Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Guia para Tratamento de Feridas 4a edição Difusão Editora Marli Balan Guia para Tratamento de Feridas Editora: Michelle Fernandes Aranha Gerente de produção: Genilda Ferreira Murta Preparação e revisão: Isabel Lelis e Ana Carolina Lins Revisão técnica: Maria de Fátima Olivar Costa e Patrícia Rachel Dantas de Brito Projeto gráfico e capa: Marco Murta Editoração: Farol Editorial e Design Fotos: Acervo da autora Copyright © 2018 Difusão Editora. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo que parcial, por quaisquer meio e processo, sem a prévia autorização escrita da Difusão Editora. Difusão Editora Av. Senador Roberto Simonsen, 743 – Cj. 21/22 – Santo Antônio CEP 09530-401 – São Caetano do Sul – SP difusao@difusaoeditora.com.br – www.difusaoeditora.com.br Fone/fax: (11) 4227-9400 ISBN: 978-85-7808-456-1 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Balan, Marli Guia para tratamento de feridas [livro eletrônico] / Marli Balan. -- 4. ed. -- São Caetano do Sul, SP : Difusão Editora, 2019. 24.6 Mb ; PDF. Bibliografia. ISBN 978-85-7808-456-1 1. Feridas e ferimentos - Enfermagem 2. Feridas e ferimentos - Tratamento I. Título. 19-29637 CDD-617.14 Índices para catálogo sistemático: 1. Feridas e ferimentos : Enfermagem : Ciências médicas 617.14 Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014 Consultores Técnicos Adriana Cristina Magnani Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Gerência de Saúde do Adulto. Amélia Cristina Seidel Médica cirurgiã vascular. Doutora em Cirurgia e Experimentação pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ana Paula Agostinho Mexia Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde – Enfermagem. Ana Paula Vilcinski Oliva Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Anderson Rodrigo de Oliveira Farmacêutico. Especialista em Farmácia Hospitalar. 6 Guia para Tratamento de Feridas Cristyna Beatriz Aparecida Genovez Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Enfermagem Obstétrica e mestre em Enfermagem pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ediene Alison Borges Zequim Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Administração Hospitalar. Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde – Enfermagem. Edna Aparecida Ferreira Ribeiro Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Franna Vicente Gomes Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Administração de Enfermagem em Serviços Hospitalares. Lenir Fátima Camargo Farmacêutica. Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Márcia Arias Wingeter Médica infectologista. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). 7 Márcia Regina Jupi Guedes Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde – Enfermagem. Maria Cristiana Pereira Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde – Enfermagem. Maria de Fátima Olivar Costa Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Estomaterapia pela Universidade de São Paulo (USP). Maria Rocha de Oliveira Rissato Farmacêutica. Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP). Mariluci Pereira de Camargo Labegalini Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde – Enfermagem. Especialista em Administração Hospitalar. Patrícia Rachel Dantas de Brito Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Estomaterapia pela Universidade de São Paulo (USP). Priscila Aparecida Tencati Professora de Língua Portuguesa. Especialista em Língua Estrangeira – Práticas Reflexivas, Metodológicas e Tradutórias. Consultores Técnicos 8 Guia para Tratamento de Feridas Sandra Regina Bin Silva Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde – Enfermagem. Especialista em Didática e Metodologia de Ensino. Silvia Maria dos Santos Saalfeld Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde – Enfermagem. Solange Paim Avozani Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Suzei Helena Tardivo Barbosa Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Enfermagem em Centro Cirúrgico pela Universidade de São Paulo (USP). Tania Mara de Azambuja Bortolotto Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Viviani Guilherme Dourado Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Especialista em Enfermagem Obstétrica e mestre em Enfermagem pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sumário AGRADECIMENTOS .................................................13 PREFÁCIO ..................................................................15 INTRODUÇÃO ..........................................................17 CAPÍTULO 1 – TIPOS DE FERIDAS .........................19 1.1 Feridas agudas .................................................21 1.2 Feridas crônicas ..............................................26 CAPÍTULO 2 – TECIDO ENCONTRADO NO LEITO DA FERIDA .......................................33 2.1 Ferida com tecido de granulação ....................35 2.2 Ferida com presença de fibrina .......................37 2.3 Ferida com esfácelos (slough) ..........................38 2.4 Ferida com tecido necrótico ...........................40 2.5 Ferida com infecção .......................................43 2.6 Ferida com supergranulação ou granulação hipertrófica ...................................................44 2.7 Ferida com tecido de epitelização ...................44 10 Guia para Tratamento de Feridas CAPÍTULO 3 – AVALIAÇÃO DE FERIDAS ...............47 3.1 Avaliação geral ...............................................49 3.2 Avaliação da ferida .........................................50 3.3 Sinais e sintomas ............................................59 3.4 Considerações gerais .....................................62 CAPÍTULO 4 – TRATAMENTO .................................63 4.1 Tratamento da ferida com fechamento por primeira intenção. ..........................................65 4.2 Tratamento da ferida com fechamento por segunda e por terceira intenção .......................66 CAPÍTULO 5 – ORIENTAÇÕES ADICIONAIS PARA O TRATAMENTO DE LESÕES ESPECÍFICAS .....................73 5.1 Pé diabético ...................................................75 5.2 Úlcera vascular ...............................................76 5.3 Lesão por pressão ..........................................78 5.4 Lesão por queimadura ....................................79 CAPÍTULO 6 – PRODUTOS PARA TRATAMENTO DE FERIDAS .....................................83 6.1 Ácidos graxos essenciais (AGE) .......................85 6.2 Alginato de cálcio e sódio ...............................86 6.3 Carvão ativado e prata ...................................87 6.4 Enzimas proteolíticas (papaína) ......................87 11 6.5 Hidrocelular ..................................................88 6.6 Hidrocoloide .................................................89 6.7 Hidrofibra .....................................................90 6.8 Hidrogel ........................................................91 6.9 Hidropolímero ...............................................91 6.10 Membrana de celulose porosa .........................926.11 Pomadas enzimáticas .....................................93 6.12 Prata nanocristalina ........................................94 6.13 Produtos à base de poli-hexametileno biguanida (PHMB) ........................................95 6.14 Sulfadiazina de prata .....................................95 CAPÍTULO 7 – TERAPIA POR PRESSÃO NEGATIVA EM FERIDAS .................97 REFERÊNCIAS .......................................................... 105 APÊNDICE ...............................................................109 Sumário A Deus, ao único Deus, toda a glória. A meu esposo, Mario, e meus filhos, Deborah e Matheus, que tanto têm me incentivado em minha carreira profissional: amo vocês! À Superintendência do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), pela confiança em meu trabalho. À Diretoria de Enfermagem, pelo incentivo todo o tempo. A todas as colegas do Ambulatório de Especialidades, que sempre me apoiaram. À professora Ana Paula Vilcinski Oliva, que, de maneira ex- traordinária, me fez acreditar que realmente tudo daria certo. Aos pacientes que acreditaram nesta obra e colaboraram com ela, expondo aquilo que lhes era incômodo. A todos os que direta ou indiretamente contribuíram para a publicação deste livro. Agradecimentos Prefácio Com muito orgulho aceitei a agradável incumbência de prefaciar este livro, de autoria da colega, também especialis- ta em Estomaterapia, Marli Balan. Com conteúdo eminentemente prático e de fácil manu- seio, o Guia para tratamento de feridas envolve aspectos re- levantes do tema proposto, abordando desde a descrição dos tipos de feridas agudas e crônicas mais importantes do ponto de vista epidemiológico – como as feridas operatórias, com- plicadas ou não, traumáticas e as úlceras por pressão e de per- na, destacando-se as diabéticas, venosas e arteriais –, até sua avaliação e seu tratamento tópico, incluindo as tecnologias mais atualizadas. Com base na experiência clínica da Comissão Multipro- fissional de Tratamento de Feridas do Hospital Universitário Regional de Maringá, esta obra conta ainda com o suporte de alguns dos poucos livros-texto existentes no país sobre o assunto, bem como de professores da Universidade Estadual de Maringá, o que denota a fundamental e necessária par- ceria entre os profissionais dos organismos de assistência e os de ensino superior. O rico acervo fotográfico certamente constitui importante documento para a sistematização do 16 Guia para Tratamento de Feridas tratamento de feridas, não apenas regionalmente como tam- bém no âmbito do país, tão carente desse tipo de publicação. Desse modo, congratulo-me com os colegas, enfermeiros, médicos e farmacêuticos, pela iniciativa e pelo desejo que o Guia para tratamento de feridas seja um grande sucesso e apenas o início de outras publicações que contribuam, cada vez mais, para o desenvolvimento das evidências na prática de uma espe- cialidade interdisciplinar em ascensão e credibilidade como a Estomaterapia. Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos Enfermeira especialista em Estomaterapia Professora associada do Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) introdução O tratamento de feridas vem atravessando mudanças, tanto no que diz respeito aos princípios que o norteiam como no que se refere às técnicas e aos produtos dos quais se utiliza. Na Antiguidade, as feridas eram tratadas de forma empí- rica. Empregavam-se desde teia de aranha, mel e carne fresca até gema de ovo e outros produtos, com pouca fundamenta- ção científica. Da época de Hipócrates (460-377 a.C.) até a década de 1960 supunha-se que o leito da ferida deveria permanecer limpo e seco. Somente em 1962, com os estudos e experimen- tos do pesquisador britânico George Winter, verificou-se que uma ferida cicatrizaria duas vezes mais rapidamente se man- tida em meio úmido (DEALEY, 2014). Essa teoria revolucio- nou o tratamento de lesões, e vários estudos e pesquisas foram desenvolvidos para comprovar sua efetividade. No entanto, não é raro encontrar profissionais que, por falta de atualização, ainda baseiam sua prática diária em conceitos ultrapassados. A proposta de elaborar o Guia para tratamento de feri- das nasceu da experiência de profissionais envolvidos com clientes portadores de feridas, integrantes da Comissão Multiprofissional de Tratamento de Feridas do Hospital 18 Guia para Tratamento de Feridas Universitário Regional de Maringá, com o objetivo de tra- zer atualização e treinamento na área. Fundamentado em literatura recente sobre a avaliação de feridas, este guia é fonte de informação indispensável para professores, profissionais e estudantes das mais diversas áreas de Saúde. Hipócrates já afirmava que a cicatrização de uma ferida “é uma questão de tempo mas também de oportunidade”. É com base nessa premissa que esta obra não pretende esgotar o assunto, e sim servir de referência àqueles que se dedicam ao tema. 1Capítulo Tipos de Feridas As feridas devem ser classificadas em dois grupos: agudas e crônicas. O primeiro inclui as feridas cirúrgicas, traumáticas e as causadas por queimaduras. O segundo inclui úlceras por pressão e úlceras de membros inferiores, como as de origem vascular ou neuropática, decorrentes de doenças crônicas e de- generativas, como o diabetes. 1.1 FERIDAS AGUDAS 1.1.1 Ferida cirúrgica Em sua essência, são feridas intencionais e agudas que po- dem ter seu curso complicado por fatores adversos. Para que ocorra a reparação tissular, a ferida cirúrgica pode ser mantida aberta ou fechada (DEALEY, 2014). 1.1.2 Ferida traumática A ferida traumática é a “lesão tecidual, causada por agente vulnerante que, atuando sobre qualquer superfície corporal, de localização inter na ou externa, promove uma alteração na fisiologia tissular, com ou sem solução de continuidade do plano afetado”(MANTOVANI e FONTELLES, 2003). As lesões traumáticas variam de simples escoriações a lesões extensas com perdas do re vestimento cutâneo, associadas ou não 1. Tipos de Feridas 22 23Tipos de Feridas Figura 1.1 Ferida cirúrgica Figuras 1.2 e 1.3 Ferida traumática 24 25Tipos de Feridas às fraturas, que podem causar deformidades ou amputações. Po- dem ser ferimentos descolantes, fraturas expostas, feridas associa- das com esmagamento muscular, e outras (LIMA et al., 2017). 1.1.3 Lesão por queimadura São feridas agudas e traumáticas, decorrentes de agente tér- mico, químico, elétrico ou radioativa. Agem nos tecidos de revestimento do corpo humano, capazes de produzir calor ex- cessivo que danifica os tecidos corporais e acarreta a morte celular, causando destruição parcial ou total da pele e de seus anexos, podendo atingir as camadas mais profundas, como tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e osso. A lesão térmica pode se manifestar por meio de um flictena (bolha) ou em formas mais graves, causando alterações sistêmicas pro- porcionais à gravidade da lesão local. É importante ressaltar que o tecido lesado estará desvitalizado, o que favorece rápida colonização de bactérias patogênicas, portanto, a manipulação correta do doente é fundamental (BRASIL, 2012). Figura 1.4 Lesão por queimadura 26 Guia para Tratamento de Feridas Figura 1.5 Lesão por pressão 1.2 FERIDAS CRÔNICAS 1.2.1 Lesão por pressão Segundo National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) a lesão por pressão é uma área de dano tecidual localizada ge- ralmente sobre uma proeminência óssea ou relacionada ao uso de dispositivo médico ou a outro artefato, afeta a pele e/ou tecidos moles subjacentes. Deriva de intensa e/ou prolongada pressão associada ao cisalhamento. Pode apresentar dano pro- fundo mesmo que a pele esteja íntegra ou ainda como uma úlcera aberta (NPUAP, 2016). Para Dealey (2014), as localizações mais comuns das úlceras por pressão são: região sacra, nádegas, calcâneos, região trocan- térica,membros inferiores, tronco e membros superiores. 27Tipos de Feridas Figura 1.6 Úlcera venosa 28 Guia para Tratamento de Feridas 1.2.2 Úlcera de estase, venosa ou varicosa São lesões crônicas que ocorrem na parte inferior das pernas e nos pés pela presença de hipertensão venosa. Correspondem a aproximadamente 70% a 90% das úlceras de membros in- feriores e são mais frequentes em mulheres (DEALEY, 2006; MICHELETTI, 2003; SANTOS, 2002). No exame físico es- pecífico dos membros inferiores estarão presentes os seguintes achados clínicos: varizes, dermatite ocre, eczema, lipoderma- toesclerose, edemas e úlceras localizadas em proeminências ós- seas ou áreas suscetíveis a traumas. Os pulsos arteriais deverão estar preservados. Se existirem complicações, como infecção local ou flebite, o paciente poderá ter dor (DEALEY, 2014 e BORGES et al., 2017). 1.2.3 Úlcera arterial ou isquêmica São lesões crônicas que ocorrem na parte inferior das pernas e dos pés pela presença de insuficiência arterial. Acometem com mais frequência pacientes do sexo masculino e com mais de 50 anos (DEALEY, 2006; MICHELETTI, 2003). No exame fí- sico, somente será evidenciado edema de estase se o membro estiver na posição pendente; os pulsos pediais estarão diminuí- dos ou ausentes. Os pés ficam frios e pálidos quando elevados e vinhosos quando em declive, a pele se torna brilhante, tensa, há queda de pelos, e as unhas ficam grossas e opacas. Haverá queixas de claudicação intermitente e dor (DEALEY, 2006; HESS, 2002). As úlceras arteriais apresentam pouco exsudato, dificuldade de granulação, pouco sangramento à manipulação e demarcação de cor branco-rosada. Localizam-se em dedos, pés, calcâneos ou na região lateral da perna e podem apresentar necrose nas bordas (DEALEY, 2014; MOREIRA et al., 2016). 29Tipos de Feridas Figuras 1.7 e 1.8 Úlcera isquêmica 30 Guia para Tratamento de Feridas 1.2.4 Úlcera diabética O pé diabético é uma complicação comum em pacientes porta- dores de diabetes melito, que se origina de problemas em diversas áreas suscetíveis da doença, como nervos, pele, vasos e o siste- ma musculoesquelético ligamentar dos pés (KOZAC, 1996). As ulcerações no pé de pessoas diabéticas são erosões cutâneas com perda do epitélio, que se ampliam à derme e a tecidos mais profundos (BOWKER; PFEIFER, 2002). Estas causam problemas indesejados que acarretam perdas importantes para o paciente, alterando sua autoimagem, sua independência e gerando gastos tanto para quem é acometido quanto para os serviços de saúde, que poderiam ser evitados se houvesse pre- venção e educação (MICHELETTI, 2003). Essas lesões são desencadeadas por uma tríade de patologias bastante clássica que envolve neuropatia (autonômica, sensorial e/ou motora), doença vascular periférica e infecções (KOZAR, 1996). É im- portante ressaltar que de 15% a 20% dos portadores de úlce- ras plantares do tipo mal perfurante podem ter etiologia mista envolvendo a neuropatia e arteriopatia obstrutiva. De 15% a 20%, apenas insuficiência arterial isolada, e 60%, neuropatia periférica (LEE, 2013; SANTOS, 2015). 31Tipos de Feridas Figura 1.9 Úlcera diabética neuropática 32 Guia para Tratamento de Feridas Figura 1.10 Úlcera diabética 2Capítulo Tecido encontrado no leito da ferida 2. Tecido encontrado no leito da ferida O aspecto do tecido presente no leito da ferida reflete a fase de sua cicatrização bem como a ocorrência ou não de complicações. Portanto, é imprescindível que o profissional envolvido no tratamento tenha habilidade nessa avaliação. Quando apresentam mais de um tipo de tecido, as feridas são classificadas como “mistas” (DEALEY, 2014). 2.1 FERIDA COM TECIDO DE GRANULAÇÃO Caracteriza-se pela presença de tecido vermelho vivo, rica- mente vascularizado, com presença de substratos, como colá- geno e outras células responsáveis pela resposta de reparação tecidual. Apresenta sangramento com facilidade durante a manipulação (DEALEY, 2014). 