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W BA 10 09 _V 1. 0 DIREITO PROCESSUAL TRIBUTÁRIO 2 Renato Traldi Dias São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 DIREITO PROCESSUAL TRIBUTÁRIO 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Gislaine Denisale Ferreira Revisor Solange Martins Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Dias, Renato Traldi Direito processual tributário / Renato Traldi Dias. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-150-2 1. Processo administrativo. 2. Processo judicial tributário. 3. Execução fiscal. I. Título. CDD 340 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O F897l © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Processo administrativo ______________________________________ 07 Processo judicial tributário ___________________________________ 19 Tutelas especiais _____________________________________________ 31 Execução fiscal ______________________________________________ 44 DIREITO PROCESSUAL TRIBUTÁRIO 5 Apresentação da disciplina Nesta disciplina, você estudará uma série de temas relativos à área do direito processual tributário; ou seja, temas que lidam com a relação entre o contribuinte e o Fisco, em situações que estes se encontram em polos opostos de uma lide. Primeiramente, você poderá tomar conhecimento do que ocorre no âmbito do contencioso administrativo tributário. Embora não disponha do mesmo alcance e força que se encontra na via judicial, seus efeitos podem ser significativos, especialmente em favor do contribuinte, que posteriormente poderá buscar satisfação pela via judicial – o que não ocorre exatamente com relação ao Fisco quando é ele que se vê derrotado na via administrativa. Após isso, se adentrará no assunto do processo mais tradicional ao Direito, o da via judicial. Inicialmente, se dará enfoque aos processos ditos de conhecimento, os quais, no caso da Justiça Tributária, são de domínio exclusivo do contribuinte – direto ou indireto – e terceiros, não do Fisco. Serão analisadas ações típicas do direito processual tributário, como a anulatória de débito fiscal e a de repetição de indébito, e também outras, como o mandado de segurança – mas ainda com um enfoque nos aspectos específicos que se aplicam aos casos tratados. Em seguida, será tratado o tema da Cautelar Fiscal – ação movida pelo Fisco que é ação cautelar, que subsiste à extinção das demais ações deste tipo com o advento do CPC/2015 – e das cautelares e outras medidas que podem ser concedidas a título de tutela provisória. 6 Finalmente, se abordará o tema substancial da Execução Fiscal, que é regulamentada por lei específica e possui diversos institutos relacionados a ela que são de significativa complexidade, como a averbação pré-executória e a exceção pré-executividade – que sequer é disciplinada por dispositivo legal propriamente dito. Trata-se de uma disciplina que aborda uma ampla gama de assuntos em poucos temas; sendo cada um deles, portanto, denso de conhecimento útil a qualquer profissional que atue ou pretenda atuar na área. 7 Processo administrativo Autoria: Renato Traldi Dias Leitura crítica: Solange Martins Objetivos • Estabelecer a diferença entre procedimento e processo administrativo. • Detalhar as etapas do processo administrativo tributário. • Apresentar os efeitos das decisões proferidas em âmbito de processo administrativo tributário. 8 1. Processo, procedimento e a relação entre o processo administrativo e o judiciário De início, é importante ressaltar que o processo administrativo tributário também é conhecido como processo administrativo fiscal. Sendo assim, as duas formas são corretas para a identificação, não havendo na maioria da doutrina grande debate acadêmico sobre se uma ou outra nomenclatura deve prevalecer. Por outro lado, embora possam parecer intercambiáveis, os termos “processo” e “procedimento” não o são, e, desta forma, não podem ser confundidos. Como elucida Machado Segundo (2021), a diferença encontra-se no fato de que o processo requer a participação das partes interessadas – neste caso, no mínimo, o administrado e a Administração Pública –, na forma de contraditório ou conflito, para seu resultado seja considerado legítimo, ao passo que a legitimidade do resultado de um procedimento independe da existência daquele conflito. Destarte, o processo administrativo assemelha-se ao processo judiciário e, aliás, não faltam críticas à crescente presença do processo administrativo, que arrisca transformar-se, na prática, em mais uma instância da já morosa máquina judicial brasileira. Contudo, algo que ajuda a combater este problema é o fato de que o Brasil possui um sistema uno de jurisdição, o que significa que só cabe ao Poder Judiciário decidir de forma definitiva conflitos de interesse (ROCHA, 2018), de modo que o processo administrativo apresenta-se, portanto, como etapa – em última análise – opcional àquele que deseje que se veja injustiçado, tanto no âmbito tributário como em outros. Isto implica que, geralmente, não há obrigação de que um futuro processo judicial siga o que foi decidido em processo administrativo que trata de um mesmo conflito. Todavia, há casos em que isto não se aplica, não por razões unicamente legais, mas também ligadas à lógica, 9 pois se um processo administrativo resulta na extinção de um tributo, significa que o próprio Estado – essencialmente, o credor da dívida tributária – afirma que a exigência inexiste. Destarte, não cabe ao Poder Judiciário lançar o tributo por si próprio e não há sentido em se instaurar demanda judicial para tanto, quer da parte do administrado – que não deseja criar dívida contra si próprio – ou da Administração – que, novamente, já se posicionou pela inexistência (CARVALHO, 2011). Posto isto, vale notar que a opção pela via administrativa apresenta-se como uma forma mais célere e menos custosa do que o acesso à via judicial. Assim, cabe estudar o seu funcionamento. 2. Instauração do processo administrativo tributário Conforme determina o artigo 14 do Decreto n. 70.235/1972 – que dispõe sobre o processo administrativo fiscal –, “a impugnação da exigência instaura a fase litigiosa do procedimento” (BRASIL, 1972), quer esta exigência – para pagamento de tributo, cumprimento de obrigação acessória etc. – tenha sido feita por meio de simples notificação de lançamento (art. 11 do mesmo Decreto) ou, em caso de obrigação ligada a ilícito tributário, por meio de auto de infração (art. 10 do mesmo Decreto), a impugnação deve ser apresentada, por escrito, no prazo de trinta dias contados da intimação da exigência (art. 15 do Decreto) ao órgão preparador. Ela deve estar instruída dos documentos necessários a fundamentar as alegações nela contidas e deve mencionar,nos ditames do art. 16: a autoridade julgadora; a qualificação do impugnante – ou seja, o “autor” da impugnação –; os motivos de fato e de direito, pontos de discordância, razões e provas que fundamentam o que se alega; as diligências ou perícias que devam ser efetuadas, com a exposição de 10 motivos que as justifiquem e detalhes necessários para que se realizem; e a petição inicial, se a matéria já tiver sido apreciada em âmbito judicial, devendo, inclusive, ser juntada cópia desta. Via de regra, o mencionado órgão preparador é, conforme o art. 24 do Decreto nº 70.235/1972, a autoridade local do órgão encarregado de administrar o tributo referente à impugnação. Já as autoridades competentes para julgar o processo administrativo tributário em si são, no caso de tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal: em primeira instância, geralmente, as Delegacias da Receita Federal de Julgamento; e, em segunda instância, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF). Diz-se que a regra é que aquelas delegacias da Receita julgam em primeira instância, pois a alínea b do inciso I e o inciso II, ambos do artigo 25 do Decreto, mencionam casos excepcionais em que o próprio CARF julga em primeira instância ou em que outras autoridades mencionadas em legislação específica de certos tributos o fazem. Posto isto, vale notar que os processos administrativos que visam impugnar aquelas exigências – por vezes denominados de “reclamações” –, bem como os seus respectivos recursos, suspendem a exigibilidade do crédito tributário, segundo a regra do artigo 151 da Lei nº 5.172/1966 – Código Tributário Nacional (CTN). Ademais, de modo geral e de acordo com o art. 27 do Decreto, tais processos administrativos são julgados na ordem e em prazos estabelecidos por ato do Secretário da Receita Federal. E, finalmente, é importante ressaltar que o disposto no art. 4º do Decreto, que menciona que, salvo disposição em contrário, os atos processuais serão executados no prazo de oito dias, trata-se de um prazo impróprio, já que ao seu descumprimento não está vinculada consequência significativa alguma. 