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teoria geral direito civil 01

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DIREITO CIVIL I:
TEORIA GERAL
Cássio Vinícius
Revisão técnica:
Gustavo da Silva Santanna
Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional 
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação 
e pós-graduação em Direito
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147
S725d Sousa, Cássio Vinícius Steiner de.
Direito civil I: teoria geral [recurso eletrônico ] / Cássio 
Vinícius Steiner de Sousa, Cinthia Louzada Ferreira 
Giacomelli; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – 
Porto Alegre: SAGAH, 2018.
ISBN 978-85-9502-444-1
1. Direito civil. I. Giacomelli, Cinthia Louzada Ferreira. 
II.Título.
CDU 347.1
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Dos atos jurídicos 
lícitos e ilícitos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Conceituar atos jurídicos lícitos e ilícitos.
  Apresentar as consequências dos atos ilícitos praticados.
  Explorar as súmulas e a jurisprudência das cortes superiores referentes 
aos atos ilícitos.
Introdução
Entre os atos que possuem consequências jurídicas, estão os atos lícitos 
e os ilícitos. Enquanto os atos lícitos — entre outras coisas — estão em 
conformidade com as previsões legais do ordenamento jurídico, os atos 
ilícitos se caracterizam justamente por estar em desconformidade com 
o Direito. Nesse contexto, se um ato ilícito é praticado, ele trará conse-
quências de ordem jurídica e de cunho obrigacional.
Tais consequências podem ser — a depender do ato — penais ou 
civis. Quando um ato gera consequências penais, trata-se de um caso de 
responsabilidade penal. Quando um ato gera consequências de ordem 
civil, trata-se de um caso de responsabilidade civil.
Neste capítulo, você vai ler sobre os atos jurídicos lícitos e os atos 
ilícitos, as consequências jurídicas dos atos ilícitos, bem como sobre a 
forma como tais temas são abordados na jurisprudência.
Conceito de ato lícito e ilícito
Em nossa linguagem, há uma série de palavras que só possuem signifi cado 
pelo fato de estarem intimamente ligadas umas com outras. Isto é, só podem 
ser defi nidas ou compreendidas quando comparadas ou contrastadas com 
outras palavras. Entre esse rol, encontramos não apenas conceitos como 
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verdadeiro e falso, certo e errado, como também os conceitos de ato lícito 
e ilícito. A explicação é relativamente simples. Se todo e qualquer ato fosse 
considerado lícito, o próprio conceito de licitude não desempenharia qual-
quer função em nossa linguagem, sendo um algo destituído de signifi cado 
(e vice-versa). 
Assim, o ponto de partida para compreender os conceitos de ato lícito e 
ilícito repousa sobre a ideia de que existem atos que possuem e atos que não 
possuem consequências jurídicas. Entre os atos que possuem consequências 
jurídicas, alguns deles são lícitos. Tais atos, cuja marca característica é 
estar em conformidade com a ordem jurídica vigente, subdividem-se em 
três categorias: 
  negócios jurídicos; 
  atos-fatos;
  atos jurídicos stricto sensu. 
Já os atos que possuem consequências jurídicas, mas que estão em des-
conformidade com o ordenamento jurídico, são chamados de atos ilícitos. 
A propósito dos atos lícitos e ilícitos, Caio Maria da Silva Pereira (2011, 
p. 547) afirma:
O ato lícito, pela sua submissão mesma à ordem constituída, não é ofensivo ao 
direito alheio; o ato ilícito, em decorrência da própria iliceidade que macula, 
é lesivo ao direito de outrem. Então, se o ato lícito é gerador de direitos ou 
de obrigações, conforme num ou noutro sentido se incline a manifestação 
de vontade, o ato ilícito é criador tão somente de deveres para o agente, em 
função da correlata obrigatoriedade da reparação, que se impõe àquele que, 
transgredindo a norma, causa dano a outrem. 
Assim, podemos inferir que — enquanto o ato lícito, por estar em confor-
midade com a lei, gera direitos ou obrigações —, o ato ilícito, por contrariar 
a lei, gera apenas deveres para o seu agente. 
