Buscar

Casamento



Continue navegando


Prévia do material em texto

Casamento
Prof. Gilberto Fachetti Silvestre
false
Descrição
Abordagem conceitual e prática dos requisitos mais importantes de
constituição de um casamento e de uma união estável.
Propósito
Essa é uma das principais matérias das quais resultam demandas
discutidas em ações judiciais, sendo, portanto, um assunto de grande
viés prático e operabilidade para o exercício das profissões jurídicas.
Preparação
Para iniciar os estudos deste assunto, tenha o Código Civil atualizado
em mãos.
Objetivos
Módulo 1
Capacidade, impedimentos e
causas suspensivas
Identificar as principais regras de constituição do casamento, assim
como as modalidades de impedimentos à sua constituição.
Módulo 2
Dissolução do vínculo conjugal
Analisar as consequências da dissolução do vínculo conjugal.
Módulo 3
União estável e sua dissolução
Reconhecer os elementos da união estável e sua dissolução.
Casamento e união estável são instituições da maior importância,
porque são entidades familiares e família constitui célula da
sociedade. Daí a importância de compreender em detalhes como é
a constituição do casamento e da união estável e quais as
características de cada um.
As consequências sociais e jurídicas que podem advir dessas
situações servem de campo fértil para o desenvolvimento
profissional. Paralelamente a isso, o casamento e a união estável
implicam uma consequência prática e alguns conceitos próprios e
peculiares, que permitem melhor compreender como funcionam
essas entidades familiares e como os problemas deles decorrentes
devem ser resolvidos.
Introdução
1 - Capacidade, impedimentos e causas
suspensivas
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de identi�car as principais
regras de constituição do casamento, assim como as modalidades de
impedimentos à sua constituição.
Conceito de casamento
Casamento
Assim, vamos apresentar conceitos e demonstrar como eles se
aplicam para a solução de problemas que resultam da constituição
do casamento e da união estável.
Para isso, primeiro será mostrado um panorama dos elementos
essenciais caracterizadores do casamento e da união estável. Na
sequência, será abordada a dissolução por não atendimento a tais
requisitos essenciais. Por fim, será apresentado o regime jurídico
dos elementos essenciais do casamento e da união estável, de
modo a resumir e sistematizar as principais regras sobre a matéria.

Neste vídeo, o professor reflete sobre o que é o casamento e seus
requisitos fundamentais. Confira!
Noções gerais sobre os requisitos
do casamento
O casamento é o ato jurídico caracterizado pelo vínculo jurídico entre
duas pessoas com a intenção de constituir uma família (affectio
familiae).
Antes da ADI nº 4277 e da ADPF nº 132, julgadas pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) em 2011, e da Resolução nº 175/2013 do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), o casamento era restrito somente à união
entre homem e mulher.
Shutterstock.com
Shutterstock.com
Com as decisões do STF e a resolução do CNJ,
passou-se a admitir a celebração do casamento civil
entre pessoas do mesmo sexo.
Para casar, porém, é preciso preencher uma série de requisitos formais,
dos quais os mais importantes são:

Capacidade para casar

Não haver impedimentos

Não haver causas suspensivas.
Vamos analisar cada um dos requisitos formais separadamente.
Capacidade núbil
Regramento geral da capacidade
para casar
A capacidade para casar, também chamada de capacidade núbil, é a
aptidão da pessoa para poder casar, ou seja, a pessoa tem o
discernimento necessário para a prática do ato.
Tem a ver, portanto, com o preenchimento de condições subjetivas do
interessado em se casar, que revelem sua habilidade para compreender
a importância do ato que pratica.
Essa capacidade é a de fato ou de exercício, que pode ser limitada ao
longo da vida da pessoa. A capacidade de direito ou de gozo é a mesma
durante toda a vida da pessoa. Assim, quando falamos em capacidade
para casar, estamos nos referindo à capacidade de fato, que consiste na
possibilidade de a própria pessoa exercer seus direitos na vida civil, sem
a necessidade de um assistente ou um representante.
Aquele que não possui a capacidade casamentária é, portanto, incapaz
para o casamento (incapacidade absoluta e relativa).
Sendo o casamento um ato jurídico, a ele se aplicam as causas de
incapacidade previstas no art. 3º e no caput do art. 4º do Código Civil.
São incapazes absolutamente para o
casamento os menores de 16 anos.
São incapazes relativamente para o casamento:
1. Os ébrios habituais (alcoólicos) e os viciados em tóxico
(narcóticos).
2. Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade.
3. Os pródigos.
Pródigo
É a pessoa que gasta imoderadamente seu dinheiro e seus bens,
comprometendo o seu patrimônio.
Atenção!
No caso dos relativamente incapazes (ébrios habituais, dos viciados em
tóxico, dos impossibilitados de exprimir sua vontade e dos pródigos),
não basta que a pessoa seja acometida dessas causas de
incapacidade. É preciso que a pessoa seja interditada, ou seja, que um
juiz declare o sujeito que apresenta aquelas condições como sendo
relativamente incapaz.
Ninguém maior de 18 anos é incapaz só porque é viciado em álcool ou
tóxico, é pródigo ou está impossibilitado de manifestar vontade. É
preciso uma declaração judicial de que aquela pessoa é relativamente
incapaz, que é obtida na chamada ação de curatela de interditos. Nessa
ação, é nomeado o curador, o qual é uma pessoa responsável em ser o
assistente do interditado-incapaz.
Logo, se alguém estiver interditado, não poderá casar-se sem
autorização do seu curador. Se o fizer, o casamento será nulo.
E quanto à hipótese do inciso I do caput do art. 4º do
Código Civil, pela qual os maiores de dezesseis e
menores de dezoito anos são relativamente incapazes?
Nesse caso, excepcionalmente, o caput do art. 1.517 do Código Civil
admite o casamento de pessoas que tenham entre 16 e 18 anos:
Por esse motivo, diz-se que a idade núbil, no
Brasil, é aos 16 anos.
Mas o fato de uma pessoa entre 16 e 18 anos ter a capacidade para se
casar não significa que é dispensada a autorização de seus
responsáveis (ou responsável, se houver somente um). Assim, pais e
tutor (caso a pessoa esteja submetida à tutela) precisam autorizar o
casamento para que este tenha validade.
Saiba mais
Essa autorização dos responsáveis poderá ser revogada até a data da
celebração do casamento (art. 1.518).
No caso da pessoa que tem pai e mãe ou dois tutores, havendo
divergência entre ambos, é possível que a divergência seja levada até o
Judiciário para que um juiz analise se a recusa tem justa causa
(parágrafo único do art. 1.631). Não havendo justa causa na recusa em
autorizar o casamento do filho ou da filha, ou tutelado e tutelada, o juiz
dará o consentimento (art. 1.519).
A pessoa entre 16 e 18 anos, ao se casar, será automaticamente
emancipada (inciso II do parágrafo único do art. 5º do Código Civil). Isso
significa que, mesmo menor de 18 anos, passará a ser plenamente
capaz, ou seja, sua capacidade plena é adiantada e ela poderá exercer
todos os atos da vida civil sem a necessidade de um assistente.
Antes da Lei nº 13.811/2019, que alterou a redação do art. 1.520,
admitia-se, excepcionalmente, o casamento de quem não havia atingido
a idade núbil (16 anos). Era a chamada antecipação da idade núbil. A
hipótese excepcional era gravidez. Agora, com a nova redação do art.
1.520, não é permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não
atingiu a idade núbil.
Capacidade para casar frente ao
Estatuto e à Lei de Inclusão da PCD
Uma questão que se coloca, agora, diz respeito à Lei nº 13.146/2015 –
Estatuto da Pessoa com Deficiência ou Lei de Inclusão da Pessoa com
Deficiência. Essa lei modificou a redação do art. 3º e no caput do art. 4º
do Código Civil, eliminando as deficiências mentais como causas de
incapacidade absoluta ou relativa.
Pelo art. 84 do Estatuto, a pessoacom deficiência tem assegurado o
direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições
com as demais pessoas. Ou seja, a pessoa com deficiência
mental/intelectual tem capacidade plena.
Dependendo do grau de deficiência mental, a pessoa pode ser
submetida a uma curatela especial (§ 1º do art. 84). Porém, de acordo
com o art. 85, tal curatela afetará tão somente os atos relacionados aos
direitos de natureza patrimonial e negocial e não alcança o direito ao
próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação,
à saúde, ao trabalho e ao voto. Logo, ninguém poderá ser interditado (e
declarado incapaz) por causa de deficiência mental/intelectual. Uma
pessoa nessa condição não é incapaz.
Daí vem a pergunta: a pessoa com deficiência
mental/intelectual maior de 18 anos pode casar-se
sem a autorização de algum responsável?
De acordo com o § 1º do art. 1.550, a pessoa com deficiência mental ou
intelectual em idade núbil poderá contrair matrimônio, expressando sua
vontade perante o Oficial do Registro diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador. Assim, em regra e a princípio, ninguém pode se