11 3. Provas Logo de início, já se deixa claro que, conforme o art. 30 da Lei nº 9.784/1999 – que regula os processos administrativos em geral – as provas obtidas por meios ilícitos são inadmissíveis. Outrossim, vale notar que não é aceitável a quebra de sigilo bancário no intermédio do processo administrativo, pois tal medida só se considera constitucional quando realizada mediante ordem judicial (ROCHA, 2018). Isto posto, são aceitos no âmbito do processo administrativo todos os meios de prova em direito admitidos, como o depoimento pessoal, a confissão e as provas testemunhal, documental e pericial. Deve se fazer uma ressalva, contudo, com relação ao valor dos documentos probatórios elaborados pelo administrado – como seus próprios livros de contabilidade –, já que, embora devam ser aceitos, as informações neles contidas não serão necessariamente consideradas verdadeiras. Por outro lado, isto não quer dizer que o julgador pode simplesmente ignorar esses documentos. Não é este o caso, pois o art. 3º, III, da Lei nº 9.784/1999 deixa claro que é direito do administrado que os documentos que ele apresenta sejam objeto de consideração pelo órgão competente. Desta forma, a decisão que contraria as informações contidas em prova elaborada pelo administrado deve fazê-lo de forma explícita, trazendo os fundamentos e motivações – alinhando- se com o exigido no art. 50 da Lei nº 9.784/1999 e art. 31 do Decreto nº 70.235/1972 – que demonstrem a falta de credibilidade daquelas informações. Quanto à questão do ônus da prova, é relativamente pacífico o entendimento de que incumbe ao Fisco (ROCHA, 2018) o dever de provar a existência e exigibilidade do tributo com base na ocorrência do fato gerador. A presunção de legitimidade dos atos administrativos 12 não se aplica neste caso, pois o simples questionamento dos fatos alegados pela Administração na arena do contraditório afasta essa presunção; afinal, por meio desta se aceita uma realidade com base em simples aparência, em cenário em que não se vê razão para negá-la, mas o questionamento – significativo, em juízo – abala esta confiança e, por si só, demanda a produção de provas concretas. Destarte, resta à Administração provar o que antes se presumia verdadeiro – o que ela alegou ao lançar o tributo –, não ao administrado produzir prova negativa da existência daquela realidade presumida. Finalmente, se for o caso, a decisão do órgão julgador pode resultar – conforme art. 68 da Lei nº 9.784/1999 – em sanções, quer se fale daquelas de natureza pecuniária (ex.: multa) ou de obrigação de fazer (ex.: cumprir obrigação acessória relativa ao tributo) ou não fazer. 4. Recursos e instâncias superiores A Administração em si só pode – e deve – recorrer da decisão de ofício e com interposição logo na própria declaração da decisão, nos casos delineados pelo art. 34 do Decreto; ou seja, quando a decisão: I – exonerar o administrado de pagar tributo e multa de valor total superior a R$ 2.500.000 (art. 1º da Portaria MF nº 63/2017) ou II – deixar de aplicar pena de perda de mercadoria ou outros bens cominada à infração denunciada na formalização da exigência. Nos demais casos, é o administrado que poderá entrar com recurso contra a decisão de primeira instância, que é o chamado “recurso voluntário” e que deve ser interposto no prazo de trinta dias contados da ciência da decisão pelo administrado, determinado pelo art. 33 do Decreto. Conforme o art. 36 do Decreto nº 70.235/1972, não cabe, em âmbito de primeira instância de processo administrativo fiscal, simples pedido de 13 reconsideração, restando somente a possibilidade de se interpor recurso voluntário, total ou parcial, nos termos do art. 33 do Decreto. O mesmo artigo ainda determina que o recurso voluntário tem efeito suspensivo da exigência do crédito tributário e da eficácia da decisão de primeira instância; bem como, claro, suspende o prazo prescricional para a propositura de ação de execução fiscal pelo Fisco. Vale notar, entretanto, que no caso de recurso voluntário parcial – aquele em que o administrado só discorda de parte da decisão –, o efeito suspensivo não se estende àquela parcela não contestada da decisão; de modo que qualquer obrigação nela contida deverá ser cumprida normalmente, quer seja o pagamento de parte do tributo lançado ou a realização de uma obrigação de fazer. Como mencionado anteriormente, via de regra, em casos que lidam com tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal, o órgão de segunda instância é o CARF; contudo, o art. 3º, II, da Portaria ME nº 340/2020, determinou que as Câmaras Recursais das Delegacias de Julgamento da Secretaria Especial da Receita Federal têm competência para julgar em última instância os recursos voluntários relativos a causas que tratam de lançamento fiscal ou controvérsia que não supera sessenta salários mínimos – consideradas as parcelas detalhadas no parágrafo único do mesmo artigo. Os julgamentos proferidos pelo CARF são realizados por três Seções especializadas, listadas nos arts. 2º, 3º e 4º do Anexo II da Portaria MF nº 343/2015. Por exemplo, entre outros temas, a Primeira Seção lida com recursos que envolvam questões relativas ao Imposto sobre a Renda de Pessoas Jurídicas e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido; a Segunda Seção lida com temas pertinentes ao Imposto sobre a Renda de Pessoas Físicas e o Imposto Territorial Rural; e a Terceira Seção trata de assuntos envolvendo o Imposto sobre Produtos Industrializados e os Imposto sobre Importação e Imposto sobre Exportação. 14 Contra as decisões proferidas pelo CARF existe uma maior diversidade de recursos possíveis, listados no art. 64 do Anexo II da Portaria MF nº 343/2015. São eles: embargos de declaração, recurso especial e agravo – novamente, não cabe simples pedidode reconsideração, segundo o disposto no parágrafo único do mesmo artigo. Os embargos de declaração devem ser interpostos no prazo de cinco dias contados da ciência do acórdão – conforme o §1º do art. 65 do Anexo II daquela mesma Portaria – e servem, essencialmente, o mesmo propósito dos embargos de declaração existentes no Direito Civil, que é o de esclarecimento relativo a omissões, contradições e obscuridades na decisão. Podem interpor estes embargos tanto o contribuinte como um número de representantes da Administração listados ainda naquele §, qual sejam: um dos conselheiros do colegiado – inclusive o próprio relator –, Procurador da Fazenda Nacional, Delegados de Julgamento – quando houver nulidade de decisão de sua Delegacia –, titular da unidade da Administração que está encarregada de liquidar e executar o acórdão, ou o Presidente da Turma encarregada de cumprir o acórdão de recursos especial. Vale notar, ainda, que os embargos de declaração apresentados tempestivamente interrompem o prazo para interposição de recurso especial, como sugere o §5º ainda do art. 65, ao afirmar que isto não ocorre no caso oposto. O recurso especial é julgado pelas Turmas da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), e pode ser interposto tanto pelo contribuinte quanto pela Administração no prazo de quinze dias contados da ciência da decisão, e – nos termos do art. 67 do Anexo II da Portaria MF nº 343/2015 – só opera contra decisão que der interpretação à lei tributária que seja divergente da que tenha dado outra câmara, turma, turma especial ou a própria CSRF. Portanto, lógica é a 15 exigência do §1º do mesmo artigo de que deve ser demonstrada a divergência no recurso, sob pena de desconhecimento desse mesmo recurso. Ademais, o §4º menciona caso especial em que não cabe recurso especial contra a decisão que, ao analisar questões preliminares, anulou decisão de primeira instância devido à presença de vício nesta. Isto se dá em respeito ao disposto no art. 53 da Lei nº 9.784/1999, que estabelece que a Administração tem o dever de anular seus próprios atos que sejam eivados de vício de legalidade – havendo problemas graves, por exemplo, referentes à competência do órgão julgador de primeira instância ou de forma, objeto etc. Outro ponto que merece atenção – entre os vários dispostos nos §§ do art. 67 do Anexo II da Portaria MF nº 343/2015 que trata do recurso especial – é o trazido pelo §5º, que menciona que este recurso só pode ser interposto com relação a matéria prequestionada; ou seja, não cabe trazer matéria nova que não foi abordada em primeira ou segunda instância e deve haver demonstração de que isto ocorreu. Finalmente, o último recurso possível é o agravo, que – segundo o art. 71 daquele Anexo II – pode ser total ou parcial, mas só pode ser invocado contra despacho que nega seguimento ao recurso especial; no prazo de cinco dias, contados da ciência do despacho que o negou. Destarte, o escopo pode ser mais limitado do que se espera de um agravo “inominado”, e o §2º do artigo ainda traz maiores limites a este, como diversas questões processuais clássicas – como a intempestividade – e casos específicos como a observância do acórdão questionado de súmula de jurisprudência do CSRF, CARF e outros; de modo que, mesmo que a decisão seja divergente de outras, é claro que é adequada, pois seguiu o entendimento de súmula. 