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V Final para Validação_Texto Base Curso 3_19mar2024 docx

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS - UFLA
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - FCSA
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - DAP
NÚCLEO DE APOIO A PROJETOS EDUCACIONAIS - NIAPE/PROEC
CURSO 3: “O CONTROLE SOCIAL NO SUAS”
PROJETO DE “FORTALECIMENTO DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS
MUNICIPAIS” - BRUMADINHO E BACIA DO PARAOPEBA
TEXTO BASE DO CURSO 3 “O
CONTROLE SOCIAL NO SUAS” PARA
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO,
RELATIVO À OFERTA DE CURSO DE
CAPACITAÇÃO SOBRE O SISTEMA
ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A
SER IMPLEMENTADO PELA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
LAVRAS, EM ATENDIMENTO À
SOLICITAÇÃO DA DIRETORIA
ESPECIAL DE REPARAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DA VALE.
DEZEMBRO DE 2023
1
Módulo I
Redemocratização e garantia de direitos
1. Processo de construção da democracia, das políticas sociais e da participação social no
Brasil
O processo de construção da democracia no Brasil foi marcado por várias fases e
eventos históricos de avanços e retrocessos. Como todos nós sabemos, nosso país vivenciou
poucos períodos democráticos entre a proclamação da república, ocorrida em 15 de novembro
de 1889 até a Constituição de 1988. Na primeira fase da República, entre 1889 a 1929,
conhecida como República Velha, predominou a “política do café com leite”, uma referência
ao acordo político entre mineiros e paulistas para elegerem o presidente da república, sendo
um mandato para Minas Gerais e outro para São Paulo, na forma de um revezamento. Dentro
desse contexto político observamos no interior do país o que ficou conhecido como o
mandonismo local ou coronelismo, em que os pequenos municípios e regiões inteiras eram
dominados por um único mandatário, que impunha seu domínio pelo uso da força.
Após o período da República Velha, entra em cena o presidente Getúlio Vargas, que
governou o país por meio de um regime ditatorial entre 1934 até 1945. Tivemos um curto
período de democracia de 18 anos entre 1946 a 1964, quando ocorreu o Golpe Militar e cuja
Ditadura Militar permaneceu por 21 anos, entre 1964 a 1985, período de maior afronta aos
nossos direitos, com restrições severas às liberdades civis, censura à imprensa, perseguição
política e violações dos direitos humanos. O movimento pelas Diretas Já, iniciado nos anos
1980, foi uma das principais manifestações populares que reivindicavam eleições diretas para
presidente, buscando restaurar a democracia de forma direta e participativa. Embora não tenha
conseguido garantir eleições diretas naquele momento, esse movimento foi fundamental para
pressionar por mudanças políticas.
A década de 1980 representou uma fase histórica de profundas mudanças no nosso
país para a configuração dos espaços de mobilização popular. Um exemplo foi a pressão feita
por movimentos sociais de mulheres do campo e sua participação na Assembleia Nacional
Constituinte após o regime militar, que contribuiu para a realização da nova Constituição
Federal de 1988. A promulgação da Carta Magna foi um marco fundamental nesse processo
de redemocratização, consolidando princípios democráticos, direitos fundamentais e
estabelecendo regras para o funcionamento das instituições. Nesse período observamos um
impulso para a criação e expansão de políticas sociais mais abrangentes. Programas como o
Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), e o
fortalecimento de transferência de renda, como o Bolsa Família, representam algumas das
iniciativas que visam a redução das desigualdades sociais e o acesso universal a serviços
básicos. A ampla maioria desses programas foi conquistada através da articulação e pressão
de movimentos sociais e organizações sociais. De acordo com Fagnani (2005), o período do
regime militar de 1964 a 1985 foi marcado por uma modernização conservadora, que
beneficiava as classes médias e altas em detrimento das camadas mais pobres da população,
acentuando enormemente a desigualdade social.
2
Sabendo disso, vamos entender melhor a respeito do histórico da construção da
participação social no Brasil: Nos países da América Latina, incluindo o Brasil, os
movimentos sociais têm ganhado mais oportunidades para se envolverem nos processos de
decisões políticas que influenciam as definições de políticas públicas. Desde os anos 1990, a
sociedade civil foi convidada a participar em novos espaços para discutir e ajudar a
administrar políticas em diferentes áreas. No Brasil, essa maior participação aconteceu porque
os cidadãos pressionaram o governo durante a luta pela democracia. A partir dos anos 1970,
quando os problemas sociais pioraram e o governo teve dificuldades, começaram a questionar
o jeito centralizador, autoritário e que excluía muita gente das políticas públicas. As pessoas
também viram que o governo não estava conseguindo atender às suas necessidades.
A ideia de participação incluía a esperança de construir uma democracia onde todos
tivessem voz, especialmente as classes mais pobres. Achava-se que se mais pessoas
participassem, seria possível mudar como o governo planejava e fazia as políticas públicas no
Brasil. Acreditava-se que a participação poderia fazer com que o governo se tornasse mais
transparente e responsável. Também se pensava que, ao participar, as pessoas aprenderiam
mais sobre como ser cidadãs ativas.
Nesse cenário, vários movimentos sociais no Brasil decidiram lutar "de dentro do
governo" para tentar mudar as coisas. Essa estratégia foi difícil, mas resultou na criação de
novos direitos para as pessoas e mudou a forma como os governos deveriam trabalhar. Os
conselhos de políticas públicas foram uma das principais novidades desse processo. Eles
foram importantes para acompanhar a redemocratização no Brasil (Tatagiba, 2010).
Ficou claro o que é a participação social e sua importância na garantia de direitos?
Resumindo, a participação social também conhecida como participação dos cidadãos, popular,
democrática, comunitária, entre outros, é usada para definir as práticas de inclusão da
sociedade nos processos decisórios de diferentes políticas públicas.
2. Constituição Federal de 1988: a Constituição Cidadã
Os princípios que regem a participação social estão presentes em diferentes partes da
Constituição Federal de 1988. As emendas populares foram fundamentais para que as
propostas dos cidadãos comuns fossem discutidas pelos parlamentares do Congresso
Constituinte. Especialmente as emendas 21, 22 e 56 garantiram que a Lei Máxima brasileira
reconhecesse que o poder do povo pode ser exercido de duas maneiras: por meio da
participação, também conhecida como democracia participativa, e pela eleição, também
conhecida como democracia representativa porque escolhemos um representante pelo voto.
É isto que está expresso no artigo 1º da Constituição Federal:
Artigo 1º - parágrafo único: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
A partir da Constituição de 88 temas como saúde, assistência social, segurança
3
alimentar, educação, moradia e tantos outros passaram a fazer parte do horizonte dos cidadãos
brasileiros como direitos a serem garantidos pelo Estado. A principal tarefa do Estado é
enfrentar e produzir soluções para os problemas que afetam a população, garantindo o acesso
aos direitos conquistados pela sociedade. A conquista dos direitos determina como vamos
viver coletivamente e a luta pela sua ampliação tem a ver com a busca constante de modos
mais dignos e valiosos de viver.
2.1. Garantia de direitos e formalização da participação social na Constituição de 1988
As mudanças na forma de gestão e controle das políticas públicas no período militar
não contemplavam qualquer estratégia de participação popular. Todos os mecanismos de
controle público foram eliminados e, tampouco, o Congresso Nacional participava das
discussões sobre as definições das políticas sociais (Rocha, 2008). Ulysses Guimarães, que
liderou a Assembleia Nacional Constituinte, disse em seu discurso na cerimônia de
promulgação da Constituição de 1988 que a colaboração do povo na criação da Constituição
nãofoi apenas através das emendas, mas também de outras formas:
“... pela presença, pois diariamente cerca de dez mil postulantes franquearam, livremente, as
onze entradas do enorme complexo arquitetônico do Parlamento, na procura dos gabinetes,
Comissões, galerias e salões. Há, portanto, representativo e oxigenado sopro de gente, de rua,
de praça de favela, de fábrica, de trabalhadores, de cozinheiras, de menores carentes, de
índios, de posseiros, de empresários, de estudantes, de aposentados, de servidores civis e
militares, atestando a contemporaneidade e autenticidade social do texto que ora passa a
vigorar.” (trecho extraído de Discurso de Ulisses Guimarães em 05 de outubro de 1988 apud
Rocha, 2008).
Dessa forma, a Constituição do Brasil, criada em 1988, incorporou muitas das
demandas do movimento "Participação Popular na Constituinte". Ela estabeleceu diversas
maneiras para a sociedade participar na administração do país. Por esse motivo, a nova
Constituição foi chamada de "Constituição Cidadã". Além de outras melhorias, essa nova
carta incluiu métodos para as pessoas participarem ativamente nas decisões do governo, tanto
a nível nacional quanto local. Ela enfatiza a importância de instrumentos como referendo,
plebiscito e iniciativa popular para a participação direta dos cidadãos.
Logo, a participação é um elemento central nos processos de reforma democrática do
Estado desde a Constituição de 1988. Esta estimula a participação popular na tomada de
decisões sobre políticas públicas, como no caso do princípio de cooperação com associações e
movimentos sociais no planejamento municipal (art. 29) ou de participação direta da
população na gestão administrativa da saúde, previdência, assistência social, educação e
criança e adolescente (arts. 194, 198, 204, 206 e 227).
