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DIPLOMAS LEGAIS DECORRENTES DA REFORMA UNIVERSITÁRIA As funções da Faculdade de Educação foram assim definidas nos diplomas legais decorrentes da reforma universitária: • Formar professores e especialistas em educação; • Desenvolver pesquisas capazes de formular categorias próprias de uma educação genuinamente nacional; • Promover a integração nas licenciaturas entre estudantes de diversas áreas • Disseminar a concepção de educação que deve iluminar a universidade • Promover a atualização de professores e especialistas Decorrente da concepção e das finalidades da Faculdade de Educação sua estrutura básica deveria abranger pelo menos três áreas: • De graduação, dimensão mais ampla que ofereceria cursos de formação de professores primários • De pós-graduação, dimensão que deveria ensejar a pesquisa, a fim • De formar especialistas • Capacitação supletiva (expressão usada na época) corresponderia à formação permanente do professor No Brasil, como já se registrou, o termo pedagogia é comumente utilizado para definir o curso que se destina à formação do pedagogo. Assim, para evitar a definição do “local” das disciplinas, somente por critérios funcionalistas estabelecidos pelas instituições, o CFE, baseada na análise do sentido estrito da pedagogia, definiu o conteúdo específico da Faculdade de Educação no Parecer 632/1969. Isso ocorreu depois de estudos indicarem que algumas instituições de ensino superior estavam trazendo para a Faculdade de Educação todas as disciplinas, até mesmo algumas que deveriam ser ministradas pelos institutos, que imprimiriam uma forma mais apropriada ao ensino. “A teoria educacional reúne os dados provenientes das disciplinas pedagógicas, e o curso de pedagogia representa, de certa forma, o cerne da Faculdade de Educação. Embora o curso de pedagogia seja uma parte crucial da Faculdade de Educação, são as disciplinas pedagógicas que definem o conteúdo específico dessa instituição”. (Sucupira, 1969). O modelo tecnicista de formação de professores e de especialistas mantinha a coerência tecnicista já que fragmentava as tarefas dos profissionais na escola como ocorre na fábrica, consoante à própria divisão do trabalho nas sociedades capitalistas. A especialização não é aqui questionada, pois qualquer profissão possui seus especialistas, sobretudo no mundo moderno, no qual são exigidas, cada vez mais, minúcias operacionais. 2.3 Debates, estudos e pesquisas sobre a reformulação dos cursos que formam professores O projeto de Resolução, descrito na Indicação nº 70/1976, em seu Artigo 1º, estabelece que a preparação de especialistas, incluindo professores para o ensino pedagógico de segundo grau (antiga Escola Normal) e pedagogos em geral, seriados por meio de habilitações adicionais aos cursos de licenciatura. Na prática, as diretrizes desse projeto de Resolução direcionavam a formação de especialistas em pedagogia - como professores, técnicos de magistério, pedagogos em geral, administradores escolares, orientadores educacionais e supervisores educacionais - para os institutos básicos, conhecidos como "institutos de conteúdo específico”. A luta pela organização dos educadores, assumida como força articuladora mediante uma coesão ideológica, militância de seus membros e uma unidade na luta por objetivos comuns, prossegue pelo final da década de 1970, porém essa luta consegue atingir maior “visibilidade pública” no decorrer da década de 1980. Esse fenômeno ocorreu, também, com o Movimento Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação dos Profissionais da Educação. 2.4 Reformulação Curricular No Brasil, as associações educacionais de natureza científico-político-cultural, em conjunto com os movimentos sociais em diversos níveis, desempenharam, em geral, a partir do final dos anos 70, um papel crucial na reorganização dos educadores como núcleos de resistência e crítica ao poder estabelecido, que obstaculizava a democratização da educação. Essas associações concentraram seus esforços principalmente na mobilização coletiva, desenvolvendo mecanismos que permitissem uma conscientização tanto dos educadores quanto da sociedade em geral sobre a importância das políticas educacionais e a valorização social dos profissionais da educação. As associações de educadores tinham como finalidade incentivar esses profissionais para participar, na esfera estatal, como representantes da sociedade civil. Visavam, ainda, promover a difusão no âmbito da sociedade das discussões e da produção de conhecimento sobre questões do campo educacional e das prioridades educacionais, de modo a conseguir adesões à luta pela democratização do ensino, pela democratização da educação e, mais amplamente, da