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Sociologia, Administração e Extensão Rurais Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. João Luiz de Souza Lima Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Evolução dos Valores da Economia e da Administração • Discorrer acerca da evolução do capitalismo e da empresa/organização no âmbito do mundo contemporâneo; • Conduzir o assunto envolvendo a evolução dos valores da economia e da administração como uma excelente oportunidade de interação dos conhecimentos sobre a temática, incluindo as oportunidades derivadas para o conhecimento do surgimento das organiza- ções, no âmbito da Ciência Econômica, e as suas perspectivas ao longo do século XXI. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Evolução da Ética Capitalista; • Teorias Econômicas; • Revolução Industrial; • Ciclos da Economia Brasileira; • Economia Social. Evolução dos Valores da Economia e da Administração Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração Introdução Esta Unidade apresenta e discorre sobre a evolução dos valores da economia e da administração, baseando-se nos preceitos do surgimento do sistema capi- talista, bem como da necessidade de harmonia na sociedade frente aos desafios daí surgidos. Apresenta, ainda, questões que levam à reflexão da importância das empresas/organizações para a economia brasileira e mundial como um todo. Os principais conceitos do sistema capitalista, tais como a acumulação do ca- pital, a existência dos mercados, a necessidade da concorrência, a classificação do produto e serviço, a teoria do preço, da produção e do bem-estar, a demanda, a oferta e o ponto de equilíbrio, os bens e o papel do governo serão discorridos na presente Unidade. O sistema capitalista que molda o funcionamento da economia como um todo será plenamente discorrido. Em princípio, a existência de pessoas ricas e pobres faz parte do equilíbrio da economia, segundo os defensores do capitalismo. Na maior parte dos casos, é utilizado o darwinismo social para explicar tal situação. Por sua vez, a Economia procura explicar as leis que regem o comportamento dos agentes econômicos (indivíduos, organizações, governo e mercados). A Unidade abordará também o papel do governo, o qual deve agir como fonte do equilíbrio dos agentes econômicos/sociais, tais como a empresa/organização, os fornecedores, a concorrência, os intermediários de mercado, as pessoas e o merca- do propriamente, o qual envolve os clientes/consumidores finais. Por fim, a Unidade será finalizada com a apresentação da teoria keynesiana, que surge como a proposta mais eficaz para o enfrentamento das crises econômicas. Evolução da Ética Capitalista A ideologia capitalista não constituiu a norma do padrão ético da História do Mundo Ocidental. Na verdade, a maior parte da História registrada considerou inaceitável essa ideologia. Contudo, as trocas e as atividades econômicas são tão antigas como a história registrada da Humanidade. Os livros do Velho Testamento e o Código de Hamurabi, como exemplos, estavam repletos de regras e códigos de ética, visando às atividades comerciais. A Figura 1 apresenta a gravura que ilustra o Código de Hamurabi. Na Grécia Antiga, o comércio floresceu, a despeito do ideal de autossuficiência, com ênfase na base econômica assentada na cultura agrícola e animal. De uma forma geral, os filósofos gregos julgavam as atividades comerciais com desdém, considerando-as necessárias, mas pouco agradáveis. 8 9 Figura 1 – Código de Hamurabi Fonte: Wikimedia Commons O Império Romano acompanhava os gregos nessa atitude, tolerando a neces- sidade do comércio, mas atribuindo a essas atividades um nível pouco elevado. Na Idade Média, a economia se caracterizou como um período de estagnação e de ausência de desenvolvimento econômico e social. Foi dominada pelas duas organizações sociais da época, o sistema feudal e a Igreja Católica. O sistema feudal, com a sua estrutura fechada e sua definição específica das atribuições do senhor feudal e do servo-camponês, dominou a vida econômica da Europa Ocidental. A Igreja Católica, por sua vez, forneceu a ideologia e fixou o sistema de valores da sociedade inteira. A principal preocupação das pessoas era salvar suas próprias almas. O ensinamento religioso dizia que o homem se encontrava na terra apenas por um pequeno período, no qual precisa preparar-se para a eternidade e para a salvação. A Igreja foi a instituição que prevaleceu sobre a comunidade feudal e os li- mites das nações. Sua influência foi grande em todas as áreas da atividade humana. A ideologia religiosa preponderante tinha em pouco valor as atividades comerciais e empresariais e lhe impunha regras e limitações estritas. A usura era considerada uma forma de pecado, e o próprio comércio era visto como de duvidosa pureza. 9 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração A doutrina religiosa refletia certa hostilidade para com os homens de negócio e para com a atividade comercial e empresarial. No entanto, ocorreu uma altera- ção nos pronunciamentos da Igreja em relação às atividades comerciais, através das ideias formuladas e implementadas por São Tomás de Aquino, na metade do século XIII. Este introduziu o conceito do preço justo e explicou as margens de lu- cro obtidas no processo comercial como sendo o salário do comerciante, pelo seu trabalho. Sua opinião de que havia um preço justo, do qual podia ser determinado pelo mercado, constituiu uma concessão de vulto às atividades comerciais. A Figura 2 apresenta o retrato de São Tomás de Aquino, que foi considerado um dos maiores teólogos da Igreja Católica e responsável pelas mudanças no pensa- mento da Igreja em relação aos lucros, bem como à postura dos homens de negócio: Figura 2 – São Tomás de Aquino Fonte: Wikimedia Commons O credo capitalista não surgiu de repente e maduro, na sociedade ocidental. Ao contrário, resultou de um processo revolucionário que teve suas raízes nos novos ângulos pelos quais a Igreja começou a encarar os assuntos relacionados com o mundo dos negócios, na última parte da Idade Média. Antes do início do século XVI, boa parte das restrições do período medieval era derrubada. O processo de urbanização pelo qual passavam as populações e a criação de comunidades e de nações estimulavam a intensificação do comércio e dos negócios. O crescente co- mércio marítimo de nações como Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Portugal estimularam mais as atividades comerciais. 