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89 INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E MÚLTIPLAS DESAFIOS E PERSPECTIVAS



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INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E MÚLTIPLAS: 
DESAFIOS E PERSPECTIVAS 
Indivíduos que enfrentam deficiências intelectuais ou cognitivas 
encontram obstáculos nas interações sociais, na compreensão e no raciocínio 
lógico. Por outro lado, a deficiência múltipla se manifesta pela combinação de 
diversos tipos de deficiência, abrangendo aspectos intelectuais e físicos. É 
essencial compreender a natureza dessas deficiências para desempenhar 
adequadamente nosso papel como cidadãos, contribuindo positivamente para a 
sociedade e aprimorando a qualidade de vida dessas pessoas. 
Geralmente, a deficiência intelectual tem início na infância, persistindo ao 
longo da vida. Ela pode originar-se de transtornos relacionados ao 
desenvolvimento e funcionamento do sistema nervoso central, resultando em 
déficits intelectuais e adaptativos. Adicionalmente, pessoas com deficiência 
intelectual apresentam uma propensão maior a enfrentar outros problemas de 
saúde mental, como depressão, distúrbios afetivos e comportamentais. Estima-
se que uma considerável parcela de adultos com deficiência intelectual faça uso 
diário de medicamentos psicotrópicos como parte do tratamento. 
Direitos das pessoas com deficiência 
O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) ampliou os 
direitos desses indivíduos, garantindo a inclusão social e cidadania. No contexto 
da saúde, os serviços públicos de saúde devem disponibilizar uma gama de 
serviços especializados para habilitação e reabilitação, além de assegurar o 
acesso a hospitais e outros estabelecimentos, incluindo a provisão de 
dispositivos como próteses, cadeiras de rodas e medicamentos essenciais. 
Mesmo diante da limitada infraestrutura e recursos nas instituições 
educacionais, tanto escolas quanto universidades devem garantir o acesso à 
educação e oportunidades de emprego para todas as pessoas com deficiência. 
Outros direitos relacionados à isenção de impostos, como ICMS, IPI, entre 
outros, também estão previstos. 
É crucial ressaltar o papel fundamental da família no processo de inclusão 
social. O conhecimento dos direitos das pessoas com deficiência contribui para 
fortalecer a capacidade de reivindicação desses recursos. Além disso, o apoio 
emocional dos familiares desempenha um papel essencial na minimização dos 
impactos psicológicos sobre a pessoa com deficiência. 
Desafios e necessidades na abordagem das Deficiências Intelectual e 
Múltipla 
A complexidade das deficiências intelectual e múltipla no contexto 
brasileiro exige uma fundamentação teórica que aborde não apenas as 
estatísticas e legislação vigente, mas também os desafios enfrentados pelos 
indivíduos afetados e a necessidade de promover uma abordagem inclusiva. A 
base para compreender e atuar efetivamente nesse cenário envolve considerar 
as características específicas de cada deficiência, bem como os estigmas 
associados a essas condições. 
Conforme dados do Sabin Diagnóstico e Saúde, mais de 45 milhões de 
brasileiros vivem com alguma forma de deficiência, sendo que 3 milhões 
enfrentam deficiência intelectual e/ou múltipla. Esses números indicam a 
magnitude do desafio e ressaltam a importância de estratégias eficazes de 
inclusão. 
A instituição da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual 
e Múltipla, por meio da Lei nº 13.585 desde dezembro de 2017, demonstra um 
passo significativo na promoção da conscientização e na criação de políticas 
públicas voltadas para a inclusão social. A temporalidade dessa semana, de 21 
a 28 de agosto, busca destacar a necessidade contínua de abordagens 
específicas para superar barreiras e combater preconceitos. 
Natureza e origens das deficiências: 
A deficiência intelectual é caracterizada por dificuldades em assimilar 
informações e aplicar novas habilidades, afetando a interação social e gerando 
dependência em atividades cotidianas. Com início geralmente na infância, suas 
origens estão associadas a transtornos do desenvolvimento e funcionamento do 
sistema nervoso central. 