36 Guia para Tratamento de Feridas Figuras 2.1 e 2.2 Tecido de granulação 37Tecido encontrado no leito da ferida 2.2 FERIDA COM PRESENÇA DE FIBRINA Caracteriza-se pela presença de pontos esbranquiçados so- bre o tecido de granulação. Nessa fase, a fibrina ainda viável mantém suas características de sustentação do tecido que está sendo formado. Desse modo, sua remoção deverá ser realizada sob avaliação criteriosa (DEALEY, 2014). É mais evidente em úlceras venosas crônicas. Figura 2.3 Fibrina viável 38 Guia para Tratamento de Feridas 2.3 FERIDA COM ESFÁCELOS (SLOUGH) Em geral, o esfácelo é descrito como uma membrana fibro- sa, que pode cobrir grandes áreas, composta pelo conjunto de células mortas acumuladas no exsudato que se adere ao leito da ferida. É considerado um tecido inviável e deve ser removi- do (DEALEY, 2014). Figura 2.4 Fibrina branca – viável 39 Figura 2.5 Ferida com esfácelo 40 Guia para Tratamento de Feridas 2.4 FERIDA COM TECIDO NECRÓTICO Presença de tecido desvitalizado que acomete total ou par- cialmente o leito da ferida. Pode se apresentar em forma de escara1 ou de crosta necrótica de cor preta ou marrom, ou ainda aparecer em forma de tecido espesso marrom, cinza ou esbran- quiçado. Feridas com necrose são mais extensas que aparentam. Por ser fonte de infecção e perpetuar esse processo, tal tecido deve ser totalmente removido para que a ferida volte a cicatrizar (DEALEY, 2014). 1. O termo “escara” refere-se ao tecido necrótico ressecado que cobre uma ferida, e não à lesão causada por falta de irrigação sanguínea local decorrente da pressão, sendo esta denominada internacionalmente “lesão por pressão” (YAMADA, 2003). Figura 2.6 Tecido necrótico 41Tecido encontrado no leito da ferida Figuras 2.7 e 2.8 Tecido necrótico 42 Guia para Tratamento de Feridas Figura 2.9 Tecido necrótico 43Tecido encontrado no leito da ferida 2.5 FERIDA COM INFECÇÃO Pode apresentar eritema ou vermelhidão em uma área res- trita da ferida ou ao seu redor. Apresenta celulite nos tecidos adjacentes (o que será mais difícil de notar se houver edema), além de exsudação purulenta e odor repugnante. Geralmente os pacientes manifestam elevação da temperatura axilar, taqui- cardia e inapetência (DEALEY, 2014). É importante lembrar que, em pacientes imunossuprimidos, esses sinais podem estar ausentes, ocorrendo apenas queixa de dor local (SAAR, 2001). Figura 2.10 Ferida infectada 44 Guia para Tratamento de Feridas 2.6 FERIDA COM SUPERGRANULAÇÃO OU GRANULAÇÃO HIPERTRÓFICA O tecido de granulação evidencia-se em relação ao restante da pele, impedindo que as células epiteliais presentes na camada basal se espalhem pela ferida para formação do novo epitélio. Isso prolonga o tempo de reparação tissular (DEALEY, 2014). O termo “hipergranulação” descreve o crescimento excessivo e exuberante do tecido de granulação durante a fase proliferativa do processo de cura. Por ir além das bordas da ferida, impede a correta epitelização da lesão e a entrada na fase de maturação (DINIZ, I. V. et al, 2013). 2.7 FERIDA COM TECIDO DE EPITELIZAÇÃO Presença de fino tecido epitelial, que recobre o tecido de gra- nulação, de cores branco-rosada ou rosa-azulada (DEALEY, 2014 e DINIZ et al., 2013). Figura 2.11 Ferida infectada 45Tecido encontrado no leito da ferida Figura 2.12 Ferida com supergranulação Figura 2.13 Ferida com tecido de epitelização 3Capítulo Avaliação de Feridas A avaliação é a primeira parte da gestão do cuidado de uma ferida. Nessa fase deve-se ter abordagem holística, na qual tanto o paciente quanto a ferida são examinados. Posteriormente é possível definir qual a melhor terapêutica. O enfermeiro tem papel fundamental no cuidado holístico, humanizado e de qualidade do paciente e, dentro do tratamento de feridas, exerce função de extrema importância, pois acompa- nha a progressão da lesão, orienta a equipe, executao curativo e faz intervenções preventivas e curativas. Traz a interação dos saberes e das práticas dos clientes com feridas ao conhecimen- to científico que norteia as ações da enfermagem (ESPIRITO SANTO et al., 2013; CHIBANTE, 2017). 3.1 AVALIAÇÃO GERAL Realizar anamnese, exame físico geral do paciente e solicitar exames diagnósticos relacionados à evolução da ferida – entre esses, radiografias em lesões agudas por traumas, lesão por pres- são ou úlcera plantar com possibilidade de lesão óssea –, exames laboratoriais – como albumina sérica, proteínas totais e frações, hemograma, glicemia, cultura e antibiograma do exsudato do leito da lesão, que não deverá ter presença de tecido necrótico – 3. Avaliação de Feridas 50 Guia para Tratamento de Feridas e realizar biópsia em úlceras com mais de 4 meses de duração ou com hipertrofia tecidual (SAAR; LIMA, 2001). 3.2 AVALIAÇÃO DA FERIDA 3.2.1 História da ferida Avaliar causa, tempo de evolução, presença ou não de in- fecção, intervenções realizadas, uso de medicações tópicas e reações alérgicas, bem como exames realizados. 3.2.2 Características 3.2.2.1 Tipos de reparação tissular É importante avaliar o grau de perda tissular da ferida. Quan- do houver perda superficial, acometendo epiderme e derme, o processo de reparação do tecido se dará por regeneração, ou seja, o tecido que será formado terá as mesmas estruturas e funções do tecido previamente perdido. No caso de perda além da derme, ocorrerá o processo de cicatrização, ou seja, o preenchimento do tecido e das estruturas perdidas por um tecido com a função ape- nas de revestimento e coesão, sem manter as características do original. Na reparação tecidual as células e citocinas do sistema imunológico são essenciais. Quanto mais tempo dura o processo inflamatório mais tempo leva a cura tecidual resultando na for- mação de tecido fibrótico (RUH et al., 2013). 3.2.2.2 Tipo de cicatrização A cicatrização por primeira intenção ocorre quando as bor- das da ferida são discretas, aproximadas e há perda pequena de tecido, ausência de infecção e edema mínimo. A cicatriz é mí- nima e o processo é mais rápido. Na cicatrização por segunda intenção, há perda excessiva de tecido. O processo de contração é que aproxima as bordas. Nesse caso, a cicatrização é mais lenta 51Avaliação de feridas e produz uma cicatriz significativa. Já a cicatrização por terceira intenção ocorre quando há fatores que retardam a cicatrização de uma lesão inicialmente submetida a um fechamento por primeira intenção. Essa situação ocorre quando uma incisão é deixada aberta para drenagem do exsudato, podendo ser, poste- riormente, fechada (RUH et al., 2013; DEALEY, 2014). 3.2.2.3 Fases da cicatrização Em ferida na qual a lesão tecidual acomete além da derme, o processo de cicatrização ocorrerá em três fases, conforme se segue: • Fase inflamatória: ocorre vasoconstrição, ativação de plaquetas que estimulam a cascata de coagulação desencadeando a formação de uma matriz de fibrina que permite a migração celular. Os neutrófilos são as primeiras células a infiltrar a lesão e, juntamente com os macrófagos destroem micro-organismos invasores e produzem fatores de crescimento que estimulam a angiogênese e a fibrinogênese. Esta fase tem a função de controlar o sangramento e efetuar a limpeza da ferida. Clinicamente, observam-se sangramento controlado, sinais inflamatórios (calor, rubor e edema) e perda da função local. Duração: de 3 a 6 dias (RUH et al., 2013 e DEALEY, 2014). • Fase proliferativa: O desenvolvimento de novos tecidos é marcado por proliferação e migração celular com o início de cobertura da lesão. Esta fase tem a função de preencher a ferida com tecido conjuntivo e cobertura epitelial. Clinicamente, observam-se tecido de granulação, uma fina camada epitelial e contração das bordas da ferida. Duração: de 6 dias a 3 semanas (RUH et al., 2013; DEALEY, 2014). • Fase de maturação: Fase de maturação: ocorre a remodelação do tecido de granulação em tecidos maduros com cicatriz. Esta fase tem a função de aumentar a força tênsil da cicatriz. Clinicamente, a 52 Guia para Tratamento de Feridas cicatriz, de rosada e alargada, torna-se mais pálida, endurecida e com aspecto fibrótico. Duração: de 3 semanas a 2 anos (RUH et al., 2013 e DEALEY, 2014). 3.2.2.4 Área da ferida Para avaliação da área da ferida pode-se lançar mão de técnica invasiva como o decalque ou traçado de acetato. A técnica consiste em desenhar as bordas da ferida em aceta- to estéril com caneta à prova d’água. Assim é possível que a mensuração seja feita manualmente ou através de pro- gramas computacionais. O processo de reprodução e am- pliação do decalque das feridas revelou-se preciso, quando associado a avaliação computadorizada com planimetria (EBERHARDT et al., 2015). Também se pode mensurá-la com uma fita graduada estéril, considerando a maior largura horizontal e o maior comprimen- to vertical, com formação de um ângulo de 90º entre os dois. O registro fotográfico também pode ser usado como téc- nicas não invasivas para mensuração da ferida. Neste caso as fotografias digitais devem ser inseridas em software específi- co ou algoritmo baseado nas diferenças de cor entre a ferida e a pele perilesional. O uso deste método promove o moni- toramento da cicatrização de maneira minuciosa sem causar desconforto físico ao paciente, e é um registro consistente de evolução da lesão. O profissional deve ser treinado para o procedimento. Deve-se padronizar a área a ser fotografa- da, para se obter o tamanho correspondente a lesão, cor e condições da pele ao redor. Deve ser feito de um ponto fixo, para que as alterações na cicatrização sejam evidenciadas (EBERHARDT et al., 2015). A avaliação deve ocorrer semanalmente ou sempre que apresentar mudanças bruscas. 