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Literatura portuguesa aula 10 TASK119019

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LITERATURA PORTUGUESA
DO MODERNISMO À 
CONTEMPORANEIDADE EM PORTUGAL
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Caracterizar os aspectos mais relevantes da literatura portuguesa
nos século XX, em um estudo panorâmico e conciso; 2. identificar as propostas mais relevantes do grupo de
Presença; 3. estudar os elementos mais importantes do movimento neorrealista e da sua problematização, por
José Cardoso Pires; 4. conhecer traços de destaque na poesia e na prosa de outros escritores fundamentais do
século XX, como Jorge de Sena, Eugênio de Andrade, Sophia de Melo Breyner Andresen, Agustina Bessa Luís e
António Lobo Antunes; 5. identificar os traços inovadores da prosa de José Saramago.
1 Movimentos poéticos do século XX: um breve percurso
Em nossa décima e última aula, apresentaremos um panorama dos principais movimentos poéticos surgidos em
Portugal durante o século XX. Destarte, abordaremos a obra de alguns escritores que se posicionaram de modo
independente em relação a tais movimentos.
Por fim, falaremos sobre a prosa de José Saramago, que muito merecidamente obteve o Prêmio Nobel de
Literatura, em 1998, tornando-se o primeiro – e, até então, único – escritor de língua portuguesa a obter esta
premiação.
O Presencismo
Começaremos o nosso passeio na década de 20, a partir de um movimento chamado Presencismo. O seu nome
deriva da revista à qual estava atrelado, , cujo primeiro número foi lançado em 1927, por seusPresença
fundadores, os escritores José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca.
A revista continuava a linha aberta pelo Orfismo, no sentido de postular um fazer literário afastado dos lugares-
comuns e das convenções. Cabe afirmar que em Presença foram publicados textos de nomes relevantes do
Orfismo, como os de Fernando Pessoa e os de Almada Negreiros.
É a partir da senda aberta pelo Orfismo que os presencistas defendiam o predomínio de uma, nas palavras deles,
literatura viva contra a literatura livresca, ou seja, uma literatura tradicional e vinculada aos postulados de uma
tradição já decadente. Urgia a criação de obras originais e inovadoras, como defende José Régio, em seu artigo
“Literatura Viva”:
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“Em Arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte mais virgem, mais
verdadeira e mais íntima duma personalidade artística. A primeira condição duma obra viva é, pois,
ter uma personalidade e obedecer-lhe”.
Por conta dessa faceta do Presencismo, a crítica literária contemporânea afirma que foi este o movimento
responsável pela consolidação do Modernismo em Portugal, após a sua implantação pelo grupo de Orpheu, na
década de 10, no século XX. As concepções do Presencismo postulavam, ainda, a predominância do enfoque
estético na arte, para além de quaisquer julgamentos morais ou historicismos.
Chamam a essa perspectiva de “literatura artística” e a ela ligam concepções abstratas e metafísicas de arte, em
torno de um profundo rigor crítico, que orientava esse fazer estético. Retomam, assim, o ideal da Arte pela Arte,
vendo-a de modo transcendente e fora de canais ideológicos.
No manifesto do movimento presencista, a questão da arte pela arte vem à tona:
“As obras de arte mais completas podem ser mesmo aquelas em que mais complexamente se agitam
todas as preocupações de que o homem é vítima. E a paixão política, a paixão religiosa, como a
paixão por uma ideia ou por um ser humano podem inspirar grandes e puras obras de arte. Mas
entendamo-nos: o que então inspira a obra de arte é a paixão; e uma paixão considerada infamante
ou
uma paixão considerada nobre podem da mesma forma inspirar obras elevadas sob o ponto de vista
que nos interessa: estético.
O ideal do artista nada tem a ver com o do moralista, do patriota, do crente ou do cidadão: quando
sejam profundos e quando se tenham moldado de uma certa individualidade, tanto o que se chama
vício como o que se chama uma virtude podem igualmente ser poderosos agentes da criação
artística: podem ser elementos de vida de uma obra. Não sei se deveria ser assim — mas é assim.
Consulte quem quiser a história da literatura de qualquer povo”.
A postura do Presencismo opor-se-ia outro movimento artístico português, um pouco depois daquele momento:
o Neorrealismo.
O Neorrealismo em Portugal
• Neorrealismo é marcado por uma arte cujo enfoque dá-se em torno de critérios ideológicos, em franca 
contraposição aos critérios estéticos do Presencismo.
• movimento trouxe à tona algumas propostas da literatura realista oitocentista, como a defesa do 
engajamento do escritor e a percepção da obra literária como um instrumento de denúncia e de reflexão 
acerca dos problemas e desvios da sociedade.
• Posicionavam-se contra a metafísica e contra o psicologismo, contrapondo-se ao rigor crítico do 
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• Posicionavam-se contra a metafísica e contra o psicologismo, contrapondo-se ao rigor crítico do 
Presencismo, em nome do que viam como a necessidade de humanizar a arte.
Os neorrealistas reuniram os seus principais artigos em torno da revista , cuja publicação inicialSol nascente
data de 1937.