opor ao casamento de uma pessoa com deficiência mental ou
intelectual.
Não há idade núbil máxima, ou seja, a pessoa, desde que plenamente
capaz, poderá se casar em qualquer idade. Há, porém, uma restrição: se
um dos nubentes for maior de 70 anos, o regime de bens do casamento
será, obrigatoriamente, a separação de bens (inciso II do art. 1.641).
Essa é, portanto, a única restrição para o casamento quanto a fatores
etários, além da necessidade de autorização para o caso dos maiores
de 16 anos e menores de 18 anos. Dessa maneira, após a Lei nº
13.811/2019, só existe uma hipótese de incapacidade absoluta para o
casamento: a menoridade de 16 anos.
Impedimentos para casar
Proibições matrimoniais previstas
em lei
São proibições que a lei impõe para que certas pessoas não se casem e,
caso se unam, tal união não seja considerada nem casamento, nem
união estável. Essas proibições estão previstas no art. 1.521 do Código
Civil em um rol taxativo (numerus clausus). Seu objetivo é preservar
valores morais da sociedade e evitar problemas genéticos e de saúde de
uma possível prole.
As causas de impedimentos são as seguintes:
Avós, pais, filhos, netos, bisnetos... não podem se casar entre si.
Ascendência e descendência constituem o parentesco na linha
reta, caracterizado pela progenitura. Essa restrição atinge tanto o
parentesco natural quanto o civil. Parentesco natural é o
biológico, ou seja, consanguíneo; e o parentesco civil é o que
resulta da adoção, cujo vínculo é afetivo, e não genético.
Cada cônjuge é coligado aos parentes do outro pelo vínculo da
afinidade, ou seja, o cônjuge torna-se parente (por afinidade) dos
parentes do outro cônjuge. Há o parentesco por afinidade em
linha reta (ascendentes e descendentes) e o parentesco por
afinidade em linha colateral (irmãos).
Ocorre que, com o fim do casamento, somente o parentesco por
afinidade em linha colateral é extinto. Nesse caso, o ex-marido
pode se casar com a ex-cunhada. Tal situação, porém, não
ocorre no caso do parentesco por afinidade em linha reta,
conforme prescreve o § 2º do art. 1.595 do Código Civil, pelo
qual, na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução
do casamento ou da união estável. Por isso, não existe ex-sogra,
ex-sogro, ex-enteado, ex-madrasta etc. O vínculo será perpétuo,
independentemente de novos casamentos. Desse modo, essa
proibição consiste em impedir que pessoas se casem com
enteados, sogros, avós do ex-cônjuge, netos do ex-cônjuge etc.
Aquele que é adotado se torna descendente do adotante e
parente na linha reta e na linha colateral de todos os parentes do
adotante. Não há (e nem pode haver) qualquer diferença de
Ascendentes com os descendentes 
Afins em linha reta 
Adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado
com quem o foi do adotante 
tratamento entre um parente consanguíneo e um parente civil
(adotado).
Veja um exemplo: João foi casado com Maria e já se divorciou.
Pedro foi casado com Ana e já se divorciou. João adota Pedro
como filho. É como se Ana se tornasse nora de João e Maria se
tornasse madrasta de Pedro por afinidade.
Irmãos bilaterais são os que descendem do mesmo pai e mesma
mãe e também são chamados de irmãos germanos. Irmãos
unilaterais são os que possuem em comum somente o pai ou
somente a mãe.
Parentes em linha colateral ou transversal são as pessoas
provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra.
Esse parentesco vai somente até o quarto grau, ou seja, somente
até os primos, os filhos de sobrinhos, os tios de tios etc. (Por
exemplo: o filho de um primo seu não é seu parente para fins
legais).
São parentes colaterais: irmãos, tios, sobrinhos e primos.
Irmãos são proibidos de se casar. Já os demais parentes
colaterais, a proibição alcança os tios (3º grau). A partir do 4º
grau não há restrição.
Assim, a princípio, tios e sobrinhos não podem se casar. Mas o
Decreto-Lei nº 3.200/1941 admite o chamado casamento
avuncular, ou seja, o matrimônio entre colaterais de 3º grau (tio-
sobrinho). O entendimento predominante é o de que o Decreto-
Lei nº 3.200/1941 não foi revogado pelo Código Civil; ao
contrário, aplica-se para interpretar o inciso IV do art. 1.521 do
Código Civil. A partir disso, a proibição de casamento entre tios e
sobrinhos pode ser afastada desde que preenchidos dois
requisitos:
não trazer riscos à saúde do casal e de sua prole eventual;
e
ter autorização judicial.
Irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o
terceiro grau, inclusive 
Adotado com o filho do adotante 
Como o adotado se torna, indistintamente, parente dos parentes
do adotante, o filho do adotante se torna irmão do adotado.
Logo, não poderão se casar, porque irmãos não podem se casar.
Trata-se da chamada bigamia, ou, no caso de mais de dois
casamentos, de poligamia. Então, quem já é casado não pode se
casar novamente enquanto não dissolvido o casamento anterior
(por divórcio, por viuvez ou por anulação).
A bigamia é tipificada como crime no caput do art. 235 do
Código Penal: “Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena – reclusão, de dois a seis anos”. “Outrossim, aquele que,
não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada,
conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou
detenção, de um a três anos” (§ 1º do art. 235).
Há, ainda, uma última causa de impedimento, resultante de
crime. Não pode se casar o cônjuge sobrevivente com o
condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte (inciso VII do art. 1.521).
Ainda sobre os impedimentos, observe!
Os impedimentos
devem ser opostos
Antes da celebração do
casamento, com o fim
de evitar que o ato se
concretize. Trata-se da
oposição de
impedimentos.
Os impedimentos
podem ser opostos
Até o momento da
celebração do
casamento, por
qualquer pessoa capaz.
Pessoas casadas 
Resultante de crime 

