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357 CAPÍTULO 12 REGULARIZAÇÃO DE VAZÕES ABEL MAIA GENOVEZ _________________________________________________________________________ 1 – Introdução Serão apresentados os principais métodos que podem ser utilizados para se determinar o volume de armazenamento para reservatórios com regularização anual. Antes de apresentar os métodos, convém definir alguns conceitos e idéias importantes que serão utilizados no texto. O intervalo de tempo requerido para as vazões de estudo do reservatório dependem do tamanho do volume de armazenamento (que, em geral, depende do tamanho da bacia) e do grau de precisão requerido. Para pequenos reservatórios, projetados para fornecer água acima das vazões dos rios somente em alguns meses do ano (em geral, de 1 a 6 meses), vazões diárias são necessárias. Para grandes reservatórios, dados mensais são normalmente adequados para definir as variações das vazões nas estações (sazonalidade), embora vazões anuais possam freqüentemente dar resultados com suficiente precisão para estimativas de projetos preliminares. Quando se usam dados mensais , o fato dos meses não terem o mesmo tamanho é usualmente ignorado, pis tem efeito pequeno sobre o volume de armazenamento. O volume de armazenamento útil de um reservatório é o volume de água armazenado entre os níveis mínimo e o normal. O nível normal dos reservatórios é a cota máxima até a qual as águas se elevarão nas condições normais de operação, sendo que na maioria dos reservatórios esse nível é determinado pela cota da crista do extravasor ou pela borda superior das comportas dos vertedores. Acima do nível normal pode ser deixado um volume de amortecimento de enchentes, que como o próprio nome sugere, é deixado, para minimizar os efeitos das enchentes nas áreas à jusante e para que ocorra uma diminuição da largura do vertedor. Acima do volume de amortecimento de enchentes é deixado uma altura da barragem para evitar o feito das ondas e ainda uma altura de folga. O nível mínimo do reservatório é a cota mínima até a qual as águas baixam nas condições normais de operação. Esse nível pode ser determinado pela cota da parte inferior do conduto de saída mais baixo da barragem, ou em casos de reservatórios de usinas hidroelétricas, pelas condições operacionais de melhor rendimento para as turbinas. O volume de água abaixo do nível mínimo é denominado de volume morto, ou seja, que não pode ser aproveitado em condições normais de operação do reservatório. Muitas vezes este volume morto é confundido como sendo um volume deixado para ser ocupado pelos sedimentos dentro do reservatório, sendo que parte deste volume poderá a vir a ser ocupado pelos sedimentos, mas a deposição destes ocorre em 358 todo o fundo do lago e não necessariamente só no volume morto. O volume morto poderá nem ser atingido pelos sedimentos, dependendo do tipo de sedimentos e da forma do fundo do reservatório. O volume de armazenamento útil é denominado muitas vezes de simplesmente de volume de armazenamento ou volume de regularização. Os volumes e níveis característicos dos reservatórios são apresentados na Figura 12.1. A curva de regularização de vazões é a representação gráfica da variação da vazão regularizada em função do volume útil do reservatório. Na Figura 12.2 é apresentada uma curva de regularização de vazões. Para cada período de 12 meses, quando se utiliza no máximo a descarga média, não havendo transferência de água de ano para ano, diz-se que há um caso de regularização anual, distinto do caso contrário de regularização pluri-anual. No caso de projetos de pequeno porte , Figura 12.1 – Volumes e níveis característicos de um reservatório sem comportas Figura 12.2 - Curva de Regularização de Vazões 359 a duração de períodos críticos de estiagem é, geralmente, da ordem de alguns meses, não exigindo uma regularização pluri-anual. A demanda ou vazão regularizada é freqüentemente expressa como uma porcentagem da vazão média, tendo valores geralmente ao redor de 50 a 70%, e devido as perdas por evaporação raramente excedem 90%. De uma maneira geral, a demanda não é inferior a 50% da vazão média devido a que para esta faixa de demanda um pequeno aumento no volume útil do reservatório teria como conseqüência um significativo aumento na demanda, sendo portanto economicamente recomendável que se eleve o volume do