No ano seguinte, foi publicado o primeiro texto que empregou o termo “Neorrealismo”, em Portugal: o artigo de
“Do neo-realismo”, do escritor Joaquim Namorado.
A principal influência do Neorrealismo português foi a descoberta, por parte dos escritores lusitanos, da ficção
produzida nos Estados Unidos, durante a década de 30.
Outra influência importantíssima foi a da literatura brasileira criada à mesma época, com o seu cunho ideológico,
participativo e regionalista presentes nos romances. Um dos principais autores desse movimento brasileiro a
impactar a literatura neorrealista foi Jorge Amado.
Em torno de uma literatura focada na crítica social e nos elementos já descritos, os neorrealistas portugueses
criaram obras nas quais, nos moldes da literatura americana e latino-americana que seriam importantes fontes
de influência, houve a recusa em apresentar heróis mistificados
Outro elemento importante do Neorrealismo foi o diálogo entre a prosa literária e a linguagem cinematográfica,
que apareceria nas formas de estruturação de muitos romances neorrealistas.
Alves Redol, publicado em 1940, é considerado o primeiro romance neorrealista português. Há, na obra, um
nítido diálogo com o estilo literário do brasileiro Jorge Amado. O romance narra a vida dos gaibéus, camponeses
pobres da região do Ribatejo.
José Cardoso Pires e o Neorrealismo
O escritor José Cardoso Pires destaca-se em uma obra marcada pelas narrativas curtas, concisas e ágeis, pela
denúncia social e por uma problematização do Neorrealismo.
Segundo Massaud Moisés, Cardoso Pires propôs em seus textos um realismo diferente, que não se circunscreve à
objetividade, mas se pauta em uma dimensão relacionada, ao mesmo tempo, ao cotidiano e a uma:
“dimensão transcendente, numa autêntica radiografia do real. Por isso, o psicológico e o relacional
das situações enfocadas emergem do próprio caráter das personagens, à semelhança daquele
surrealismo que focalizando a realidade duma forma obsessivamente precisa, acaba por torná-la
irreal ou supra-irreal”. (MOISES, Massaud. ).História da Literatura Portuguesa
Escritores com independência em relação aos movimentos literários
A literatura portuguesa possui vários escritores de destaque que mantiveram certa independência em relação
aos movimentos literários.
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Dentre eles, destaca-se Jorge de Sena, cuja obra apresenta uma visão múltipla e fragmentada do mundo, em
torno da mescla entre o real e o ideal, bem como entre a história e o mito. Essa multiplicidade, entretanto, não
afastava uma visão profundamente analítica dos seres, dos sentimentos e do mundo, em sua escrita.
Sophia de Melo Breyner Andresen é outra poetisa portuguesa de grande destaque, com uma obra complexa, na
qual tentou, segundo as suas palavras, buscar “olhar por dentro das coisas”, indo para além das aparências do
mundo. O signo do mar é recorrentena obra de Andresen e alude a múltiplas imagens, como a subjetividade, a
natureza, a insustentabilidade do real e a própria linguagem.
Sua poesia está repleta, ainda, de uma dicção panteísta, na qual o ser entra em simbiose com o natural. E além
dessas diversas facetas, a obra de Andresen abarca também temas clássicos e históricos, porém, ainda afastados
da objetividade, em uma obra que tenta ir ao âmago dos seres e das coisas.
É importante destacar, também, o poeta Eugênio de Andrade, cuja obra nos revela um lirismo comedido tecido
em grande requinte verbal. Sua poesia é repleta de sinestesias e de ambiguidades e constrói-se em torno das
reflexões acerca dos limites e das possibilidades da linguagem poética, na busca de uma “poesia pura”, que se
sobrepusesse ao real empírico. Há a procura pela essência do ser e da eliminação de todos os excessos que o
impedissem de ser percebido.
Na prosa contemporânea portuguesa, cabe o destaque da obra de Agustina Bessa Luís, que contribui para a
inovação da prosa literária portuguesa. Há, em sua obra, uma representação do real na qual este afirma a sua
identidade com o ideal. Outro ponto importante de sua narrativa é a problematização da figuração do tempo e do
espaço narrativo, pois a linearidade tempo-espacial é dissolvida e substituída pela multiplicidade da
representação do espaço e do tempo, através da ubiquidade e da ucronia, que embaralham os planos do espaço e
do tempo, do real e do ideal. Assim, as referências convencionais são dissolvidas.
O nome de António Lobo Antunes também é de extrema relevância para a literatura portuguesa. Seus romances
pontuam a crise do homem moderno frente aos novos modos de viver e à falta de aparatos que o tranquilizem. A
representação da memória, da problematização da subjetividade e do deslocamento é constante em suas
narrativas, que utilizam uma linguagem experimental e o recurso da simultaneidade. Um dado importante na
obra de Lobo Antunes é a narrativa que, a partir da fala de um narrador, se estende a outros pontos de vista, a
partir do olhar de variadas.personas
José Saramago
A narrativa de José Saramago apresenta uma linguagem literária e uma estruturação extremamente inovadoras.