10 11 Alguns historiadores consideram o judaísmo a principal força a atuar no de- senvolvimento do sistema capitalista. Os valores judaicos básicos, envolvendo o autocontrole, o trabalho intenso, a sobriedade, a parcimônia e a aderência às leis e ensinamentos religiosos constituíram um molde a conduzir ao desenvolvimentoeconômico e compatível com o capitalismo crescente. Por sua vez, Max Weber salientou que as mudanças verificadas na ética religiosa em resultado da Reforma e do Movimento Protestante propiciaram um clima ético e, consequentemente, econômico, altamente favorável ao progresso do ca- pitalismo. Weber mostrou que o crescente protestantismo na Inglaterra, Holanda, Alemanha e, posteriormente nos Estados Unidos da América (EUA), constituiu a razão principal para esses países serem os primeiros a se lançarem ao desenvolvi- mento industrial. A Figura 3 apresenta o retrato de Max Weber, que foi considerado um dos maio- res sociólogos contemporâneos e um dos fundadores da Sociologia. Além disso, foi o autor de um dos livros mais importantes do século XX, intitulado Ética protes- tante e o espírito do capitalismo. Figura 3 – Max Weber Fonte: Wikimedia Commons Na época da Independência Norte-Americana, a ética capitalista estava bem entrincheirada na Holanda, Inglaterra e nas Colônias Norte-Americanas. A despeito de haver dominado o cenário econômico no decorrer dos séculos XVI e XVII, por volta de 1750 a filosofia do mercantilismo estava em colapso. Segundo a concepção mercantilista, o indivíduo subordinava-se ao Estado, e as atividades econômicas e sociais destinavam-se a apoiar o poderio desse Estado. 11 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração Em 1776, com a publicação da obra de Adam Smith, Uma análise sobre a natureza e a causa da riqueza das nações, a ética capitalista recebeu sua teoria suprema. Smith defendeu as liberdades econômicas, com base na premissa de que promovendo seus interesses pessoais cada indivíduo beneficiaria a sociedade total. A metáfora da “mão invisível” do mercado e da concorrência restringiria os inte- resses pessoais, garantindo, assim, a maximização dos proveitos sociais. A Figura 4 apresenta o retrato de Adam Smith, que foi considerado o “Pai da Economia Moderna”: Figura 4 – Adam Smith Fonte: Wikimedia Commons A teoria de Adam Smith residia em permitir a cada pessoa tomar em consi- deração apenas seus próprios interesses e ampliar ao máximo seu proveito e sua riqueza e, ainda assim, promover automaticamente a melhor distribuição possível das riquezas, em benefício dos interesses sociais mais amplos. O mecanismo de controle era fornecido pela concorrência de mercado, que era automática e não precisava nem do controle do Estado nem de qualquer outro controle externo para garantir seu funcionamento eficiente. Adam Smith salientava que qualquer interferência estatal nas atividades comerciais tenderia a desfazer o equilíbrio natural; ou seja, apregoava o princípio do laissez-faire, deixar as peças funcionarem sozinhas na distribuição dos recursos dentro dos limites impostos pelo mercado. A teoria de Smith a respeito do capitalismo, reforçada e de certa forma modificada pelo economista David Ricardo, compôs a filosofia da Revolução Industrial e ainda hoje conta com grande aceitação no mundo. O sociólogo Herbert Spencer, na última metade do século XIX, com base na teoria de Charles Darwin sobre a origem das espécies e a sobrevivência do mais apto, criou a correspondente visão social, o darwinismo social. A nova teoria dava a entender que as pessoas mais capazes e possuidoras de maiores recursos ascen- deriam à cúpula da hierarquia social e que essa era a ordem natural das coisas. 12 13 No regime do darwinismo social era apenas natural a existência de classes ricas e pobres, e qualquer tentativa de perturbar essa ordem hierárquica era considerada antinatural e contrária ao melhor interesse da sociedade. Assim, era claro o apoio que o darwinismo social dava à ética protestante e à concepção de Adam Smith do laissez-faire. Contudo, no século XIX começaram a surgir as primeiras dissidên- cias em relação à ideologia capitalista. O mais famoso dissidente foi Karl Marx, que em 1848 escreveu com Frederick Engels a obra intitulada O manifesto comunista e, em 1867, O capital. Marx e Engels encaravam o sistema capitalista em evolução como uma ameaça de vulto à estrutura social, e recomendavam uma medicação revolucionária. Para esses teóricos, os industrialistas, capitalistas e a burguesia estavam desfazendo a ordem social estabelecida. Marx concitou a uma revolução do proletariado para quebrar a ordem capitalista e estabelecer o comunismo. As atividades antissociais desenvolvidas por numerosos industrialistas no fim do século XIX deram origem a uma enorme e substancial insatisfação pública em rela- ção ao sistema empresarial. O aparecimento de gigantescas corporações e trustes e dos notórios poderes monopolistas que tinham levou várias forças internas da so- ciedade a reclamar alguma forma de regulamento ou controle. Evidenciaram que a desenfreada aplicação do laissez-faire podia não mostrar eficiência em um sistema de oligopólio e de monopólio. Assim, o período compreendido entre o final do sé- culo XIX e o início do século XX foi marcado pela introdução de atos reguladores do governo, principalmente nos Estados Unidos. Embora desde os distantes anos do século XVII se encontrem nos Estados Uni- dos traços de atividades trabalhistas organizadas, foi somente a partir da segunda metade do século XIX que os sindicatos de trabalhadores se mostraram eficientes como poder contrabalanceador dos industrialistas. Durante as primeiras fases da Revolução Industrial, numerosas restrições le- gais foram impostas à ação coletiva dos grupos de trabalhadores, tanto nos Estados Unidos como na Europa Ocidental. Essencialmente, os tribunais sustentavam que os sindicatos constituíam conspirações que visavam à restrição do comércio. Nos Estados Unidos, o movimento “Knights of Labor” foi organizado em 1869 e permaneceu como sociedade secreta até 1879, quando começou a operar livre e abertamente. A organização foi franqueada a todos os trabalhadores, se tendo formado uma co- alizão com grupos de trabalhadores do campo, para a defesa de importantes reformas sociais consideradas necessárias diante das práticas antissociais dos industrialistas. A American Federation of Labor (AFL), fundada em 1886, serviu de padrão para o movimento trabalhista norte-americano. Entre 1895 e 1920 surgiram organizações trabalhistas radicais, como o Partido Trabalhista Socialista e a Industrial Workers of the World (IWW). 