53Avaliação de feridas 3.2.2.5 Profundidade da ferida A ferida deve ser graduada de acordo com a etiologia. Mensu- rar consiste em introduzir espátula ou seringa estéril, sem agu- lha, no ponto mais profundo da lesão, marcar em linha de 90º com a pele, retirar e medir (SAAR; LIMA, 2001). A profundi- dade da lesão por pressão deve ser avaliada conforme o sistema de classificação da NPUAP que inclui as seguintes definições: • Lesão por pressão estágio 1: pele íntegra com eritema que não embranquece. Pele íntegra com área localizada de erite- ma que não embranquece e que pode parecer diferente em pele de cor escura. Presença de eritema que embranquece ou mudanças na sensibilidade, temperatura ou consistên- cia (endurecimento) podem preceder as mudanças visuais. Mudanças na cor não incluem descoloração púrpura ou castanha; essas podem indicar dano tissular profundo. • Lesão por pressão estágio 2: perda da pele em sua espes- sura parcial com exposição da derme. Perda da pele em sua espessura parcial com exposição da derme. O leito da ferida é viável, de coloração rosa ou vermelha, úmido e pode também apresentar-se como uma bolha intacta (preenchida com exsudato seroso) ou rompida. O tecido adiposo e tecidos profundos não são visíveis. Tecido de granulação, esfacelo e escara não estão presentes. Essas lesões geralmente resultam de microclima inadequado e cisalhamento da pele na região da pélvis e no calcâneo. Esse estágio não deve ser usado para descrever as lesões de pele associadas à umidade, incluindo a dermatite asso- ciada à incontinência (DAI), a dermatite intertriginosa, a lesão de pele associada a adesivos médicos ou as feridas traumáticas (lesões por fricção, queimaduras, abrasões). • Lesão por pressão estágio 3: perda da pele em sua espes- sura total. Perda da pele em sua espessura total na qual a 54 Guia para Tratamento de Feridas gordura é visível e, frequentemente, tecido de granulação e epíbole (lesão com bordas enroladas) estão presentes. Esfacelo e/ou escara pode estar visível. A profundidade do dano tissular varia conforme a localização anatômica; áreas com adiposidadesignificativa podem desenvolver lesões profundas. Podem ocorrer descolamento e túneis. Não há exposição de fáscia, músculo, tendão, ligamento, cartilagem e/ou osso. Quando o esfacelo ou escara preju- dica a identificação da extensão da perda tissular, deve-se classificá-la como Lesão por Pressão Não Classificável. • Lesão por pressão estágio 4: perda da pele em sua es- pessura total e perda tissular. Perda da pele em sua es- pessura total e perda tissular com exposição ou palpação direta da fáscia, músculo, tendão, ligamento, cartilagem ou osso. Esfacelo e/ou escara pode estar visível. Epíbole (lesão com bordas enroladas), descolamento e/ou túneis ocorrem frequentemente. A profundidade varia conforme a locali- zação anatômica. Quando o esfacelo ou escara prejudica a identificação da extensão da perda tissular, deve-se classifi- cá-la como Lesão por pressão não classificável. • Lesão por pressão não classificável: perda da pele em sua espessura total e perda tissular não visível. Perda da pele em sua espessura total e perda tissular na qual a extensão do dano não pode ser confirmada porque está encoberta pelo esfacelo ou escara. Ao ser removido (esfa- celo ou escara), Lesão por Pressão em Estágio 3 ou Está- gio 4 ficará aparente. Escara estável (isto é, seca, aderente, sem eritema ou flutuação) em membro isquêmico ou no calcâneo não deve ser removida. • Lesão por pressão tissular profunda: descoloração vermelho escura, marrom ou púrpura, persistente e que não embranquece. Pele intacta ou não, com área localizada e persistente de descoloração vermelha escu- 55Avaliação de feridas ra, marrom ou púrpura que não embranquece ou sepa- ração epidérmica que mostra lesão com leito escurecido ou bolha com exsudato sanguinolento. Dor e mudança na temperatura frequentemente precedem as alterações de coloração da pele. A descoloração pode apresentar-se diferente em pessoas com pele de tonalidade mais escura. Essa lesão resulta de pressão intensa e/ou prolongada e de cisalhamento na interface osso-músculo. A ferida pode evoluir rapidamente e revelar a extensão atual da lesão tissular ou resolver sem perda tissular. Quando tecido ne- crótico, tecido subcutâneo, tecido de granulação, fáscia, músculo ou outras estruturas subjacentes estão visíveis, isso indica lesão por pressão com perda total de tecido (Lesão por Pressão Não Classificável ou Estágio 3 ou Es- tágio 4). Não se deve utilizar a categoria Lesão por Pres- são Tissular Profunda (LPTP) para descrever condições vasculares, traumáticas, neuropáticas ou dermatológicas. Definições adicionais: • Lesão por Pressão Relacionada a Dispositivo Médico: essa terminologia descreve a etiologia da lesão. A Lesão por Pressão Relacionada a Dispositivo Médico resulta do uso de dispositivos criados e aplicados para fins diagnós- ticos e terapêuticos. A lesão por pressão resultante geral- mente apresenta o padrão ou forma do dispositivo. Essa lesão deve ser categorizada usando o sistema de classifica- ção de lesões por pressão. • Lesão por Pressão em Membranas Mucosas: a lesão por pressão em membranas mucosas é encontrada quando há histórico de uso de dispositivos médicos no local do dano. Devido à anatomia do tecido, essas lesões não podem ser categorizadas (SOBEST & SOBENDE, 2016). 56 Guia para Tratamento de Feridas As queimaduras, por sua vez, seguirão classificação padro- nizada segundo a profundidade (BRASIL, 2012 e FRANCK et al., 2017): • Queimaduras superficiais ou de primeiro grau: lesão de epiderme, com preservação da camada basal, observando- -se pele avermelhada, seca e presença de dor. O suprimen- to sanguíneo local está íntegro. • Queimaduras de espessura parcial ou de segundo grau: acometimento da epiderme e derme, observando-se cor branca ou avermelhada, com presença de exsudato, que é intenso em lesões mais superficiais. Ocorre formação de bolhas. Já em lesões com acometimento mais profundo da derme, a lesão é mais firme e com menos exsudato, pela destruição dos vasos sanguíneos. Em ambos os casos há dor aguda, pela exposição das terminações nervosas. • Queimaduras de espessura total ou de terceiro grau: acometimento da epiderme, da derme, subcutâneo e de tecidos mais profundos. A lesão terá aparência dura e seca, pela coagulação de fluidos, com coloração preta, marrom- -escura, bronzeada, vermelha ou branca e ausência de dor, pela destruição das terminações nervosas. Outras úlceras seguirão a seguinte classificação (BRYANT; NIX, 2012; IRION, 2012): • Perda superficial de tecido: lesão de epiderme. • Perda parcial de tecido: lesão de epiderme e derme. • Perda total: atinge tecido subcutâneo e estruturas mais profundas. 57Avaliação de feridas 3.2.2.6 Leito da ferida Deve-se graduar o tamanho do tecido em porcentagem, como se segue (BRYANT; NIX, 2012): • Tecido viável: tecido de granulação, granulação hipertrófi- ca, epitelização ou com presença de fibrina viável (branca). • Tecido não viável: tecido necrótico, com esfácelos ou com infecção. 3.2.2.7 Exsudato no leito da ferida É frequente a presença de exsudato no leito da ferida na fase inflamatória; porém, na fase tardia, pode indicar infecção. Deve-se avaliar (BRYANT; NIX, 2012; IRION, 2012): • Volume: pequena (quando necessita apenas uma limpeza diária), média (quando há necessidade de duas trocas de curativo ao dia) ou grande quantidade (quando há neces- sidade de três trocas ou mais ao dia). • Odor: característico ou fétido. • Características: seroso, serossanguinolento, sanguinolen- to, purulento ou piossanguinolento. 3.2.2.8 Localização da ferida É preciso descrever sua localização de acordo com a área anatômica acometida (SANTOS, 2001). 3.2.2.9 Pele ao redor da ferida Deve-se observar a quantidade de melanina, determinar a satu- ração de hemoglobina, o fluxo sanguíneo local e a presença de le- sões, maceração, inflamação, hidratação, nutrição, calosidade ou hiperqueratose e induração. Alterações podem indicar diagnósti- co diferencial de doença vascular, reação inflamatória exacerbada e sinais de infecção. Se a pele circunvizinha não estiver saudável a cicatrização será retardada (IRION, 2012; DEALEY, 2014). 58 Guia para Tratamento de Feridas 3.2.2.10 Risco para infecção A ferida cirúrgica será caracterizada como limpa, potencialmen- te contaminada, contaminada ou infectada (DEALEY, 2014): • Limpa: não há penetração nos tratos urinário, respi- ratório ou gastrintestinal; feridas não traumáticas; sem processo inflamatório evidente; técnica cirúrgica corre- ta; princípios de antissepsia corretos. • Potencialmente contaminada: há penetração nos tratos urinário, respiratório ou gastrintestinal, sem contamina- ção significativa; feridas traumáticas; pequenas infrações da técnica cirúrgica; áreas de difícil antissepsia. • Contaminada: há contaminação dos tratos urinário, respiratório e gastrintestinal; feridas traumáticas com me- nos de 6 horas de evolução; ocorrência de processo infla- matório sem presença de pus; há transgressões da técnica cirúrgica; há infrações de antissepsia. • Infectada: há presença de pus; perfuração de vísceras; fe- ridas traumáticas com mais de 6 horas de evolução. As feridas crônicas serão consideradas colonizadas quando a microbiota da pele se mantiver em equilíbrio com o hospedeiro, sem danos. Se houver infecção, ocorrerá desequilíbrio entre a microbiota da pele e o hospedeiro. Culturas com resultado ≥105 unidades formadoras de colônias por grama de tecido serão con- sideradas infectadas. Na cultura simples sempre ocorrerá a pre- sença de bactérias. É necessário avaliar sinais clínicos de infecção local, como calor, rubor, edema e produção de exsudato puru- lento. Em caso de comprometimento sistêmico, os sinais clínicos serão acrescidos de hipertermia, taquicardia, inapetência, hipo- tensão arterial e até choque séptico (BORGES, 2008). 59Avaliação de feridas 3.3 SINAIS E SINTOMAS 3.3.1 Dor A intensidade da dor deverá ser avaliadae descrita pelo paciente conforme a escala a seguir (IRION, 2012): Figura 3.1 Intensidade de dor Fonte: Ramos et al. (2004). Na úlcera venosa, o episódio de dor ocorre pela distensão venosa, edema ou trombose. Na úlcera arterial, a dor acontece pelo sofrimento celular causado pela hipóxia tecidual. Por ou- tro lado, acometimentos neuropáticos são indolores. 