A seguir destacam-se alguns avanços da participação social nas políticas sociais, que
resultaram de preceitos constitucionais:
I. A luta pela Reforma Sanitária em articulação com os profissionais de saúde resultou
4
na aprovação do Sistema Único de Saúde (SUS), que institui um sistema de co-gestão e de
controle social tripartite – governo, profissionais e usuários – das políticas de saúde.
II. A luta pela Reforma Urbana resultou na função social da propriedade e da cidade
reconhecida pela atual Constituição, em capítulo que prevê o planejamento e a gestão
participativa das políticas urbanas.
III. A elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, como desdobramento do
reconhecimento constitucional da criança como um sujeito de direito em situação peculiar de
desenvolvimento e da adoção da doutrina da proteção integral.
IV. Promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social, como resultado do
reconhecimento constitucional de que a assistência social é um direito, figurando ao lado dos
direitos à saúde e à previdência social.
2.2 Efetivação da participação social na Assistência Social pós-Constituição de 1988 e
suas inovações institucionais nas décadas posteriores
Como vimos anteriormente, por muitos anos os direitos sociais estiveram ausentes nas
formulações de políticas no Brasil, por conta disso a Constituição Cidadã foi de extrema
importância para a consolidação de políticas públicas de assistência social, a partir dela, a
assistência social se tornou um direito garantido a todos que dela necessitam, não sendo mais
um favor do Estado ou da sociedade. Isso trouxe mudanças importantes, como a criação do
Benefício de Prestação Continuada (BPC) em 1995, substituindo a renda vitalícia sem exigir
contribuições prévias. Também houve mais discussões sobre descentralização na gestão e
maior participação da sociedade na administração das políticas sociais.
Cinco anos após a Constituição, foi criada a Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), aprovada em 1993, que regulamenta esse aspecto de descentralização da
Constituição e estabelece normas e critérios para organização da assistência social, que é um
direito, e este exige definição de leis, normas e critérios objetivos (Brasil, 2010). Essa lei
deixou claros os arranjos para descentralização e participação social, e vem sendo aprimorada
de modo a estabelecer uma rede de proteção e promoção social. Vale destacar a
implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no ano de 2005, conforme
determinações da LOAS e da Política Nacional de Assistência Social, reforçando o caráter
legal da assistência social, como uma maneira de preservar direitos que foram conquistados a
partir de muita luta dos movimentos sociais.
Pensando na efetivação da participação, os artigos 16 e 17 da LOAS versam a respeito
dos conselhos, que são uma das partes importantes desse sistema descentralizado e
participativo da assistência social. A lei define que deverão ser instituídos pelos Estados,
Distrito Federal e pelos Municípios, mediante lei específica, conselhos de assistência social de
caráter permanente, com competência para acompanhar a execução da política de assistência
social, com representação equilibrada entre governo e sociedade civil, um Fundo de
Assistência Social controlado pelos respectivos conselhos, e a elaboração de um Plano de
5
Assistência Social como condições necessárias para os repasses de verbas da União para os
Estados, Distrito Federal e municípios. Vale lembrar que somente no ano de 1997 foram
estabelecidos os métodos de repasse de recursos e a Norma Operacional Básica (NOB),
criando condições políticas e institucionais para o início efetivo dos processos de
descentralização.
As Conferências de Assistência Social também são parte importante da consolidação
da participação na política de assistência. No ano de 1997, com a realização da II Conferência
Nacional de Assistência Social, foi disposto em lei a convocação ordinariamente a cada
quatro anos de uma Conferência Nacional de Assistência Social, com vistas a avaliar a
situação da assistência social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento do sistema.
Quais são as formas e níveis de participação social no SUAS? Vamos conhecer melhor
os seis níveis de participação social? Assista ao vídeo abaixo:
Vídeo 1- Seis níveis de participação social no SUAS
Link: SEIS níveis de PARTICIPAÇÃO SOCIAL no SUAS
2.3 Relações entre Estado, movimentos sociais e políticas públicas
Para iniciar esse tópico, você sabe o que são movimentos sociais? Movimentos sociais
se referem a grupos de pessoas, formais ou informais, que expressam uma série de demandas
que consideram como seus "direitos", com base na Constituição Federal ou em outras leis.
Um exemplo histórico é o movimento operário, que buscava melhores salários e condições de
trabalho. Atualmente, existem vários outros movimentos na sociedade, como os de
camponeses, ambientalistas, afirmação étnica, igualdade de gênero, moradia e saúde. Apesar
de suas diferenças, todos compartilham a característica comum de serem formados por
pessoas que buscam a realização dos direitos de todos.
A relação entre os canais em que as pessoas participam, como conselhos e orçamentos
participativos, e os diferentes grupos de pessoas que se unem para lutar por algo sempre foi
um pouco complicada na história do Brasil. Isso envolveu conflitos e alguns problemas que
poderiam afetar a independência desses grupos, como a cooptação e relações de clientelismo.
No entanto, nos últimos anos, vimos algumas tentativas de melhorar essa relação, tornando-a
mais democrática e focada em propostas construtivas.
Vamos entender melhor sobre essa relação entre esses diversos movimentos e os
canais institucionais de participação cidadã, e também da relação mais tradicional da
sociedade civil com a democracia representativa. É bom que tenhamos muito claro qual a
natureza dessas relações: estamos falando aqui de organizações, muitas delas informais, que
possuem como base de ação a mobilização da população para atingir um determinado
objetivo, e que consideram a aproximação com o Estado muito delicada, pois pode se reverter
6
https://www.youtube.com/watch?v=ERm4_DazVf8
em algum tipo de cooptação de suas liderançaspor interesses governamentais e partidários.
Isso deixa bem evidente a novidade e também o desafio que constituiu a estruturação de
instrumentos de democracia participativa previstos em nossa Constituição de 1988, que
instituíram o controle social das mais importantes políticas públicas, como Saúde, Educação,
Assistência Social e, mais recentemente, Habitação. Estamos falando de uma “arquitetura
institucional” que pressupõe a efetiva participação de movimentos sociais e demais
organizações da sociedade civil por meio de conferências e conselhos de políticas públicas, e
que impôs a esses segmentos uma profunda reflexão sobre como e sob quais condições
ocorreria tal participação.
Por isso, é importante discutir: de que maneira os movimentos podem garantir seu
acesso a informações sobre a gestão pública que sejam de qualidade e com prazo adequado? E
também: como compreender e usar essas informações de maneira a aprofundar seus debates e
posicionamentos a respeito das políticas públicas e gestão pública?
Torna-se essencial que os representantes dos movimentos mantenham uma conexão
próxima com as pessoas que representam. Isso inclui prestar contas de suas ações, manter a
comunidade informada sobre as discussões em andamento e promover debates para formar
opiniões sobre questões relevantes. Ao mesmo tempo, o movimento como um todo deve
encorajar seus representantes a trazer as discussões dos espaços institucionais para serem
debatidas em reuniões regulares, fortalecendo sua representação e fornecendo apoio em
momentos decisivos.
Outro desafio a ser considerado é a situação complexa vivida por alguns movimentos,
que alternam entre o papel de reivindicantes e prestadores de serviços ao Estado por meio de
convênios e parcerias que garantem recursos. Surge a questão de como manter a autonomia
quando há dependência desses recursos. Deve a representação de entidades da sociedade civil,
como ONGs e universidades, ser exclusivamente voltada para reivindicações? É necessário
questionar que tipo de convênio/parceria vincula essas organizações aos interesses do governo
e qual preserva sua autonomia.
No cenário dos desafios, nota-se uma forte tendência entre os movimentos sociais de
se concentrarem exclusivamente em suas próprias demandas, ignorando outras questões
sociais. Essa tendência se estende a muitos conselhos de políticas públicas, que ficam
limitados a reivindicações específicas, negligenciando a necessária interconexão entre as
políticas sociais. Portanto, é crucial que os movimentos de diferentes setores e temas
promovam espaços de discussão e construção de plataformas de luta conjunta. Além de
oferecer uma visão mais abrangente das questões sociais, essa ação também fortalece a
capacidade de pressionar governos, promover o controle social das políticas públicas e
construir uma noção mais ampla de cidadania (Santos, Serafim, Pontual/Observatório dos
Direitos do Cidadão/Equipe de Participação Cidadã. Instituto Pólis, 2008).
3. Instâncias e mecanismos de exercícios da participação
Falar sobre participação significa falar sobre diferentes formas de democracia. Ao
7
longo do tempo, as democracias modernas foram construídas com base na ideia de Estado de
Direito. Isso envolve a criação de uma estrutura governamental que proteja os direitos
individuais e coletivos dos cidadãos. Essa estrutura inclui a divisão entre os Três Poderes
políticos: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Nos dois primeiros, o voto universal é
usado para escolher seus líderes por um período determinado. No Judiciário, os membros são
selecionados com base em critérios profissionais, como concursos públicos.
Esse modelo foi pensado para garantir a "participação" de todos os cidadãos nos
assuntos públicos, ao mesmo tempo em que permite o controle especializado dos
procedimentos administrativos por profissionais. Esse tipo de sistema político é chamado de
democracia representativa, pois sugere que o povo exerce seu poder político indiretamente
através de representantes. A ideia por trás desse arranjo institucional é manter um equilíbrio
entre os Três Poderes, evitando a dominação de um sobre os outros, especialmente do
Executivo em relação ao Legislativo e ao Judiciário.
