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FUNDAMENTOS_DE_ANTROPOLOGIA_E_SOCIOLOGIA

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FUNDAMENTOS DE 
ANTROPOLOGIA E 
SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anderson Eduardo Carvalho de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNDAMENTOS DE 
ANTROPOLOGIA E 
SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IMES 
Instituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/C Ltda. 
 
William Oliveira 
Presidente 
 
Cristiano Lobo 
Diretor de Operações 
 
Valdemir Ferreira 
Diretor Administrativo Financeiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
 
Produção Acadêmica Produção Técnica 
Anderson Eduardo Carvalho de Oliveira | Autor(a) 
 
 
 
 
 
Imagens 
Corbis/Image100/Imagemsource 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
copyright © FTC EAD 
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. 
É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, 
da FTC EAD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................................7 
1 SOCIOLOGIA ............................................................................................................................. 15 
1.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS HUMANAS ........................................................................17 
1.1.1 Dificuldades metodológicas das ciências humanas .............................................................. 21 
1.2 A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA .................................................................23 
1.2.1 A sociologia funcionalista de Émile Durkheim ...................................................................... 25 
1.2.2 A sociologia compreensiva de Max Weber ........................................................................... 27 
1.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS CLÁSSICOS ...................................................................................................30 
1.3.1 Karl Marx e a luta de classes ................................................................................................ 30 
1.3.2 Emile Durkheim e a divisão do trabalho social ...................................................................... 32 
1.3.3 Max Weber e o processo de racionalização social ......................................................................34 
1.4 PROBLEMAS E MÉTODOS DE PESQUISA NA SOCIOLOGIA ................................................................36 
1.4.1 Principais métodos de pesquisa disponíveis ......................................................................... 37 
Atividades complementares ...................................................................................................................39 
2 SOCIOLOGIA JURÍDICA ............................................................................................................. 45 
2.1 FUNÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA JURÍDICA .............................................................47 
2.1.1 Efeitos, eficácia e adequação interna das normas jurídicas ................................................... 49 
2.2 SOCIOLOGIA DA APLICAÇÃO DO DIREITO: OPERADORES DO DIREITO ............................................53 
2.3 SOCIOLOGIA DA APLICAÇÃO DO DIREITO: ACESSO À JUSTIÇA .........................................................59 
2.4 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E DIREITO .................................................................................................62 
2.4.1 Desigualdade, mobilidade e a perspectiva da sociologia jurídica ........................................... 63 
Atividades complementares ...................................................................................................................66 
3 ANTROPOLOGIA GERAL ............................................................................................................ 71 
3.1 A CONSTITUIÇÃO DA ANTROPOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA ...........................................................73 
3.2 ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS ............................................................................................................76 
3.3 O CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA ..................................................................................80 
3.3.1 Processo cultural ................................................................................................................. 82 
Trabalho de campo .................................................................................................................................85 
Atividades complementares ...................................................................................................................88 
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA ........................................................................................................ 93 
4.1 FUNÇÃO E OBJETO DE ESTUDO ........................................................................................................95 
4.2 PLURALISMO JURÍDICO.....................................................................................................................97 
4.2.1 Concepções atuais do pluralismo jurídico ............................................................................. 98 
4.3 DIREITO E RELAÇÕES DE GÊNERO ..................................................................................................101 
4.4 RAÇA, RACISMO E SISTEMA DE JUSTIÇA ........................................................................................105 
Atividades complementares .................................................................................................................109 
 
 
 
 
 
Glossário .. ................................................................................................................................ 113 
Referências ............................................................................................................................... 115 
APRESENTAÇÃO 
Prezado/a estudante, 
 
No século XXI, os efeitos do processo de globalização, os avanços tecnológicos e os 
fluxos migratórios experimentados em nossa sociedade, para citar apenas alguns fatores, 
impõem a necessidade de um novo perfil para o profissional do Direito, cada vez mais crítico, 
flexível, engajado politicamente e capaz de desenvolver análises interdisciplinares. Como 
sustenta Reale (2002p. 264), antes de dedicar-se ao problema da norma, entendido como um 
problema de tomada de decisão ante o fato, “deve ser habilitado a analisar objetivamente a 
realidade social e a explicar os seus elementos e processos, segundo ditames de ciências não-
normativas” , como é o caso da Antropologia e da Sociologia. 
A Antropologia e a Sociologia são duas das mais significativas ciências sociais e 
humanas, aqui agrupadas com a finalidade de gerar o componente curricular Fundamentos de 
Antropologia e Sociologia Jurídica. O objetivo principal deste componente reside em auxiliá-
lo/a na compreensão dos aspectos culturais e das relações sociais e, assim, gerar a competência 
de correlacionar fenômenos históricos, políticos, sociais e econômicos com a criação, a 
interpretação e a aplicação do direito, valorizando e respeitando as diferenças culturais. 
O componente curricular foi organizado em duas partes, que foram divididas em duas 
unidades e, para cada unidade, foram fixados quatro conteúdos específicos. Assim, na 
primeira parte, dedicaremos os nossos esforços aos estudos sociológicos. Na Unidade 1, 
estudaremos a Sociologia Geral, analisando o processo de institucionalização das ciências 
sociais e humanas, principalmente da Sociologia, seu método e objeto de estudo, bem como a 
contribuição deixada por seus autores clássicos. Na Unidade 2, voltaremos o olhar para o 
campo da Sociologia Jurídica, seus pressupostos fundamentais e alguns conteúdos que lhe são 
caros: a eficáciadas normas jurídicas, a administração da justiça (profissões jurídicas e acesso 
à justiça) e a discussão sobre estratificação social e direito. 
Já na segunda parte, o foco é dado aos estudos antropológicos, seguindo a mesma lógica 
definida na parte anterior, de modo que trataremos, na Unidade 3, da Antropologia Geral, a 
partir do seu processo de institucionalização enquanto ciência, seu objeto e método de 
pesquisa, bem como as suas principais escolas de pensamento e o conceito de cultura. Por fim, 
na Unidade 4, será a vez de aproximar Antropologia e Direito, destacando alguns pontos de 
toque que nos parecem mais fundamentais: as discussões em torno do pluralismo jurídico e 
das categorias analíticas gênero e raça. 
7 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
Obviamente, com este componente curricular, não esperamos esgotar todas as 
intersecções entre Antropologia, Sociologia e Direito, senão possibilitar um primeiro contato 
com o universo das ciências sociais e humanas, ampliando suas possibilidades de análises 
teóricas e desenvolvendo o senso crítico necessário para a melhor compreensão dos problemas 
jurídicos que se impõem no cotidiano dos profissionais do Direito. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
CONHECENDO OS ÍCONES DO LIVRO 
 
Ao longo da exposição dos conteúdos deste componente curricular, você vai se deparar 
com ícones postos para orientar os seus estudos. A seguir, você conhecerá o que significa cada 
um deles: 
 
 
Propõe situações-problemas sobre o conteúdo abordado ao decorrer do texto, no intuito 
de promover uma postura crítico- reflexiva sobre a realidade. 
 
Evidencia um conteúdo importante para a compreensão da temática. 
 
São informações ou relatos de experiências relacionados ao conteúdo desenvolvido que 
possibilitem o seu melhor entendimento. 
 
Aparecerá sempre ao final de cada unidade temática, com a indicação de material 
bibliográfico que ampliam ou reforçam o conteúdo. 
 
Ao longo do módulo, indicaremos produções da “sétima arte” que auxiliam na 
compreensão do conteúdo abordado. 
 
 
 
 
 
9 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
PARA INÍCIO DE CONVERSA... 
A IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA E DA SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
Neste momento, iniciamos a nossa jornada de estudos acerca dos Fundamentos de 
Antropologia e Sociologia Jurídica. Você consegue mensurar a importância do conhecimento 
que será aqui produzido para pensar a formulação e a aplicação do direito? Para te preparar 
para este grande desafio, pedimos que reflita sobre a questão proposta a seguir: 
 
 
Pontes de Miranda, grande jurista alagoano morto em 1979, certa feita proclamou: “Quem 
só Direito sabe, nem Direito sabe”. Como essa frase repercute para você? 
As novas demandas sociais impõem para os futuros profissionais do direito a 
necessidade de uma leitura crítico-reflexiva acerca da dinâmica da vida em sociedade, que não 
está limitada a um emaranhado de normas jurídicas e suas sistematizações. Vamos entender 
um pouco melhor essa discussão, analisando o mapa mental a seguir: 
 
 Figura 1 – Mapa Mental das Abordagens Teóricas Para o Estudo do Direito 
 
Fonte: Autoria Própria (2018) 
10 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
Se hoje defendemos um novo modelo para a produção de estudos no campo das ciências 
jurídicas, que não só contemple uma perspectiva epistemológica, mas também aspectos 
axiológicos, este não foi o paradigma sustentado durante todo o século XIX e boa parte do 
século XX. 
Até a primeira metade do século XX, o Direito esteve fortemente alinhado a uma 
abordagem teórica conhecida como positivismo jurídico, que tem na figura de Hans Kelsen 
um de seus maiores expoentes. Como visto na figura 1, em sua Teoria Pura do Direito, Kelsen 
propõe a autonomia do Direito como um problema científico relevante, desenhando métodos 
e objetos específicos capazes de garantir aos estudiosos o alcance do seu conhecimento 
científico. O ponto de partida de sua construção teórica é o princípio da pureza, segundo o 
qual se busca alcançar uma pretensa neutralidade científica, afastando o estudo do direito da 
influência de outros campos do saber, como a própria Antropologia e a Sociologia, mas 
também de uma ordem axiológica. 
 