própria sociedade brasileira. Com relação à reformulação do curso de pedagogia, nos primórdios do Movimento, os educadores, com certa ingenuidade característica daqueles momentos iniciais, pretendiam apresentar, com urgência, uma proposta nacional, erigida pelos próprios educadores. Dessa forma, almejavam obstar às intenções autoritárias do CFE. Tal proposta deveria imprimir à formação do pedagogo um caráter científico, acadêmico, político, técnico, didático pedagógico, consideradas as experiências regionais e locais, garantida a liberdade das instituições para definir os currículos de seus cursos. Essa identidade deveria ser construída numa articulação com as experiências vividas pelas instituições que indicariam a proposta de consenso nacional que, apresentada ao ministério, deveria ser aprovada. À medida que os estudos e a reflexão teórica no campo epistêmico da reformulação curricular avançavam, os educadores abandonaram a ideia de apresentar um projeto para regulamentação do curso, que pudesse, talvez, conferir-lhe uma identidade. A densidade das reflexões impulsionava o movimento a optar por uma análise mais global da questão, o que requeria pensar a totalidade externa do movimento – a sociedade brasileira. Da mesma forma, passaram a ser examinadas com mais atenção as complexidades das reformulações curriculares com seus conflitos e tensões e as especificidades regionais e locais. Saviani (1976), por sua vez, em “Contribuição a uma definição do curso de pedagogia”, esclarece que a imprecisão do termo pedagogia provocada pela multiplicidade e complexidade de seus significados dificulta atribuir ao curso de pedagogia uma identidade própria, o que não vale dizer que o curso deva ser extinto. Pelo contrário, essas questões devem ser estimuladoras de estudos, com a finalidade de conferir, ou não, à pedagogia o status de ciência da educação. Portanto, para não se afogar em um reformismo de vista curta e superficial que estaria cooperando com o sistema instituído, as propostas de mudanças imediatas transformaram-se em um amplo e abrangente espectro de princípios norteadores das reformulações, articulados às reivindicações próprias da classe dos professores, desvalorizada social e economicamente. A formação do pedagogo A concepção de formação de profissionais da educação em um curso de pedagogia requer uma dinâmica curricular que supõe um movimento progressivo, planejado, regular, sistemático e intencional. Embora a atuação do pedagogo possa, num sentido lato, ser estendida aos diversos espaços da sociedade que exijam dos profissionais uma dimensão pedagógica, no sentido específico está direcionada para uma educação institucionalizada e formal – a educação escolar. Desse modo, o profissional de que trato aqui é aquele que tem uma formação com características específicas para uma atuação na escola e no sistema educacional. Assim compreendido, esse profissional deve ser formado para ter domínio das relações que se estabelecem no trabalho pedagógico, que constitui o núcleo central de sua formação. Essas relações ocorrem em um lugar específico de atuação – a escola –, que deve constituirum espaço pedagógico no qual se organizam situações educativas formais, intencionais e planejadas, expressas em seu projeto político- pedagógico. A escola deve abrigar democraticamente a maioria da população e ser capaz de garantir-lhe sucesso escolar, ao assumir seu papel de transmitir conhecimentos sistematizados e de criar situações que propiciem a produção do conhecimento. Para alguns pesquisadores, um dos fatores que se vinculam diretamente à definição do curso de pedagogia é o de reconhecer a pedagogia como ciência unitária. Para os que se alinham a essa corrente, o objeto de estudo da pedagogia não se confunde com o de outras ciências da educação. A identidade da pedagogia circunscreve-se em um domínio próprio, a educação, e tem um enfoque próprio, o educativo. A identidade da pedagogia deve ser buscada, portanto, como especificidade epistemológica. No Brasil, em 1939, os idealizadores do curso de pedagogia divorciaram- se dos estudos sobre identidade da pedagogia, pressionados pelo pragmatismo funcional de centrar o curso mais na vertente profissionalizante. Fenômeno semelhante se deu com o Movimento Nacional (1980-1992), que foi obrigado a reduzir seus estudos sobre questões mais teóricas da pedagogia. É óbvio que não iluminado pelo pragmatismo funcional de 1939, mas movido pela necessidade de organizar um currículo para que o curso se firmasse como mais uma licenciatura já que, por princípio, “a docência constitui a base da identidade profissional de todo educador” (Comissão Nacional 1983, p. 7).
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