16 5. Coisa julgada administrativa? Nos termos do art. 42 do Decreto nº 70.235/1972, são definitivas as decisões: de primeira instância, se não for interposto recurso voluntário no prazo – e o inciso I não menciona, mas também não ser interposto recurso de ofício –; de segunda instância, quando decorrido o prazo para todos os recursos, ou quando não for cabível nenhum deles; e as de instância especial. Ademais, o parágrafo único daquele artigo 42 deixa claro também que são consideradas definitivas as decisões parciais não questionadas, em caso de recurso parcial. O parágrafo só menciona as decisões de primeira instância, mas é razoável a presunção de que o mesmo ocorre no caso das decisões de instância superior que sejam objeto de recurso parcial. Quanto a estas decisões “definitivas”, primeiramente vale lembrar que elas não têm efeito direto sobre o processo judicial, ainda que possa afetá-lo de certo modo – como mencionado na primeira parte deste trabalho. Segundo, elas podem, conforme o art. 156, IX, do CTN extinguir o crédito tributário – se a decisão se der neste sentido, evidentemente –, mas, por extensão da lógica que a Súmula 239 do Supremo Tribunal Federal trouxe às decisões judiciais que tratam do mesmo tema, a decisão que declara indevida a cobrança de tributo em um determinado exercício não se estende necessariamente à cobrança do mesmo em exercício posterior. Assim, se fosse aceita a existência do que se entende como “coisa julgada” tradicionalmente na esfera judicial, mas na esfera administrativa – o que não é pacífico na doutrina –, o máximo que se poderia dizer é que trata-se de coisa julgada puramente material e somente relativa à Administração – não ao administrado –; pois, como mencionado anteriormente, não há sentido em decisão definitiva administrativa ser posteriormente questionada judicialmente pela própria Administração que proferiu a decisão. E não cabe fazer argumento contrário pelo 17 clássico dever da Administração Pública de rever seus próprios atos, já que se considera cumprido quando esta interpõe recurso – se cabível – diante de decisões de instâncias administrativas que o aceitam. 6. Considerações finais A via administrativa, em comparação com a judicial, tem função importante de, principalmente, possibilitar ao administrado impugnar exigência feita contra si sem que seja necessário movimentar a morosa máquina do Poder Judiciário – além de evitar os custos a ela associados. O processo administrativo tributário ou fiscal em si oferece muitas das mesmas garantias do processo judicial – que, evidentemente, inspirou a sua criação – ao administrado, com a oportunidade de defesa em âmbito de contraditório, a possibilidade de se recorrer em casos em que o contribuinte se vir insatisfeito com uma decisão – se houver fundamento para tanto – e até certa proteção na forma da característica de definitividade das decisões proferidas e não recorridas, para que a Administração não mais realize a exata mesma exigência do contribuinte. Ainda, ao contrário do que se dá com relação à Administração, o contribuinte pode continuar a buscar satisfação no Poder Judiciário, se a decisão em sede de processo administrativo for contra seus interesses, de modo que ele não tem muito a perder ao optar pela via administrativa. Referências BRASIL. Ministério da Economia. Gabinete do Ministro. Portaria n. 340, de 8 de outubro de 2020. Brasília, 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/ dou/-/portaria-n-340-de-8-de-outubro-de-2020-282070519. Acesso em: 11 abril 2022. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-340-de-8-de-outubro-de-2020-282070519 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-340-de-8-de-outubro-de-2020-282070519 18 BRASIL. Ministério da Fazenda. Normas. Portaria n. 63, de 9 de fevereiro de 2017. Brasília, 2017. Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/ link.action?visao=compilado&idAto=80371. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Ministério da Fazenda. Normas. Portaria n. 343, de 9 de junho de 2015. Brasília, 2015. Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/ link.action?idAto=65007&visao=anotado. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto n. 70.235, de 6 de março de 1972. Brasília, 1972. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d70235cons.htm. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Brasília, 1966.Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Brasília, 1999. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm. Acesso em: 11 abril 2022. CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no Direito Tributário: vol. I. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2014. MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Processo tributário. 13. ed. Barueri: Atlas, 2021. ROCHA, Sergio André. Processo administrativo fiscal: controle administrativo do lançamento tributário. São Paulo: Almedina, 2018. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=compilado&idAto=80371 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=compilado&idAto=80371 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=65007&visao=anotado http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=65007&visao=anotado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d70235cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d70235cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm 19 Processo judicial tributário Autoria: Renato Traldi Dias Leitura crítica: Solange Martins Objetivos • Diferenciar o processo judicial tributário do processo judicial civil, como matéria, apontando suas características distintivas. • Determinar os sujeitos que têm legitimidade ativa para propor ações de conhecimento de matéria tributária. • Listar os tipos de ação de conhecimento que merecem atenção no âmbito do processo judicial tributário. 20 1. Introdução De início, faz-se importante estabelecer algumas noções básicas relativas à temática desta aula. Tratando-se de processo tributário – ou fiscal –, lida-se, na verdade, com uma faceta de aplicação do tradicional processo civil. Diferentemente do processo penal, por exemplo, o tributário não possui codificação única, separada; e, de modo geral, faz uso das mesmas normas do processo civil, com poucas leis específicas – sendo uma das mais importantes a Lei de Execução Fiscal. Sendo assim, com o intuito de não simplesmente reproduzir em grande parte uma aula de Direito Processual Civil, serão abordadas somente as normas e aplicações de institutos que dele se diferenciam ou que, por algum motivo, demandam atenção. Ademais, o tema desta aula será as ações de conhecimento – aquelas cujo foco é a confirmação ou negação, pelo Judiciário, da existência de um direito relativo à parte –; deixando-se a execução e a tutela cautelar para serem tratadas em momento diverso. Posto isto, prossegue-se com a temática. 2. Legitimidade ativa ad causam Legitimidade ativa ad causam é aquela que permite ao sujeito figurar na posição de autor de uma ação e, nesta, buscar a satisfação de um direito. Não se trata, portanto, da legitimidade passiva – referente à figura do réu – e muito menos de legitimidade ad processum – ligada a requisitos como o da capacidade dos sujeitos e sua representação ou assistência, conforme o necessário. 21 Neste momento, primeiramente, há que se falar brevemente do Fisco, pois embora possa ajuizar ação contra o contribuinte, só o fará legitimamente em casos de execução fiscal e ações cautelares. A Fazenda Pública não tem interesse nem legitimidade para propor ações de conhecimento de âmbito tributário, pois tem autonomia para editar atos administrativos e constituir títulos executivos; bem como pode desconstituir quaisquer atos que considere terem sido emitidos ilegalmente (MACHADO SEGUNDO, 2021). Mais interessante se mostra a análise da legitimidade voltada para o administrado, que pode instaurar uma ampla gama de ações tributárias contra a Administração – que serão analisadas mais adiante – e que, por vezes, encontra-se em situação complexa, já que a pessoa de quem se cobra uma obrigação tributária nem sempre é a mesma que realiza o fato gerador do tributo – que é o famoso caso dos impostos retidos na fonte. Ambas estas figuras são denominadas sujeitos passivos da obrigação principal pelo art. 121, parágrafo único do Código Tributário Nacional (CTN), mas este dispositivo traz nome específico para aquele que tem relação direta e pessoal com o fato gerador – contribuinte – e para aquele que, sem ser contribuinte, é sujeito passivo por disposição expressa em lei – responsável. Quer se trate de situação em que há somente contribuinte – tributação direta –, ou em que há contribuinte e responsável – tributação indireta –, certo é que ambos os sujeitos passivos têm legitimidade para propor ações de cunho tributário (MACHADO SEGUNDO, 2021). Contudo, já se adianta que, no caso de ação de repetição de indébito, o artigo 166 do CTN determina que tem legitimidade aquele que comprovar haver, de fato, arcado com o custo do tributo – contribuinte de fato (CASSONE et al., 2017) –, o que significa que este pode ser terceiro a quem foi transferido o encargo financeiro; bem como o sujeito 22 passivo – contribuinte de direito (CASSONE et al. , 2017) –, mas só se não tiver transferido o encargo a terceiro ou se tiver recebido autorização expressa deste para receber a restituição do indébito. Há que se ter cuidado nestes casos, pois, embora possa figurar no polo passivo de ação de repetição de indébito, o terceiro contribuinte de fato – a quem se transferiu encargo financeiro de tributo por meio de contrato – não se torna automaticamente sujeito passivo da obrigação tributária perante a Administração. Só a lei pode definir quem ocupa esta posição, conforme determina o art. 123, CTN. Em suma, há geralmente três pessoas que têm legitimidade para figurar no polo ativo de ações de conhecimento de ordem tributária – as quais podem ou não se confundir na mesma pessoa: o contribuinte, que realiza o fato gerador tributável e que pode ou não ser a pessoa de quem se cobra a obrigação; o responsável, que não é contribuinte e cuja obrigação decorre de lei; e o terceiro, que arca com o encargo financeiro relativo ao tributo em razão de contrato assinado. E, finalmente, nos demais tipos de ações de cunho tributário – as de execução e cautelares – pode figurar também o Fisco. 