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_______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 245 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade FARMACOGENÉTICA E FARMACOGENÔMICA: UM FUTURO EM MEIO A ATUALIDADE Pharmacogenetics and pharmacogenomics a future in the middle of nowadays Cíntia Rubert 1 Laura Moura Sestari 2 Gabriela Bonfinti Azzolin3 Resumo: As companhias farmacêuticas têm investido em pesquisas proteômicas, visando determinar a estrutura, expressão, atividade bioquímica, interações e funções de grande parte das proteínas para o desenvolvimento de fármacos com bases genéticas, dando a expectativa de que a medicina personalizada pode ser alcançada usando biomarcadores farmacogenômicos. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi descrever as aplicações atuais da farmacogenética e farmacogenômica através de uma revisão integrativa de literatura. Foram encontrados 3025 artigos através da utilização dos descritores. Destes, 2853 foram excluídos por não atenderem os critérios de inclusão e 161 foram excluídos por não contemplarem o objetivo da pesquisa, totalizando 10 artigos selecionados para compor a amostra. Os estudos selecionados evidenciaram que as diferenças genéticas e farmacogenéticas de cada indivíduo podem afetar o desempenho dos fármacos. Doenças como depressão, diabetes, epilepsia, artroplastia total do joelho ou toxicodependência podem ser beneficiadas pela farmacogenética e farmacogenômica devido aplicação personalizada a fim de melhorar a eficácia, segurança e diminuir efeitos adversos do tratamento medicamentoso. Palavras-chave: Ciência. Farmacêuticos. Biomédicos. Abstract: Pharmaceutical companies have begun to invest in proteomics research aimed at determining the structure, expression, biochemical activity, interactions and functions of most proteins for the development of genetically based drugs, giving the expectation that personalized medicine can be achieved using biomarkers pharmacogenomics. Therefore, the aim of the present study was to describe the current applications of pharmacogenetics and pharmacogenomics through an integrative literature review. 3025 articles were found using the descriptors. 2853 were excluded for not meeting the inclusion criteria and 161 were excluded for not being linked to the research objective, totaling a total of 11 articles selected to compose the sample. The selected studies showed that the genetic and pharmacogenetic differences of each individual can affect the performance of drugs. Diseases such as depression, diabetes, epilepsy, total knee arthroplasty or drug addiction can benefit of pharmacogenetics and pharmacogenomics due to its custom application that aims to improve efficacy, safety and reduce adverse effects of drug tratamemento. Keywords: Science. Pharmacists. Biomedical. 1 Discente do curso de Farmácia. Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: cintiarubert@hotmail.com 2 Discente do curso de Biomedicina. Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: laura_sestari@hotmail.com 3 Pesquisadora do Grupo GPAIS. Docente do Programa de Pós-graduação em Atenção Integral à Saúde da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: gbonfanti@unicruz.edu.br. _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 246 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Desde a conclusão do Projeto Genoma Humano (PGH) – de 1990 a 2003, uma revolução no campo da genética e posteriormente da biologia molecular se iniciou, sendo denominada como “Era Genômica” (FLORIA-SANTOS; NASCIMENTO, 2006). E apesar da finalização do PGH não ter atendido as expectativas propagadas na época, como a possibilidade de criar “superbebês” ou benefícios de ter um sequenciamento completo do genoma de câncer e até mesmo a cura de diversas doenças congênitas (GIIBS, 2020), durante os 13 anos de realização do projeto, a ciência relacionada à genética evoluiu consideravelmente com o avanço nas pesquisas biomédicas e farmacêuticas, além do desenvolvimento de tecnologias aprimoradas (GOES; OLIVEIRA, 2014). Esse desenvolvimento técnico permitiu um sequenciamento maciço de DNA juntamente com a compreensão da genética das doenças mendelianas e complexas. Também