reservatório. Por outro lado, demandas superiores a 70% da vazão média, de uma maneira geral, estão em uma situação tal que para que ocorra um pequeno aumento na vazão regularizada é necessário um grande aumento do volume útil do reservatório, o que na maioria dos casos é antieconômico. Isto pode ser observado pelo formato da curva de regularização, conforme se pode observar na Figura 12.2. Nem sempre a vazão fornecida por um reservatório é igual ao volume de água requerido (ou demanda) pelos consumidores. Pode haver períodos em que o nível do reservatório é tão baixo que a prudência recomenda que somente parte do volume requerido seja suprido pelo reservatório (por exemplo, restrições ao abastecimento de água de centros urbanos). Outro fator que influi na decisão é à época do ano e as vazões esperadas para os períodos futuros. A forma como a demanda é controlada é chamada regra (ou plano) de operação. Um grande número de definições de probabilidade de falha é dada na literatura técnica. Provavelmente a mais comum é a que define probabilidade de falha Pe como a relação entre o número de intervalos de tempo p durante o qual o reservatório está vazio pelo número de intervalos total de tempo usados na análise, ou seja : N p Pe = 12.1 A correspondente definição de confiabilidade (probabilidade de sucesso) é : ee PR -= 1 12.2 Algumas vezes p é tomado como o número de intervalos de tempo em que são impostas restrições a demanda. McMahon e Mein (1986) dividem os procedimentos para a determinação da capacidade de um reservatório em três grandes grupos : Os métodos do período crítico são aqueles nos quais a capacidade do reservatório necessária é obtida da diferença entre a vazão regularizada (demanda) de um reservatório inicialmente cheio e a vazão de entrada, para períodos secos. O período crítico é definido como sendo o período que vai de uma situação em que o reservatório esta cheio e começa a esvaziar até que o reservatório esvazie completamente.. Dentre estes métodos os mais importantes para o caso de pequenas bacias são : método da curva de massa. Método da curva de massa residual, método da simulação de operação, método dos picos seqüenciais e diagrama de massa das vazões mínimas não-seqüenciais. O segundo grupo de métodos usados para se obter o volume de armazenamento de um reservatório é aquele que se baseia na teoria apresentada por Moran. Em termos práticos os métodos mais importantes deste grupo são aqueles denominados métodos da matriz de probabilidade. Do ponto de vista teórico o denominado método da matriz de probabilidade de Gould que considera a sazonalidade e a correlação serial das vazões) é a técnica mais aceitável para se obter a capacidade de armazenamento ou a vazão a ser regularizada por um reservatório.. O método utiliza vazões médias mensais. O método é recomendado para o 360 projeto final de um único reservatório para regularização pluri-anual, não sendo utilizado para reservatórios em pequenas bacias. O terceiro grupo da classificação feita por McMahon e Mein é baseado no uso de dados gerados. Os métodos são os mesmos dos outros grupos, sendo que a diferença é que as vazões de entrada são as geradas por modelos. A vazão a ser utilizada para se obter a curva de regularização de vazões não é a vazão bruta que chegaria ao local onde se vai construir o reservatório, mas sim esta vazão bruta corrigida devido aos efeitos da precipitação diretasobre o reservatório a ser construído e pela evaporação do lago do reservatório. Com a construção do reservatório, parte da precipitação que antes se infiltrava no terreno que ficará sob o lago, passa a precipitar diretamente sobre o lado. Portanto, antes de construir o lago a parcela da chuva que se transformava em vazão podia ser calculada por : LAICQ ..1 = 12.3 onde : Q é a vazão, C é o coeficiente de escoamento superficial e AL é a área do lago no seu nível máximo. Como se pode observar, como em geral a área do lago é pequena, a equação proposta para o calculo da vazão é a do Método Racional. Com a construção do lago a parcela da chuva que precipita sobre ele passa a ser : LAIQ ..0,12 = 12.4 Portanto, C=1,0 e há um acréscimo da vazão que atinge o reservatório de: ( ) Ld AICQ ..0,1 -= 12.5 Por outro lado, há o efeito da evaporação da superfície do lago que pode ser calculado por: LE AEQ *..7,0= 12.6 onde : QE é a vazão de água que evapora do reservatório, 0,7 é o coeficiente de correlação do tanque Classe A e a evaporação do lago, E é a evaporação do tanque classe A e AL * é a área da superfície líquida do reservatório, podendo ser adotada como valor médio de AL * = 2/3 . AL , caso não se disponha dos valores calculados de AL * para cada período de tempo utilizado que esta sendo utilizado. Para regiões como o Estado de São Paulo o valor de Qd pode exceder o valor de QE, mas em regiões de clima árido, como o Nordeste do Brasil, não se pode desprezar a correção devido a QE, pois se correria o risco do reservatório não encher nunca. 