Além das previsões relativas aos negócios jurídicos (que, conforme men-
cionado, também são atos jurídicos lícitos), o nosso Código Civil fala expli-
citamente do conceito dos atos lícitos no art. 185 (BRASIL, 2002, documento 
on-line): “Art. 185 Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, 
aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior”.
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Disso resulta que, via de regra, todos os atos jurídicos serão regulados pelos 
dispositivos referentes aos negócios jurídicos, salvo nos casos em que — por 
qualquer razão que seja — a aplicação for incabível.
A Figura 1 apresenta a organização dos atos jurídicos lícitos.
Figura 1. Organização dos atos jurídicos lícitos.
No contexto dos atos ilícitos, devemos atentar para o fato de que eles 
suscitam uma série de divergências de ordem doutrinária. A propósito, a 
grande questão é saber se os atos ilícitos fazem ou não parte da teoria dos 
fatos jurídicos. Nesse contexto, há aqueles que defendem que existem atos 
jurídicos ilícitos propriamente ditos e há aqueles que defendem que os atos 
ilícitos são essencialmente antijurídicos. 
Deixando a querela doutrinária de lado, o Código Civil dispõe sobre 
os atos ilícitos no art. 186 (BRASIL, 2002, documento on-line): “Art. 186 
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito”.
 Da leitura do art. 186, podemos extrair uma série de condições que devem 
acontecer para que um ato seja considerado ilícito. Quanto a elas, podemos 
separar pelo menos cinco condições necessárias para a caracterização da 
ilicitude de um ato:
Conduta — Tal condição consiste na ideia segundo a qual o ato ilícito depende 
de uma certa conduta voluntária causadora de consequências ou mesmo uma 
conduta cujo resultado deveria ser previsto pelo agente. Nesse contexto, é 
importante destacar que alguém pode cometer um ato ilícito tanto de modo 
comissivo (quando a sua ação acaba por transgredir o ordenamento jurídico) 
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ou omissivo (quando a transgressão surge da abstenção de uma certa ação). 
Além disso, as condutas realizadas de modo negligente, imprudente ou imperito 
também são causa de ilicitude. Quanto a isso, Caio Mário da Silva Pereira 
(2011, p. 548) afi rma que:
[...] procede por negligência se deixa de tomar os cuidados necessários a evitar 
um dano; age por imprudência ao abandonar as cautelas normais que deveria 
observar; atua por imperícia quando descumpre as regras a serem observadas 
na disciplina de qualquer arte ou ofício. 
Violação de direito — Além da conduta de um agente, o ato ilícito também 
tem como condição a violação de um direito. Isto é, a conduta do agente deve 
estar em descompasso com as prescrições previstas no ordenamento jurídico. 
Caso contrário, não seria possível atribuir a característica da ilicitude ao ato 
praticado pelo agente.
Imputabilidade — Tal característica vem para ressaltar a necessidade de 
que o resultado da conduta do agente seja atribuível à sua consciência. Isto é, 
não basta que o agente pratique uma conduta antijurídica para que o ato seja 
considerado ilícito, pois também deve haver uma espécie de intenção dolosa 
com o ato ou, em uma série de casos, pelo menos uma conduta culposa (como, 
por exemplo, em casos de imprudência).
Dano — Para que o ato ilícito seja caracterizado, não basta um agente 
infringindo conscientemente o ordenamento jurídico, pois, se sua conduta 
não acarretar qualquer dano juridicamente relevante, o ato em questão 
não passará de um ato não jurídico, sem qualquer implicação jurídica. 
Nesse contexto, é importante deixar claro que o dano pode ser inclusive 
apenas moral. 
Nexo de causalidade— Por fi m, é fundamental para a confi guração do ato 
ilícito que a conduta antijurídica do agente esteja essencialmente ligada ao 
dano por ele causado. Tal ligação, denotada pelo verbo “causar” no artigo em 
questão, é chamada de nexo de causalidade. Pois, como diz Carlos Roberto 
Gonçalves (2016, p. 381): “[...] se houver dano, mas sua causa não está rela-
cionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e 
também a obrigação de indenizar”.
A Figura 2 apresenta as condições para que um ato seja considerado ilícito.
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Figura 2. Condições para que um ato seja considerado ilícito.
Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 380) define os institutos do dolo e da culpa do 
seguinte modo:
Dolo é a violação deliberada, intencional, do dever jurídico. Consiste 
na vontade de cometer uma violação de direito, e a culpa, na falta de 
diligência. A culpa, com efeito, consiste na falta de diligência que se 
exige do homem médio. Para que a vítima obtenha a reparação do dano, 
exige o referido dispositivo legal que esta prove dolo ou culpa stricto 
sensu (aquiliana) do agente (imprudência, negligência ou imperícia). 
Consequências dos atos ilícitos
Em nosso ordenamento jurídico, o ato ilícito geralmente pode acarretar con-
sequências em duas esferas distintas: a esfera penal e a esfera civil. Nesse 
contexto, Silvio de Salvo Venosa (2013, p. 550) afi rma:
No campo penal, há série de condutas denominadas típicas, descritas na lei, 
que constituem nos crimes ou delitos. Quando alguém pratica alguma dessas 
condutas, insere-se na esfera penal. O ato ilícito no campo penal, portanto, 
é denominado crime ou delito. A terminologia ato ilícito é reservada, no 
sentido específico, para o campo civil, daí se falar em responsabilidade civil. 
Dessa forma, podemos inferir que um mesmo ato ilícito pode ser punível 
tanto no contexto penal (por exemplo, com penas restritivas ou privativas de 
liberdade) quanto gerar uma obrigação, por parte do agente, pelo dano por 
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ele causado. Quando estamos diante das consequências penais do ato ilícito, 
falamos de responsabilidade penal. Ao passo que, quando estamos diante das 
consequências civis do ato ilícito, falamos de responsabilidade civil. 
Responsabilidade penal — De modo abreviado, podemos afi rmar que a função 
básica da responsabilidade penal é punir o agente pelo ato ilícito cometido. Nesse 
contexto, a punição pode vir de diversas formas, como, por exemplo, a privação 
da liberdade do infrator, uma diminuição de seu patrimônio ou a restrição de 
alguma de suas faculdades. Além disso, entre outras coisas, a responsabilidade 
penal por ato ilícito é algo pessoal e intransferível. Isto é, via de regra, apenas o 
agente que cometeu o ilícito pode responder penalmente pelo ato.
Responsabilidade civil — Na base da ideia de responsabilidade civil, está a 
ideia de que a consequência imediata do ato ilícito é a obrigação de reparar 
o dano causado. Os arts. 927 a 954 do Código Civil dispõem sobre a respon-
sabilidade civil. Conforme o art. 927 (BRASIL, 2002, documento on-line):
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo.
 Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem.
A rigor, é possível que um ato ilícito também possa acarretar consequências na esfera 
administrativa, como, por exemplo, em casos de dano ao meio ambiente (TARTUCE, 
2016, p. 486).
É importante lembrar que, diferentemente da responsabilidade penal, 
cujo viés é punitivo, a responsabilidade civil tem por objetivo a reparação do 
dano. Nesse contexto, a doutrina geralmente aponta três características para 
a configuração da responsabilidade civil:
  conduta ilícita;
  dano;
  nexo de causalidade entre ambos.
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O Quadro 1 apresenta um comparativo entre a responsabilidade penal e 
a civil.
Fonte: Adaptado de Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 377).
Responsabilidade penal Responsabilidade civil 
O agente infringe uma norma penal 
de Direito Público. O interesse 
lesado é o da sociedade.
O interesse diretamente lesado é 
o privado. O prejudicado poderá 
pleitear ou não a reparação. Se, ao 
causar dano, transgredir também 
a lei penal, tornar-se-á, ao mesmo 
tempo, obrigado civil e penalmente. 
É pessoal, intransferível. 
Responde o réu com a privação 
de sua liberdade, em regra.
É patrimonial: é o patrimônio do 
devedor que responde por suas 
obrigações. Ninguém pode ser 
preso por dívida civil, exceto o 
devedor de pensão alimentícia 
do Direito de Família. 
É pessoal também em outro sentido: 
a pena não pode ultrapassar 
a pessoa do delinquente.
No cível, há várias hipóteses de 
responsabilidade por ato de outrem 
(p.ex., art. 932 do Código Civil).
A tipicidade é um de seus 
requisitos genéricos. 