3.3.2 Edema em membros inferiores O edema é uma ampliação de volume devido ao acúmulo de líquido no espaço intersticial em alguma parte do corpo, neste caso, nos membros inferiores (SELIGMAN, 2013). Deve-se graduar o edema dos membros inferiores em cruzes (IRION, 2012; TRAYES et al., 2013 UNIVERSIDADE FE- DERAL DO MARANHÃO, 2013): 60 Guia para Tratamento de Feridas Figura 3.2 Graduação de edemas Fonte: Irion (2012). • +1: A depressão é ligeira, sem distorção visível; desaparece rapidamente. • +2: A depressão é um pouco mais profunda, mas ainda não há distorção prontamente detectável; desaparece entre 10 e 15 segundos. • +3: A depressão é perceptivelmente profunda e pode du- rar mais de 1 minuto; a extremidade pendente parece mais cheia e inchada. • +4: A depressão é muito profunda; dura de 2 a 5 minutos, e a extremidade pendente está visivelmente distorcida. Em úlcera venosa, o edema localiza-se na região maleolar, e, na úlcera isquêmica, ocorrerá com estase apenas quando o membro estiver na posição pendente. 3.3.3 Pulsos em membros inferiores (PORTO, 1996) O exame deve ser realizado pela comparação de artérias homó- logas no tocante à presença ou à ausência de pulso e à amplitude da onda pulsátil e pela verificação do estado da parede vascular. 61Avaliação de feridas Para a avaliação dos pulsos, o paciente deverá estar na posição de- cúbito dorsal, e o avaliador permanecerá em pé, a seu lado. A téc- nica para a palpação será de acordo com o pulso a ser examinado: • Nas artérias femorais, as polpas dos dedos indicador, mé- dio e anular estarão sobre a região inguinal, e a mão, re- pousada na raiz da coxa. • Nas artérias poplíteas, a perna do paciente deverá estar semi- fletida, e o avaliador estará ao lado do pulso a ser avaliado. No caso do pulso direito, o avaliador segurará a perna com a mão esquerda e apoiará as polpas dos dedos indicador e médio no oco poplíteo à procura das pulsações da artéria, e os dedos restantes farão a pinça para preensão do membro. • As artérias tibiais posteriores serão palpadas por meio das polpas dos dedos indicador, médio e anular imediatamen- te atrás do maléolo interno. • As artérias pediosas serão palpadas no dorso do pé (para dentro do tendão tibial anterior) com as polpas dos dedos indicador, médio e anular. Os pulsos podem ser graduados em: 0 – ausência de pulso. +1 – pulso diminuído. +2 – pulso normal. Na úlcera venosa, o pulso pedioso estará presente; na úlcera isquêmica, o pulso pedioso poderá estar ausente ou diminuído. 3.3.4 Enchimento capilar Deverá ser avaliado para complementar o exame clínico do membro. É classificado em normal ou diminuído. Realiza-se pressão na polpa digital, que se tornará esbranquiçada. Em condições normais, sua coloração voltará em um segundo (ABBADE, 2014). 62 Guia para Tratamento de Feridas 3.3.5 Temperatura ao redor da ferida Também com a finalidade de complementar o exame clí- nico, a temperatura ao redor da ferida deverá ser classifica- da como normal, fria ou quente. Com as mãos desenluvadas, comparam-se áreas do mesmo membro ou do membro con- tralateral (IRION, 2012). 3.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS Na primeira avaliação: • realizar o exame clínico do paciente; • solicitar exames laboratoriais: hemograma, taxa de glicemia, proteínas totais e fração; cultura do leito da ferida; • avaliar as condições nutricionais, socioeconômicas e psicológicas do paciente. Em avaliações subsequentes: • realizar exame físico direcionado; • mensurar a área da ferida quinzenalmente ou antes, se perceber alterações importantes, ou em caso de alta; • sempre avaliar o leito da ferida, a pele ao redor dela, o exsudato, o edema e a dor; • realizar avaliação laboratorial periodicamente ou sempre que se suspeite de um desequilíbrio; • monitorar a evolução das condições nutricionais, socioeconômicas e psicológicas do paciente. 4Capítulo Tratamento O tratamento adequado de uma lesão de pele é de suma importância. A responsabilidade por instituir medidas preven- tivas e curativas recai sobre o médico e/ou enfermeiro. Nesse aspecto, é fundamental elaborar padronizações institucionais que direcionem a conduta dos diversos profissionais. 4.1 TRATAMENTO DA FERIDA COM FECHAMENTO POR PRIMEIRA INTENÇÃO O curativo padronizado nas primeiras 24 horas é aquele fei- to com gaze estéril e solução fisiológica 0,9% uma vez ao dia, ou mais, de acordo com a exsudação. Após as primeiras 24 horas, se houver exsudação, a incisão será mantida com curativo fechado. Quando esta se apresen- tar seca, poderá ser mantida aberta, e a higienização, efetuada durante o banho (DEALEY, 2014). A utilização de curativos autodesivos (como filme transpa- rente, hidrocoloide ou hidropolímero) sobre a sutura também é indicada e trará maior conforto. A retirada de pontos deverá ser realizada entre o sétimo e o oitavo dia, levando sempre em consideração as condições do processo de cicatrização (DEALEY, 2014). 4. Tratamento 66 Guia para Tratamento de Feridas 4.2 TRATAMENTO DA FERIDA COM FECHAMENTO POR SEGUNDA E POR TERCEIRA INTENÇÃO 4.2.1 Limpeza da ferida Retirar curativo, evitando lesionar o tecido recém-formado, e umedecer o material que porventura estiver aderido. Não utilizar produtos abrasivos, como a benzina, para remoção do curativo, a fim de evitar lesão de pele. Proceder à limpeza da ferida utilizando irrigação, com fras- co de soro fisiológico 0,9% perfurado com agulha de grosso calibre, de maneira exaustiva até a retirada do exsudato e dos restos celulares. A pressão do jato deve ser eficiente para o ob- jetivo proposto, sem, no entanto, provocar traumas ao leito da ferida. Deve-se remover com gaze as matérias orgânicas nocivas que ainda restarem (BORGES, 2001; BORGES et al., 2008). O soro fisiológico deverá ser aquecido (aproximadamente 37o) para evitar resfriamento da ferida (CARVALHO et al., 2017). Na presença de tecido de granulação, utiliza-se somente irrigação com solução salina, por causa da suscetibilidade a traumas apresentada por esse tecido. Em ambiente hospitalar, não realizar limpeza da ferida duran- te banho de aspersão, exceto na balneoterapia do queimado. 4.2.2 Ferida com tecido de granulação 4.2.2.1 Ferida superficial granulada com exsudação em pequena quantidade Deve-se manter o ambiente úmido. Tratamento instituído • Curativo hidrocoloide de média espessura, hidropolímero, hidrocelular, hidrogel, ácido graxo essencial ou membrana de celulose porosa. 67Tratamento 4.2.2.2 Ferida superficial granulada com exsudação em média a grande quantidade O objetivo será absorver excesso de exsudato e manter úmido. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) • Curativo de alginato de cálcio e sódio associado ou não ao ácido graxo essencial. 4.2.2.3 Ferida granulada com cavidade Deve-se absorver o exsudato, manter meio úmido e promo- ver o contato entre o curativo e todas as faces da ferida. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) • Curativo de alginato de cálcio e sódio, em forma de fita, associado ou não ao ácido graxo essencial. Observação: o hidrogel amorfo poderá ser utilizado para manutenção do meio úmido em feridas com exposição óssea ou tendinosa. 4.2.2.4 Ferida com supergranulação, exuberante tecido de granulação ou granulação hipertrófica O objetivo será o controle local da proliferação celular, vi- sando facilitar a migração de células epiteliais sobre o tecido de granulação por meio da redução da resposta inflamatória, bem como da eliminação de infecçãoou de alta carga bacte- riana, do excesso de umidade, da presença de corpo estranho e do atrito entre a cobertura e a face da ferida. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) 68 Guia para Tratamento de Feridas • Cauterização com bastão de nitrato de prata uma vez ao dia até regressão da hipertrofia celular, associado a gel de papaína a 10% e curativo compressivo. 4.2.3 Ferida com fibrina viável (branca) Devem ser seguidas as mesmas orientações que se aplicam à ferida granulada. Esse tecido deve ser removido apenas quando houver excesso, como ocorre nas úlceras de origem venosa. 4.2.4 Ferida com esfácelos (slough) 4.2.4.1 Ferida superficial ou cavitária, com esfácelo e exsudação em pequena quantidade O tratamento visará à remoção de esfácelos e à manutenção do meio úmido. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) • Gel de papaína a 10% ou colagenase. 4.2.4.2 Ferida superficial ou cavitária, com esfácelo e exsudação em média a grande quantidade Deve-se manter o meio úmido e absorver o exsudato. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) • Curativo de alginato de cálcio e sódio associado a desbridamento instrumental. 69Tratamento 4.2.5 Ferida com tecido necrótico 4.2.5.1 Coberta com escara necrótica dura O objetivo do tratamento é remover o tecido necrótico. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) • Crosta necrótica que começa a se soltar: desbridamento cirúrgico ou instrumental associado a curativo com gel de papaína a 10%. • Crosta dura, intacta e totalmente aderida: curativo fechado com gel de papaína a 10%. Observação: ao se liquefazer, o tecido necrótico exala odor fétido. Sempre que possível, deve-se efetuar desbridamento instrumental para acelerar o processo. 4.2.5.2 Ferida com tecido necrótico e exsudação O objetivo do tratamento é remover o tecido necrótico e a exsudação. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) • Ferida plana: placa de alginato de cálcio e sódio ou gel de papaína a 10% ou colagenase. • Ferida profunda: fita de alginato de cálcio e sódio ou gel de papaína a 10%. • Ferida com exsudação moderada: gel de papaína a 10% ou alginato de cálcio e sódio. • Ferida com odor fétido: curativo de carvão ativado e prata associado ou não a gel de papaína a 10%. 