 
 
 
 
 
Para Nader (2015, p. 238), “a pureza metódica consiste na 
adstrição da teoria a fatores estritamente jurídicos, sem a ingerência de 
ideologias políticas e das ciências da natureza.” 
Com isso, este autor sustenta que Kelsen, ao rejeitar a inclusão do fato 
e do valor, não anula a importância destes para o direito. Faz, no entanto, no intuito de 
distinguir a ciência do direito dos demais campos disciplinares que tratam do fenômeno 
jurídico. 
Neste sentido, a teoria proposta por ele pode ser entendida como reducionista, uma vez 
que identifica o direito com a norma jurídica, sem promover juízos de valor. Não importa se a 
prescrição é justa ou injusta, mas que observe os padrões de validade e eficácia. 
O Direito é, então, colocado como uma ciência social que integra o mundo do dever ser. 
Logo, não necessariamente caracteriza os fatos ocorridos, ocupando-se em estabelecer o dever 
ser das condutas sociais (NADER, 2015). Ademais, diferente das ciências naturais, que ao se 
debruçarem sobre os fenômenos que apresentam regularidades aplicam o princípio da 
 
Hans Kelsen (1881-1973) foi um jurista e filósofo austríaco, 
sendo um dos mais influentes teóricos do Direito de seu tempo. 
É considerado o principal representante da Escola Normativista 
do Direito, ramo da Escola Positivista. Ganhou grande 
notoriedade com a publicação da obra Teoria Pura do Direito. 
Fotografia 1 - Hans Kelsen 
Fonte: 
<https://www.google.com.br/sea
rch?q=Hans+Kelsen&oq=Hans+
Kelsen&aqs=chrome..69i57j0l5.4
722j0j8&sourceid=chrome&ie=U
TF-8> 
 
 
11 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
Fonte: Disponível 
em:<https://educacao.uol
. 
com.br/biografias/miguel
- 
reale.htm> 
 
causalidade (ou seja, a uniformidade e a constância de certos fatos sugerem dadas 
consequências: dado A é B), as ciências normativas, como o Direito, não registram com 
regularidade a sucessão de fatos e efeitos, devendo ser subordinadas ao princípio da 
imputabilidade (dado A, deve ser B). 
Ainda conforme explica Nader (2005, p. 240), “as ciências normativas não prescrevem 
normas, pois seu papel seria apenas o de estudar conteúdos normativos e os vínculos sociais 
correspondentes”. Ademais, os indivíduos somente se submetem a uma norma dada a partir 
do momento em que ela dispõe sobre a sua conduta, de modo que o sistema jurídico se 
constitui meramente como uma ordem coercitiva, um sistema de sanções. 
Porém, a partir da segunda metade do século XX, iniciou-se um esforço para a 
incorporação de valores sociais à análise da ordem jurídica, em um movimento que ficou 
conhecido como Pós-Positivismo Jurídico. Dentre as principais construções teóricas deste 
novo momento, destacamos a Teoria Tridimensional do Direito proposta pelo brasileiro 
Miguel Reale, igualmente sintetizada na figura 1. 
 
 
 
 
 
Por intermédio desta teoria, Reale promoveu a unificação de três 
concepções unilaterais do direito, quais sejam: 
 
a) o sociologismo jurídico: que se associa aos fatos e à eficácia 
do direito; 
b) o moralismo jurídico: vinculado aos valores e aos 
fundamentos do direito; 
c) o normativismo abstrato: no que diz respeito às normas e à vigência do direito. 
 
Em sua formulação, o autor concebe “a tridimensionalidade do Direito em fórmula 
própria, em que os elementos fato, valor e norma, sem predominância e sem justaposição, se 
interdependem na formação do Direito.” (NADER, 2015p. 329). É a interação constante entre 
o aspecto fático (fato) e o axiológico (valor) que gera – e também relaciona – a norma.Esta 
 
Fotografia 2 - Miguel Reale 
Nascido em 1910 e morto em 2006, Miguel Reale é um 
jusfilósofo brasileiro que alcançou projeção internacional ao 
propor sua teoria tridimensional do direito. 
12 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
interação é denominada pelo próprio Miguel Reale como “dialética da complementariedade” 
e é ela a responsável por apresentar o Direito como uma ciência aberta. 
As duas formas distintas de perceber a ciência do Direito aqui apresentadas geram 
também duas maneiras diversas de proceder com a investigação de um problema jurídico. 
Como mostra a figura 1, o positivismo nos encaminha para um enfoque dogmático, enquanto 
a tridimensionalidade do direito nos conduz para um enfoque zetético. 
No enfoque dogmático, o direito é analisado como prescrições de condutas, sem que as 
suas premissas técnicas (as normas jurídicas) sejam questionadas, promovendo apenas suas 
sistematizações, conceitos e classificações. Diz-se, por isso, que se assume um sentido diretivo 
do discurso, isto é, aquele que visa dirigir o comportamento humano. 
Já o termo zetética vem do grego zetein, que significa perquirir, investigar. Isto quer 
dizer que, no enfoque zetético, o pesquisador preocupa-se fundamentalmente com o 
problema especulativo, visando uma vasta caracterização dos fenômenos jurídicos que possa 
garantir uma compreensão mais ampliada deles. Assim, assume-se um sentido informativo do 
discurso, aproximando a ciência do Direito dos demais campos disciplinares, como a Biologia, 
a Medicina, a História, e também a Antropologia e a Sociologia, entre outras. É este o enfoque, 
portanto, que representa a verdadeira reflexão jurídica, questionando a ordem normativa e 
reunindo os conhecimentos das ciências afins para melhor intervir na realidade social. 
 
 
Como é possível interpretar a realidade do sistema prisional brasileiro ou o número cada 
vez maior de jovens da periferia dos grandes centros urbanos mortos em ações policiais 
sem pensar na seletividade advinda do racismo institucional arraigado em nossa cultura? 
Ou, de que modo analisar os elevados índices de violência doméstica e familiar contra as 
mulheres e as reivindicações por parte dos movimentos feministas para a criação de leis 
específicas que pautem o enfrentamento desta grave violação de direitos humanos senão a 
partir de um resgate histórico, capaz de revelar a leniência com a qual o Estado sempre 
tratou tais situações? 
Poderíamos, ainda, refletir sobre os processos de criminalização da pobreza; o 
reconhecimento de direitos e garantias fundamentais para a população de Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Travestis, Transgêneros, Intersexo e Queer – LGBTTIQ; a demarcação de terras 
indígenas e quilombolas ou a desapropriação para fins de reforma agrária; as constantes 
propostas de reformas trabalhistas e previdenciárias etc. Com isso, queremos dizer que a 
melhor compreensão dos fenômenos jurídicos nos coloca diante da necessidade de um olhar 
para as nossas condições históricas e sociais. 
 
 
13 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
Portanto, a Sociologia, ao produzir conhecimento acerca da dinâmica das relações 
sociais, e a Antropologia em sua busca constante por compreender a alteridade humana, 
acabam por assumir um papel fundamental para a ciência do Direito, constituindo-se em 
componentes curriculares zetéticos indispensáveis para a sua formação acadêmica e 
profissional. 
 
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
REALE, Miguel. Teoria tridimensional do direito. São Paulo: Saraiva, 1980. 
 
14 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
SOCIOLOGIA 
 
 
15 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
SOCIOLOGIA GERAL 
 om a leitura de nossas notas introdutórias, esperamos que você tenha conseguido 
perceber a importância da Sociologia para o estudo do Direito. No entanto, antes de 
adentrarmos em um debate mais específico sobre as interfaces dessas duas ciências, é 
indispensável que você se aproprie do aparato teórico e metodológico das ciências sociais. 
Então, nesta primeira unidade, vamos traçar o processo histórico de institucionalização das 
ciências humanas, recuperando as contribuições mais fundamentais de seus teóricos clássicos 
e os problemas e métodos disponíveis para a pesquisa neste campo do saber. Vem comigo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
C 
16 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
1.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS HUMANAS 
 
 “Penso, logo existo”. A máxima construída pelo filósofo francês René Descartes nos 
remete à capacidade que temos, enquanto seres pensantes, de apreender o mundo e a natureza 
de todas as coisas, bem como as relações desenvolvidas no seio da sociedade em que estamos 
inseridos, gerando uma sede insaciável por conhecimento. 
Hoje a ciência é considerada, a forma de acesso ao conhecimento por excelência. Porém, 
há de se evidenciar que, ao longo da história da humanidade, vários modos de produção dos 
saberes foram vislumbrados e legitimados. Vamos conferir, observando o diagrama a seguir: 
Figura 1 - Formas de Acesso ao Conhecimento 
 
 
 Fonte: Autoria Própria (2018) 
Como exposto na figura 2, no período da Antiguidade, principalmente na fase tribal dos 
povos gregos, o conhecimento era acessado a partir de mitos, uma espécie de narrativa feita 
em público e adotada como verdadeira pelos seus ouvintes, com base na confiança e 
autoridade depositadas no narrador, chamado poeta-rapsodo. Este seria um escolhido dos 
deuses, que lhe mostravam os acontecimentos do passado, permitindo assim enxergar a 
origem dos seres e das coisas para em seguida repassá-las aos seus ouvintes. As narrativas 
míticas, em regra, buscavam explicar a realidade de três maneiras principais, quais sejam: a) as 
relações sexuais entre as forças divinas pessoais; b) situações de rivalidade ou aliança entre os 
deuses; e c) recompensas ou castigos atribuídos pelos deuses para aqueles que seguiam seus 
ditames ou os desobedeciam. (CHAUÍ, 2000). 
 