2 - Método da curva de massa das vazões ou diagrama de Rippl Esta técnica parece ser o primeiro método racional conhecido para se estimar o volume de armazenamento necessário para regularizar uma certa vazão. É bastante conhecida e se encontra descrita em quase todos os livros de hidrologia básica. O procedimento é bastante simples e facilmente compreendido. Parte-se da hipótese de que o reservatório está cheio no início e em todos os inícios de períodos críticos. Se forem usados somente dados históricos, implicitamente assume-se que 361 futuras seqüências de vazões não conterão períodos de estiagem mais críticos que os da seqüência histórica.. As vazões a serem regularizadas em geral são constantes. Demandas sazonais podem ser utilizadas, mas mudanças nas vazões regularizadas como função do volume contido no reservatório não podem ser considerados. O volume de armazenamento estimado cresce com o aumento do tamanho da série histórica. Portanto, é difícil relacionar o valor do volume de armazenamento a vida útil do reservatório. Não é possível calcular o volume do reservatório para uma certa probabilidade de falha. Por outro lado, o volume de armazenamento para o maior período de estiagem de um registro histórico de N anos tem uma probabilidade de falha Pe = 1 / (N + 1). O único volume de armazenamento calculado é o maior deles, ou seja, o que corresponde ao pior período de estiagem. A principal vantagem do método é que ele é facilmente compreendido. Leva em consideração a sazonalidade, a correlação serial e outros parâmetros das vazões, quando se usa série histórica, pois estas estão embutidas dentro da série histórica usada na análise. A seqüência do método é a seguinte: a) corrige-se as vazões devido ao efeito da evaporação e da precipitação direta sobre o lago; b) Calcula-se com as vazões corrigidas os volumes afluentes para cada período e depois acumula-se estes volumes para cada período, partindo do princípio que o reservatório esta cheio no início; c) constroe-se a curva de massa das vazões, ou seja, um gráfico onde são colocados os volumes afluentes acumulados em função do tempo (conforme apresentado na Figura 12.3); d) coloca-se no mesmo gráfico da curva de massa das vazões uma reta que representa a demanda, calculando-se o volume da demanda para cada período de tempo e acumulando-se estes volumes, sendo a reta traçada com os volumes acumulados em função do tempo (é conveniente salientar que para cada demanda diferente se obterá uma nova reta); e) tangenciando o primeiro pico da curva de massa das vazões traça-se uma reta paralela a reta da demanda, e mede-se a maior diferença entre a curva de massa das vazões afluentes e a reta da demanda, obtendo-se um primeiro volume para o reservatório, que seria suficiente para suprir aquele período crítico analisado; f) se a reta da demanda cortar a curva de massa após o primeiro pico, após este ponto volta-se a traçar novamente uma reta tangenciando o próximo pico da curva de massa e repete-se o item e; g) este procedimento é repetido até que se analise toda a curva de massa; h) o volume útil do reservatório será o maior valor dos volumes do reservatório calculados para todos os períodos críticos da série de vazões analisadas. Na Figura 12.3 é apresentado um exemplo do método da curva de massa das vazões. Como se pode observar o volume útil do reservatório é o maior valor encontrado para cada período crítico da série de vazões afluentes. O reservatório esta cheio no início e continua cheio até o ponto A, pois as vazões afluentes são superiores a demanda (o coeficiente angular da reta tangente a cada ponto da curva de massa das vazões afluentes é superior ao da reta das demandas acumuladas). Do início até o ponto A, o reservatório esta cheio e esta saindo água pelo vertedor. A