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INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E MÚLTIPLAS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Indivíduos que enfrentam deficiências intelectuais ou cognitivas encontram obstáculos nas interações sociais, na compreensão e no raciocínio lógico. Por outro lado, a deficiência múltipla se manifesta pela combinação de diversos tipos de deficiência, abrangendo aspectos intelectuais e físicos. É essencial compreender a natureza dessas deficiências para desempenhar adequadamente nosso papel como cidadãos, contribuindo positivamente para a sociedade e aprimorando a qualidade de vida dessas pessoas. Geralmente, a deficiência intelectual tem início na infância, persistindo ao longo da vida. Ela pode originar-se de transtornos relacionados ao desenvolvimento e funcionamento do sistema nervoso central, resultando em déficits intelectuais e adaptativos. Adicionalmente, pessoas com deficiência intelectual apresentam uma propensão maior a enfrentar outros problemas de saúde mental, como depressão, distúrbios afetivos e comportamentais. Estima- se que uma considerável parcela de adultos com deficiência intelectual faça uso diário de medicamentos psicotrópicos como parte do tratamento. Direitos das pessoas com deficiência O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) ampliou os direitos desses indivíduos, garantindo a inclusão social e cidadania. No contexto da saúde, os serviços públicos de saúde devem disponibilizar uma gama de serviços especializados para habilitação e reabilitação, além de assegurar o acesso a hospitais e outros estabelecimentos, incluindo a provisão de dispositivos como próteses, cadeiras de rodas e medicamentos essenciais. Mesmo diante da limitada infraestrutura e recursos nas instituições educacionais, tanto escolas quanto universidades devem garantir o acesso à educação e oportunidades de emprego para todas as pessoas com deficiência. Outros direitos relacionados à isenção de impostos, como ICMS, IPI, entre outros, também estão previstos. É crucial ressaltar o papel fundamental da família no processo de inclusão social. O conhecimento dos direitos das pessoas com deficiência contribui para fortalecer a capacidade de reivindicação desses recursos. Além disso, o apoio emocional dos familiares desempenha um papel essencial na minimização dos impactos psicológicos sobre a pessoa com deficiência. Desafios e necessidades na abordagem das Deficiências Intelectual e Múltipla A complexidade das deficiências intelectual e múltipla no contexto brasileiro exige uma fundamentação teórica que aborde não apenas as estatísticas e legislação vigente, mas também os desafios enfrentados pelos indivíduos afetados e a necessidade de promover uma abordagem inclusiva. A base para compreender e atuar efetivamente nesse cenário envolve considerar as características específicas de cada deficiência, bem como os estigmas associados a essas condições. Conforme dados do Sabin Diagnóstico e Saúde, mais de 45 milhões de brasileiros vivem com alguma forma de deficiência, sendo que 3 milhões enfrentam deficiência intelectual e/ou múltipla. Esses números indicam a magnitude do desafio e ressaltam a importância de estratégias eficazes de inclusão. A instituição da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, por meio da Lei nº 13.585 desde dezembro de 2017, demonstra um passo significativo na promoção da conscientização e na criação de políticas públicas voltadas para a inclusão social. A temporalidade dessa semana, de 21 a 28 de agosto, busca destacar a necessidade contínua de abordagens específicas para superar barreiras e combater preconceitos. Natureza e origens das deficiências: A deficiência intelectual é caracterizada por dificuldades em assimilar informações e aplicar novas habilidades, afetando a interação social e gerando dependência em atividades cotidianas. Com início geralmente na infância, suas origens estão associadas a transtornos do desenvolvimento e funcionamento do sistema nervoso central. Por sua vez, a deficiência múltipla manifesta-se quando uma pessoa apresenta duas ou mais deficiências principais, englobando aspectos intelectuais, visuais, auditivos e físicos. Essa combinação resulta em atrasos no desenvolvimento global e adaptativo, intensificando a necessidade de abordagens holísticas. Desafios na implementação de Políticas Públicas no Brasil voltada para as pessoas com deficiência No contexto brasileiro, os primeiros debates sobre os direitos das Pessoas com Deficiência (PcD) tiveram início nos anos 1960, quando foi reivindicado o direito à participação social. A mobilização de diversos setores da sociedade em apoio às necessidades das pessoas com deficiência impulsionou um progresso no processo de conscientização dos atores sociais, levando o Estado a assumir a responsabilidade de elaborar políticas públicas destinadas a atender às demandas desse segmento social. Conforme Melo (1998), é possível identificar e subdividir a construção histórica da agenda de políticas públicas no Brasil em diferentes fases. A análise das políticas públicas experimentou um crescimento significativo na década de 1980, impulsionada pelo processo de transição democrática. Inicialmente, isso se deveu a uma mudança na pauta da agenda pública. Durante os anos 1970, a agenda pública estava centrada em questões relacionadas ao modelo de desenvolvimento brasileiro, focando na discussão dos impactos redistributivos das ações governamentais e na lógica que orientava o projeto de modernização conservadora durante o regime ditatorial. Aspectos institucionais como descentralização, participação, transparência e a redefinição da relação público- privado nas políticas eram centrais nessa agenda. A transformação subsequente da agenda levou a um renovado interesse nas pesquisas sobre políticas municipais e descentralização. Segundo Carvalho (2003), ao se analisar o sistema de políticas públicas como um processo em constante evolução, é compreensível que uma determinada política pública não possa ser concebida como uma sequência linear de fases. “A abordagem que melhor expressa o quadro real das políticas públicas é a que a considera um processo contínuo de decisões que, se de um lado pode contribuir para ajustar e melhor adequar as ações ao seu objeto, de outro, pode alterar substancialmente uma política pública”. (CARVALHO, 2003). Uma das características notáveis nas políticas públicas no Brasil é a sua tendência à fragmentação. É importante destacar que essa fragmentação muitas vezes gera desafios, pois surgem divergências significativas entre diversas agências de controle em questões burocráticas. Outro aspecto distintivo das políticas públicas brasileiras é a descontinuidade administrativa, na qual as agências encarregadas muitas vezes formulam políticas de acordo com os interesses de seus gestores, resultando na modificação das políticas implementadas a cada mudança de liderança. Uma outra característica está particularmente associada às políticas sociais, que muitas vezes priorizam o que é oferecido sem considerar plenamente as necessidades dos beneficiários. Essa condição acarreta problemas relacionados à credibilidade do governo, frustração por parte dos cidadãos, desperdício de recursos, entre outros. Em 2015, entrou em vigor a Lei nº 13.146, datada de 6 de julho do mesmo ano, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Esta legislação estabelece diretrizes e instruções para promover os direitos e liberdades das pessoas com deficiência, visando garantir a inclusão social e cidadania para esse grupo. Uma das inovações trazidas por essa lei foi a proibição da cobrança de valores adicionais em matrículas e mensalidades de instituições de ensino privadas. O fim dessa chamada "taxa extra," que era aplicadaexclusivamente aos alunos com deficiência, atende a uma demanda de organizações que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência. A legislação prevê penalidades, incluindo detenção de dois a cinco anos, além de multa, para quem impedir ou dificultar o ingresso de pessoas com deficiência em planos privados de saúde. A mesma punição se aplica àqueles que negarem emprego, recusarem assistência médico-hospitalar ou outros direitos com base na deficiência de alguém. Adicionalmente, a lei exige que, no mínimo, 10% dos dormitórios de hotéis e pousadas sejam acessíveis, garantindo pelo menos uma unidade acessível.