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CONCEITOS SOBRE PROJETO PEDAGÓGICO Quanto ao projeto pedagógico, um componente essencial de uma gestão democrática, ele representa um instrumento técnico-político utilizado pela escola e pressupõe uma certa autonomia administrativa e pedagógica. Este projeto delineia o que deve ser ensinado e aprendido na escola, sendo caracterizado principalmente por refletir os interesses e necessidades dos profissionais da educação e da comunidade. Sua criação é baseada na realidade local e deve envolver a participação conjunta da comunidade escolar e da comunidade local. "A formação educacional requer a incorporação tanto de técnicas quanto de conhecimentos práticos, ambos desempenhando papéis essenciais no processo. No entanto, a visão dicotômica entre teoria e prática é uma simplificação inadequada da questão em pauta. Essa abordagem não oferece uma solução eficaz nem a capacidade de desenvolver propostas autônomas em cada ambiente educacional. É importante destacar que a prática educativa não deve ser vista como uma ação desprovida de reflexão, repetição mecânica ou monotonia, pois tais abordagens podem comprometer a qualidade do ensino." (Kuhlmann Jr., 2005, p. 141). No contexto da Educação Infantil, conforme afirmado por Kuhlmann Jr. (2005), o projeto pedagógico deve ter como foco principal o coletivo e tem o potencial de oferecer uma ampla gama de experiências interativas que contribuem para o desenvolvimento integral da criança. Portanto, do ponto de vista pedagógico, o projeto deve levar em consideração os grupos de crianças, suas características individuais e suas interações entre si e com os adultos. Além disso, deve prever a organização do ambiente e das atividades durante o período de funcionamento. Um dos desafios significativos na formulação da proposta educacional da instituição é a dificuldade de articular os princípios regulatórios que orientam o planejamento com as questões teóricas subjacentes à Educação Infantil. Nesse sentido, Kuhlmann Jr. (2005) enfatiza a importância de momentos de formação para os profissionais, nos quais a reflexão seja estimulada, permitindo que os professores criem e atuem com base no sólido embasamento teórico disponível sobre a Educação Infantil. Além disso, o autor destaca a necessidade de avaliar as condições reais de funcionamento das instituições, identificando problemas, bem como acertos e progressos. Segundo ele, esses elementos formam a base para a proposta pedagógica, juntamente com objetivos e métodos de organização do trabalho com as crianças. Essas reflexões evidenciam a riqueza da discussão sobre a gestão das unidades de Educação Infantil. No entanto, embora seja compreensível que a gestão da Educação Infantil se baseie nos modelos desenvolvidos inicialmente para outros níveis da educação básica, é crucial reconhecer que o trabalho nessas instituições envolve uma integração essencial entre o cuidado e a educação. Portanto, a Educação Infantil requer uma estrutura organizacional que assegure o atendimento em período integral, o planejamento adequado do espaço físico para proporcionar um ambiente acolhedor e confortável para as crianças, a implementação de um projeto educativo sistemático e intencional que promova o desenvolvimento físico, emocional, intelectual e social das crianças, além de uma comunicação frequente e colaborativa com as famílias. Etimologicamente, a palavra "infância" está ligada à negação, visto que o prefixo "in" indica ausência, referindo-se àquele que não possui a capacidade de falar. Portanto, a palavra "infância" está intrinsecamente ligada a uma ausência que é associada à ideia de incapacidade. Essa perspectiva do "não saber" e do "não ser" estabelece um paradigma no qual o outro, que pode ser um adulto, um formador ou um professor, é considerado aquele que ensina, o detentor do conhecimento. Isso coloca o docente em formação em uma posição de incompletude e inacabamento, o que, de certa forma, é positivo, pois sugere a ideia de abertura. No entanto, o aspecto que me preocupa nisso é que coloca o professor em uma posição inferiorizada, como alguém que precisa ser cuidado e orientado geralmente por alguém que detém o conhecimento e a orientação. De maneira poética, Manoel de Barros descreve seu próprio movimento em direção à infância, seu espanto diante da sensatez do adulto e seu desejo de afastar-se do bom senso, do comportamento aceitável e do modo de pensar e agir cada vez mais moldado pela sociedade contemporânea. Ao proporcionar à criança um entendimento de mundo, trabalhando a sua cidadania, pois todos têm direitos e deveres e isto está implícito nas regras que temos que cumprir, na forma como devemos agir e nos comportar, a escola age como mediadora, ensinado a criança como viver em sociedade. Parece que através da infância, podemos desconfigurar as coisas, desvincular o mundo de suas formas convencionais, escapar do molde e das linhas previsíveis. Podemos nos tornar seres diferentes, com formas inusitadas e não premeditadas, habitantes de lugares não convencionais. Podemos nos arriscar, equilibrar-nos na corda bamba e explorar novos territórios. Assim, pensar em formação aqui significa considerar algo que não apenas nos molda, mas também nos transforma e, de certa forma, nos desfigura, nos adaptando a novas formas. Formar e experimentar não podem ser nada além de embarcar em uma jornada, se expor e convidar o outro a seguir conosco. Ao percorrer caminhos que nos confrontam com o inesperado e o desconhecido, caminhar é se colocar diante da diversidade, da alteridade e da diferença. Experimentar significa nos transportar para um espaço estranho, onde nos deparamos com o inusitado e o desconhecido. A figura do estrangeiro se reflete no rosto da infância, na face da alteridade e na face da diferença. Conforme mencionado por Leite (2011, p. 162): trata-se de abordar a infância como um ambiente propício para o processo de formação, como um trajeto que se estende indefinidamente, e como um encontro com sensações desconhecidas e não explicadas, sensações primordiais que nos estimulam a refletir. Enquanto percorremos esses caminhos, em territórios repletos de incertezas, qualquer coisa pode atrair nossa atenção, nos manter alerta e nos conduzir por inúmeras trilhas, criando oportunidades para que nossa jornada se desvie dos caminhos convencionais. Parece que essa abertura, essa quebra de barreiras, essa falta de continuidade, nos aproxima da infância das próprias crianças.
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