partir do ponto A o reservatório começa a esvaziar até o ponto B, sendo que a partir deste ponto começa a encher novamente, até ficar completamente cheio no ponto C. Do ponto A ao B temos o primeiro período crítico. O volume do reservatório necessário para satisfazer a demanda durante este primeiro período crítico é dado pela diferença maior diferença entre a curva de massa das vazões afluentes e a curva da demanda, que neste caso passa pelo ponto B. A partir do ponto B o reservatório esta cheio e extravasando até o ponto C, quando começa novamente a esvaziar. O reservatório vai esvaziando até o ponto D, quando começa a encher novamente, ficando novamente cheio no ponto F. Portanto, tem-se um novo período crítico de C até D e calcula-se o volume do reservatório para satisfazer a demanda durante este período crítico. O volume útil do reservatório será o maior dos volumes necessários para satisfazer cada período crítico. 362 Figura 12.3 - Curva de Massa das Vazões 3 - Método da curva de massa residual ou das diferenças totalizadas Este método é uma versão mais sofisticada da curva de massa. Também é um método muito conhecido e encontrado facilmente na literatura. O método é muito parecido com o da curva de massa das vazões, apresentando um inconveniente adicional que é a menor facilidade de compreensão. Ao permitir o uso da escala das vazões acumuladas muito maior do que no método da curva de massa dos mesmos dados, o método se torna mais preciso que o da curva de massa Basicamente o procedimento é o mesmo que o do método da curava de massa das vazões, sendo que as diferenças são : a) ao invés de se acumular o volumes das vazões afluentes corrigidas para cada intervalo de tempo, acumula-se o volume resultante da diferença entre a vazão afluente corrigida e a vazão média, para cada intervalo; b) da mesma maneira, a reta dos volumes das demandas acumuladas passa a ser a reta dos volumes resultantes da diferença entre a demanda e a vazão média acumulados. Na Figura 12.4 é apresentado um exemplo do método da curva de massa residual das vazões. Da mesma maneira o reservatório é suposto cheio no início e as explicações sobre a situação dos reservatórios nos pontos A, B, C e D são as mesmas do item 3. 4 - Método da simulação da operação Neste método as mudanças no volume contido numreservatório finito são calculadas fazendo um balanço hídrico do reservatório, ou seja : 363 Figura 12.4 – Curva de Massa Residual das Vazões tttttt OEDQVV -D--+=+1 (2) 12.7 tal que : onde: Vt+1 é o volume contido no reservatório no fim do período de tempo t (início do período de tempo t+1); Vt é o volume contido no reservatório no início do período de tempo t ; Qt é o volume afluente (correspondente a vazão afluente corrigida) durante o período de tempo t ; Dt é o volume (correspondente a demanda ou vazão regularizada) que foi retirado no período de tempo t ; DEt é a perda por evaporação do reservatório durante o período de tempo t ; Ot são as outras perdas; C é o volume de armazenamento máximo do reservatório (volume útil). O método é bastante simples, também assume que o reservatório está cheio no início e permite obter a probabilidade de falha para um escolhido volume de armazenamento. É possível obter um valor para o volume do reservatório tal que só esvazie uma vez para a série de dados. Este volume é o mesmo que se acharia usando os métodos da curava de massa ou das diferenças totalizadas. As principais vantagens do método em relação ao da curva de massa e ao da curva de massa residual são: permite calcular a probabilidade de falha, considerar demandas constantes ou sazonais e restrições no fornecimento ( regra de operação). Um inconveniente do método, (1) Q=20m3/s (2) Q=17,5m3/s V17,5=170x106m3 V20=252x106m3 V12,5=120x106m3 Junho Dezembro å(Qi-Q)Dt (x106m3) Q CVt << +10 364 em relação aos dois anteriores, está no processo de tentativa e erro, ao se ter que escolher o volume do reservatório. O procedimento para se aplicar o método é o seguinte : a) Escolhe-se um volume útil C para o reservatório, assume-se que o reservatório está inicialmente cheio e que as vazões históricas são representativas das vazões futuras do rio; b) calcula-se a equação (2) para cada vazão da série em análise; c) Conta-se, através de um programa de computador ou fazendo um gráfico de Vt em função do tempo t, quantas vezes o reservatório falhou (que esvaziou e ou então que ficou sujeito as regras de operação) e calcula-se a probabilidade de falha (equação (1)); d) se a probabilidade de falha é inaceitável, escolhe-se um novo valo de C e se repete o procedimento, até que se obtenha para a probabilidade de falha desejada o volume útil do reservatório. A Figura 12.5 apresenta um exemplo de curvas de regularização para diferentes probabilidades de falha, a partir de uma série histórica de 50 anos de vazões. McMahon et al. (1972) analisaram o efeito de várias condições iniciais do reservatório sobre o volume útil calculado do reservatório. Baseando-se em dados de vazões geradas, sugeriram que no mínimo 100 anos de vazões são necessárias para alguns rios, antes que as condições iniciais assumidas sejam ignoradas. Figura 12.5 - Curvas de Regularização para diferentes probabilidades de falhas 5 - Método dos picos seqüenciais É um método baseado na teoria das Amplitudes (“Range Analises”). Em resumo, o volume de regularização calculado usando este método é igual a maior amplitude do volume acumulado líquido (volume de entrada menos o volume fornecido) estimado para a série de dados de vazão. Usando o computador, o algoritmo é mais rápido do que a solução por tentativa e erro do método da simulação da operação. As etapas do método são : a) Calcula-se Qi – Di (volume devido a vazão de entrada menos o volume devido a vazão a ser regularizada) para i = 1, 2, ..., 2N (o método é aplicado sobre dois ciclos da série de dados) e calcula-se o volume acumulado líquido å = -= N i iii DQV 2 1 )( ; b) Localiza-se o primeiro pico P1 (máximo local, igual ao valor de Vi maior que o anterior Vi-1 e 365 que o posterior Vi+1) , na coluna dos volumes acumulados líquidos Vi ; c) Localiza-se o pico seguinte P2, o qual é o próximo pico de maior valor que o primeiro, isto é, P2 ³ P1; d) Entre o par de picos P1 e P2; acha-se o menor valor M1 do volume acumulado líquido Vi e calcula-se P1 – M1 ; e) Iniciando-se com P2 , acha-se o próximo pico seqüencial P3 , cujo valor tem que ser maior que P2 ; f) Acha-se o menor valor T2 de Vi , entre P2 e P3 e calcula-se P2 – T2 ; g) Iniciando com P3, acha-se P4 e T3 e calcula-se P3 – T3 ; h) Continua-se para todos os picos seqüenciais da série 2N de dados; i) A capacidade do reservatório necessária será dada por: C = max ( PK – TK ). Na utilização deste método pode-se trabalhar com demandas sazonais, mas não é possível trabalhar com demandas que são função do volume que o reservatório contem. Da mesma forma que no método da curva de massa, o volume de armazenamento requerido é função do tamanho da série de dados, e assim não é possível determinar outro volume de armazenamento que não seja o referente ao período crítico mais drástico. O valor calculado do volume de armazenamento é igual ou maior que o valor obtido com o método da curva de massa, devido ser estimado de uma amostra correspondente a duas séries de dados. O uso de geração de dados permite que a probabilidade de falha seja indiretamente calculada. Para uma única seqüência de dados o método calcula o volume de armazenamento necessário para vencer a pior seca dos dados. Então, para uma série de dados de N anos a probabilidade de falha associada é Pe = 1 / (N + 1). Portanto, N pode ser escolhido para dar a probabilidade de falha desejada. Para várias seqüências, o volume de armazenamento necessário é a média dos volumes de armazenamento estimados. 6 - Diagrama de massa das vazões mínimas não-sequenciais Curvas de freqüência de vazões mínimas anuais são a base da metodologia usada pelo “U. S. Geological Survey” para determinar o volume de armazenamento necessário para regularização anual. Neste método o reservatório também é suposto estar inicialmente cheio. As etapas deste procedimento, que se baseia em vazões diárias, são : a) Para durações de 1, 7, 15, 30, 60, 120 e 183 dias consecutivos, a vazão mínima de cada ano da série é determinada; b) Estas vazões são colocadas em ordem crescente (separadamente para cada duração), ou seja, a vazão de ordem 1 será a menor delas; c) Para cada vazão o intervalo de recorrência é estimado por: mNPTr )1(1 +== ; onde : Tr é o intervalo de recorrência (em anos); P é a probabilidade; m é o número de ordem da vazão; N é o número total de vazões de cada duração; d) as vazões de cada duração são colocadas num gráfico contra os seus correspondentes