3. Ações de conhecimento 3.1 Ação anulatória de débito fiscal e ação declaratória A primeira ação de conhecimento que merece atenção é a denominada ação anulatória de lançamento, ação anulatória de débito fiscal, ou, conforme a denominação presente no art. 38 da Lei de Execução Fiscal – Lei nº 6.830/1980 –, ação anulatória do ato declarativo da dívida fiscal. Apesar da variedade de nomes, ela tem procedimento comum e rito ordinário –não havendo significativa quantidade de normas específicas 23 a ela. Por meio desta ação, o administrado busca, como o nome sugere, a desconstituição do lançamento de uma dívida relativa a tributo, por nulidade; quer esta decorra de questões materiais – inexistência da obrigação – ou formais – como a incompetência da autoridade que lançou o tributo ou a existência de vícios no ato (MACHADO SEGUNDO, 2021). Como o parágrafo único do anteriormente mencionado art. 38 determina, a propositura desta ação – bem como de mandado de segurança que discute a dívida ativa na Fazenda Pública e de ação de repetição de indébito – implica renúncia pelo administrado do poder de recorrer à via processual administrativa – ou desistência, em caso de processo corrente. De fato, não faria sentido dispor a lei de forma contrária – a ponto de chegar a ser até debatível a necessidade de a lei mencionar isto –, pois a decisão em processo judicial simplesmente prevalece sobre aquela proferida em processo administrativo, de modo que é ilógica a busca de satisfação em meio a este após o acionamento daquele. Esta ação busca a desconstituiçãode um lançamento preexistente e, se necessário, a proibição de haver lançamento idêntico futuro. Portanto, não deve ser confundida com a ação declaratória, que tem fundamento no art. 19, Código de Processo Civil (CPC), e que busca a simples declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica – no caso, entre o sujeito passivo da obrigação tributária e o Fisco – ou de autenticidade ou falsidade de documento. A ação declaratória, portanto, não é o instrumento adequado para desconstituir um lançamento e só encontra sentido, no âmbito do processo judicial tributário, em situação anterior à constituição da dívida fiscal; cabendo, em vez dela, ação anulatória após isto ocorrer (CASSONE et al. 2017). É este o entendimento explícito da 1ª Turma do STJ, que decidiu que “a ação declaratória pressupõe um crédito fiscal ainda não constituído. Após a sua constituição formal, a hipótese será de ação anulatória” (STJ, 2002, p. 2). 24 Contudo, há que se deixar claro que o art. 20, CPC, estabelece que é admissível – ainda que não conveniente – a apresentação de ação declaratória após tenha ocorrido violação do direito – no caso, por meio do lançamento de tributo indevido. Determinou isto o legislador por uma questão prática, de economia processual, para que aquele que imprudentemente ajuíza a ação menos adequada entre as duas possa ainda ter seus direitos devidamente protegidos; desta forma, como menciona Machado Segundo (2021), nesta situação, o sujeito passivo pode formular um pedido constitutivo negativo – apesar de, ressalte-se, não ser a ação adequada para fazê-lo – além do declaratório. 3.2 Ação de repetição de indébito A seguinte ação de conhecimento de ordem tributária que deve ser analisada é a ação de repetição de indébito, que está fundamentada no art. 165, CTN. Este dispositivo estabelece que – salvo a exceção do art. 162, §4º, CTN, que refere-se a caso praticamente inexistente na atualidade – o sujeito passivo tem direito de reaver os valores referentes a tributo, que foram pagos indevidamente – assim considerados por uma das três hipóteses listadas nos incisos do artigo. Como se explicou na parte anterior, neste caso há a possibilidade de não somente o sujeito passivo figurar no polo ativo da ação, mas também aquela pessoa que simplesmente adquiriu o encargo financeiro por meio de contrato e, assim, arcou com o pagamento deste – conforme art. 166, CTN. Há que se acrescentar, ainda, que o art. 167, CTN, expande a possibilidade de restituição para abranger também os juros de mora e penalidades pecuniárias estritamente relacionados aos valores restituídos – não infrações de caráter formal não prejudicadas pela 25 causa da restituição –, cujos valores serão reavidos na mesma proporção dos referentes aos principais. Assim, se for cobrado e pago um tributo em valor duas vezes maior do que o necessário em prazo indevido, incorrendo-se juros de mora; ao se reaver a metade do valor principal pago, por repetição de indébito, se terá direito a receber também metade do que foi pago a título de juros de mora. Contudo, se houver multa referente, por exemplo, a uma obrigação tributária acessória descumprida, não relacionada com a causa da restituição, o valor pago referente a esta não será reavido. A ação de repetição de indébito tem ainda prazos prescricionais próprios relacionados a ela, estabelecidos nos arts. 168 e 169, CTN. O primeiro, de cinco anos – contados conforme os incisos do art. 168 –, é o prazo para pleitear a restituição em si; já o segundo, de dois anos, refere-se ao prazo para entrar com ação anulatória contra decisão administrativa – não judicial – que tenha negado a restituição – e este é, evidentemente, contado a partir da publicação da decisão que se busca anular. Esta última ação não se trata exatamente de ação de repetição de indébito, mas, na prática, se busca o mesmo resultado, que é a restituição do indébito: uma pela petição direta por este e a outra pela via indireta de se anular a decisão administrativa que a negou. Há que se ter muito cuidado, pois, como se pode perceber, o acesso anterior à via administrativa pela busca da restituição gera um prazo prescricional que é reduzido de três anos. Não se trata, no entanto, de punição pelo legislador do contribuinte que busca primeiramente a via administrativa antes da judicial, mas sim de uma opção pragmática; afinal, aquele que buscou a restituição de indébito pela via administrativa já se provou ciente de que existe esta possibilidade e, destarte, presume-se estar atento também pela disponibilidade de recurso à via judicial. Ademais, não obstante em tempos longínquos parte da jurisprudência e doutrina tenha arguido 26 pela necessidade de esgotamento da via administrativa para se, então, movimentar a máquina do Judiciário em questões de ordem tributária, fato é que hoje é praticamente unânime o entendimento de que inexiste exigência relativo a isto – ou seja, o acesso à via administrativa pelo contribuinte é de natureza puramente opcional. 3.3 Ação de consignação em pagamento A consignação em pagamento feita nos termos do art. 164, §2º, CTN, constitui forma de extinção de crédito tributário, de acordo com o art. 156, inciso VIII, CTN. Os casos listados nos incisos I e II do art. 164 – que determina quando a importância de crédito tributário pode ser consignada judicialmente – referem-se à recusa de recebimento de valores e subordinação deste a condições diversas; contudo, é raro que o Fisco – ou sequer estabelecimentos bancários que intermedeiam a transação – ofereça resistência para receber qualquer forma de pagamento, a qualquer título. Aliás, o art. 163, CTN, até possibilita – dentro de certos limites – à Administração imputar valores pagos referentes a um débito para a satisfação de outro (MACHADO SEGUNDO, 2021), então difícil é imaginar razão para recusa de pagamento. Como bem se sabe, existem até situações em que valores em excesso são simplesmente devolvidos sem que seja necessária a instauração de processo administrativo ou judicial para que sejam restituídos estes valores pagos indevidamente – como é o caso do Imposto de Renda de Pessoa Física declarado e pago quando nada se deve, pela pessoa cuja renda está na faixa de alíquota 0% –; então é evidente que o Fisco prefere a opção pelo recebimento de quaisquer valores do contribuinte, com o posterior acerto, se necessário, por meio do aproveitamento dos valores em outros débitos fiscais ou pela restituição automática do indébito, como exemplificado. 27 Assim, raro é o uso da ação de consignação em pagamento relativa aos casos dos incisos I e II do art. 164, §2º, CTN. Já o inciso III, no entanto, oferece situação mais condizente com a realidade prática, que é a de cobrança de tributo idêntico, incidente sobre um mesmo fato gerador, simultaneamente, por mais de uma pessoa jurídica de direito público. Evidentemente, trata-se de caso de erro pelo Poder Público, já que não pode haver múltipla tributação idêntica sobre um mesmo fato gerador, pois isto incorreria em violação do princípio geral de Direito da vedação ao bis in idem; e, no caso, o contribuinte dispõe de pelo menos duas opções em termos de ações judiciais: pagar ambos os tributos idênticos e, então, buscar a repetição do indébito referente a um deles; ou, mais convenientemente, utilizar-se da ação de consignação em pagamento para pagar só um dos tributos idênticos e consignar o valor referente ao outro – demonstrando-se que não se trata de mera recusa de cumprimento de seu dever como cidadão –, enquanto se busca a anulação do lançamento indevido. 