17 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
 
Na mitologia grega, o trabalho é apresentado como um castigo imposto aos homens pelos 
deuses. Segundo se narra, Prometeu, titã responsável pelos raios e tempestades, apiedou-se 
da condição humana e roubou o fogo dos deuses para presenteá-los. A partir do uso do 
fogo, os homens teriam começado seu processo de evolução, sendo tomados por um 
sentimento de poder e presunção que os fizeram não respeitar mais os deuses, decidindo 
que ocupariam o lugar deles. Após terem sido vencidos pelos deuses, os homens tiveram 
que se submeter a alguns castigos, sendo o trabalho o primeiro deles. Você conhece outras 
narrativas da mitologia grega? Compartilhe com os seus colegas. 
Porém, com o passar do tempo, uma série de fatores fizeram com que as narrativas 
míticas fossem desacreditadas, emergindo uma nova forma de produção do conhecimento 
entre os gregos. Dentre essas circunstâncias, podemos citar as viagens marítimas; a invenção 
do calendário, da moeda e da escrita alfabética; o desenvolvimento da vida urbana e da 
política, que promoveram uma mudança radical nas relações socioeconômicas. Segundo 
Lemos Filho e Pereira Júnior (2012, p. 21), esses fatos criaram “condições históricas para o 
aparecimento de grupos de pessoas ricas e liberadas do trabalho produtivo, que podiam se ‘dar 
ao luxo’ de se dedicar à cultura letrada.” 
É nessa conjuntura que, por volta do século V a.C., tem-se o surgimento da Filosofia. 
Conforme Chauí (2000), ela nasceu quando se descobriu que a verdade sobre o mundo e os 
humanos não era algo secreto e misterioso que necessitava ser revelado por seres divinos e 
seus escolhidos. Qualquer pessoa poderia conhecer, desde que fizesse uso sistemático da 
razão. 
Além da tendência à racionalidade, a Filosofiatambém apresenta como características 
fundamentais a recusa de explicações preestabelecidas e uma forte tendência a generalizações. 
Contudo, como advertem Lemos Filho e Pereira Júnior (2012, p. 23), “a produção do 
conhecimento, por mais racionalizada que tenha sido, expressava implicitamente, sob a forma 
de verdade, os valores e práticas sociais da época.” 
Já na Idade Média, a desagregação do Império Romano no ocidente e as constantes 
invasões bárbaras feitas por povos mulçumanos à Europa fizeram com que o continente se 
fechasse em si próprio, tornando o comércio inviável. Diante da crise comercial, a opção foi 
pelo investimento na agricultura e na pecuária de subsistência. Tem-se aí a criação das bases 
para o desenvolvimento do feudalismo e a elevação do status atribuído à Igreja Católica, que 
por ser a instituição melhor estruturada no período, assumiu certa centralidade no debate 
político, impondo, inclusive, um novo padrão para a produção do conhecimento. Pauta-se, a 
partir desse momento, no alinhamento dos saberes herdados da filosofia grega aos 
pressupostos do cristianismo. Isto é, uma tentativa de aliar razão e fé: “todo saber que pudesse 
18 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
ser assimilado pela fé cristã era considerado verdadeiro; os demais, falsos” (LEMOS FILHO; 
PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 24), de modo que o conhecimento adquire traços teocêntricos. 
 
 
Você conhece a expressão dogma? Ela foi muito mobilizada naquele contexto 
histórico. Dogma é um termo de origem grega e que significa “o que se pensa é verdade”. 
Na Idade Média, o termo adquiriu um caráter religioso, tornando os fundamentos cristãos 
como verdades absolutas, inquestionáveis e irrevogáveis. Rejeitá-los poderia significar 
heresia e acarretar a excomunhão ou mesmo a perseguição pela Inquisição. 
 
Somente com o colapso do sistema feudal e a emergência do capitalismo, inaugurando a 
Idade Moderna, é que novos fatores concorreram para criar um cenário propício ao 
desenvolvimento da ciência. Os mesmos autores agrupam tais fatores em três ordens 
distintas: fatores socioculturais, fatores intelectuais, além do próprio sistema das ciências. 
Dentre os primeiros, destacamos como mais significativos a formação dos Estados Nacionais, 
a Revolução Comercial, a Reforma Protestante e, sobretudo, a Revolução Francesa e a 
Revolução Industrial. 
A Revolução Francesa promoveu a ascensão da burguesia e a consequente ruptura com 
a formação social observada na Idade Média, relativizando o poder político do clero e da 
nobreza. Por outro lado, a Revolução Industrial, iniciada com a introdução da máquina a 
vapor e a modernização dos métodos de produção, provocou significativos abalos na 
sociedade do século XVIII. Dentre eles, citamos o crescimento demográfico das cidades sem a 
devida infraestrutura básica; ausência de moradia; disseminação de epidemias; altos índices de 
violência, prostituição e suicídio; exploração do trabalho humano nas fábricas, inclusive com a 
introdução do trabalho feminino e infantil; concentração da propriedade nas mãos dos 
grandes empresários capitalistas e o surgimento de uma nova classe social, o proletariado. 
 
 
Alguns filmes ilustram bem o contexto social da Europa do século XVIII. Recomendamos, 
especialmente, Germinal, dirigido por Claude Berri e com Gérard Depardieu e Miou-Miou 
no elenco. 
19 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
Quanto aos fatores intelectuais, Lemos Filho e Pereira Júnior (2012) remontam para um 
movimento iniciado ainda na Idade Média, que advogava pela elevação dos estudos sobre a 
cultura greco-romana e o retorno aos ideais de exaltação do homem. Este movimento, 
chamado Renascimento, propagava que “o conhecimento deixa de ser revelado, como 
resultado de uma atividade de contemplação e fé, para voltar a ser o que era antes, entre 
gregos e romanos, o resultado de uma bem conduzida atividade mental.” (LEMOS FILHO; 
PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 29). 
O Renascimento foi sucedido pelo Iluminismo, movimento que ganhou força na França 
do século XVII, defendendo o domínio da razão sobre a leitura teocêntrica de realidade. 
Assim, no propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade da época, 
defendiam que o pensamento racional deveria substituir as crenças religiosas e o misticismo. 
Duas vertentes principais se acentuaram: o racionalismo, que tem em René Descartes e seu 
método da dúvida um de seus maiores representantes; e o empirismo, pautado por filósofos 
como John Locke e David Hume, para quem o conhecimento era adquirido com o passar do 
tempo por meio das experiências humanas. 
Na tentativa de tornar mais fácil a sua compreensão, convidamos você a ler atentamente 
o quadro a seguir, que compara as principais características dessas duas vertentes distintas: 
 
Quadro 1 – Principais Características do Racionalismo e do Empirismo 
 
RACIONALISMO EMPIRISMO 
Conhecimento Dá-se pelas ideias inatas, ou seja, 
os pensamentos existentes no 
homem desde sua origem, que o 
permite deduzir as demais coisas 
do mundo. 
Experiência como base do 
conhecimento científico. 
A sabedoria é adquirida 
por intermédio da 
percepção do mundo 
exterior. 
Ideais Concedidas por Deus, são 
inatas, no sentido de que os 
sujeitos já nascem com elas. 
Tem sua origem nos 
processos de abstração, a 
partir dos sentidos. 
Razão Independe da experiência 
sensível, sendo capaz de discernir 
o bem e separar o verdadeiro do 
falso. 
Depende da experiência 
sensível e apenas opera a 
partir dela. 
Método Dedutivo Indutivo 
 Fonte: Autoria Própria (2018) 
20 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
Já a terceira ordem de fatores está relacionada diretamente com a dinâmica do “sistema 
das ciências”, cada vez mais voltada para a necessidade de controle e compreensão da 
natureza. Isso porque as crises observadas ao longo do século XVIII em função dos 
acontecimentos sociais que marcaram essa época “provocaram uma convicção de que os 
métodos das ciências da natureza deviam e podiam ser estendidos aos estudos das questões 
humanas e sociais”. (LEMOS FILHO; PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 31). Tivemos, então, o 
cenário propício para a institucionalização das ciências sociais e humanas. 
 