se compreendeu a extensão da variação humana (GONZAGA-JAUREGUI; LUPSKI; GIBBS, 2012), uma vez que, os genes não são uniformemente distribuídos pelos 24 cromossomos humanos e que a variabilidade de uma pessoa a outra se dá como polimorfismo de nucleotídeos e variações do número de cópias (MORAES; GÓES, 2016). Esta disponibilidade de informações provoca profundas modificações e implicações para os profissionais de saúde (FLORIA-SANTOS; NASCIMENTO, 2006) já que essa “Era genômica” consistiu para o crescimento da transcritômica, proteômica e metabolômica, traçando um paralelo com a hierarquia biológica dos processos de transcrição do DNA em RNA, síntese protéica ou tradução e síntese de pequenas moléculas ou processos metabólicos, respectivamente (DE HOOG; MANN, 2004). Com isso, as companhias farmacêuticas começaram a investir nas pesquisas proteômicas, visando determinar a estrutura, expressão, atividade bioquímica, interações e funções de grande parte das proteínas para o desenvolvimento de fármacos com bases genéticas e proporcionar a transformação da farmacogenética e farmacogenômica, dando a expectativa de que a medicina personalizada pode ser alcançada usando biomarcadores farmacogenômicos (SIM; INGELMAN- SUNDBERG, 2011; MALIEPAARD et al., 2020). Fundamentalmente, a farmacogenética estuda como a genética influencia os resultados do tratamento com determinados medicamentos, podendo ser considerada um exemplo clássico de interação gene-ambiente (genes isolados) (BISHOP, 2018). Essas investigações desejam medir um fenótipo imediatamente e depois do início de um tratamento medicamentoso, usando os testes farmacogenéticos para prever a dose individual do fármaco, prever a ausência de _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 247 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade resposta a um medicamento ou predizer indivíduos com risco de toxicidade a determinados fármacos (ANN, 2017). A farmacogenômica, por sua vez, é uma área de grande expansão e potencial que proporciona impactos a curto prazo na saúde humana pelo fato de estudar os efeitos de vários genes simultaneamente, juntamente com suas interações (LAVERTU et al., 2018), para então compreender a relação entre as variações genéticas de indivíduos de diferentes genótipos e suas reações medicamentosas (ZHANG et al., 2015). Ainda, torna-se possível estudar doençasespecíficas e seus fenótipos de resposta a drogas, a fim de se desenvolver um método mais preciso para o uso dos medicamentos e que assim, possam demonstrar benefícios clínicos substanciais e prevenir algumas das reações adversas a medicamentos (RAMs) (DALY; KING, 2003). Nesse contexto, devido a essa possibilidade de desenvolver fármacos conforme a variabilidade genética do indivíduo e de doenças determinadas, se tem como objetivo deste trabalho revisar a literatura a respeito das aplicações atuais da farmacogenética e farmacogenômica. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Tratou-se de um estudo de revisão integrativa da literatura realizado a partir da busca de artigos em três bases de dados: US National Library of Medicine/ National Institutes of Health (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico. Foram utilizados os descritores “Farmacogenética” e “Farmacogenômica”, retirados a partir do banco de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e combinados através do operador booleano “and”. A busca das publicações nas bases de dados ocorreu entre os meses de janeiro e abril de 2021 de forma simultânea e independente por 2 (dois) pesquisadores e compreendeu artigos publicados entre janeiro de 2017 a abril de 2021. A seleção destes se deu por meio da leitura dos títulos e resumos dos artigos, sendo que os critérios para a inclusão das publicações foram: artigos na íntegra, disponíveis eletronicamente, nos idiomas português, inglês e espanhol, com textos completos que abordavam assuntos referentes ao objetivo. Já os critérios de exclusão foram: revisões integrativas de literatura, teses, artigos repetidos. Os aspectos avaliados foram: objetivos, métodos e resultados. Estes foram analisados de forma descritiva através da construção de uma planilha. _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 