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98 EM QUE A PSICOPEDAGOGIA PODE CONTRIBUIR PARA PROPICIAR ESPAÇOS ESPECIAIS E POTENCIALMENTE SIGNIFICATIVOS

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EM QUE A PSICOPEDAGOGIA PODE CONTRIBUIR PARA PROPICIAR 
ESPAÇOS ESPECIAIS E POTENCIALMENTE SIGNIFICATIVOS? 
O psicopedagogo assume o lugar clínico. Terapeuta, constrói no espaço 
clínico, o espaço de atuação. Mais que um observador, busca com criatividade 
acessar o sujeito aprendente em todas as suas dimensões. Detentor de um 
saber, tolera o não saber que vive em seu encontro com o outro e se abre aos 
pequenos sinais e constrói o “entre” em que coexistirão, de acordo com seus 
limites, as duas subjetividades, ele, terapeuta e o outro, paciente. 
“Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. 
Portanto, abrange mais que um momento de 
atenção, de zelo e de desvelo. Representa 
uma atitude de ocupação, preocupação, de 
responsabilização e de envolvimento 
afetivo com o outro”. (BOFF, 1999). 
Poder ser um professor “suficientemente bom” não se consegue apenas 
com técnicas ou em cursos. Requer um trabalho constante consigo mesmo para 
construir uma postura, um posicionamento como aprendente, o qual resultará 
em modos de ensinar e de aprender quando ensina. Um bom ensinante é um 
bom aprendente. A difícil tarefa do professor e/ou da professora pode se tornar 
prazerosa quando almeja fazer consigo mesmo o que propicia aos outros. 
Mas, para que isso ocorra, é necessário, primeiramente, que a Educação 
recupere seu caráter prioritário que é o de humanização. É claro que é muito 
difícil lutar contra uma sociedade que apela para o contrário, mas o desafio está 
posto e a Educação deve assumir sua função transformadora, não como única 
via possível, mas como fundamental para mudar a vida de muitas 
pessoas. Alicia Fernández diz que hoje é imprescindível recuperar a alegria 
como modo de estabelecer espaços nos quais a autoria de pensa- mento possa 
se tornar forte. Alicia faz esta proposta por entender que estamos vivendo em 
uma sociedade que produz uma sensação de catástrofe, na qual cada cidadão 
só existe como consumidor solitário, à mercê das intempéries. 
Parece que os espaços educacionais podem funcionar como uma rede de 
proteção. Por isso, investir na construção de espaços nos quais as vivências 
possam ser significadas como experiências, positivas e construtoras de seres 
humanos mais conscientes, responsáveis e “donos” do seu pensar, parece ser 
um dos caminhos. O pensar acontece em um espaço “entre”, entre o sujeito e o 
pensável. A alegria, como um posicionamento, como uma atitude, abre esse 
espaço. Por isso, tanto a educação quanto a Psicopedagogia precisam construir 
(em relação à primeira) e chamar (em relação à segunda) para a alegria. 
2.4 A psicopedagogia na cronologia temporal 
Visto que a Psicopedagogia diz respeito a problemas de aprendizagem, 
ela não tem sua prática limitada à faixa etária. Isso quer dizer que é possível 
trabalhar com crianças, adolescentes, adultos e idosos, sobretudo no Brasil onde 
o analfabetismo ainda é uma questão. Segundo a Pesquisa Nacional Amostral 
de Domicílio (IBGE), pesquisa de levantamento amostral, a taxa de 
analfabetismo brasileiro na população idosa (com 60 anos ou mais), no período 
de 2011 a 2015, aumentou 10,6%, ou seja, 630 mil pessoas chegaram à velhice 
sem saber ler nem escrever. 
O aumento da população idosa analfabeta se justifica pela migração da 
faixa etária anterior, baixa eficácia e baixo incentivo de alfabetização de jovens 
e adultos ao longo da vida que acabam por envelhecer analfabetos. 
“Comumente os idosos não são vistos, 
ouvidos, tocados, mas rejeitados, não 
desejados e, muitas vezes, ridicularizados 
pelas marcas que o tempo cronológico 
deixou e que se evidenciam em seu corpo, 
em sua motricidade. Suas dificuldades são 
consideradas insuperáveis ou se constituem 
em obstáculos em relação a valores como 
produtividade rapidez e destreza”. 
(SILVEIRA, 2009). 
Ferreira (2010) ressalta a importância de essa informação ser divulgada, 
pois psicopedagogos e professores contribuem com a construção da 
autopercepção do indivíduo. Esse processo e a aprendizagem se desenvolvem 
melhor no ambiente escolar, na medida em que o professor, conseguindo acolher 
o aluno e partindo da bagagem que ele tem, possa oferecer um processo de 
ensino prazeroso, afetivo, com sentido e vínculo, pois assim estaria promovendo 
uma aprendizagem significativa. 
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” 
“A prática pedagógica e os constructos 
teóricos que a respalda registraram por meio 
dos tempos algumas evidências que povoam 
discursos e projetos pedagógicos. Entre elas, 
a de que ‘cada aluno aprende de uma 
maneira que lhe é própria e que todos da sala 
devem atingir os mesmos objetivos’” 
(MEIRIEU, 2002). 
Reconhecer o outro não deve significar renunciar ao projeto educativo, 
mesmo porque parece estar claro à pedagogia que não se pode esperar 
conhecer os alunos para agir. A observação dos efeitos de programas e projetos 
é essencial para a continuidade desses programas e projetos. A ação do 
professor permitirá o acesso aos conhecimentos dos alunos. 
Entre o aluno e o pedagogo (professor, orientador, coordenador, diretor) 
há um saber a ser conhecido e que permitirá a quem aprende equiparar-se a 
quem ensina, eis uma premissa que não se pode ignorar. Por ela, o pedagogo 
não mede esforços para tornar o que pretende ensinar acessível a todos que 
cabe ensinar. Reconhece o outro que tem à sua frente, reconhece as diferenças 
que o fazem singular, reconhece os seus próprios limites frente às adversidades 
do aprender, mas não se desprende de sua relação com o saber que ao final 
determinará todo o enredo. O pedagogo resguarda-se na “busca” do outro e seu 
mundo singular. Em prol daquilo que tem como meta, na maioria das vezes, opta 
pela “ignorância do outro na relação pedagógica”. 
A escola, em sua função social, pode servir como espaço de reflexão ou 
perpetuação desse espetáculo aprisionador e gerador de aborrecimento. A 
diferença está no grupo que constrói o espaço educacional, que precisa estar 
atento para as armadilhas de “escapar” do mal-estar de modo definitivo, o que é 
impossível.

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