A democracia participativa acontece nos três poderes do seguinte modo:
● No Poder Legislativo, de acordo com o artigo 14, os cidadãos participam por
meio do sufrágio universal e voto direto e secreto, do plebiscito, do referendo e
da iniciativa popular para proposição de leis, prevista também no artigo 61 §
2º.
● No Poder Judiciário a Constituição Federal determina que a participação
popular aconteça pela ação popular, no artigo 5º inciso LXXIII. A ação popular
trata da possibilidade de censura direta dos atos dos governantes na esfera da
ética política. O Tribunal do Júri é órgão soberano para julgar crimes dolosos
contra a vida.
● No Poder Executivo, os conselhos gestores de políticas públicas são formas de
participação popular.
Afinal, quais instrumentos de participação social nasceram no período de
redemocratização brasileira? Assista ao vídeo abaixo para entender melhor:
Vídeo 2- Participação: Instrumentos de Participação Social
Link: 2. Participação: Instrumentos de Participação Social
Vamos diferenciar os tipos de participação?
Tipos de Participação Democracia Exemplos
8
https://www.youtube.com/watch?v=_5DANbtBcWI&t=4s
Participação por meio do voto Democracia Representativa Votação nas eleições municipais
Participação Institucionalizada
Democracia Participativa Conselhos de Assistência Social
Participação por meio de opinião
pública e formação de esferas
públicas
Democracia Deliberativa Consultas públicas
Fonte: Elaboração própria - Equipe Técnica Pedagógica.
A partir da Constituição Federal de 1988, passamos a ter 4 canais formais de
participação social, sendo eles:
1) PLEBISCITO
2) REFERENDO
3) LEI DE INICIATIVA POPULAR
4) CONSELHOS GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Nos próximos tópicos explicaremos com mais detalhes como funciona cada um deles.
3.1 Mecanismos de democracia direta (plebiscito, referendo, iniciativa popular);
Retomando o que já foi tratado anteriormente, no Poder Legislativo, de acordo com o
artigo 14 da Constituição Federal, os cidadãos participam por meio do sufrágio universal e do
voto direto e secreto, do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular para proposição de
leis, prevista também no artigo 61 § 2º.
Vamos diferenciar os tipos de mecanismos de participação direta:
● Plebiscito: Este mecanismo ocorre quando uma ideia ou decisão deve ser submetida à
análise e votação pelos eleitores. Em outras palavras, os eleitores expressam sua
opinião sobre uma proposta apresentada por meio de uma pergunta específica, e se a
9
maioria concordar, essa proposta torna-se obrigatoriamente lei. Geralmente, o
plebiscito é convocado pelo legislativo, sendo necessário um mínimo de 1/3 de
assinaturas de deputados ou senadores. No entanto, a Constituição Federal de 1988
estabelece situações em que o plebiscito é obrigatório, como nos casos de separação
ou fusão de territórios.
● Referendo: Esse mecanismo é acionado quando já existe um projeto de lei aprovado
pelo legislativo e, portanto, pronto para se tornar lei. No entanto, sua entrada em vigor
depende da aprovação dos eleitores. Para propor um referendo, é necessário obter
assinaturas de no mínimo 1/3 dos deputados ou senadores.
● Iniciativa Popular: Neste caso, os eleitores têm um papel direto na criação de leis,
onde um indivíduo ou grupo redige o texto de um projeto de lei ordinária ou
complementar que desejam que se torne lei. Em seguida, é necessário coletar
assinaturas, sendo requerido no mínimo 1% do número total de eleitores a nível
nacional para submeter o projeto de lei à votação no Congresso. Importante notar que
o Congresso não é obrigado a aprovar o projeto de lei, mas a pressão popular muitas
vezes influencia positivamente a decisão legislativa.
3.1.1 Formas e espaços de participação: Conselhos, Conferências, Fóruns e outras
possibilidades departicipação social institucionalizadas
Estudos realizados pelo IPEA em 2012 apontaram um aumento e diversificação dos
órgãos da administração pública federal que estabeleceram conexões entre sociedade e Estado
entre 2002 e 2010. Nesse período, observou-se também um crescimento no número de
programas do governo federal que passaram a incorporar mecanismos de interação com a
sociedade civil, como ouvidorias, reuniões com grupos de interesse, audiências e consultas
públicas, além de participações em conselhos setoriais e conferências temáticas. Esses canais
de interação variam quanto ao nível de participação social que buscam promover dentro da
estrutura institucional. Enquanto alguns têm como objetivo facilitar a participação da
sociedade civil na elaboração de políticas setoriais, como conselhos, conferências e consultas
públicas, outros se configuram como espaços de transparência e controle social, nos quais a
população é convidada a fiscalizar, monitorar e controlar as ações públicas, como é o caso das
ouvidorias (Santos, Glugliano, 2015).
Nesse tópico, vamos conhecer melhor a respeito dos espaços de participação:
● Conselhos: Na medida em que os movimentos sociais se fortaleceram, principalmente
nos anos 70 e 80, a democracia no Brasil se alargou e se aprofundou. Como a
democracia representativa parlamentar mostrou-se insuficiente para fazer da política e
do Estado lugares públicos e democráticos, foram criados, na Constituição de 88,
novos canais de participação popular, entre os quais os conselhos, redefinidos como
espaços de democracia participativa. Os conselhos gestores de políticas públicas foram
criados como espaços de interação entre a sociedade e o Estado, garantidos
formalmente na Constituição de 1988 visando elaborar, implementar e exercer o
controle social sobre políticas públicas em diferentes áreas. São órgãos vinculados ao
Poder Executivo, criados por lei e que devem se orientar pelo que elas definem. Hoje,
10
a existência de conselhos em várias políticas é obrigatória para o repasse de verbas
federais, e eles possuem uma estrutura descentralizada de funcionamento, indo desde o
nível federal ao municipal.
O que são conselhos consultivos ou deliberativos? O fato de serem reconhecidos e de
haver legislação que lhes dá poder, não basta para que um conselho seja realmente
deliberativo, isto é, ter caráter decisório sob suas funções. Existem também os conselhos
consultivos, que tem como responsabilidade julgar determinado assunto que lhes é
apresentado e apenas auxiliam nas ações dos políticos, destituídos de poder para
questioná-los.
Em resumo, conselhos gestores municipais são importantes pois são espaços
participativos que têm como atribuição geral aprovar e controlar a execução da política
municipal em um setor, definindo diretrizes mais amplas sobre o seu funcionamento. Por
tratarem de questões mais amplas da política e terem relação direta com a secretaria municipal
do órgão gestor podem ser espaços estratégicos de controle social, que nada mais é do que a
capacidade da sociedade de intervir nas políticas públicas com o objetivo de garantir direitos,
no Módulo II veremos com mais detalhes sobre o controle social.
● Conferências Municipais: De acordo com Romão e Marteli (2020), as primeiras
conferências que conhecemos aconteceram nos anos 1940 e, naquela época, eram
reuniões entre gestores públicos e especialistas para coordenar ações administrativas,
ou seja, não são algo novo. Porém, ao longo do tempo o formato e os objetivos dessas
conferências mudaram bastante. Inicialmente, eram mais técnicas e administrativas,
mas a partir dos anos 1980, passaram a ser espaços importantes de discussão pública
com caráter político.
Com a Constituição de 1988, muitas políticas públicas começaram a incluir as
conferências nacionais como uma parte específica de seus sistemas participativos, como no
caso do Sistema Único de Saúde (SUS), que serviu de exemplo para outras áreas. De 1941 a
2016, foram realizadas 154 dessas conferências em mais de 40 áreas de políticas públicas.
Dessas, 34 ocorreram até 2002, 75 entre os anos de 2003 a 2010 e 41 entre os anos de 2011 a
2016. Ao longo desses eventos, que podem ser presenciais ou virtuais, mais de 7 milhões de
pessoas participaram em todo o país.
Atualmente, as conferências são encontros participativos amplos que juntam diferentes
setores sociais e governamentais para discutir e propor ideias e diretrizes em áreas específicas
de políticas públicas. Esses encontros são organizados de acordo com as leis ou regulamentos
que determinam suas regras, frequência e competências. Embora cada área de política tenha
suas particularidades, em geral, essas conferências são convocadas pelo poder executivo, com
a participação de setores sociais organizados e conselhos nacionais relacionados ao tema da
conferência. As conferências acontecem em diferentes etapas, começando no âmbito
municipal e progredindo, por meio de representantes delegados, para etapas estaduais e
nacionais. Embora, em geral, não tenham poder de decisão, são espaços cruciais para
identificar questões e demandas que devem ser consideradas pelas autoridades
11
governamentais. Portanto, são mecanismos eficazes para expressar demandas sociais e avaliar
a situação dos serviços públicos, principalmente na esfera municipal.
E as conferências de assistência social? As conferências de Assistência Social fazem
parte do processo de participação do povo e controle social da política de assistência social,
seguindo o caminho de descentralização descrito na Constituição de 1988 e estabelecido na
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) de 1993. Elas têm como principal objetivo
envolver os usuários dos serviços de assistência social, funcionários e gestores, tanto do
governo local (prefeitura) quanto de organizações não governamentais, na tomada de decisões
e no desenvolvimento das políticas públicas de assistência social em cada município. A
Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS) destaca as
conferências como espaços essenciais para a participação social (Artigos 116, 117 e 118 da
NOB/SUAS).