 
Você conhece a expressão dogma? Ela foi muito mobilizada naquele 
contexto histórico. Dogma é um termo de origem grega e que significa “o que se pensa é 
verdade”. Na Idade Média, o termo adquiriu um caráter religioso, tornando os 
fundamentos cristãos como verdades absolutas, inquestionáveis e irrevogáveis. Rejeitá-los 
poderia significar heresia e acarretar a excomunhão ou mesmo a perseguição pela 
Inquisição. 
1.1.1 Dificuldades metodológicas das ciências humanas 
 
O cenário propício para a institucionalização das ciências humanas, como vimos acima, 
não afastou a controvérsia deste processo. Se nas ciências da natureza o objeto de estudo está 
situado fora do sujeito que o busca conhecer, nas ciências humanas o objeto a ser conhecido 
se confunde com o próprio sujeito cognoscente, gerando amplos debates sobre a 
possibilidade de se estudar com isenção aquilo que diz respeito tão diretamente ao sujeito do 
conhecimento. 
Aranha e Martins (2009) destacam cinco entraves impostos às ciências humanas para o 
estabelecimento do seu método. Vejamos: 
1) Complexidade dos fenômenos humanos, por ser resultado de múltiplas 
influências, que vão desde aspectos biopsicológicos até padrões vinculados 
ao meio social; 
2) Experimentação, uma vez que é muito difícil identificar e controlar as mais 
variadas perspectivas que influenciam os atos humanos; 
21 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
3) Matematização, pois os fenômenos humanos são essencialmente 
qualitativos, permitindo, no máximo, resultados aproximativos e, ainda 
assim, sujeitos à interpretação; 
4) Subjetividade, já que as ciências naturais almejama objetividade e o objeto 
das ciências humanas é subjetivo por natureza; e 
5) Liberdade, haja vista que mesmo o comportamento humano sendo passível 
de condicionamentos, não se alcança o nível de regularidades observados 
nas ciências da natureza. 
 
 
Essas dificuldades não foram suscitadas no sentido de atestar a inviabilidade das ciências 
humanas, mas sobretudo para enfrentar o debate acerca do tipo de método a ser 
empregado quando da realização de seus estudos (ARANHA; MARTINS, 2009). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
1.2 A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA 
 
Como vimos no tópico anterior, o impacto do processo de industrialização no âmbito 
social experimentado na Europa do século XVIII impôs uma necessidade de compreensão do 
novo modo de vida em sociedade, marcado por crises e desordens. Na busca por explicações e 
soluções, constituiu-se a primeira forma de pensamento social: o positivismo. 
Segundo Lowi (1975, apud Lemos Filho, 2012), três ideias básicas caracterizam o 
positivismo: pressupor que a sociedade era regida por leis parecidas com as leis da natureza, 
ou seja, leis invariáveis e independentes do arbítrio humano; a utilização dos mesmos métodos 
empregados nas ciências naturais para a produção do conhecimento acerca da sociedade; e a 
defesa da objetividade cientifica, ou seja, assim como observado nas ciências da natureza, as 
ciências sociais deveriam adotar um modelo neutro, livre de ideologias e juízos de valor. 
Um dos precursores do positivismo foi Claude-Henri de Rouvroy, o Conde de Saint-
Simon, filósofo e economista francês que, para restaurar a ordem social perdida, propôs a 
transferência de todo o poder da sociedade para os cientistas e industriais. Ele defendia a ideia 
de que o industrialismo trazia consigo a possibilidade de satisfação das necessidades dos 
indivíduos e que a ordem e a paz poderiam ser alcançadas a partir do progresso econômico, 
desde que fosse instituído um novo padrão a semelhança do que se observara na Idade Média. 
Se, naquele tempo, existia uma elite de sacerdotes que estipulavam as leis e senhores feudais 
que as faziam cumprir, na Idade Moderna, era preciso constituir uma nova elite, na qual os 
cientistas elaborassem as leis e os industriais as fizessem cumprir. (LEMOS FILHO, 2012). 
Assim, defendeu a criação de uma ciência que, tendo a sociedade como objeto e se 
valendo dos mesmos métodos das ciências naturais, fosse capaz de brecar os anseios 
revolucionários das classes trabalhadoras e elaborasse leis visando 
o progresso. 
 
 
 
 
 
Porém, coube a seu seguidor e secretário particular, Augusto 
Comte, começar a desenhar os traços dessa nova ciência, embora 
pouco se tenha aproveitado do seu pensamento quando pautamos a 
Fonte: Disponível 
em:<https://upload.wikm 
edia.org/wikipedia/commons 
/0/05/Flag_of_Brazil.svg> 
 
A frase escrita na bandeira do Brasil (ordem e progresso) é 
uma forma abreviada do lema do positivismo proposto por 
por Augusto Comte: “O amor por princípio e a ordem por 
base; o progresso por fim”. 
Figura 3 – Bandeira Nacional 
do Brasil 
23 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
Sociologia atualmente. 
Comte lançou, em 1830, o livro intitulado Curso de Filosofia Positiva, no qual sustenta a 
ideia de fundar uma “física social”, cuja função primordial seria aplicar o método científico 
para estudar a sociedade, demonstrando suas leis de funcionamento e, com isso, auxiliar no 
enfrentamento dos problemas verificados. Foi somente em 1839 que ele propôs o nome 
“sociologia” para identificar esta nova ciência, o que o fez ser comumente identificado como o 
“pai” da Sociologia. 
Na concepção de Comte, o positivismo era explicado pela Lei dos Três Estados, 
segundo a qual o desenvolvimento da inteligência humana percorreu três estágios distintos: o 
teológico (ou fictício), o metafísico (ou abstrato) e o positivo (ou científico). 
No estado teológico, os fenômenos eram explicados pelo espírito humano, partindo da 
ação direta e contínua de agentes sobrenaturais, já sendo possível estabelecer relações causais, 
mas estas eram atribuídas à divindade. Já no estado metafísico, tem-se a preponderância do 
conhecimento filosófico e, mais precisamente, metafísico, em que se substitui os agentes 
sobrenaturais por forças abstratas. Por fim, no estado positivo, a filosofia é substituída pelo 
conhecimento científico, buscando-se na observação e no raciocínio as respostas para a 
explicação do mundo e de todas as coisas (SELL, 2015). A síntese da lei dos três estados pode 
ser melhor compreendida na imagem a seguir (figura 3): 
 
Figura 3 - Lei dos Três Estados de Augusto Comte 
 
 Fonte: Autoria Própria (2018) 
 
Já na fase final de sua vida, com a morte da mulher por quem era apaixonado, Comte 
assimilou características religiosas ao seu pensamento, apresentando proposta para criar uma 
24 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
religião exclusivamente laica, fundada no culto da humanidade. No entanto, para a Sociologia 
se consolidar como campo científico, era preciso ter objeto delimitado e método constituído, 
de modo que foi apenas com Émile Durkheim e Max Weber que ela passou a ser considerada 
uma ciência e como tal ser desenvolvida. 
1.2.1 A Sociologia funcionalista de Émile Durkheim 
 
Observa-se em Durkheim uma grande preocupação em fornecer para a moderna 
Sociologia bases filosóficas consistentes e métodos precisos para a realização de pesquisas 
sociais. Em sua obra clássica “As regras do método sociológico”, lançada originalmente em 
1895, ele apresenta os instrumentos da pesquisa sociológica, separando-os em quatro 
categorias: objeto de estudo, observação, classificação e explicação dos fenômenos (SELL, 
2015). 
 
 
 
 
 
 
Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o que ele chamou de fato social, 
definido como “toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de 
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”. E continua: “ou, 
ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma 
sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, 
independente de suas manifestações individuais.” (DURKHEIM, 2014, p. 13). 
Os fatos sociais, portanto, possuem três características obrigatórias: coercitividade, 
exterioridade e generalidade. Vamos analisar o que significa cada uma delas: 
a) Coercitividade: a ideia de uma “coerção exterior” apresentada por Durkheim 
expressa uma força que os fatos exercem sobre os indivíduos, conduzindo-os a 
uma conformação às regras do meio social em que ele está inserido, 
independente de sua vontade. Ademais, esta força coercitiva se faz evidente 
pelas sanções legais e espontâneas a que os indivíduos estão submetidos 
quando não observam as regras impostas. As sanções legais são aquelas 
Fonte: Disponível em:< 
https://www.infoescola.com
/biografias/emile-
durkheim/> 
 Fotografia 3 – 
David Émile Durkheim 
 
David Émile Durkheim nasceu na França, em 1858, e é 
considerado um dos principais fundadores do pensamento 
sociológico. Dentre suas principais obras, destacam-se 
destacam-se: A divisão do trabalho social (1893); As regras 
do método sociológico (1895); e O suicídio (1897). 
25 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
previstas em forma de leis, enquanto as sanções espontâneas são aquelas 
desencadeadas pela própria sociedade em resposta a uma conduta considerada 
inadequada; 
b) Exterioridade, ou seja, a ideia de que os fatos sociais não procedem do próprio 
indivíduo, senão de algo que lhe é exterior: a sociedade; 
c) Generalidade: para ser considerado fato social, é preciso ser geral ou, ao 
menos, que se repita em uma parcela significativa da sociedade, manifestando 
assim a sua natureza coletiva. 
 