intervalos de recorrência, usando um papel de probabilidade de valores extremos (os papéis de probabilidades, como por exemplo o de Gumbel, são testados e escolhidos de maneira a linearizar os dados); e) Para cada intervalo de recorrência escolhido, as vazões correspondentes as diferentes durações são lidas e coloca-se em um gráfico estas vazões contra suas respectivas durações, obtendo-se uma curva; f) No mesmo gráfico do item anterior é colocada a reta que representa a vazão a ser regularizada; g) A maior distância na vertical entre a curva e a reta citadas acima corresponde ao volume do reservatório necessário para atender a demanda no nível de confiança escolhido ( ou intervalo de recorrência). Para esta situação a probabilidade expressa a chance que o reservatório, se operado sob as condições de projeto, venha a falhar (esvaziar) uma vez dentro de um ano. A Figura 12.6 apresenta um exemplo da curva de massa das vazões mínimas não- sequenciais. 366 Figura 12.6 – Curva de Massa das Vazões Mínimas Não Sequenciais Vazões regularizadas variáveis não podem ser processadas facilmente. O uso de curvas de freqüência elimina a ordem natural das vazões, o que faz com que o valor obtido pelo método precise ser acrescidode 10% para superar esta deficiência, segundo McMahon e Mein (1986). O método também subestima o volume de armazenamento devido não permitir que dois ou mais eventos críticos de um mesmo ano sejam considerados, mesmo que o segundo evento de um ano seja mais severo que o de outro ano. Este efeito é pequeno, a não ser para valores baix os do intervalo de recorrência (menores que 10 anos). Para se considerar as perdas por evaporação tem-se que adicionar um certo valor ao volume de armazenamento estimado, uma vez que o método não considera esta perda. As freqüências analisadas são baseadas em dados diários de vazões, o que aumenta consideravelmente os cálculos. Quando as curvas de freqüência de vazões mínimas são disponíveis para o local em estudo, o método é rápido e simples. 7 – Questões e Exercícios : propostos e resolvidos 7.1 - Para cada método de regularização de vazões (coloque só o nome, não descreva o método) explique a vantagem de um sobre o outro. 7.2 - Qual a máxima vazão possível de ser regularizada em um rio ? Explique. 7.3 - Faça o desenho de um reservatório e indique quais são os volumes característicos. Explique quais são as cotas dos níveis de água que separam estes volumes característicos. 7.4 - Num estudo de regularização de vazões, quais são as correções a serem feitas na vazão de entrada de um reservatório para obtenção da vazão afluente corrigida (líquida)? 7.5 - Desenhe uma Curva de Regularização de Vazões e baseado nela explique por que normalmente a vazão regularizada esta entre 50 e 70 % da vazão média. Volume de Armazenamento Útil (VAU) Curva de massa de 50% da vazão média Curva da massa das vazões de entrada para o período de retorno de 50 anos 367 7.6 - Dada a curva das diferenças totalizadas abaixo, determine os volumes necessários para regularizar as seguintes vazões: Q=28,0 m³/s, Q=25,0 m³/s e Q=32,0 m³/s. Dada a vazão média de 30 m³/s. 7.7 - Seja uma pequena propriedade rural cortada por um curso d'água, onde foi construido um reservatório de seção retangular e paredes verticais, com 10 m. de largura, 200 m. de comprimento e 10 m. de profundidade. No mês de novembro de 1988, a vazão afluente média ao reservatório foi de 10 l/s, tendo sido retirada no período uma descarga de 12 l/s para irrigar culturas. Neste mês, a precipitação local foi de 100 mm e o registro de evaporação foi de 150 mm. Qual o nível que o reservatório atingiu no final do mês, sendo que no início a acumulação era plena e o consumo da pequena propriedade ( doméstico e animais ) foi de 5 l/s. 7.8 - Considerando que as vazões médias mensais, dadas abaixo, são do pior período de estiagem do Rio Dellamma, estação fluviométrica de Vergonha, e, utilizando-se a curva das diferenças totalizadas, determine: a) O volume do reservatório (VRN) para se obter uma vazão constante igual a 70% da vazão média; b) O VRN necessário para se obter uma vazão constante de 50% de Q; c) Qual a vazão constante pra se obter com um reservatório de 200 x 106 m3/s; d) Qual o volume do reservatório para se obter uma vazão constante de 5 m3/s. Não considere as correções devidas a evaporação, precipitação direta sobre a superfície