13 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração A IWW reunia os trabalhadores da indústria em organizações militantes, visando à derrubada do sistema capitalista. Embora tendo saído de cena após a Primeira Guerra Mundial, representou uma violenta reação contra o darwinismo industrial predominante naquele período. A década de 1920 constituiu o ponto alto da empresa norte-americana e do sistema industrial, com previsões de prosperidade sem limites. Mas a década de 1930 rebaixou consideravelmente o conceito dos empresários e apresentou à ideologia capitalista o mais violento desafio. A Grande Depressão, iniciada com o desmoronamento do mercado acionário, em 1929, e continuando com um colapso econômico maciço, ameaçou a própria estrutura do sistema econômico e social da época. O desemprego disseminado por toda parte e o colapso dos mercados sacudiram as raízes da ideologia capitalista clássica, e o bode expiatório que apareceu foi a empresa. A doutrina clássica era um belo modelo de sistema fechado com ajuste automá- tico. Não havia necessidade de qualquer interferência ou de qualquer força externa para assegurar a distribuição ótima e a plena utilização dos recursos econômicos. Na doutrina econômica clássica, as depressões por um lado eram aceitas como inevitáveis e por outro eram considerados períodos de ajustamento de curta dura- ção, constituindo apenas deslocações de menor porte na utilização de recursos. Na linha desse modelo, a plena utilização dos recursos e o pleno emprego seriam atingidos em um novo ponto de equilíbrio. Isso, entretanto, não foi o que ocorreu durante a GrandeDepressão. A Grande Depressão estendeu-se, com ligeiras modificações de 1929 até que o estímulo da Segunda Guerra Mundial à atividade industrial introduzisse uma meia-volta. Embora a própria Grande Depressão constituísse naquela época uma suposta prova da falência do sistema econômico e da ética capitalista clássica, coube ao economista inglês John Maynard Keynes, através do livro The general theory of employment, interest and money – Teoria geral do emprego, do juro e da moeda –, em 1936, apresentar a explicação teórica do fato. A tese keynesiana questionava a própria base da doutrina econômica clássica do laissez-faire, pela qual o mecanismo do mercado e o sistema de preços se ajus- tariam automaticamente, passando para um ponto de equilíbrio da plena utilização dos recursos e da mão de obra. A Figura 5 apresenta o retrato de John Maynard Keynes, que foi considerado um dos maiores economistas contemporâneos. Figura 5 – John Maynard Keynes Fonte: Wikimedia Commons 14 15 John Keynes explicou a Grande Depressão sugerindo que se podia alcançar o equilíbrio a despeito de muitas pessoas involuntariamente desempregadas e de outros recursos não utilizados. Deu mais ênfase ao consumo do que às poupanças, como meio de se chegar à utilização plena dos recursos. Sem um sistema autoa- justável operando a favor do pleno emprego tanto da mão de obra como de outros recursos, por essa tese seria necessária uma força externa que fornecesse o meca- nismo de equilíbrio, portanto, essa força seria o governo. A teoria keynesiana foi recebida com hostilidade por parte da comunidade em- presarial da época e ainda permaneceu sob suspeita dos agentes econômicos. No entanto, pouco se contradiz de que a inescapável realidade da Grande Depres- são e da persuasão dos pontos de vista de Keynes exerceram influência sobre a ética capitalista, transformando-a para sempre. Talvez a maior influência que Keynes exerceu sobre as transformações da ética capitalista pode ser vista nas propostas ativas do “new deal”, o qual consistia no termo aplicado ao programa do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, entre 1933 e 1938, pelo qual procurava recuperar a economia dos EUA e acabar com a Grande Depressão. O termo new deal, que significa novo acordo, foi utilizado por Roosevelt em seu discurso de 1932, quando aceitou a indicação para ser candidato à Presidência da República. A incapacidade de resolver os problemas surgidos após a Grande Depressão le- vou à derrota do, então presidente, republicano Hoover para Roosevelt, democrata, em 1933. A legislação do new deal foi proposta por políticos progressistas, administrado- res e especialistas a serviço do presidente. A inspiração veio de economistas da es- cola de Keynes, que pregavam a intervenção do Estado na economia para diminuir os focos de tensão social, por meio de grandes investimentos públicos: construção de estradas, usinas, escolas etc. O objetivo era melhorar a distribuição de renda, a fim de aumentar a capacidade de absorção do mercado interno. O plano foi aprovado por maioria esmagadora no Congresso norte-americano. Suas principais medidas foram: • O fechamento temporário dos bancos e a requisição dos estoques de ouro para sanear as finanças; • A desvalorização da moeda por meio de uma inflação moderada, com o obje- tivo de elevar os preços dos produtos agrícolas e permitir que os fazendeiros pagassem suas dívidas; • A emissão de papel-moeda e o abandono do padrão-ouro, que permitiu ao Banco Central norte-americano financiar o seguro-desemprego, para os esta- dunidenses em todos os campos, visando atender a população mais carente. A legislação emergencial de 1933 acabou com a crise bancária e restaurou a confiança pública. As medidas de alívio do chamado primeiro new deal, entre 15 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração 1933 e 1935, como a criação da autoridade do Vale do Tennessee (Tennessee Valey), estimularam a produtividade e a administração de projetos de trabalho reduziu o desemprego. A falência das agências do governo central provocou o segundo new deal, entre 1935 e 1938, devotados à recuperação por meio de medidas como o Ato de Seguridade Social, que garantiu o seguro-desemprego, dando cobertura previdenciária aos assalariados e estabeleceu a liberdade sindical. O new deal estendeu a autoridade do governo federal e deu atenção imediata aos problemas trabalhistas. Apoiaram trabalhadores, fazendeiros e pequenos em- presários e, indiretamente, a população negra, que foi beneficiada pela legislação, que propôs a equiparação das oportunidades e a criação de padrões mínimos de salário, carga horária, descanso e seguridade. O problema do desemprego, no entanto, somente foi resolvido às vésperas da Segunda Guerra Mundial, com a reativação da indústria bélica, a partir de 1937, em função do rearmamento dos países da Europa. Teorias Econômicas As principais teorias econômicas são