No caso do juiz e do oficial de registro, se eles tiverem conhecimento da
existência de algum impedimento, são obrigados a declará-lo de ofício,
ou seja, independentemente da manifestação de outra pessoa.
Descoberta uma causa de impedimento posteriormente à celebração do
casamento, deve ser proposta uma ação de nulidade do casamento, que
o declarará nulo e, com isso, dissolvido (inciso II do art. 1.548 do Código
Civil). De acordo com o art. 1.549, a ação de nulidade de casamento
pode ser proposta por qualquer interessado ou pelo Ministério Público.
Causas de suspensão do
casamento
Circunstâncias suspensivas do
casamento
São hipóteses previstas no art. 1.523 do Código Civil que não impedem
a celebração do casamento, mas levam à aplicação de sanções aos
nubentes que as descumprem. As causas que levam à aplicação das
sanções são situações patrimoniais confusas que não foram
desembaraçadas pelos nubentes antes do casamento. As sançõessão:

Obrigatoriedade do regime de
separação total de bens (inciso I do
art. 1.641 do Código Civil)

Suspensão da celebração do
casamento (art. 1.524)
Observe que entre as sanções não se encontra a invalidade do
casamento (nulidade e anulabilidade). Assim, casando-se os que não
devem se casar, de acordo com o art. 1.523, o casamento não será
dissolvido. Automaticamente, o regime de bens será a separação total e
será desconsiderado qualquer outro regime de bens escolhido.
Até resolver as pendências patrimoniais, não devem se casar:
1. Pessoas viúvas que tiverem filho do cônjuge falecido, enquanto
não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros.
2. A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter
sido anulado, até 10 meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal.
3. Pessoas divorciadas, enquanto não houver sido homologada ou
decidida a partilha dos bens do casal.
4. O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada,
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem
saldadas as respectivas contas.
Acompanhe as explicações a seguir para compreender melhor as
hipóteses apresentadas:
As hipóteses 1 e 3 existem para evitar confusão patrimonial que
prejudique a identificação do patrimônio a ser inventariado e
partilhado. Impedindo, assim, que o patrimônio do novo cônjuge
possa influenciar, de algum modo, na partilha a ser realizada.
A hipótese 2 tem por objetivo evitar a confusão de sangue, pois
antes do prazo de 10 meses poderia haver a possibilidade de a
viúva estar grávida do marido morto.
A hipótese 4 pretende evitar artimanhas por parte do tutor e do
curador para burlar responsabilidade quanto à prestação de
contas.
Comprovado que não haverá prejuízo a herdeiros e filhos, o juiz poderá
afastar as causas 1, 3 e 4. Na causa 2, basta a comprovação da
inexistência de gravidez.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa correta:
A
O curador não pode se casar com o curatelado após
cessar a curatela.
B
A viúva que tiver filho do cônjuge falecido terá seu
novo casamento nulo, se celebrado antes da
Parabéns! A alternativa D está correta.
Trata-se da hipótese do inciso II do art. 1.523, cujo objetivo é evitar
a confusão de sangue e a dúvida de paternidade entre o antigo
marido e o atual.
Questão 2
Maria, aos 17 anos, recebeu autorização de seus pais para se casar
com Pedro, de 21 anos. Os pais doaram um apartamento como
presente ao casal. Semanas após o casamento, o casal decide
vender o apartamento para adquirir outro imóvel. Nesse caso, a
venda do imóvel por Maria e Pedro é
realização do inventário dos bens e da partilha aos
herdeiros.
C
O divorciado que se casar antes de homologada ou
decidida a partilha dos bens do casal, deverá adotar
o regime de separação parcial de bens.
D
A viúva não deve se casar até dez meses depois do
começo da viuvez.
E
Pessoas já casadas podem se casar novamente se
estiverem separadas de fato.
A nula, pois Maria é menor de 18 anos.
B
anulável, pois os pais de Maria não deram a
autorização escrita.
C plenamente válida.
D ineficaz, até Maria completar 18 anos.
Parabéns! A alternativa C está correta.
O casamento é uma causa de emancipação (inciso II do parágrafo
único do art. 5º do Código Civil). Com isso, a pessoa entre 16 e 18
anos que casa deixa de ser relativamente incapaz e antecipa sua
capacidade civil plena. Sendo capaz, Maria pode praticar livremente
os atos da vida civil independentemente de autorização de quem
quer que seja. Assim, a venda é válida porque tanto Pedro quanto
Maria têm plena capacidade de praticar o ato conjuntamente.
2 - Dissolução do vínculo conjugal
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de analisar as
consequências da dissolução do vínculo conjugal.
Conceito de dissolução do
vínculo
Base conceitual da dissolução do
E
válida, pois a autorização de Pedro supre a
incapacidade relativa de Maria.
vínculo conjugal
A dissolução do vínculo conjugal é a extinção do casamento (sociedade
conjugal). São fatores que fazem com que a sociedade conjugal deixe
de existir.
Atenção!
É importante não confundir extinção da sociedade conjugal (fim do
casamento) com a suspensão da sociedade conjugal, ou seja, dos
efeitos pessoais e patrimoniais do casamento.
A suspensão da sociedade conjugal ocorre nas hipóteses de separação
judicial e separação de fato. Nesses casos, o casamento continua
existindo, embora não produza efeitos, como o dever de fidelidade e de
coabitar e o regime de bens.
Já o fim do casamento decorre de três causas (caput do art. 1.571 do
Código Civil):

Morte de um dos cônjuges (ou de
ambos, em caso de comoriência)

Divórcio

Invalidade do casamento (nulidade
ou anulação)
O casamento válido só é extinto pelo divórcio
ou pela morte.
Analisemos, mais detidamente, cada uma das causas do fim do
casamento.
Morte e extinção do
casamento
Extinção do casamento pela morte
A morte biológica (art. 6º do Código Civil) e a morte presumida por
motivo de ausência (art. 7º c/c arts. 22 a 39 do Código Civil) têm o
condão de desfazer o vínculo entre os cônjuges. O cônjuge falecido será
o de cujus; o cônjuge sobrevivente é o supérstite ou viúvo.
Saiba mais
Em se tratando de caso de comoriência (art. 8º do Código Civil),
situação em que não se consegue determinar qual dos cônjuges faleceu
primeiro, considera-se extinto o casamento com a decretação de morte
simultânea. Isso é importante para fins de partilha de bens entre os
herdeiros dos cônjuges falecidos.
O cônjuge sobrevivente tem o direito de continuar a usar o sobrenome
do de cujus, caso tenha acrescido o sobrenome quando se casaram.
A morte de um dos cônjuges não extinguirá o parentesco por afinidade
entre o cônjuge sobrevivente e os parentes na linha reta do de cujus (§
2º do art. 1.595 do Código Civil). Assim, os pais, avós, filhos e netos do
de cujus permanecem sendo parentes por afinidade do sobrevivente
(obviamente, se não houver parentesco consanguíneo ou civil entre o
sobrevivente e aqueles parentes).
Divórcio
Extinção do casamento pelo
divórcio
O divórcio é a extinção do casamento por vontade de pelo menos um
dos cônjuges. Para compreender melhor, assista ao vídeo a seguir:
Divórcio e separação
Conheça a definição de divórcio e separação e saiba mais sobre suas
espécies!
A Emenda Constitucional nº 66/2010 deu nova redação ao § 6º do art.
226 da Constituição da República, dispondo que, para a dissolubilidade
do casamento civil pelo divórcio, estavam suprimidos os requisitos de
prévia separação judicial por mais de um ano ou o de comprovada
separação de fato por mais de dois anos. Veja a comparação de
redações do § 6º do art. 226:
Antes da EC nº
66/2010
Art. 226. [...].
§ 6º O casamento civil
pode ser dissolvido pelo
divórcio após prévia
Após a EC nº
66/2010
Art. 226. [...].
§ 6º O casamento civil
pode ser dissolvido pelo
divórcio.

separação por mais de
um ano nos casos
expressos em lei ou
comprovada separação
e fato por mais de dois
anos.
Observe que, para requerer o divórcio, não existem mais requisitos, ou
seja, não é mais necessária a separação anterior (judicial ou de fato),
nem qualquer tempo prévio. É possível, inclusive, casar-se em um dia e
se divorciar no outro.
Também é irrelevante a vontade do outro cônjuge e qualquer motivo
para pleitear o divórcio. Por isso, afirma-se que o divórcio é um direito
potestativo, ou seja, basta um dos cônjuges o requerer e ele será
deferido. Tudo isso por simples manifestação de vontade do cônjuge
interessado em extinguir o casamento.
O divórcio pode ser classificado quanto à vontade e à decretação. Veja
mais detalhes!
Quanto à vontade
Quanto à vontade, o divórcio pode ser:
Ambos os cônjuges estão de acordo com o divórcio e com uma
proposta de partilha de bens, guardados filhos (se houver), aos
alimentos e visita aos filhos (se houver).