 
Em sua obra O suicídio, Durkheim busca demonstrar a coerênciade seu pensamento 
sociológico, trazendo o suicídio como um exemplo de fato social. Para o autor, embora, à 
primeira vista, o suicídio seja encarado como um fenômeno individual, a constatação da 
sua regularidade ao longo do tempo o faz ser percebido como um fato social, explicado 
como consequência de uma crise moral da sociedade. Que outros exemplos de fato social 
você consegue pensar? 
No que diz respeito à observação, Durkheim (2014) advertiu ser necessário tratar os 
fatos sociais como coisas dotadas de um caráter objetivo, em clara alusão aos pressupostos 
positivistas de adoção dos métodos e procedimentos das ciências naturais. Neste sentido, Sell 
(2015) aponta para as regras que um sociólogo deve seguir para produzir conhecimento na 
perspectiva durkheimiana: 
1º) É necessário afastar sistematicamente todas as noções prévias: 
significa que o sociólogo deve romper com as representações, ideias e 
conceitos elaborados pelo senso comum a respeito da vida social em 
geral; 
2º) Tomar sempre como objeto de investigação um grupo de fenômenos 
previamente definidos por certas características exteriores que lhes sejam 
comuns, e incluir na mesma investigação todos os que correspondem a 
esta definição; 
3º) Quando o sociólogo empreende a exploração de uma qualquer ordem 
de fatos sociais, deve esforçar-se por considerá-los sob um ângulo em que 
eles se apresentam isolados de suas manifestações individuais. (SELL, 2015, 
p. 84). 
 
Durkheim (2014) procede ainda uma classificação dos fatos sociais em normal e 
patológico, utilizando como critério a sua regularidade. Desta forma, um fato social normal é 
aquele encontrado na média das sociedades, enquanto anormal (ou patológico) é aquele 
26 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
extraordinário e eventual. Esta tese, inclusive, provocou grande celeuma no meio científico, 
sendo severamente criticada, pois, como explica Sell (2015, p. 85), “a análise dos 
comportamentos- padrão e do comportamento desviante não pode assumir premissas morais 
em suas conclusões, como acaba fazendo a distinção durkheimiana entre normal e 
patológico”. 
 
 
Para Durkheim (2014), o crime, mesmo percebido socialmente como algo negativo, era 
um fato social normal, pois se adequava ao critério de regularidade. 
No mais, vale destacar que para Durkheim, além de descrever e classificar os fatos 
sociais, a Sociologia deveria explicá-los, apontando as razões de sua ocorrência e as 
características do comportamento coletivo, para assim compreender a função que eles 
desempenham. Daí decorre o porquê de chamar a sua teoria sociológica de funcionalista. “O 
fundamental é identificar a que tipo de necessidade corresponde qualquer fenômeno ou fato 
social e de que forma ele contribui para produzir a harmonia social.” (SELL, 2015, p. 86). 
1.2.2 A Sociologia compreensiva de Max Weber 
 
Se Durkheim constrói sua teoria sociológica a partir do objeto, Max Weber toma como 
ponto de partida o próprio sujeito. Para ele, o indivíduo é o agente fundante da explicação da 
realidade social, operando assim uma verdadeira revolução no campo das ciências sociais. 
 
Na perspectiva weberiana, o objeto de estudo da Sociologia deveria ser a ação social: 
uma conduta humana dotada de sentido ou, em outras palavras, de uma justificativa 
subjetivamente elaborada. Nas linhas iniciais de Economia e Sociedade, Weber consagra que 
ação social “significa uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou os agentes, se 
refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso.” (WEBER, 2014, p. 
3). O ser humano, então, adquire um lugar privilegiado em sua teoria sociológica, pois se 
reconhece que é o agente social que dá sentido à sua ação. 
Deste modo, Weber (2014) minimiza a força da ordem social, propondo que cada 
sujeito age tomado por um motivo que é dado pela tradição, afetividade ou por interesses 
racionais, sejam eles relacionados a fins ou a valores. Daí sua classificação da ação social, 
conforme podemos ver na figura a seguir: 
27 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
Figura 4 - Tipos de Ação Social 
 
 Fonte: Autoria Própria (2018) 
 
Vamos agora entender cada um desses tipos de ação social expostos na figura 5: a ação 
social de modo racional referente a fins é aquela gerida por expectativas quanto ao 
comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas, que atuam como 
condições para determinados interesses racionalmente estabelecidos. A ação social de modo 
racional referente a valores rege-se pela crença consciente no valor, seja ele ético, religioso ou 
de qualquer outra natureza, independente do resultado. Já a ação de modo afetivo, do tipo não 
racional, é guiada por afetos ou estados emocionais atuais; e, por fim, ação social de modo 
tradicional, também não racional, pauta-se em um costume socialmente arraigado. 
 
Ouça a música intitulada Eduardo e Mônica, do grupo de pop rock brasileiro Legião 
Urbana, que fez muito sucesso entre as décadas de 1980 e 1990. A partir da letra da 
canção, busque refletir sobre as ações apresentadas, fazendo, sempre que possível, 
conexões com o pensamento weberiano. 
Essa tipologia da ação social apresentada por Weber (2014) e esquematizada na figura 4 
nada mais é do que um recurso metodológico (típico-ideal) que possibilita perceber a 
variabilidade da conduta humana com base em sua coerência racional. Na vida real, não é 
possível encontrar esses tipos em suas formas puras. 
 
28 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
Tipo ideal consiste em uma construção mental da realidade pela qual o pesquisador 
seleciona um dado número de características do objeto no intuito de construir um tipo 
útil para classificar os objetos de estudo. Com ele não se esgota todas as possibilidades de 
interpretação da realidade empírica, mas serve para criar um instrumento teórico 
analítico. 
 
Para Weber, a tarefa do sociólogo consiste em compreender o sentido empregado pelos 
sujeitos em suas ações. Dizia ele: “Sociologia [...] significa: uma ciência que pretende 
compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso e 
em seus efeitos.” (WEBER, 2014, p. 3). Por isso, identificamos sua Sociologia como 
compreensiva. 
 
Ademais, vale frisar que Weber rompe frontalmente com as proposições positivistas. 
Para ele, o cientista age sempre norteado por sua cultura, tradição e motivações, de modo que 
não é possível descartar suas noções prévias, como defendia Durkheim. A parcialidade da 
análise sociológica é inerente a toda forma de conhecimento. Entretanto, quando do início do 
estudo, o pesquisador deve buscar empregar a maior objetividade possível na análise dos 
acontecimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
1.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS CLÁSSICOS 
 
Dado o contexto social de emergência da Sociologia, grandes pensadores da época 
dedicaram-se a explicar a dinâmica das relações sociais, criando verdadeiras teorias da 
modernidade. Três ganharam bastante destaque, constituindo-se em grandes clássicos da 
Sociologia moderna: Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Parafraseando Jeffrey C. 
Alexander (1999), tem-se como clássico todo esforço primitivo de explicação da realidade que 
goza de um status privilegiado em virtude de sua adequação contemporânea no mesmo 
campo. Assim, embora o esforço empreendido por esses autores mirasse a explicação da 
sociedade industrial do século XVIII, muitas de suas proposições teóricas seguem úteis para a 
compreensão da sociedade hodierna. Chegou a hora de saber um pouco mais sobre essas 
teorias! 
1.3.1 Karl Marx e a luta de classes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marx explicita sua teoria da modernidade na obra O capital, 
na qual promove uma intensa crítica à economia política 
tradicional, tida porele como burguesa e ideológica. Para entender 
o capitalismo e explicar a natureza da organização social, ele desenvolve a teoria do 
materialismo histórico dialético. Segundo ela, a estrutura de toda e qualquer sociedade deve 
ser interpretada a partir do modo pelo qual os indivíduos se relacionam para a produção 
social dos bens e serviços necessários para a subsistência humana, o que ele denominou de 
modo de produção. 
Fonte: Disponível 
em:<https://pt.wikipedia.or 
g/wiki/karl_marx#/media 
/file:marx_old.jpg> 
Fotografia 4 - Karl Marx 
 
Karl Marx nasceu em 1818, na cidade de Trier, 
Alemanha. Foi um dos mais incisivos críticos do 
capitalismo. Junto com Friedrich Engels, escreveu uma 
vasta literatura sobre temas diversificados, desde a 
filosofia, história, política, religião e economia. Dentre 
suas principais obras, destaca-se O capital (1867). 
 
30 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
O modo de produção conjuga dois fatores fundamentais: as forças produtivas, que 
consiste na união entre a força de trabalho e meios de produção, ou seja, o conjunto da 
matéria-prima e dos instrumentos necessários para a produção; e as relações de produção, 
compreendidas como as formas pelas quais os indivíduos se organizam para desenvolver a 
atividade produtiva. Em sua teoria, as relações de produção assumem o lugar de maior 
importância quando se pensa as relações sociais, de forma que o modo de produção é 
determinante para explicar os modelos de família, as leis, a religião, as ideias políticas e os 
valores sociais de toda e qualquer sociedade humana. 
Analisando o percurso histórico, Marx identificou vários modos de produção 
específicos. Em comum, observou que em cada um deles se desenvolveu uma desigualdade de 
propriedade que criou contradições básicas no desenvolvimento das relações de produção, por 
exemplo: na Antiguidade, um sistema escravista; na Idade Média, as relações servis da Europa 
feudal; e, na Idade Moderna, as contradições colocadas pelo capitalismo das sociedades 
industriais, em que as relações de produção se expressam na divisão entre proprietários dos 
meios de produção sob a forma legal de propriedade privada – os capitalistas – e os 
despossuídos dos meios de produção, que vendem a sua força de trabalho em troca de um 
salário – os proletários. 
 