3.4 Mandado de segurança O mandado de segurança tem fundamento constitucional específico e explícito no art. 5º, LXIX, CF. É o instrumento adequado para proteger direito líquido e certo contra abuso de autoridade pública – no caso, o Fisco –, quando não se enquadrar em caso de habeas-corpus ou habeas-data. Ademais, o inciso seguinte,LXX, criou a modalidade de mandado de segurança coletivo, que pode ser impetrado tanto por partido político com representação no Congresso ou por órgão sindical, entidade de classe ou associação que opera legalmente há pelo menos um ano, agindo em defesa dos interesses de seus membros ou associados. Ambas as modalidades de mandado de segurança foram regulamentadas pela Lei nº 12.016/2009 cuja economia de artigos 28 representa bem o que se espera ao se optar por impetrar um mandado de segurança em vez de uma ação ordinária: celeridade processual. Como se pode perceber pela leitura daquela lei, não há, em sede de mandado de segurança, dilação probatória. Salvo o caso do art. 6º, §1º, em que a Autoridade Pública se recusa a fornecer documento necessário à prova do alegado, a petição inicial deve vir instruída de todos os documentos necessários e alegações do contribuinte, e não haverá momento posterior para produzir novas provas ou se alegar novos fatos. É este o caso, pois, como mencionado anteriormente, o instrumento é voltado para a defesa de direito líquido e certo; ou seja, aquele que não dispõe de controvérsia factual, mas só potencialmente sobre matéria de Direito – conforme o entendimento proferido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Súmula 625. Destarte, a opção pelo mandado de segurança em vez de ação ordinária é estratégica, devendo ser sopesado o interesse em se resolver o caso de forma mais célere e a potencial necessidade de se comprovar os fatos relativos ao direito protegido ou de se produzir provas outras que não as documentais que podem ser juntadas à petição inicial. Vale ressaltar também que é possível a impetração de mandado de segurança preventivo no âmbito do processo tributário, pois, sendo o ato de lançamento de tributo pelo Fisco vinculado à ocorrência do fato gerador tributável, a autoridade estará obrigada a realizar o lançamento, mesmo que decorrente de lei inconstitucional (MACHADO SEGUNDO, 2021). De tal forma, estando ciente e até certo – diante da característica vinculação da atuação administrativa relativa à lei – de que lhe será cobrado tributo indevido, ligado à legislação inconstitucional – por exemplo –, cabe ao contribuinte entrar com mandado de segurança preventivo para impedir o referido lançamento. 29 3.5 Ação popular A ação popular tem fundamento no art. 5º, LXXIII, CF. Conforme este dispositivo constitucional, ela pode ser proposta por qualquer cidadão e serve para “anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural” (BRASIL, 1988). Evidentemente, o ato deve ser não só lesivo a uma ou mais daquelas instituições, como também inválido, pois não se anula ato juridicamente válido; de forma que é necessário o preenchimento destes dois requisitos: lesividade e invalidade. Visto que na lista de protegidos pela ação popular está incluído o patrimônio público, não é difícil imaginar a utilidade deste instrumento no âmbito do processo judicial tributário. Afinal, é arguível que a concessão indevida de qualquer isenção, remissão ou anistia tributária pode ser impugnada por meio de ação popular, já que tais atos inválidos podem ser considerados lesivos ao Erário (MACHADO SEGUNDO, 2021). 4. Considerações finais Apesar de não possuir codificação específica como ocorre com o processo penal – sendo, então, regulamentado pelo código de processo civil –, o processo judicial tributário não deixa de ter normas e interpretações que se aplicam unicamente a ele. Como se viu ao longo deste trabalho, diversas ações ordinárias – tanto individuais como coletivas –, obtêm uma faceta diferenciada no âmbito do processo judicial tributário; merecendo atenção cuidadosa quer pela complexidade existente na figura dos legitimados para propositura da ação, quer pela existência de condições especiais derivadas da oposição entre contribuinte e Fisco nestas ações, quer pela aplicação de regras 30 especiais oriundas do Código Tributário Nacional e outras leis específicas que se aplicam ao caso. Referências BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Secretaria-Geral. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Brasília, 1966. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 6.830, de 22 de setembro de 1980. Brasília, 1980. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/ id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf. Acesso em: 11 abril 2022. CASSONE, Vittorio et al. Processo tributário: teoria e prática. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Processo tributário. 13. ed. Barueri: Atlas, 2021. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ). Recurso especial n. 125.205-SP. Rel. Min. Milton Luiz Pereira. 1ª Turma. Brasília, 2002. Disponível em: https://www.stj.jus.br/ publicacaoinstitucional/index.php/RevSTJ/article/viewFile/8141/8256. Acesso em: 11 abril 2022. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Súmula 625. Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança. Brasília, 2003. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula625/false. Acesso em: 11 abril 2022. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf https://www.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/RevSTJ/article/viewFile/8141/8256 https://www.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/RevSTJ/article/viewFile/8141/8256 https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula625/false 31 Tutelas especiais Autoria: Renato Traldi Dias Leitura crítica: Solange Martins Objetivos • Analisar a utilidade da medida cautelar fiscal, ação cautelar que perdura mesmo após a remoção das demais ações deste tipo do Código de Processo Civil. • Conhecer os dispositivos da Lei nº 8.397/1992, que regulamenta a medida cautelar fiscal. • Estabelecer uma base para a compreensão de como os dispositivos do Código de Processo Civil sobre tutelas provisórias interagem com as normas específicas de direito processual tributário. 32 1. Introdução No âmbito do direito processual tributário, diferentemente do que ocorre com as ações ditas “de conhecimento” – aquelas pelas quais se busca, principalmente, a confirmação ou rejeição de uma relação jurídica ou direito –, ações cautelares e executivas permitem a atuação do Fisco como autor, não meramente como réu. Nesta aula, será tratada uma destas ações em que se tem o Fisco no polo ativo: a medida cautelar fiscal, processo cautelar que perdura mesmo após o suposto fim de tais institutos com o advento do Código de Processo Civil (CPC) de 2015 – que hoje só menciona a tutela cautelar de forma preparatória ou incidental a um processo de conhecimento. Todavia, não se limita ao Fisco a atuação com intuito cautelar, pois pode o contribuinte peticionar por tutela provisória que se constitui como um provimento cautelar no âmbito de uma ação de conhecimento.E, evidentemente, o contribuinte também pode peticionar por outras formas do que o CPC denomina tutelas provisórias – todas as quais serão também objeto deste trabalho. Posto isto, prossegue-se com a análise destes instrumentos. 2. Medida cautelar fiscal 2.1 Críticas à utilidade do instrumento Como mencionado anteriormente, a “medida cautelar fiscal” aqui tratada é uma ação interposta pelo Fisco – não contribuinte. Ela é assim denominada pela lei que a regulamenta: a Lei nº 8.397/1992. De início, cabe ressaltar que esta ação é de utilidade debatível, tendo sofrido ao longo dos anos várias críticas – inclusive a respeito da possível 33 inconstitucionalidade da Lei nº 8.397/1992 e da Lei nº 9.532/1997, que a modificou –, sendo de uso incomum (CASSONE et al., 2017). Como se verá mais adiante, geralmente ela só pode ser requerida em momento em que o Fisco já pode propor execução e, consequentemente, obter a penhora de bens que assegure a eficácia desta execução de crédito tributário. Aliás, após a edição da Lei nº 13.606/2018, que acrescentou o art. 20-B à Lei nº 10.522/2002, o Fisco pode, antes da execução judicial do crédito, mas após sua inscrição em Dívida Ativa da União, por meio da chamada averbação pré-executória – que não se confunde com a exceção de pré- execução, de nome similar –– averbar a certidão de dívida em órgãos de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora para que potenciais compradores destes bens sejam notificados de que eles serão alvo de futura execução, desincentivando a operação. Posto isto, há certo interesse no caso excepcional do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.397/1992, que abre brecha para a impetração de medida cautelar fiscal em momento que antecede a própria constituição do crédito tributário; sendo, assim, cabível em meio a processo administrativo em que o contribuinte faz uso de atos protelatórios para poder alienar seu patrimônio, enquanto se vê livre de preocupação quanto à proibição do art. 185 do Código Tributário Nacional (CTN) – já que, ressalte-se, ainda não foi constituído o crédito tributário (MACHADO SEGUNDO, 2021). Vale notar que o art. 1º, parágrafo único, permite esta instauração de medida cautelar fiscal anterior à constituição do crédito tributário exclusivamente nos casos do art. 2º, V, “b”, em que o contribuinte põe ou tenta pôr seus bens em nome de terceiro após ser notificado pelo Fisco para que proceda ao recolhimento do crédito fiscal; e do inciso VII do mesmo artigo, em que o sujeito passivo da obrigação tributária aliena bens ou direitos sem comunicar esta ocorrência ao órgão competente da Fazenda Pública, quando tem obrigação por lei de fazê-lo. 34 2.2 Regulamentação pela Lei nº 8.397/1992 Pondo-se as críticas ao instrumento de lado, fato é que não houve