Consensual 
Quando um dos cônjuges se opõe ao divórcio; ou, então,
concordam com o divórcio, mas não estão de acordo quanto à
partilha de bens, à guarda dos filhos (se houver), aos alimentos e
à visita aos filhos (se houver).
Quanto à decretação
Quanto à decretação, o divórcio pode ser:
Extrajudicial
É o divórcio feito em cartório e que segue os parâmetros da Lei nº
11.441/2007, da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) e do art. 733 do Código de Processo Civil. Logo, é um
divórcio realizado na via administrativa. Nele, não se pleiteia apenas a
dissolução do vínculo, mas também a partilha (se for o caso). Para se
divorciar em cartório, os cônjuges devem atender aos seguintes
requisitos:
Ambos estão de acordo com todos os termos do divórcio, ou seja,
ele é consensual.
O casal não tem filhos menores de 18 anos ou incapazes por
outros motivos do art. 4º do Código Civil.
A mulher não está grávida.
Atenção!
Embora realizado em cartório, sob a condução de um tabelião, é
obrigatória a presença de um advogado, que poderá ser o mesmo
profissional para ambos, ou um advogado para cada parte.
Judicial
É aquele feito por meio de uma ação de divórcio e que será decretado
pelo juiz. Será judicial quando:
For litigioso.
O casal tem filhos menores de 18 anos ou relativamente
incapazes.
A mulher está grávida.
Litigioso 
Como o divórcio é um direito potestativo, em se tratando do caso de
litigioso, o juiz pode decretar o divórcio antecipadamente e a ação
prossegue para a discussão quanto à partilha de bens, à guarda dos
filhos (se houver estes), aos alimentos e à visita aos filhos (se houver
estes).
No caso do divórcio extrajudicial, a partir da instituição do chamado e-
Notariado pelo Provimento nº 100/2020 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), que possibilita a prática de atos notariais de maneira
eletrônica, tornou-se possível constituir o processo administrativo de
divórcio pela via virtual.
Saiba mais
A Lei nº 13.894/2019 promoveu uma alteração na Lei Maria da Penha
para prever a competência dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar Contra a Mulher para a ação de divórcio, separação, anulação
de casamento ou dissolução de união estável nos casos de violência.
Além disso, essa lei tornou obrigatória a informação às vítimas acerca
da possibilidade ajuizarem aquelas ações amparadas pelos serviços de
assistência judiciária.
Separação
Há dois tipos de separação:
Decretada pelo juiz em uma ação judicial. Previamente à EC nº
66/2010, a separação judicial era uma fase obrigatória antes da
decretação do divórcio. Somente poderiam requerer a separação
aqueles cônjuges casados há pelo menos dois anos. Após a
decretação de separação judicial, o casal deveria aguardar no
mínimo um ano para requerer o divórcio definitivo.
Com a EC nº 66/2010, a separação judicial prévia deixou de ser
obrigatória para a decretação do divórcio, o qual pode ser
concedido imediatamente. Assim, a separação judicial existe,
hoje, para casos excepcionais e se as partes desejarem. Por
exemplo: por motivos religiosos, um casal não quer se divorciar,
mas pretende não viver mais conjuntamente.
Separação judicial 
Separação de fato 
É feita de modo informal, pelos próprios casados, que passam a
não viver mais juntos e a não ter uma vida comum. Perdem a
intenção de constituir família. Pode ser de comum acordo ou
pode se dar pela saída de um dos cônjuges do lar. Antes da EC
nº 66/2010, o divórcio poderia ser concedido após dois anos de
separação de fato.
Seja no caso de separação judicial, seja no
caso de separação de fato, não há extinção do
casamento, da sociedade conjugal.
A separação suspende a sociedade conjugal, ou seja, suspende os
efeitos pessoais (direitos e deveres entre os cônjuges) e os efeitos
patrimoniais (regime de bens), mas os cônjuges permanecem casados.
Invalidade do casamento
Extinção do casamento por
invalidade
Existem dois tipos de invalidade: a nulidade e a anulabilidade. Vejamos!
Nulidade
É uma sanção mais grave e dissolverá o casamento desde a sua
celebração, ou seja, a declaração de nulidade pelo juiz produz efeitos ex
tunc (retroativos). Para fins legais, o casamento nulo nunca existiu no
mundo do Direito.
O casamento é nulo quando constituído com o
descumprimento das proibições (impedimentos) para
casar, previstas no art. 1.521 do Código Civil.
A ação de nulidade visando à extinção do casamento celebrado sob
impedimentos pode ser proposta por qualquer interessado ou pelo
Ministério Público.
Anulabilidade
O casamento será anulável (art. 1.550) se:
Um dos nubentes não completou 16 anos.
O menor em idade núbil não recebeu a autorização de seu
representante legal.
O ato foi celebrado mediante vício da vontade (arts. 1.556 a
1.558).
Um dos nubentes for incapaz de consentir ou manifestar, de modo
inequívoco, o consentimento.
O mandatário (procurador) que representa um dos nubentes não
sabia da revogação do mandato (procuração) e não sobreveio
coabitação entre os cônjuges.
A autoridade celebrante do casamento era incompetente, ou seja,
não tinha poderes atribuídos pela lei para celebrar um casamento.
Quanto à anulação do casamento porque o menor em idade núbil não
recebeu a autorização de seu representante legal, o art. 1.551 prescreve
que não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou
gravidez. Mas essa exceção deve ser interpretada de acordo com o art.
1.520, quer dizer, se o menor entre 16 e 18 anos se casa sem
autorização, mas houve gravidez, o casamento permanecerá válido.
Atenção!
Se, porém, for casamento de menor de 16 anos, então, nem havendo
gravidez, nem mesmo autorização dos responsáveis, tal casamento
persistirá.
O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em
180 dias, por iniciativa:
Nesse caso, o prazo contará a partir do momento em que cessar
a incapacidade (lembre-se de que, se o casamento é inválido,
então, a emancipação pelo casamento não ocorrerá).
Nesse caso, o prazo para anulação é contado a partir do dia da
celebração do casamento; porém, não se anulará o casamento
quando os representantes legais do incapaz tiverem assistido à
sua celebração ou tiverem, de alguma maneira, manifestado sua
aprovação.
Nesse caso, conta-se o prazo a partir da morte do incapaz.
O casamento também pode ser anulado se foi celebrado mediante vício
da vontade (arts. 1.556 a 1.558). Tal vício da vontade existirá quando
houver erro essencial de um dos cônjuges quanto à pessoa do outro.
São estas as hipóteses de erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge:
No caso de erro quanto à identidade, honra e boa fama do outro
cônjuge, o erro deve ser tal que o seu conhecimento posterior
torne, para o cônjuge enganado, insuportável a vida em comum.
Do incapaz 
Dos representantes legais do incapaz 
Dos herdeiros necessários do incapaz 
Ignorância quanto à identidade, honra e boa fama 
Também a ignorância antes do casamento de crime praticado
anteriormente ao casamento só se considera erro essencial
capaz de anular o casamento se, dependendo da natureza do
crime, a vida conjugal se torne insuportável.
Em se tratando de desconhecimento antes do casamento de
defeito físico irremediável, não se insere nessa hipótese defeito
que caracterize deficiência. A pessoa com deficiência não pode
ser discriminada, de acordo com o Estatuto da Pessoa com
Deficiência, ou seja, uma deficiência física não pode ensejar a
invalidade do casamento.
Já o caso de erro quanto à existência de moléstia grave e
transmissível (por contágio ou por herança genética), anterior ao
casamento quanto à existência de moléstia grave e
transmissível, anulação somente terá lugar se tal moléstia for
capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência.
Ignorância de crime praticado anteriormenteao
casamento 
Ignorância de defeito físico irremediável e que não
caracterize deficiência. 
Ignorância de moléstia grave e transmissível 
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Analise as assertivas a seguir:
I. Crime de adultério.
II. Fixação de pensão alimentícia para um dos cônjuges.
III. Guarda dos filhos maiores de 21 anos.
Marque a alternativa correta quanto às matérias a serem discutidas
em ação de divórcio.
A
Parabéns! A alternativa B está correta.
Admite-se que uma ação de divórcio, para economia processual,
além da decretação do fim do casamento e da partilha dos bens,
também discuta outras matérias paralelas, como guarda dos filhos
menores, alimentos e visita aos filhos. O que não pode é discutir
matéria criminal, pois essa deve ser julgada em ação criminal
própria.
Questão 2
Sobre o divórcio litigioso, assinale a alternativa correta.
Apenas I.
B Apenas II.
C Apenas III.
D Apenas I e III.
E Apenas II e III.
A Depende de causa justificadora para ser concedido.
B
Não pode ser concedido no início do processo,
antes da partilha de bens.
C
Será concedido mesmo com a vontade contrária do
outro cônjuge.
D
Poderá ser decidido por um juiz ou por um tabelião,
a critério das partes.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Sendo direito potestativo, não é necessária a concordância do outro
cônjuge.
3 - União estável e sua dissolução
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer os
elementos da união estável e sua dissolução.
Conceito de união estável
União estável
Conheça agora o conceito de união estável e os requisitos para a sua
caracterização. Vamos lá!
E
Extingue a sociedade conjugal, mas não põe fim ao
vínculo matrimonial.