70 Guia para Tratamento de Feridas 4.2.6 Ferida infectada O tratamento sistêmico dependerá do agente causador da infecção. Tratamento instituído • Realizar limpeza da ferida com solução fisiológica e cole- tar material para cultura. • Na presença de necrose, recomenda-se coleta de material abaixo desse plano. • Na presença de escara necrótica, deve-se realizar desbrida- mento prévio. • Em feridas cavitárias, afastar suas bordas para coletar ma- terial de áreas profundas. • Na presença de bolhas, coletar material por punção e aspi- ração com seringa e agulha, sempre com antissepsia prévia da pele. O material deverá ser encaminhado ao laborató- rio em, no máximo, 30 minutos. Deve-se, então, instituir antibioticoterapia sistêmica conforme conduta médica. É contraindicada a utilização tópica de pomadas com anti- biótico (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVA- LHO et al., 2017). • Em feridas infectadas com odor repugnante, é indicado o uso do curativo de carvão ativado associado à prata. • Em presença de exsudação em grande quantidade, o algi- nato de cálcio e sódio deverá ter troca diária (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017). Também podem ser indicadas coberturas impregnadas com prata. 71Tratamento 4.2.7 Ferida com tecido de epitelização 4.2.7.1 Ferida epitelizada Proteger o frágil tecido epitelial. Tratamento instituído (BORGES et al., 2008; DEALEY, 2014; CARVALHO et al., 2017) • Curativo hidrocoloide de espessura fina. 4.2.8 Cuidados com a pele ao redor da ferida Deve-se atentar para a pele ao redor da lesão, pois ela tam- bém faz parte do processo de reparação tissular, podendo ser acometida pelas seguintes intercorrências (DEALEY, 2014): 4.2.8.1 Rompimento da pele causada por adesivos médicos • Em lesões extensas, deve-se aplicar filme transparente ou hidrocoloide de fina espessura antes de utilizar a fita adesiva. • Em pequenas escoriações, mudar o local de fixação do curativo e aplicar gaze com ácido graxo essencial ou hidrocoloide de fina espessura sobre a lesão. Observação: utilizar sempre fita menos agressiva à pele do paciente. O tipo de fixação do curativo deverá ser selecionado de acordo com a localização da ferida, podendo ser utiliza- do desde filme transparente e fitas cirúrgicas até faixa-crepe. O Uso de protetores cutâneos está indicado para prevenção (DOMANSKY; BORGES, 2014). 4.2.8.2 Alergias a fitas ou curativos • Dermatite alérgica: ocorre pelo contato com um agente que desencadeie reação alérgica. Nesse caso, deve-se trocar o tipo de fita adesiva ou curativo utilizado, substituindo-o por outro hipoalergênico. 72 Guia para Tratamento de Feridas • Dermatite de contato: ocorre pelo atrito constante entre a cobertura utilizada na ferida e na pele ao redor da lesão, o que leva à agressão cutânea. Será necessário realizar fixação adequada do produto, para evitar fricção. Em caso de impos- sibilidade, deve-se optar por coberturas autoadesivas do tipo hidrocoloide. O uso de corticoide tópico deve ser criterioso, pois interfere no processo de cicatrização. • Dermatite irritativa: ocorre por contato com exsudato da ferida no intervalo entre as trocas dos curativos. Deve-se utilizar curativos mais absorventes, como alginatos, hidropolí- meros ou hidrocelulares, ou aumentar a frequência das trocas. Observação: a pele ao redor da ferida deve ser mantida seca; se possível, não utilizar fita adesiva até a regressão do quadro. 4.2.8.3 Desidratação e descamação da pele Aplicar hidratante nas áreas descamativas e, em locais em que será necessária a permanência de adesivos, fazer compressa com soro fisiológico 0,9% por 5 minutos. Utilizar preferen- cialmente enfaixamento. 5Capítulo Orientações adicionais para o tratamento de lesões específicas 5.1 PÉ DIABÉTICO Os acometimentos do paciente portador de pé diabético en- globam complicações no sistema nervoso, ósseo, tendinoso e vascular. Essas lesões são provocadas por três patologias clássicas que envolvem a neuropatia (autonômica, sensorial e motora), a doença vascular periférica e infecções (IRION, 2012; FERREI- RA et al., 2014). 5.1.1 Isquêmico Será necessária uma avaliação do cirurgião vascular para se conhecer as reais condições da árvore arterial. Deve-se dar pre- ferência ao desbridamento enzimático ou instrumental, não agressivo, para remoção da escara necrótica, que é comum nesse caso. É importante também fazer controle rigoroso do diabetes melito (IRION, 2012). 5.1.2 Neuropático Avalia-se o grau de comprometimento sensitivo, motor e autonômico. Se há presença de tecido hiperqueratoso (calo- sidades) derivado da glicolisação do colágeno que prejudica a 5. Orientações Adicionais para o tratamento de lesões específicas 76 Guia para Tratamento de Feridas migração celular na epitelização, deve-se utilizar o desbrida- mento instrumental e agressivo (IRION, 2012). 5.1.2.1 Infectado Solicitar cultura da ferida para auxiliar a escolha da anti- bioticoterapia (IRION, 2012). • Com infecção em partes moles: antibioticoterapia via oral, repouso do pé e curativos conforme avaliação individualizada e desbridamentos, sempre que necessário. • Com infecção óssea: antibioticoterapia endovenosa, repouso do pé, ressecção da porção acometida, curativo conforme avaliação e desbridamento, sempre que necessário. • Com infecção sistêmica: antibioticoterapia endovenosa, repouso do pé, curativos conforme avaliação e desbridamento, sempre que necessário. 5.1.2.2 Não infectadoAplicar curativo na lesão visando manter o ambiente úmido, conforme tecido encontrado no leito da ferida, evi- tando contaminação. 5.2 ÚLCERA VASCULAR 5.2.1 Úlcera venosa O tratamento do paciente portador da úlcera venosa de- verá seguir estes princípios: melhoria do retorno venoso e tratamento da úlcera propriamente dita (ABBADE, 2014; DEALEY, 2014). 77Orientações Adicionais Para o tratamento de Lesões Específicas Para melhorar o retorno venoso, será necessário orientar a realização de exercício para ativar a bomba muscular da pan- turrilha e compressão graduada maior no tornozelo em relação à panturrilha, podendo-se utilizar bandagens ou meias elásti- cas que deverão ser aplicadas com o paciente deitado. Além dessas orientações, enfatiza-se a necessidade de elevação dos membros inferiores para que a gravidade auxilie o retorno ve- noso e diminua o edema. Para tanto, pode-se elevar os pés da cama até 15 cm em relação à cabeceira, sempre considerando se há patologias associadas que contraindiquem esse procedi- mento (ABBADE, 2014; DEALEY, 2014). Também será necessária a utilização de antibioticoterapia sis- têmica sempre que for identificado foco infeccioso, a limpeza adequada ao tipo de tecido e de exsudato encontrado no leito da lesão e o desbridamento, quando necessário. Deve-se efetuar a hidratação da pele ao redor da ferida, atentando para alergias, pois esses pacientes são mais suscetíveis a elas (DEALEY, 2014). Em úlceras de origem venosa, deve-se remover o excesso de fi- brina que se forma sobre a granulação. 5.2.2 Úlcera arterial O tratamento do paciente portador de úlcera arte- rial terá por objetivo diminuir os sintomas da isquemia e prevenir a perda do membro afetado. A perfusão teci- dual poderá melhorar com aquecimento dos membros, repouso com cabeceira elevada e realização de exercícios suaves. A remoção do tecido necrótico deverá ser realiza- da sob avaliação criteriosa. Todos os cuidados devem ser adotados para a prevenção de infecção local, pois, na sua ocor- rência, o tratamento será difícil. O tratamento tópico de escolha dependerá das características da ferida, podendo-se utilizar hi- drocoloides, hidrogel ou filme transparente (DEALEY, 2014). 78 Guia para Tratamento de Feridas Para profilaxia da úlcera arterial, deve-se orientar o paciente a aquecer os membros inferiores, evitando imersão em água quente, realizar inspeção diariamente dos pés, evitar traumas mecânicos e térmicos, usar calçados macios, fazer dieta ade- quada, realizar exercícios suaves e suspender o tabagismo. 5.2.3 Úlcera mista As úlceras mistas apresentam componentes arteriais e veno- sos, sendo necessária a definição do fator predisponente para intervenção adequada. Se o fator desencadeante for de origem venosa, durante o dia recomenda-se compressão moderada, mas, como à noite a elevação do membro provocará dor, deve-se retirar a compres- são. Se for de origem arterial, será indicado exercício em cur- tos períodos para a elevação dos membros, com a finalidade de prevenir formação de edema. Caso a cicatrização seja lenta, será necessária a avaliação do cirurgião vascular (DEALEY, 2014). 5.3 LESÃO POR PRESSÃO Para a prevenção deve-se avaliar o risco de desenvolvimento de lesão por pressão de todos os pacientes e, também, avaliar a pele para detectar a presença de lesões. É fundamental a reava- liação diária do potencial e do risco de desenvolvimento de le- sões por pressão e a inspeção da pele. Deve ser dada atenção es- pecial para áreas de risco (BOLTZ, 2012; NPUAP et al., 2014). A umidade da pele deve ser controlada mantendo o pa- ciente seco, limpo e com a pele hidratada (BOLTZ, 2012 e NPUAP et al., 2014). Deve-se otimizar a nutrição e a hi- dratação através de avaliação de pacientes com possível risco 79Orientações Adicionais Para o tratamento de Lesões Específicas de desenvolvimento de lesão por pressão (BOLTZ, 2012 e NPUAP et al., 2014). Na prevenção, a redistribuição da pressão deve ser a preocupa- ção principal, de maneira especial sobre as proeminências ósseas. O reposicionamento a cada 02 horas e a utilização de superfícies de redistribuição de pressão deverão estar no plano de cuidados destes pacientes (BOLTZ, 2012 e NPUAP et al., 2014). Para mobilização, deve-se utilizar lençol móvel, evitando arrastar o paciente. Quando em decúbito lateral, deverá per- manecer a 30o, permitindo, assim, melhor distribuição da pressão na região glútea. Em decúbito dorsal, o alívio da pres- são em calcâneo deverá ser feito com coxim na panturrilha, lembrando-se de apoiar os pés adequadamente, para evitar de- formidades (NPUAP et al., 2014). As cadeiras devem ter inclinação de até 10o para que o pa- ciente possa se mobilizar sozinho, quando possível. Se restrito à cadeira de rodas, o uso de almofadas especiais é indicado por, no máximo, 2 horas (NPUAP et al., 2014). A lesão por pressão acomete principalmente indivíduos aca- mados, elevando os custos e o tempo de internação e trazendo prejuízo tanto para o serviço de saúde como para o paciente (NPUAP et al., 2014). 