declaração de inconstitucionalidade das leis mencionadas, e a medida cautelar fiscal vê algum uso, ainda que incomum, portanto, é importante seu estudo. O já aludido art. 1º da Lei nº 8.397/1992 determina simplesmente que – salvo a exceção do parágrafo único – a medida cautelar fiscal só pode ser instaurada após a constituição de crédito – inclusive no curso de execução judicial. Por meio da Lei nº 9.532/1997, foi revogada a parte que mencionava que este processo cautelar era sempre dependente de um processo de execução, de modo que resta evidente que, após 1997, não é este mais o caso, podendo ou não haver dependência – embora ainda subsista controvérsia sobre o assunto, a despeito da clareza da intenção do legislador. O que ocorre, contudo, é que, sendo a medida cautelar fiscal concedida de forma preparatória – não incidental; ou seja, antes de haver processo de execução, não após seu início –, o art. 11 obriga o Fisco a propor execução judicial no prazo de sessenta dias da data em que a exigência se tornar irrecorrível na esfera administrativa. De tal forma, deverá eventualmente ser proposta uma execução, exceto se o débito for quitado ou declarado extinto na esfera administrativa – situações em que poderá, então, haver medida cautelar fiscal sem posterior ajuizamento de execução. A lei de 1997 modificou também o caput do art. 2º, que lista as hipóteses específicas em que pode ser proposta medida cautelar fiscal, tendo removido menção à necessidade de estar o crédito regularmente constituído em procedimento administrativo; o que, evidentemente, significa que esta etapa não é mais necessária – se fosse, esgotaria-se a única hipótese em que certos doutrinadores encontram utilidade no instrumento, como explicado previamente. 35 O rol de hipóteses trazidas neste artigo, aliás, é claramente exemplificativo – não exaustivo –, pois o inciso IX determina, de forma genérica, que enquadram-se também “outros atos que dificultem ou impeçam a satisfação do crédito”. Vale ressaltar que, não obstante a abrangência conferida pelo inciso IX, não basta a simples alegação de que um ato do contribuinte apresenta- se como um empecilho àquela satisfação; pois é preciso, conforme o art. 3º, II, que seja fornecida prova documental desta ocorrência como requisito essencial para a concessão da medida cautelar fiscal; junto com a prova literal da constituição do crédito fiscal – conforme o inciso I do mesmo artigo. Sendo assim, ocorrendo uma das hipóteses do art. 2º, e sendo ela comprovada nos termos do art. 3º, será decretada a medida cautelar fiscal, que gera – conforme o art. 4º – o efeito imediato de tornar indisponíveis os bens do requerido até o limite de satisfação da obrigação. Contudo, este artigo traz em seus §§ a possibilidade de, no caso de ser o requerido pessoa jurídica, estender o efeito inicial aos bens de administrador, acionista controlador e qualquer pessoa que, em razão do contrato social ou estatuto, tenha poder para fazer a empresa cumprir suas obrigações fiscais. A regra é importante para que o instrumento tenha verdadeira efetividade em casos que se lida com pessoas jurídicas, mas é preciso ter cuidado com a denominação “acionista controlador”, pois no dia a dia é comum que se confunda este com o acionista majoritário; que nem sempre serão a mesma pessoa – ou grupo de pessoas. Majoritário é simplesmente o acionista – ou grupo – que detém o maior número de ações com direito a voto de uma empresa; ao passo que controlador é o acionista – ou grupo – que preenche os requisitos do art. 116 da Lei nº 6.404/1976 – que envolvem não só a detenção de direitos de sócio relativos à maioria votante, mas também o uso efetivo, de fato, de seu poder de controle. 36 Seguindo, então, para o art. 7º, pode se ver que do despacho que concede liminarmente a medida cautelar fiscal – que dispensa justificação prévia e prestação de caução pelo Fisco e é sempre concedida se preenchidos os requisitos mencionados anteriormente – cabe agravo de instrumento. E o art. 8º deixa claro que, no caso de contestação, o contribuinte requerido tem prazo de quinze dias para fazê-lo – sob pena de revelia, conforme a determinação do art. 9º – e, se o fizer, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, se necessário para a produção de provas. O art. 10, por sua vez, determina que a medida cautelar fiscal pode ser substituída – após ser conferido prazo de cinco dias à Fazenda Pública para se manifestar sobre isto – pela prestação de garantia em valor correspondente ao do crédito, conforme uma das formas do art. 9º da Lei nº 6.830/1980: depósito em dinheiro; fiança bancária ou seguro garantia; e bens nomeados à penhora, do requerido ou oferecidos por terceiros – se aceitos pela Fazenda Pública. Os arts. 12 e 13 tratam da eficácia da medida cautelar fiscal; ou seja, da sua capacidade de produzir efeitos – que, no caso, é o de indisponibilizar os bens previamente mencionados. Segundo estes artigos, a medida tem eficácia até que seja esgotado o prazo de sessenta dias do art. 11 – que, novamente, é contado a partir da ocorrência de irrecorribilidade pela via administrativa –;até que seja revogada ou modificada; ou até que ocorra uma das hipóteses do art. 13. E, conforme o parágrafo único do art. 12, salvo decisão em contrário, a eficácia se mantém mesmo se o crédito tributário for suspenso. Ainda, conforme o art. 17, é permitido ao contribuinte impetrar apelação contra a sentença que decretou a medida cautelar fiscal, mas o recurso não tem efeito suspensivo, salvo se for oferecida garantia nos termos do já mencionado art. 10. 37 E, finalmente, os arts. 15 e 16 trazem informações sobre a relação entre o julgamento da medida cautelar e de ação de execução. Segundo estes dispositivos, a regra é de que decisões no âmbito da cautelar não influem de forma alguma a execução – ou seja, não se faz coisa julgada –, exceto se o juiz tiver acolhido alegação de pagamento, compensação, transação, remissão, prescrição ou decadência, conversão do depósito em renda ou outras modalidades de extinção do crédito tributário. 3. Tutela provisória Com o advento do Código de Processo Civil de 2015 (CPC), organizou-se as diferentes formas de antecipação de tutela no livro V, intitulado “da tutela provisória”. Diz-se provisória, pois seus efeitos só se tornarão definitivos no momento em que for proferida sentença, propriamente dita, para confirmar a tutela provisória; isto, claro, nos casos em que a sentença não faz exatamente o contrário: revoga a tutela provisória. Já se adianta que existe também um terceiro caso, excepcional, de sentença que concede uma tutela provisória – que será explicado mais adiante. A característica de provisoriedade se verifica mesmo quando for concedida tutela antecipada; expressão que, portanto, deve ser compreendida com um asterisco, pois trata-se de tutela antecipada provisoriamente. E não poderia ser diferente, já que, do contrário, se estaria quase confundindo a antecipação de tutela, disciplinada pelos arts. 294 a 309, CPC, com a antecipação do julgamento do mérito, prevista no art. 355, CPC, ou o julgamento antecipado parcial do mérito, previsto no art. 356, CPC. O CPC faz menção a dois tipos principais de tutela provisória: a tutela de urgência, que é concedida quando houver a notória “fumaça do bom 38 direito” e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo; e a de evidência, que é concedida independentemente da existência desse perigo ou risco, simplesmente nos casos que se enquadrarem em uma das hipóteses do art. 311, I a IV, CPC. A tutela de urgência pode ser cautelar ou antecipatória – também chamada de satisfativa, já que satisfaz ao pedido principal da parte, total ou parcialmente –, mas a de evidência é só antecipatória. Ademais, a tutela de urgência pode ser antecedente – ou seja, concedida liminarmente, antes de se oferecer à outra parte a possibilidade de manifestar-se – ou incidental – concedida em meio ao processo, após o momento da inicial –; ao passo que a de evidência geralmente só existe de forma incidental, aceitando-se a concessão antecedente – liminar – só no caso excepcional do art. 311, parágrafo único, CPC. A compreensão destas classificações é de particular interesse ao direito processual tributário, pois ela auxilia na compreensão do art. 151, CTN, que determina que “suspendem a exigibilidade do crédito tributário: (...) IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial” (BRASIL, 1966). O inciso IV deste artigo é de redação de 1966 e o inciso V foi acrescido por lei complementar em 2001; ambos, portanto, são anteriores ao CPC/2015. Destarte, a expressão “tutela antecipada” aqui não se limita à ideia de uma tutela provisória de urgência ou de evidência antecipada – que, novamente, também é chamada de satisfativa – à exclusão da tutela provisória de urgência cautelar. A antiga expressão “tutela antecipada” é equivalente à nova “tutela provisória”, que abrange também as tutelas cautelares. Essencialmente, a “tutela jurisdicional antecipada continua sendo gênero, da qual são espécies a de urgência e a da evidência” (CASSONE et al., 2017, p. 122), o que inclui tanto a tutela de urgência cautelar 39 quanto a satisfativa. Desse modo, não resta dúvida de que o art. 151, CTN, confere efeito de suspensão da exigibilidade de crédito tributário à situação em que é concedida tutela de urgência cautelar; ao contrário, portanto, da conclusão errônea a que se poderia chegar por meio de uma leitura puramente literal do artigo. Outro