 
Você já ouviu falar em mais-valia? É um dos conceitos mais famosos desenvolvidos 
por Marx, no sentido de revelar os mecanismos de reprodução e acumulação do 
capital, bem como da exploração do trabalho humano. Em linhas gerais, o que este 
autor defendia é que o trabalho humano agrega valor ao transformar os recursos naturais 
disponíveis em bens necessários à subsistência, gerando riqueza. Contudo, esse “mais 
valor” é apropriado pelos detentores dos meios de produção e não pelo trabalhador 
assalariado. Decerto, você estudará mais sobre este tema no componente curricular 
Economia. 
 
Na perspectiva de Marx, se a produção material da vida na luta pela sobrevivência 
é indispensável na sociedade, quem domina a estrutura produtiva, os meios e as formas de 
produção goza de um lugar de privilégio e tem mais poder para dominar o resto da 
sociedade. Porém, o acirramento dessas contradições provoca um processo 
revolucionário, impondo a derrocada de um modo de produção e a emergência de 
outro (por isso sua afirmação de que a história da humanidade é a história da luta de 
classes). Assim, Marx defendeu que a crise experimentada pela sociedade europeia do século 
31 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
XVIII era consequência direta da introdução do modo de produção capitalista e da 
apropriação privada das forças produtivas. A solução para a crise, portanto, perpassava a luta 
de classes e a queda do capitalismo, introduzindo um novo modo de produção – o 
comunismo. 
Se os problemas sociais derivam das desigualdades entre os indivíduos, era necessário 
introduzir um novo modo de produção, pautado no respeito a regras rígidas e na obrigação de 
todos trabalhar para todos na medida de suas possibilidades. Então, havia de se promover a 
socialização dos meios de produção e a extinção da propriedade privada e do Estado. Porém, 
em um estágio inicial, Marx considerava a importância do Estado para coordenar a 
socialização dos meios de produção e defender os interesses dos trabalhadores contra as 
investidas do capital. Por essa razão, propôs um estágio de transição que visa o 
desaparecimento do capitalismo – o socialismo, em que se promova o fim da propriedade 
privada, mas preservando a figura do Estado. Já no comunismo teríamos um sistema em que 
não existem classes sociais, propriedade privada, nem mesmo a figura do Estado, uma vez que 
todas as decisões políticas deveriam ser tomadas pela democracia operária. 
 
 
Se nós te pedíssemos para enumerar exemplos de países que experimentaram o 
comunismo, provavelmente você pensaria em Cuba, China e na antiga União Soviética. 
Pois bem: levando à risca a teoria proposta por Marx, poderíamos sustentar que esses 
países passaram por um sistema socialista, mas não alcançaram o comunismo, uma vez 
que não eliminaram a figura do Estado. Fique ligado! 
1.3.2 Emile Durkheim e a divisão do trabalho social 
 
A chave explicativa da teoria da modernidade desenvolvida por Durkheim é a divisão 
do trabalho social, entendida como a distribuição das atividades necessárias à sobrevivência 
do grupo social, de modo que todos os seus membros sejam úteis. 
Esta questão se coloca evidente quando a sociedade percebe que a insuficiência da 
produção individual ou circunscrita ao âmbito familiar põe em risco a sobrevivência da 
coletividade, lançando-se em divisões mais primitivas, como aquelas promovidas por critérios 
de sexo e idade, ou mesmo as mais sofisticadas, observadas na moderna sociedade industrial. 
Como elucida Sell (2015), na leitura sociológica de Durkheim, a modernidade era 
caracterizada pela divisão do trabalho social e pela especialização das funções. Com a 
32 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
introdução da máquina a vapor no processo de produção, acentuou-se a diferenciação social 
em virtude do surgimento de variadas esferas de atividades sociais e econômicas, o que 
desencadeou novos tipos de relações entre os indivíduos. Assim, para Durkheim, a 
sociologia deveria “refletir sobre a ambiguidade desta situação mostrando que, por um lado, 
ela implicava em maior autonomia individual e, por outro, trazia dificuldades para processo 
de coesão social” (SELL, 2015, p. 87). 
A tese defendida por Durkheim era no sentido de que o mundo moderno é produto de 
um processo de diferenciação social, que passa de uma solidariedade mecânica para uma 
solidariedade orgânica. Diferentemente de como é mobilizada no senso comum, quando é 
entendida como ajuda carismática, o conceito de solidariedade em Durkheim pressupõe dar 
importância ao agente social e reconhecer seu trabalho como importante para o grupo. 
Na solidariedade mecânica, típicas das sociedades pré-capitalistas, os indivíduos se 
identificavam pelos laços familiares e religiosos e pelas tradições e costumes, permanecendo, 
em regra, independentes e autônomos no que diz respeito à divisão do trabalho social, de 
modo que a consciência coletiva exercia um forte poder de coerção sobre os indivíduos. Já na 
solidariedade orgânica, observada nas sociedades capitalistas, a rápida divisão social do 
trabalho tornou os indivíduos interdependentes e tal interdependência é apontada como 
responsável por garantir a coesão social. A consciência coletiva, em contrapartida, tem sua 
força diminuída, pois cada indivíduo se especializa em uma dada atividade, tendendo a 
desenvolver maior autonomia pessoal. 
 
 
Por consciência coletiva, Durkheim (2010) identificou um conjunto de crenças e 
sentimentos partilhados pela média dos membros de uma determinada sociedade. Não se 
baseia, portanto,na consciência dos indivíduos singulares, nem é a soma delas, estando 
diluída por toda a sociedade. 
Na perspectiva durkheimiana, essa mudança social experimentada na Europa do século 
XVIII foi marcada por três fatores: volume (aumento do número de indivíduos), densidade 
material (número de indivíduos em relação ao espaço territorial) e densidade moral 
(intensidade das comunicações e trocas entre os indivíduos), que gerou não só o novo tipo de 
solidariedade como também um estado de desagregação social. 
Isto porque, neste processo, algumas funções sociais dissociaram-se sem que houvesse 
tempo hábil para se reajustar umas às outras, gerando um estado de anomia. Então, 
Durkheim propôs pensar a sociedade como um organismo vivo, em que cada órgão possui 
uma função e depende dos outros para sobreviver. Sendo assim, a solução para a superação do 
33 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
quadro de desagregação social estava no fato de cada indivíduo exercer uma função na divisão 
do trabalho que o imponha a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O 
indivíduo deve se sentir parte do todo, carente da solidariedade orgânica. 
1.3.3 Max Weber e o processo de racionalização social 
 
Em Weber (2004), a modernidade é proposta como resultado de um extenso processo 
histórico e social de racionalização, que mantém relações diretas com as mudanças 
estruturais, culturais e sociais experimentadas pelas sociedades modernas, gerando grandes 
impactos como o desenvolvimento do capitalismo e o crescimento acelerado dos centros 
urbanos. 
O processo de racionalização foi caracterizado, no pensamento weberiano, pela 
eliminação da magia como meio de salvação, promovendo um desencantamento do mundo 
que, por sua vez, apresentou uma dúplice dimensão: do ponto de vista religioso, o sujeito 
deixa de acreditar em um mundo habitado por forças divinas e impessoais, que tem início 
dentro das próprias religiões e que chega ao seu ápice com o surgimento da ciência e da 
técnica ocidentais; e, do ponto de vista científico, implica em um saber racional da natureza, 
que passa a ser vista como um mecanismo causal carente de sentido e passível de controle pela 
técnica (SELL, 2015). 
Um dos produtos obtidos a partir deste processo de racionalização e desencantamento 
do mundo é o que Weber vai chamar de secularização, característica de uma ordem 
social em que os ditames religiosos deixam de ser a força motriz da cultura, fazendo com que a 
crença seja colocada como uma questão de escolha individual. 
 