Noção geral de união estável e o
a�ectio maritalis
A união estável é uma relação de convivência duradoura entre duas
pessoas com a intenção de constituir uma família (affectio familiae). Os
conviventes (ou companheiros) vivem como se fossem casados, mas
não se casaram, ou seja, não passaram pela celebração do ato jurídico
chamado casamento.
Curiosidade
Antes da ADI nº 4277 e da ADPF nº 132, julgadas pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) em 2011, a união estável era restrita somente à relação
entre um homem e uma mulher. Com as decisões e do STF, passou-se a
admitir a existência de união estável entre pessoas do mesmo sexo.
A união estável tem como base duas características evidentes:
More uxorio
Isso significa que a
relação entre os
companheiros se
parece com uma
relação entre pessoas
casadas (cônjuges),
embora não tenham se
casado “no papel”.
A�ectio maritalis
Significa que os
companheiros mantêm
uma relação de
lealdade, respeito e
assistência, e de
guarda, sustento e
educação dos filhos.
Não existe prazo para que uma relação seja considerada união estável.
Para configurar uma união estável, a Lei nº 8.971/1994 exigia uma
convivência de, pelo menos, cinco anos ou, então, que a mulher tivesse
prole (filhos) com o companheiro.
Ocorre que a Lei nº 9.278/1996 revogou aquela exigência, de modo que
a união estável depende de convivência pública entre pessoas como se
fossem casadas, independentemente de quando a relação começou.
O Código Civil também não impõe qualquer
exigência temporal como requisito da união
estável.
Veja as definições de união estável encontradas na legislação:
Art. 226. [...]

