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POLÍTICA DE SEGURIDADE SOCIAL - SAÚDE AULA 5 Prof. Rafael Muzi 2 CONVERSA INICIAL O trabalho realizado pelo assistente social se mostra de importância fundamental na área da saúde, especialmente na direção de consolidação do SUS. Neste texto, abordam-se os aspectos que moldam os processos de trabalho do assistente social na política de saúde, considerando as tensões entre ações tradicionais e as novas requisições exigidas pelo modelo de atenção atual, na perspectiva do direito à saúde, da participação social e do projeto profissional. TEMA 1 – PRÁTICAS NA SAÚDE E O SERVIÇO SOCIAL A presença dos assistentes sociais nos serviços de saúde se dá pelo reconhecimento social da profissão a partir das necessidades postas em determinadas conjunturas sócio-históricas da saúde pública no Brasil. Com a implementação do SUS, novas formas de organização do trabalho coletivo na saúde passam a ser exigidas, influenciando também as particularidades dos processos de trabalho na área. Ao longo de sua trajetória na área da saúde, nas diferentes unidades, o Serviço Social tradicionalmente se utilizou de uma organização básica centrada em plantões, por meio de procura espontânea e encaminhamentos internos e externos. Embora essas atividades se constituam por vezes como o único acesso disponível aos usuários de algumas instituições, verifica-se, no entanto, que se tornam ações isoladas, sem a devida articulação com as demandas coletivas da população (Vasconcelos, 2009). Com a mudança do modelo de atenção à saúde, ao Serviço Social coloca-se a necessidade de redefinição de competências diante das contradições presentes no processo de reorganização, no qual se identificam que as necessidades da população nem sempre estão alinhadas com a disponibilidade dos serviços (Costa, 2009). Reconhece-se, portanto, a necessidade de uma prática orientada pelos princípios do SUS e na direção do Projeto ético-político profissional. Nesse sentido, a intervenção pretendida pelo assistente social junto aos determinantes sociais que influenciam o processo saúde/doença passa pelo rompimento com as práticas burocráticas de atuação. Isso significa 3 desenvolver processos de trabalho em equipes multiprofissionais, que resultem em planejamento, execução e avaliação das ações e que promovam acesso aos direitos e a ampliação da participação e do controle social. O planejamento das ações do assistente social se torna um instrumento necessário, “de luta, de registro da prática”. A partir dessa apropriação, o profissional avança na organização de suas ações, priorizando o desenvolvimento de práticas educativas com maiores repercussões no âmbito institucional; de atenção coletiva – criando espaços coletivos de discussão – e de trabalho em equipe, inclusive entre os próprios assistentes sociais da instituição (Vasconcelos, 2009). Com base nessas e em outras ações e estratégias possíveis, constroem-se as condições necessárias para o rompimento de papéis históricos do Serviço Social, possibilitando ao profissional dar respostas mais assertivas às diferentes expressões da questão social presentes na área da saúde. TEMA 2 – SERVIÇO SOCIAL E A INTEGRALIDADE EM SAÚDE A inserção dos assistentes sociais na área da saúde ocorre pela efetivação do princípio da atenção integral. Esse princípio pode ser entendido tanto na abordagem da totalidade do indivíduo – parte de um contexto social, histórico, econômico e político – ou como aspecto da organização das ações de promoção, prevenção e reabilitação nas práticas integradas de saúde (Nogueira; Mioto, 2009). A integralidade em saúde implica uma ação interdisciplinar e intersetorial. A interdisciplinaridade pressupõe a relação de saberes e práticas das equipes multiprofissionais, visando à construção de novas formas de pensamento e ação em saúde. A intersetorialidade corresponde a um novo formato de trabalho nas políticas públicas, com vistas à superação da fragmentação dos saberes e das estruturas institucionais para a obtenção de resultados mais significativos na saúde da população. Algumas definições de integralidade no campo da saúde apresentam ainda outras dimensões: a integralidade focalizada, que diz respeito às ações das equipes multiprofissionais nos serviços e relaciona-se ao esforço de possibilitar o melhor atendimento possível nesses espaços; e a integralidade ampliada, entendida como “relação articulada [...] entre a máxima integralidade 4 no cuidado de cada profissional, de cada equipe e da rede de serviços de saúde e outros”, ou seja, objetiva viabilizar acessos a todos os direitos do cidadão (Cecílio, 2001 apud Lanza et al., 2012, p. 6). Diante do exposto, pode-se afirmar que a inserção profissional do assistente social no processo de trabalho em saúde se dá como um “elo orgânico entre os diversos níveis do SUS” e entre as demais políticas sociais setoriais. Cabe ao profissional assegurar nesses espaços a integralidade das ações (Costa, 2009). TEMA 3 – EIXOS DE INSERÇÃO DO TRABALHO NA PRODUÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE As tensões existentes entre as demandas postas pela população e os recursos limitados para a prestação de serviços resultaram em uma ampliação e redimensionamento das ações e das qualificações técnico-políticas dos assistentes sociais na saúde (Bravo, 1996 apud Lanza et al., 2012). Costa (2009) traz um panorama das atividades do Serviço Social, de acordo com as requisições da área, destacando os campos de atividades ou o que a autora denominou “eixos de inserção do trabalho profissional”, assim delimitados: Ações de caráter emergencial: pressupõem a articulação de recursos internos e externos do sistema público e privado de saúde. Compõem as emergências sociais os obstáculos que interferem no processo saúde/doença e no acesso aos serviços de saúde, relacionadas às condições precárias de vida da população e à oferta insuficiente dos serviços e políticas sociais no atendimento das suas necessidades. Educação, informação e comunicação em saúde: consistem em orientações