● Fóruns: No campo da seguridade social, em especial nas políticas de Saúde e
Assistência Social, tem se constituído o controle social através de fóruns permanentes,
instituição de conselhos das políticas públicas e das conferências, realizadas
periodicamente. Os fóruns são espaços de participação que fiscalizam tanto o
conselho, quanto o poder público, sendo caracterizado como um dos mecanismos que
buscam promover a participação social em políticas sociais. A exemplo disso, o
Fórum Nacional de Usuários do SUAS (FNUSUAS) se processa nos anos 2000, a
partir da organização política dos usuários e de uma multiplicidade de sujeitos nos
espaços deliberativos do Estado. Foi somente a partir da Reunião Descentralizada e
Ampliada do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), na cidade de Salvador
em novembro de 2014, que efetivamente, se concretizou o fórum nacional. O
FNUSUAS foi certamente um avanço político, social e cultural para os interesses de
classe dos usuários e para a construção de uma democracia participativa, através da
base popular e representativa no Brasil. Desde então, os usuários do SUAS, se unem à
boa parte dos trabalhadores da Política de Assistência Social SUAS e com as
organizações presentes na sociedade civil, edificam fóruns regionais, estaduais e
municipais nas cinco regiões do país (Silva, 2022).
Outro destaque é o Fórum Nacional de Trabalhadoras e Trabalhadores do SUAS –
FNTSUAS, que é o reconhecimento da mobilização e organização dos/as trabalhadores/as e
de suas reivindicações históricas. A criação do FNTSUAS aconteceu no ano de 2009, durante
a VII Conferência Nacional de Assistência Social em sessão plenária nacional dos/as
trabalhadores/as presentes na sétima Conferência. As proposições feitas nos espaços das
Conferências de Assistência Social ganham contornos formais com a constituição de fóruns
participativos como esse! (Berwig et al, 2019).● Orçamento Participativo: Outro canal de negociação com o poder público muito
importante é o Orçamento Participativo (OP). Ele não é garantido constitucionalmente
como os conselhos gestores de políticas públicas e não existe em todas as cidades.
Algumas cidades como Porto Alegre e Belo Horizonte possuem OP funcionando há
quase vinte anos e suas experiências de gestão participativa são conhecidas em várias
12
partes do mundo.
O Orçamento Participativo é uma maneira de a população participar diretamente nas
decisões sobre como o dinheiro público é gasto e quais políticas públicas são implementadas.
Nele, as pessoas discutem e decidem sobre o orçamento da cidade, identificando as
necessidades de suas comunidades e priorizando onde os recursos devem ser aplicados. Isso
significa que os cidadãos não apenas votam nas eleições, mas também têm um papel contínuo
na gestão pública. É uma forma diferente de governo que envolve a comunidade nas decisões
sobre o uso do dinheiro público. Durante esse processo, as decisões sobre como os recursos
serão usados são debatidas e definidas com a participação direta da população.
Entender o Orçamento Participativo significa compreender como o governo utiliza o
dinheiro arrecadado por meio de impostos. Valorizar o orçamento é planejar como o governo
utiliza os recursos que a sociedade contribui por meio de impostos, contribuindo para o bem
comum. O dinheiro que circula na cidade, gerando impostos, é usado pelo governo para cobrir
despesas como pagamento de empréstimos, dívidas, funcionamento de serviços públicos,
educação, saúde, cultura e segurança pública. Como cidadão, ao contribuir para a cidade
através de impostos, você tem o direito e o dever de expressar sua opinião sobre como o
dinheiro público é utilizado. Em resumo, a missão do Orçamento Participativo é democratizar
a gestão, envolvendo ativamente os cidadãos na aplicação das políticas públicas, garantindo
controle social e transparência. Ele busca ampliar a participação dos cidadãos na discussão do
orçamento municipal e promover a co-responsabilidade no financiamento da cidade. A
diretriz principal é consolidar o programa Orçamento Participativo, fortalecendo o papel dos
cidadãos, oferecendo formação contínua, estimulando organizações regionais focadas na ética
e cidadania, fortalecendo outros meios de participação cidadã e garantindo que todas as etapas
do Orçamento Participativo tenham a participação dos eleitos.
● Ouvidoria: Outra possibilidade de participação institucionalizada é a
Ouvidoria, que consiste em um canal de comunicação onde as pessoas podem
expressar suas opiniões e reclamações sobre os serviços públicos. Ela ajuda a
administrar os comentários dos cidadãos, encaminhando as queixas para os
setores responsáveis. A ideia é que ao ouvir o que as pessoas estão dizendo, os
gestores possam melhorar os serviços e produtos oferecidos pelo governo. O
objetivo da Ouvidoria é tornar a administração pública mais transparente,
permitindo que os cidadãos participem na melhoria dos serviços e na avaliação
das políticas públicas. Por meio dela, é possível aprimorar a relação entre os
servidores públicos e os cidadãos, possibilitando que as pessoas exerçam seu
direito de avaliar e controlar a gestão pública. Isso é fundamental para
fortalecer nossa democracia.
3.1.2 Conselhos Municipais de Políticas Públicas: desafios para a efetivação da
participação nos territórios e em nível local
Como estudamos anteriormente, a origem dos conselhos gestores de políticas públicas
está vinculada à luta e à organização de movimentos sociais, associada à concepção de
13
conselhos populares. Ao longo das últimas três décadas, os conselhos gestores de políticas
públicas encarnaram institucionalmente aquilo que na Constituição eram disposições
abstratas, introduzindo o princípio da participação em determinados setores de política
(também chamada gestão pública participativa) (Lavalle, Guicheney, Vello, 2021).
Desde a redemocratização, mais conselhos passaram a envolver uma ampla
representação da sociedade civil em conversas com os gestores públicos. Além de promover a
participação na elaboração de políticas públicas, a criação de conselhos também indica uma
redução dos custos políticos para a implementação dos projetos do Executivo, uma vez que
são as pessoas que usam os serviços cotidianamente, que sabem onde estão os problemas a
serem resolvidos, logo a participação da sociedade civil leva ao Estado informações que ele,
muitas vezes, não tem acesso. Assim o controle social beneficia também o gestor público, que
terá mais dados e subsídios para tomar decisões acerca dos serviços e das políticas públicas
(Amâncio, Dowbor, Serafim, 2010). Ao estabelecer conselhos consultivos ou deliberativos, o
Executivo fortalece sua capacidade de mediar entre diferentes interesses sociais,
possibilitando uma forma cooperativa e pública de negociação social para alcançar acordos
políticos.
Os conselhos podem servir como indicadores sociais, refletindo a aceitação ou
rejeição das políticas governamentais. Eles representam uma etapa de consulta e diálogo entre
o poder público e a sociedade civil, caracterizando um processo de negociação em que ganhos
e perdas são compartilhados entre os participantes. Quando aprovados por uma parte
significativa da sociedade, os projetos e ações políticas que visam reformas estruturais para
combater a desigualdade e promover o desenvolvimento ganham maior legitimidade,
agilizando o percurso entre o debate político e o planejamento das políticas.
Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais mostram que no ano de 2018
praticamente todos os municípios brasileiros possuíam conselhos para as áreas de saúde, de
assistência social, de educação e de proteção dos direitos da criança e do adolescente. Entre
2009 e 2018, existiam cerca de 74.148 conselhos, distribuídos entre 33 áreas de políticas nos
5.569 municípios brasileiros, isto é, praticamente todas as áreas apresentaram expansão
durante os anos, indicando a presença de incentivos institucionais para sua criação (Lavalle,
Guicheney, Bezerra, 2020). A grande motivadora deste salto foi a indução federal,
responsável por condicionar o repasse de recursos a organizações da sociedade civil,
executoras da política em nível municipal, ao seu registro no conselho (Lavalle, Guicheney,
Vello, 2021).
Os conselhos são uma das grandes mudanças nas instituições que aconteceram durante
o período em que o Brasil se tornou mais democrático. Por causa disso, hoje em dia, quando
olhamos para como esses conselhos funcionam, podemos entender melhor os aspectos
positivos e negativos da democracia. Eles refletem essas diferentes experiências democráticas,
mostrando o que está dando certo e o que precisa ser melhorado. Observa-se que, em certos
cenários, há nos Conselhos Municipais uma discrepância entre os propósitos estipulados por
lei e a realidade de suas atividades diárias, visto que, ao invés de promoverem o envolvimento
da sociedade civil no exercício do controle social sobre as ações do Estado, muitas vezes
14
ocorre o oposto, com o Estado exercendo uma certa influência sobre a sociedade.
Alguns desafios ligados ao conselho estão relacionados à garantia de representação
diversificada e efetiva da sociedade, dada a dificuldade em envolver ativamente os membros,
assegurar transparência e acesso à informação, lidar com conflitos de interesse e manter uma
relação construtiva e independente com o Poder Executivo. A capacitação de conselheiros, a
escassez de recursos, a eficácia na implementação das recomendações, a renovação e
continuidade dos conselhos, bem como a avaliação de impacto das decisões tomadas, são
também desafios críticos que influenciam o papel desses órgãos participativos na formulação
e fiscalização de políticas públicas.