248 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da combinação dos descritores utilizados, foram encontrados 3025 artigos nas bases de dados. Destes, 2854 foram excluídos da análise por não atenderem aos critérios de inclusão. Após a leitura dos demais artigos na íntegra, 161 foram excluídos por não contemplarem o objetivo da pesquisa, permanecendo 10 artigos para compor a revisão (Figura 1). Figura 1 - Fluxograma da seleção dos estudos desta revisão de literatura. Fonte: Autores (2021). Uma síntese dos principais resultados obtidos em cada estudo está demonstrada na Tabela 1. Primordialmente, observou-se que a maioria dos artigos incluídos neste estudo estavam no idioma inglês (72,72%, n=8). Em relação à caracterização dos estudos revisados, em sua maioria (90,90%, n=10), as pesquisas foram realizadas fora do Brasil, sendo que quatro (36,36%) caracterizaram-se como ensaios clínicos randomizados e duplo-cego e três como estudos observacionais (27,27%). Nos estudos, tanto a farmacogenética quanto a farmacogenômica foram utilizadas para descrever e expor suas aplicabilidades frente a diferentes enfermidades e seus tratamentos tradicionais. _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 249 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade Tabela 1 - Principais resultados obtidos nos estudos. Nº do estudo Autor, Ano e Local Objetivos do Estudo Tipo do Estudo Metodologia do Estudo Principais resultados do estudo 1 (OLIVARES, 2017) Facultades de Farmacia y Bioquímica, Medicina, Universidad Nacional Mayor Lima, Perú Avaliar a distribuição do polimorfismo Val / Met no gene OCT1 em amostras de Lima e Puno, e avaliar seu impacto na farmacogenética do DM2. Estudo descritivo, transversal. Foram selecionadas aleatoriamente amostras de DNA de 56 indivíduos de Puno e 57 de regiões de Lima e analisado o polimorfismo Val / Met no gene OCT1 utilizando a técnica de PCR-RFLP. - As frequências dos genótipo, em geral, foram Val / Val = 85,0% e Val / Met = 15,0%. - Frequência do alelo Val foi maior em 93%; alelo Met foi associado a uma menor resposta à metformina em Amantaní e Lima, e ausente em Taquile. - Frequência alélicas do gene OCT1 na população peruana diferem significativamente dos africanos, asiáticos e caucasianos e, apresenta semelhança com a América Latina 2 (NAIR, 2019) SRPA do Eric Williams Medical Sciences Complex - hospital de ensino terciário em Trinidad e Tobago Determinar a incidência de delirium do despertar em pacientes adultos submetidos à anestesia com sevoflurano como agente volátil e os prováveis fatores de risco associados à sua ocorrência. Estudo observacional prospectivo Pacientes adultos sem distúrbios neurológicos ou psiquiátricos foram submetidos à anestesia geral para procedimentos não neurológicos. A intensidade do delirium do despertar foi medida com a Escala de Triagem de Delirium em Enfermagem (Nursing Delirium Scale - NuDESC). - Incidência do delirium após anestesia com sevoflurano é multifatorial, dependendo da idade, cirurgia, número de tentativas de intubação, enquanto Fatores como sexo, uso de álcool e drogas ilícitas e especialidade cirúrgica não influenciaram a ocorrência de delirium do despertar. - Variações farmacogenéticas na CYP2E1 dos pacientes deve ser levado em conta quando for aplicada anestesia nos mesmos. 3 (QUINONES et al., 2017) Laboratorio de Carcinogénesis Química y Farmacogenética, Apresentar uma visão geral sobre a área e a possibilidade de utilizar e aplicar, na consulta clínica diária, ferramentas farmacogenéticas para melhorar a eficácia e Estudo observacional prospectivo Foram pesquisados biomarcadores genéticos (3435C> T, 2677G> T, MRPs, OATs, SCL, OCTs, entre outros) associados à suscetibilidade, diagnóstico, prognóstico de doenças neurológicas, cardíacas, oncológicas, reumáticas e psiquiátricas e a resposta aos tratamentos e avaliado como as - A pesquisa farmacogenômica busca prever a resposta do paciente à terapia medicamentosa e, posteriormente, adaptar a estratégia de dosagem - A limitação de informações sobre genes farmacogênomicos em populações latino-americanas, impede a extrapolação direta de estudos clínicos conduzidos em outros grupos _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 250 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade Departamento de Oncología Básico Clínica, Facultad de Medicina, Universidad de Chile. Santiago, Chile. segurança do tratamento medicamentoso. enzimas com suas principais variantes alélicas são clinicamente relevantes. étnicos, ficando claro que há necessidade de desenvolver mais e melhores estudos em tais povos. 