elemento que merece análise com relação a este artigo é a menção no caput de suspensão do crédito tributário, pois, na verdade, é possível que o contribuinte obtenha medida suspensiva até antes da constituição do crédito tributário (MACHADO SEGUNDO, 2021). Isto pode ocorrer no caso do tributo lançado por homologação, segundo a previsão do art. 150, CTN; em que o sujeito passivo tem o dever de antecipar o pagamento do tributo, tendo apurado o valor e informado ao Fisco por conta própria, sem prévio exame deste. Nesta situação o lançamento formal só ocorrerá após a homologação, que terá algum prazo fixado em lei para ser realizada pelo Fisco ou prazo de cinco anos – contados da ocorrência do fato gerador. A Fazenda Pública deve se pronunciar neste prazo, homologando o lançamento, ou ele será homologado automaticamente ao final do prazo e será considerado extinto definitivamente o crédito – salvo exceções de dolo, fraude ou simulação. Desta forma, é possível que o sujeito passivo da obrigação tributária busque a suspensão daquele dever de pagar o tributo anteriormente ao lançamento; o que, consequentemente, terá o resultado prático de não ser o contribuinte exigido pelo Fisco a pagar aquele potencial crédito tributário, que não terá lançamento homologado enquanto perdurar a suspensão do dever do contribuinte. Ainda nesta linha de considerações gerais sobre a tutela provisória, cabe ressaltar a previamente mencionada possibilidade de se conceder tutela provisória na própria sentença, o que é admitidamente algo pouco intuitivo, já que a sentença é o momento em que se concede 40 tutela definitiva e em que, via de regra, se confirma ou revoga a tutela provisória. A utilidade desta manobra judicial pode ser compreendida pela simples leitura do art. 1.012, §1º, V, CPC, que estabelece que a sentença produzirá efeitos logo desde a sua publicação – negando-se efeito suspensivo à apelação – em caso em que ela confirma, revoga ou concede tutela provisória. Portanto, ainda que não se busque a tutela provisória liminarmente ou em meio ao curso ordinário do processo, é possível obtê-la no próprio momento da sentença para que seja produzido este resultado do inciso V. Mesmo a ideia de “provisoriedade” não apresenta conflito com esta forma de uso de instrumento, pois o que se busca com uma tutela antecipada, por exemplo, é tecnicamente a antecipação provisória de parte dos efeitos que seriam obtidos com o trânsito em julgado de uma sentença; portanto, sem a concessão desta tutela provisória ainda não se teria precisamente estes efeitos até que ocorresse o trânsito em julgado – quer pelo exaurimento da via recursal ou pela não apresentação de recurso pela outra parte no prazo. Retornando-se, então, à especificidade do direito processual tributário, outro ponto importante a ser analisado trata da tutela de urgência que busca a suspensão de exigibilidade do crédito tributário relacionada à compensação tributária – operada pelo art. 170, CTN –, por exemplo, pela requisição de sua antecipação. Apesar do fato de que o art. 170-A, CTN, veda a compensação relativa a tributo que é objeto de contestação judicial, e que a Súmula 212 do STJ afirma que a compensação de créditos tributários não pode ser deferida por medida liminar, tanto doutrina como jurisprudência (MACHADO SEGUNDO, 2021) têm reconhecido que estas regras não se aplicam em certos casos. O primeiro é o do “crédito do contribuinte” – que nãose confunde com o “crédito tributário”, a dívida do ponto de vista do contribuinte 41 e, portanto, se chamará de “dívida tributária” aqui para se facilitar a leitura – incontestado, ou seja, o adicional que o contribuinte já obteve em razão de indébito tributário, quando ele realizou, por exemplo, pagamento referente a tributo declarado inexistente. Aqui não se aplica o disposto no art. 170-A, CTN, pois sua vedação é relativa a casos em que a contestação judicial do tributo põe em dúvida a existência do crédito do contribuinte; se o tributo contestado é, no caso, referente à dívida tributária não há problema. Ademais, a Súmula 212 do STJ também não interfere neste caso, pois o art. 170, CTN, atribui à autoridade administrativa – não a judicial – a capacidade de efetuar a compensação tributária; e esta tem atuação vinculada, sempre autorizando a compensação nos casos em que a lei a permite. Assim, o que pode o magistrado fazer é declarar liminarmente a própria suspensão da exigibilidade da dívida tributária, com fundamento no art. 151, incisos IV e V, CTN, já que, mesmo que ao final do processo se conclua que a dívida tributária existe, fato é que o contribuinte já está autorizado a compensá-la com seu crédito incontestado, o que se enquadra na hipótese do art. 156, II, CTN. Em suma, suspende-se a exigibilidade da dívida tributária liminarmente pela antecipação do efeito de que, se for declarada existente a dívida, ela logo se considerará extinta pela sua compensação com o incontestado crédito do contribuinte. Posto isto, outro caso que não é afetado pelas regras do art. 170-A, CTN, e da Súmula 212 do STJ, é o do lançamento por homologação. Nesta situação sequer foi constituída formalmente a dívida tributária – que, novamente, a lei chama de “crédito tributário”, mas aqui se usa termo diferente para não haver confusão com o crédito do contribuinte – e todas as operações são conduzidas pelo próprio contribuinte, tanto o cálculo do débito e seu pagamento quanto a possibilidade de compensação, só cabendo à administração homologar – ou não, se houver problemas – o que foi apresentado posteriormente. Destarte, por razões similares às do caso anterior, é cabível que se peticione 42 liminarmente ao magistrado para que este conceda tutela de urgência voltada para a suspensão de exigibilidade da dívida tributária, com fundamento nos mesmos arts. 151, incisos IV e V, e 156, II, ambos do CTN. E só cabe restringir à sentença a homologação do que foi feito pelo contribuinte. 4. Considerações finais Diferentemente do que ocorre com as ações de conhecimento, o Fisco tem a possibilidade de ajuizar ação cautelar contra o contribuinte, mesmo após a extinção destes tipos de ação no âmbito do Código de Processo Civil de 2015. A utilidade da denominada medida cautelar fiscal a que se refere é, contudo, na maioria dos casos, questionável, pois são vários os instrumentos que podem substitui-la em diferentes situações e que tendem a ser mais eficazes. No entanto, a medida permanece no ordenamento como uma alternativa para o Fisco melhor satisfazer suas obrigações, e ela encontra alguma utilidade enquanto existe processo administrativo anterior à constituição formal do crédito tributário. Já quanto às tutelas provisórias, cabe ressaltar que há que se ter cuidado em seu estudo à luz da legislação tributária, pois, como evidenciado, a leitura desatenta dos dispositivos mencionados pode sugerir que há maiores limitações ao uso dos diversos tipos de tutela provisória do que realmente existe. Referências BRASIL. Câmara dos Deputados. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Brasília, 1966. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e- notas-tecnicas/fiquePorDentro/temas/sistema-tributario-nacional-jun-2019/texto- base-da-consultoria-legislativa. Acesso em: 11 abril 2022. https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/fiquePorDentro/temas/sistema-tributario-nacional-jun-2019/texto-base-da-consultoria-legislativa https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/fiquePorDentro/temas/sistema-tributario-nacional-jun-2019/texto-base-da-consultoria-legislativa https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/fiquePorDentro/temas/sistema-tributario-nacional-jun-2019/texto-base-da-consultoria-legislativa 43 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Secretaria-Geral. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 11 abril 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 8.397, de 6 de janeiro de 1992. Brasília, 1992. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8397.htm. Acesso em: 11 abril 2022. CASSONE, Vittorio et al. Processo tributário: teoria e prática. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Processo tributário. 13. ed. Barueri: Atlas, 2021. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ). Súmula n. 212. A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida cautelar ou antecipatória. Brasília, 2005. Disponível em: https://www.stj.jus.br/docs_internet/ revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2010_15_capSumula212alterada.pdf. Acesso em: 11 abril 2022. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8397.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8397.htm https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2010_15_capSumula212alte https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2010_15_capSumula212alte 44 Execução fiscal Autoria: Renato Traldi Dias Leitura crítica: Solange Martins Objetivos • Estabelecer a utilidade e os limites da averbação pré- executória. • Analisar os dispositivos da Lei nº 6.830/1980, que regulamenta a execução fiscal. • Ressaltar as opções dispostas ao contribuinte para resistir à execução, como com a exceção pré- executividade e os embargos. 