mercantilista, da fisiocracia, clássica (teoria do liberalismo), marxista, neoclássica e keynesiana. Teoria Mercantilista A teoria mercantilista representou um conjunto de princípios que orientou os Estados europeus para a expressiva expansão comercial ocorrida entre os séculos XV e XVII. Seus principais expoentes foram os ingleses Thomas Mun (1571-1641) e Josiah Child (1630-1699), os franceses Barthélemy de Laffemas (1545-1612), Jean-Baptiste Colbert (1619-1683) e Antoine de Montchrestien (1575-1621) e o italiano Antonio Serra (1568-?). A riqueza de uma nação, segundo os economistas mercantilistas, provém de suas reservas de metais preciosos, em especial o ouro e a prata, que eram moedas correntes na época. O Estado, portanto, deveria acumular reservas desses metais pela descoberta de novas jazidas de minério e/ou pela obtenção de superávit comercial (exportando mais do que importando). Teoria da Fisiocracia No século XVIII, o francês François Quesnay (1694-1774) fundou a Escola Fisio- crata, que contestou o pensamento mercantilista. Outro representante foi o francês Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781), autor de Reflexões sobre a formação e a distribuição da riqueza, publicado em 1766. Os economistas fisiocratas defendem as sociedades agrícolas porque para es- ses a terra é a única fonte de riqueza de uma nação. A indústria e o comércio 16 17 são necessários, porém, produtivos por se limitar a transformar uma coisa em outra ou a transferir de lugar mercadorias preexistentes. O estudo Quadro econômico (1756), de Quesnay, foi a primeira análise do equilíbrio global da economia. O autor demonstra como a renda gerada na agricul- tura é redistribuída na comunidade. Ao contrário dos mercantilistas, os fisiocratas rejeitam a interferência do governo nas atividades que seguem leis naturais da Eco- nomia – oferta e procura. As expressões laissez-faire e laissez-passer (deixar fazer, deixar passar), que se converteram nas máximas do liberalismo, nasceram com os economistas fisiocratas. Teoria Clássica (Teoria do Liberalismo) A Ciência Econômica foi consolidada com a Escola Clássica. O marco funda- mental é a obra Uma investigação sobre a natureza e causas da riqueza das nações (1776), do escocês Adam Smith (1723-1790). Após a morte de Smith, três nomes aperfeiçoaram e ampliaram suas ideias: o francês Jean-Baptiste Say (1767- 1832) e os ingleses Thomas Malthus (1766-1834) e David Ricardo (1772-1823). O pensamento clássico se desenvolveu na segunda metade do século XVIII e no século XIX. Desse modo, centra suas reflexões nas transformações do processo produtivo, trazidas pela Revolução Industrial. Adam Smith afirmava que não é a prata ou o ouro que determina a prosperidade de uma nação, mas sim o trabalho humano. Em consequência, qualquer mudança que aprimore as forças produtivas enriquece uma nação. A principal dessas forças produtivas – além da mecanização – é a divisão social do trabalho, amplamente estudada por esse teórico. A Escola também abordaas causas das crises econômicas, as implicações do crescimento populacional e a acu- mulação de capital. Os economistas clássicos defendem o liberalismo e elaboram o conceito de racionalidade econômica, no qual o indivíduo deve satisfazer às suas necessidades sem se preocupar com o bem-estar coletivo. Essa busca egoísta e competitiva, no entanto, estaria na origem de todo o bem público porque qualquer intervenção nessas leis naturais do comportamento humano bloquearia o desenvolvimento das forças produtivas. Usando a metáfora econômica de Adam Smith, os homens, conduzidos por uma “mão invisível”, acabam promovendo um fim que não era intencional. Entende-se por esta expressão, ou seja, a “mão invisível”, a própria concorrência existente do mercado. Teoria Marxista O seu principal expoente foi o alemão Karl Heinrich Marx (1818-1883), cujas ideias – expostas em Contribuição à crítica da economia política (1857) e em 17 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração O capital (1867-1869) – exerceram forte influência em várias áreas das Ciências Humanas. É igualmente determinante a colaboração de Friedrich Engels (1820- 1895). Com o tempo, o marxismo recebeu importantes contribuições, como as de Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido pelo pseudônimo de Lênin que, além de líder e teórico da Revolução Russa, escreveu O imperialismo, etapa superior do capitalismo (1916). A teoria marxista procura explicar como o modo de produção capitalista pro- picia a acumulação contínua de capital. A resposta está na confecção das merca- dorias. Resultam da combinação de meios de produção (ferramentas, máquinas e matéria-prima) e do trabalho humano. No marxismo, a quantidade de trabalho socialmente necessária para produzir uma mercadoria é o que determina seu valor. A ampliação do capital ocorre porque o trabalho produz valores superiores aos dos salários (força de trabalho). A esse diferencial Karl Marx deu o nome de “mais-valia”, conceito fundamental de sua teoria por ser considerada a fonte dos lucros e da acumulação capitalista. Marx foi considerado um dos maiores pensadores da Economia, da Sociologia e da Filosofia. Teoria Neoclássica A Escola Neoclássica surgiu no fim do século XIX com o austríaco Carl Menger (1840-1921), o inglês William Stanley Jevons (1835-1882) e o francês Léon Walras (1834-1910). Posteriormente, destacam-se o inglês Alfred Marshall (1842-1924), o austríaco Knut Wicksell (1851-1926), o italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) e o norte-americano Irving Fisher (1867-1947). Os economistas neoclássicos negam a teoria clássica do valor-trabalho. Am- parados pelas ideias do filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1832), criador do utilitarismo, afirmam que o valor de um produto é uma grandeza subjetiva: relaciona-se com a utilidade que tem para cada um. Essa utilidade, por sua vez, depende da quantidade do bem de que o indivíduo dispõe. Nos desertos, por exemplo, a água é um produto valioso, ao passo que em regiões chuvosas o valor cai consideravelmente. Dessa maneira, o preço das mercadorias e dos serviços passa a ser definido pelo equilíbrio entre a oferta e a procura. Essa lei do mercado, para os economistas neoclássicos, conduz à esta- bilidade econômica. Teoria Keynesiana Foi o conjunto de teorias que se derivam das ideias do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946). A obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936) revolucionou o pensamento econômico da época, então dominado pelos neoclássicos. A enorme repercussão do trabalho de Keynes também se deve ao momento histórico de seu lançamento, ou seja, a Grande Depressão Econô- mica, ocorrida na década de 1930 com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, nos EUA, em 1929. 