5.4 LESÃO POR QUEIMADURA (DEALEY, 2014) São feridas causadas por calor excessivo que danificam basi- camente a pele, causando destruição dos tecidos e coagulação dos vasos sanguíneos da área afetada. A gravidade está direta- mente relacionada à profundidade. O tratamento desse tipo de ferida tem por objetivo preve- nir, detectar e controlar infecções, remover tecidos desvitaliza- dos, impedir o acúmulo de secreções, aliviar a dor e o estresse 80 Guia para Tratamento de Feridas psicológico, promover rápida cicatrização, favorecer cicatrizes esteticamente aceitáveis e evitar sequelas funcionais. Para o curativo, deve-se realizar limpeza exaustiva removendo resíduos que sejam prejudiciais à cicatrização. Para isso, deve-se retirar, de maneira não traumática, o curativo que já está no pa- ciente e encaminhá-lo ao banho de aspersão com temperatura próxima da corpórea, com duração de 20 a 30 minutos, no má- ximo, para evitar estresse metabólico. A seguir, realiza-se a lim- peza final com soro fisiológico 0,9% aquecido. Se houver tecido desvitalizado, o desbridamento deverá ser cirúrgico, autolítico ou enzimático. A seleção do método dependerá da aparência da queima- dura e da idade do paciente. Caso não seja necessário o des- bridamento, utiliza-se na primeira camada a sulfadiazina de prata a 1%, que deverá ser trocada uma vez ao dia. Quando a ferida já estiver granulada, recomenda-se o uso de gaze não aderente diretamente em contato com o leito da ferida, em movimento de vaivém. Não se deve enrolar a gaze ao redor do membro (para evitar ede- ma) nem garroteá-lo. A gaze só deverá ser trocada quando perder sua propriedade antiaderente. Deve-se cobrir a área com gaze tipo queijo e finalizar enfaixando com faixa-crepe. Quando a ferida estiver altamente exsudativa, poderá ser utilizada gaze algodoada entre as duas últimas camadas do curativo. Esses procedimentos deverão ocorrer até ser possível a realização de enxerto. Em queimadura de face e da região cervical e perineal, a lesão deverá ser mantida aberta. Deve-se aplicar sulfadiazina de prata a 1% a cada 8 horas. Para a prevenção de deformidades funcionais em face e pescoço, deve-se manter decúbito entre 30o e 45o, com coxim sob a escápula para proporcionar hiperextensão cervical. Quando houver lesão local, manter pavilhão auricular fora de contato com cama e lençol, conduto auditivo limpo e com 81Orientações Adicionais Para o tratamento de Lesões Específicas tampão, enxugar exsudato cuidadosamente, limpar pálpebras e globo ocular com soro fisiológico 0,9% e solicitar avaliação oftalmológica. Nas mãos, será necessário isolar os dedos para evi- tar que esses cicatrizem unidos. Deve-se manter a temperatura e a umidade do ambiente estáveis e evitar que os lençóis fiquem em contato com a área queimada, fazendo uso de protetores. O curativo deverá seguir altos padrões de assepsia, utilizandomateriais e utensílios estéreis: roupas de cama e banho, camisola aberta, compressas, LAP de queimado, cobertor, avental, luvas, utensílios para higiene e eliminações e espátulas. O paciente deve ser mantido em quarto privativo. Observações: elevar extremidades nas primeiras 48 a 72 horas para diminuir edema, observando possibilidade de gar- roteamento espontâneo, hipovolemia e choque hipovolêmico. Em queimaduras de regiões articulares, deve-se instituir fisio- terapia motora para prevenção de contraturas. Sempre avaliar o esquema de vacina antitetânica e implementar terapia nutri- cional adequada. 6Capítulo Produtos para Tratamento de Feridas 6.1 ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS (AGE) Composição: ácido linoleico, ácido cáprico, vitaminas A e E, lecitina de soja, associados ou não a lanolina. Ação: promovem quimiotaxia e angiogênese, mantêm o meio úmido e aceleram granulação. Indicação: úlceras por pressão, isquêmicas e diabéticas, deis- cências cirúrgicas, lesões com presença de granulação, lesões de pele com ou sem infecção, com desbridamento prévio, preven- ção de lesão por pressão. Uso • Limpar a lesão com soro fisiológico 0,9%. • Usar gaze de contato estéril. • Irrigar com AGE. • Aplicar curativo secundário estéril. • Fixar adequadamente. • Trocar diariamente. Observação: podem ser associados à cobertura com alginato de cálcio e sódio. 6. Produtos para Tratamento de Feridas 86 Guia para Tratamento de Feridas 6.2 ALGINATO DE CÁLCIO E SÓDIO Composição: derivado de algas marinhas marrons, com- posto pelos ácidos gulurômico e manurômico, ânions de cál- cio e sódio incorporado em suas fibras. Ação: os íons de sódio e de cálcio presentes no sangue e no exsudato interagem com os mesmos íons encontrados nos curativos, produzindo um gel que induz à hemostasia em 3 a 5 minutos. Auxilia no desbridamento autolítico, promove grande absorção do exsudato e mantém o meio úmido. Indicação: no tratamento de feridas sangrantes, feridas com exsudação de moderada quantidade, feridas com esfáce- lo, com ou sem infecção, planas ou cavitárias. Contraindicação: feridas secas, com pouca exsudação ou queimaduras. Uso • Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9%. • Aplicar diretamente no leito da ferida. • Cobrir com curativo secundário. • Realizar a troca quando o curativo secundário estiver saturado. Observação: se a ferida for plana, recomenda-se a utilização do produto com formato de placa. Se cavitária, preenchê-la com produto em forma de fita. 87Produtos para tratamento de feridas 6.3 CARVÃO ATIVADO E PRATA Composição: carvão ativado impregnado com prata (0,15%) e envolto em tecido de náilon poroso selado nas quatro bordas. Ação: tem capacidade de absorver o exsudato da ferida e re- ter micro-organismos em suas fibras (adsorção). A prata con- fere poder bactericida ao curativo. Indicação: feridas fétidas, infectadas ou com grande quan- tidade de exsudato. Contraindicação: feridas com exposição óssea e tendino- sa, necrose de coagulação, feridas limpas, queimaduras e em clientes que apresentem hipersensibilidade ao náilon. Uso • Limpar o leito da ferida com soro fisiológico 0,9%. • Aplicar o produto diretamente na ferida. • Cobrir com curativo secundário estéril. • Trocar a cobertura secundária sempre que estiver saturada. • Trocar o produto inicialmente em média de 48 a 72 horas. Observação: dependendo da quantidade de exsudato, a evolução da ferida pode permanecer até 7 dias. O invólucro não deve ser recortado, pois poderá provocar absorção local dos produtos. O produto poderá ser associado ao AGE. 6.4 ENZIMAS PROTEOLÍTICAS (PAPAÍNA) Composição: enzimas proteolíticas e peroxidases: papaína, quimiopapaína A e B e papaya peptidase em forma de gel a 10%. 88 Guia para Tratamento de Feridas Ação: atuam como desbridante químico, provocando pro- teólise. Têm ação bacteriostática, bactericida e anti-inflamatória; aumentam a força tênsil da cicatriz e diminuem a formação de queloides; efetuam desbridamento seletivo. Indicação: feridas com tecido necrótico ou infectado que necessitam de desbridamento. Em tecido necrótico, utilizar em concentração a 10%, e, em necrose de coagulação, deve-se efetuar primeiramente escaro- tomia e, posteriormente, a aplicação do produto. Uso • Limpar o leito da ferida com soro fisiológico 0,9%. • Aplicar o gel de papaína diretamente sobre a ferida. • Cobrir com gaze estéril. • Trocar de 12 a 24 horas. Observação: dependendo da extensão da lesão e do estado do paciente, instituir analgesia. 6.5 HIDROCELULAR Composição: camada de contato com a ferida não aderente; ca- mada central hidrocelular, macia e altamente absorvente; e camada de filme externa, que é à prova d’água e de bactérias. Ação: não aderente à ferida, é altamente absorvente, acelera a cicatrização pela manutenção do meio úmido e é à prova d’água e de bactérias. Indicação: prevenção e tratamento de feridas abertas não infectadas. Uso • Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9%. 89Produtos para tratamento de feridas • Secar a pele ao redor da ferida. • Escolher o hidrocelular com diâmetro que ultrapasse a borda da ferida em pelo menos 3 cm. • Aplicar o hidrocelular, segurando-o pelas bordas. • Pressionar firmemente as bordas do hidrocelular para que não fiquem enrugadas. • Datar o hidrocelular. • Trocar a cada 7 dias, ou antes, se houver saturação ou extravazamento do exsudato. 6.6 HIDROCOLOIDE Composição: composto de gelatina, pectina e carboxime- tilcelulose sódica, na camada interna, e de espuma de poliure- tano ou filme transparente, na camada externa. Ação: estimula a angiogênese e autólise e acelera o processo de granulação tecidual. Indicação: prevenção e tratamento de feridas abertas não infectadas. Uso • Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9%. • Secar a pele ao redor da ferida. • Escolher o hidrocoloide com diâmetro que ultrapasse a borda da ferida em pelo menos 3 cm. • Aplicá-lo, segurando-o pelas bordas. • Pressionar firmemente as bordas do hidrocoloide e massa- gear a placa para perfeita aderência. Se necessário, reforçar as bordas com micropore. • Datar o hidrocoloide. • Trocar a cada 7 dias, ou antes, se houver saturação ou extravazamento do exsudato. 