45 1. Introdução Disciplinada pela Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal – LEF), a execução fiscal é ainda um processo de execução por quantia certa como os demais, só que provido de normas adicionais específicas, interposto pelo Fisco e voltado para a cobrança de Dívida Ativa da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e autarquias – ou simplesmente Dívida Ativa da Fazenda Pública. É possível observar no artigo 1º daquela lei que o Código de Processo Civil (CPC) se aplica subsidiariamente; ou seja, no silêncio da LEF, utilizam-se as normas do CPC. Ademais, quanto à Dívida Ativa da Fazenda Pública, cabe adiantar que está definida no art. 39, §2º, da Lei nº 4.320/1964. Neste dispositivo ela é dividida em não Tributária – que foge ao escopo desta aula – e Tributária; e esta última é definida simplesmente como sendo o crédito da Fazenda Pública proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas. Note que aqui se fala em “respectivos” adicionais e multas, não “quaisquer”; portanto, só estão incluídos créditos deste tipo que tenham conexão com tributos – os demais fazem parte da Dívida Ativa não Tributária. Feitas estas considerações iniciais, passa-se então para a análise do momento anterior à execução fiscal e, em seguida, o estudo desta em si. 2. Momento anterior à execução fiscal e averbação pré-executória Para que o Fisco possa interpor execução fiscal contra um contribuinte, é necessário que exista Dívida Ativa da Fazenda Pública, o que só ocorre após a inscrição regular de um crédito tributário – ou não tributário, mas, novamente, este não nos interessa aqui –, por exemplo, 46 na Procuradoria da Fazenda Nacional se o caso for relativo à União, conforme o §5º do art. 39 da Lei nº 4.320/1964. Em tese, estecrédito tributário só pode ser inscrito se devidamente constituído – por exemplo, por lançamento de ofício com notificação do contribuinte, antes de transcorrido o prazo decadencial do art. 173 do Código Tributário Nacional (CTN) –, vencido e não pago; porém, como aponta Machado Segundo (2021), não é raro que haja inscrição de crédito que não satisfaz estas condições, o que abre as portas para o questionamento de eventual execução fiscal pelo contribuinte. O próprio legislador da LEF reconhece esta realidade de forma implícita no art. 3º, pois, apesar de o caput deste dispositivo impor presunção de certeza e liquidez à Dívida Ativa, logo no parágrafo único já se encontra menção de que esta presunção é meramente relativa e pode ser afastada, durante a execução, por prova inequívoca apresentada pelo executado ou terceiro – e, vale notar, que nada impede que a Dívida Ativa seja questionada em outro processo, que não de execução. A ocorrência de problemas relativos à Dívida Ativa pode ser parcialmente explicada pelo fato de que as obrigações de que se trata são frequentemente – não sempre, pois inúmeros tributos no Brasil têm seu lançamento feito por homologação, envolvendo o contribuinte – constituídas de modo unilateral pelo Fisco. Ademais, mesmo em casos em que há atuação do administrado ainda podem subsistir questões problemáticas, pois não é incomum que a Administração Pública prossiga com a cobrança de crédito mesmo quando já tenha sido impugnado (MACHADO SEGUNDO, 2021); afinal, trata-se de uma máquina complexa, e não é difícil de se imaginar que muitas informações se percam ou se alterem em meio à burocracia. Após a inscrição do crédito tributário em Dívida Ativa da União, mas antes da execução fiscal em si, o Fisco pode se utilizar do instrumento da “averbação pré-executória”, prevista no art. 20-B, §3º, II, da Lei 47 nº 10.522/2002, para averbar a certidão de Dívida Ativa em órgãos de registros de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, para o fim de notificar eventuais compradores de que o respectivo bem ou direito pertence a devedor contra quem será movida execução fiscal – possivelmente dissuadindo os compradores de prosseguir com o contrato. Note-se que a parte final do inciso II, que menciona que estes bens e direitos são tornados indisponíveis, não mais se aplica, pois foi considerada inconstitucional no final de 2020, em julgamento envolvendo as ADINs 5881, 5886, 5890, 5925, 5931 e 5932. Portanto, só resta o efeito de notificação, de modo que se o Fisco desejar tornar tais bens e direitos do contribuinte indisponíveis antes de ajuizar a execução fiscal, em vez de em seu início – por qualquer motivo –, deverá fazê-lo por meio de medida cautelar fiscal. 3. Ação de execução fiscal 3.1 Prazo prescricional O primeiro passo que o Fisco deve dar com relação à execução fiscal é o de verificar se não houve prescrição pelo transcurso do prazo de cinco anos contados da constituição definitiva do crédito tributário, previsto no art. 174, CTN – que pode ter sido interrompida por um dos atos listados nos incisos do parágrafo único. A expressão “constituição definitiva” do crédito tributário pode gerar dúvida, já que o próprio nome sugere que é algo distinto da simples “constituição” deste crédito, que ocorre no momento do lançamento de ofício – quer pelo regular ou pela lavratura de auto de infração relativo a caso de lançamento por homologação em que o contribuinte não paga antecipadamente – ou da entrega de declaração pelo contribuinte que 48 reconhece o crédito – conforme a Súmula nº 436 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Além disso, o que ainda gera confusão é o fato de que inexiste unanimidade doutrinária ou sequer jurisprudencial sobre qual é o momento exato em que esta constituição definitiva ocorre. Para uns, isto se dá quando o contribuinte é formalmente notificado do lançamento (COSTA, 2021; STJ no Resp 751.776/PR); para outros, isto ocorre quando se esgotam os recursos relativos à via administrativa ou quando o contribuinte deixa transcorrer o prazo para questionar o lançamento (MACHADO SEGUNDO, 2021; Supremo Tribunal Federal – STF – no HC 96.055 e em meio ao RE 95.365-5/MG); e para raros defensores de uma tese extremamente minoritária isto se dá somente quando há inscrição do crédito como Dívida Ativa da Fazenda Pública. Seja qual for a tese que se prefere individualmente – cabendo ressaltar que a terceira não merece muita atenção, tendo credibilidade somente a primeira e a segunda –, fato é que o Fisco deve tentar respeitar o prazo mais rigoroso – da primeira tese –, por uma questão de prudência; pois, do contrário, abrirá as portas para questionamento em juízo da execução fiscal, relativo à sua possível prescrição. 3.2 Lei nº 6.830/1980 – lei de execução fiscal Posto isto, passa-se então para a análise da ação de execução fiscal em si, conforme seu tratamento pela LEF. O art. 4º desta lei lista as pessoas contra quem pode ser interposta a execução fiscal e, além do evidente caso do devedor em si, encontram- se as figuras do fiador, do espólio – com relação aos tributos devidos até a abertura da sucessão, conforme art. 131, III, CTN, e sendo excluídas as multas por sua natureza intransmissível (PAULSEN et al., 2018) –, a massa falida, os responsáveis – conforme a significativa lista dos arts. 134 e 135, CTN – e os sucessores a qualquer título – nos termos e limites 49 do art. 131, II, CTN, para o caso de sucessão de pessoa física e dos arts. 132 e 133, CTN, para o caso de sucessão de pessoa jurídica, entre outras normas específicas. No caso dos responsáveis e daqueles que estão listados no art. 4º, §1º, LEF, o §3º permite que estes nomeiem bens livres e desembaraçados do devedor para pagar a dívida; contudo, se estes não forem suficientes, os bens daquelas próprias pessoas – responsáveis e outros – ficarão sujeitos à execução. Nomeados sejam quais forem os executados na inicial, o juiz, ao deferi- la, emitirá despacho para que seja feita, segundo o art. 7º: citação dessas pessoas; penhora – obedecendo a ordem do art. 11 e as formalidades do art. 13 –, se em cinco dias – conforme art. 8º – não for paga a dívida com todos os encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa ou garantida a execução – por uma das opções previstas no art. 9º –; arresto – que também se procede pela ordem de preferência do art. 11 –, se o executado não tiver domicílio ou se ocultar; registro da penhora ou arresto; e avaliação dos bens penhorados ou arrestados. Quanto às garantias do art. 9º, vale ressaltar o disposto no §4º, que estabelece que só o depósito em dinheiro faz cessar a responsabilidade do executado pela atualização monetária e juros de mora. Ou seja, se não for extinto o processo por algum motivo, o executado que buscou garantia por meio de nomeação de bens à penhora, por exemplo, sofrerá prejuízo superior ao daquela pessoa que garantiu a execução por meio do depósito em dinheiro. O §6º do art. 9º traz outra opção importante para o executado, pois prevê a possibilidade de ser paga parcela incontroversa da dívida e garantida somente a parcela em disputa. Ademais, o art. 15, I, permite que o executado peticione ao juiz para que este defira substituição da penhora por depósito em dinheiro – ou 50 fiança bancária ou seguro garantia, que são as demais hipóteses do art. 9º –, o que permite a ele buscar o benefício do art. 9º, §4º, em momento posterior àquele curto prazo de cinco dias. E cabe mencionar que o inciso II do artigo 15 também permite ao Fisco peticionar por substituição, mas de uns bens penhorados por outros e agora ignorando-se a ordem do art. 11; bem como pode peticionar pelo reforço da penhora em caso que tenha se mostrado insuficiente. Em termos de defesa do executado, a regra é da apresentação de embargos. Conforme o art. 16, §3º, não são admitidas a reconvenção nem a compensação, e exceções de suspeição, incompetência e impedimentos devem ser
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