18 19 John Keynes contestou as hipóteses neoclássicas de que as forças do mercado conduzem ao equilíbrio econômico. Mostrou que é possível, em uma economia de mercado, a permanência de longas crises econômicas, marcadas pela recessão e pelo desemprego. Segundo Keynes, as crises acontecem quando o investimento na economia é relativamente reduzido, não sendo suficiente para garantir o pleno emprego da força de trabalho existente. Para superá-las, recomendou o aumento do gasto público, com o objetivo de suprir a deficiência de demanda do setor pri- vado. As obras estatais, por exemplo, criam postos de trabalho, diminuindo, assim, o desemprego. Revolução Industrial A Revolução Industrial consiste no processo de mudança de uma economia agrária e baseada no trabalho manual para uma dominada pela indústria me- canizada. Teve início na Inglaterra por volta de 1760 e se alastrou para o resto do mundo. Caracteriza-se pelo uso de novas fontes de energia, pela invenção de máquinas que aumentam a produção, pela divisão e especialização do trabalho, pelo desenvolvimento do transporte e da comunicação e pela aplicação da Ciência na indústria. Provoca profundas transformações na sociedade: o declínio da terra como fonte de riqueza, o direcionamento da produção em larga escala para o mercado internacional, a afirmação do poder econômico da burguesia, o surgimento do operariado e a consolidação do capitalismo como sistema dominante na sociedade. Primeira Revolução Industrial O pioneirismo inglês, no século XVIII, deve-se ao acúmulo de capital – em razão da rápida expansão do comércio ultramarino e continental –, às reservas de carvão e ferro, à grande quantidade de mão de obra, ao avanço tecnológico e à existência de mercados consumidores. Em sua origem está a Revolução Gloriosa (1688), que assinala o final do absolutismo inglês e coloca a burguesia no controle do Estado. Importante! Que a Revolução Gloriosa marcou o fim do absolutismo na Inglaterra, em 1688, com o fortalecimento do Parlamento em relação à autoridade real? A dinastia dos Stuart foi inaugurada em 1603 por Jaime I, que procurou fortalecer a monarquia absoluta de direito divino e o anglicanismo. Seu filho, Charles I, subiu ao trono em 1625. Três anos depois, foi obrigado pelos líderes do Parlamento a assinar a Petição de Direitos, comprometendo-se a não cobrar impostos sem a aprovação parlamentar. Em 1629, porém, o rei dissolveu o Parlamento, readquirindo o controle da política financeira. Você Sabia? 19 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração A disponibilidade de capital e o sistema financeiro eficiente facilitam os investi- mentos dos empresários, que constroem ferrovias, estradas, portos e sistemas de comunicação, favorecendo o comércio. Os campos são apropriados pela burguesia, no processo chamado de cercamento, originando extensas propriedades rurais. Com isso, os camponeses são expulsos das terras, migram para as cidades e se tor- nam mão de obra à disposição. Por outro lado, aumenta a produção de alimentos, contribuindo para o crescimento populacional. O desenvolvimento de máquinas – como a máquina a vapor e o tear mecânico – permite o crescimento da produtividade e a racionalização do trabalho. Com a apli- cação da força a vapor às máquinas fabris, a mecanização difundiu-se na indústria têxtil. Para melhorar a sua resistência, o metal substituiu a madeira, estimulando a siderurgia e o surgimento da indústria pesada de máquinas. A invenção da locomo- tiva e do navio a vapor acelerou a circulação das mercadorias. O novo sistema industrial instituiu duas novas classes opostas: os empresários, donos do capital, dos modos e bens de produção; e os operários, que vendem sua força de trabalho em troca de salário. A Revolução Industrial concentrou os empregados em fábricas e mudou ra- dicalmente o caráter do trabalho. Para aumentar o desempenho dos operários, a produção é dividida em várias etapas. O trabalhador executa uma única, sempre do mesmo modo. Com a mecaniza- ção, o trabalho desqualificou-se, o que reduziu os salários. No início, os empresá- rios impuseram duras condições aos operários para ampliar a produção e garantir margem de lucro crescente. Estes, então,organizaram-se em associações para rei- vindicar melhores condições de trabalho, dando origem aos sindicatos. Segunda Revolução Industrial Iniciou-se a partir de 1870, com a industrialização da França, Alemanha, Itália, dos EUA e do Japão, entre outros. Novas fontes de energia (eletricidade e petróleo) e produtos químicos, como o plástico, foram desenvolvidos, e o ferro foi substituído pelo aço. Surgiram máquinas e ferramentas mais modernas. Em 1909, Henry Ford criou a linha de montagem e a produção em série. Na se- gunda metade do século XX, quase todas as indústrias já estavam mecanizadas e a automação alcançou todos os setores das fábricas. As inovações técnicas aumen- taram a capacidade produtiva das indústrias e o acúmulo de capital. As potências industriais passaram a buscar outros mercados consumidores. Terceira Revolução Industrial No período Pós-Segunda Guerra Mundial, a partir da década de 1950, surgiram complexos industriais e empresas multinacionais. As indústrias química e eletrônica cresceram. Os avanços da automação, informática e engenharia genética foram 20 21 incorporados ao processo produtivo, que dependia cada vez mais de alta tecnologia e de mão de obra especializada. A informatização substituiu, em alguns casos, a mão de obra humana, contribuindo para a eliminação de inúmeros postos de trabalho. Quarta Revolução Industrial Uma revolução industrial é caracterizada por mudanças abruptas e radicais, mo- tivadas pela incorporação de tecnologias, tendo desdobramentos nos âmbitos econô- mico, social e político. Segundo teóricos, o mundo passa por uma transição de época e estaria no início da Quarta Revolução Industrial, ou da chamada Indústria 4.0. O desenvolvimento e a incorporação de inovações tecnológicas nesta nova eta- pa da história mudarão radicalmente e para sempre o mundo como o conhecemos e moldarão a indústria e os negócios dos próximos anos. A Quarta Revolução Industrial envolve novas tecnologias que estão unificando os mundos físico, digital e biológico de forma a criar grandes promessas de de- senvolvimento. A velocidade, amplitude e profundidade