líquida, etc. 368 7.9 - Considerando que as vazões médias mensais, dadas abaixo para a estação fluviométrica de Itaquaquecetuba, são do pior período de estiagem do Rio Tietê, utilizando a curva das Diferenças Totalizadas, determine: a) O volume do reservatório necessário (VRN) para se obter uma vazão constante igual a 70% da vazão média; b) O VRN para se obter uma vazão constante de 50% c) Qual a vazão constante que se pode obter com um reservatório de 200x106m3; d) Qual a máxima vazão constante que pode ser obtida? e) Qual o volume do reservatório necessário para se obter uma vazão constante de 5 m3/s ? A vazão média do Rio Tietê nesta estação é de 20,0 m3/s. Não considere as correções devidas a evaporação e precipitação direta sobre a superfície líquida. Solução: Δt = 30 dias x 24 horas x 60 min x 60 seg = 2,592 . 106 segundos / mês a) VRN para Q = 0,7 x 20 = 14 m3/s , com este valor se traçou no gráfico abaixo a reta que representa a vazão Q = 14 m3/s traçando-se as retas paralelas a que representa a vazão Q=14 m3/s, a partir dos picos do gráfico abaixo, obtém que o maior valor de VRN : VRN = 32 . (2,592 . 106) = 83 . 106 m3 Q smQ /20 3= tttQQi D-=D-=D- )6()2014()( 369 b) VRN para Q = 0,5 x 20 = 10 m3/s usando-se a mesma sequência do item (a) acima tem-se que : VRN = 21 . (2,592 . 106) = 54,6 . 106 m3 c) Para VRN= 200x106m3 d) A máxima vazão que se pode regularizar de um rio é a sua vazão média (líquida, ou seja, descontadas todas as perdas, principalmente a devida a evaporação), que no caso é : e) VRN para Q=5 m3/s usando-se a mesma sequência do item (a) acima tem-se que : VRN = 16 . (2,592 . 106) = 41,6 . 106 m3 Ver resolução no gráfico abaixo. smQQ /20 3 max == tttQQi D-=D-=D- )10()2010()( )106,2(5,7)1059,26)(20( 66 xxxxQi -=- smQi /8,18) 6 5,7 (20 3@-= tttQQi D-=D-=D- )15()205()( 370 371 7.10 - Durante o mês de junho de 1981, a afluência média ao reservatório de Três Marias foi de 430 m3/s. No mesmo período, a CEMIG operou o reservatório liberando para jusante uma vazão de 250 m3 /s para atendimento à navegação, sendo que a geração de energia elétrica consumiu uma vazão adicional de 500 m3 /s. A precipitação mensal na região foi de apenas 8 mm, enquanto a média histórica de evaporação da superfície do lago vale 100 mm. Sabendo que no início do mês o NA (nível de água) do reservatório estava na cota 567,03 m, calcular o NA no final do período, sendo conhecida a relação cota-área-volume. Desprezar as perdas por infiltração e computar a precipitação efetiva para o NA = 567,03 m. RELAÇÃO COTA - ÁREA - VOLUME NA ( m) VOLUME (X10 9 m3) ÁREA (km2) 565.00 12,729 912 565.50 13,126 933 566.00 13,527 953 566.50 13,929 974 567.00 14,331 995 567.50 14,733 1018 568.00 15,135 1040 OBSERVAÇÕES: a) Considere a precipitação efetiva = (P-E) e b) Fazer interpolação linear na relação cota-área-volume. 7.11 - Considerando que as vazões médias mensais, para a estação fluviométrica de Itaquaquecetuba, são do pior período de estiagem do Rio Tietê e utilizando a curva das Diferenças Totalizadas dada na figura abaixo, determine: a) O volume do reservatório necessário (VRN) para se obter uma vazão constante igual a 70% da vazão média; b) O VRN para se obter uma vazão constante de 80% c) Qual a vazão constante que se pode obter com um reservatório de 120x106m3; d) Qual a máxima vazão constante que pode ser obtida? e) Qual o VRN para se obter uma vazão constante de 30 m3/s ? A vazão média do Rio Tietê nesta estação é de 25,0 m3/s. 7.12 - Considerando que a curva das Diferenças Totalizadas dada na figura seja do pior período de estiagem do Rio Tietê, estação fluviométrica de Cumbica, determine: a) O volume do reservatório necessário (VRN) para se regularizar uma vazão constante de 21,0m3/s; b) O VRN para se regularizar uma vazão constante de 25 m3/s; c) Qual a vazão constante que se pode obter com um reservatório de 320x106m3. d) O VRN para se regularizar uma vazão constante de 35 m3/s; A vazão média do Rio Tietê nesta estação é de 30,0 m3/s. Q 372 CURVA DAS DIFERENÇAS TOTALIZADAS DO EXERCÍCIO 7.11 373 CURVA DAS DIFERENÇAS TOTALIZADAS DO EXERCÍCIO 7.12 374 Solução (exercício 7.12) : Número de segundos no mês: Δt = 2,592 x 106 s a) VRN para Q1= 21,0 m3/s do Curva das Diferenças Totalizadas abaixo se obteve : VRN1 = 114x106m3 b) VRN para Q2 = 25 m3/s VRN2 = 212 x106m3 c) d) Como a máxima vazão possível de ser regularizadaé a