4 (SYN et al., 2018) Three majortertiary hospitals in Southeast Asia Testar se um algoritmo de dosagem baseado em farmacogenética, que foi desenvolvido a partir de uma coorte asiática com diversidade racial, não é inferior à dosagem clínica tradicional de varfarina. Ensaio Clínico Randomizado 322 pacientes etnicamente diversos com indicação recente de varfarina tiveram acompanhamento clínico de 90 dias com medida de eficácia primária como o número de titulações de dose nas primeiras 2 semanas de terapia, com uma margem média de não inferioridade de 0,5 durante os primeiros 14 dias de terapia. - Grupo guiado por genótipo exigiu menos titulação de dose durante as primeiras 2 semanas. - Porcentagem de tempo de tratamento e a razão normalizada internacional estável (INR) não diferiu entre os grupos de dosagem guiada por genótipo e tradicional. - As proporções de pacientes que apresentaram sangramento menor ou maior, tromboembolismo venoso recorrente ou INR fora da faixa não diferiram entre os dois grupos 5 (ZHANG et al., 2019) Shanghai Center for Bioinformation Technology, Shanghai, China Avaliar a eficácia da doxazosina para o tratamento de transtorno do uso de cocaína (CUD) relacionada a um polimorfismo específico do gene DBH (C-1021T). Duplo-cego, randomizado e controlado por placebo 76 pacientes com diagnóstico de dependência de cocaína foram incluídos neste estudo farmacogenético de 12 semanas: 49 com níveis mais altos de DβH do genótipo DBH CC e 27 com níveis mais baixos de DβH de portadores do alelo T (CT ou TT). Os pacientes foram randomizados para doxazosina (8 mg / dia, N = 47) ou placebo, e seguidos com toxicologia urinária três vezes por semana e psicoterapia cognitivo-comportamental uma vez por semana - O uso de cocaína foi reduzido em uma taxa mais alta entre os pacientes no grupo doxazosina do que no grupo do placebo. - Taxa de uso de cocaína foi mais baixa entre pacientes portadores do alelo T (CT / TT) do que o genótipo CC. - Grupo CT/TT apresentou níveis baixos de DβH e NE, em comparação com nenhuma redução líquida no grupo do genótipo CC com níveis normais de DβH e NE. 6 (HAMILTON et al., 2020) Usar a farmacogenética para determinar a frequência de variantes genéticas em pacientes com artroplastia total do joelho (ATJ) que poderiam afetar os analgésicos pós- operatórios. Ensaio clínico controlado randomizado 31 pacientes com ATJ primária foram submetidos a testes farmacogenéticos que examinaram variantes genéticas no genes OPRM1 , CYP1A2 , CYP2B6 , CYP2C19 , CYP3A4 , CYP2C9 e CYP2D6. Foram randomizados em grupo controle (regime padrão para dor) e grupo de estudo (regime - 13 pacientes apresentaram variantes genéticas em um ou mais dos genes que afetam o metabolismo de nossas prescrições de dor padrão. - Oito pacientes tinham variantes que afetavam mais de um dos medicamentos. - Grupo controle registrou dor mais intensa e maior utilização de medicação e morfina em comparação com o grupo de estudo. _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 251 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade personalizado com base nos resultados farmacogenéticos). 7 (PÉREZR et al., 2017) Hospital Clínic de Barcelona, Espanha. Avaliar a eficácia do teste farmacogenético (PGx) para orientação de terapia medicamentosa em pacientes com transtorno depressivo maior (TDM) Ensaio clínico controlado randomizado multicêntrico, duplo-cego. 316 pacientes com CGI-S ≥ 4 e que requerem medicação antidepressiva de novo ou mudanças em seu regime de medicação foram recrutados em 18 hospitais públicos espanhóis, genotipados com um painel PGx comercial (Neuropharmagen®) e randomizados para tratamento guiado por PGx (n = 155 ) ou tratamento usual (TAU). - Grupo de tratamento guiado por PGx teve a maior taxa de resposta em comparação com TAU em 12 semanas. - O tratamento guiado por PGx resultou em melhora significativa da resposta do paciente com TDM em 12 semanas. - A carga de efeitos colaterais também foi significativamente reduzida. 