desta Quarta Revolução Industrial estão forçando o repensar de como os países se desenvolvem, como as organizações criam valor e o que significa ser um humano. A Quarta Revolução Industrial é algo fabricado pelo próprio homem e está sob o seu controle, e como as novas formas de colaboração e governança, acompa- nhadas por uma narrativa positiva e compartilhada, podem dar forma à nova Re- volução Industrial para o benefício de toda a sociedade planetária. Caso o homem aceite a responsabilidade coletiva para a criação de um futuro em que a inovação e tecnologia servem às pessoas, poderá elevar a humanidade a alcançar novos níveis de consciência ética e moral. A Quarta Revolução Industrial será impulsionada por um conjunto de tecnolo- gias disruptivas como, por exemplo: • A robótica; • A inteligência artificial; • A realidade aumentada; • Big data (análise de volumes massivos de dados); • A nanotecnologia; • A impressão tridimensional (3D); • A biologia sintética; • A chamada internet das coisas, onde cada vez mais dispositivos, equipamen- tos e objetos serão conectados uns aos outros por meio da internet. Algumas dessas inovações estão em sua fase de “infância” e ainda não mostra- ram todo o seu potencial. 21 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração A Quarta Revolução Industrial não se define por cada uma dessas tecnologias isoladamente, mas pela convergência e sinergia entre as quais. Pode-se afirmar que ocorre uma conexão entre os mundos digital e físico, que são as “coisas”, e o mundo biológico, que representa o próprio homem. Na chamada Indústria 4.0 há uma cadeia produtiva totalmente conectada, a chamada manufatura avançada, na qual os processos são adaptáveis às neces- sidades de produção/operação, os recursos são usados com maior eficiência (em- pregando menos energia) e produtos/serviços serão customizados de acordo com a necessidade do cliente (cada pedido é único). A Tabela 1 apresenta a cronologia da Revolução Industrial: Tabela 1 – Cronologia da Revolução Industrial Revolução Industrial Século Precursor Fatores econômicos 1ª XVIII Inglaterra Ferro, carvão mineral e vapor de água 2ª XIX EUA Aço, petróleo e eletricidade 3ª XX Grupo dos Sete (G7) e Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Computadores e robótica 4ª XXI G7, OCDE e o grupo de países de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) Biotecnologia Ciclos da Economia Brasileira O Tratado de Tordesilhas, acordo assinado por Portugal e Espanha, dividiu o mun- do a partir de um meridiano 370 léguas a Oeste do Arquipélago de Cabo Verde. Essa linha passa na altura das atuais cidades de Belém, PA e Laguna, SC. Portugal ficou com as terras a Leste e a Espanha, com as terras a Oeste. Dessa forma, os dois países estabeleceram os limites dos territórios descobertos durante a expansão marítima. Pedro Álvares Cabral e sua esquadra chegaram ao Litoral Sul da Bahia em 22 de abril. Foi o descobrimento do Brasil. O desembarque aconteceu no dia seguin- te e, em 26 de abril foi celebrada a primeira missa no território encontrado. Até hoje não foram encontrados documentos que permitam saber, com certeza, se a descoberta foi intencional ou acidental. No entanto, Portugal sabia da existência de terras a Oeste desde a chegada de Colombo à América e já havia garantido parte dessas pelo Tratado de Tordesilhas. E seus navegadores conheciam bem as cor- rentes marítimas do Atlântico Sul. Com a chegada de Cabral, o País tomou posse oficialmente das novas terras. 22 23 A partir de 1530, a Coroa portuguesa iniciou a colonização do Brasil, primeiro com as Capitanias Hereditárias, depois com o Governo Geral, instalado em 1548. As Capitanias só foram extintas em 1759, e o Governo Geral durou até 1808. Do século XVI em diante foi crescente o tráfico de escravos advindos da África, tornando o negro a maior força de trabalho na Colônia. Nesse período, além da extração de pau-brasil, a plantação de cana-de-açúcar impulsionou a economia. No fim do século XVII foram descobertas ricas jazidas de ouro nos atuais Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. O período de maior produção foi de 1735 a 1754. Em 1789, quando a Coroa anunciou a derrama, medida para cobrar supostos impostos atrasados, eclodiu, em Vila Rica (atual Ouro Preto, MG), a Inconfidência Mineira. A revolta fracassou e, em 1792, um de seus líderes, Tiradentes, morreu enforcado. Em 1808, a Corte portuguesa transferiu-se para o Brasil, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte. O regente, Dom João VI, abriu os portos do País, permitindo o funcionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil. O País se tornou, em 1815, Reino Unido a Portugal e Algarves. Em 1818, Dom João VI foi coroado rei. Três anos depois voltou para Portugal, deixando seu filho mais velho, Dom Pedro, como regente do País. Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro proclamou a Independência do Brasil. Pau-Brasil Embora não tivesse atraído o mesmo interesse que o comércio com a Índia, o pau-brasil foi explorado pelos portugueses com grande lucro e transformou- -se na primeira atividade econômica importante da nova terra. As árvores eram cortadas por índios em troca de objetos de metal, tais como facas, machados e anzóis, ou de tecidos, enfeites e espelhos. À medida que a madeira foi escassean- do no litoral, tornou-se ainda maior a participação indígena na localização e na derrubada do pau-brasil no interior. Houve também muito contrabando de toras, feito principalmente por franceses, que não reconheciam os tratados de partilha dos novos territórios. Cana-de-Açúcar O mercado europeu estava ávido por açúcar no século XVI. Com solo apropria- do para o cultivo de cana-de-açúcar e facilidade para comprar escravos, Pernam- buco e Bahia passaram a ser os centros da culturacanavieira, atingindo o apogeu entre 1570 e 1650. Grandes investimentos foram feitos em terras, equipamentos e mão de obra, transformando os engenhos em unidades de produção completas e autossuficientes. Estimativas do final do século XVII indicam a existência de 528 engenhos na Colônia, que exportavam anualmente 37 mil caixas de 35 arrobas de açúcar (cada arroba equivale a 15 quilos). Esse mercado só foi abalado na segunda metade do século XVII, quando os holandeses começaram a produzir açúcar em grande escala, nas Antilhas. 