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70 CONCEITOS SOBRE PROJETO PEDAGÓGICO

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CONCEITOS SOBRE PROJETO PEDAGÓGICO 
 
Quanto ao projeto pedagógico, um componente essencial de uma gestão 
democrática, ele representa um instrumento técnico-político utilizado pela escola 
e pressupõe uma certa autonomia administrativa e pedagógica. Este projeto 
delineia o que deve ser ensinado e aprendido na escola, sendo caracterizado 
principalmente por refletir os interesses e necessidades dos profissionais da 
educação e da comunidade. Sua criação é baseada na realidade local e deve 
envolver a participação conjunta da comunidade escolar e da comunidade local. 
"A formação educacional requer a incorporação tanto 
de técnicas quanto de conhecimentos práticos, 
ambos desempenhando papéis essenciais no 
processo. No entanto, a visão dicotômica entre teoria 
e prática é uma simplificação inadequada da questão 
em pauta. Essa abordagem não oferece uma 
solução eficaz nem a capacidade de desenvolver 
propostas autônomas em cada ambiente 
educacional. É importante destacar que a prática 
educativa não deve ser vista como uma ação 
desprovida de reflexão, repetição mecânica ou 
monotonia, pois tais abordagens podem 
comprometer a qualidade do ensino." (Kuhlmann Jr., 
2005, p. 141). 
 
No contexto da Educação Infantil, conforme afirmado por Kuhlmann Jr. 
(2005), o projeto pedagógico deve ter como foco principal o coletivo e tem o 
potencial de oferecer uma ampla gama de experiências interativas que 
contribuem para o desenvolvimento integral da criança. Portanto, do ponto de 
vista pedagógico, o projeto deve levar em consideração os grupos de crianças, 
suas características individuais e suas interações entre si e com os adultos. Além 
disso, deve prever a organização do ambiente e das atividades durante o período 
de funcionamento. 
Um dos desafios significativos na formulação da proposta educacional da 
instituição é a dificuldade de articular os princípios regulatórios que orientam o 
planejamento com as questões teóricas subjacentes à Educação Infantil. Nesse 
sentido, Kuhlmann Jr. (2005) enfatiza a importância de momentos de formação 
para os profissionais, nos quais a reflexão seja estimulada, permitindo que os 
professores criem e atuem com base no sólido embasamento teórico disponível 
sobre a Educação Infantil. 
Além disso, o autor destaca a necessidade de avaliar as condições reais 
de funcionamento das instituições, identificando problemas, bem como acertos 
e progressos. Segundo ele, esses elementos formam a base para a proposta 
pedagógica, juntamente com objetivos e métodos de organização do trabalho 
com as crianças. 
Essas reflexões evidenciam a riqueza da discussão sobre a gestão das 
unidades de Educação Infantil. No entanto, embora seja compreensível que a 
gestão da Educação Infantil se baseie nos modelos desenvolvidos inicialmente 
para outros níveis da educação básica, é crucial reconhecer que o trabalho 
nessas instituições envolve uma integração essencial entre o cuidado e a 
educação. 
Portanto, a Educação Infantil requer uma estrutura organizacional que 
assegure o atendimento em período integral, o planejamento adequado do 
espaço físico para proporcionar um ambiente acolhedor e confortável para as 
crianças, a implementação de um projeto educativo sistemático e intencional que 
promova o desenvolvimento físico, emocional, intelectual e social das crianças, 
além de uma comunicação frequente e colaborativa com as famílias. 
 
Etimologicamente, a palavra "infância" está ligada à negação, visto que o 
prefixo "in" indica ausência, referindo-se àquele que não possui a capacidade de 
falar. Portanto, a palavra "infância" está intrinsecamente ligada a uma ausência 
que é associada à ideia de incapacidade. 
Essa perspectiva do "não saber" e do "não ser" estabelece um paradigma 
no qual o outro, que pode ser um adulto, um formador ou um professor, é 
considerado aquele que ensina, o detentor do conhecimento. Isso coloca o 
docente em formação em uma posição de incompletude e inacabamento, o que, 
de certa forma, é positivo, pois sugere a ideia de abertura. No entanto, o aspecto 
que me preocupa nisso é que coloca o professor em uma posição inferiorizada, 
como alguém que precisa ser cuidado e orientado geralmente por alguém que 
detém o conhecimento e a orientação. 
 
De maneira poética, Manoel de Barros descreve seu próprio movimento 
em direção à infância, seu espanto diante da sensatez do adulto e seu desejo de 
afastar-se do bom senso, do comportamento aceitável e do modo de pensar e 
agir cada vez mais moldado pela sociedade contemporânea. 
Ao proporcionar à criança um entendimento de mundo, trabalhando a 
sua cidadania, pois todos têm direitos e deveres e isto está implícito nas 
regras que temos que cumprir, na forma como devemos agir e nos comportar, a 
escola age como mediadora, ensinado a criança como viver em sociedade. 
Parece que através da infância, podemos desconfigurar as coisas, 
desvincular o mundo de suas formas convencionais, escapar do molde e das 
linhas previsíveis. Podemos nos tornar seres diferentes, com formas inusitadas 
e não premeditadas, habitantes de lugares não convencionais. Podemos nos 
arriscar, equilibrar-nos na corda bamba e explorar novos territórios. 
Assim, pensar em formação aqui significa considerar algo que não apenas 
nos molda, mas também nos transforma e, de certa forma, nos desfigura, nos 
adaptando a novas formas. Formar e experimentar não podem ser nada além de 
embarcar em uma jornada, se expor e convidar o outro a seguir conosco. Ao 
percorrer caminhos que nos confrontam com o inesperado e o desconhecido, 
caminhar é se colocar diante da diversidade, da alteridade e da diferença. 
Experimentar significa nos transportar para um espaço estranho, onde nos 
deparamos com o inusitado e o desconhecido. A figura do estrangeiro se reflete 
no rosto da infância, na face da alteridade e na face da diferença. 
Conforme mencionado por Leite (2011, p. 162): trata-se de abordar a 
infância como um ambiente propício para o processo de formação, como um 
trajeto que se estende indefinidamente, e como um encontro com sensações 
desconhecidas e não explicadas, sensações primordiais que nos estimulam a 
refletir. 
Enquanto percorremos esses caminhos, em territórios repletos de 
incertezas, qualquer coisa pode atrair nossa atenção, nos manter alerta e nos 
conduzir por inúmeras trilhas, criando oportunidades para que nossa jornada se 
desvie dos caminhos convencionais. Parece que essa abertura, essa quebra de 
barreiras, essa falta de continuidade, nos aproxima da infância das próprias 
crianças.

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