90 Guia para Tratamento de Feridas Observação: é importante salientar que, com a absorção do exsudato, o gel formado na camada interna do curativo assu- me “aspecto purulento” e com odor desagradável. O cliente deverá ser informado a respeito dessa eventualidade. 6.7 HIDROFIBRA Composição: carboximetilcelulose sódica, hidrofibra e pra- ta iônica. Ação: a interação exsudato-curativo produz um gel que mantém o meio úmido. A hidrofibra controla o exsudato da ferida, reduz a sensação de dor e elimina micro-organismos retidos no produto. Indicação: queimaduras, áreas doadoras de enxerto, feridas infectadas com avaliação rigorosa. Contraindicação: feridas secas ou hipersensibilidade aos componentes do produto. Uso • Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9%. • Aplicar diretamente no leito da ferida. • Cobrir com curativo secundário. • Trocar o curativo secundário periodicamente para inspeção. Observação: ao interagir com a ferida, adquire a coloração do exsudato e enrijece. À medida que ocorre epitelização, o produto se descola das bordas e deve ser recortado. Para sua remoção, deve-se umedecê-lo com solução fisiológica. 91Produtos para tratamento de feridas 6.8 HIDROGEL Composição: gel amorfo composto por carboximetilcelu- lose (CMC), propilenoglicol e água. Ação: promove meio úmido e autólise. Preserva o tecido de granulação. Indicação: remoção de crostas e tecidos desvitalizados em fe- ridas abertas, feridas limpas com granulação, planas ou cavitárias. Uso • Limpar com soro fisiológico 0,9%. • Aplicar o gel no leito da ferida. • Cobrir com cobertura secundária estéril. • Trocar a cada 24 horas. 6.9 HIDROPOLÍMERO Composição: hidropolímero de alta densidade, revestido externamente por espuma de poliuretano.Ação: mantém a umidade, absorvendo e retendo o excesso de exsudato por meio de sua estrutura porosa, que se expande aderindo ao leito da ferida e evitando maceração. Indicação: feridas limpas, em fase de granulação, com mé- dia e pequena quantidades de exsudato. Contraindicação: feridas infectadas, com necrose e grande quantidade de exsudato, queimaduras de segundo e terceiro graus, em feridas tunelizadas e em caso de hipersensibilidade. Uso • Limpar a lesão com soro fisiológico 0,9%. 92 Guia para Tratamento de Feridas • Secar a área circundante. • Posicionar o curativo sobre o local da ferida e fixá-lo corretamente. • Aplicar talco nas bordas do curativo e vaselina sobre o curativo, para aumentar sua resistência. 6.10 MEMBRANA DE CELULOSE POROSA Composição: membranas constituídas de microfibrilas de celulose cristalina, sintetizadas em condições especiais via fer- mentação bacteriana e processadas para obtê-las como material desidratado, esterilizado em óxido de etileno e com porosida- de criada artificialmente, para permitir a remoção espontânea ou estimulada da secreção de lesões que exsudam. Ação: mantém contato direto com a lesão, ocorrendo dre- nagem do exsudato por meio dos poros ou ordenha. Mantém o meio úmido e alivia a dor. Orienta a epitelização quando a lesão se torna rasa, acelerando o processo de cicatrização. Indicação: tratamento de lesões resultantes da perda do epitélio, especialmente as com grande potencial de infecção, que sejam caracterizadas como ferimento superficial ou pro- fundo da pele, com exsudação abundante ou escassa. Uso • Proceder à limpeza da lesão. • Remover a membrana regeneradora porosa do envelope e estendê-la sobre a lesão, de forma a recobri-la e a deixar um excesso mínimo de 1 cm desde a sua borda. • Com o uso de pinça e gaze esterilizadas, assentar perfeita- mente a membrana regeneradora porosa sobre a região le- sada, pressionando suavemente a gaze sobre a membrana. 93Produtos para tratamento de feridas • Esperar de 3 a 4 minutos para que ocorra autoaderência da membrana à região periférica da lesão. • Colocar gaze esterilizada seca sobre a membrana aplicada, pressionando-a para manter a membrana em contato com o leito da lesão (faixas, ataduras compressivas, esparadra- po, micropore etc.), efetuando trocas de gaze sempre que estas percam sua capacidade de absorver o exsudato. 6.11 POMADAS ENZIMÁTICAS Composição: colagenase clostridiopeptidase A e enzimas protídicas. Ação: agem seletivamente, degradam o colágeno nativo da ferida com o objetivo de auxiliar no desbridamento da lesão. Indicação: desbridamento enzimático em feridas com teci- do desvitalizado. Uso • Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9%. • Aplicar 2 mm da pomada sobre a área a ser tratada. • Colocar gaze de contato úmida. • Ocluir com gaze de cobertura seca. • Fixar. • Trocar a cada 24 horas. Observação: os fatores de crescimento e os receptores de membrana celular importantes no processo cicatricial são de- gradados por estas. O antibiótico tópico, quando associado, pode induzir à resistência bacteriana e não tem efetividade no tratamento local. 94 Guia para Tratamento de Feridas 6.12 PRATA NANOCRISTALINA Composição: malha de polietileno de alta densidade recoberta com prata nanocristalina organizada em estrutu- ras colunares e uma camada de rayon e poliéster absorvente. As camadas são unidas por soldas ultrassônicas, uniforme- mente distribuídas pelo curativo. Ação: libera 30 vezes menos prata que outras apresen- tações, contudo o Ag+ liberado tem uma ampla superfí- cie de contato com o leito da ferida e maior ação biológica. A camada externa mantém a ferida úmida por ter propriedade absorvente e contínua liberação de Ag+, e, quando umedecida com água destilada, produz liberação de maneira homogênea. Indicação: barreira antimicrobiana sobre feridas com perda parcial e total de tecido. Uso • Retirar o curativo do invólucro, usando técnica asséptica. • Cortar no tamanho apropriado à ferida. • Irrigar a cobertura com água destilada (não utilizar solu- ção salina) e retirar o excesso de água da cobertura antes da aplicação. • Colocar o curativo com o lado azul volvido para o leito da ferida. Aplicar uma cobertura secundária apropriada, que dependerá da situação clínica. Observação: a troca do curativo depende do volume de ex- sudato presente e das condições da ferida. A solução salina pode inativar a prata antes do tempo. Existe a versão do pro- duto com alginato, para feridas mais secretantes. 95Produtos para tratamento de feridas 6.13 PRODUTOS À BASE DE POLI-HEXAMETILENO BIGUANIDA (PHMB) Composição: soluções de limpeza ou coberturas, de acordo com o fabricante. Ação: o PHMB é um antisséptico que age em bactérias gram-positivas e gram-negativas e em anaeróbios que geram odor. Favorece o domínio da carga de micro-organismos das feridas infectadas, pelo seu efeito bactericida, causando agre- gação microbiana por meio dos núcleos catiônicos de bigua- nida. Ademais, transforma a permeabilidade da membrana citoplasmática microbiana que induz à lesão de componentes básicos, resultando em morte celular. Indicação: limpeza ou cobertura da ferida. Uso • De acordo com a indicação do fabricante, pode ser usado para limpeza ou cobertura da ferida. 6.14 SULFADIAZINA DE PRATA Composição: sulfadiazina de prata a 1%. Ação: tem características bactericidas imediatas e bacterios- táticas residuais, pois provoca precipitação proteica e age dire- tamente na membrana citoplasmática bacteriana. Indicação: tratamento de queimaduras. Uso • Lavar a ferida com soro fisiológico 0,9%. • Remover o excesso de pomada e tecido desvitalizado. • Aplicar creme assepticamente por toda a lesão (5 mm de espessura). 96 Guia para Tratamento de Feridas • Colocar gaze de contato úmida. • Cobrir com cobertura secundária estéril. • Trocar a cada 12 horas. Quando a lesão for mantida aberta, a troca do curativo poderá ser necessária a cada 8 horas. Observação: a aplicação e a retirada do curativo poderão ser dolorosas. 7Capítulo Terapia por Pressão Negativa em Feridas Feridas complexas são difíceis de serem gerenciadas e a Te- rapia por Pressão negativa (TPN) tem se mostrado uma ótima opção terapêutica. TPN é uma técnica que utiliza a pressão negativa ou subatmosférica controlada diretamente sobre a le- são, trazendo efeitos positivos no microambiente do leito da ferida. O ambiente úmido é equilibrado o que promove a ci- catrização (SCHMIDT et al., 2017). O primeiro relato sobre o uso da pressão subatmosférica em feridas foi em 1966 por Mirazimov. Na década de 90, após diversas pesquisas, Argenta et al., na Universidade da Caroli- na do Norte, criaram o sistema denominado Vaccum Assisted Closure – VAC®, que foi comercializado pela KCI, e obte- ve aprovação do FDA em 1995 como método auxiliar para tratamento de feridas. Atualmente, em todo mundo, várias empresas têm desenvolvido sistemas de tratamento de feridas utilizando a pressão negativa. No Brasil, Kamamoto e Moraes patentearam, através da Agência de Inovação da Universidade de São Paulo, um sistema de tratamento de feridas que utili- za a pressão negativa (KAMAMOTO; CARVALHO, 2011; HUDSON et al., 2011). A indicação da TPN tem objetivos distintos, dentre eles cita-se a preparação do leito da ferida para enxertos e fecha- 7. Terapia Por Pressão Negativa em Feridas 100 Guia para Tratamento de Feridas mentos cirúrgicos ou ainda para promover a cicatrização por segunda intenção. Dentre as principais indicações, estão: • feridas complexas como a lesão por pressão • feridas traumáticas • feridas cirúrgicas e deiscentes • queimaduras • feridas necrotizantes, entre outras. Também está indicada para otimizar a integração do enxer- to ao leito e ainda nos casos de abdome aberto. Pode-se usá-la na prevenção de complicações em incisões fechadas. O uso desta terapia só pode ser iniciado na ausência de infecção e de tecido desvitalizado
Compartilhar