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Sua obra é escrita em uma linguagem em que predomina o discurso indireto livre e a abundância de vírgulas, em
parágrafos geralmente extensos. Essa estrutura constrói uma narrativa próxima à linguagem cotidiana, mas, ao
mesmo tempo, experimental, com a multiplicidade de vozes presente, em uma construção polifônica, na qual se
embaralham as vozes do narrador e das personagens.
A polifonia não se apresenta apenas nesse embaralhamento, mas no fato de suas narrativas trazerem à tona
discursos diferentes, em constante tensão. Essa postura é capaz de levar o leitor ao questionamento de
determinadas ideias tidas como verdadeiras, percebendo-se o seu caráter artificial, ou ainda de orientar o leitor
a uma reflexão mais aguda acerca de suas próprias certezas.
O discurso literário, em Saramago, pode ser, pois, percebido como um instrumento de questionamento. A leitura
de sua obra propõe, em um movimento duplo, a releitura das versões estabelecidas pelo discurso histórico, ao
mesmo tempo em que propõe a desestabilização do senso comum. Sua obra, entretanto, é marcada por um veio
fantástico, que não a leva ao puro entretenimento, mas que faz da fantasia um instrumento agudo de reflexão.
Em , Saramago escreveu, em torno de um narrador em terceira pessoa, sobreO Evangelho segundo Jesus Cristo
a vida de Jesus, em uma versão contraposta ao texto bíblico. Nessa obra, Saramago questiona muitos dogmas da
igreja católica ao pensar sobre a existência de um Jesus humano e perplexo frente às contradições de sua vida.
Talvez esta tenha sido a obra mais polêmica de Saramago, chegando mesmo a sofrer censura
Deus, que está em toda a parte, estava ali, mas, sendo aquilo que é, um puro espírito, não podia ver
como a pele de um tocava a pele do outro, como a carne dele penetrou a carne dela, criadas umas e
outras para isso mesmo, e, provavelmente, já nem lá se encontraria quando a semente sagrada de
José se derramou no sagrado interior de Maria, sagrados ambos por serem a fonte e a taça da vida,
em verdade há coisas que o próprio Deus não entende, embora as tivesse criado. Tendo, pois saído
para o pátio, Deus não pôde ouvir o som agónico, como um estertor, que saiu do varão no instante da
crise, e menos ainda o levíssimo gemido que a mulher não foi capaz de reprimir. Apenas um minuto,
ou nem tanto, repousou José sobre o corpo de Maria. (SARAMAGO, José. O Evangelho Segundo
).Jesus Cristo
No trecho anterior, podemos verificar a imaginação literária questionando um dos principais dogmas do
Cristianismo, a virgindade de Maria, que é apresentada na narrativa como uma mulher comum, que sofre em
uma sociedade patriarcal, na qual a mulher possui um lugar inferior. Saramago faz da literatura um instrumento
para pensar novas possibilidades e ao ousar fazê-lo em torno de dogmas religiosos sofreu uma série de
consequências.
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No romance , Saramago escreve a partir de um lugar-comum, o caráter nocivo daAs intermitências da morte
morte, tentando questioná-lo. Também em uma narrativa em terceira pessoa, conta em um romance tripartido,
sobre uma decisão da morte - com m minúsculo, diz a própria personagem, pois a Morte com M sequer poderia
ser imaginada pelos mortais.
A decisão da morte é tirar férias, dada a reação terrível que provoca diante das pessoas diante do quadro,
entretanto, o caos instaura-se entre os homens da região na qual a morte serve. Segue-se, então, para a segunda
parte do romance, na qual a morte tenta diminuir o impacto terrível que provoca nas pessoas ao enviar um
cartão roxo, com a função de anunciar o dia de sua chegada. A situação também será caótica...
Por fim, na terceira parte, a morte encontra alguém que ignora o seu cartão roxo. Trata-se de um músico, por
quem ela toma a forma de uma mulher. A relação entre o músico e a morte/mulher assume proporções
inesperadas, até que:
"Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor
violeta. Olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o
piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em
que a cabeça do homem descansava. Não o fez.
Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o
olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contacto dos
dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta
da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama,
abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu
que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu."
A arte seduz a morte, metaforicamente, e o romance termina, em um apelo cíclico, como começou: “No dia
seguinte ninguém morreu”. Frente à precariedade humana, a Arte é o que permite a reflexão e a continuidade,
justificando a existência e a tornando mais suportável, é possível inferir na narrativa.
O QUE VEM NA PRÓXIMA AULA
• Você concluiu essa disciplina.•
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CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu, em um breve percurso, os autores mais relevantes da literatura portuguesa no século XX;
• identificou as principais propostas do Presencismo em Portugal;
• identificou as orientações mais relevantes do Neorrealismo português;
• estudou as características inovadoras da prosa de José Saramago.
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•
	Olá!
	1 Movimentos poéticos do século XX: um breve percurso
	O QUE VEM NA PRÓXIMA AULA
	CONCLUSÃO