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57 TERRAS INDÍGENAS - A CRISE HUMANITÁRIA QUE AFETOU OS POVOS YANOMAMI

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TERRAS INDÍGENAS: A CRISE HUMANITÁRIA QUE AFETOU OS POVOS 
YANOMAMI 
As terras indígenas segundo a Constituição Federal de 1988 
A Constituição Federal de 1988 afirma, no artigo 231, que os povos 
indígenas têm direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, 
incluindo sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. A União 
é responsável por demarcar e proteger essas terras, a fim de garantir aos povos 
indígenas a realização de suas atividades produtivas, culturais, de bem-estar e de 
reprodução. O processo de demarcação envolve estudos antropológicos, 
históricos, fundiários, cartográficos e ambientais realizados pela Funai. Após a 
aprovação desses estudos, a terra é delimitada, declarada pelo Ministério da 
Justiça e homologada por decreto presidencial. As terras homologadas são 
registradas em cartório em nome da União e na Secretaria do Patrimônio da União, 
e a partir desse momento são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas 
são imprescritíveis. 
Art. 231 da constituição federal de 1988: 
“São reconhecidos aos índios sua organização 
social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os 
direitos originários sobre as terras que 
tradicionalmente ocupam, competindo à União 
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os 
seus bens”. (BRASIL, CF/1988). 
Além de assegurarem um direito garantido pela Constituição e garantirem 
um papel fundamental na preservação da herança étnica e cultural dos povos 
indígenas, as terras indígenas têm revelado áreas de importância crucial para a 
proteção ambiental da Amazônia. A forma como as comunidades indígenas se 
relaciona com a natureza e utilizam os recursos naturais desempenha um papel 
relevante na conservação, pois eles têm o direito exclusivo de usufruto sobre suas 
terras. Além disso, o direito à posse permanente torna os habitantes das terras 
indígenas seus guardiões. 
Apesar do papel crucial na preservação da floresta, as ameaças ambientais 
são frequentes e podem afetar a saúde e o bem-estar desses povos. Essas 
ameaças surgem do desmatamento, incêndios, expansão da agropecuária ou 
mineração, e construção de infraestruturas, que impactam tanto a área circundante 
quanto, muitas vezes, o interior desses territórios. 
Demarcação de terras indígenas no Brasil 
A Funai (Fundação Nacional do índio) é responsável pelo processo de 
demarcação de terras indígenas no Brasil, o qual é fundamental para assegurar a 
sobrevivência dos povos originários e proteger o meio ambiente. 
A demarcação de terras indígenas no Brasil é essencial para assegurar o 
direito fundamental dos povos originários do país e está garantida na Constituição 
Federal de 1988 . A Funai é responsável pelo processo, que é crucial para manter 
o modo de vida, cultura e identidade dos povos indígenas brasileiros, bem como 
para ajudar a proteger os biomas e o meio ambiente. 
A demarcação de terras indígenas no Brasil é um processo que envolve 
etapas como identificação, declaração e demarcação dos limites da área, 
homologação e registro. A demarcação das terras indígenas representa a garantia 
dos direitos dos povos originários brasileiros, protegendo-os e preservando sua 
cultura. Além disso, é fundamental para a preservação do meio ambiente. 
A autonomia dos povos indígenas e a importância da demarcação foram 
reconhecidas na Constituição Federal de 1988, embora existam leis anteriores, 
como o Estatuto do Índio (1973), que também preveem a demarcação das terras 
indígenas. De acordo com o Instituto Socioambiental, existem 731 terras indígenas 
no Brasil, sendo que 490 delas foram demarcadas e homologadas. A maioria 
dessas terras está localizada na região Norte, especialmente na Amazônia Legal. 
Os conflitos nas áreas demarcadas ocorrem principalmente devido à disputa 
pela posse dessas terras, concentrando-se em regiões de expansão da fronteira 
agrícola e atividades de exploração vegetal e mineral. Houve um aumento nos 
conflitos nessas áreas, principalmente no norte do Brasil, devido a ações de 
fazendeiros, madeireiros e garimpeiros ilegais. A aplicação da tese do marco 
temporal, cujo foi suspenso, juntamente com a falta de fiscalização por parte dos 
órgãos competentes, tem agravado os conflitos em áreas demarcadas, 
aumentando a vulnerabilidade das comunidades indígenas. 
 
