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TÓPICO 03: INÊS DE CASTRO EM NOSSOS DIAS VERSÃO TEXTUAL Até o século XIX, o amor desmedido, a injustiça flagrante, a saudade sem tréguas, o coroamento depois da morte, a perenidade do amor, o anseio pela eternidade etc. foram se revezando entre as ênfases que as diversas produções e escolas literárias dedicaram à história da rainha depois de morta. Mas, no final dos oitocentos, outros aspectos passaram a ser focalizados e facetas inesperadas surgiram de dentro de uma história que se suporia haver esgotado todas as possibilidades de surpreender. Já havíamos dito no começo deste estudo que a formação do mito de Inês de Castro de certa forma lastreou a construção da identidade portuguesa, da autoimagem e personalidade da nacionalidade lusitana. Nesse sentido, o mito inesiano como que deu corpo e forma à “saudade portuguesa” e gerou atributos a tal sentimento identitário: esforço de vencer a morte, almejar a eternidade, entre outros. A partir das vanguardas do início dos novecentos, vamos assistir alguns artistas procurando desconstruir o mito de Inês, para de alguma maneira tocar, analisar e, quem sabe, questionar o núcleo da imagem do ser português. OBSERVAÇÃO Um dos exemplos mais bem realizados dessa possível desconstrução está no romance Adivinhas de Pedro e Inês (1983), da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís, nascida em 1922 e ainda viva. Trata-se de um dos talentos literários mais profícuos de Portugal. Sua produção literária, que inclui romances, peças teatrais, ensaios e biografias, demonstra uma instigante preocupação com aspectos históricos e sociais da cultura de seu país. O pai de D.Pedro, manda executá-la, mesmo diante de seu belíssimo pedido de clemência, junto a seus filhos, netos de D. Afonso. Inês foi morta por degolamento. Nas Adivinhas, um narrador de estatuto bem peculiar para um romance realiza uma espécie de inquérito sobre a “verdade histórica” do episódio real de Inês de Castro. Como tal verdade se encontra vedada ao conhecimento objetivo, tanto pela falta de documentação e testemunhos fiéis, quanto pela desconfiança sobre métodos e critérios da História enquanto disciplina científica, a narrativa vai tentando preencher as lacunas e inconsistências do relato conhecido, formulando assim uma outra possibilidade de configuração da própria história. Narrador e leitor se unem num empreendimento ao mesmo tempo crítico e criativo, procurando extrair das brechas da história e do questionamento do mito produzido pela literatura anterior uma outra história, talvez um novo mito, capaz de representar mais adequadamente a sociedade presente. TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA AULA 02: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 2ª PARTE 20 Combinarenumerar.pdf TopicosdeLiteraturaPortuguesa_aula_02.pdf 03.pdf
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