Os conselhos têm muitas atribuições, sua estrutura é normalmente enxuta, os recursos
são poucos e com isso têm pouca capacidade de fazer o controle social da prestação de
serviços, principalmente nas médias e grandes cidades,há decisões das quais os conselhos
não participam e momentos da política nos quais estão à margem, isto é, seu poder de
incidência vai variar de acordo com a composição de seus integrantes e o contexto político em
que se insere. Outro desafio diz respeito à própria qualidade da representação dos membros
dos conselhos, um dos atributos do representante da sociedade civil é, sem dúvida, sua
legitimidade como liderança de determinado movimento, também é fundamental que ele faça
a “ponte” entre os debates e as decisões dos conselhos e o seu movimento, caso contrário
corre o risco de representar a si próprio. Da parte do governo também é necessário uma boa
representação, pois não é raro que determinados governos enviem aos conselhos funcionários
despreparados ou pouco motivados apenas para cumprir a lei, o que na prática inviabiliza
qualquer negociação entre eles (Santos, Serafim, Pontual, 2008).
Para refletir: Você já participou de algum conselho de política pública em seu
município? Se sim, qual? Encontrou alguma dificuldade para exercer sua participação?
3.1.3 Os desafios para a efetivação da participação na Assistência Social nos municípios
A Norma Operacional Básica do SUAS/2005, ao apresentar o caráter deste sistema,
situa o controle social como uma das dimensões que deve receber “tratamento objetivo no
processo de gestão” (NOB-SUAS/2005, p. 15), e assinala que “a dinâmica democrática sob
controle social prevê a participação da população e da sociedade na formulação e controle das
ações em cada esfera de governo”. Porém, sabemos que há certos desafios para a efetivação
da participação na assistência social, em especial nos conselhos municipais. Um exemplo
disso é a dificuldade de interação entre conselhos e outras instâncias participativas de
diferentes políticas, que poderiam unir esforços para resolver problemas comuns. A atuação
conjunta de mecanismos de controle social, para articular, discutir, agir e negociar questões
semelhantes, pode representar uma maior efetividade no acompanhamento e fiscalização de
ações nos municípios.
Você sabia que os Conselhos de Assistência Social foram instituídos pela Lei Federal
nº 8.742/93 e sua composição é paritária? Isso quer dizer que deve ser constituído por 50% de
representantes do segmento governamental e 50% de representantes do segmento
não-governamental, incluindo profissionais da área, das entidades prestadoras de serviços e
15
de usuários. Por conta disso, as decisões são compartilhadas entre conselhos e gestores,
ambos devem ser responsáveis pelos rumos da política de assistência social. Para que essa
interação seja frutífera é importante que haja respeito às diferenças e busca permanente de
negociação, produzindo acordos que efetivem a assistência social enquanto política pública.
Nesse sentido, há conselhos que encontram dificuldades ao se deparar com gestões que não
favorecem a participação, deixando de investir em capacitações, impedindo acesso a
informações ou mesmo tornando estruturas do estado pouco permeáveis às reivindicações da
sociedade civil.
Outro desafio importante para os conselhos é manter um diálogo aberto com
movimentos sociais, organizações prestadoras de serviços, etc. Elas são responsáveis por
sustentar a participação da sociedade nos conselhos e, por isto, a interação entre conselhos e
organizações da sociedade civil deve ser bem estreita. Os conselhos devem manter um fluxo
permanente de informações com esses atores, alimentando-se das suas opiniões, mantendo-os
informados sobre o que acontece no conselho, inclusive esclarecendo as duas deliberações,
uma vez que os conselhos somam força com movimentos sociais e outros atores políticos, e
devem ser também acompanhados e avaliados atentamente, pois ainda que uma importante
conquista da sociedade civil organizada, não são o único meio de participação política,
devendo ser uma forma combinada com outras modalidades de organização e mediações
políticas (Brasil, 2008).
Por fim, é importante que as ações dos conselhos não se restrinjam às paredes das
salas de reuniões, devendo formar redes de informação e articulações, em nível de município
e região, com ações conjuntas que reúnam organizações de vários setores (Brasil, 2008).
Módulo II:
Relação entre participação e controle social para a garantia de direitos
1. Mecanismos formais de responsabilização do poder público e de garantia de direitos
Em uma democracia, a convivência entre o Estado e a sociedade civil requer
transparência, onde o diálogo institucional é fundamentado no acesso dos cidadãos às
informações e dados referentes às ações governamentais. O Estado deve se comprometer
incondicionalmente em manter aberto o acesso a seus bancos de dados e informações
gerenciais para a população em geral, instituições, ONGs, associações, e entidades de classe.
A eficácia das cobranças sobre o governo é ampliada quando há livre acesso às informações
gerenciais do Estado pela sociedade civil. Contudo, é importante ressaltar que a qualidade e o
tipo de informação disponibilizada, assim como a preparação da sociedade civil para
utilizá-la efetivamente, são aspectos cruciais. Não se trata apenas de abrir o acesso às
informações.
Além disso, as cobranças devem se estender não apenas aos atores políticos, mas
também ao Estado e sua máquina administrativa e burocrática. A prática comum de focar
exclusivamente nos políticos ignora os compromissos mais amplos que o Estado tem para
16
com o bem-estar da sociedade e a gestão adequada da coisa pública.
Quanto ao controle sobre a peça orçamentária municipal, existem três agentes
institucionais privilegiados, de acordo com a Constituição Federal: o Poder Executivo,
responsável pelo controle interno; o Poder Legislativo, encarregado do controle externo; e os
Tribunais de Contas, que exercem o controle externo, apoiando o papel da Câmara de
Vereadores. Assim, o Poder Legislativo e os Tribunais de Contas realizam controle,
verificando a legalidade constitucional dos processos orçamentários municipais. Enquanto a
Câmara de Vereadores se concentra na constitucionalidade das propostas orçamentárias, o
controle subjetivo, em geral, é exercido pela sociedade civil organizada, por meio de ONGs e
outras instituições privadas (Ferreira, 2004).
Vamos conhecer alguns dos mecanismos de responsabilização do poder público e de
garantia de direitos, além de suas funções:
Quadro: Ação popular - O que faz:
Nome O que é O que faz
Tribunal de Contas Criado pela Constituição (artigos
70 e 71), é
órgão supremo de fiscalização da
legalidade
das despesas públicas.
Fiscaliza as contas do Poder
Executivo (federal, estadual e
municipal) e também dos
órgãos,
empresas e fundações que fazem
parte do poder público. Dentre
outras funções ele pode punir os
responsáveis por irregularidades,
mas sua decisão é administrativa
e, portanto, pode ser questionada
na justiça comum.
Ministério Público Criado pela Constituição (artigos
127-130), é
um órgão autônomo que tem
como objetivo
defender e fiscalizar a aplicação
das leis,
representando os interesses da
sociedade;
pode também zelar pelo respeito
aos poderes
públicos e pela garantia dos
serviços públicos.
Para realizar seus objetivos pode
atuar em conjunto com o Poder
Judiciário ou de forma
independente
dele.
17
Conferência Criada pelas leis
complementares à
Constituição (ECA, LOAS, ) tem
como objetivo
reunir governo e sociedade civil
para debater
um tema de interesse comum e
decidir as
prioridades daquela política
pública para os
próximos anos
São convocadas pelo poder
executivo ou pelo conselho
responsável e servem para
definir
princípios e diretrizes; para dar
voz
e voto a vários segmentos;
discutir
e deliberar sobre os conselhos;
avaliar e propor instrumentos
de participação popular e fazer
indicações para a formulação da
política de assistência social.
Audiência pública É garantida pela Constituição
Federal, regulada
por leis federais, constituições
estaduais e leis
orgânicas municipais.
Reúnem o Poder Executivo e
Legislativo ou Ministério
Públicopara expor um tema e debater
com
a população sobre a formulação
de
uma política pública, a
elaboração
de um projeto de lei, os
resultados
de um política pública, a
execução
orçamentária.
Ação popular Prevista no artigo 5° da
Constituição Federal,
mas faz parte do Direito
brasileiro desde 1934.
Permite que qualquer cidadão,
desde que seja eleitor, recorra ao
Poder Judiciário para exercer
diretamente a função de
fiscalização dos atos do poder
público: contra atos lesivos ao
patrimônio da União, do Distrito
Federal, dos Estados, dos
Municípios, de entidades
autárquicas, de sociedades de
economia mista. Esta ação não
tem nenhum custo para o
cidadão.
Fonte: CNAS/MDS, 2006, p. 14
1.1 O que é controle social?
O controle social pode ser definido como "a capacidade da população de manter sob
18
seu controle o estado e o mercado, de tal sorte que prevaleça o bem comum" Demo (2008, p.
13), ou como a capacidade da sociedade de intervir nas políticas públicas com o objetivo de
garantir direitos (Amâncio, Dowbor, Serafim, 2010).
Vamos entender como isso funciona! Desde os anos 1970, os movimentos sociais que
batalhavam pela democratização da sociedade brasileira buscaram o direito de intervir nas
políticas públicas por meio da criação de formas de exercer o controle social. Esse controle
representa uma partilha de poder decisório entre o Estado e a sociedade sobre as políticas.
Trata-se então da capacidade que a sociedade tem para influenciar nas políticas públicas, e
essa influência se manifesta quando a sociedade colabora com o Estado na definição de
prioridades e na elaboração dos planos de ação municipais, estaduais ou federais.
O controle social pode ser exercido tanto na fase de definição das políticas que serão
implementadas, como também durante a fiscalização, acompanhamento e avaliação das
condições de gestão, execução das ações e aplicação dos recursos financeiros destinados à
execução de uma política.
Não podemos esquecer que o Estado tem seus próprios meios de controlar e fiscalizar
suas ações e serviços, que são as formas internas de controle público, mas o controle social
feito pela própria sociedade, pelos usuários dos serviços, é fundamental. São essas pessoas,
que usam os serviços cotidianamente, que sabem onde estão os problemas a serem resolvidos.