8 (KOLLER et al., 2021). 20 centros clínicos independentes nos Estados Unidos Avaliar o efeito do tratamento guiado por farmacogenética em pacientes com diagnóstico de depressão e / ou ansiedade, em um conjunto diversificado de ambientes clínicos, em comparação com o padrão de atendimento Ensaio clínico randomizado e duplo cego. 685 participantes com idades entre 19 e 87 com diagnóstico de depressão e / ou ansiedade usando os critérios do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) ou procedimentos padrão do local de atendimento foram randomizados por doença e gravidade e alocados em uma proporção de 1: 1 para o grupo experimental (guiado pelo NeuroIDgenetix ®teste) ou grupo controle (padrão de atendimento). Para os testes moleculares foi avaliado as mudanças na gravidade dos sintomas de depressão e ansiedade - Em pacientes com diagnóstico de depressão, as taxas de resposta e as taxas de remissão foram significativamente maiores no grupo guiado por farmacogenética em comparação ao grupo de controle em 12 semanas. Além disso, os pacientes do grupo experimental com diagnóstico de ansiedade mostraram uma melhora significativa nas escalas de Avaliação de Hamilton para Ansiedade (HAM-A) em 8 e 12 semanas, juntamente com taxas de resposta mais altas. - Seleção de medicamentos guiada por farmacogenética melhora significativamente os resultados de pacientes com diagnóstico de depressão ou ansiedade em uma variedade de ambientes de saúde. 9 (GLAUSER et al., 2017) Comprehensive Epilepsy Center, Division of Neurology, Cincinnati Children's Hospital Medical Center, Determinar se polimorfismos comuns em CACNA1G, CACNA1H, CACNA1I e ABCB1 estão associados a resultados diferenciais de convulsão de curto prazo na epilepsia de ausência infantil (CAE). Estudo duplo- cego randomizado 446 crianças com CAE foram randomizadas com etossuximida, lamotrigina e valproato e tiveram o desfecho convulsivo de curto prazo determinado. Foram avaliadas associações entre polimorfismos em 4 genes e desfechos de convulsão. - 81% dos indivíduos apresentavam status informativo de convulsões de curto prazo - Indivíduos de etossuximida, 2 polimorfismos (CACNA1H rs61734410 / P640L, CACNA1I rs3747178) apareceram mais comumente entre participantes não livres de convulsões. - Indivíduos lamotrigina, 1 polimorfismo missense ABCB1 foi mais comum em participantes não livres de convulsões e 2 polimorfismos CACNA1H foram mais comum em participantes sem crises. Em indivíduos com valproato, _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 252 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade Cincinnati, Ohio, EUA e University of Cincinnati College of Medicine, Cincinnati, Ohio, EUA nenhum polimorfismo comum foi associado ao estado de convulsão. - A variação genética desempenha um papel na resposta diferencial ao medicamentoCAE. Biomarcadores da resposta ao medicamento podem agora ser integrados com biomarcadores não hereditários previamente identificados da resposta ao medicamento CAE para criar modelos de suporte de decisão. 10 (THASE et al., 2019) Perelman School of Medicine of the University of Pennsylvania and the Corporal Michael Crescenz VAMC, Philadelphia, Pennsylvania Avaliar a utilidade dos testes farmacogenômicos para melhorar os resultados entre pacientes com transtorno depressivo maior (TDM) que não responderam a pelo menos 1 teste de medicamento anterior. Ensaio clínico randomizado Participantes que tiveram uma resposta inadequada a pelo menos 1 medicamento psicotrópico no episódio atual de TDM. Os pacientes foram randomizados para o tratamento usual (TAU) ou o grupo de cuidado guiado, no qual os médicos tiveram acesso a um relatório de teste farmacogênomico combinatório para informar a seleção do medicamento. Os resultados foram avaliados usando a Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton: melhora dos sintomas, resposta e remissão - Houve melhora significativa para aqueles no grupo de tratamento guiado em comparação com TAU. - O teste farmacogênomico combinatório