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EM QUE A PSICOPEDAGOGIA PODE CONTRIBUIR PARA PROPICIAR ESPAÇOS ESPECIAIS E POTENCIALMENTE SIGNIFICATIVOS? O psicopedagogo assume o lugar clínico. Terapeuta, constrói no espaço clínico, o espaço de atuação. Mais que um observador, busca com criatividade acessar o sujeito aprendente em todas as suas dimensões. Detentor de um saber, tolera o não saber que vive em seu encontro com o outro e se abre aos pequenos sinais e constrói o “entre” em que coexistirão, de acordo com seus limites, as duas subjetividades, ele, terapeuta e o outro, paciente. “Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. (BOFF, 1999). Poder ser um professor “suficientemente bom” não se consegue apenas com técnicas ou em cursos. Requer um trabalho constante consigo mesmo para construir uma postura, um posicionamento como aprendente, o qual resultará em modos de ensinar e de aprender quando ensina. Um bom ensinante é um bom aprendente. A difícil tarefa do professor e/ou da professora pode se tornar prazerosa quando almeja fazer consigo mesmo o que propicia aos outros. Mas, para que isso ocorra, é necessário, primeiramente, que a Educação recupere seu caráter prioritário que é o de humanização. É claro que é muito difícil lutar contra uma sociedade que apela para o contrário, mas o desafio está posto e a Educação deve assumir sua função transformadora, não como única via possível, mas como fundamental para mudar a vida de muitas pessoas. Alicia Fernández diz que hoje é imprescindível recuperar a alegria como modo de estabelecer espaços nos quais a autoria de pensa- mento possa se tornar forte. Alicia faz esta proposta por entender que estamos vivendo em uma sociedade que produz uma sensação de catástrofe, na qual cada cidadão só existe como consumidor solitário, à mercê das intempéries. Parece que os espaços educacionais podem funcionar como uma rede de proteção. Por isso, investir na construção de espaços nos quais as vivências possam ser significadas como experiências, positivas e construtoras de seres humanos mais conscientes, responsáveis e “donos” do seu pensar, parece ser um dos caminhos. O pensar acontece em um espaço “entre”, entre o sujeito e o pensável. A alegria, como um posicionamento, como uma atitude, abre esse espaço. Por isso, tanto a educação quanto a Psicopedagogia precisam construir (em relação à primeira) e chamar (em relação à segunda) para a alegria. 2.4 A psicopedagogia na cronologia temporal Visto que a Psicopedagogia diz respeito a problemas de aprendizagem, ela não tem sua prática limitada à faixa etária. Isso quer dizer que é possível trabalhar com crianças, adolescentes, adultos e idosos, sobretudo no Brasil onde o analfabetismo ainda é uma questão. Segundo a Pesquisa Nacional Amostral de Domicílio (IBGE), pesquisa de levantamento amostral, a taxa de analfabetismo brasileiro na população idosa (com 60 anos ou mais), no período de 2011 a 2015, aumentou 10,6%, ou seja, 630 mil pessoas chegaram à velhice sem saber ler nem escrever. O aumento da população idosa analfabeta se justifica pela migração da faixa etária anterior, baixa eficácia e baixo incentivo de alfabetização de jovens e adultos ao longo da vida que acabam por envelhecer analfabetos. “Comumente os idosos não são vistos, ouvidos, tocados, mas rejeitados, não desejados e, muitas vezes, ridicularizados pelas marcas que o tempo cronológico deixou e que se evidenciam em seu corpo, em sua motricidade. Suas dificuldades são consideradas insuperáveis ou se constituem em obstáculos em relação a valores como produtividade rapidez e destreza”. (SILVEIRA, 2009). Ferreira (2010) ressalta a importância de essa informação ser divulgada, pois psicopedagogos e professores contribuem com a construção da autopercepção do indivíduo. Esse processo e a aprendizagem se desenvolvem melhor no ambiente escolar, na medida em que o professor, conseguindo acolher o aluno e partindo da bagagem que ele tem, possa oferecer um processo de ensino prazeroso, afetivo, com sentido e vínculo, pois assim estaria promovendo uma aprendizagem significativa. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” “A prática pedagógica e os constructos teóricos que a respalda registraram por meio dos tempos algumas evidências que povoam discursos e projetos pedagógicos. Entre elas, a de que ‘cada aluno aprende de uma maneira que lhe é própria e que todos da sala devem atingir os mesmos objetivos’” (MEIRIEU, 2002). Reconhecer o outro não deve significar renunciar ao projeto educativo, mesmo porque parece estar claro à pedagogia que não se pode esperar conhecer os alunos para agir. A observação dos efeitos de programas e projetos é essencial para a continuidade desses programas e projetos. A ação do professor permitirá o acesso aos conhecimentos dos alunos. Entre o aluno e o pedagogo (professor, orientador, coordenador, diretor) há um saber a ser conhecido e que permitirá a quem aprende equiparar-se a quem ensina, eis uma premissa que não se pode ignorar. Por ela, o pedagogo não mede esforços para tornar o que pretende ensinar acessível a todos que cabe ensinar. Reconhece o outro que tem à sua frente, reconhece as diferenças que o fazem singular, reconhece os seus próprios limites frente às adversidades do aprender, mas não se desprende de sua relação com o saber que ao final determinará todo o enredo. O pedagogo resguarda-se na “busca” do outro e seu mundo singular. Em prol daquilo que tem como meta, na maioria das vezes, opta pela “ignorância do outro na relação pedagógica”. A escola, em sua função social, pode servir como espaço de reflexão ou perpetuação desse espetáculo aprisionador e gerador de aborrecimento. A diferença está no grupo que constrói o espaço educacional, que precisa estar atento para as armadilhas de “escapar” do mal-estar de modo definitivo, o que é impossível.
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