Constituição Federal 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
[...].
Art. 1º A companheira comprovada de um homem solteiro,
separado judicialmente, divorciado ou viúvo, que com ele viva há
mais de cinco anos, ou dele tenha prole, poderá valer-se do
disposto na Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968, enquanto não
constituir nova união e desde que prove a necessidade.
Parágrafo único. Igual direito e nas mesmas condições é
reconhecido ao companheiro de mulher solteira, separada
judicialmente, divorciada ou viúva.
Art. 1º É reconhecida como entidade familiar a convivência
duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher,
estabelecida com objetivo de constituição de família.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável
entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família [...].
O que caracteriza união
estável
Lei nº 8.971/1994 
Lei nº 9.278/1996 
Código Civil 
Atributos da união estável
Na Constituição Federal, a união estável é tratada como uma família.
Antes do § 3° do art. 226 da Constituição Federal, a união estável não
era considerada uma entidade familiar e não tinha juridicidade. Por isso,
a união estável era chamada de concubinato puro, ao lado do
concubinato impuro, que é a relação entre adúlteros. Concubinato
significa uma relação irregular.
Re�exão
Observe que, para haver união estável, é preciso que haja a intenção de
constituir família, além de viver publicamente como se houvesse
casamento entre os companheiros. Isso pode acontecer, por exemplo,
em semanas.
São requisitos para que uma relação seja considerada uma união
estável:
 Publicidade
As pessoas, a sociedade, reconhecem que aqueles
dois companheiros vivem como se fossem
casados.
 Continuidade
A relação não é de encontros eventuais.
 Durabilidade
Os companheiros têm objetivos de constituir uma
vida em comum, há planos para uma vida familiar.
 Estabilidade
O l i t “ á t t d ”
A união estável não será reconhecida se ocorrerem os impedimentos
para o casamento prescritos no art. 1.521. Mas o § 1º do art. 1.723 do
Código Civil afasta a incidência do inciso VI, no caso de a pessoa
casada se achar separada de fato ou judicialmente.
Quer dizer, se alguém estiver separado do seu cônjuge e iniciar uma
convivência com outra pessoa, ficará caracterizada a união estável.
O relacionamento “será eterno enquanto durar”, ou
seja, os companheiros pretendem conviver sem a
intenção de encerrar a relação a qualquer
momento.
 Ausência dos impedimentos do
art. 1.521 (exceto inciso VI)
O objetivo da restrição é impedir os mesmos
problemas morais e de saúde que podem resultar
do casamento entre as pessoas do art. 1.521.
 Intenção de constituir uma
família
Os companheiros querem constituir, entre si, um
espaço de afeto e amparo recíproco,
independentemente da existência de filhos.
 A�ectio maritalis
Os companheiros são, em si, leais, respeitosos e se
assistem, além de cuidarem e sustentarem os
filhos; é por isso que não se reconhecem uniões
estáveis simultâneas (a segunda relação será
concubinato).
Essa pessoa, mesmo separada, não poderá se casar (inciso VI do art.
1.521), mas poderá constituir união estável plenamente válida (§ 1º do
art. 1.723).
Quando pessoas impedidas de casar constituem uma relação não
eventual, tal relação não será reconhecida como união estável. Nesses
casos, o art. 1.727 descaracteriza a existência de união estável e
prescreve que esse tipo de relação constitui um mero concubinato,
relação não jurídica semelhante ao adultério (concubinato impuro).
Quanto às causas suspensivas do casamento,
previstas no art. 1.523 do Código Civil, elas não
impedirão a caracterização da união estável.
Um namoro, por si só, não constitui união estável, independentemente
do tempo do relacionamento. Inclusive, os namorados até podem viver
juntos e, mesmo assim, não ficar configurada a união estável. É que para
existir união estável é necessário que as partes queiram constituir uma
união estável, ou seja, estão juntas para constituir uma família baseada
no companheirismo.
Inclusive, alguns casais de namorados celebram o chamado contrato de
namoro. Por esse documento, as partes declaram que a relação entre
elas é um namoro, e não uma união estável. Mas esse contrato não será
aceito judicialmente se for utilizado com o objetivo de fraudara lei e a
existência de uma união estável efetiva.
A união estável tem sua forma de constituição livre, podendo ocorrer de
maneira formal ou informal:
Quando os companheiros passam a viver juntos sem celebrar
qualquer ato formal, como um contrato de união estável. O início
ocorre pela simples coabitação e convivência, sem qualquer
documento registrando o início da relação.
A prova da existência de união estável ocorrerá por meio de
testemunhas, documentos que demonstrem que os
companheiros coabitavam, relação de dependência registrada na
declaração do imposto de renda ou em órgão previdenciário.
Antes do início da convivência ou após ter se iniciado e se
consolidado, as partes formalizam a existência da união por
meio de um documento chamado contrato de união estável.
Esse contrato pode ser escrito e assinado pelos próprios
companheiros (instrumento particular) ou feito em cartório por
um tabelião (escritura pública).
A importância desse contrato é que ele é uma prova pré-
constituída da existência de união estável. O contrato de união
estável pode se restringir a declarar a existência desse tipo de
relação entre os companheiros. Mas, geralmente, o contrato
objetiva, além dessa declaração, escolher e determinar qual será
o regime de bens que incidirá sobre a união estável. Assim,
União estável não formalizada 
União estável formalizada 
nesse contrato, as partes poderão escolher entre os seguintes
regimes de bens:
Comunhão universal;
Comunhão parcial (ou separação parcial);
Participação final dos aquestos;
Separação total.
Efeitos patrimoniais na
união estável
Regime de bens da união estável
Neste momento é interessante pensarmos em um detalhe:
Qual será o regime de bens da união estável se os
conviventes celebrarem o contrato de união estável e
não escolherem o regime de bens ou, então, não
formalizarem a união?
O art. 1.725 do Código Civil prescreve que na união estável, salvo
contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações
patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.
Exceto se se tratar de pessoa com mais de 70 anos, hipótese em que o
regime de bens será o da separação total (inciso II do art. 1.641 do
Código Civil).
A comunhão parcial é o regime legal entre conviventes
que não se manifestaram quanto aos efeitos
patrimoniais da relação.
Por esse regime, somente haverá comunhão a ser partilhada quanto aos
bens adquiridos onerosamente após o início da união estável. Os bens
de cada companheiro, anteriores à união, seguem sendo de propriedade
exclusiva do companheiro.
Atenção!
Quanto ao estado civil, os companheiros não são casados; os
conviventes são solteiros. Aliás, os companheiros não são esposo-
esposa, marido-mulher. Eles são companheiros ou conviventes.
Em 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar o Tema nº 809 de
repercussão geral, decidiu que o art. 1.790 do Código Civil é
inconstitucional e declarou que o companheiro tem o direito de
participar da herança de seu companheiro em conformidade com o
regime jurídico estabelecido no art. 1.829 do Código Civil. Antes dessa
decisão, a sucessão na união estável seguia as regras especiais do art.
1.790, diferentes da sucessão de quem é casado. Agora, o art. 1.790 foi
declarado inconstitucional e se aplicará à união estável as mesmas
regras de sucessão que se aplicam ao casamento.
Extinção da união estável
Causas extintivas da união estável
A união estável tem duas causas extintivas:

Morte de um ou de ambos os
companheiros.

