M. C.; VINHA, V. Economia do meio ambiente: teoria e prática. Elsevier Brasil, 2010. PERMAN, R.; MA, Y.; MCGILVRAY, J.; COMMON, M. Natural resource and environmental economics. Pearson Education, 2006. PIGOU, A. C. Some problems of foreign exchange. The Economic Journal, p. 460-472, 1920. SEROA DA MOTTA, R. S. Manual para valoração econômica de recursos ambientais. IPEA/MMA/PNUD/CNPq, 1997. UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE. UNFCCC. Transforming our world: The 2030 agenda for sustainable development. Agenda for sustainable development web, 2015. WORLD BANK. Índice de preço de commodities. Publicado em: 2021. Consultado na internet em: 05 ago. 2021. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia: Natural resource and environmental economics, de Roger Perman, Yue Ma, James McGilvray e Michael Common, obra de referência para a Economia do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática, organizado por Peter May, obra de referência para estudo em língua portuguesa. Microeconomia: princípios básicos, de Varian (2006), e Microeconomia, de Pindyck e Rubinfeld (2013), para ter em mente os fundamentos básicos de microeconomia, principalmente, teoria do consumidor e teoria da firma. CONTEUDISTA Francielle Mello de Carvalho
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