e abordagens individuais ou coletivas com o intuito de construir soluções relacionadas às epidemias e endemias; inclui o desenvolvimento de estratégias de ação visando facilitar a comunicação entre unidades e serviços do SUS e entre seus usuários. Planejamento e Assessoria: consiste nas ações de reorganização do trabalho no SUS, no âmbito dos planos municipais de saúde, na assessoria ao planejamento local das unidades de saúde, e na formação de equipes para participar de processos de monitoramento e avaliação das ações. Destacam-se as ações junto às equipes de treinamento, preparação e formação “voltadas 5 para a capacitação de trabalhadores da saúde, lideranças e representações da comunidade” (Costa, 2009, p. 316). Mobilização e participação social: atividades de mobilização da comunidade voltadas para a sensibilização e articulação da comunidade nos processos de instalação e funcionamento dos conselhos de saúde. Trata-se, portanto, de atividades político-organizativas e socioeducativas. TEMA 4 – NÚCLEOS DE OBJETIVAÇÃO DO TRABALHO PROFISSIONAL Ainda conforme a análise de Costa (2009), a operacionalização dos eixos de inserção do trabalho se dá por meio dos núcleos de objetivação do trabalho profissional, referidos a seguir: Levantamento de dados: caracterização e identificação da composição familiar, das condições socioeconômicas e sanitárias dos usuários. Interpretação de normas e rotinas: possuem cunho educativo, realizado por meio de “orientações, aconselhamentos e encaminhamentos individuais e coletivos” (Costa, 2009, p. 317). Agenciamento de medidas e iniciativas de caráter emergencial/assistencial: intervenções nas emergências sociais que interferem no processo saúde/doença.Relacionam-se à demanda reprimida e às desigualdades vivenciadas pela população. Procedimentos de natureza socioeducativa, informação e comunicação em saúde: visam ao acesso à informação sobre serviços e direitos oferecidos, bem como à ampliação da democracia institucional, por meio da construção de espaços coletivos. Desenvolvimento de atividades de apoio pedagógico e técnico- político: compreende as atividades junto aos funcionários, aos representantes dos usuários, grupos organizados, lideranças comunitárias e a comunidades em geral sobre temas relacionados ao processo de construção e consolidação do SUS. TEMA 5 – SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE Conforme Almeida (2009, p. 402), “a sistematização da atividade profissional é etapa fundamental das elaborações teóricas dentro da profissão”. 6 O entendimento de sistematização não inclui somente a prática da investigação, mas “todo o processo de organização teórico-metodológico e técnico instrumental da ação profissional em Serviço Social” (Celats, 1983 apud Almeida, 2009, p. 401). A sistematização da prática torna-se um elemento central do trabalho do assistente social, não somente vinculado à produção de informações, mas como parte integrante de um processo que envolve também a organização e análise dos dados, fundamentado em uma postura crítica e investigativa. Está condicionado, portanto, a uma dada concepção de profissão, a uma direção teórica e ético-política. A sistematização da prática profissional é principalmente uma estratégia de retomada da dimensão intelectual, condição essa relacionada aos requisitos sociais e institucionais para a formação de quadros profissionais. Trata-se, de igual modo, da dimensão realimentadora da própria condução do trabalho, “que favorece uma reflexão contínua de suas respostas sócio-institucionais em suas relações de determinação com a dinâmica do ser social” (Almeida, 2009, p. 407). A reflexão sobre as dimensões da atividade profissional proporciona um redirecionamento das ações e possibilita ao assistente social a inserção na dinâmica de trabalho da instituição. Essa relação favorece a obtenção de maior autonomia do Serviço Social no âmbito institucional e a socialização das experiências profissionais. NA PRÁTICA Na prática, todo processo de trabalho do assistente social na área da saúde, em uma perspectiva crítica e competente, precisa considerar os seguintes aspectos: Estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que lutam pela real efetivação do SUS; Facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da Instituição [...] [e] não submeter a operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos que descaracterizam a proposta original do SUS [...]; Tentar construir [...] com outros trabalhadores da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos funcionários nas decisões a serem tomadas. (CFESS, 2010, p. 30) 7 FINALIZANDO Ao assistente social está posta a necessidade de uma ação que rompa com o conservadorismo na medida em que as novas demandas para o profissional exigem uma atuação comprometida com a garantia dos direitos dos usuários. Conclui-se que o profissional tem importante papel na integralidade em saúde, e para isso articula determinados processos de trabalho a fim de efetivar objetivos no âmbito do trabalho coletivo em saúde. Isso requer leitura e apreensão do movimento da realidade social e vinculação aos princípios da Reforma Sanitária e do projeto ético-político profissional. REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. L T. Retomando a Temática da “Sistematização da Prática” em Serviço Social. In: MOTA, A. E. et al (Org.). Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009. CFESS. Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde. Brasília, 2010. LANZA, L. M. B; CAMPANUCCI, F. S.; BALDOW, L. O. As profissões em saúde e o Serviço Social. Rev. Katálysis, Florianópolis, v. 15, n. 2, dez. 2012. NOGUEIRA, V. M. R.; MIOTO, R. C. T. Sistematização, planejamento e avaliação das ações dos assistentes sociais no campo da saúde. In: MOTA, A. et al (Org.). Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009. VASCONCELOS, A. M. Serviço Social e Práticas Democráticas na Saúde. In: MOTA, A. E. et al (Org.). Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
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