História dos povos Yanomami 
Há centenas de anos, os Yanomami habitam a fronteira entre o Brasil e a 
Venezuela. Inicialmente, estabeleceram-se na região da Serra Parima, no planalto 
das Guianas, que fica na divisão dos dois territórios. Com o passar do tempo, a 
população cresceu e expandiu-se para outras áreas, principalmente a partir do 
século XIX. Esse processo ocorreu em parte devido à invasão de não indígenas na 
região. Apesar do aumento populacional e da expansão territorial, os Yanomami 
permaneceram isolados até meados do século XX. Os primeiros contatos com não 
indígenas ocorreram de maneira esporádica, mas tornaram-se mais frequentes a 
partir da década de 1940. 
 
A partir dos anos 1970, o governo brasileiro promoveu obras de engenharia, 
como a construção de novas estradas, e intensificou atividades extrativistas, tanto 
minerais quanto vegetais, na região Norte. Isso resultou em um contato permanente 
com os Yanomami, pelo menos com algumas comunidades, e trouxe riscos para a 
sobrevivência da população indígena local. É importante ressaltar que o processo 
de demarcação da Terra Indígena Yanomami teve início na década de 1970, 
especificamente em 1977, e foi concluído em 1992. Esse processo culminou no 
estabelecimento do território onde mais de 26 mil pessoas Yanomami atualmente. 
A Terra Indígena Yanomami abrange uma ampla área de floresta tropical e 
é amplamente reconhecida por sua importância para a preservação da 
biodiversidade amazônica. 
Os Yanomami veem a terra-floresta, conhecida como "urihi", como algo mais 
do que um local inanimado para exploração econômica, que poderíamos chamar 
de "natureza". Para eles, trata-se de uma entidade viva inserida em uma dinâmica 
cósmica complexa de intercâmbio entre seres humanos e não-humanos. 
Infelizmente, essa visão está ameaçada pela exploração desenfreada e 
desconsideração dos brancos. 
Segundo uma publicação do portal Pib Socioambiental (Portal Povos 
Indígenas Brasil), em entrevista concedida ao Cedi, em Brasília, no dia 09 de março 
de 1990, Davi Kopenawa Yanomami, Lider dos Povos na época, falou sobre a 
importância da preservação da região: 
“A terra-floresta só pode morrer se for destruída 
pelos brancos. Então, os riachos sumirão, a terra 
ficará friável, as árvores secarão e as pedras das 
montanhas racharão com o calor. Os espíritos 
xapiripë, que moram nas serras e ficam brincando 
na floresta, acabarão fugindo. Seus pais, os xamãs, 
não poderão mais chamá-los para nos proteger. A 
terra-floresta se tornará seca e vazia. Os xamãs 
não poderão mais deter as fumaças-epidemias e os 
seres maléficos que nos adoecem. Assim, todos 
morrerão." (Portal Povos Indígenas Brasil). 
Localização das terras indígenas Yanomami na Amazônia 
O Território Indígena Yanomami (TIY) está localizado integralmente na bacia 
do rio Negro e no bioma amazônico. Este território abrange mais de 9,6 milhões de 
hectares e é habitado por oito povos, alguns isolados e outros não. Em 1992, o 
governo federal estabeleceu oficialmente a demarcação de uma área específica. 
De acordo com o Centro de Operações de Emergências Yanomami (COE), criado 
em 20 de janeiro sob a Portaria de Emergência em Saúde Pública de Importância 
Nacional (ESPIN), existem 384 aldeias divididas entre os Yanomami e os Ye'kwana, 
que são os indígenas não isolados dentro do território. O COE está sob a 
supervisão do Ministério da Saúde. Segundo os dados do COE (Centro de 
Operações de Emergências Yanomami), as aldeias Yanomami estão distribuídas 
nos municípios dos estados de Roraima e Amazonas.

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