Qualquer ação ou omissão pode 
acarretá-la, desde que viole direito 
e cause prejuízo a outrem (arts. 
186 e 927 do Código Civil). 
Embora a culpa civil e a culpa 
penal tenham os mesmos 
elementos, exige-se, para a 
condenação criminal, que tenha 
certo grau ou intensidade.
A culpa, ainda que levíssima, 
obriga a indenizar (in lege aquilia 
et levíssima culpa venit). 
Somente os maiores de 18 anos 
são responsáveis criminalmente.
O menor de 18 anos responde pelos 
prejuízos que causar, se as pessoas 
por ele responsáveis não dispuserem 
de meios suficientes (art. 928, caput 
e parágrafo único, do Código Civil).
Quadro 1. Comparativo entre a responsabilidade penal e a civil.
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http://p.ex/
Conforme a lição de Flávio Tartuce (2016, p. 483):
[...] a responsabilidade civil surge em face do descumprimento obriga-
cional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, 
ou por deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo 
que regula a vida. 
Dessa forma, podemos distinguir duas espécies de responsabilidade civil, a saber: a 
contratual e a extracontratual. No primeiro caso, temos a violação de algum ajuste 
estipulado em um contrato, ao passo que, no segundo caso, o ato ilícito está embasado 
na violação de alguma norma do ordenamento jurídico.
Súmulas e jurisprudência acerca 
dos atos lícitos e ilícitos
A jurisprudência de tribunais superiores acerca da questão dos atos lícitos 
e ilícitos é vasta e numerosa. Além disso, existe uma série de súmulas dos 
tribunais superiores acerca do assunto em questão. A seguir, apresentamos 
uma súmula importante do Superior Tribunal de Justiça (STJ), bem como três 
ementas de julgados de tribunais superiores:
SÚMULA 532 — Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de 
crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-
-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa administrativa 
(BRASIL, 2015, documento on-line).
No cerne da súmula, está a ideia segundo a qual a prática de enviar cartões 
de crédito sem o consentimento da outra parte é considerada um ato ilícito e 
que, em função disso, está sujeita à indenização e à multa administrativa. A 
propósito do ato lícito, segue ementa:
RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. SERVIÇO DE INTERNET. 
COBRANÇA DE PLANO EM VALOR DIVERSO DO CONTRATADO. 
DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. O autor afirma ter contratado 
serviço de internet móvel pelo valor de R$ 57,93. Porém, a ré emitiu fatu-
ras em valores diversos e superiores ao contratado. Em contestação, a ré 
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apresentou provas que desconstituíram odireito alegado pelo autor, afir-
mando que os valores tidos como excessivos pelo requerente correspondem 
à utilização do serviço além do plano contratado. Devido o pagamento 
ao réu. Pelo conjunto probatório, mormente pelas faturas às fls. 12, 16, e 
18, ficaram claros os períodos em que a autora ultrapassou os limites do 
plano contratado, ocasionando o aumento do valor da assinatura mensal. 
Comprovada a prática de ato lícito por parte da empresa ré, não há falar em 
dano moral. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso 
Cível Nº 71004540407, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, 
Relator: Fabio Vieira Heerdt, Julgado em 10/4/2014) (RIO GRANDE DO 
SUL, 2014, documento on-line).
O acórdão citado, relatado e julgado conforme o entendimento do Tribunal 
de Justiça do Rio Grande do Sul, trata do recurso inominado em uma ação 
movida contra uma empresa contratada para prestar serviços de internet. 
Conforme a ementa, o autor alegou que, a despeito do valor firmado em 
contrato, a empresa emitia faturas com valores superiores aos estipulados 
pelo contrato. Porém, conforme restou provado, tal prática não se tratava de 
um ato ilícito, pois o valor adicional era cobrado em função do excedente da 
franquia. De modo que, além de estar previsto em contrato, não viola as leis 
do nosso ordenamento jurídico.