23 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração Mineração No final do século XVII e início do XVIII foram descobertas ricas jazidas de ouro nos atuais Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, atraindo portu- gueses e aventureiros da Metrópole e de todas as partes da Colônia. Muitos trou- xeram escravos. A Coroa autorizou a livre exportação de ouro, tributado no valor de um quinto da produção, e foi instituída a Intendência de Minas para fiscalizar a atividade mineradora. Era permitido a alguns escravos conservar parte do ouro descoberto para comprar sua liberdade. O período de maior produção ocorreu entre 1735 e 1754, quando a exportação anual chegou à média de 14,5 mil quilos. A exploração de diamante cresceu por volta de 1729, nas vilas de Diamantina e Serra do Frio, no Norte de Minas Gerais. Em 1734 foi criado o Distrito Diamanti- no, com uma intendência para administrar as lavras. Café As primeiras mudas de café chegaram ao Brasil contrabandeadas da Guiana Francesa por Francisco de Melo Palheta, em 1727. As plantações multiplicaram-se e, em meados do século XIX, o produto ocupou parte das terras de antigas lavou- ras de cana-de-açúcar e de algodão e grande porção do chamado Oeste Paulista. Essa vigorosa expansão da cafeicultura foi resultado do crescimento do consumo nos EUA e na Europa e da crise que atingiu importantes regiões produtoras, como Haiti, Ceilão (atual Sri Lanka) e Java, na Indonésia. Com o preço em alta nos mer- cados consumidores, o produto tornou-se muito atraente e houve, no Brasil, terras e escravos subutilizados em outras lavouras, além de solos novos e férteis, como a terra roxa do interior paulista. Com a interrupção definitiva do tráfico de escravos africanos, em 1850, surgiu o primeiro grande problema: escassez de mão de obra. A solução encontrada foi promover a vinda de estrangeiros. Êxodo Rural Na década de 1970, a população urbana no Brasil somava 52 milhões, contra 41 milhões de moradores nas áreas rurais. As grandes cidades, por concentrarem o maior número de fábricas e indústrias, eram as que mais atraiam os trabalhadores advindos do campo. Nesse período, só a Capital de São Paulo recebeu, aproxima- damente, 3 milhões de migrantes. Entre 1970 e 1980, a expansão urbana se manteve em níveis elevados, e no fim dessa década, 67,6% dos brasileiros já residiam em centros urbanos. Em 1980, todas as regiões brasileiras tinham nas cidades a maioria de seus habitantes. No final da década de 1980, verificava-se que 40 milhões de pessoas (33,6% da população da época) tinham migrado do campo para a cidade, de um município para outro ou de uma região do País para outra. 24 25 O fenômeno brasileiro é considerado um dos maiores êxodos populacio- nais da história. Nesse processo, o Estado de São Paulo, especialmente a Capital, destacou-se. O processo de urbanização diminuiu nos anos seguintes. O surgi- mento de novos postos de serviço nas áreas rurais, desvinculados da agricultura, tendeu a diminuir o êxodo do campo. Hoje, prestação de serviços, construção civil, comércio e área social são setores em crescimento nas áreas rurais e já chegam a garantir rendimentos mensais maiores que os da cidade. Ainda assim, as áreas rurais registram crescimento negativo pela primeira vez, por causa da redução de sua população em números absolutos. Entre 1991 e 1996, as cidades ganharam cerca de 12,1 milhões de habitantes, e registrava-se uma taxa de urbanização de 78,36%. O ano de 1996 foi um marco da superioridade numérica da população urbana em todos os Estados brasileiros. O último a fazer a transição foi o Maranhão, que até 1991 apresentava a maior parte da população em áreas rurais. Indústria no Brasil Os efeitos da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, sobre a agricultura cafeeira e as mudanças geradas pela Revolução de 1930 no Brasil modificaram o eixo da política econômica, que assumiu caráter mais nacionalista e industrialista. Já em 1931, Getúlio Vargas anunciou a determinação de implantar a chamada indústria de base – siderúrgica, metalúrgica, mecânica, química e outras. Com essas, o País poderia reduzir sua importação, estimulando a produção nacional de bens de consumo. As medidas concretas para a industrialização foram tomadas durante o Estado Novo. As dificuldades causadas pela Segunda Guerra Mundial ao comércio internacional favoreceram essa estratégia de substituição de importações. Em 1943 foi fundada no Rio de Janeiro a Fábrica Nacional de Motores (FNM). Em 1946 começou a operar o primeiro alto-forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, RJ. A Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) foi criada em outubro de 1953 e detém o monopólio de pesquisa, extração e refino de petróleo. Todas são empresas estatais. O nacionalismo da Era Vargas foi substituído pelo desenvolvimentismo do go- verno Juscelino Kubitschek (JK), de 1956 a 1961. Atraindo o capital estrangeiro e estimulando o capital nacional com incentivos fiscais e financeiros e medidas de proteção do mercado interno, JK implantou a indústria de bens de consumo durá- veis, sobretudo eletrodomésticos e veículos, com o objetivo de multiplicar o número dessas indústrias e das fábricas de peças e componentes. Ampliou os serviços de infraestrutura, como transporte e fornecimento de energia elétrica. Com os investimentos externos e internos, estimulou a diversificação da eco- nomia nacional, aumentando a produção de insumos, máquinas e equipamentos pesados para mecanização agrícola, fabricação de fertilizantes, frigoríficos, trans- porte ferroviário e construção naval. No início da década de 1960, o setor industrial superou a média de crescimento dos demais setores da economia brasileira. 25 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração O crescimento acelerou-se e se diversificou no período do chamado “Milagre Econômico”, de 1968 a 1974. A disponibilidade externa de capital e a determi- nação dos governos militares de fazer do Brasil uma “potência emergente” viabilizaram pesados investimentos em infraestrutura (rodovias, ferrovias, teleco- municações, portos, usinas hidrelétricas, usinas nucleares), nas indústrias de base (mineração e siderurgia), de transformação (papel, cimento, alumínio, produtos químicos, fertilizantes), equipamentos (geradores, sistemas de telefonia, máquinas, motores, turbinas), bens duráveis (veículos e eletrodomésticos) e na agroindústria de alimentos (grãos, carnes, laticínios). No início da década de 1970, a economia apresentava resultados excepcionais, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo a 12%, e o setor industrial a 18% ao ano. Já em meados da mesma década, a crise do petróleo e a alta internacional dos juros desaceleraram a expansão industrial. Com o financiamento