Elas podem levar ao Estado informações que ele, muitas vezes, não tem acesso. Assim o
controle social beneficia também o gestor público, que terá mais dados e subsídios para tomar
decisões acerca dos serviços e das políticas públicas (Amâncio, Dowbor, Serafim, 2010).
A ação visando garantir os direitos coletivos é o elemento fundamental que caracteriza
o controle social. Encaminhada por um indivíduo ou grupo representando a comunidade, a
ação de controle social não visa privilégios individuais ou favores, mas busca representar os
interesses e necessidades de um coletivo e efetivar direitos na prática. Quando se reconhece
que os problemas de uma comunidade não são problemas individuais, mas uma necessidade
de todos para garantir seus direitos fundamentais, a forma de relacionar-se com o poder
público é diferente e se dá na base da conquista de direitos. É desse modo que o controle
social torna-se uma ação legítima da sociedade perante o Estado, e que deve ser exercida
continuamente.
1.1.1 Mecanismos de exercício do controle social
Agora que já sabemos a definição, veremos quais são os mecanismos de exercício do
controle social, isto é, os espaços de participação social que podemos utilizar para reivindicar
nossos direitos! Observe se você já utilizou algum desses mecanismos abaixo:
19
Espaços participativos. Exemplos de espaços participativos mais comumente utilizados:
Conselho do equipamento
(exemplo: Conselho da UBS
ou de escolas)
Conferência Municipal do
Setor
Conselho Municipal do setor Conferência Estadual do
Setor
Conselho Estadual do setor Conferência Nacional do
Setor
Conselho Nacional do Setor Orçamento Participativo
Fóruns do setor
Fonte: Amâncio, Dowbor e Serafim (2010, p. 44)
Canais administrativos e participativos utilizados para controle social:
Conselho do equipamento
local
Conselho Municipal
Gestor do equipamento local Nível administrativo
intermediário
Conselho do nível
intermediário
Nível administrativo
municipal- Secretaria
Outros
Fonte: Amâncio, Dowbor e Serafim (2010, p. 46)
Poder público (Executivo, Legislativo e Judiciário)
Gestor do equipamento (exemplo:
coordenador do CRAS
Legislativo: acesso indireto
(exemplo: Comissões Especiais das
Câmaras de Vereadores ou
Deputados)
Prestadora de Serviço (exemplo:
Organização Social; entidade social
conveniada)
Executivo: Secretário municipal do
setor
20
Legislativo: acesso direto ou através
de assessores (exemplo: vereador,
deputado ou senador)
Executivo: Administrador de nível
submunicipal (exemplo:
subprefeitura)
Executivo: prefeito Processo Administrativo
Ouvidoria Processo na Justiça
Ministério Público
Fonte: Amâncio, Dowbor e Serafim (2010, p. 50)
Mecanismos de mobilização e pressão
Exemplos de mecanismos de mobilização e pressão mais comumente utilizados:
Abaixo-assinado Ofício
Ocupação de prédio público Manifestação em frente a prédio
público
Passeata ou ato público
Fonte: Amâncio, Dowbor e Serafim (2010, p. 54)
Aliados na sociedade civil
Exemplos de aliados na sociedade civil mais comumente procurados:
Profissionais do Setor de Assistência:
funcionários dos equipamentos
Sindicato de Trabalhadores
Associação de moradores de outros
bairros
ONGs
21
Movimento Social específico do Setor Outro movimento social
Entidade Filantrópica ou Assistencial Partido Político
Igreja; Pastorais Mídia
Fonte: Amâncio, Dowbor e Serafim (2010, p. 56)
E afinal, quem realiza o controle social? O controle social pode ser exercido tanto de
forma individual, diretamente pelo cidadão ou através de organizações, conselhos e outros. O
cidadão exerce o controle social acompanhando o cumprimento das políticas públicas,
denunciando possíveis irregularidades caso exista, nos diversos órgãos que possam atuar.
Representam os interesses de grupos da comunidade em busca de melhorias na qualidade dos
serviços públicos. Atuam dessa maneira porque já sabem os caminhos entre a queixa da
população e o poder público, e são reconhecidos e legitimados pela comunidade. São
representantes da comunidade porque falam em nome dos moradores e têm um papel
fundamental na realização do controle social.
Esses representantes da comunidade podem ser organizados em associações de
moradores, entidades sociais, movimentos sociais, podem fazer parte dos partidos políticos,
sindicatos, organizações religiosas ou ainda de um grupo de moradores que se reúne para
discutir e reivindicar coletivamente uma certa causa. Um exemplo bastante comum desses
representantes são as associações de moradores do bairro e lideranças envolvidas em
trabalhos nessas associações. Tais organizações se mobilizam para reivindicar melhorias para
o bairro, como asfalto, iluminação pública, saneamento, linhas de ônibus, melhorias nos
serviços de saúde e educação. Elas organizam as demandas a partir de reuniões feitas com a
comunidade, encaminham ofícios ou abaixo-assinados ao poder público e participam de
espaços de interlocução com o poder público, como o conselho de assistência social local.
Quando uma reivindicação é conquistada pelo representante da comunidade, todos são
beneficiados. Assim, a ação dessas organizações ou indivíduos não pode ser reduzida a um
favor ou uma bondade, sendo na verdade uma forma de fazer com que os direitos da
população sejam de fato respeitados e garantidos. Seu papel é muito importante, pois media,
articula, mobiliza e trabalha pela garantia dos direitos. Para refletir: As organizações que
atuam em sua comunidade exercem bem o seu papel de representantes? (Amâncio, Dowbor,
Serafim, 2010).
22
1.2 Relações e complementaridades entre os mecanismos de participação e de controle
social
A participação da sociedade debatendo em suas organizações, dialogando com o
Estadoe realizando o controle social é muito importante para garantir que as políticas
atendam às necessidades que são prioridades da população, de modo a melhorar os níveis de
oferta e de qualidade dos serviços e também para fiscalizar a aplicação dos recursos públicos.
A compreensão da participação social em uma perspectiva democrática deve nos conduzir à
ideia de facilitar o acesso e promover a inclusão da sociedade nas instâncias de controle
social. Todos os cidadãos, com base em suas próprias experiências e formas de vida, têm a
capacidade de acompanhar e avaliar as políticas públicas, já que estas visam beneficiá-los.
Portanto, é crucial assegurar que suas opiniões e conhecimentos sejam acolhidos e validados
durante os processos participativos, para que sintam que estão sendo valorizados.
Vale reforçar que a participação abrangente da comunidade no controle social reforça
as políticas públicas, tornando-as mais adaptadas às necessidades do público em geral e ao
bem comum, além de mais eficazes. Quando moradores de determinado bairro estão atentos
ao que está acontecendo na escola local, no posto de saúde ou mesmo nas políticas em nível
nacional, há uma melhoria na qualidade dessas políticas públicas. Além disso, a participação
social exercida por meio do controle social, ajuda também a democratizar a administração
pública, envolvendo diferentes grupos da sociedade, cada um com suas necessidades e
interesses específicos.
Ao desenvolver políticas públicas, o prefeito ou secretário, não considera apenas sua
própria perspectiva, mas também dialoga com as diversas demandas apresentadas pelos vários
participantes da sociedade. Assim, o exercício do controle social é uma oportunidade de
aprendizado tanto para os administradores quanto para os membros da sociedade, já que todos
aprendem a reconhecer e a negociar com diferentes necessidades. Em determinados espaços,
como os conselhos gestores de políticas públicas, a comunidade não apenas tem o direito de
expressar sua opinião, mas também participa das deliberações e decisões sobre as políticas,
em colaboração com o governo.
Como já tratamos anteriormente, o direito à participação social na formulação das
políticas públicas e no controle das ações do Estado está assegurado na Constituição de 1988
e é regulamentado em leis específicas, como a Lei Orgânica da Saúde (LOS), o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e o Estatuto
das Cidades. Essas leis estabelecem instâncias de consulta e deliberação populares,
especialmente através de conselhos de políticas públicas nos três níveis do Executivo
(Federal, Estadual e Municipal). Ademais, o controle social pode ser exercido fora dos canais
institucionais de participação, pela população em geral, que acompanha as políticas públicas
23
em todos os níveis da federação (Pólis, 2008).
1.2.1 O que é accountability
Afinal, o que é accountabillity? Vamos entender juntos o que esse termo significa,
assista ao vídeo abaixo:
Vídeo 3- O que é Accountability?
Link: O que é Accountability?
Podemos entender que a democracia que conhecemos hoje se baseia no conceito de
que o poder supremo é exercido pelo povo e na garantia dos direitos de cidadania para todos.
Antigamente, os soberanos detinham um poder absoluto sobre seus súditos, porém, nos
estados modernos, os representantes políticos são responsáveis perante o povo que os
escolheu. Em uma democracia, o ato de votar em um representante político não lhe concede
um poder supremo, mas sim a responsabilidade de exercer o poder em nome e para o
benefício do povo.
No entanto, esse progresso trouxe novas responsabilidades para a sociedade. Agora, as
pessoas têm duas obrigações: os cidadãos precisam acompanhar de perto como aqueles que
foram escolhidos para governar estão usando o poder concedido a eles, e os governantes
devem explicar suas ações aos cidadãos que os elegeram. Por isso, um dos problemas mais
importantes nas democracias modernas é encontrar maneiras e ferramentas de
"accountability", ou seja, métodos contínuos para avaliar e responsabilizar os funcionários
públicos. Isso permite que os cidadãos controlem como o poder dado aos seus representantes
está sendo usado.