A propósito dos atos ilícitos, seguem as seguintes ementas:
DANO MORAL. ABUSO DE DIREITO. NÃO OCORRÊNCIA. A indeni-
zação por dano moral decorrente do contrato de trabalho pressupõe um ato 
ilícito consubstanciado em erro de conduta ou abuso de direito praticado 
pelo ofensor, um prejuízo suportado pelo ofendido — com a subversão dos 
seus valores subjetivos da honra, dignidade, intimidade ou imagem — e um 
nexo de causalidade entre a conduta antijurídica do agente e o dano experi-
mentado pela vítima (artigos 186 c/c 927 do Código Civil). Não comprovada 
a prática de qualquer ato ilícito por parte do empregador, não há que se falar 
em indenização por danos morais. Recurso a que se nega provimento (RIO 
DE JANEIRO, 2014, documento on-line).
O acórdão citado, relatado e julgado conforme o entendimento do Tribunal 
Regional do Trabalho (TRT) de Roraima, trata de um pedido de indenização 
por dano moral. Podemos inferir da ementa que, para que se configurem o ato 
jurídico e a necessidade de indenizar, deve haver um liame entre o ato ilícito 
por um agente e um prejuízo suportado pela vítima. Além disso, devemos ter 
em mente que cumpre à vítima o ônus da prova acerca do cometimento do ato 
ilícito, bem como do dano que decorre dele. No caso em tela, não foi possível 
135Dos atos jurídicos lícitos e ilícitos
Direito_Civil_I_Book.indb 135 06/06/2018 10:09:35
comprovar a existência do ato ilícito alegado pela parte autora. Ainda sobre 
o tema, citamos a seguinte ementa:
APELAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CONTRATO DE COMPRA E VEN-
DA DE IMÓVEL. ENTREGA. ATRASO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. 
FIXAÇÃO. CRITÉRIOS. — A obrigação da construtora de pagar os aluguéis 
despendidos pela adquirente, a partir da expiração da data de entrega do imóvel, 
possui respaldo nos artigos 186 c/c 927 do Código Civil e a sua imposição não 
exige previsão contratual expressa. — É assente na jurisprudência o entendimento 
de que o injustificado e exagerado atraso na entrega do imóvel, como no caso 
dos autos, enseja abalos na esfera psíquica do comprador. — O arbitramento do 
dano moral deve ser realizado com moderação, em atenção à realidade da vida 
e às peculiaridades de cada caso, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte 
econômico das partes. Ademais, não se pode olvidar da necessidade de deses-
timular o ofensor a repetir o ato (MINAS GERAIS, 2014, documento on-line).
O acórdão citado, relatado e julgado conforme o entendimento do Tribunal de 
Justiça de Minas Gerais, trata de uma ação indenizatória. Conforme o exposto pela 
ementa, o atraso exagerado na entrega de um imóvel — por parte da construtora — 
constitui um ato ilícito que tem por consequência a necessidade de reparar o valor 
despendido com os aluguéis da outra parte. Nesse contexto, como a construtora 
atrasou a entrega, coube-lhe ressarcir o dano sofrido pela vítima da ilicitude. 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº. 532. Corte Especial, em 3 jun. 2015. 
Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-
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MINAS GERAIS. Poder Judiciário. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº. 
10145130199824001 MG, Relator Cláudia Maia. Julgado em: 20 fev. 2014. Disponí-
vel em: <https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/119377967/apelacao-civel-
-ac-10145130199824001-mg/inteiro-teor-119378015>. Acesso em: 23 maio 2018.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de direito civil. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
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nº. 00014553620125010063 RJ, Relator Claudia de Souza Gomes Freire. Data de Jul-
gamento: 5 ago. 2014. Disponível em: <https://trt-1.jusbrasil.com.br/jurispruden-
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Dos atos jurídicos lícitos e ilícitos136
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<https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/116028658/recurso-civel-71004540407-
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TARTUCE, F. Manual de Direito Civil. 6. ed. São Paulo: Método. 2016. 
VENOSA, S. S. Direito Civil. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
Leituras recomendadas
AMARAL, F. Direito Civil: introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
MIRANDA, F. C. P. Tratado de Direito Privado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
1974. Tomo 3. 
TARTUCE, F. Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Método. 2014.
VELOSO, Z. Invalidade do negócio jurídico. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
137Dos atos jurídicos lícitos e ilícitos
Direito_Civil_I_Book.indb 137 06/06/2018 10:09:35
https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/116028658/recurso-civel-71004540407-
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