Secularização não significa a extinção das religiões ou o fim da influência que elas 
exercem sobre as pessoas. A religião apenas deixa de ser o fundamento da ordem social e 
política. 
Weber (2004) advertia, contudo, que o aumento da racionalidade não implicava 
necessariamente em um estágio superior de vida social, como defendiam os principais teóricos 
do positivismo ao colocar a razão como sinônimo de progresso material e cultural. Para ele, “o 
processo histórico-religioso de desencantamento e o mundo racionalizado, no qual a 
organização capitalista e a organização burocrática do Estado eram as maiores expressões, 
tinham também o seu lado problemático.” (SELL, 2015, p. 136). A substituição da religião pela 
razão promovia uma perda de sentido da vida, uma vez que era a visão religiosa que conferia 
34 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
aos homens uma resposta acerca da finalidade da existência. Ademais, promovia a perda da 
liberdade, pois embora livre das forças divinas, o homem acabara escravo de sua própria 
racionalidade. 
Esses pensamentos são desenvolvidos por Weber em sua principal obra, A ética 
protestante e o espírito do capitalismo, escrita entre 1904 e 1905. Ainda nela, o autor busca 
demonstrar como os valores cultivados pelo protestantismo, a exemplo da disciplina ascética, 
a poupança, a austeridade etc., construíram um novo ethos mais adaptado aos pressupostos 
da filosofia capitalista. Diante disso, sustentou que uma sociedade cujos valores éticos 
tivessem por base a religião protestante, teria possibilidade de se desenvolver mais 
rapidamente em relação ao modo de produção capitalista. Pois, apesar de ter suas essências 
instituídas na mesma moral cristã, a Reforma Protestante promoveu uma releitura dos 
escritos sagrados, aproximando-os dos ideais da revolução liberal burguesa. 
A propensão ao trabalho ilustra bem essa perspectiva. Segundo Weber (2004), a 
Reforma Protestante fez surgir uma concepção espiritual de trabalho. Até então, o trabalho era 
visto de maneira ambivalente: embora considerado indispensável para a reprodução da 
sociedade, não era desejado. A noção de trabalho como castigo já era evidente desde a 
mitologia grega, como exposto anteriormente, e permaneceu durante toda a tradição judaico-
cristã. Com os ensinamentos de Lutero e Calvino, o trabalho adquiriu valorização, sendo 
encarado como o meio de conquistar independência e dignidade, além de ser parte dos eleitos 
de Deus. 
A seguir, oferecemos um quadro que acreditamos ser útil para a compreensão dos 
clássicos da Sociologia: 
Quadro 2 – Clássicos da Sociologia 
 MARX DURKHEIM WEBER 
Teoria 
Sociológica 
Sociologia 
histórico-crítica 
Sociologia 
funcionalista 
Sociologia 
compreensiva 
Teoria da 
Modernidade 
Modo de 
produção 
capitalista 
Divisão do 
trabalho social 
Racionalização 
da cultura e da 
sociedade 
Projeto Político Revolucionário Conservador Neutralidade 
absoluta 
 Fonte: Autoria Própria (2018) 
35 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
1.4 PROBLEMAS E MÉTODOS DE PESQUISA NA SOCIOLOGIA 
 
Como objetivo geral deste componente curricular, propomo-nos a oferecer ferramentas 
teóricas e metodológicas das ciências sociais que sejam úteis para a análise dos problemas 
sócio-jurídicos contemporâneos. Neste sentido, gostaríamos de finalizar este bloco temático 
apresentando para você alguns pressupostos da pesquisa sociológica. 
A pesquisa sociológica consiste em um esforço científico que envolve o emprego de 
métodos sistemáticos de investigação empírica, análise de dados e teorias que possibilitem 
uma leitura crítico-reflexiva dos objetos estudados, numa ruptura com os conhecimentos de 
senso comum já produzidos. Com ela, buscamos responder a quatro tipos de 
questionamentos: o factual, que visa compreender o que aconteceu; o comparativo, para 
verificar a ocorrência do mesmo fenômeno em outros lugares; o evolutivo, pensando como a 
situação evolui no tempo e no espaço; e a questão teórica, que tenta responder o que está por 
trás do fenômeno investigado. 
A pesquisa sociológica se desenvolve em etapas. A seguir você encontra uma descrição 
dos momentos principais: 
- definição do objeto: é preciso indicar o que se pretende concretamente estudar. Por 
exemplo, os crimes cometidos nos meios eletrônicos, o processamento dos casos de posse de 
drogas ilícitas, a redução da maioridade penal etc.; 
- revisão da literatura disponível: para familiarizar-se com a questão investigada, é 
preciso conhecer o que já se tem produzido sobre ela; 
- formulação de hipóteses: isto é, formular proposições capazes de guiar a sua pesquisa, 
que podem ou não ser confirmadas ao final; 
- escolha dos métodos de pesquisa a ser empregados, de acordo com a conveniência do 
problema formulado; 
- execução da pesquisa, com a produção dos dados e registro de informações; 
- interpretação de dados: de posse do material produzido, é necessário interpretá-lo 
para, em seguida, difundir os resultados obtidos entre comunidade científica. 
Para a formulação das conclusões acerca do fenômeno investigado, o pesquisador pode 
se valer de dois procedimentos lógicos: o dedutivo, segundo qual se parte de duas premissas 
tomadas como verdadeiras e indiscutíveis que possibilite alcançar conclusões de maneira 
exclusivamente formal, ou seja, em virtudeda lógica (exemplo: os suspeitos de um crime 
estavam na cidade entre os dias 3 e 4 de abril – premissa 1; Maria não estava na cidade entre 
os dias 3 e 4 de abril – premissa 2; Maria não é suspeita do crime – conclusão); ou o indutivo, 
que parte do particular para propor generalizações posteriores, constatadas por intermédio da 
36 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
observação dos fenômenos estudados (exemplo: retirando-se amostras de um saco de 
bananas, observa-se que 80% são do tipo prata. Então, conclui-se que o saco de bananas é do 
tipo prata). 
Na Sociologia, emprega-se em regra o método indutivo, buscando relacionar o 
fenômeno social investigado com a realidade social, a fim de promover a sua descrição e 
interpretação, partindo dos dados empíricos produzidos. 
Outra questão fundamental sobre a pesquisa sociológica diz respeito à objetividade. A 
defesa é no sentido de uma linha neutra e objetiva, mesmo que alguns defendam a 
neutralidade como algo impossível de ser concretizado, haja vista que os indivíduos não 
conseguem se desprender de seus sentimentos e preferências. Contudo, deve o pesquisador 
empreender o maior grau possível de objetividade, adotando uma postura imparcial e 
metodologicamente adequada. 
 
Em contraposição ao ideal de objetividade defendido pela ciência tradicional, cientistas 
feministas desenvolveram a noção de objetividade forte. Para elas, a objetividade forte 
exige colocar o sujeito do conhecimento no mesmo plano crítico do objeto. Pois, ao negar 
o caráter subjetivo das investigações, a ciência tradicional apenas alimenta uma lógica 
androcêntrica. 
1.4.1 Principais métodos de pesquisa disponíveis 
 
Para produção dos dados, os cientistas sociais têm à sua disposição uma série de 
métodos e técnicas. Listamos a seguir os principais: 
a) entrevista: um dos mais utilizados, pressupõe contato pessoal do pesquisador com a 
amostra selecionada. As perguntas são preparadas com antecedência, podendo seguir um 
roteiro estruturado, semiestruturado ou aberto. A interação entre entrevistador e entrevistado 
deve ser direta e em tempo real; 
b) questionário: lista de questões sobre determinado assunto elaborada e entregue ao 
grupo de interesse, solicitando o seu preenchimento. Geralmente anônimo, pode conter 
perguntas abertas ou fechadas. As respostas dadas não são discutidas pelo
 pesquisador com o respondente; 
c) observação direta: tipo de atividade que utiliza dos sentidos para a apreensão de 
determinados aspectos da realidade investigada. O pesquisador desenvolve o 
37 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
acompanhamento presencial do grupo ou fenômeno pesquisado e, desta observação, propõe 
suas conclusões lógicas; 
d) análise de documentos: o pesquisador busca as respostas para o problema 
investigado a partir de documentos que ofereçam informações acerca do seu objeto. Podem 
ser textos doutrinários, jurisprudências, reportagens de jornais, documentos emitidos por 
órgãos oficiais etc.; 
e) estudo de caso: consiste em uma forma de aprofundar o conhecimento sobre uma 
unidade individual bastante representativa do todo, contribuindo para a melhor compreensão 
dos fenômenos. É muito útil quando se trata de um fenômeno amplo e complexo; 
f) grupo focal: derivada das entrevistas, é uma técnica que pressupõe a coleta de 
informações por meio de interações grupais. 
 
 
O método a ser empregado para subsidiar sua pesquisa deve ser aquele que melhor se 
adequa ao seu objeto e aos recursos disponíveis. Ademais, não há nenhum problema na 
conjugação de dois ou mais métodos para o desenvolvimento de uma mesma pesquisa. 
Com essas informações e as leituras complementares que serão sugeridas, esperamos 
que você reúna um bom referencial teórico sobre as ciências sociais e seus métodos de 
pesquisa e, assim, esteja pronto para mergulhar na sua interface com o Direito. 
 
 
POUPART, Jean et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. 
4. Ed. Petrópolis: Vozes, 2014. 
SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber. 7. ed. Petrópolis: 
Vozes, 2015. 
 
 
 
 
 
 
38 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
ATIVIDADES COMPLEMENTARES 
 
QUESTÃO 01 
(ENADE 2017) Segue uma lei da história o fato de a solidariedade mecânica, 
inicialmente única ou quase, perder progressivamente terreno e de a solidariedade orgânica 
tornar-se, pouco a pouco, preponderante. Entretanto, quando se modifica a maneira como os 
homens são solidários, a estrutura das sociedades não pode deixar de mudar. A forma de um 
corpo transforma-se necessariamente quando as afinidades moleculares já não são as mesmas. 
Por consequência, se a anterior é proposição exata, deve haver dois tipos sociais que 
correspondam a essas duas espécies de solidariedades. 
DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social. 4. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010 (adaptado). 
 
A partir do texto apresentado, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. 
 