Por sua vez, a deficiência múltipla manifesta-se quando uma pessoa 
apresenta duas ou mais deficiências principais, englobando aspectos 
intelectuais, visuais, auditivos e físicos. Essa combinação resulta em atrasos no 
desenvolvimento global e adaptativo, intensificando a necessidade de 
abordagens holísticas. 
Desafios na implementação de Políticas Públicas no Brasil voltada para as 
pessoas com deficiência 
No contexto brasileiro, os primeiros debates sobre os direitos das Pessoas 
com Deficiência (PcD) tiveram início nos anos 1960, quando foi reivindicado o 
direito à participação social. A mobilização de diversos setores da sociedade em 
apoio às necessidades das pessoas com deficiência impulsionou um progresso 
no processo de conscientização dos atores sociais, levando o Estado a assumir 
a responsabilidade de elaborar políticas públicas destinadas a atender às 
demandas desse segmento social. 
Conforme Melo (1998), é possível identificar e subdividir a construção 
histórica da agenda de políticas públicas no Brasil em diferentes fases. A análise 
das políticas públicas experimentou um crescimento significativo na década de 
1980, impulsionada pelo processo de transição democrática. Inicialmente, isso 
se deveu a uma mudança na pauta da agenda pública. Durante os anos 1970, a 
agenda pública estava centrada em questões relacionadas ao modelo de 
desenvolvimento brasileiro, focando na discussão dos impactos redistributivos 
das ações governamentais e na lógica que orientava o projeto de modernização 
conservadora durante o regime ditatorial. Aspectos institucionais como 
descentralização, participação, transparência e a redefinição da relação público-
privado nas políticas eram centrais nessa agenda. A transformação subsequente 
da agenda levou a um renovado interesse nas pesquisas sobre políticas 
municipais e descentralização. 
Segundo Carvalho (2003), ao se analisar o sistema de políticas públicas 
como um processo em constante evolução, é compreensível que uma 
determinada política pública não possa ser concebida como uma sequência 
linear de fases. 
“A abordagem que melhor expressa o quadro real 
das políticas públicas é a que a considera um 
processo contínuo de decisões que, se de um lado 
pode contribuir para ajustar e melhor adequar as 
ações ao seu objeto, de outro, pode alterar 
substancialmente uma política pública”. 
(CARVALHO, 2003). 
Uma das características notáveis nas políticas públicas no Brasil é a sua 
tendência à fragmentação. É importante destacar que essa fragmentação muitas 
vezes gera desafios, pois surgem divergências significativas entre diversas 
agências de controle em questões burocráticas. Outro aspecto distintivo das 
políticas públicas brasileiras é a descontinuidade administrativa, na qual as 
agências encarregadas muitas vezes formulam políticas de acordo com os 
interesses de seus gestores, resultando na modificação das políticas 
implementadas a cada mudança de liderança. Uma outra característica está 
particularmente associada às políticas sociais, que muitas vezes priorizam o que 
é oferecido sem considerar plenamente as necessidades dos beneficiários. Essa 
condição acarreta problemas relacionados à credibilidade do governo, frustração 
por parte dos cidadãos, desperdício de recursos, entre outros. 
Em 2015, entrou em vigor a Lei nº 13.146, datada de 6 de julho do mesmo 
ano, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também 
conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Esta legislação estabelece 
diretrizes e instruções para promover os direitos e liberdades das pessoas com 
deficiência, visando garantir a inclusão social e cidadania para esse grupo. 
Uma das inovações trazidas por essa lei foi a proibição da cobrança de 
valores adicionais em matrículas e mensalidades de instituições de ensino 
privadas. O fim dessa chamada "taxa extra," que era aplicadaexclusivamente 
aos alunos com deficiência, atende a uma demanda de organizações que lutam 
pelos direitos das pessoas com deficiência. 
A legislação prevê penalidades, incluindo detenção de dois a cinco anos, 
além de multa, para quem impedir ou dificultar o ingresso de pessoas com 
deficiência em planos privados de saúde. A mesma punição se aplica àqueles 
que negarem emprego, recusarem assistência médico-hospitalar ou outros 
direitos com base na deficiência de alguém. Adicionalmente, a lei exige que, no 
mínimo, 10% dos dormitórios de hotéis e pousadas sejam acessíveis, garantindo 
pelo menos uma unidade acessível.