vazão média, que no caso deste exercício é de , portanto é impossível regularizar a vazão Q = 35 m3/s. smQ /30 3= mêsmtQQi /10).33,23(10.592,2).0,300,21()( 366 -=-=D- mêsmttQQi /10.96,1210.592,2).0,5()0,300,25()( 366 -=-=D-=D- VtQQi =D- )( sm xx x Q t V Q /01,2730 1024592,2 10186 3 6 6 3 =+ - =+ D = smQ /30 3= 375 SOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 7.12 376 Ano Meses Vazão (m3/s) 1956 J 18,90 F 23,30 M 48,00 A 31,00 M 32,00 J 40,00 J 18,10 A 26,40 S 14,80 O 18,60 N 13,70 D 26,80 1957 J 34,50 F 14,30 M 17,20 A 10,40 M 9,80 J 10,60 J 9,20 A 9,30 S 13,50 O 8,90 N 21,60 D 18,20 1958 J 15,50 F 31,40 M 20,90 A 19,70 M 21,50 J 14,90 J 8,20 A 6,10 S 5,90 O 11,40 N 8,50 D 13,70 1959 J 19,90 F 40,70 M 23,70 A 31,60 M 20,60 J 15,50 J 12,40 A 18,90 S 16,40 O 14,00 N 23,90 D 21,30 7.13 - Dadas as vazões médias mensais do Rio Tietê no posto fluviométrico de Cumbica (Tabela ao lado), considerando que este seja o pior período de vazões baixas deste rio e utilizando a Curva de Massa das vazões (Diagrama de Rippl) e depois a curva das Diferenças Totalizadas, determine: a) Qual a máxima vazão constante possível de ser regularizada; 377 SOLUÇÃO : Calcula-se a Tabela ao lado Ano Meses Vazão (m3/s) 1956 J 18,90 -0,40 -0,40 F 23,30 4,00 3,60 M 48,00 28,70 32,30 A 31,00 11,70 44,00 M 32,00 12,70 56,70 J 40,00 20,70 77,40 J 18,10 -1,20 76,20 A 26,40 7,10 83,30 S 14,80 -4,50 78,80 O 18,60 -0,70 78,10 N 13,70 -5,60 72,50 D 26,80 7,50 80,00 1957 J 34,50 15,20 95,20 F 14,30 -5,00 90,20 M 17,20 -2,10 88,10 A 10,40 -8,90 79,20 M 9,80 -9,50 69,70 J 10,60 -8,70 61,00 J 9,20 -10,10 50,90 A 9,30 -10,00 40,90 S 13,50 -5,80 35,10 O 8,90 -10,40 24,70 N 21,60 2,30 27,00 D 18,20 -1,10 25,90 1958 J 15,50 -3,80 22,10 F 31,40 12,10 34,20 M 20,90 1,60 35,80 A 19,70 0,40 36,20 M 21,50 2,20 38,40 J 14,90 -4,40 34,00 J 8,20 -11,10 22,90 A 6,10 -13,20 9,70 S 5,90 -13,40 -3,70 O 11,40 -7,90 -11,60 N 8,50 -10,80 -22,40 D 13,70 -5,60 -28,00 1959 J 19,90 0,60 -27,40 F 40,70 21,40 -6,00 M 23,70 4,40 -1,60 A 31,60 12,30 10,70 M 20,60 1,30 12,00 J 15,50 -3,80 8,20 J 12,40 -6,90 1,30 A 18,90 -0,40 0,90 S 16,40 -2,90 -2,00 O 14,00 -5,30 -7,30 N 23,90 4,60 -2,70 D 21,30 2,00 -0,70 )( QQi -å)( QQi - 378 Com os dados da tabela acima faz-se o gráfico das diferenças Toatalizadas : versus o tempo, como mostrado na figura abaixo. a) b) Volume para regularizar Q = 19,3 m3/s do gráfico abaixo : VRN =320x106m3 c) Volume para regularizar: do gráfico abaixo è VRN =67,4x x106m3 è VRN =26,0x106m3 è VRN =0 (ou seja, a vazão de 1 m3/s é inferior a vazão mínima, portanto não há a necessidade de se ter um reservatório) d) Q=18,1 m3/s smQ /3,19 3= smQQ /3,19 3 max == smQ /5,13%70 3= smQ /7,9%50 3= smQ /0,1%5 3= )( QQi -å 379 380 7.14 - Calcular o volume do reservatório para uma vazão de demanda igual a 70% da vazão média, usar o método dos picos seqüenciais. Ano Meses Vazão (m3/s) 1993 J 9,13 F 5,76 M 5,43 A 3,74 M 3,45 J 2,94 J 2,61 A 3,65 S 2,21 O 2,79 N 4,45 D 5,96 1994 J 4,12 F 7,97 M 8,42 A 5,25 M 7,12 J 8,83 J 4,55 A 5,68 S 4,16 O 5,02 N 4,23 D 5,41 Solução: De acordo com a tabela de cálculo a seguir, tem-se: NOTA : Observe que na tabela abaixo se repetiu (dobrou) a série de dados, conforme exige o método dos picos seqüenciais. smQ /12,5 3= smQxRi /58,37,0 3== 36 3 1093,9/83,3 mxmês s m VAU == 381 Ano Meses Vazão (m3/s) di=Qi-Ri DACi=100+Σdi Picos Pi Depressões Mi VAUi = Pi - Mi 1993 J 9,13 5,55 105,55 F 5,76 2,18 107,73 M 5,43 1,85 109,58 A 3,74 0,16 109,74 109,74 M 3,45 -0,13 109,61 J 2,94 -0,64 108,97 J 2,61 -0,97 108,00 A 3,65 0,07 108,07 S 2,21 -1,37 106,70 O 2,79 -0,79 105,91 105,91 3,83 N 4,45 0,87 106,78 D 5,96 2,38 109,16 1994 J 4,12 0,54 109,70 F 7,97 4,39 114,09 M 8,42 4,84 118,93 A 5,25 1,67 120,60 M 7,12 3,54 124,14 J 8,83 5,25 129,39 J 4,55 0,97 130,36 A 5,68 2,10 132,46 S 4,16 0,58 133,04 O 5,02 1,44 134,48 N 4,23 0,65 135,13 D 5,41 1,83 136,96 1993 J 9,13 5,55 142,51 F 5,76 2,18 144,69 M 5,43 1,85 146,54 A 3,74 0,16 146,70 146,7 M 3,45 -0,13 146,57 J 2,94 -0,64 145,93 J 2,61 -0,97 144,96 A 3,65 0,07 145,03 S 2,21 -1,37 143,66 O 2,79 -0,79 142,87 142.87 3,83 N 4,45 0,87 143,74 D 5,96 2,38 146,12 1994 J 4,12 0,54 146,66 F 7,97 4,39 151,05 M 8,42 4,84 155,89 A 5,25 1,67 157,56 M 7,12 3,54 161,10 J 8,83 5,25 166,35 J 4,55 0,97 167,32 A 5,68 2,10 169,42 S 4,16 0,58 170,00 O 5,02 1,44 171,44 N 4,23 0,65 172,09 D 5,41 1,83 173,92 173,92 382