externo mais caro, a economia brasileira entrou em um período de dificuldades crescentes, que levaram o País, na década de 1980, ao desequilíbrio do balanço de pagamentos e ao descontrole da inflação. O Brasil mergulhou em uma longa recessão que praticamente bloqueou seu crescimento econômico. No começo da década de 1990, a produção industrial foi praticamente a mesma de dez anos atrás. E no decorrer da década, igualmente por conta da abertura econômica que permite a entrada maciça de produtos importa- dos, o setor industrial vem encolhendo e perdendo participação no PIB nacional para o setor de serviços, tendência que se mantém no início do século XXI.Abertura Econômica no Brasil O Brasil passou por mudanças em sua política econômica a partir da década de 1990. A redução das alíquotas de importação iniciada na gestão do presidente Fernando Collor de Mello permitiu a entrada, no País, de grande variedade de bens de consumo. Enquanto muitas empresas não suportaram a concorrência estrangeira, outras importaram tecnologia para modernizar suas linhas de montagem. Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entre 1990 e 1995, a participação dos insumos e produtos importados na indústria passou de 6 para 15,6%. Outra grande mudança registrada no Brasil a partir da década de 1990 foi o avanço do programa de privatizações. Setores como o siderúrgico, petroquímico, informática e serviços públicos, principalmente de telecomunicações, eletricida- de, transporte e saneamento, passaram a ser explorados pelo capital privado, em muitos casos transnacional. Números do Programa Nacional de Desestatização (PND) apontam que, até o início de 2000, os resultados obtidos corresponderam à privatização de 65 empresas e concessão de 58 serviços públicos. 26 27 O estudo realizado pela área Corporate Finance da KPMG Brasil fornece uma boa medida da participação de grandes corporações na economia brasileira. O trabalho aborda o processo de fusões e aquisições durante a década de 1990 e destaca que das 2.308 operações realizadas no período, 61% envolveram recursos estrangeiros. Os Estados Unidos foram o país que mais investiu no Brasil (457 transações), seguido de França (111), Reino Unido (69), Alemanha (60), Argentina (57), Itália (48), Portugal (44), Espanha (43) e Canadá (34). Economia Social A inserção no mercado de trabalho é um dos fatores que explicam as condi- ções de vida das pessoas, mas não o único. Uma pessoa desempregada ou um trabalhador informal geralmente possui níveis de renda e riqueza menores que um trabalhador de uma grande empresa multinacional ou um pequeno empreendedor. Entretanto, o nível de educação, o acesso à saúde e a disponibilidade de terras e de crédito influenciam no padrão de vida dos trabalhadores. E o nível de riqueza e de renda dos pais muitas vezes determina a inserção dos filhos no mercado de traba- lho. Essas características acompanham o indivíduo antes mesmo que este obtenha um emprego. A pobreza e a distribuição de renda dependem de fatores que são determinados dentro e fora do mercado de trabalho. Quando os especialistas se referem ao número de pobres no Brasil, estão mencionando um conjunto de pessoas que recebem renda inferior a um determinado patamar – a chamada linha de pobreza –, apenas suficiente para satisfazer às despesas básicas com alimentação, vestuário, habitação e transporte. Esse patamar varia de acordo com o custo de vida das várias regiões. Conforme os cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2018 o Brasil possuía cerca de 57,9 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza, o que representa 34,1% da população. Em 1993, antes da implantação do plano real, 41,6% da população brasileira estavam abaixo da linha de pobreza. Ou seja, apesar do fraco desempenho da eco- nomia nos últimos anos e dos efeitos da inflação, o real tem impacto positivo sobre a distribuição de renda, embora essa ainda continue extremamente concentrada. A pobreza tem se tornado cada vez mais um problema urbano: do total de po- bres no País, 76% estão nas grandes metrópoles e áreas urbanas e apenas 24% vivem nas áreas rurais, de acordo com o último levantamento do Ipea, realizado em 2018. Existe também a chamada linha de indigência – nível de renda abaixo do qual as pessoas não conseguem satisfazer sequer às despesas de alimentação. Segundo o Instituto, em 2018 o Brasil possuía 25,2 milhões de indigentes (14,6% da população total). 27 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração Importante! Esta Unidade sobre a evolução dos valores da economia e da administração teve como objetivo principal discorrer acerca da evolução do sistema capitalista no âmbito do Brasil e do mundo contemporâneo. Foram abordados os principais conceitos das teorias econômicas, da Revolução Industrial e dos ciclos da economia brasileira. No último item foram abordados os conceitos envolvendo a economia social e a pobreza. É importante enfatizar que os aspectos até aqui apresentados são mínimos em rela- ção ao todo que você, estudante da área de negócios, deve saber. Procure assistir às Videoaulas, acessar a plataforma e verificar as referências citadas, pois quanto mais autores você conhecer, mais apto(a) estará para resolver problemas e emitir opiniões nos diversos ramos da evolução do sistema capitalista, bem como os conceitos das teorias econômicas. Em Síntese 28 29 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Banco Mundial (World Bank) https://bit.ly/3bKIid1 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) https://bit.ly/3dMNsXS Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) https://bit.ly/2R51L0e Banco Central do Brasil (BCB) https://bit.ly/2X58qLU Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico https://bit.ly/2R51Qky 29 UNIDADE Evolução dos Valores da Economia e da Administração Referências BLANCHARD, O. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. DELFIN NETTO. A. O estado da arte em Economia. São Paulo: Saraiva, 2007. LACERDA, A. C. Economia brasileira. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. MARQUES, R. M. Brasil sob a nova ordem: a economia brasileira contemporâ- nea. São Paulo: Saraiva, 2009. MENDES, J. T. G. Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. MOCHÓN, F. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. PIRIS, M. C. Economia brasileira: da Colônia ao governo Lula. São Paulo: Saraiva, 2010. TEBCHIRANI, F. R. Princípios de Economia: micro e macro. Curitiba, PR: Inter- saberes, 2012. 30
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