A divisão do trabalho é uma resultante necessária do desenvolvimento de um novo tipo 
social predominante nas sociedades modernas. 
PORQUE 
A substituição da solidariedade mecânica pela solidariedade orgânica está associada ao 
progresso da divisão do trabalho nas sociedades modernas. 
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: 
 
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. 
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa 
correta da I. 
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. 
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. 
e) As asserções I e II são proposições falsas. 
 
QUESTÃO 02 
(ENADE 2011) Entre o conjunto das técnicas de pesquisa das Ciências Sociais, o 
questionário destaca-se como uma das ferramentas mais habituais e tem como características 
a simplicidade e a economia. Seu uso é necessário sempre que o pesquisador não dispõe de 
dados previamente coletados pelas instituições públicas sobre determinadas características da 
população, e sempre que se quer obter levantamentos específicos sobre certos aspectos, 
39 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
opiniões e comportamentos de uma população. Não obstante, além de ser utilizado para fins 
mais explicitamente exploratórios, o questionário tem por função principal dar à pesquisa 
uma extensão maior e possibilitar que se verifique com dados estatísticos até que ponto são 
generalizáveis as informações e hipóteses da pesquisa previamente construídas. Todavia, a 
elaboração dos questionários deve se pautar em algumas regras simples. 
COMBOSSIE, J. C. O método em sociologia. São Paulo: Edições Loyola, 2004. 
 
Com relação às regras que devem ser observadas para a pesquisa sociológica feita com 
elaboração e aplicação de questionários, observa-se que: 
 
a) o questionário deve apresentar um conjunto de questões que possam resumir de 
modo eficaz o perfil do entrevistado para que seja útil como instrumento de pesquisa. 
b) a redação das perguntas do questionário deve revelar a familiaridade do 
pesquisador com sua área de pesquisa, com a inclusão de termos técnicos e 
acadêmicos. 
c) as perguntas do questionário devem ser do tipo fechada, pois elas evitam que o 
entrevistado conduza a entrevista e seu uso garante que o pesquisador receba as 
respostas desejadas. 
d) a ordem das perguntas do questionário deve ser estabelecida de maneira aleatória, 
para que as respostas dadas não sejam influenciadas pelas próprias perguntas. 
e) os entrevistados devem responder ao questionário antes de serem informados 
acerca da origem e da intenção da pesquisa e do questionário para que os dados 
coletados sejam objetivos. 
 
QUESTÃO 03 
 
(ENADE 2011) Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia calcou aospés 
das relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam 
o homem feudal a seus “superiores naturais” ela os despedaçou sem piedade, para só deixar 
subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do “pagamento 
à vista”. A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os 
instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as 
relações sociais. [...] Essa revolução contínua da produção, esse abalo constante de todo o 
sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa 
de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu 
cortejo de concepções e de ideias secularmente veneradas, as relações que as substituem 
tornam-se antiquadas antes de se ossificar. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que 
40 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas 
condições de existência e suas relações recíprocas. [...] As relações burguesas de produção e de 
troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que conjurou 
gigantescos meios de produção e de troca, assemelham-se ao feiticeiro que já não pode 
controlar as potências infernais que pôs em movimento com suas palavras mágicas. 
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. (com adaptações). 
 
A partir do texto acima e considerando as ideias de Marx e Engels, baseadas numa 
perspectiva dialética, avalie as afirmações que se seguem: 
I. A burguesia desempenhou um papel revolucionário na história. 
II. A classe social burguesa e a classe proletária surgiram a partir da sociedade 
capitalista. 
III. Nas sociedades capitalistas as relações sociais estão em constante transformação. 
IV. O proletariado possui a missão histórica de negar e superar a sociedade capitalista. 
 
É correto afirmar o que se afirma em: 
a) I e II. 
b) I e III. 
c) II e IV. 
d) I, III e IV. 
e) II, III e IV. 
 
QUESTÃO 04 
(ENADE 2005) O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamento 
ocidental e para o surgimento das ciências sociais. As transformações econômicas, políticas e 
culturais, que se intensificaram a partir dessa época, colocaram problemas inéditos para a 
humanidade, que experimentava mudanças no Ocidente Europeu. Com referência aos marcos 
fundadores do pensamento social no Ocidente, assinale a opção correta. 
 
a) O feudalismo e o capitalismo, como marcos fundadores das ciências sociais, 
conviveram harmonicamente ao longo do processo de transformação social a partir do 
século XVIII. 
b) A Revolução Francesa, pelo seu potencial revolucionário e universal, dificultou o 
aparecimento das ciências sociais. 
c) Um dos marcos fundadores das mudanças no século XVIII foi a transformação da 
aristocracia inglesa em classe aliada à burguesia, que, a partir daí, comandou o processo 
econômico no Ocidente. 
41 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
d) O Renascimento e a Reforma são considerados marcos fundadores que permitiram o 
aparecimento das ciências sociais. 
e) A Revolução Industrial e a Revolução Francesa, ao redefinirem, respectivamente, as 
relações políticas e as relações de produção, deram condições para o surgimento de uma 
visão racional do mundo, da qual emerge a sociedade como objeto de estudo. 
 
QUESTÃO 05 
(ENADE 2005) A respeito dos estudos comparativos, a resposta de Weber foi a elaboração de 
“tipos ideais”, que constituem um dispositivo generalizante, um modelo heurístico, sobre o 
qual era possível aplicar a comparação. Nas suas explicações históricas comparadas, Weber 
rejeita sempre a hipótese de leis ou de monocausalidade; ele pensa, portanto, que um evento 
pode ter diversas causas e que conjuntos diversos de causas podem ter o mesmo efeito. A 
validade das comparações em Weber provém das suas construções empíricas dos processos de 
indução e de introspecção mais do que de uma verificação causal de hipóteses. 
REBUGHINI, Paola. A comparação qualitativa de objetos complexos e o efeito da reflexividade. In: Alberto 
Melluci (org.) Por uma sociologia reflexiva: pesquisa qualitativa e cultura. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 242 (com 
adaptações). 
 
Tendo o fragmento de texto acima como referência inicial, assinale a opção correta a 
respeito de “tipos ideais”, segundo a formulação proposta por Max Weber. 
 
a) Os “tipos ideais” não são construções empíricas. 
b) A causalidade única é a base dos “tipos ideais”. 
c) A comparação não é essencial para a construção dos “tipos ideais”. 
d) Os “tipos ideais” não permitem uma explicação histórica. 
e) Os “tipos ideais” são construídos essencialmente a partir da verificação causal de 
hipóteses. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
QUESTÃO 06 
Observe a charge abaixo, bem como o fragmento do poema “Operário em construção”, de 
autoria de Vinícius de Moraes: 
 
 
 Fonte: Disponível em:<http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/> 
 
Operário em construção 
 
E foi assim que o operário 
Do edifício em construção 
Que sempre dizia sim 
Começou a dizer não. 
E aprendeu a notar coisas 
A que não dava atenção 
Notou que sua marmita 
Era o prato do patrão 
... 
Qu sua imensa fadiga 
Era amiga do patrão. 
(Vinícius de Moraes) 
 
A análise da charge nos remete à discussão acerca do mundo do trabalho, que se 
constitui como tópico essencial da Sociologia, desde o seu período clássico, com Marx, 
Durkheim e Weber. Considerando que a divisão do trabalho é uma das principais 
características das sociedades modernas, construa um texto dissertativo em que se contemple 
os seguintes aspectos: 
 
a) A importância da divisão do trabalho social para a compreensão das sociedades 
43 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
modernas em Durkheim, destacando o conceito de solidariedade e suas formas, bem 
como a relação entre solidariedade e anomia. 
b) A relação entre trabalho e religião proposta por Weber para pensar o surgimento 
do racionalismo no ocidente. 
c) Como a questão do trabalho é elaborada em Marx para explicar os pressupostos de 
um regime capitalista. 
 
 
 
 
 
44 
ANDERSON EDUARDO CARVALHO DE OLIVEIRA 
 
 
 
SOCIOLOGIA JURÍDICA 
45 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 Sociologia e o Direito mantêm uma relação bastante próxima, uma vez que 
sociedade e normas não podem ser entendidas separadamente. Enquanto a Sociologia se 
ocupa em pensar a vida em sociedade a partir de seus aspectos culturais, econômicos, 
religiosos etc., o direito busca fixar e sistematizar as regras indispensáveis para garantir o 
equilíbrio social. Sendo assim, a Sociologia não tardou em se especializar, criando um ramo 
próprio que tivesse o direito como objeto de estudo: a Sociologia Jurídica. 
Na segunda unidade deste primeiro bloco temático, nosso convite é para você conhecer 
um pouco mais sobre a Sociologia Jurídica. Vamos lhe apresentar os seus pressupostos 
fundamentais, bem como algumas das principais contribuições que ela já trouxe para o campo 
das ciências jurídicas, com o emprego dos métodos e das técnicas disponíveis nas ciências 
sociais para melhor caracterizar e compreender os fenômenos jurídicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A 
46 
FUNDAMENTOS DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
 
 
 
2.1 FUNÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA 
JURÍDICA 
 
Desde os clássicos, o direito tem um lugar de destaque nas análises sociológicas. É 
bastante evidente, por exemplo, a influência do pensamento de Émile Durkheim (2014) para o 
campo do Direito Penal, ao considerar o crime como um elemento de integração social e a

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