melhorou os resultados entre os pacientes com TDM que tiveram pelo menos uma falha prévia de medicação. _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 253 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade Os estudos avaliaram algumas aplicações atuais da farmacogenética e farmacogenômica, evidenciando como tais mecanismos podem ser utilizados para tratar e otimizar o manejo de doenças como diabetes, transtornos depressivos e ansiedade, epilepsia, artroplastia total do joelho (ATJ) e dependência a drogas. Também, retratam como diferenças entre polimorfismos e até mesmos questões raciais podem interferir na atuação de um determinado medicamento e como a farmacogenética e farmacogenômica atuam para combater tal obstáculo (OLIVARES, 2017; QUINONES et al., 2017; SYN et al., 2018; ZHNAG et al., 2019; HAMILTON et al., 2020; KOLLER et al., 2021). Assim, os principais resultados obtidos demonstram que diferenças no genótipo e nas frequências alélicas dos polimorfismos entre diferentes populações afeta expressivamente a tomada de decisões no tratamento de doenças, corroborando com outros estudos que retratam que o resultado do tratamento medicamentoso pode variar dentro de uma mesma população e afetar a resposta do fármaco, diminuindo ou não alcançando seu objetivo proposto, uma vez que tais polimorfismos genéticos podem alterar taxa de absorção, degradação, distribuição, interação fármaco-receptor, metabolização e excreção (SILVA, 2010; OLIVARES, 2017; RODEN et al., 2019). Segundo Moketla et al. (2018) e Quinones et al. (2017) a farmacogenética usada para prescrição farmacológica individualizada e precisa é ameaçada muitas vezes pela limitação de informações sobre genes farmacogenéticos em populações latina-americanas, africanas e asiáticas. As variações genéticas dos antecedentes e o desenvolvimento da miscigenação entre europeus, africanos e latino-americanos, contribuíram para a origem de populações heterogêneas, fazendo com que a atuação clínica da farmacogenética tornasse mais desafiadora devido a esses indivíduos sub representados (SUAREZ-KURTZ; ESTEBAN, 2018). Ainda, os estudos caracterizados como ensaios clínicos expuseram que os tratamentos advindos dos testes farmacogenéticos e farmacogenômicos - guiados por genótipo - apresentaram melhora significativa aos resultados dos pacientes, seja eles com diagnóstico de depressão, diabetes, epilepsia, ATJ ou dependência a drogas, com uma redução significativa dos efeitos colaterais. Neste âmbito, as pesquisas demonstraram que os testes farmacogenômicos são fundamentais na terapia medicamentosa, já que estudam as diferenças genéticas encontrados nos mais variados indivíduos, utilizando sua abordagem clínica para avaliar, de acordo com o perfil genéticos, os efeitos medicamentos, identificar genes que estejam relacionados com predisposição de doenças, modulação das respostas dos medicamentos, e também que afetam a farmacocinética ou farmacodinâmica deles, podendo ser _______________________________________________________________________________________ RevInt - Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão ISSN 2358-6036 – v. 9, 2021, p. 245-256. DOI: https://doi.org/10.33053/revint.v9i1.646 254 Farmacogenética e farmacogenômica: um futuro em meio a atualidade associados às suas reações adversas (SILVA et al., 2020; KOLLER et al., 2021; GLAUSER et al., 2017). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os achados deste estudo, os métodos farmacogenéticos e farmacogenômicos para a busca pela cura individual e o tratamento mais preciso para cada ser humano são promissores e já se apresentam como uma realidade atual. Todavia, a falta de impulso nesses ramos de estudo faz com que os mesmos pareçam estar em um futuro muito distante. Desse modo, há a necessidade de investimentos na área da pesquisa voltada para o ramo da Farmacogenética e da farmacogenômica, a fim de trazer essa realidade atual para o seu tempo real. REFERÊNCIAS ANN, K. Daly. Pharmacogenetics: a general review on progress to date, British Medical Bulletin, v. 124, n. 1, p. 65–79, 2017. BISHOP, J.R. Pharmacogenetics. Handb Clin Neurol, v. 147, p.59-73, 2018. 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