Dissolução por vontade de pelo
menos um dos companheiros
(resilição).
A dissolução pode ocorrer pela simples separação de fato ou com a
elaboração de um distrato da união estável.
Existe, ainda, a ação de reconhecimento e dissolução de união estável, a
ser proposta em vara de família. Essa ação objetiva:
Reconhecer (declaração) a existência da união estável.
Reconhecer (declaração) o fim da relação.
Determinar o período da união estável, ou seja, seu início e fim.
Decidir a partilha de bens.
Decidir sobre guarda, visita e alimentos dos filhos (se houver).
Decidir possível pensão alimentícia para um dos companheiros.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Quais destas pessoas podem ter união estável reconhecida
validamente?
A
O companheiro ou cônjuge sobrevivente com o
condenado por homicídio ou tentativa de homicídio
contra o seu cônjuge ou companheiro.
B As pessoas casadas.
C
O adotante com quem foi cônjuge do adotado e o
adotado com quem o foi do adotante.
D Os afins em linha reta.
E
O divorciado, enquanto não houver sido homologada
ou decidida a partilha dos bens do casal.
Parabéns! A alternativa E está correta.
De acordo com o § 1º do art. 1.723, a união estável não se
constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521. Por outro
lado, o § 2º do art. 1.723 dispõe que as causas suspensivas do art.
1.523 não impedirão a caracterização da união estável.
Questão 2
João, aos 72 anos, passa a viver junto com Maria, que tem 45 anos.
Procuram um advogado que redige um contrato de união estável, no
qual João e Maria reconhecem que vivem como companheiros e
escolhem o regime da comunhão universal de bens. Quanto a essa
situação, assinale a alternativa correta:
Parabéns! A alternativa B está correta.
A
O contrato é nulo, pois pessoas maiores de 70 anos
não podem casar e não podem constituir união
estável.
B
A escolha do regime da comunhão universal de
bens é nula, pois o regime de bens para o
casamento e a união estável de maiores de 70 anos
deve ser a separação total de bens.
C
A escolha do regime da comunhão universal de
bens é nula, pois a lei fixa que o regime de bens da
união estável deve ser a comunhão parcial de bens.
D
A relação entre João e Maria é um concubinato
impuro por causa da idade de João e, por isso, o
regime de bens deve ser a separação total de bens.
E
O ato é nulo porque o contrato de união estável deve
ser realizado em cartório.
Maiores de 70 anos podem casar e constituir união estável, porém,
o regime deve ser, obrigatoriamente, a separação total de bens (art.
1.641, II). Não é obrigatória a forma pública para o contrato.
Considerações �nais
Este conteúdo foi destinado a demonstrar como são os requisitos
essenciais de constituição do casamento e da união estável e, a partir
daí, demonstrar como devem ser constituídas essas entidades
familiares e quais as consequências da constituição de cada uma.
A abordagem realizada foi destinada a apresentar não somente
aspectos teóricos, mas, também, e principalmente, os aspectos
práticos.
É preciso ter em mente que os requisitos constituintes são matérias
discutidas em ações judiciais. Logo, é um campo fértil de atuação
profissional.
Podcast
Para encerrar, ouça um resumo sobre casamento e união estável, seus
requisitos e as diferenças principais entre essas figuras jurídicas.

Explore +
Confira o conteúdo indicado especialmente para você!
Leia os artigos:
O divórcio virtual e o e-notariado: a era da desmaterialização dos
procedimentos extrajudiciais, de Patrícia Novais Calmon,
publicado em 12 jun. 2020. O material explica o Provimento nº 100
do Conselho Nacional de Justiça, que instituiu o sistema de atos
notariais eletrônicos, denominado e-Notariado. A partir dele, o
divórcio passa a se operacionalizar de modo virtual.
A constituição da união estável e a importância da sua
dissolução, de Patrícia Diniz Navarro, publicado em 3 ago. 2020. O
artigo analisa a importância de se proceder com a dissolução da
união estável, uma vez que a união estável gera efeitos pessoais e
patrimoniais na vida dos conviventes, os quais devem ser extintos
e partilhados quando da separação de fato dos companheiros.
Divórcio unilateral extrajudicial, de Leonardo Dalto Romero,
publicado em 1 nov. 2021.
Quais são os direitos na união estável? de Danielle Santos,
publicado em 18 set. 2020. O artigo analisa as recentes decisões
dostribunais superiores sobre direitos dos companheiros.
Divórcio extrajudicial: guia simplificado passo a passo, de Marco
Jean de Oliveira Teixeira, publicado em: 8 set. 2020. Trata-se de
material que explica como é o procedimento do divórcio
extrajudicial e quais são os requisitos e os documentos que os
cônjuges devem reunir para levá-lo ao cartório.
Referências
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 5 – Direito de Família.
34. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 6 –
Famílias. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.
GONÇALVES, C. R.. Direito Civil Brasileiro. Vol. 6 – Direito de Família. 18.
ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
ROMERO, L. D. Divórcio unilateral extrajudicial. 1 nov. 2021.
Material para download
Clique no botão abaixo para fazer o download do
conteúdo completo em formato PDF.
Download material
O que você achou do conteúdo?
Relatar problema
javascript:CriaPDF()