Em termos simples, a "accountability" acontece de duas maneiras principais. Primeiro,
no processo de eleições, quando as pessoas usam seu poder para escolher seus líderes.
Segundo, no cotidiano das ações dos funcionários e organizações públicas. Isso não se limita
apenas aos sistemas de controle dentro do governo, mas também inclui a supervisão feita pela
imprensa, organizações sociais e cidadãos comuns.
1.2.2 Tipos de accountabillity
Inicialmente, O'Donnell (1998) propôs dois tipos de ações para a "accountability",
chamados de vertical e horizontal. Na vertical, a sociedade pode premiar ou punir seus
governantes através do voto em eleições livres, ou por outras formas de pressão política. A
accountability horizontal acontece quando os poderes públicos se fiscalizam mutuamente,
24
https://www.youtube.com/watch?v=TxwP2SGEI38
com órgãos governamentais supervisionando as atividades públicas. Isso inclui agências
estatais que têm o poder e a capacidade de monitorar, avaliar e, se necessário, punir agentes
ou entidades do governo.
Atualmente, dizemos que a "accountability" tem três tipos: vertical, horizontal e
societal, dependendo de quem está controlando quem:
● Vertical: é quando a população controla o Estado, monitorando os agentes públicos e
governos. Exemplos disso são o voto e a participação popular.
● Horizontal: acontece entre diferentes partes do governo, quando um órgão fiscaliza o
outro, como um poder fiscalizando uma agência reguladora.
● Societal: acontece entre a sociedade civil organizada e o governo, onde grupos como
ONGs, sindicatos e associações supervisionam os agentes públicos, exercendo pressão
legítima sobre a administração pública.
Ficou claro os tipos de accountability? Para fixar o conhecimento, assista ao vídeo
abaixo:
25
Vídeo 4- Accountability: Instrumentos e Aplicação na Área Ambiental
Link: 3. Accountability: Instrumentos e Aplicações na Área
Ambiental
1.3 Instâncias e órgãos de controle social e accountability da Administração Pública
Em resumo, accountbility não consiste apenas em atos punitivos, mas também apoiar a
gestão pública na execução das suas políticas, além da população conseguir acompanhar o
que tem sido feito pelo poder público.
Nos tópicos anteriores desse texto, nós vimos que participar de um conselho municipal
ou uma consulta pública, são formas de exercer controle social, não é mesmo? Agora, você
sabia que quando participamos de uma instância decisória e esperamos uma devolutiva do
governo, por exemplo, o governo acatar ou não uma sugestão proposta pelo governo, é uma
forma de accountability, chamada de “devolutiva de processo participativo”?!
Outro instrumento de accountability, consiste no acompanhamento de planos e
projetos do governo. Assim, nós como sociedade civil conseguimos acompanhar o andamento
das ações, podendo cobrar o que tem sido feito ou não, pressionando para que seja feito o que
havia sido proposto e garantindo uma prestação de contas por parte dos governantes.
Por fim, é importante saber como os conselhos atuam e se articulam com as demais
instâncias e instrumentos de controle público. Cada um deles tem funções diferentes
determinadas pela lei e a existência de um não anula a do outro. Pelo contrário, elas se
somam! Veja como:
Nome Como pode se relacionar com o conselho
Tribunal de Contas Caso tenha suspeita de irregularidades no
uso dos recursos previstos no plano e no
orçamento, o conselho pode encaminhar
uma denúncia por escrito (resolução ou
parecer), juntando todas as informações
para que a investigação possa ter bons
resultados. A denúncia é analisada e, se
verdadeira, o TC pode responsabilizar o
administrador que a cometeu ou enviar a
decisão ao Ministério Público.
Ministério Público Por defender os direitos sociais, o
Ministério Público é um parceiro dosconselhos, reconhecido no artigo 31 da
LOAS. Ele pode acompanhar as eleições do
conselho, verificar e apurar denúncias sobre
mau uso de verbas públicas; garantir que os
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https://www.youtube.com/watch?v=g4Be2Mx0ucM
https://www.youtube.com/watch?v=g4Be2Mx0ucM
conselhos funcionem tal como previsto na
lei; e pode ainda propor a ação civil pública
contra aqueles que violaram os interesses
difusos ou coletivos, como os direitos
socioassistenciais. Ele pode realizar
também o inquérito civil público para
verificar se determinado direito foi violado
ou não.
Conferência As deliberações das conferências, assim
como os conselhos, são lugares de tomada
de decisão que servirão de referência,
indicando caminhos que os conselhos
nacional, estadual, municipal deverão
seguir. Pela sua grande capacidade de
mobilização, as conferências podem
também prever um momento próprio para
eleição dos conselheiros da sociedade civil.
Audiência pública Elas são espaços importantes no processo
de planejamento, pois permitem ampliar a
discussão sobre os planos, o detalhamento
das ações, critérios de contratação de
serviços. As audiências podem ocorrer por
demanda da própria população. As
audiências são obrigatórias na
demonstração e avaliação do cumprimento
das metas fiscais de responsabilidade do
poder executivo para cada quadrimestre.
Ação popular O uso desse instrumento contribui para a
atuação do conselho na medida em que
amplia o campo de pessoas comprometidas
com o controle social.
Fonte: CNAS/MDS, 2006, p. 14
1.3.1 Atribuições e funções dos órgãos de controle social internos e externos à
administração pública
Como vimos no tópico anterior, a modernização do Estado democrático trouxe a
responsabilidade para a administração pública de explicar suas ações e impactos. Os órgãos
de controle social, tanto internos quanto externos à administração pública, desempenham
papéis cruciais na fiscalização e na promoção da transparência e eficiência na gestão dos
recursos públicos. O Tribunal de Contas da União (TCU) é um exemplo de órgão de controle
externo no contexto brasileiro. A tarefa de supervisionar essas ações por parte da sociedade
foi dada aos Tribunais de Contas (TCs), que sempre foram encarregados de fiscalizar as
27
finanças públicas. No Brasil, os TCs têm funções mistas, com responsabilidades técnicas e
judiciais, possuindo autonomia própria, independência administrativa e funcional, iniciativa
para criar leis e competência para regulamentar. Essa autonomia permite que eles exerçam
controle sobre entidades públicas, influenciando suas ações (Ribeiro et al, 2020).
Suas atribuições e funções, assim como as de outros órgãos de controle, podem ser
delineadas da seguinte forma:
Tribunal de Contas da União (TCU) - Órgão de Controle Externo:
● Auditoria e Fiscalização: O TCU realiza auditorias e fiscalizações para verificar a
legalidade, legitimidade e economicidade dos atos administrativos, bem como a boa
aplicação dos recursos públicos.
● Apreciação de Contas: Examina e emite parecer sobre as contas dos gestores públicos,
verificando se foram executadas em conformidade com as leis e normas aplicáveis.
● Análise de Contratos e Licitações: Avalia a legalidade e a eficiência de contratos
públicos, licitações e processos de aquisição de bens e serviços.
● Julgamento de Irregularidades: Emite decisões e julgamentos sobre irregularidades e
ilegalidades na administração pública, aplicando sanções quando necessário.
● Orientação e Recomendações: Oferece orientações e recomendações para aprimorar a
gestão pública, promovendo a correção de falhas e a melhoria dos processos
administrativos.
Órgãos de Controle Social Interno (por exemplo, Conselhos):
● Acompanhamento da Execução Orçamentária: Acompanha a execução do orçamento,
verificando se os recursos estão sendo aplicados conforme as prioridades
estabelecidas.
● Participação em Auditorias Internas: Colabora com auditorias internas, auxiliando na
identificação de eventuais irregularidades e sugerindo melhorias nos processos.
● Apreciação de Relatórios de Gestão: Analisa relatórios de gestão apresentados pelos
órgãos responsáveis, avaliando a conformidade com as metas e objetivos
estabelecidos.
● Deliberações sobre Políticas Públicas: Emite deliberações e pareceres sobre políticas
públicas, contribuindo para a definição de diretrizes e prioridades.
Ambos os órgãos desempenham papéis complementares na promoção da
accountability, transparência e eficiência na gestão pública. O TCU atua como uma instância
externa independente, enquanto os órgãos de controle social interno desempenham um papel
mais próximo da comunidade, garantindo a participação direta da sociedade na fiscalização
das ações governamentais.
2. Mecanismos de controle social e accountability no SUAS
28
No contexto do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), diversos mecanismos
são empregados para promover o controle social e accountability, fundamentais para garantir
a transparência, eficiência e responsabilidade na implementação das políticas sociais.
Como dito anteriormente, os Conselhos de Assistência Social desempenham um papel
central, integrando representantes da sociedade civil e do governo. Esses conselhos não
apenas participam ativamente na definição, fiscalização e avaliação das ações sociais, mas
também asseguram que as decisões considerem uma variedade de perspectivas.
Já as Conferências de Assistência Social, realizadas periodicamente, também são
fundamentais, uma vez que proporcionam espaços cruciais de debate e deliberação, onde a
sociedade civil e gestores públicos discutem diretrizes e prioridades para a assistência social.
Essas conferências contribuem significativamente para a definição de políticas mais alinhadas
com as necessidades da população. A realização de Audiências Públicas é outra prática
importante, permitindo a interação direta entre a população e os gestores responsáveis. Essas
audiências proporcionam um ambiente onde os cidadãos podem expressar suas opiniões,
apresentar demandas e obter informações sobre a execução de ações e alocação de recursos
na assistência social. As Ouvidorias também desempenham um papel crucial como canais de
comunicação direta entre a população e as instâncias responsáveis pela assistência social.
Elas recebem reclamações, sugestões e denúncias, contribuindo para identificar
irregularidades, melhorar a prestação de serviços e fortalecer o controle social.
A Resolução Conjunta CNAS/MDS nº 4, de 4 de dezembro de 2023, dispõe que as
mesas de negociação no SUAS são espaços de diálogo, dentre as quais têm como objetivos:
“I - instituir processos negociais de caráter permanente para tratar de conflitos e
demandas decorrentes das relações funcionais e de trabalho no âmbito do SUAS, buscando
alcançar soluções para os interesses manifestados por cada uma das partes;
II - propor estudos com vistas ao subsídio de ações de negociação permanente no
SUAS;
III - negociar a pauta nacional de reivindicações de gestão do trabalho no SUAS;
IV - propor metodologias para implantação das diretrizes estabelecidas pelas
conferências de assistência social relacionadas à Gestão do Trabalho e Educação Permanente
do SUAS;
V - propor o aperfeiçoamento das atuais estruturas de gestões existentes nas diversas
localidades do país, considerando as diversidades regionais;
VI - propor procedimentos e atos que ensejem melhorias nos níveis de resolutividade e
qualidade dos serviços socioassistenciais prestados à população;
VII - propor a melhoria das condições e relações de trabalho, com vistas a aprimorar a
eficiência e a eficácia dos serviços socioassistenciais prestados à população;
VIII - fomentar ações de articulação que contribuam para a melhoria do desempenho,
eficiência e condições de trabalho no âmbito do SUAS, contemplando as necessidades e o
pleno desenvolvimento das carreiras que integram o SUAS;
29
IX - fomentar e apoiar a instituição de mesas de negociação permanente nos estados,
Distrito Federal e municípios, com objetivos equivalentes aosda MNNP-SUAS, em cada
esfera de governo, resguardadas as especificidades regionais e locais;
X - fomentar práticas que garantam o trabalho decente, digno e humanizado na área da
assistência social;
XI - atuar de forma a pautar condições de trabalho, saúde, qualidade de vida, combate
ao assédio e segurança da(o) trabalhadora(or) como prioridades da gestão, com vistas a
melhorar os vínculos de trabalho; e
XII - fomentar a construção de estratégias nacionais de valorização e fortalecimento
das(os) trabalhadoras(es) do SUAS, articulando com outros Ministérios” (CNAS/MDS nº 4,
2023)
A divulgação de informações por meio da mídia e comunicação é um componente
vital. A transparência sobre políticas sociais, gastos públicos e resultados contribui para que a
sociedade exerça o controle social de maneira informada. Órgãos de controle externo, como
tribunais de contas, realizam auditorias e fiscalizações para verificar a legalidade, eficiência e
eficácia dos gastos e ações na área da assistência social, garantindo uma accountability mais
robusta. A participação ativa de entidades de classe e organizações não governamentais
(ONGs) também é essencial, representando interesses específicos da sociedade e contribuindo
para a avaliação e monitoramento das políticas sociais.
Em última instância, garantir o fácil acesso às informações sobre programas, projetos,
orçamento e resultados da assistência social é crucial para empoderar os cidadãos no
exercício efetivo do controle social, promovendo a transparência e responsabilidade no
âmbito do SUAS.
2.1 Contas públicas e controle social: o papel e a efetividade dos conselhos de assistência
social
Os Conselhos de Assistência Social têm tarefas importantes em suas áreas de atuação.
Eles decidem e supervisionam como a Política de Assistência Social é implementada. Além
disso, têm responsabilidades como convocar e encaminhar as decisões das conferências de
assistência social, aprovar o plano e o orçamento da assistência social, fiscalizar a execução
do orçamento, entre outras.
Esses conselhos também cuidam da inscrição de entidades e serviços de assistência
social, fiscalizam a qualidade dos serviços prestados, elegem sua mesa diretora, aprovam seu
regimento interno, fiscalizam programas como o Benefício de Prestação Continuada e o
Bolsa Família, e controlam como o trabalho é gerenciado no Sistema Único de Assistência
Social (SUAS).
Vale lembrar que as ações e serviços da assistência social devem ser realizados
mediante planejamento, executando e prestando contas das receitas e gastos realizados. Nesse
sentido, a Lei Orgânica de Assistência Social, em seu artigo 27, trata do financiamento da
assistência social, definindo o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) como um
instrumento de gestão financeira do SUAS, devendo os recursos da união destinados à
30
assistência social, serem repassados ao FNAS. A lei define o órgão gestor da assistência
social como gestor do fundo e o Conselho com a responsabilidade de controle e orientação.
Na LOAS também se estabelecem as condições para o repasse dos recursos do FNAS para os
municípios e os estados, sendo eles: a existência de Conselho de Assistência Social, a
elaboração e atualização dos Planos de Assistência Social e o Fundo de Assistência Social
com destinação de orçamento próprio nos seus respectivos fundos (Delgado, 2019). Isso
evidencia a relevância do Conselho na aprovação e execução financeira da assistência social.
2.2 Articulações e complementaridades entre os conselhos municipais de defesa de
direitos
Os conselhos municipais de defesa de direitos desempenham um papel vital na
promoção e proteção dos direitos da população em âmbito local. Suas articulações e
complementaridades são fundamentais para otimizar a eficácia de suas ações e garantir uma
atuação abrangente. É importante que os Conselhos de Assistência Social trabalhem em
conjunto com outros conselhos municipais, como os de Educação, Saúde, Direitos das
Crianças e Adolescentes, e do Idoso. Isso é necessário porque algumas situações exigem
ações que envolvem diferentes áreas de políticas públicas.
A troca de informações entre conselhos é crucial para promover um aprendizado
mútuo, compartilhando desafios, boas práticas e experiências. Isso possibilita que cada
conselho se beneficie do conhecimento adquirido por outros ao enfrentar problemas similares.
A colaboração entre conselhos permite a realização de ações integradas para lidar com
questões complexas que envolvem diversos direitos. Essa integração de esforços pode resultar
em soluções mais abrangentes e eficazes. Trabalhando em conjunto, os conselhos conseguem
ampliar seu impacto, especialmente ao abordar questões que afetam diferentes grupos
populacionais ou áreas específicas.
A troca de experiências entre os conselhos fortalece institucionalmente cada um,
incluindo capacitações e desenvolvimento de recursos. Ao unirem suas vozes, os conselhos
podem ter maior influência na formulação de políticas e na implementação de ações que
promovam direitos. Os conselhos podem se unir para monitorar a implementação de políticas
públicas e a eficácia das ações governamentais, aumentando a visibilidade das questões e
pressionando por mudanças necessárias.
Em resumo, as parcerias e complementaridades entre os conselhos municipais de
defesa de direitos são fundamentais para otimizar recursos, ampliar impactos e promover uma
defesa eficaz dos direitos da população. A colaboração entre essas instâncias contribui para
um sistema mais robusto e integrado de proteção e promoção dos direitos fundamentais.
Módulo III:
Conselhos de Assistência Social: dimensões a partir da prática
1. Participação social no planejamento, na elaboração de diretrizes e estratégias da
Assistência Social: mecanismos e instrumentos
31
No campo da Assistência Social esta participação é efetivada da seguinte maneira:
I – Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS);
II – Conselhos Estaduais de Assistência Social (CEAS);
III – Conselho de Assistência Social do Distrito Federal; e
IV– Conselhos Municipais de Assistência Social (CMAS).
Os Conselhos de Assistência Social possuem caráter permanente e autônomo, sendo
espaços públicos que materializam os princípios de participação popular e de descentralização
expressos na Constituição Federal de 1988. As Conferências de Assistência Social
desempenham um papel decisivo, sendo fóruns de natureza deliberativa encarregados de
avaliar a Política de Assistência Social e fornecer diretrizes para o aperfeiçoamento do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
A convocação para a realização dessas conferências é realizada pelos Conselhos de
Assistência Social, em conjunto com o órgão responsável pela gestão dessa política. O
processo tem início com as Conferências Municipais em todo o país, seguidas pelas
Conferências Estaduais. A etapa final consiste na Conferência Nacional de Assistência Social,
na qual são reunidos delegados e delegadas previamente indicados nas fases anteriores,
representando tanto o governo quanto a sociedade civil. Este conjunto de etapas visa garantir
uma representatividade abrangente e participativa (GESUAS, 2023).
1.1 A participação social em cada etapa do ciclo da política pública
Você já ouviu falar do Ciclo de Políticas Públicas? O ciclo tem como objetivo nortear
a formulação de uma política pública, dividido em etapas que vão desde a identificação de um
determinado problema, até a implementação e avaliação dessa política.
32
Fonte: Amâncio, Dowbor, Serafim (2010)
Originadas de uma estratégia política que visa atender às necessidades de toda a
sociedade, as políticas públicas são ferramentas importantes para fortalecer a democracia.
Elas consistem em ações e programas criados pelo governo para garantir os direitos definidos
na Constituição, desempenhando um papel vital no exercício da cidadania.
No Brasil, os governos federal, estadual e municipal adotam esse conjunto de ações,
com participação de entidades públicas ou privadas, para lidar com problemas

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